Sessão de abertura da Festa da Fé 2013
Festa da Fé 2013
† António Marto
Largo Paulo VI, Leiria
Festa da Fé, 31 de maio de 2013
“Oh, como é bom e agradável viver unidos como irmãos... É bênção de Deus e vida para sempre” (Sl 133, 1.3), canta o salmista. A sua alegria – eco do júbilo de um povo unido e reunido na mesma fé – é também, hoje e aqui, a nossa alegria.
É bom e belo estarmos aqui e sentirmo-‐nos irmanados num povo em festa para testemunhar a sua alegria de crer em Cristo e o seu entusiasmo em levar o Evangelho ao coração da cidade dos homens. Neste momento, é-‐me dada a alegria e a honra de abrir oficialmente a Festa da Fé 2013 da nossa diocese de Leiria-‐Fátima. Quero desde já saudar a todos com fraterno afeto e agradecer a vossa presença. Saúdo com especial deferência e estima o Senhor Presidente da Câmara de Leiria bem como todas as autoridades autárquicas e demais ilustres convidados a quem agradeço a honra da sua distinta presença. Muito obrigado!
Porquê uma festa da fé?
Em Maio de 2010, vivemos juntos uma experiência intensa e maravilhosa de celebração festiva da nossa fé, sob o lema “Rosto(s) da Igreja Diocesana”. Foram dias que nos encheram o espírito, em ação de graças pelos dons que Deus concede a esta diocese e pelas bênçãos que, através dela, espalha por todos os homens e mulheres que somos chamados a servir.
Recordo com especial emoção o clima de alegria contagiante e de comunhão e convívio fraterno e, de modo particular, a visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima vinda da Capelinha das Aparições até à Catedral. E o seu percurso pelas ruas da cidade em grandiosa manifestação de amor e devoção das multidões em procissão.
Com esta memória no coração, voltei a propor uma nova edição da Festa da Fé para este ano pastoral de 2013. São várias as razões que nos estimularam a isso e convergem nesta festa:
-‐ o coroamento simbólico do Ano da Fé, vivido com o elã de descobrir a alegria de crer e avivar o entusiasmo de comunicar a fé;
-‐ a conclusão da visita pastoral às comunidades, com o dinamismo de entusiasmo e de comunhão que daí resultou;
-‐ e, por fim, o termo do projeto pastoral saído do Sínodo diocesano e implementado ao longo de sete anos.
E porque não incluir também a eleição do Papa Francisco com o novo ar de frescura e de inspiração para o dinamismo da fé e da vida da Igreja neste nosso tempo?
São pois vários os motivos que alegram o nosso coração.
Escolhemos como tema a expressão “Caminho(s) de vida, razões de esperança”. Queremos dar visibilidade à beleza e à alegria dos caminhos da vida com Jesus Cristo, centro da nossa fé. E, ao mesmo tempo, queremos também manifestar as “razões de esperança”, tão necessárias nestes tempos que vivemos de dificuldades e desafios acrescidos.
A dimensão espiritual para a edificação da cidade
Fazemos a festa no meio da cidade dos homens. Não se assemelha a um mero divertimento, como uma espécie de “praça da alegria”. Nem pretende ser um ato de exibicionismo triunfalista ou do género campanha eleitoral. Trata-‐se apenas de um testemunho de como a fé cristã constitui um contributo de primeira grandeza para a sociedade, particularmente num momento de crise. Tal como aconteceu com Zaqueu em Jericó, também a nós, a boa notícia de que Jesus entrou na cidade nos dinamiza, fazendo-‐ nos sair à rua e estabelecendo relações novas com e entre os cidadãos.
Na verdade, o olhar da fé descobre e cria cidade e cidadania, melhorando a vida da cidade com a oferta da vida boa do Evangelho. Não se é cidadão pelo simples facto de votar nas eleições, mas pela vocação em construir uma sociedade, uma nação fraterna, justa e solidária. Não se pode reduzir a pessoa só ao que produz e consome. Nem podemos transformar-‐nos em meros clientes e consumidores, como defende a mentalidade mercantil ou demagógica de muitos.
A fé cristã leva ao coração da cultura do nosso tempo, aquele sentido unitário, completo e transcendente da vida humana, que nem a ciência, nem a política, nem a economia, nem os meios de
comunicação podem proporcionar-‐lhe. Há que pôr em prática atitudes e comportamentos que criam cidadania. Neste sentido, fé e cidadania interagem. Agir como bons cidadãos, melhora a fé; agir como bons cristãos, melhora a cidadania (Rom 13, 1).
Há que insuflar uma dimensão espiritual à cidadania sã, ativa e responsável, se queremos que a sociedade – o País – encontre a sua alma.
Mais e melhor cidadania
Em concreto, como é que a fé contribui para mais e melhor cidadania?
Permitam-‐me que responda, brevemente, à questão com algumas palavras-‐chave, simples mas preciosas, do Papa Francisco, que estão a tocar o coração das gentes e do mundo.
