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Lisboa, 2 de Novembro de António Garcia da Fonseca. Está conforme. Lisboa, 3 de Novembro de O Escrivão de Direito (Ilegível).

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Cópias da sentença e acórdãos proferidos pelo 8.° Juízo Cível, da Relação e do Supremo Tribunal de Justiça de Lisboa, no processo de patente de invenção n.° 48 324. Recurso da recusa do registo de marca n.° 537. Recorrente, Artur Neto de Barros, recorrido, director- -geral do Comércio. - Sentença de fls. 86 a 87.

Artur Neto de Barros recorre do despacho do Ex.mo Director-Geral do Comércio de 9 de Setembro de 1970 que concedeu a patente de invenção n.° 48 324 à Sociedade Rúbia, L.da, alegando:

O recorrente possui licença de exploração do modelo de utilidade n.° 4609, anteriormente n.os 2042 e 3204, referente a revestimento para garrafões, cuja descrição do modelo se encontra no Boletim, n.° 12 de 1957, fl. 15 v.°;

A patente de invenção n.° 48 324 não oferece a carac- terística da novidade, requisito indispensável, nos termos do artigo 10.° do Código da Propriedade Industrial, por não diferir essencialmente do que constituiu ob- jecto de inventos anteriores, sendo o pedido antecipado pelo referido depósito n.° 4609;

Assim, o despacho recorrido deve ser revogado, recusando-se o pedido de patente de invenção n.° 48 324. A Direcção-Geral do Comércio defende que o recurso não merece provimento.

Cumpre decidir:

Verifica-se que, pela patente de invenção n.° 48 324, se pretende uma nova aplicação de um processo já conhecido para obter o mesmo resultado prático com

uma técnica muito mais perfeita, mais fácil e económica para o seu fabrico e com maior utilidade, conforme o disposto no artigo 4.°, alíneas b) e c), do Código da Propriedade Industrial;

Além de que o recorrente só poderá modernizar, tornar actual, económico, mais viável e prático o seu modelo naturalmente ... à custa do aproveitamento dos requisitos da referida patente n.° 48 324, dado que o modelo n.° 4609, por ser construído de vime ou material equivalente, apresenta um conjunto de características que não se poderiam aplicar com material plástico, muito mais moderno e prático :

Mostra-se assim que são diferentes as características construtivas e funcionais do objecto de ambas as pa- tentes, pelo que julgo improcedente o recurso e mantenho o despacho impugnado.

Custas pelo recorrente, com imposto de justiça de metade.

Cumpra oportunamente o disposto no artigo 210.° do Código da Propriedade Industrial.

Lisboa, 2 de Novembro de 1971. - António Garcia da Fonseca.

Está conforme.

Lisboa, 3 de Novembro de 1971.-O Escrivão de Direito (Ilegível).

Autos cíveis de apelação, processo n.° 10 373/2.ª Secção, vindos da Comarca de Lisboa, 8.° Juízo Cível. Ape- lante, Artur Neto de Barros, apelados, Sociedade Rúbia, L.da, e director-geral do Comércio.

Acórdão de fls. 166

Acordam, em conferência, no Tribunal da Relação de Lisboa:

Artur Neto de Barros recorreu do despacho do Ex.mo Director-Geral do Comércio de 9 de Setembro de 1970 que concedeu a patente de invenção n.° 48 324 à Sociedade Rúbia, L.da, alegando:

O recorrente possui licença de exploração do modelo de utilidade n.° 4609, anteriormente n.os 2042 e 3204, referente a revestimento para garrafões, cuja descrição do modelo se encontra no Boletim, n.° 12 de 1957, fl. 15 v.°

A patente de invenção n.° 48 324 não oferece a carac- terística da novidade, requisito indispensável, nos termos do artigo 10.° do Código da Propriedade Industrial, por não diferir essencialmente do que constitui objecto de inventos anteriores, sendo o pedido antecipado pelo referido depósito n.° 4609.

