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CARACTERIZAÇÃO GERAL DA PESCA INDUSTRIAL DESEMBARCADA NO ESTADO DO PARÁ

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CARACTERIZAÇÃO GERAL DA PESCA INDUSTRIAL

DESEMBARCADA NO ESTADO DO PARÁ

Ludmila Assunção Pinheiro

Laboratório de Oceanografia. Universidade Federal do Pará. Bolsista PIBIC/CNPq. Campus Universitário do Guamá. Rua Augusto Corrêa, s/n. Bairro: Guamá. CEP: 66075-110. Belém - PA. Tel: (091) 211-1983 Correio

eletrônico: ludmila@ufpa.br Flávia Lucena Frédou

Laboratório de Oceanografia. Universidade Federal do Pará. Campus Universitário do Guamá. Rua Augusto Corrêa, s/n. Bairro: Guamá. CEP: 66075-110. Belém - PA. Tel: (091) 211-1983 Correio eletrônico:

flucena@ufpa.br

1. RESUMO

Os rios Amazonas e Tocantins deságuam no Oceano Atlântico na costa norte do Brasil, entre os estados do Pará e Amapá. Esta área, chamada de Estuário do Amazonas, estende-se na linha de costa destes estados formando um ambiente aquático complexo com uma alta produtividade biológica. A produção pesqueira desembarcada no estado do Pará é proveniente desta área. O presente estudo identifica os recursos desembarcados pela pesca industrial no Pará, além de descrever as principais embarcações envolvidas nesta atividade. São analisadas também a abundância sazonal e fauna acompanhante das espécies mais importantes. A piramutaba Brachyplatystoma vaillantii é o alvo principal da pesca industrial na região, mas destacam-se ainda o mapará Hipophthalmus edentatus, a dourada B. flavicans, o pargo Lutjanus spp., a gurijuba Arius parkeri, o bagre A.couma e o camarão rosa Farfantepenaeus subtilis. A safra do camarão rosa e da piramutaba ocorreram no período chuvoso, enquanto que a da dourada se deu no período entre estações. A fauna acompanhante da piramutaba teve como principais representantes o bagre, a dourada e a pescada branca Plagioscion squamosissimus.

2. ABSTRACT

The Amazonas and Tocantins rivers flow though the Atlantic Ocean in North Brazil,

between the states of Pará and Amapá. This area, designated as the estuary of Amazonas, lies along the coasts of these states and is a complex aquatic environmental, characterized but a high biological productivity. The fishery production landed in the state of Pará comes from this area. This study has the objective of identifying the resources landed by the industrial fleet based on Pará, and also to describe the main fleets involved within this activity. It is analysed the seasonal abundance and by-catch of the most important species caught. The laulao catfish Brachyplatystoma vaillantii is the main target of the industrial fishery in the region, but the highwaterman catfish Hipophthalmus edentatus, gilded catfish

(2)

B. flavicans, southern red snapper Lutjanus spp., gillbacker sea catfish Arius parkeri, catfish A. couma and shrimp Farfantepenaeus subtilis are also relevants. The catch period of the shrimp and laulao catfish occurred during the rainy season, while the catch period for gilded catfish was reported between the rainy and dry season. The by-catch of laulao catfish was mainly represented by catfish, gilded catfish and silver croaker Plagioscion squamosissimus.

3. INTRODUÇÃO

Os rios Amazonas e Tocantins deságuam no Oceano Atlântico na costa norte do Brasil, entre os estados do Pará e Amapá. Esta área, chamada de Estuário do Amazonas, estende-se na linha de costa destes estados formando um ambiente aquático complexo com uma alta produtividade biológica, que suporta uma biomassa substancial de espécies de peixes exploradas por frotas artesanais e industriais estabelecidas em ambos os estados. Esta região é considerada uma das regiões mais produtivas do País (Sanyo Tecno Marine, 1998) [1]. Estima-se que cerca de 40% da produção brasileira é originária desta área. Esta riqueza faz com que o local seja um grande pólo industrial de exploração de recursos pesqueiros. A pescaria nesta região recai sobre uma série de espécies e as artes de pesca e as frotas operantes são das mais diversas. Têm-se registros de frotas locais, de pequena escala até grandes barcos, operando na frota industrial (Sanyo Tecno Marine, 1998) [1]. A pescaria de pequena escala emprega cerca de 70000 pessoas e, as artes de pesca mais utilizadas são as redes de espera. Entretanto, essa frota tem um menor impacto no setor pesqueiro que o registrado pela frota industrial, melhor equipada, que emprega cerca de 2000 pessoas e tem como arte de pesca principal, a rede de arrasto (Sanyo Tecno Marine, 1998) [1].

