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REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228

Volume 11 - Número 2 - 2º Semestre 2011

Caracterização do manejo utilizado na classificação de solos por agricultores da

região da Morraria – Cáceres/MT

Helionora da Silva Alves1; Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo2

RESUMO

O objetivo do trabalho foi caracterizar as práticas de manejo importantes na classificação dos solos na região da Morraria, Cáceres/MT. A metodologia baseou-se no conhecimento do agricultor, tendo sido feitas observações a campo e entrevistas semiestruturadas e abertas. Na sistematização dos dados, foram atribuídos os critérios: “indicação”, “descrição”, “procedimento técnico” e “qualificação utilizados como função de separar as características citadas pelos agricultores. Os dados dos componentes principais foram submetidos à análise descritiva e estatística multivariada. As análises efetuadas confirmaram os resultados. Conclui-se que, em primeiro lugar, os agricultores consideram a técnica que será adotada para manejar os solos. E esse procedimento é feito de acordo com a realidade de cada localidade, havendo necessidade de adequar o tipo de atividade que irão desenvolver aos diferentes tipos de solos das unidades produtivas.

Palavras-chave: uso do solo, sistema de conhecimento, etnopedologia.

Characterization of management used in soil classification by farmers in the area of

Morraria – Cáceres/MT

ABSTRACT

This work aimed to characterize the important management practices on soil classification in the region of Morraria, Cáceres/MT, Brazil. The methodology was based on the farmer knowledge, being carried out at field observations, semi-structured interviews and open. In the data systematization, some criteria were assigned as a function of separating the features mentioned by farmers, "indication", "description", "technical process", and "qualification". The data were analyzed by descriptive and multivariate statistic, using principal component analysis. The results were confirmed in the carried out analyses. It was concluded that, primarily in soil management, a management technique to be adopted should be in accordance with local realities to suit the type of activity to develop in certain soil types present in the local production units.

Keywords: soil use, knowledge system, ethnopedology.

1 INTRODUÇÃO

Os sistemas agrícolas operam a partir da percepção social da sociedade e da natureza e sua efetivação acontece tanto no espaço social quanto no natural. A agronomia usualmente está

voltada somente para as técnicas operacionais que visam a aumentar a produtividade agrícola, não considerando a complexidade e a realidade dos sistemas de produção dos agricultores tradicionais, que nesse artigo, são definidos como aqueles que não se inseriram por inteiro

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16 nos moldes da agricultura mercantil (Azevedo,

2003). Para que a agronomia passe a compreender essa categoria de agricultores, torna-se necessária a construção de um novo senso comum entre técnicos e agricultores e, para que isso ocorra, é indispensável que a ciência compreenda as lógicas de concepção e operacionalização dos sistemas agrícolas desses agricultores.

Estudar o solo através dos sistemas de conhecimento dos agricultores permite analisar seus aspectos naturais e sociais, proporcionando a compreensão da estrutura, da função e do funcionamento dos sistemas agrícolas (Barrera-Bassols & Zinck, 2003).

As relações entre os aspectos naturais e sociais estão inteiramente ligadas aos sistemas de produção, definidos como um conjunto das atividades desenvolvidas pelo agricultor, distribuídas no seu ambiente, englobando componentes biofísicos e socioeconômicos (Reintjes et al., 1994). Geralmente, as pesquisas sobre o enfoque de sistemas de produção têm sido realizadas sem perceber o “ambiente sociológico”, ou seja, a comunidade, a unidade de produção familiar, as organizações sociais, as quais, junto com o agricultor e sua família, devem ser as maiores beneficiárias das tecnologias resultantes dessas pesquisas (Tourinho, 1994).

O entendimento das relações existentes entre a estrutura e a função dos sistemas de produção pressupõe a organização de seus elementos. É difícil comparar os critérios utilizados por agricultores e por cientistas no que diz respeito à avaliação dos solos. Conceitos tais como pH, capacidade de troca de cátions, textura, estrutura, fertilidade, nutriente, entre outros, não fazem sentido para os agricultores. Da mesma forma, os cientistas pouco ou nada sabem sobre os critérios dos agricultores, como aroma, gosto, entre outros (Ryder, 2003).

Para entender as classificações feitas pelos agricultores, é necessário compreender suas teorias sobre o mundo e as consequentes classificações das coisas do mundo, o que nos remete aos conceitos de kosmos, corpus e praxis de Toledo (1995; 2000) e aos de idelologia agrícola (agricultural ideology) e roteiro tecnológico (technological script) de Alcorn (1989). As normas práticas adotadas pelos

agricultores podem ser o ponto de partida para a compreensão das classificações.