Assim, o despacho recorrido deve ser revogado, recusando-se o pedido de patente de invenção n.° 48 324. A Direcção-Geral do Comércio, a fls. 48 e 49, defende que o recurso não merece provimento.

O Ex.mo Juiz a quo, na sua sentença de fl. 86 v.°, julgou improcedente o recurso e manteve, consequente-

mente, o despacho impugnado.

Artur Neto de Barros interpôs o presente recurso da sentença referida, que foi recebida pelo despacho de fl. 94, que minutou em devido tempo, fls. 111 e seguintes, contra-alegando a Sociedade Rúbia, L.da O Ex.mo Procurador da República, no seu douto parecer de fls. 155 e 155 v.°, entende que as reivindi-

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cações de patente n.° 8324 da apelada não contêm nada que seja susceptível de patente de invenção.

Com os vistos legais, cumpre apreciar e decidir : O presente recurso vem interposto a fl. 93 da sentença de fls. 87 e 88 v.°, que, negando provimento ao recurso, alegado pelo apelante, do despacho do Ex.mo Director- -Geral do Comércio que concedera a patente de invenção n.° 48 324 à apelada, Sociedade Rúbia, L.da, confirmou esse despacho.

O apelante, na sua minuta, formulou as seguintes conclusões:

Não pode manter-se a sentença recorrida porquanto deixou de conhecer de questões que lhe cumpria apreciar e rejeitou indevidamente o recurso contra a concessão da patente n.° 48 324.

Com efeito:

a) De todas as questões suscitadas nas sete alíneas das conclusões da alegação de fls. 9 v.° e 10, sobre as quais devia pronunciar-se (Código de Processo Civil, artigos 660.°, n.° 2, e 690.°, n.° 1), aquela sentença apenas conheceu de uma - a invocada antecipação da patente n.° 48 324, pelo anterior modelo de utilidade n.° 4609 (ex-n.os 2042 e 3024), pelo que deve ser declarada nula [Código de Processo Civil, artigo 668.°, n.° 1, alínea d), primeira parte];

b) A patente de invenção cujo objecto carece de novidade, isto é, que foi procedentemente divulgado nos termos do § 1.° do artigo 10.° do Código da Propriedade Industrial, deve ser recusada em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 22.°, com referência ao n.° 7 do artigo 5.° do mesmo Código;

c) Afere-se a novidade em função da ideia fundamental que informa a patente ou essência do seu objecto, sendo para tanto irrelevantes as modalidades de execução, pormenores ou detalhes, que não são essenciais, como decorre do disposto no artigo 215.° do Código da Propriedade Industrial;

d) Na patente n.° 48 324 a ideia fundamental ou essência apresentada como característica do invento nas respectivas reivindicações, donde deve constar o que é novo, nos termos do n.° 3 do artigo 14.° do Código da Propriedade Industrial, consiste na separação do invó- lucro ou revestimento em duas partes, uma que se ajusta à parte superior do recipiente ou garrafão e a outra à parte inferior e que se interligam para permitir a mon- tagem do mesmo recipiente e a correspondente des- montagem ou separação;

e) Esta concepção já havia sido reivindicada no anterior modelo de utilidade n. 4609 (ex-n.os 2042 e 3204), que a criou para o revestimento de garrafões, e, subsequentemente, foi para o mesmo efeito divulgada, antes da patente n.° 48 324, pela patente n.° 39 851, pelo modelo de utilidade n.° 3047, pelo pedido de patente n.° 40376 e pela patente n.° 41209;

f) Tendo sido a concepção referida criada e protegida pelo modelo de utilidade n.° 4609 (ex-n.os 2042 e 3204), por isso mesmo a patente n.° 3981 só foi concedida com eliminação das reivindicações que caracterizam o invó- lucro pela separação em partes interligáveis; o modelo de utilidade n.° 3047 e a patente n.° 40 376 foram re- cusados e a concessão da patente n.° 41 209 foi feita com a reserva expressa de que a protecção não incluía a técnica de divisão do revestimento em partes;