O presente estudo tem por objetivo identificar os recursos atualmente desembarcados pela pesca industrial no Pará, além de descrever as principais embarcações envolvidas e analisar a abundância sazonal e fauna acompanhante das espécies mais importantes.

4. MATERIAL E METODOS

Para diagnosticar a pesca realizada na costa do Pará as fontes de informação utilizadas neste trabalho foram as seguintes:

• Características das embarcações: Foram registradas as embarcações que trabalham com a piramutaba Brachyplatystoma vaillantii, operantes nos principais pontos de desembarque do Pará. Foi também obtida a caracterização das embarcações que operam na captura do camarão rosa Farfantepenaeus subtilis O tamanho, potência do motor e autonomia das embarcações foram registrados.

• Registro do desembarque das principais empresas de pesca fiscalizadas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), através de visitas regulares ao Ministério da Agricultura, onde foram coletados dados de desembarque das espécies capturadas para os anos de 2001 e 2002. Através desta fonte, foram obtidas informações como espécies capturadas no Pará.

• Informações detalhadas dos desembarques, como nome do barco, data, lote, captura por espécie e dias de pesca, para os anos de 2001, 2002 e 2003 (sendo que neste último ano as informações são exclusivas para o camarão rosa, até o mês de maio) coletadas em visitas a duas empresas de pesca sediadas em Belém (uma empresa era caracterizada pelo desembarque de peixes e a outra pelo desembarque de camarão rosa). Estes dados detalhados por viagem de pesca possibilitaram a análise da fauna acompanhante e o cálculo da CPUE

(3)

(captura por unidade de esforço) para as principais pescarias desembarcadas no Estado do Pará.

A CPUE foi calculada considerando Kg por viagem de pesca (direcionadas para a espécie sob estudo). A CPUE foi analisada por mês para o camarão rosa, durante os anos de 2001, 2002 e 2003, e por trimestre para as 6 principais espécies (ou grupo de espécies) desembarcadas na região, durante os anos de 2001 e 2002, sendo elas: piramutaba, dourada

Brachyplatystoma flavicans, gurijuba Arius parkeri, bagre Arius couma, tubarão e cação

(ambos representados por várias espécies das famílias Carcharhinidae e Sphyrnidae).

A fauna acompanhante foi obtida para a piramutaba, dourada e gurijuba, também utilizando-se informações detalhadas dos desembarques fornecidas pelas duas empresas de pesca.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. PRINCIPAIS RECURSOS DESEMBARCADOS NA COSTA DO PARÁ As pescarias desembarcadas na região Amazônica provêm de duas categorias bem distintas de barcos: a frota industrial e a pesca artesanal.

Segundo Barthem et al. (1987) [2], a frota Industrial constitui-se de barcos geralmente com cascos de aço, comprimento entre 17 e 27 m, tonelagem líquida entre 20 e 105 t e potência de motor variando de 165 a 565 hp. Utilizam tecnologia sofisticada. Essa frota e sua produção são controladas pelas indústrias que processam, estocam e exportam o pescado [2]. Ainda de acordo com Barthem et al. (op. cit.) [2] e Espírito Santo (2002) [3], a pesca artesanal possui características bastante variadas, em relação ao comprimento, capacidade de carga, hábitats onde atuam e estoques que exploram. Esta modalidade é praticada por pescadores que possuem embarcações com casco de madeira e possuem caixa de gelo apropriada para resfriar e conservar o pescado. Utilizam tecnologia simples, podendo dirigir a produção para a subsistência e/ou mercado.

Neste estudo, um total de 113 espécies pertencentes a 46 famílias foram registradas nos desembarques da pesca industrial no Estado do Pará para os anos de 2001 e 2002 (Tabela 1). Deste total, 10 espécies mais abundantes foram responsáveis por 80% e 72% do total capturado em 2001 e 2002, respectivamente.