O procedimento da classificação vem sendo considerado essencial para explicar a lógica dos sistemas de “manejo” pela ordenação de objetos, fatos e ambientes relacionados às categorias taxonômicas (Azevedo, 2001). As classificações etnopodelógicas têm sido apontadas por vários autores (Osbahr & Allan, 2003; Ryder, 2003; Crane, 2001; Talawar & Rhoads, 1998; Sandor & Furbee, 1996; Grobben, 1992; Wilken, 1987) como importantes para o diálogo entre técnicos e agricultores no sentido de potencializar os objetivos desses últimos em relação às suas unidades produtivas, através da comparação das classificações pedológicas com as do conhecimento popular (Krasilnikov & Tabor, 2003) no sentido da aproximação dessas duas formas de percepção (ciência e senso comum).

As taxonomias populares, além de serem de interesse histórico e antropológico, mostram diferentes formas locais de comunicação entre os agricultores, especialmente com relação à administração do solo, avaliação e posse dos recursos, podendo auxiliar técnicos e cientistas a compreender as relações dos agricultores com os recursos naturais pela maneira como as populações locais conservam e monitoram estes recursos (Krasilnikov & Tabor, 2003).

Para a escolha do solo a ser cultivado, devem ser levadas em consideração suas qualidades e adequação ao tipo de planta. A classificação de solos dos agricultores leva em consideração tanto suas características físico-químicas como suas funções utilitárias ao manejo. Dessa maneira, os tipos de solos estão relacionados com seu uso (Alves, 2004). Essa pesquisa se insere no esforço de buscar compreender a lógica classificatória para o manejo dos solos por agricultores da região da Morraria, município de Cáceres, MT.

2 MATERIAIS E MÉTODOS Área de Estudo

A pesquisa foi realizada em nove unidades produtivas (UPs) distribuídas em três comunidades localizadas na região de Morraria, município de Cáceres, Estado de Mato Grosso,

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17 região Centro-oeste do Brasil (15°58’56’’ e

15°53’40’’ de latitude sul e 57°31’03’’ e 57°26’59’’ longitude oeste) (Figura 1).

Figura1 - Localização do município onde se deu o estudo, Cáceres Estado de Mato Grosso.

Coleta de dados

Primeiramente foi feito um diagnóstico com o objetivo de compreender as UPs baseando-se nas estratégias de “manejo” dos agricultores em relação aos seus sistemas de produção. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas abertas e semiestruturadas, de acordo com as metodologias propostas por Mikkelsen (1995) e Mettrick (1993), complementadas com observações de campo.

Foram entrevistados informantes-chave, identificados a partir do diagnóstico inicial atendendo aos seguintes critérios: possuir experiência (conhecimento) sobre solo conforme indicações das pessoas da comunidade e estar de acordo com a realização do trabalho e disposto a colaborar.

Sistematização e análise dos dados As entrevistas buscaram identificar os tipos de solo conhecidos pelos informantes. Em seguida, para cada tipo de solo apontado, foi feita pelos agricultores sua descrição. As informações obtidas nas entrevistas foram sistematizadas, tendo sido os dados agrupados por meio de uma matriz binária (de valores 1 ou zero) em que as características dos solos foram posicionadas nas linhas e os nomes dos solos nas colunas. Na intersecção das linhas com as

colunas, atribuiu-se o valor 0 (zero) quando o solo não apresentava a característica e o valor 1 (um) quando apresentava (REIS, 2001). Foram excluídas da matriz final as variáveis com variâncias de valor zero para que fosse possível a Análise Fatorial (AF). Essa matriz binária representa a organização do conhecimento dos agricultores sem intervenção dos pesquisadores.

A partir da matriz anteriormente descrita, foram estabelecidos pelos pesquisadores critérios supraordenados de agrupamento das características informadas pelos agricultores. O estabelecimento desses critérios foi necessário para a organização do conjunto extremamente amplo e variado de informações representadas na primeira matriz. Entretanto, a definição e nominação desses critérios foram feitas com a colaboração dos agricultores, respeitando a nomenclatura por eles indicada.