g) As modalidades de execução, pormenores ou detalhes constantes das reivindicações da patente n.° 48 324, além de não deverem ser considerados para efeito de novidade, não permitem a concessão de pa-

tente com fundamento em aplicação nova de processo conhecido, prevista na alínea b) do artigo 4.°, ou em alteração de forma ou materiais, conforme o n.° 5 do artigo 5.°, ou ainda como aperfeiçoamento de invento anterior, contemplado na alínea c) daquele artigo 4.°, todos do Código da Propriedade Industrial;

h) Não há nela aplicação nova de processos conhe- cidos, pela razão simples de que aplica o processo de divisão do invólucro ou revestimento em partes, não para obter um novo resultado, mas para o mesmo resultado já previsto nos anteriores modelos, patentes e pedidos de patente citados na alínea e) supra, isto é, para a montagem daquele invólucro no recipiente ou garrafão e sua desmontagem;

i) Como esse resultado é o mesmo, também a alteração de forma ou de material (além de já ter sido divulgada a utilização de matéria plástica para o efeito pelos anteriores pedidos de patente n.os 39 851, 40 376 e 41 209) não justifica a concessão de patente ao abrigo do n.° 5 do artigo 5.°, pois este, para tanto, exige um novo resultado;

j) A patente n.° 48 324 não pode, enfim, ser conside- rada de aperfeiçoamento de invento anterior, visto que ela, em vez de se limitar a reivindicar os pretensos melhoramentos, ou aperfeiçoamentos, reivindica como sendo características do seu objecto o próprio invento anterior, protegido pelo modelo n.° 4609 (ex-n.os 2042 e 3204), apropriando-se assim ilegalmente desse invento e reivindicando o que não é novo;

k) Para além de estar antecipada na sua essência ou ideia fundamental pelo modelo de utilidade n.° 4609 (ex-n.os 2042 e 3204) e demais pedidos e patentes já citados, a patente n.° 48 324 nem mesmo quanto às modalidades de execução, pormenores ou detalhes reivindicados merece de resto ser concedida;

l) Sob este aspecto, a matéria da reivindicação 1.ª en- contra-se antecipada pelos anteriores pedidos de pa- tente n.os 39 851, 40 376 e 41 209 e é destituída de ideia inventiva, a da reivindicação 2.ª pelos modelos n.os 4609 (ex-n.os 2042 e 3204) e 3047, pelo pedido de patente n.° 40 376 e pela patente n.° 41 209, e a da reivindicação 3.ª pela patente n.° 39 851 e pelo pedido de patente n.° 40 376; a matéria da reivindicação 4.ª refere-se a um simples pormenor de configuração sem indicação do resultado a que visa, que não pode assim ser objecto de patente, como decorre do n.° 5 do artigo 5.°, combi- nado com o n.° 3 do artigo 14.° do Código da Proprie- dade Industrial; a da reivindicação 5.ª não contém ideia inventiva e utiliza um meio de conhecimento geral, e a da reivindicação 6.ª é uma síntese que nada acrescenta à das anteriores, que não merecem protecção, como se viu, e por isso também não pode ser protegida; m) A sentença recorrida, decidindo como decidiu, não apurou correctamente os factos e violou as dispo- sições legais acima citadas.

Assim, e invocando ainda o douto suprimento, espera o recorrente que seja concedido provimento ao presente recurso e declarada nula e revogada a sentença recor- rida, para todos os efeitos legais, designadamente para ser ordenada a recusa da patente n.° 48 324.

Parece-nos que o apelante - ressalvado o merecido respeito pela opinião em contrário - tem razão.

Verifica-se a apontada nulidade da sentença. Na verdade, de todas as questões suscitadas nas sete alíneas das conclusões da alegação de fls. 9 v.° e 10, a sentença recorrida apenas conheceu de uma - a

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invocada antecipação da patente n.° 48 324 pelo an- terior modelo de utilidade n.° 4609 (ex-n.os 2042 e 3024).