A piramutabaé o alvo principal das pescarias, com 30,7% e 24,8% da produção total em 2001 e 2002, respectivamente. Em segundo lugar está o mapará Hipophthalmus edentatus com 9,95% em 2001 e 12,7% em 2002. A dourada, (9,36% em 2001 e 7,32% em 2002), o grupo dos pargos (várias espécies da família Lutjanidae - com 7,28 % em 2001 e 9 % em 2002) e o camarão rosa Farfantepenaeus subtilis (com 4,46% em 2001 e 3,25% em 2002), dentre outras espécies, também são representativas.

No presente trabalho, as famílias de peixes mais diversificadas, em número de espécies, foram Carangidae (14), Pimelodidae (9), Serranidae (8), Ariidae (7), Lutjanidae (6), Serrasalmidae (6), Scombridae (5) e Sciaenidae (5). Barthem (1985) [4] definiu para a Baía do Marajó, que é uma importante área do Estuário Amazônico, as seguintes famílias como sendo as mais diversificadas: Ariidae, Sciaenidae e Pimelodidae, possuindo 9, 7 e 5 espécies respectivamente.

(4)

Anexo 3: Tabela com os valores relativos de captura, nomes comuns, espécies, famílias e ambientes de ocorrência para as pescarias desembarcadas no Estado do Pará nos anos de 2001 e 2002.

Nome Comum Família Espécie Estuário Água doce

Mar Captura (%) 2001

Captura (%) 2002

Acará-açu Lobotidae Lobotes surinamensis x x 0,04 1,64

Acari Loricariidae Hypostomus emarginatus

e Liposarcus pardalis

x x

- 0,03 Agulhão Istiophoridae Makaira nigricans e

Tetrapturus albidus x x 0,03 0,32

Albacora Scombridae Thunnus spp. x < 0,01 < 0,01

Anchova Pomatomidae Pomatomus saltatrix x 0,14 -

Arabaiana Carangidae Seriola spp. x - < 0,01

Aracú Anostomidae Leporinus spp. e

Rhytiodus spp. x 0,02 0,15

Ariacó Lutjanidae Lutjanus synagris x x 0,07 1,42

Arraia Dasyatidae1 Gymnuridae2 Myliobatidae3 Torpedinidae4 Dasyatis geijskesi1, D. guttata1, Gymnura micrura2, Aetobatus narinari3,Rhinoptera bonasus3 e Narcine Brasiliensis4 x x 0,10 0,24 Aruanã Osteoglossidae Osteoglossum

bicirrhosum e O. ferreirai

x

0,02 < 0,01

Apapá Clupeidae Pellona castelnaeana x x - < 0,01

Atum Scombridae Thunnus spp. x x 0,53 0,28

Bacu Doradidae Lithodoras dorsalis x x - < 0,01

Badejo Serranidae Epinephelus spp. e

Mycteroperca spp. x 0,23 0,17

(5)

Bandeirado Ariidae Bagre bagre x x < 0,01 0,02

Barbado Pimelodidae Goslinia platynema x x 0,30 0,39

Bijupirá Rachycentridae Rachycentrom canadum x x 0,04 0,08

Biquara Haemulidae Haemulon flavolineatum x x 0,09 0,03

Bonito Scombridae Sarda sarda x x 0,01 0,09

Branquinha Curimatidae Cyphocharax abramoides x 0,04 < 0,01

Camarão Rosa Penaeidae Farfantepenaeus subtilis x x 4,46 3,26

Cambéua Ariidae Arius grandicassis x x - < 0,01

Camorim Centropomidae Centropomus spp. x x x 0,38 0,46

Cangatá Ariidae Arius quadriscutis x x 0,04 0,01

Cangulo Balistidae Balistes spp. x 0,04 0,04

Carapiranga Lutjanidae Lutjanus spp. x x x 0,02 0,90

Caraximbó Carangidae Caranx latus x x x - 0,02

Catuá Serranidae Cephalopholis fulva x < 0,01 < 0,01

Cavala Scombridae Acanthocibium solandri x 0,11 0,21

Charuto Hemiodontidae Hemiodus spp. x < 0,01 -

Cherne Serranidae Epinephelus niveatus x x 0,10 0,17

Chicharro Carangidae Decapterus macarellus, D. punctatus e Trachurus

trachurus

x

- 0,02

Corvina Sciaenidae Cynoscion virescens x x x 1,24 1,04

Cujuba Doradidae Oxydoras niger x 0,01 0,01

Curimatá Curimatidae1 e

Prochilodontidae2 Curimata spp.