Com esses critérios foram construídas novas matrizes binárias nas quais as linhas representavam as características dos solos inicialmente indicadas e as colunas os critérios supraordenados. Atribuiu-se o valor 1 (um) à característica que tinha relação ao critério e o valor 0 (zero) à que não tinha. Esses critérios não são excludentes no sentido de uma característica poder estar presente em mais de um critério. A partir dessa categorização, foram feitas as análises estatísticas.

Os critérios identificados para o manejo dos solos foram: “indicação” - indica a atividade feita no solo como plantio, criação, espécies cultivadas etc.; “descrição” – mostra as características do solo como umidade, textura, cor, compactação, erosão, localização na paisagem etc.; “procedimento técnico” – refere-se à norma técnica adotada para promover determinada atividade no solo; e “qualificação” - se o solo é bom ou ruim para determinada atividade, fácil ou difícil ao esforço de trabalho.

As análises estatísticas, descritiva e fatorial, foram feitas de forma sequencial com objetivos diferenciados. Na análise descritiva, buscou-se identificar os grupos de características dando peso percentual a cada um deles. A análise fatorial, pelo método dos componentes principais, foi utilizada para a identificação das características mais importantes no universo das características apontadas.

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18 Foram consideradas variáveis

importantes no processo de caracterização dos fatores aquelas cujos valores absolutos da correlação com os Fatores fossem maiores ou iguais ao resultado da subtração do maior módulo da correlação com o menor módulo, dividida por dois, em cada fator. E adotou-se que só seriam considerados os fatores que em conjunto explicassem 80% ou mais da variação dos dados originais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Análise descritiva: Identificação das atividades desenvolvidas no manejo do solo

Foi feita análise descritiva com os critérios “indicação”, “descrição”, “procedimento técnico” e “qualificação”, compostos pelas características relacionadas ao manejo do solo com o intuito de se estabelecer uma ordem de importância dos critérios.

O critério “procedimento técnico” foi considerado o mais importante. Em segundo lugar, identificou-se o critério “indicação”, em terceiro lugar “qualificação”, em último o critério “descrição”. Os resultados da soma das características presentes em cada critério mantêm o mesmo resultado da Tabela 1.

Tabela 1 - Quantidade de características de manejo do solo presentes nos critérios.

Critérios Soma de

características Procedimento técnico adotado 96

Indicação no uso do solo 85

Qualificação 70

Descrição do solo 34

Análise fatorial pelo método de componentes principais: Categoria de critérios – características de manejo do solo

Essa análise teve por objetivo explicar a classificação dos critérios de manejo de solo conforme a visão dos agricultores da Morraria, tendo sido identificados dois fatores com autovalores maiores que 1 (um) que responderam por 80% da variação dos dados originais. Na Tabela 2 são apresentados os autovalores e suas percentagens de explicação da variação dos dados, individualmente e de forma acumulada.

Tabela 2 - Autovalores e percentagem de explicação da variabilidade dos dados dos dois fatores dos critérios de manejo do solo.

F* A* % TVEI* % EA*

1 2,34 58,61 58,61

2 0,84 20,98 79,59

Obs: F* (Fatores); A* (Autovalor); % TVEI* (% Total de variância explicada individual); % EA* (% de explicação acumulada).

Das características separadas por fator, foi possível identificar a importância dos critérios. O critério “procedimento técnico” é o mais importante, “indicação” vem em segundo lugar, “qualificação” em terceiro e “descrição” em último lugar. Esses resultados corroboram as indicações da análise descritiva, comprovando a maior importância dos critérios “procedimento técnico” e “indicação” no que se refere à classificação estrutural do manejo do solo adotado pelos agricultores da Morraria. Na Tabela 3, está o resultado da soma das características dos solos presentes nos fatores por critério.

Tabela 3 - Quantidade de características dos solos por fatores dos critérios - análise de componentes principais.

Critérios Soma de

características Procedimento técnico adotado 92

Indicação no uso do solo 84

Qualificação 66

Descrição do solo 33

A análise de componentes principais identificou os critérios para classificação dos critérios de manejo mais importantes em termos da variabilidade dos dados, reduziu o número de variáveis e validou os resultados da análise descritiva.

Identificando uma ordenação de importância para os critérios, as características presentes em cada critério (Tabela 4) não apresentaram correlação elevada em nenhum dos dois fatores, mas, somadas as suas influências menores, em cada um dos fatores, tornaram-se importantes.

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Tabela 4. Correlações das variáveis descritoras do fator 1 e 2, critérios relacionados ao manejo dos solos.

Car. Manejo Cor. Car. Manejo Cor.