Ora, nos termos dos artigos 660.°, n.° 2, e 690.°, n.° l, do Código de Processo Civil, a sentença recorrida devia pronunciar-se sobre todas as sete referidas alíneas. Assim, é nula a sentença recorrida, nos termos do artigo 668.°, n.° l, alínea d), primeira parte, do citado Código.

Sendo nula a sentença recorrida, temos de conhecer do fundo da questão, de harmonia com o disposto no artigo 715.° do Código de Processo Civil.

É o que passamos a fazer.

Diz o n.° 1.° do artigo 22.° do Código da Propriedade Industrial que a patente seria recusada se o seu objecto se incluir em alguns dos números do artigo 5.° O n.° 7.° deste artigo dispõe que não podem ser objecto de patente as invenções carecidas de novidade.

E o artigo 10.°, § 1.°, do Código citado estabelece que «não se considera nova a invenção que, dentro ou fora do País, já foi objecto de patente anterior, embora nula ou caduca, a que tenha sido descrita em publicações de modo a poder ser conhecida a explorada por peritos na especialidade e a utilizada de modo notório ou por qualquer forma saída do domínio público».

Além disso, o artigo 215.° do mencionado Código pune quem obtiver patente de invenção que não difira essencialmente de outra anterior, esclarecendo assim que a novidade se afere em função da essência mesmo da patente, e não pormenores, detalhes ou modalidades de execução; e é havida como nula nos termos do n. 3.° do artigo 32.° do citado Código por pretensão de direitos de terceiros fundados em prioridade ou outro título legal.

Quer dizer: Todo o pedido de patente de invenção que não difira essencialmente de inventos já concedidos ou do que tenha sido publicado e utilizado, embora contenha algumas diferenças de pormenores, carece de novidade.

Afigura-se-nos que as reivindicações da patente n.° 48 324 da apelada não contêm nada que seja sus- ceptível de patente de invenção.

Tais reivindicações constam não só do documento da descrição e dos desenhos do pretenso invento.

Na verdade, o apelante, na sua alegação em 1.ª ins- tância, impugnou a concessão da patente n.° 48 324, cujo desenho se encontra a fl. 80 do processo prin- cipal e a fl. 39 do apenso, com os fundamentos que constam das sete conclusões, a fls. 9 v.° e 10, onde invocou, além do mais, que aquela patente fora antecipada não só pelo modelo n.° 4609 (anteriores n.°S 2042 e 3204), de que ele possui licença de explo- ração pelos pedidos de patente n.° 39 851, de modelo n.° 2047 e de patentes n.°S 40376 e 41209.

As reivindicações da patente n.° 48 324 esclarecidas pelos desenhos atrás referidos mostram que a patente tem por objecto o invólucro para recipientes e processo para o seu fabrico que, nos termos da reivindicação 1.ª, é «caracterizado por ser obtido a partir de uma peça única»; conforme a reivindicação 2.ª, é também «ca- racterizado por ser seccionado segundo um plano trans- versal ao eixo longitudinal», formando, portanto, duas partes; e, de harmonia com as reivindicações 3.ª e 6.ª, «caracterizado ainda pelo subsequente 'encaixe', uma na outra daquelas duas partes resultantes do secciona- mento».

Portanto, a ideia fundamental, ou a essência do objecto da patente n.° 48 324, consiste em um invólucro que, fabricado a partir de uma peça única, vem a dividir- -se e a ser constituído por duas partes, as quais depois se encaixam uma na outra, ligando-se entre si (é isto, como se vê da reivindicação 6.ª), para permitir a mon- tagem e desmontagem do invólucro no recipiente envolvido.

Pois bem, aquela ideia fundamental de constituir o invólucro em duas partes que se separam e depois se unem uma à outra para permitir a montagem, e, conse- quentemente, a desmontagem, no recipiente, que a patente n.° 48 324 inclui nas suas reivindicações como características do invento e, portanto, como novidade, é, salvo o devido respeito, a mesma que informava e se divulgara já no anterior modelo de utilidade n.° 4609 (anteriores n.os 2042 e 3204), de que o apelante é con- cessionário da licença de exploração.