1 e

Prochilodus nigricans2 x 0,41 0,11

Dentão Lutjanidae Lutjanus jocu x x x - 0,01

Dourada Pimelodidae Brachyplatystoma

flavicans x x 9,36 7,33

Dourado Coryphaenidae Coryphaena hippurus x x < 0,01 0,24

Espadarte Pristidae Pristis perotteti x x x < 0,01 -

Filhote Pimelodidae Brachyplatystoma

(6)

Garoupa Serranidae Epinephelus spp. x x 0,90 1,43

Gostoso Stromateidae Peprilus paru x x < 0,01 -

Guaiúba Lutjanidae Ocyurus chrysurus x 0,11 0,17

Guarajuba Carangidae Caranx latus x x < 0,01 < 0,01

Gurijuba Ariidae Arius parkeri x x 4,13 2,62

Jaraquí Prochilodontidae Semaprochilodus

taeniurus e S. insignis

x

0,02 0,06

Jaú Pimelodidae Paulicea luetkeni x 0,92 1,10

Lagosta Palinuridae Panulirus sp. x - 0,15

Mapará Hypophythalmidae Hipophytalmus edentatus

e H. marginatus

x

9,95 12,79

Matrinxã Characidae Brycon cephalus x < 0,01 -

Meca Xiphiidae Xiphias gladius x 0,32 0,10

Mero Serranidae Epinephelus itajara x x 0,10 0,09

Pacú Serrasalmidae Mylossoma spp., Myleus

spp. e Metynnis spp.

x

< 0,01 0,09

Pampo Carangidae Trachinotus spp. x x < 0,01 -

Pargo Lutjanidae Lutjanus spp. x x x 7,28 9,02

Paru Ephippidae Chaetodipterus faber x x - < 0,01

Peixe Galo Carangidae Selene setapinnis e

Selene vomer x x - < 0,01

Peixe Pedra Pomadasyidae Genyatremus luteus x x < 0,01 -

Pescada Sciaenidae Cynoscion spp. x x x 3,56 4,10

Pescada

Amarela Sciaenidae Cynoscion acoupa x x x 2,93 1,51

Pescada Branca Sciaenidae Plagioscion squamosissimus

x x

0,68 0,51 Pescada Go,

Pescadinha Sciaenidae Macrodon ancylodon x x 0,49 0,35

Pintado Pimelodidae Pseudoplatystoma

(7)

Piracatinga Pimelodidae Calophysus macropterus x - < 0,01 Piramutaba Pimelodidae Brachyplatystoma

vaillantii

x x

30,70 24,81

Piranha Serrasalmidae Serrasalmus spp. x < 0,01

Pirapema Megalopidae Megalops atlanticus x x 0,12 0,59

Pirapitinga Serrasalmidae Piaractus brachypomus x 0,03 0,17

Pirarara Pimelodidae Phractocephalus

hemioliopterus x 0,90 0,71

Pirarucú Arapaimidae Arapaima gigas x 0,03 < 0,01

Piraúna Serranidae Cephalopholis fulva x 0,01 0,03

Realito Lutjanidae Rhomboplites aurorubens x x 0,02 0,01

Sarda Clupeidae Pellona spp. x < 0,01 0,02

Sardinha Engraulididae Anchovia clupeoides, Cetengraulis edentulus

x x

0,08 0,31 Serra Scombridae Scomberomorus

brasiliensis x x 0,44 0,87

Sirigado Serranidae Mycteroperca spp. x 0,01 0,01

Surubim Pimelodidae Pseudoplatystoma

fasciatum x 3,7 2,65

Tainha, Pratiqueira

Mugilidae Mugil spp. x x x

< 0,01 < 0,01

Tambaquí Serrasalmidae Colossoma macropomum x 0,046 0,09

Tamuatá Callichthyidae Hoplosternum spp.,

Callichthys spp.

