Universidade Federal de São Paulo – Campus Baixada Santista
Departamento de Ciências do Mar
Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha
CAROLINE DA SILVA PORTELA SANTANA
Peixes da Ilha da Queimada Grande - São Paulo: novos registros e
comentários sobre a abundância e conservação
Orientador: Prof. Dr. Fabio dos Santos Motta Co-orientadora: Dra. Fernanda Andreoli Rolim
Santos 2021
2
CAROLINE DA SILVA PORTELA SANTANA
Peixes da Ilha da Queimada Grande - São Paulo: novos registros e
comentários sobre a abundância e conservação
Orientador: Prof. Dr. Fabio dos Santos Motta Co-orientadora: Dra. Fernanda Andreoli Rolim Trabalho de conclusão de curso apresentado com o objetivo parcial de obtenção de grau de Bacharel Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar pela Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista.
Santos 2021
“Lembre-se de olhar para as estrelas e não para baixo, para os seus pés. Tente achar sentido no que você vê e pergunte sobre o que faz o Universo existir. Seja curioso. E por mais difícil que a vida possa parecer, sempre há algo que você pode fazer e ter sucesso. É importante que você simplesmente não desista”
AGRADECIMENTOS
Gostaria primeiramente de agradecer ao meu orientador Fabio Motta, pela orientação, paciência, amizade e acolhimento no laboratório LABECMar. São mais de três anos fazendo parte do laboratório, incluindo viagens de campo, cursos, congressos, entre diversas outras formas de aprendizagem que irei levar para o resto da minha vida.
Agradeço a minha família por acreditar em mim, mesmo entrando tão tarde na universidade, posso contar com o apoio e o suporte de vocês.
Não posso esquecer de agradecer a minha co-orientadora Fernanda Rolim, por me ensinar tantas coisas que nunca sonhei em aprender, pela paciência, amizade e inserção no mundo dos vídeos subaquáticos.
Agradeço também ao PAPE (Programa de Permanência Estudantil) que possibilitou a minha permanência na universidade e a realizar a graduação.
Sou grata também aos meus amigos tanto os do laboratório que fazem o ambiente ser mais alegre e acolhedor, quanto aos amigos que fiz na universidade e aos amigos da vida, que foram de grande importância para minha caminhada até aqui, com uma atenção especial para a Pamela, Guilherme, Luiza, Felipe, Gaby, Doug e Thabs.
Por último agradeço a mim mesmo, pelo caminho que trilhei, e que me fez chegar até aqui, tenho muito ainda a aprender, mas o fechamento desse ciclo é de enorme aprendizado.
RESUMO
Os estudos sobre as assembleias de peixes recifais são de grande relevância por diversos motivos. Os peixes desempenham funções ecológicas fundamentais à saúde dos oceanos, além de serem valiosos bens naturais explorados de forma extrativa pela pesca ou vivos pelo mergulho recreativo, garantindo assim fonte de renda, emprego e segurança alimentar para muitas populações humanas. Os peixes recifais também são utilizados como importantes indicadores da efetividade das estratégias de conservação marinha. Ao longo dos anos esses animais vêm sendo estudados por meio de desembarque pesqueiro ou por técnicas não destrutivas como os censos visuais. Mais recentemente, filmagens remotas subaquáticas com isca (Baited Remoted Underwater Video – BRUV) vêm sendo utilizadas por oferecer maior precisão na estimativa da biomassa. A região sudeste do Brasil é composta por recifes rochosos, habitat importante para várias famílias de peixes. Na literatura o estudo sobre a ecologia dos recifes rochosos vem cada vez mais ganhando espaço. O presente estudo teve como objetivo atualizar a lista de espécies de peixes da Ilha da Queimada Grande, localizada na costa centro-sul do Estado de São Paulo. Foram registradas 165 espécies pertencentes a 49 famílias. A espécie Haemulon aurolineatum foi a mais abundante, com 21,26% dos indivíduos registrados. O grupo trófico com o maior número médio de exemplares por frame foi o de invertívoros móveis, e a família Carangidae apresentou a maior abundância relativa. A família que apresentou a maior biomassa foi a Kyphosidae, representando 60,04% da biomassa total.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: – Desenho esquemático da estrutura do estéreo-BRUV em operação. Fonte: Rolim, 2019...10 Figura 2: Ilha da Queimada Grande – SP com a localização dos pontos que foram realizadas as operações de BRUV em outubro de 2017...10 Figura 3: Imagem do Software SeaGIS, no momento da obtenção do comprimento furcal de um indivíduo que se encontra no MaxN...11 Figura 4: Número médio de espécies por frame
(± erro padrão) para os grupos tróficos da Ilha
da Queimada Grande. Mostrando os grupos tróficos: alimentadores de invertebrados móveis (MINV), macro carnívoros (MCAR), herbívoros (HERB), planctívoros (PLANK), onívoros (OMNI) e alimentadores de invertebrados sésseis (SINV)...21 Figura 5: Número médio de espécies por frame (± erro padrão) de famílias de peixes de interesse comercial...21 Figura 6: Biomassa em gramas (± erro padrão) das principais famílias de ictiofauna de interesse comercial...22SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...7
2 METODOLOGIA...9
2.1 Área de estudo...9
2.2 Coleta de dados...9
2.3 Análise dos vídeos...11
2.4 Organização da lista de espécies e análise dos dados...11
3 RESULTADOS...13
4 DISCUSSÃO...23
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...25
7
1 INTRODUÇÃO
Os peixes estão entre um dos mais importantes recursos renováveis do planeta. Além das funções ecológicas que desempenham nos oceanos, são responsáveis pelo bem-estar humano por meio dos empregos gerados na cadeia produtiva da pesca (comercial e amadora), turismo de mergulho e, principalmente, pela segurança alimentar que proporcionam aos países costeiros (Holmlund & Hammer 1999).
A costa brasileira está exposta a diferentes climas ao longo da sua extensão, sendo mais tropical no Nordeste e subtropical na região Sul. A fauna de peixes marinhos do Brasil, composta por mais 1300 espécies, apresenta distribuições geográficas bastante distintas em função das condições oceanográficas presentes na sua zona econômica exclusiva (Menezes et
al., 2003).
Além do clima ser um fator importante na distribuição de peixes, a complexidade dos recifes coralíneos e rochosos está amplamente associada à alta diversidade de peixes, que ultrapassa a de qualquer outro habitat aquático (Reaka-Kudla, 1997). No Brasil, o estudo dos peixes recifais obteve avanços por volta do fim do século 20 com o uso do mergulho autônomo, aumentando o número de descrições de novas espécies e o conhecimento sobre aspectos ecológicos e biogeográficos (Pinheiro et al., 2018).