Com efeito, deste modelo de utilidade, depositado em 27 de Dezembro de 1957, portanto muito antes do pedido da patente, conforme se vê a fl. 15 v.°:

Garrafão de vidro, empalhado, para o transporte de líquidos, cuja novidade e utilidade consistem em o recipiente de vidro que forma o garrafão ser constituído por uma parte inferior com uma forma cilíndrica, com a base chata, e por uma parte superior com a forma troncocónica, encimada pelo gargalo, a qual é constituída por uma superfície curva muito esbatida, sendo o conjunto protegido por um empalhamento de verga feito em duas partes: uma cilíndrica inferior, destinada a pro- teger a parte inferior cilíndrica do garrafão, e uma superior troncocónica, destinada a proteger a parte troncocónica do mesmo, sendo as duas partes ligadas uma à outra por meio de presilhas com covilha, em se poder separar o garrafão do seu empalhamento e de o líquido de limpeza, introdu- zido sob pressão pelo gargalo, devido à superfície curva esbatida da parte superior cónica, não en- contrar quaisquer obstáculos, o que dá lugar a fazer-se uma lavagem ou desinfecção perfeita. Neste modelo de utilidade, cerca de dez anos antes da patente n.° 48 324, está o invólucro fabricado de modo a constituir duas partes, uma que se ajusta à parte superior do garrafão, a outra à parte inferior, e que se ligam entre si para se poder ligar, digamos, o recipiente com o invólucro e também separar este daquele.

Esta ideia inventiva fundamental encontra-se na transcrição atrás referida, claramente reivindicada como uma das características do modelo referido.

O verdadeiro progresso técnico por ele alcançado consiste exactamente em conceber o invólucro separado em duas partes para o efeito da montagem no recipiente e respectiva desmontagem.

Sendo assim, a ideia fundamental do modelo n.° 4609 (anteriores n.°S 2042 e 3204) não podia ser incluída nas reivindicações de qualquer outro modelo ou patente superior, pois seria então destituída de novidade (ar- tigo 14.°, n.° 3, combinado com o artigo 10.° do Código da Propriedade Industrial.

Após o modelo n.° 4609 (anteriores n.os 2042 e 3204) não foi concedido privilégio para invólucros separados em duas partes a únicos, subsequentemente, até à concessão da impugnada patente n.° 48 324 da Socie- dade apelada.

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Esta pediu, em 19 de Julho de 1963, a patente n.° 41 209, para processo de revestimento de recipiente de vidro com invólucro de matéria plástica, em que se reportava ao invólucro dividido em duas partes, como se vê a fls. 22 v. ° e 23, e o Sr. Director-Geral do Comércio só a concedeu com a reserva expressa de que a protecção se refere apenas ao processo reivindicado e não inclui a técnica de divisão do revestimento em partes, como se mostra de fl. 24 a fl. 26.

O mesmo sucedeu com os pedidos de patentes n.os 38 851, 3047 e 40 376, como se mostra a fls. 27, 31 e 33, respectivamente.

É, pois, manifesto que a patente n.° 48 324, da ape- lada, cujo objecto consiste essencialmente, como carac- terizado através das suas reivindicações, na divisão do invólucro em partes, carece de novidade, visto essa concepção se achar divulgada há muito pelo modelo n.° 4609 (anteriores n.os 2042 e 3204).

A apelada sustenta que a patente n.° 48 324 não reivindica o invólucro construído a partir de uma força única dividida ou separada em partes que depois se interligam, mas que lhe faz referência para boa inteli- gência do processo.

Mas, salvo o devido respeito, não é assim.

Com efeito, da 1.ª reivindicação consta expressamente: Invólucro para recipientes e processo para o seu fabrico, caracterizado por ser obtido a partir de uma peça única.