x

0,13 0,17 Tilápia Cichlidae Oreochromis urolepis

hornorum x x - < 0,01

Timbiro Carangidae Oligoplites palometa x x x - 0,24

Traira Erythrinidae Hoplias malabaricus x 0,134163 0,03

Tubarão Carcharhinidae e

Sphyrnidae Carcharhinus spp. e Sphyrna spp. x x x 2,26 2,64

(8)

Uricica Ariidae Cathorops spixii x x 0,15 0

Uritinga Ariidae Arius proops x x 0,64 1,45

Xaréu Carangidae Caranx spp, Alectis

ciliaris x x 0,04 0,18

Xerelete Carangidae Caranx spp .e

Carangoides spp.

x x x

- < 0,01

Outros - Espécies não identificadas - - - 5,18 7,95

OBS: Algumas pescarias foram incluídas na mesma categoria, pois provavelmente tratam-se da mesma espécie, já que ocorre uma variação na nomenclatura vulgar entre as diferentes localidades. As pescarias incluídas na mesma categoria estão agrupadas abaixo:

• Carapiranga, carapitanga, piranga e mulato • Pirapitinga e piratinga

• Tubarões, gália e gália amarela • Acará-açu e cara-açú

• Camorim e Robalo • Ariacó e cioba • Timbiro e pratiuíra

(9)

5.2. CARACTERÍSTICAS DAS PRINCIPAIS PESCARIAS DA COSTA NORTE DO BRASIL

O ecossistema amazônico é dominado pela periodicidade do ciclo das chuvas. O primeiro semestre do ano é conhecido na região como inverno, quando ocorre o aumento da pluviosidade e elevação do nível de água nos rios. Assim, as grandes descargas dos rios nos estuários e oceanos tornam estes ambientes menos salinos, com grande quantidade de material em suspensão, conseqüentemente dificultando a proliferação do fitoplâncton. No verão, a coloração da água muda de barrenta para esverdeada devido à deposição dos sedimentos, que ocorre com o aumento da salinidade, favorecendo o desenvolvimento do fitoplâcton (Millimann et al., 1975) [5].

A atividade pesqueira na Amazônia convive com essa sazonalidade, concentrando seus esforços para as espécies que ocorrem em maior abundância no inverno ou no verão. As frotas pesqueiras sediadas no Ecossistema Amazônico exploram a sazonalidade da abundância do pescado nas águas interiores, no estuário, na costa e no oceano, em diferentes períodos ao longo do ano, mantendo o fornecimento de pescado regularmente (Isaac e Barthem, 1995) [6].

5.2.1. Piramutaba Brachyplatystoma vaillantii

O pico de abundância desta pescaria, variou entre os anos amostrados. Para o ano de 2001, a abundância da piramutaba foi similar para todos os trimestres do ano, mas para o ano de 2002 a abundância do recurso foi concentrada principalmente no segundo trimestre (Figura 1). Segundo Sanyo Tecno Marine (1998) [1], a piramutaba é um peixe de água doce, ocorrendo apenas em rios e estuários, sendo mais largamente distribuída durante o período chuvoso. É mais abundante em profundidades entre 5 e 10 m, não ocorrendo acima de 20 m. A captura da piramutaba, pela frota industrial no Pará, é realizada por cerca de 61 barcos, pertencentes a 6 empresas de pesca, que utilizam o arrasto de parelha.

Piramutaba 0 1000 2000 3000 4000

1° trimestre 2° trimestre 3° trimestre 4° trimestre Trimestres

CPUE

2001 2002

Figura 1: CPUE trimestral da piramutaba para o período de 2001 a 2002.

5.2.2. Gurijuba Arius parkeri

A CPUE calculada para o desembarque de gurijuba em 2001 foi similar no decorrer dos trimestres do ano, ocorrendo um decréscimo apenas no terceiro trimestre. No primeiro semestre de 2002 ocorreu um significativo decréscimo dos índices de CPUE, sendo que o mesmo voltou a aumentar no segundo semestre.