Fator 1

Boa para criação de gado 0,86 Na época das chuvas, o maquinário patina -2,0

Boa para plantar 0,86 Na época das secas, a planta não tem força para nascer -2,0

Boa para plantar abacaxi 0,86 Na época das secas, é difícil trabalhar a terra -2,0

Boa para plantar abóbora 0,86 Na época das secas, fica parada -2,0

Boa para plantar algodão 0,86 Na época das secas, seca muito as plantas -2,0

Boa para plantar alho 0,86 Ocorre erosão -2,0

Boa para plantar amendoim 0,86 Produz na época das chuvas -2,0

Boa para plantar ananais 0,86 Se encharcar, a planta não se firma -2,0

Boa para plantar arroz 0,86 Só produz na época das chuvas -2,0

Boa para plantar banana 0,86 Terra parada -2,0

Boa para plantar batata 0,86 Car. Manejo Cor.

Boa para plantar batata doce 0,86 Fator 2

Boa para plantar braquiária 0,86 Na época das secas, não pode plantar nada 1,33

Boa para plantar café 0,86 Plantio deve ser em lugar alto 1,33

Boa para plantar caju 0,86 Plantio na época das chuvas 1,33

Boa para plantar cana 0,86 Plantio na época das secas só com irrigação 1,33

Boa para plantar capim angola 0,86 Plantio só quando a terra está enxuta 1,33

Boa para plantar cará 0,86 Plantio só quando não está alagada 1,33

Boa para plantar cebola 0,86 Pode plantar na época das secas 1,33

Boa para plantar feijão 0,86 Se encharcar, tem que plantar mais cedo 1,33

Boa para plantar fruta banana 0,86 Se largar o mantimento colhido na terra, a areia cola nele 1,33

Boa para plantar fumo 0,86 Há lugar em que não precisa adubar e mecanizar 1,33

Boa para plantar goiaba 0,86 Época da colheita de feijão no período das chuvas 1,23

Boa para plantar humidícula 0,86 Na época das chuvas não pode deixar mantimento colhido na terra 1,23 Boa para plantar inhame 0,86 Na época das secas pode deixar mantimento colhido na terra 1,23

Boa para plantar laranja 0,86 Se encharcar, não é bom plantar banana 1,23

Boa para plantar limão 0,86 Se encharcar, não é bom plantar mandioca 1,23

Boa para plantar mamona 0,86 Se encharcar, pode plantar arroz 1,23

Boa para plantar mandioca 0,86 Se encharcar, pode plantar cana 1,23

Boa para plantar manga 0,86 Se encharcar, pode plantar capim 1,23

Boa para plantar maxixe 0,86 Se encharcar, só pode plantar arroz 1,23

Boa para plantar meia cultura 0,86 A colheita deve ser na época certa 0,96

Boa para plantar melancia 0,86 Não precisa de adubação 0,96

Boa para plantar milho 0,86 Não precisa de tratamento para produzir 0,96

Boa para plantar moranga 0,86 Precisa de calcário para produzir 0,96

Boa para plantar morango 0,86 Precisa de tratamento para produzir 0,96

Boa para plantar palmito 0,86 Só produz se adubar 0,96

Boa para plantar pasto 0,86 Só produz se calcarear 0,96

Boa para plantar seringa 0,86 Só produz se mecanizar 0,96

Boa para plantar soja 0,86 Dá até para plantar roça 0,86

Boa para plantar tomate 0,86 Dá para plantar capim humidícula 0,86

Não é boa para plantar arroz 0,86 Dá para plantar pasto 0,86

Não é boa para plantar árvores grandes 0,86 Pode plantar de tudo 0,86

Não é boa para plantar banana 0,86 Pode plantar mandioca se gradear 0,86

Não é boa para plantar braquiária 0,86 Pode plantar milho, mas a espiga sai pequena 0,86

Não é boa para plantar café 0,86 Pode plantar milho se gradear 0,86

Não é boa para plantar cana 0,86 Só é usada para plantar pasto 0,86

Não é boa para plantar capim colonião 0,86 Mistura terra e adubo mais que outras terras -1,14 Não é boa para plantar capim jaraguá 0,86 Na época das chuvas o maquinário patina -1,14 Não é boa para plantar coco Bahia 0,86 Na época das secas, a planta não tem força para nascer -1,14 Não é boa para plantar feijão 0,86 Na época das secas, é dificil trabalhar a terra -1,14

Não é boa para plantar laranja 0,86 Na época das secas, fica parada -1,14

Não é boa para plantar limão 0,86 Na época das secas, seca muito as plantas -1,14

Não é boa para plantar mamona 0,86 Ocorre erosão -1,14

Não é boa para plantar mandioca 0,86 Produz na época das chuvas -1,14

Não é boa para plantar milho 0,86 Se encharcar, não firma a planta -1,14

Não é boa para plantar pocã 0,86 Só produz na época das chuvas -1,14

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20 Tabela 4. Correlações das variáveis descritoras do fator 1 e 2, critérios relacionados ao manejo dos solos.