E da 2. reivindicação:

Invólucro para recipientes e processo para o seu fabrico, como reivindicado em 1, caracterizado por o invólucro ser seccionado segundo um plano transversal ao eixo longitudinal.

E da 6.ª reivindicação:

Invólucro para recipientes como reivindicado de 1 a 5, caracterizado pelo facto de permitir a mon- tagem e desmontagem do recipiente [...] devido ao encaixe entre si das duas partes.

Portanto, parece não sofrer dúvida que nas reivindi- cações da patente n.° 48 324, da apelada, está não só a constituição e fabrico do invólucro mediante a divisão em duas partes, que posteriormente se interligam, mas ainda declarado nelas expressamento como caracte- rística do invólucro e processo que é objecto da patente. Na sentença recorrida procura-se fundamentar a concessão da patente n.° 48 324 como «aplicação nova de processo conhecido» ao abrigo da alínea b) do artigo 4.° e do n.° 5 do artigo 5.°», ou como «aper- feiçoamento do invento anterior» à sombra da alínea c) daquele artigo 4.° do Código da Propriedade Industrial. No caso em apreço, salvo todo o respeito pela douta opinião do M. mo Juiz a quo, não se verifica «aplicação nova do processo conhecido», porque, se é certo que o processo de dividir o revestimento ou invólucro em partes a reunir subsequentemente é conhecido desde o modelo de utilidade n.° 4609 (anteriores n.os 2042 e 3204), não é menos certo que na patente n.° 48 324 não há uma aplicação nova desse processo.

Tal processo repete-se no anteriormente aplicado, conforme o modelo citado n.° 4609, mas também com as reivindicações das patentes n.os 39 851, 40 376 e 41 209 e do modelo n.° 3047.

Não existe, pois, aqui uma aplicação nova de «pro- cesso conhecido», mas sim a mesma aplicação que já havia sido prevista e divulgada muitos anos antes.

Não se verifica também «aperfeiçoamento do invento anterior» na patente n.° 48 324, visto esta patente, em vez de se limitar a reivindicar os pretensos aperfei- çoamentos ou melhoramentos, reivindicar como sendo características do seu objecto o próprio invento anterior. O Código da Propriedade Industrial, embora preveja na alínea c) do artigo 4.° a patente de aperfeiçoamento de outra anterior, não permite reivindicar o que carece de novidade, conforme o disposto no artigo 5.°, n.° 7, e artigo 14. °, n.° 3, nem habilita a titular de patente mais moderna ou de aperfeiçoamento a utilizar a patente mais antiga ou aperfeiçoada sem licença do titular destes, como resulta do § 2.° do artigo 3.°

Deste modo, a patente n.° 48 324, reivindicando o próprio invento anterior, protegido pelo modelo de utilidade n.° 4609, não pode ser considerada como mera patente de aperfeiçoamento ou melhoramento, pois se assim fosse passaria a abranger o invento n.° 4609, prejudicando os direitos decorrentes deste.

O Ex.mo Procurador da República, no seu douto parecer, escreveu:

As reivindicações da patente n.° 48 324 da ape- lada não contêm nada que seja susceptível de patente de invenção.

Como bem se demonstra na alegação, tudo o que nelas é reivindicado como novo não passa de simples variantes de execução de técnicas aplicadas ao revesti- mento de garrafões, não havendo nelas ideia inventiva, isto é, algo que não seja o desenvolvimento natural e lógico do já conhecido ao alcance de qualquer perito de tipo médio. E, como ensinam os autores, «os inte- resses que as leis sobre patentes visam proteger impõem que só seja considerado como invenção a criação que não pudesse ser obtida como consequência normal e lógica dos conhecimentos ou do estado da técnica em determinado objecto da invenção» (Dr. Américo da Silva Carvalho, p. 13).