Em ambos os anos, pode-se perceber que a gurijuba é capturada durante todo o ano, com pico de abundância no 4o trimestre (Figura 2). A gurijuba apresenta melhor distribuição

(10)

entre 10 e 20 m, em todas as estações do ano. Não ocorre em rios e é mais largamente encontrada em estuários do que em oceanos (Sanyo Tecno Marine, 1998) [1]. Ainda de acordo com Sanyo Tecno Marine (1998) [1], a gurijuba se adapta melhor a águas salobras do que salgadas, por isso ela apresentou um pico de captura no período chuvoso, quando a água do mar está menos salgada, e outro pico no período seco, quando as águas estuarinas estão salobras. Gurijuba 0 400 800 1200 1600

1° trimestre 2° trimestre 3° trimestre 4° trimestre Trimestres

CPUE

2001 2002

Figura 2: CPUE trimestral da gurijuba para o período de 2001 a 2002.

5.2.3. Dourada Brachyplatystoma flavicans

Esta pescaria apresentou picos de abundância em diferentes épocas nos dois anos. Entretanto, pode-se perceber que esses picos ocorreram no segundo semestre, tanto em 2001, quanto em 2002 (Figura 3). Segundo Sanyo Tecno Marine (1998) [1], a dourada é mais abundante no período chuvoso, fato não corroborado com os nossos estudos. A dourada é um peixe de água doce e não ocorre em águas oceânicas. Apresenta maior distribuição entre 5 e 10 m de profundidade, não ultrapassando os 20 m (Sanyo Tecno Marine, 1998) [1].

Dourada 0 500 1000 1500 2000

1° trimestre 2° trimestre 3° trimestre 4° trimestre Trimestres

CPUE

2001 2002

(11)

5.2.4. Bagre Arius couma

Os índices de CPUE do bagre, tanto em 2001, quanto em 2002, demonstraram que este recurso ocorre durante todo o ano, independente do período chuvoso ou seco, com picos de captura no primeiro trimestre (Figura 4).

A categoria bagre pode corresponder a várias espécies. Entretanto, durante o verão, quando as águas estão baixas, entre julho e outubro, particularmente em setembro, existe a chamada “safra do peixe liso”, da qual o Bagre faz parte (ISAAC et al., 1996) [7].

Bagre 0 100 200 300 400 500 600 700

1° trimestre 2° trimestre 3° trimestre 4° trimestre Trimestres

CPUE

2001 2002

Figura 4: CPUE trimestral do bagre para o período de 2001 a 2002.

5.2.5. Tubarões e Cações (várias espécies das famílias Carcharhinidae e Sphyrnidae) Tanto os tubarões (Figura 5) como os cações (Figura 6) são capturados durante todo o ano, com picos registrados, em ambos os anos, para o 3o e 4o trimestre, correspondente ao

período seco. Deve-se levar em consideração que estes animais antes consideradas apenas como fauna acompanhante, atualmente são alvo de várias pescarias com redes de emalhar ou espinhel, devido ao alto valor comercial das barbatanas. A abundância, descrita neste estudo, refere-se a um grupo de espécies das famílias Carcharhinidae e Sphyrnidae, provavelmente com características biológicas distintas.

Os tubarões possuem uma baixa fecundidade, maturidade sexual tardia e elevada longevidade, o que os torna bem mais suscetíveis à sobre-pesca que os peixes teleósteos (Holden, 1974) [8]. Tubarões 0 5000 10000 15000 20000

1° trimestre 2° trimestre 3° trimestre 4° trimestre Trimestres

CPUE

2001 2002

(12)

Cações 0 100 200 300 400 500

1° trimestre 2° trimestre 3° trimestre 4° trimestre Trimestres

CPUE

2001 2002

Figura 6: CPUE trimestral dos cações para o período de 2001 a 2002.

5.2.6. Camarão rosa Farfantepenaeus subtilis

As embarcações que capturam o camarão rosa na costa do Pará têm comprimento de aproximadamente 22 m, com motor, em geral, de 375 hp. A arte de pesca utilizada é a rede de arrasto de fundo com portas (duas redes por barco com a utilização de tangones). A conservação do pescado ocorre em câmaras frigoríficas. A autonomia varia entre 45 e 60 dias de pesca, produzindo uma captura anual de cerca de 20 toneladas de cauda de camarão rosa por barco. Segundo Isaac & Barthem (1995) [6], as embarcações camaroeiras completam suas caixas de gelo com a pescada gó Macrodon ancylodon, que também é capturada nas redes de arrasto junto com o camarão.