Um dos principais desafios nos estudos sobre biodiversidade é a importância de se obter estimativas precisas e acuradas de abundância para o maior número possível de espécies (Minte-Vera et al., 2008). Na costa brasileira os peixes recifais vem sendo estudados por meio do acompanhamento de desembarques pesqueiros, mas também por técnicas não-destrutivas como os censos-visuais (e.g. Ferreira, 2001; Ferreira et al., 2004; Gibran & Moura, 2012; Souza
et al., 2018).
Para estudos mais completos, podemos associar mais de uma técnica de amostragem, como por exemplo, estéreo filmagens remotas subaquáticas com isca (Baited Remote
Underwater Video - BRUV). O BRUV é uma ferramenta não-letal com caráter complementar aos censos visuais, uma vez que alguns grupos de peixes, sobretudo predadores, usualmente ameaçados de extinção (ex. tubarões), costumam evitar mergulhadores com equipamento autônomo, subestimando assim o registro de suas ocorrências. Outras vantagens do BRUV é que eles podem ser utilizados em faixas de profundidade maiores (> 30 m) que demandam logísticas de mergulho mais arriscadas e onerosas do ponto de vista financeiro e de tempo. O
8
uso do sistema estéreo com duas câmeras permite a obtenção dos comprimentos dos indivíduos e, consequentemente, avaliações robustas da distribuição de tamanhos e biomassa dos peixes (Cappo et al., 2006; Mallet & Pelletier, 2014; Whitmarsh et al., 2012).
A costa da região Estado de São Paulo, ao longo a sua extensão de 700 km, abrange uma ampla diversidade de ecossistemas, com a inclusão de diversas e formações insulares circundadas por recifes rochosos, habitats importantes para várias famílias de peixes (Aburto‐ Oropeza & Balart 2001). Estudos sobre as assembleias de peixes recifais da costa paulista já foram realizados por Luiz-Jr et al. (2008) na Laje de Santos, Gibran & Moura (2012) na Ilha de São Sebastião, Rolim et al. (2017) na Ilha de Alcatrazes e Souza et al. (2018) na Ilha Anchieta. Aparentemente, o conhecimento sobre a fauna de peixes recifais da costa centro-sul de São Paulo é inferior ao já produzido na porção norte do estado. Ainda assim, para a Ilha da Queimada Grande existem os trabalhos de Moura et al. (2003), Pivetta et al. (2012) e Meira (2016), literaturas regionais de pesquisas realizadas por meio de censos visuais estacionários. O presente estudo teve como objetivo produzir uma lista atualizada das espécies peixes do entorno marinho da Ilha da Queimada Grande, localizada na costa centro-sul do Estado de São Paulo. Além disso, são apresentados comentários sobre a abundância relativa, biomassa, grupos tróficos e o estado de conservação das espécies.
9
2 METODOLOGIA
2.1 Área de Estudo
As porções terrestres da Ilha da Queimada Grande e da Ilha da Queimada Pequena integram, desde 1985, uma unidade de conservação do tipo Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE). O entorno marinho da Ilha da Queimada Grande faz parte da Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro (APAMLC), criada em 2008. A Ilha da Queimada Grande está localizada ao largo do município de Itanhaém, sul de São Paulo, a uma distância de 34,8 km da costa. A ilha é circundada por recifes rochoso, não existindo praias arenosas em seu perímetro. No seu entorno marinho foram registradas 137 espécies de peixes recifais (Moura et al., 2003). Vale destacar ainda os fortes indícios de agregação reprodutiva da caranha (Lutjanus cyanopterus) (Pivetta et al., 2012 e Moura et al., 2003) e a elevada cobertura de corais (Mussismilia hispida e Madracis decactis) que em determinados pontos é similar àquela dos recifes de coral do Banco dos Abrolhos. Em 2019, o recife de coral mais ao sul do Atlântico foi descrito na região abrigada da ilha da Queimada Grande (Pereira-Filho et
al., 2019).
2.2 Coleta de dados
Nossos dados foram coletados nos dias 9, 10 e 11 de outubro de 2017. Foram utilizados dois sistemas de etéreo-BRUV (Figura 1), o qual consiste em uma armação metálica de aço inoxidável que suporta um sistema com duas câmeras voltadas numa angulação de 8° para o pacote de isca em um braço 1,5 m à frente das câmeras. Como isca foram utilizados 800 gramas de sardinha (Sardinella brasiliensis) macerada, com o intuito de atrair as espécies de peixes para o campo de visão das câmeras (Mallet & Pelletier, 2014) a escolha da isca não altera os grupos tróficos que serão atraídos pela isca (Ghazilou et al., 2016). As duas câmeras foram configuradas no formato de vídeo 1920 x 1080p, com campo de visão médio e usando 60 frames por segundo. Os sistemas estéreos foram calibrados utilizando o software CAL (SeaGIS) (Harvey & Shortis 1995).
10
Figura 1 – Desenho esquemático da estrutura do estéreo-BRUV em operação. Fonte: Rolim, 2019.
Durante as expedições, estruturas de etéreo-BRUVS foram lançadas no entorno de toda a Ilha da Queimada Grande, contemplando suas porções que são abrigadas e expostas à ação das ondas. Em cada operação, o estéreo-BRUV ficou submerso por 60 minutos, para registrar imagens da maioria das espécies alvos dos censos visuais (Mallet & Pelletier, 2014; Currey-Randall et al., 2020). Os lançamentos totalizaram 26 operações de stereo-BRUVS (Figura 2).
Figura 2 – Ilha da Queimada Grande – SP com a localização dos pontos que foram realizadas as operações de
BRUV em outubro de 2017.
11
Os vídeos obtidos durante as expedições científicas, que totalizaram aproximadamente 1560 minutos, foram analisados utilizando o software EventMeasure (SeaGIS). As espécies foram identificadas no nível taxonômico mais refinado possível com auxílio de guias de identificação de peixes recifais (e.g. Amarante 2009; Rolim et al., 2017; Gomez et al., 2019). A abundância foi estimada por meio da rotina MaxN, onde se contabiliza o número máximo de indivíduos visto em um único frame (Figura 3) (Santana-Garcon et al., 2014; Kelaher et al., 2014). O comprimento furcal dos indivíduos foi medido somente no tempo de MaxN e transformado em biomassa, que foi estimada para cada espécie por meio da relação peso-comprimento disponível na base de dados do FishBase (Froese & Pauly, 2018). As espécies de peixes foram classificadas com base nos seus grupos tróficos de acordo com Pinheiro et al. (2018), a saber: herbívoros (HERB), macro carnívoros (MCAR), invertívoros móveis (MINV), invertívoros sésseis (SINV), onívoros (OMNI) e planctívoros (PLANK).