Mais e melhor não se podia dizer depois de uma leitura atenta das reivindicações da patente n.° 48 324, constantes não só do documento de fl. 39, como do processo apenso - nesta acompanhadas da descrição e dos desenhos do pretenso invento, e, ainda, da foto- cópia dos pedidos (reivindicações) e descrição anexa a cada um, relativamente aos pedidos de patente a que se reportam os pareceres de fls. 24 e 27, junta a fls. 144 e seguintes.

Nesta conformidade, acordam os juízes desta Relação em dar provimento ao recurso e, em consequência, declarar nula e revogada a sentença recorrida, e bem assim o despacho do Sr. Director-Geral do Comércio, recusando a patente.

Custas pela sociedade recorrida - Sociedade Rúbia, L.da

Lisboa, 30 de Janeiro de 1973. - Bernardo Perloiro - Pinheiro Farinha - Azevedo Pereira.

Está conforme.

Lisboa, 3 de Fevereiro de 1973. O Escrivão da Sec- ção (Ilegível).

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Processo n.° 64 664.

Autos de revista vindos da Relação de Lisboa, em que são recorrente a Sociedade Rúbia, L.da, e recorridos Artur de Barros e a Direcção-Geral do Comércio, representada pelo Ministério Público.

Acordam, em conferência, os do Supremo Tribunal de Justiça;

Desde 1957 que Artur Neto de Barros, da Marinha Grande, tem o direito de propriedade do depósito de modelo de utilidade designado pela epígrafe «Garra- fão de vidro, empalhado, para o transporte de líquidos, cuja novidade e utilidade consistem em o recipiente de vidro que forma o garrafão ser constituído por uma parte inferior com a forma cilíndrica, com a base chata, e por uma parte superior com a forma troncocónica, encimada pelo gargalo, a qual é constituída por uma superfície curva muito esbatida, sendo o conjunto protegido por um empalhamento de verga feito em duas partes: uma cilíndrica inferior, destinada a proteger a parte inferior cilíndrica do garrafão, e uma superior troncocónica, destinada a proteger a parte troncocónica do mesmo, sendo as duas partes ligadas uma à outra por meio de presilhas com cavilha; em se poder separar o garrafão do seu empalhamento e de o líquido de limpeza, introduzido sob pressão pelo gargalo, devido à superfície curva esbatida da parte superior cónica não encontrar quaisquer obstáculos, o que dá lugar a fazer-se uma lavagem ou desinfecção perfeita.

Sucedeu que a Sociedade Rúbia, L.da, com sede em Queluz, obteve, por despacho de 9 de Setembro de 1970, do Sr. Director-Geral do Comércio, a concessão de uma patente de invenção sob o n.° 48 324 para revestimento de recipientes de vidro de matéria plástica, em que o revestimento está dividido em duas partes, o que permite a separação do recipiente de vidro do seu invólucro. Desse despacho recorreu o Artur Neto de Barros para o 8.° Juízo Cível de Lisboa, onde o recurso não mereceu provimento.

E m apelação, no acordão de fis.... ficou revogada a sentença da 1.ª instância e, bem assim, o dito despacho do Sr. Director-Geral do Comércio, e ficou revogada a patente de invenção por este concedida.

É desta decisão que vem interposto o presente recurso de revista, de que cumpre conhecer.

E conhecendo:

Vem provada a seguinte matéria de facto :

A patente concedida tem por objecto o invólucro para recipientes e processo para o seu fabrico e, segundo a 1.ª reivindicação, é caracterizada por ser obtida a partir de uma peça única; conforme a reivindicação é também caracterizada por ser «seccionado segundo um plano transversal ao eixo longitudinal, formando, portanto, duas partes; e, de harmonia com a 3.ª e 6.ª re- vindicações, caracterizada ainda pelo subsquente en- caixe uma na outra daquelas duas partes, resultante do seccionamento.

A ideia fundamental, ou essência do objecto da pa- tente n.° 48 324, consiste em um invólucro pré-fabricado a partir de uma peça única, que vem a dividir-se e a ser constituído por duas partes, as quais depois se encaixam uma na outra ligando-se entre si, e isto como se vê da 6.ª reivindicação, para permitir a montagem e desmon- tagem do invólucro no recipiente envolvido.

