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A GUERRA E AS ATIVIDADES MILITARES NA REGRA DA ORDEM DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS

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doi: 10.4025/10jeam.ppeuem.03039

A GUERRA E AS ATIVIDADES MILITARES NA REGRA DA

ORDEM DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS

MORETTI JUNIOR, Augusto João (UEM) REIS, Jaime Estevão dos (DHI/UEM)

Em 1120, alguns cavaleiros que haviam participado da tomada de Jerusalém fizeram os votos monásticos de pobreza, obediência e castidade. Apresentaram ao patriarca de Jerusalém que lhes incumbiu a missão de defender os peregrinos que viajavam até a Terra Santa. Era o início da Ordem Militar dos Cavaleiros do Templo, ou Templários, como ficou conhecida.

Destarte a criação da Ordem do Templo, uma nova figura se formou no ambiente medieval, a do monge-cavaleiro. Esses cavaleiros dedicados a cuidar da segurança dos peregrinos eram considerados monges, porém, não levavam uma vida contemplativa nos mosteiros, mas, monges que atuavam na sociedade, principalmente com a função de defender os cristãos contra os seus maiores inimigos. Eram submissos à Igreja, porém, essa submissão se devia somente à pessoa do papa, já que formavam uma instituição independente do alto clero medieval, com exceção do sumo pontífice. Junto a essa condição de monge, eram também cavaleiros que lutavam contra os muçulmanos, com o objetivo de livrar a Terra Santa desses seguidores do “falso profeta”.

Munidos dessa dupla missão, São Bernardo esclarece a dupla jornada dos Templários: “porque lutam sem descanso combatendo de uma só vez uma dupla frente: contra os homens de carne e osso, e contra as forças espirituais do mal” (SÃO BERNARDO, 2005, p.40).

Entretanto, o futuro definitivo da Ordem do Templo só foi definido com a elaboração de uma Regra. No ano de 1129, Hugo de Payns se apresentou ao Concílio de Troyes com um esboço de uma Regra, escrito por ele, o primeiro mestre da ordem, e o

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Essa primeira elaboração da Regra ficou conhecida como Regra Primitiva. Após a morte de Hugo de Payns, no ano de 1136, Roberto de Craon assume como mestre da Ordem, e fez com que a Regra fosse traduzida para o francês. Após essa tradução não houve mais nenhuma mudança no corpo do texto, o que ocorreu foi somente algumas complementações a Regra, os chamados retrais, que formam os Estatutos Hierárquicos da Ordem. Esses novos artigos complementares foram escritos no período de 1156 a 1169, época na qual estava como mestre da ordem Beltrán de Blanquefort, um momento em que as atividades dos templários estavam totalmente voltadas para a área militar, consequentemente, os Estatutos Hierárquicos são marcados fortemente por características militares, um resultado da classe guerreira do Templo (PERNOUD, s.d., p.130).

A partir da análise dos Estatutos hierárquicos é possível detectar e estudar a corporação militar do Templo. Como toda instituição, os templários também possuíam a sua hierarquia, porém com características fortemente militares. Uma hierarquia planejada para que cada irmão cumprisse tarefas que beneficiassem a Ordem, organizando-a e a deixando preparada para os combates.

O Mestre da ordem ocupava o lugar mais alto da hierarquia, todavia, quando se tratava da tomada de decisões importantes, como declarações de guerra e estabelecimento de tréguas, efetivação de grandes empréstimos, estas só poderiam ser tomadas com a ajuda do Concílio, no qual, os irmãos mais experientes da Ordem participavam. “Em todas as questões debatidas junto ao Conselho do convento, o mestre deveria ouvir a opinião dos irmãos e optar por aquelas decisões em que ele e a maioria dos irmãos estivessem de acordo” (REGRA, 2004, Art. 97, p.60).

Antes de prosseguir com a descrição da hierarquia do Templo que formava a corporação militar, é preciso que saibamos que toda a organização feita pelos irmãos templários, tinha como objetivo as lutas armadas nas Cruzadas do Oriente. Por exemplo, as pequenas propriedades em outros estados e províncias abastados do Oriente, tinham como objetivo produzir bens de consumo que possam ser, ou enviados diretamente para o uso dos irmãos nas Cruzadas, ou trocados na região, para que assim possam ser enviados outros produtos para os Cruzados Templários.

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Assim, toda a hierarquia do Templo buscava ajudar os Cavaleiros de Cristo na Guerra Santa. Sendo assim, o cargo subsequente ao do mestre se realizava na pessoa do Senescal, que tinha como função, a organização econômico-administrativo da Ordem, cuidando das casas, terras e alimento dos irmãos. Porém o cargo de Senescal foi anexado ao cargo do Marechal no século XII, tornando-se o Marechal um dos irmãos mais importantes da Ordem.