Figura 3– Imagem do Software SeaGIS, no momento de medição do comprimento furcal de um indivíduo que se
encontra no MaxN.
2.4 Organização da lista de espécies e análise dos dados
A lista de espécies de peixes da Ilha da Queimada Grande foi atualizada com base nos registros obtidos nas amostragens do presente estudo e na compilação de estudos anteriores, Moura et al. (2003), Pivetta et al. (2012), Meira (2016), Anderson et al. (2020), Rolim, F. A. dados não publicados (2015) e Motta, F. S. dados não publicados (2020). A lista foi formulada seguindo ordem filogenética de acordo com Betancur-R et al. (2014) e as espécies foram
12
organizadas dentro de cada família em ordem alfabética. O estado de conservação das espécies foi baseado em avaliações realizadas em âmbito estadual (SMA, 2018), nacional (MMA, 2014) e global (IUCN, 2021).
As análises sobre a abundância relativa das espécies, famílias de interesse comercial, biomassa e grupos tróficos utilizaram apenas os dados derivados das operações de BRUV conduzidas no presente estudo.
13
3 RESULTADOS
Foram registradas 165 espécies, distribuídas entre 24 gêneros e 49 famílias (Tabela 1). As famílias que tiveram o maior número de espécies foram Serranidae e Labridae (ambas com 13 espécies = 7,83%); seguida por Carangidae (12 espécies = 7,23%); Pomacentridae (10 espécies = 6,02%); Scaridae (9 espécies = 5,42%), e Blenniidae, Gobiidae, Haemulidae (todas com 7 espécies = 4,21%). O presente estudo efetuou nove novos registros de espécies: Raia Viola (Pseudobatos percellens), Raia Manteiga (Dasyatis hypostigma), Raia Lixa (Hypanus guttata), Cavalinha-de-reis (Decapterus macarellus), Olhete (Elagatis bipinnulata),
Maria-da-toca-oceânica (Ophioblennius trinitatis), Orthopristis sp., Budião Fantasma (Clepticus
brasiliensis) e Peixe-Pena (Calamus pennatula).
Tabela 1 - Lista com todas as espécies encontradas na Ilha da Queimada Grande. Foi avaliado o status de
conservação de cada espécie nas diferentes esferas e, quando foi necessário utilizou-se as seguintes abreviações:
IUCN: CR, Criticamente Ameaçada de Extinção; EN, Em Perigo; VU, Vulnerável; NT, Próximo de Ameaça;
LC, Pouco Preocupante; DD, Dados Insuficientes. Estado de São Paulo: NT, Próximo de Ameaça; NMA, Necessidade de Gestão Pesqueira; DD, Dados Insuficientes. Portaria MMA: CR, Criticamente em Perigo; EN, Em Perigo; VU, Vulnerável. Os Tipos de Registro foram abreviados como segue: PS, Presente Estudo; RM, Moura et al. 2003; PT, Pivetta et al. 2012; HM, Heitor Meira (Meira 2016); FR, Rolim F. A. dados não publicados (2015); AA, Anderson et al. 2020; FM, Motta F. S. dados não publicados (2020);
Familia e Espécie IUCN Estado Portaria
MMA Tipo de Registro
Aetobatidae
Aetobatus narinari (Euphrasen , 1790) NT NT DD RM
Mobulidae
Mobula birostris (Walbaum , 1792) EN VU VU RM
Mobula hypostoma (Bancroft , 1831) EN - VU RM
Rhinobatidae
Pseudobatos percellens (Walbaum , 1792) EN EN DD PS
Dasyatidae
Dasyatis hypostigma Santos & Carvalho, 2004 EN DD DD PS Hypanus guttata (Bloch & Schneider, 1801) NT DD LC PS
Carcharhinidae
Carcharhinus falciformis (Müller & Henle, 1839) VU NMA NT HM Galeocerdo cuvier (Péron & Lesueur , 1822) NT DD NT HM
Muraenidae
Gymnothorax funebris Ranzani, 1840 LC DD - PS, HM, RM, FR
Gymnothorax moringa (Cuvier, 1829) LC DD - PS, HM, RM, FR
Gymnothorax ocellatus Agassiz, 1831 LC DD - RM
Gymnothorax vicinus (Castelnau, 1855) LC DD - PS, RM
Clupeidae
Sardinella brasiliensis (Steindachner, 1879) DD NT - HM
14
Synodus foetens (Linnaeus, 1766) LC - - RM
Synodus intermedius (Spix, 1829) LC DD - HM, RM
Synodus synodus (Linnaeus, 1758) LC DD - HM
Holocentridae
Holocentrus adscensionis (Osbeck, 1771) LC - - PS, HM, RM, FR
Myripristis jacobus Cuvier, 1829 LC DD - HM, RM
Plectrypops retrospinis (Guichenot, 1853) LC - - FR
Apogonidae
Apogon americanus Castelnau, 1855 - - - RM
Apogon pseudomaculatus Longley, 1932 LC - - RM
Apogon quadriquamatus Longley, 1934 - DD - RM
Gobiidae
Bathygobius soporator (Valenciennes, 1837) LC - - RM
Coryphopterus dicrus Böhlke & Robins, 1960 LC DD - RM
Coryphopterus glaucofraenum Gill, 1863 LC - - PS, RM