Desta matéria de facto mostra-se que aquilo que a recorrente reivindicou como caracterizando o seu in-

vento, e por que lhe foi concedida a patente em causa, foi a ideia de esse invólucro dos recipientes ser cons- tituído por duas partes que se separam ou se fixam uma à outra, de modo a facilmente se cobrirem e desnudarem os mesmos recipientes, e para os efeitos que forem necessários.

É desta matéria de facto que tem de partir-se para decidir este recurso de revista, dado o disposto no artigos 721.°, 722.° e 729.° do Código de Processo Civil. E pode afirmar-se que esta interpretação dada, em matéria de facto, acerca daquilo em que se centrava, segundo a ré, na acção, a novidade da patente de invenção que requereu tem u m mínimo de correspon- dência no que consta do pedido dessa patente e das suas reivindicações.

Na segunda diz-se que o invento é caracterizado por o invólucro ser seccionado segundo um plano transversal ao eixo horizontal.

E na 6. q u e é caracterizado pelo facto de permitir uma fácil montagem e desmontagem no recipiente, constituindo um invólucro único, homogéneo, perfei- tamente adaptado devido ao encaixe entre si das duas partes e à fixação do invólucro ao gargalo do recipiente. Não infringiu como a 2.ª instância no julgamento de facto que formulou o disposto no artigo 238.° do Código Civil.

Perante tais factos e o disposto no artigo 4.° e n.° 7 do artigo 5.° do Código da Propriedade Industrial, há que manter a decisão da 2. instância.

Se a ideia nova, que centrou ou foi o fulcro do pedido da patente da invenção em causa, foi a da divisão de os invólucros dos recipientes de vidro serem constituídos por duas partes que uma à outra se ajustavam de modo a poderem ser facilmente separados, em ordem a consentir o revestimento dos mesmos recipientes e a sua separação dos respectivos invólucros sempre que se queira - e se essa ideia de revestir os recipinetes de vidro (no caso garrafões) com invólucros divididos em duas partes que se separam, desnudando e cobrindo os mesmos recipientes, está estadeada e é evidente no modelo de utilidade registado na Repartição da Pro- priedade Industrial a favor da recorrida, como vem provado também, não se vê onde esteja a ideia inven- tiva.

Ao património industrial conhecido nada o invento da recorrente podia acrescentar, apenas da circunstância de o modelo registado a favor da autora da acção se referir a empalhamento e a patente requerida pela ré se referir a material plástico, isto dado o disposto no n.° 5 do artigo 5.° do mesmo Código.

A invenção da ré carece, pois, de novidade. Se bem entendemos as alegações da recorrrente, esta insurge-se contra o acórdão recorrido, opinando que a patente deve ser concedida e portanto anulado o acórdão recorrido.

E isto com o fundamento de que a sua invenção constitui pura aplicação nova de meios e processos conhecidos, com que obteve u m resultado prático industrial, e por constituir também um aperfeiçoamento do que já se conhecia, e que, portanto, a sua invenção está ao abrigo do disposto nas alíneas b) e c) do artigo 4.° do Código da Propriedade Industrial.

Mas não indica em que consistiu essa aplicação nova nem esse aperfeiçoamento.

E em matéria de facto nada vem, pois, referido acerca do que possa revelar essas tais aplicações novas ou melhoramentos ou aperfeiçoamentos do que já existia conhecido e patenteado, e que não fosse o desenvolvi-

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mento natural e lógico de uma técnica de revestir garrafões em recipientes de vidro ao alcance de qualquer perito médio nessa arte.

Pelo exposto, é negada a revista, com custas pela ré. Lisboa, 20 de Novembro de 1973. - Eduardo Cor- reia Guedes - Adriano de Campos de Carvalho. - Eduardo Arala Chaves.

Referências

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