O Marechal é o irmão responsável por comandar as guerras, ou seja, é ele que toma frente nas batalhas, em um campo de confronto é a ele que todos os irmãos devem obedecer às ordens (REGRA, 2004 Art. 103, p.62). Pois é o Marechal que possui a experiência necessária para organização de uma investida de sucesso. Ele também é o responsável por cuidar das armas, tanto ocidentais como turcas, e todos os outros aparatos militares. (DEMURGER, 2007, p.153 a154). Sendo assim, o Marechal é um cargo que expressa ao máximo à corporação militar do Templo.

A Regra prossegue seus artigos descrevendo as funções dos outros irmãos. Cargos como o Comandante de terras e do Reino de Jerusalém responsáveis pela tesouraria dos conventos. O comandante da cidade de Jerusalém tinha como função prosseguir com a missão original dos templários a de cuidar dos peregrinos que viajavam pelo vale do Jordão.

A Regra continua a analisar e descrever as tarefas de cada irmão, passando pelos irmãos que comandavam as terras de Trípoli e Antioquia, o irmão comandante de cavaleiro que agia como uma espécie de oficial em casos de batalhas, os cavaleiros que ocupavam a base fundamental militar do Templo, e os sargentos, irmãos que decidiam adentrar a Ordem do Templo, só que não podiam se tornar cavaleiros, desta forma, esses irmãos se diferenciavam dos cavaleiros através das vestimentas e dos armamentos, podendo ser esses irmãos de armas ou não.

O estudo sobre as atividades militares tem sido desenvolvido ao longo dos anos por famosos autores que se interessaram em poder entender como as práticas de guerra têm a sua hereditariedade latina, ou seja, com as fortes influências das táticas de guerras romanas. Um forte nome romano presente nos manuais de guerra medievais é o de Flavio

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momento histórico, assim como a localidade e os inimigos enfrentados pelos templários são diferentes dos que os romanos enfrentaram. Devido a isso a necessidade dos cavaleiros do Templo, assim como todos os outros cruzados, de adaptação à espécie de combate desenvolvida pelos seus inimigos muçulmanos.

Esses tipos de adaptações são encontrados na própria Regra do Templo, como uma Ordem militar, o momento ápice dos irmãos é a batalha, a guerra. A Regra não é diferente, em alguns momentos fala sobre como os irmãos deviam se portar na devida situação. E como a Ordem está direcionada para a guerra, a Regra em alguns poucos artigos muda a estrutura do artigo para poder se adaptar a guerra. O artigo 78, fala sobre os pertences do mestre, um deles são as montarias de carga, em tempos de paz o mestre pode levar consigo duas bestas de carga, porém em tempo de guerra lhe é permitido levar consigo quatro bestas de carga. Quando estavam em tempo de paz a ração dos cavalos do mestre ganhavam uma porção de ração maior que a dos outro irmãos, porém, segundo o artigo 79, os irmãos que vão para a guerra recebem provisões iguais, e não deveriam ser incrementadas ou diminuídas sem a ordem de um capitulo. O artigo 103 declara que enquanto os irmãos estão em período de guerra baixo as armas, todos os irmãos cavaleiros e sargentos estão baixo o comando do marechal, já em tempo de paz a submissão é feita ao mestre.

Alguns artigos especificam que as ordens não mudam mesmo em tempo de guerra ou de paz, como os baillies de uma casa, na qual, os habitantes que ali vivem estão sobre seu comando independente da situação, ou o artigo 137, que define que o comandante de cavaleiros está sob o comando do comandante das terras, tanto em tempo de guerra ou de paz. Porém em outras situações o artigo descreve que em tempo de guerra as regras mudam como o artigo 145, quando os irmãos estavam comendo a mesa, não poderia se levantar sem a permissão, a não sem em caso de alarme, fogo, ou para evitar danos a casa. Assim como as roupas dos Templários que além de serem humildes e não poderem ser ornamentadas com luxo, era necessário que vestissem roupas simples e que fossem fáceis de vestir, para que em qualquer sinal de alarme de um ataque pudessem se vestir rapidamente e ficarem prontos para a batalha. Outro artigo que determina uma modificação em tempo de armas, ou seja, de batalha, é o 171, na qual, o Turcoplier em período de guerra comanda todos os irmãos sargentos, porém em tempo de paz não estão. Outros

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artigos se preocupam com parte militar na guerra, porém esses artigos foram trabalhados, em tópicos já apresentados nesse trabalho, como o acampamento marcha e campanha. Ou seja, trocas importantes são feitas em período de guerras. E foram essas também formas de adaptações criadas pelas Ordens para que pudessem alcançar algum êxito.

Assim, essas adaptações estão presentes no dia-a-dia dos irmãos do Templo, assim como, em varias atividades bélicas, das marchas até ao confronto direto com o inimigo. Desta forma, os templários necessitavam seguir a risca as regras impostas a eles pelos seus superiores e pela Regra do Templo para que assim pudessem obter um melhor resultado em cumprir seu principal objetivo de proteger a Terra Santa dos ataques muçulmanos.

REFERÊNCIAS

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