Elacatinus figaro Sazima, Moura & Rosa, 1997 - VU VU PS, HM, RM, FR
Gnatholepis thompsoni Jordan, 1904 LC DD - RM
Gobionellus saepepallens (Gilbert & Randall, 1968) LC - - RM
Lythrypnus brasiliensis Greenfield, 1988 - DD - RM
Microdesmidae
Ptereleotris randalli Gasparini, Rocha & Floeter, 2001 LC DD - HM, RM
Syngnathidae
Hippocampus erectus Perry, 1810 VU EN VU RM
Hippocampus reidi Ginsburg, 1933 NT - - RM
Dactylopteridae
Dactylopterus volitans (Linnaeus, 1758) LC - - RM
Callionymidae
Callionymus bairdi Jordan, 1888 LC - - RM
Mullidae
Pseudupeneus maculatus (Bloch, 1793) LC DD - PS, HM, RM, FR
Ophichthidae
Myrichthys breviceps (Richardson, 1848) LC - - RM
Myrichthys ocellatus (Lesueur, 1825) LC - - HM, RM
Ophichthus ophis (Linnaeus, 1758) LC DD - RM
Scombridae
Katsuwonus pelamis (Linnaeus, 1758) LC DD LC HM
Sphyraenidae
Sphyraena barracuda (Edwards, 1771) LC - LC RM
Sphyraena guachancho Cuvier, 1829 LC DD LC RM
Carangidae
Caranx crysos (Mitchill, 1815) LC - - PS, HM, RM, FR
Caranx latus Agassiz, 1831 LC DD - PS, HM, RM, FR
Carangoides bartholomaei (Cuvier, 1833) LC DD - PS, HM, RM
Carangoides ruber (Bloch, 1793) LC DD - HM, RM
15
Decapterus punctatus (Cuvier, 1829) LC - - HM, RM
Elagatis bipinnulata (Quoy & Gaimard, 1825) LC - - PS Pseudocaranx dentex (Bloch & Schneider, 1801) LC - - PS, HM, RM
Seriola dumerili (Risso, 1810) LC - - PS, HM, RM
Seriola fasciata (Bloch, 1793) LC DD - RM
Seriola lalandi Valenciennes, 1833 LC DD - PS, RM
Seriola rivoliana Valenciennes, 1833 LC DD - PS, RM, FR
Rachycentridae
Rachycentron canadum (Linnaeus, 1766) LC DD - RM
Bothidae
Bothus ocellatus (Agassiz, 1831) - - - RM
Bothus lunatus (Linnaeus, 1758) LC DD - RM
Pomacentridae
Abudefduf saxatilis (Linnaeus, 1758) LC - - PS, HM, RM, FR Chromis enchrysura Jordan & Gilbert, 1882 LC - - RM
Chromis flavicauda (Günther, 1880) DD - - RM
Chromis jubauna Moura, 1995 - - - PS, HM, RM, FR
Chromis limbata (Valenciennes, 1833) LC - - AA, FM
Chromis marginata (Castelnau, 1855) - - - RM
Chromis multilineata (Guichenot, 1853) LC - - PS, HM, FR
Stegastes fuscus (Cuvier, 1830) LC - - PS, HM, RM, FR
Stegastes pictus (Castelnau, 1855) - - - PS, HM, RM
Stegastes variabilis (Castelnau, 1855) - - - HM, RM
Blenniidae
Hypleurochilus fissicornis (Quoy & Gaimard, 1824) LC - - RM Hypsoblennius invemar Smith-Vaniz & Acero P., 1980 LC - - RM Ophioblennius atlanticus (Valenciennes, 1836) LC - - RM Ophioblennius trinitatis Miranda Ribeiro, 1919 LC - - PS
Parablennius marmoreus (Poey, 1876) LC - - PS, RM
Parablennius pilicornis (Cuvier, 1829) LC - - PS, RM
Scartella cristata (Linnaeus, 1758) LC - - RM
Callionymidae
Callionymus bairdi (Jordan, 1888) LC - - RM
Chaenopsidae
Emblemariopsis signifera (Ginsburg, 1942) - - - RM
Labrisomidae
Labrisomus nuchipinnis (Quoy & Gaimard, 1824) LC - - HM, RM
Gobioclinus kalisherae (Jordan, 1904) LC - - RM
Malacoctenus delalandii (Valenciennes , 1836) LC - - RM
Malacoctenus triangulatus Springer, 1959 LC - - RM
Starksia brasiliensis (Gilbert, 1900) LC - - RM
Tripterygiidae
Enneanectes altivelis Rosenblatt, 1960 LC - - RM
Chaetodontidae
16
Chaetodon striatus Linnaeus, 1758 LC - - PS, HM, RM, FR
Haemulidae
Anisotremus surinamensis (Bloch, 1791) DD - - PS, HM, RM, FR Anisotremus virginicus (Linnaeus, 1758) LC - - PS, HM, RM, FR
Haemulon aurolineatum Cuvier, 1830 LC - - PS, HM, RM, FR
Haemulon plumieri (Lacepède, 1801) LC - - PS, RM
Haemulon steindachneri (Jordan & Gilbert, 1882) LC - - PS, RM
Haemulon parra (Desmarest, 1823) LC - - PS, FR
Orthopristis sp. - - - PS
Lutjanidae
Lutjanus analis (Cuvier, 1828) NT - NT PS, HM, RM, FR
Lutjanus cyanopterus (Cuvier, 1828) VU EN EN RM
Lutjanus jocu (Bloch & Schneider, 1801) DD DD NT PS, RM, FR Rhomboplites aurorubens (Cuvier, 1829) VU NMA NT PS, HM, RM, FR
Malacanthidae
Malacanthus plumieri (Bloch, 1786) LC - - HM, RM
Rachycentridae
Rachycentron canadum (Linnaeus, 1766) LC DD - RM
Pomacanthidae
Centropyge aurantonotus Burgess, 1974 LC VU - RM
Holacanthus ciliaris (Linnaeus, 1758) LC VU - RM
Holacanthus tricolor (Bloch, 1795) LC VU - HM, RM
Pomacanthus arcuatus (Linnaeus, 1758) LC - - HM