Não houve captura do camarão rosa em Janeiro de 2001 e 2003, Novembro de 2002 e Dezembro de 2001 e 2002, pois é o período em que ocorre o defeso na costa Norte do Brasil. O pico de abundância do camarão rosa para os 3 anos analisados concentrou-se no 1° semestre, em diferentes meses (Figura 7). Percebe-se um grande aumento nos índices de CPUE no ano de 2003. Isto está provavelmente relacionado a fatores ambientais e/ou ao defeso realizado nos anos anteriores. De acordo com Isaac et al. (1992) [9], os meses de melhor produtividade (CPUE) do camarão rosa, historicamente se concentraram no primeiro semestre do ano. Com o aumento das chuvas há um incremento do volume de águas que chega aos estuários, trazendo um grande aporte de nutrientes e diminuindo a salinidade. Ainda de acordo com Isaac et al. (1992) [9], a pluviosidade anual medida em Belém do Pará, no período de 1978 – 1988, demonstrou um certo grau de associação positiva com a safra do camarão rosa. Camarão rosa 0 50 100 150 200 250

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses

CPUE

2001 2002 2003

(13)

5.3. FAUNA ACOMPANHANTE DAS PRINCIPAIS PESCARIAS DA COSTA NORTE DO BRASIL

Para as pescarias que tiveram a piramutaba B. vaillantii como espécie alvo, esta representou 81% e 92% do total capturado, para os anos de 2001 e 2002, respectivamente. Em ambos os anos o bagre A. couma foi a espécie dominante da fauna acompanhante. Em seguida estão a dourada B. flavicans e a pescada branca Plagioscion squamosissimus. A categoria “outros” no ano de 2001 representa a raia (várias espécies das famílias Dasyatidae, Gymnuridae, Myliobatidae e Torpedinidae), gurijuba A. parkeri, mero Epinephelus itajara, pirapema Megalops atlanticus e corvina Cynoscion virescens (Figura 8).

Piramutaba (2001) Dourada 4% Bagre 11% Outros 1% P. Branca 3% Piramutaba 81% (a) Piramutaba (2002) Bagre 4% P. Branca 2% Dourada 2% Piramutaba 92% (b)

Figura 8: Composição (%) da fauna acompanhante da Piramutaba em 2001 (a) e 2002 (b).

A fauna acompanhante da gurijuba representou 33% e 36% da captura total, para os anos de 2001 e 2002, respectivamente. A espécie dominante foi a pescada amarela Cynoscion

acoupa em 2001 e a uritinga Arius proops em 2002. Pode-se destacar ainda o cação Carcharhinus spp e Sphyrna spp, a corvina e o bagre como espécies importantes na

composição da fauna acompanhante da gurijuba. A categoria “outros” representa as seguintes espécies: pirapema, camorim Centropomus spp, dourada, espadarte Pristis perotteti, xaréu

Caranx spp e Alectis ciliaris, mero, acará-açú Lobotes surinamensis, tubarão Carcharhinus spp e Sphyrna spp e piramutaba (Figura 9).

(14)

Gurijuba (2001) Outros 6% Bagre 3% Uritinga 5% Cação 5% Corvina 3% P. Amarela 10% Gurijuba 68% (a) Gurijuba (2002) Gurijuba 64% Outros 3% Corvina 2% Bagre 2% Uritinga 19% P. Amarela 7% Cação 3% (b)

Figura 9: Composição (%) da fauna acompanhante da gurijuba em 2001 (a) e 2002 (b).

A fauna acompanhante da dourada representou 25% e 13% da captura total, para os anos de 2001 e 2002, respectivamente. A piramutaba foi a espécie dominante tanto em 2001, quanto em 2002. Pode-se destacar ainda o bagre, a pescada branca, o filhote

Brachyplatystoma filamentosum e o cação como espécies importantes na composição da

fauna acompanhante da dourada. A categoria “outros” inclui uma variedade de espécies como gurijuba, camorim, uritinga, pescada amarela, entre outras (figura 10).

Dourada (2001) Outros 2% Cação 1% Piramutaba 10% Bagre 5% P. Branca 5% Filhote 2% Dourada 75% (a)

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Dourada (2002) Outros 1% P. Branca 3% Piramutaba 4% Dourada 87% Filhote 3% Bagre 2% (b)

Figura 10: Composição (%) da fauna acompanhante da dourada em 2001 (a) e 2002 (b).