A primeira é a palavra “cuidado”: “o cuidar de todos, de cada pessoa, com amor, especialmente das crianças, dos idosos, dos mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É o cuidar um do outro na família... É o viver com sinceridade as amizades que são um cuidar recíproco na confidência, no respeito e no bem”. Este cuidado é elemento base do nosso quotidiano.
Por sua vez, “o cuidar pede bondade, requer ser vivido com ternura...”, o que leva o Papa a exclamar: “Não devemos ter medo da bondade e da ternura”.
Assim se ilumina também a terceira palavra: serviço. “Servir é dar a vida pelos outros, como fez Jesus; é considerar o bem de todos (bem comum) mais importante que qualquer interesse particular”. A fé introduz na vida o sentido do dom, da gratuidade face à cultura mercantilista do cálculo individualista. O serviço que todos somos convidados a realizar, na medida do dom dado a cada um por Deus, tende precisamente a “fazer resplandecer a estrela da esperança”. A doença mais grave do nosso tempo é a falta da esperança, da confiança na vida e na sua bondade.
Nesta época de crise, a esperança requer que se reconheça cidadania social à solidariedade, uma ética
de solidariedade, face à especulação financeira e à ganância sem limites do lucro.
Por fim, o papa Francisco fala da necessidade de promover a “cultura do encontro”, sem a qual nem as pessoas, nem as famílias, nem os povos progridem, nem se constrói a paz. Todos são filhos de Deus, crentes ou não. Por isso, todos são chamados a ir ao encontro uns dos outros, no respeito e no diálogo. De contrário, prevalecerá a cultura do desencontro, da divisão.
Há um breve texto da última Conferência dos bispos da América do Sul, em Aparecida, em que a cidade brilha como lugar de encontro. Cito:
“A fé ensina-‐nos que Deus vive na cidade, no meio das suas alegrias, desejos e esperanças e também nas suas dores e sofrimentos.
As sombras que marcam o quotidiano das cidades, como a violência, a pobreza, o individualismo e a exclusão, não podem impedir-‐nos de procurar e contemplar o Deus da vida mesmo nos ambientes urbanos.
As cidades são lugares de liberdade e de oportunidade... Nelas, as pessoas têm a possibilidade de conhecer mais pessoas, de interagir e conviver com elas...
Nas cidades é possível experimentar vínculos de fraternidade, solidariedade e universalidade. Nelas, o ser humano é chamado a caminhar cada vez mais ao encontro do outro, a conviver com o diferente, a aceitá-‐ lo e a ser aceite por ele”. (Fim de citação)
Eis a razão por que o papa Francisco impele a Igreja a sair do seu recinto e a ir às periferias existenciais,
humanas: “às do mistério do pecado, da dor, da injustiça, da ignorância, da indiferença religiosa, às do
pensamento débil e às de todas as formas de miséria. Quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar, torna-‐se autorreferencial e adoece”.
Um “Presente”
A nossa Festa da fé pretende ser apenas uma pequena montra e amostra da presença e da relevância da fé na vida das pessoas, da sociedade e da cultura, no espaço da nossa Igreja diocesana, na perspetiva da fé geradora de caminhos de vida e de razões de esperança. Queremos que seja uma verdadeira festa diocesana, de todos e para todos, uma festa do encontro e do convívio.
Nesta linha, situa-‐se o aparecimento do novo jornal diocesano. O seu título é por si significativo: “Presente”!
– Quer tornar presente a luz da fé no quotidiano das pessoas e das famílias;
-‐ Quer estar presente na vida da Igreja universal e diocesana das comunidades e grupos, para gerar intercomunicação e comunhão;
-‐ Quer ser presença do Evangelho e da Igreja no mundo de hoje.
O vosso acolhimento e interesse, a vossa fidelidade também, “será um presente e refletirá o orgulho de uma presença eclesial”, como diz o diretor, Dr. Carlos Magalhães, que fará a apresentação do jornal. Aproveito a ocasião para o saudar e lhe agradecer, bem como a todos os colaboradores e aos que tutelaram o processo do nascimento do jornal.
À comissão organizadora e todos os que se disponibilizaram para colaborar na preparação da festa, agradeço todo o empenho que colocaram para partilharem o que têm de melhor e para garantirem a boa organização desta grande e bela iniciativa, com a qual desejamos encher o coração da cidade de alegria e de testemunho de fé.
Aos que responderam ao convite do bispo, bem como a todos os que estiverem de passagem ou em visita ocasional, estendo o meu abraço de acolhimento fraterno e o convite a que entrem em cada uma das tendas de exposição e em cada um dos espaços de oração, de cultura, de música e de convívio. No primeiro dia da festa e último do mês de Maio, em que celebramos o mistério gozoso da Visitação de Maria a Isabel, pedimos a Nossa Senhora que nos visite também, aqui, com a sua bênção maternal e com a alegria expansiva da sua fé, que a tornou feliz.
A todos, bem vindos à festa! Obrigado!
† António Marto, Bispo de Leiria-‐Fátima