Pomacanthus paru (Bloch, 1787) LC NT - PS, HM, RM, FR
Priacanthidae
Heteropriacanthus cruentatus (Lacepède, 1801) LC - - RM
Priacanthus arenatus Cuvier, 1829 LC - - RM, FR
Sciaenidae
Odontoscion dentex (Cuvier, 1830) LC - LC PS, HM, RM
Pareques acuminatus (Bloch & Schneider, 1801) LC - DD HM, RM
Kyphosidae
Kyphosus incisor (Cuvier, 1831) - - - RM
Kyphosus sectatrix (Linnaeus, 1758) LC - - PS, RM
Labridae
Bodianus pulchellus (Poey, 1860) LC - - PS, HM, RM, FR
Bodianus rufus (Linnaeus, 1758) LC - - PS, HM, RM, FR
Clepticus brasiliensis Heiser, Moura & Robertson, 2000 LC - - PS, RM
Doratonotus megalepis Günther, 1862 LC - - RM
Halichoeres bathyphilus (Beebe & Tee-Van, 1932) LC - - RM
Halichoeres cyanocephalus (Bloch, 1791) LC - - RM
Halichoeres dimidiatus (Agassiz , 1831) LC - - PS, HM
Halichoeres poeyi (Steindachner, 1867) LC - - PS, HM, RM, FR
Halichoeres brasiliensis (Bloch, 1791) DD - - PS, HM, RM
Halichoeres sazimai Luiz, Ferreira & Rocha, 2009 - - - PS, HM
17
Xyrichthys novacula (Linnaeus, 1758) LC - - RM
Thalassoma noranhanum (Boulenger, 1890) - - - RM
Scaridae
Cryptotomus roseus Cope, 1871 LC - - HM, RM
Nicholsina usta (Valenciennes, 1840) LC - - RM
Scarus trispinosus Valenciennes, 1840 EN EN EN RM
Scarus zelindae Moura, Figueiredo & Sazima, 2001 DD EN VU HM, RM
Sparisoma amplum (Ranzani, 1841) LC EN - HM, RM, FR
Sparisoma axillare (Steindachner, 1878) DD EN VU PS, HM, RM, FR Sparisoma frondosum (Agassiz, 1831) DD EN VU PS, HM, RM, FR
Sparisoma radians (Valenciennes, 1840) LC - - RM
Sparisoma tuiupiranga Gasparini, Joyeux & Floeter, 2003 LC - - HM, FR
Sparidae
Calamus penna (Valenciennes, 1830) LC DD - PS, HM, RM
Calamus pennatula Guichenot, 1868 LC - - PS
Diplodus argenteus (Valenciennes, 1830) LC - - PS, HM, RM
Pagrus pagrus (Linnaeus, 1758) LC NMA - PS, RM
Ogcocephalidae
Ogcocephalus vespertilio (Linnaeus, 1758) LC - - HM, RM
Diodontidae
Diodon holocanthus Linnaeus, 1758 LC DD - RM
Diodon hystrix Linnaeus, 1758 LC - - RM
Tetraodontidae
Canthigaster figueiredoi Moura & Castro, 2002 LC - - HM, RM, FR
Sphoeroides spengleri (Bloch, 1785) LC - - PS, HM, RM, FR
Balistidae
Balistes vetula Linnaeus, 1758 NT - - PS, RM
Monacanthidae
Aluterus scriptus (Osbeck, 1765) LC - - RM
Cantherhines macrocerus (Hollard, 1853) LC - - HM
Cantherhines pullus (Ranzani, 1842) LC - - PS, HM, RM
Stephanolepis hispidus (Linnaeus, 1766) LC - - RM
Ostraciidae
Acanthostracion polygonius Poey, 1876 LC - - RM
Acanthostracion quadricornis (Linnaeus, 1758) LC DD - RM
Lactophrys trigonus (Linnaeus, 1758) LC - - RM
Acanthuridae
Acanthurus bahianus Castelnau , 1855 LC - - PS, HM, RM
Acanthurus chirurgus (Bloch, 1787) LC - - HM, RM
Acanthurus coeruleus Bloch & Schneider , 1801 LC - - RM
Pempheridae
Pempheris schomburgkii Müller & Troschel, 1848 LC - - HM, RM, FR
Serranidae
Diplectrum formosum (Linnaeus, 1766) LC - - PS, HM
18
Epinephelus itajara (Lichtenstein, 1822) VU CR CR RM
Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) VU - VU PS, HM, RM, FR
Epinephelus morio(Valenciennes, 1828) VU NMA VU RM
Hyporthodus niveatus (Valenciennes, 1828) VU - - HM, RM, FR Mycteroperca acutirostris (Valenciennes, 1828) LC NT DD PS, HM, RM, FR
Mycteroperca bonaci (Poey, 1861) NT EN VU PS, HM, RM
Mycteroperca interstitialis (Poey, 1861) VU EN VU RM
Mycteroperca microlepis (Goode & Bean, 1880) VU - DD RM
Paranthias furcifer (Valenciennes, 1828) LC - - HM, RM
Serranus baldwini (Evermann & Marsh, 1900) LC - - PS, HM, RM
Serranus flaviventris (Cuvier, 1829) LC - - PS, HM
Scorpaenidae
Scorpaena isthmensis (Linnaeus, 1758) LC - - RM
Scorpaena plumieri Bloch, 1789 LC - - HM
Foram contabilizados 837 indivíduos em todas as filmagens, representados por 73 espécies pertencentes a 24 famílias. As cinco espécies mais abundantes foram Haemulon
aurolineatum (21,26%), Família Clupeidae (9,55%), Caranx crysos (8,48%), Kyphosus sp.
(5,97%) e Pseudocaranx dentex (4,42%), correspondendo a 41,68% de todos os peixes registrados.
Tabela 2 - Abundância relativa das espécies observadas por BRUV, na Ilha da Queimada Grande - SP. N, número
de indivíduos; %, porcentagem total de indivíduos visualizados.