6. CONCLUSÕES

• A piramutaba Brachyplatystoma vaillantii representou 30,7% e 24,8% da captura total em 2001 e 2002, respectivamente, indicando que esta espécie é o alvo principal da região. • Os índices de CPUE do camarão rosa Farfantepenaeus subtilis, tiveram um grande

aumento em 2003, comparado com 2001 e 2002, provavelmente relacionado a fatores ambientais e ao defeso.

• A safra do camarão rosa e da piramutaba ocorreram no período chuvoso, enquanto que a da dourada Brachyplatystoma flavicans se deu no período entre estações.

• Os índices de CPUE da gurijuba Arius parkeri indicaram que esta pescaria é capturada durante todo o ano, com pico de abundância no 4o trimestre.

• Os índices de CPUE do bagre Arius couma indicaram que este recurso ocorre durante todo o ano, com picos de captura no primeiro trimestre.

• A fauna acompanhante da piramutaba teve como principais representantes o bagre, a dourada e a pescada branca Plagioscion squamosissimus.

• A fauna acompanhante da dourada teve como principais representantes o bagre, filhote

Brachyplatystoma filamentosum, pescada branca e piramutaba.

• A fauna acompanhante da gurijuba teve como principais representantes a pescada amarela

Cynoscion acoupa e a uritinga Arius proops. Podendo-se destacar ainda o cação Carcharhinus spp e Sphyrna spp, a corvina Cynoscion virescens e o bagre.

7. PALAVRAS-CHAVE

Sazonalidade, fauna acompanhante, Pará.

8. AGRADECIMENTOS

Aos pescadores, Ministério da agricultura e aos responsáveis pelas empresas de pesca, que gentilmente responderam às entrevistas e disponibilizaram os dados de desembarque. Agradeço ainda ao Msc.Marcelo Torres, pesquisador da UFPa pelo auxílio com a taxonomia durante a realização do referido trabalho, ao CNPq e à Pró-Reitoria de Pesquisa e de Pós-Graduação da UFPA, pela realização da Revista Virtual de Iniciação Acadêmica.

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] SANYO TECNO MARINE. Draft Final Report for the Fishery Resources study of the Amazon and Tocantins Rivers Mouth Áreas in the Federative Republic of Brazil. 334 p. 1998.

[2] BARTHEM, R.B.; PETRERE Jr., M.; ISAAC, V.; de BRITO, M.C.L.; McGRATH, D.G.; ARURUNA, I.J. & BARCO, M.V. MCT/CNPq. A pesca na Amazônia: Problemas e perspectivas para o manejo. Manejo e conservação de vida silvestre no Brasil. Belém. Sociedade Civil Mamirauá. p. 173-185. 1987.

[3] ESPÍRITO SANTO, R. V. UFPA. Caracterização da atividade de desembarque da frota artesanal de pequena escala na região estuarina do rio Caeté, Município de Bragança – Pará – Brasil., Tese de mestrado. 2002.

[4] BARTHEM, R. B. Ocorrência, distribuição e biologia dos peixes da Baía de Marajó, Estuário Amazônico. Bol. Mus. Par. Emílio Goeldi, série zoologia. 2 (1): 49-69. 1985. [5] MILLIMAN, J. D.; SUMMERHAYES, C. P. & BARRETO, H. T. Oceanography and suspended matter off the Amazon River February-March 1973. J. Sedim. Petrol., Tulsa. 45 (1):189-206. 1975.

[6] ISAAC, V. J.; BARTHEM, R. B. Os recursos pesqueiros da Amazônia brasileira. Bol. Mus. Par. Emílio Goeldi, série antropologia. 11(2): 295-339. 1995.

[7] ISAAC, V. J.; MILSTEIN, A.; RUFFINO, M. L. A pesca artesanal no baixo Amazonas: análise multivariada da captura por espécie. Acta Amazônica. 26(3): 185-208. 1996.

[8] HOLDEN, M.J. Problems in the racional exploitation of elasmobranchi population and some suggested solutions. F.H. Harden Jones (Ed.): 117-137. 1974.

[9] ISAAC, V. J., DIAS NETO, J., DAMASCENO, F. G. IBAMA. Camarão-Rosa da Costa Norte: Biologia, Dinâmica e Administração Pesqueira. 187p. 1992.

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