Car. Manejo Cor. Car. Manejo Cor.

Fator 2

Na época das secas o capim fica seco -1,25 Capim aguenta na época das secas -1,24

Na época das secas fica ruim -1,3 Na época das secas, o capim fica seco -1,24

Na época das secas não pode plantar nada -1,4 Produz quase todos os tipos de mantimentos -1,61

Plantio deve ser em lugar alto -1,4 Terra de cultura -1,61

Plantio na época das chuvas -1,4 Na época das secas, fica ruim -1,99

Plantio na época das secas só com irrigação -1,4 Boa para trabalhar -2,35

Plantio só quando a terra está enxuta -1,4 Ruim para trabalhar -2,35

Plantio só quando não está alagada -1,4 A mais aprovada para agricultura -2,46

Pode plantar na época das secas -1,4 Boa para cultura -2,46

Se encharcar tem que plantar mais cedo -1,4 Boa para fazer horta -2,46

Se largar o mantimento colhido na terra, a areia cola nele -1,4 Boa para lavoura -2,46

Tem lugar que não precisa adubar e mecanizar -1,4 Boa para produzir mantimento -2,46

Mistura terra e adubo mais que outras terras -2,0 Não é boa para lavoura -2,46

No fator 1 foram verificadas 81 características e 59 no fator 2. Através da análise por componentes principais para os critérios relacionados ao manejo dos solos, pode-se verificar que as características estão mais relacionadas para o critério de aptidão de uso dos solos. A análise de componentes principais separou as características de manejo, selecionando aquelas características importantes nos critérios, identificando as correlações positivas e negativas em cada fator.

A Figura 1 ilustra a importância dos critérios, sendo mostrados os resultados das duas análises em percentagem, comprovando que a análise de componentes principais validou e complementou a identificação feita pela análise descritiva.

Figura 1. Comparação da distribuição dos critérios de manejo em percentagem, nas duas análises estatísticas.

O resultado desse trabalho considera critério “procedimento técnico” em primeira ordem, sendo considerado mais importante nas

tomadas de decisão no manejo do solo a ser adotado por esses agricultores.

Antes de começar o trabalho físico do solo para produção, deve-se levar em conta o trecho a ser futuramente cultivado, pois existem solos distintos, portanto, para a escolha do solo, devem ser levadas em consideração suas qualidades de adequação ao tipo de planta que será cultivada para atender às necessidades de consumo e venda dos agricultores (Woortmann & Woortmann, 1997). Os tipos de solos estão relacionados com o seu uso pelo agricultor, caracterizados pela capacidade de produção, o que indica a qualidade do solo (Grobben, 1992; Azevedo, 2001).

Correia (2004), em estudo também realizado com agricultores tradicionais na região da Morraria – Cáceres/MT – Brasil, identificou que eles estabelecem suas estratégias de manejo a partir da lógica interna de funcionamento da unidade produtiva, pois estão submetidos a complexos de atividades relacionadas entre si e à diversidade das práticas em cada etapa da produção, em que decidem quais procedimentos técnicos utilizar ao longo do processo produtivo. Dessa forma, no manejo dos solos, primeiramente eles levam em consideração a técnica de manejo que será adotada de acordo com a realidade local, para adequarem esta mesma técnica ao tipo de atividade que irão desenvolver nos diferentes tipos de solo presentes nas unidades produtivas do local.

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21 Conclui-se que as estratégias empíricas

para classificar os solos na região da Morraria são complexas por considerarem as características de função e uso dos solos para classificá-los, sendo os critérios de manejo de ordem utilitária, pois envolvem as normas técnicas adotadas pelos agricultores que condicionam o uso das categorias de solos.

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[1] - Dra. em Agricultura Tropical, Professora do GPA de Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG) (helionora.alves@gmail.com) [2] - Dr. em Fitotecnia, Professor do Departamento de Agronomia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) (rodrigo.abazevedo@gmail.com)

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