Espécie N % Haemulon aurolineatum 183 21,26 Família Clupeidae 80 9,55 Caranx crysos 71 8,48 Kyphosus sp. 50 5,97 Pseudocaranx dentex 37 4,42 Rhomboplites aurorubens 27 3,22 Seriola lalandi 26 3,10 Anisotremus virginicus 26 3,10 Abudefduf saxatilis 22 2,62 Pagrus pagrus 21 2,51 Stegastes fuscus 20 2,39 Chromis jubauna 19 2,27 Parablennius sp. 17 2,03 Pomacanthus paru 14 1,67 Gymnothorax moringa 14 1,67 Acanthurus bahianus 14 1,67
19 Holocentrus adscensionis 12 1,43 Halichoeres sazimai 12 1,43 Haemulon steindachneri 12 1,43 Diplodus argenteus 12 1,43 Parablennius marmoreus 10 1,19 Chaetodon striatus 10 1,19 Halichoeres poeyi 9 1,07 Epinephelus marginatus 8 0,96 Decapterus macarellus 8 0,96 Seriola dumerili 7 0,84 Seriola sp. 6 0,72 Elacatinus figaro 6 0,72 Pseudupeneus maculatus 5 0,60 Bodianus rufus 5 0,60 Bodianus pulchellus 5 0,60 Gymnothorax funebris 4 0,48 Elagatis bipinnulata 4 0,48 Seriola rivoliana 3 0,36 Gymnothorax vicinus 3 0,36 Chromis multilineata 3 0,36 Calamus pennatula 3 0,36 Sparisoma frondosum 2 0,24 Sparisoma axillare 2 0,24 Mycteroperca bonaci 2 0,24 Mycteroperca acutirostris 2 0,24 Halichoeres dimidiatus 2 0,24 Haemulon plumieri 2 0,24 Haemulon parra 2 0,24 Diplectrum radiale 2 0,24 Diplectrum formosum 2 0,24 Clepticus brasiliensis 2 0,24 Caranx latus 2 0,24 Carangoides bartholomaei 2 0,24 Cantherhines pullus 2 0,24 Stegastes pictus 1 0,12 Sphoeroides spengleri 1 0,12 Sparisoma sp. 1 0,12 Serranus flaviventris 1 0,12 Serranus baldwini 1 0,12 Pseudobato percellens 1 0,12 Parablennius pilicornis 1 0,12 Orthopristis sp. 1 0,12 Ophioblennius trinitatis 1 0,12 Odontoscion dentex 1 0,12 Mycteroperca sp. 1 0,12
20 Lutjanus sp. 1 0,12 Lutjanus jocu 1 0,12 Lutjanus analis 1 0,12 Kyphosus sectatrix 1 0,12 Halichoeres sp. 1 0,12 Halichoeres brasiliensis 1 0,12 Dasyatis hypostigma 1 0,12 Hypanus guttata 1 0,12 Coryphopterus glaucofraenum 1 0,12 Calamus penna 1 0,12 Bothus sp. 1 0,12 Anisotremus surinamensis 1 0,12
Do total de espécies registradas, 150 (90,36%) tiveram seu estado de conservação avaliado em pelo menos uma escala geográfica. Em nível global, dez espécies foram avaliadas como vulneráveis (VU) (exemplo: Epinephelus marginatus, Lutjanus cyanopterus), cinco Em Perigo (EN) e sete Próximo de Ameaça (NT), oito com Deficientes em Dados (DD) e 120 foram consideradas de menor preocupação (LC) (Tabela 1). Em nível nacional, uma espécie foi caracterizada como Criticamente em Perigo (CR) (Epinephelus itajara), duas Em Perigo (EN) (Lutjanus cyanopterus e Scarus trispinosus) e onze na categoria Vulnerável, cinco como Proximo de Ameaça e cinco como Pouco Preocupante (Tabela 1). Na lista do Estado de São Paulo, que se utiliza de outras categorias, além das fornecidas pela IUCN, o mero (Epinephelus
itajara) também foi classificado como Criticamente em Perigo. Além disso, quatro espécies
foram categorizadas com a Necessidade de Gestão Pesqueira (Carcharhinus falciformis,
Rhomboplites aurorubens, Epinephelus morio, Pagrus pagrus), cinco como vulneráveis (VU),
quatro Próximo de Ameaça (NT), nove Em Perigo (EM), e 33 como Deficientes e Dados (DDA análise da média de MaxN por grupo trófico da Ilha da Queimada Grande revelou grande predominância dos invertívoros móveis, (MINV) seguido de macro carnívoros (MCAR) e planctívoros (PLANK) (Figura 4).
21
Figura 4- MaxN médio (± erro padrão) para os grupos tróficos da Ilha da Queimada Grande. Mostrando os grupos tróficos: invertívoros móveis (MINV), macro carnívoros (MCAR), herbívoros (HERB), planctívoros (PLANK), onívoros (OMNI) e invertívoros sésseis (SINV).
Com relação as famílias de interesse comercial, Carangidae obteve o maior MaxN médio, seguida da Kyphosidae, = Scaridae obteve o menor valor (Figura 5). As famílias Kyphosidae e Carangidae obtiveram a maior biomassa média (Figura 6).
Figura 5 - MaxN médio (± erro padrão) das famílias de interesse comercial.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
MINV MCAR PLANK HERB OMNI SINV
M axN mé dio (in divíduos ) Grupo Trófico 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Carangidae Kyphosidae Lutjanidae Sparidae Serranidae Scaridae
M axN mé dio (in divíduos ) Família
22
Figura 6 - Biomassa em gramas (± erro padrão) das principais famílias de interesse comercial.
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 20000 K yp hos id ae Ca ra ngi da e Lu tja ni da e Serra ni da e Sc arid ae Spa ri da e Biom ass a me di a (g) Famílias
23
4 DISCUSSÃO
O valor de 165 espécies, pertencentes às 49 famílias obtidos na lista de espécies mostram que a Ilha da Queimada Grande possui uma grande riqueza local. Demais estudos feitos no litoral de São Paulo também observaram alta riqueza de espécies de peixes recifais comparados com outros locais. Luiz-Jr et al. (2008) registraram 196 espécies na Laje de Santos, Gibran & Moura (2012) contabilizaram 106 espécies na região de São Sebastião, Rolim et al. (2017) registraram 141 espécies na Ilha de Alcatrazes e Souza et al. (2018) observaram 103 espécies na Ilha Anchieta. Já na ilha da Queimada Grande, Moura et al. (2003) registraram 137 espécies, Pivetta et al. (2012) 40 espécies e Meira (2016) levantou 150 espécies. Sendo assim, vemos que o presente estudo realizado, pode encontrar espécies que ainda não haviam sido registradas e assim, contribuir para uma lista revisada das espécies da ilha da Queimada Grande com os seguintes representantes: Pseudobatos percellens, Dasyatis hypostigma, Hypanus
guttata, Decapterus macarellus, Elagatis bipinnulata, Ophioblennius trinitatis, Orthopristis ruber, Clepticus brasiliensis, Calamus pennatula.
Três das espécies registradas no presente estudo, pertencem à subclasse Elasmobranchii (Pseudobatos percellens, Dasyatis hypostigma, Hypanus guttata), grupo de peixes que normalmente evitam mergulhadores. Isto, ressalta a vantagem do uso da metodologia empregada. Seu uso está em fase inicial na costa brasileira, mas os resultados têm se mostrado de grande relevância para o registro de tubarões e raias em ambientes recifais, corroborando com os estudos de Rolim et al. (2017).
Quanto aos dados de conservação, vemos que 15 (9,1%) das espécies estão classificadas em alguma categoria de ameaça (VU, EN e CR). Como exemplo, os elasmobrânquios que foram registrados no presente estudo, Pseudobatos percellens, Dasyatis hypostigma e que estão na categoria EN da lista da IUCN, na estadual está como EN e DD, e sem categorização na lista Nacional. Esse grupo possui populações bastante reduzidas, sendo atualmente ameaçados pela pesca por capturas acessórias (Rosa & Gadig 2014), o que reitera a importância do conhecimento das espécies locais, em prol de se evitar essas capturas acidentais.
A espécie Lutjanus cyanopterus, popularmente conhecida como Caranha, está na categoria VU na IUCN e na categoria EN da lista estadual e nacional, sendo a ilha da Queimada Grande possível local de refúgio e reprodução da espécie (Pivetta et al., 2012), com evidencias preliminares de agregação reprodutiva citadas por Moura et al. (2003). Tendo seu único registro
24
em Moura et al. (2003), porem esta espécie é alvo da pesca amadora, mas principalmente da pesca industrial que parece se dirigir paras águas da Queimada Grande durante o verão. A Família Serranidae teve um número grande de espécies registradas (N=13). No quesito conservação, seis dessas espécies se encontram na categoria Vulnerável na lista Global. Essas espécies são representantes da subfamília Epinephelinae, popularmente conhecidas como pertencentes ao grupo das garoupas e badejos (exemplo: Epinephelus itajara, Epinephelus
marginatus e Mycteroperca interstitialis) e são conhecidos como animais de ciclo de vida
longo, características reprodutivas hermafroditas protogínicos e crescimento lento (Andrade et
al., 2003 e Reñones et al., 2010). Souza et al. 2018, registrou esse grupo com numerosos
exemplares em categorias vulneráveis na lista de conservação global, na Ilha Anchieta, e fez um alerta sobre a vulnerabilidade à pesca.
A predominância de invertívoros móveis converge com os resultados de estudos anteriores conduzidos no Atlântico sudoeste subtropical, por se adaptar aos ambientes complexos, como o de recifes rochosos (Ferreira et al., 2004; Gibran e Moura, 2012; Daros et al., 2018; Rolim et al., 2019). O segundo grupo mais abundante foi o de macro carnívoros representado por Caranx crysos. Onívoros (OMNI) e invertívoros sésseis (SINV) foram os grupos que apresentaram, nessa ordem, os menores valores para abundância. O grupo SINV, foi representado por apenas duas espécies, Pomacanthus paru e Chaetodon striatus com abundância relativa de 1,67% e 1,19%, respectivamente. Entretanto, mesmo que este grupo tenha apresentado abundância relativamente maior que outras espécies encontradas no local, o seu grupo trófico foi o de menor representatividade, corroborando com o estudo de Ferreira et al. (2014), diz ainda que esse padrão é recorrente por conta de fatores ecológicos como disposição de larvas.
A parte marinha da Ilha da Queimada Grande faz parte da Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro (APAMLC), local onde a pesca é permitida ainda que deva ser ordenada. No presente estudo encontramos um valor alto para a biomassa de peixes alvos da pesca. A família Kyphosidae obteve a maior biomassa. Ferreira et al. (2004), já reportaram o domínio da família Kyphosidae na região entre o Rio de Janeiro até o sul de Santa Catarina. Seguida da família Carangidae, que são peixes conhecidos por seu grande porte e sua mobilidade (Thresher et al., 1986
25
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar dos múltiplos usos existentes na Ilha da Queimada Grande (ex. pesca profissional, amadora embarcada, caça-submarina e mergulho recreativo), a riqueza de espécies de peixes observada nas suas águas foi equivalente a encontrada em sistemas insulares mais protegidos do sudeste do Brasil. Além disso, aproximadamente 20% das espécies registradas foram classificadas como próximo de ameaça (NT) ou ameaçadas de extinção (VU, EN e CR) em ao menos uma escala geográfica de avaliação. Neste contexto, os dados do presente estudo revelam a necessidade de esforços mais robustos visando a conservação da ictiofauna da Ilha da Queimada Grande. Assim, o ordenamento dos usos já existentes, campanhas de informação ambiental junto aos usuários e ações de fiscalização são fundamentais para a manutenção da biodiversidade e da oferta de serviços ecossistêmicos associados a ela.
26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABURTO‐OROPEZA, Octavio; BALART, Eduardo F. Community structure of reef fish in several habitats of a rocky reef in the Gulf of California. Marine ecology, v. 22, n. 4, p. 283-305, 2001.
ANDERSON, Antônio B. et al. Expansão populacional do invasor Pomacentridae Chromis limbata (Valenciennes, 1833) na costa sul do Brasil: monitoramento de longo prazo, disponibilidade de nicho fundamental e novos registros. Journal of Fish Biology, v. 97, n. 2, pág. 362-373, 2020.
ANDRADE, Áthila Bertoncini et al. Reproductive biology of the dusky grouper Epinephelus marginatus (Lowe, 1834). Brazilian Archives of Biology and Technology, v. 46, n. 3, p. 373-382, 2003.
AMARANTE, A. 2009. Guia de Identificação e Fotografia de peixes marinhos - Brasil e Caribe. Editora Pomacanthus, 244p.
BETANCUR-R, R., E. WILEY, N. BAILLY, M. MIYA, G. LeCointre & G. Ortí. 2014. Phylogenetic classification of bony fishes. Version 3. DeepFin Acessado em http://www.deepfin.org/Classification_v3.htm
CAPPO, Mike; HARVEY, E.; SHORTIS, M. Counting and measuring fish with baited video techniques-an overview. In: Australian Society for Fish Biology Workshop Proceedings. Tasmania: Australian Society for Fish Biology, 2006. p. 101-114.
CURREY-RANDALL, L. M.; CAPPO, M.; SIMPFENDORFER, C. A.; FARABAUGH, N. F.; HEUPEL, M. R. 2020 Optimal soak times for Baited Remote Underwater Video Station surveys of reef-associated elasmobranchs. PloS one, v. 15, n. 5, p. e0231688.
FERREIRA, Carlos EL; GONCÇALVES, José EA; COUTINHO, Ricardo. Community structure of fishes and habitat complexity on a tropical rocky shore. Environmental Biology of Fishes, v. 61, n. 4, p. 353-369, 2001.
FERREIRA, C. E. L. et al. Trophic structure patterns of Brazilian reef fishes: a latitudinal comparison. Journal of Biogeography, v. 31, n. 7, p. 1093-1106, 2004.
27
FROESE, R., PAULY, D. 2018. Fishbase. World Wide Web electronic publication. (Ed.). www.fishbase.org. Version (02/2018).
GIBRAN, Fernando Zaniolo; MOURA, Rodrigo Leão de. A estrutura das assembleias de peixes de recife rochoso ao longo de um gradiente próximo à costa até as ilhas costeiras no sudeste do Brasil. Neotropical Ichthyology, v. 10, n. 2, pág. 369-382, 2012.
GOMES, U. L. et al. Guia para identificação dos tubarões, raias e quimeras do estado rio de janeiro (chondrichthyes: elasmobrachii e holocephali). Revista Nordestina de Biologia, v. 27, n. 1, 2019.
GHAZILOU, A.; SHOKRI, MR; GLADSTONE, W. Animal v. Isca baseada em plantas: o tipo de isca afeta o censo de assembléias de peixes e grupos tróficos por sistemas de vídeo subaquático remoto com isca (BRUV) ?. Journal of fish biology , v. 88, n. 5, pág. 1731-1745, 2016.
HOLMLUND, Cecilia M.; HAMMER, Monica. Ecosystem services generated by fish populations. Ecological economics, v. 29, n. 2, p. 253-268, 1999.
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VI - Peixes. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 1232p.
IUCN 2021. Lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN. Versão 2020-3. <https://www.iucnredlist.org> acessado em 10/01/2021
KELAHER, Brendan P. et al. Changes in fish assemblages following the establishment of a network of no-take marine reserves and partially-protected areas. PloS one, v. 9, n. 1, p. e85825, 2014.
LUIZ JR, O. J. et al. 2008. The reef fish assemblage of the Laje de Santos Marine State Park, Southwestern Atlantic: annotated checklist with comments on abundance, distribution, trophic structure, symbiotic associations, and conservation. Zootaxa, 1807: 1-25.
MALLET, Delphine; PELLETIER, Dominique. Underwater video techniques for observing coastal marine biodiversity: a review of sixty years of publications (1952–2012). Fisheries Research, v. 154, p. 44-62, 2014.
28
MEIRA, H. M. 2016. Peixes da Ilha da Queimada Grande, São Paulo: riqueza de espécies e análise da exposição e profundidade como fatores estruturadores das assembleias recifais. Trabalho de conclusão de curso, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Instituto de Biociências – Campus do Litoral Paulista, 36p.
MENEZES, Naércio Aquino et al. (Ed.). Catálogo das espécies de peixes marinhos do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, 2003.
MINTE-VERA, Carolina V.; DE MOURA, Rodrigo Leao; FRANCINI-FILHO, Ronaldo B. Nested sampling: an improved visual-census technique for studying reef fish assemblages. Marine Ecology Progress Series, v. 367, p. 283-293, 2008.
MOURA, R. L., R. B. Francini-Filho, N. A. Menezes, G. F. Dutra, D. Cappel & E. J. Comin. 2003. Memorial descritivo do meio marinho da Ilha da Queimada Grande e proposta de ampliação e recategorização da ARIE. Conservation International Brasil Programa Marinho.
PEREIRA-FILHO, G. H., Shintate, G. S., Kitahara, M. V., Moura, R. L., Amado-Filho, G. M., Bahia, R. G., Moraes, F. C., Neves, L. M., Francini, C. L. B., Gibran, F. Z. & Motta, F. S. 2019. The southernmost Atlantic coral reef is off the sub-tropical island of Queimada Grande (24°S), Brazil. Bull. Mar. Sci. 95(2): 277 – 287. https://doi.org/ 10.5343/bms.2018.0056PINHEIRO, Hudson T. et al. South‐western Atlantic reef fishes: Zoogeographical patterns and ecological drivers reveal a secondary biodiversity centre in the Atlantic Ocean. Diversity and Distributions, v. 24, n. 7, p. 951-965, 2018.
PIVETTA, A. P. D., M. M. Morais, E. J. Comin. 2012. Caracterizaçāo preliminar quantitativa e qualitativa da estrutura da assembléia de peixes recifais da Ilha da Queimada Grande - SP. Revista Ceciliana, 4: 77-83.
PINHEIRO, Hudson T. et al. South‐western Atlantic reef fishes: Zoogeographical patterns and ecological drivers reveal a secondary biodiversity centre in the Atlantic Ocean. Diversity and Distributions, v. 24, n. 7, p. 951-965, 2018.
REAKA-KUDLA, Marjorie L. The global biodiversity of coral reefs: a comparison with rain forests. Biodiversity II: Understanding and protecting our biological resources, v. 2, p. 551, 1997.
29
REÑONES, Olga et al. Reproductive pattern of an exploited dusky grouper Epinephelus marginatus (Lowe 1834) (Pisces: Serranidae) population in the western Mediterranean. Scientia Marina, v. 74, n. 3, p. 523-537, 2010.
ROLIM, F. A., P. F. C Rodrigues & O. B. F Gadig. 2017. Peixes de recifes rochosos, estação ecológica de Tupinambás, São Paulo. 1° edição. Anolis Books, 79p.
ROLIM FA, Langlois T, Rodrigues PFC, Bond T, Motta FS, Neves LM, et al. (2019) Rede de pequenas reservas marinhas proibidas revela maior abundância e tamanho corporal das
espécies-alvo da pesca. PLoS ONE 14 (1): e0204970.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.0204970.
ROSA, Ricardo S.; GADIG, Otto Bismarck Fazzano. Conhecimento da diversidade dos Chondrichthyes marinhos no Brasil: a contribuição de José Lima de Figueiredo. Arquivos de Zoologia, v. 45, p. 89-104, 2014.
SANTANA-GARCON, Julia et al. Effects of a spatial closure on highly mobile fish species: an assessment using pelagic stereo-BRUVs. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, v. 460, p. 153-161, 2014.
SOUZA, Gabriel Raposo Silva de et al. Peixes recifais do Parque Estadual da Ilha Anchieta, Atlântico Sudoeste, Brasil. Biota Neotropica, v. 18, n. 1, 2018.
SÃO PAULO - ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. 2014. Declara as espécies da fauna silvestre ameaçadas de extinção, as quase ameaçadas e as deficientes de dados para a avaliação no Estado de São Paulo e dá providências correlatadas. Decreto nº 60.133, de 07 de fevereiro de 2014.
THRESHER, Ronald E.; GUNN, John S. Comparative analysis of visual census techniques for highly mobile, reef-associated piscivores (Carangidae). Environmental Biology of Fishes, v. 17, n. 2, p. 93-116, 1986.
WHITMARSH, Sasha K.; FAIRWEATHER, Peter G.; HUVENEERS, Charlie. O que o Big BRUVver está fazendo? Métodos e usos de vídeo subaquático com isca. Avaliações em Fish Biology and Fisheries, v. 27, n. 1, pág. 53-73, 2017.