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Você vive há muito tempo aqui? Ah... mais ou menos uns dez anos.

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Academic year: 2021

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Você vive há muito tempo aqui? Ah... mais ou menos uns dez anos. Mas ce sempre esteve aqui? Sempre...

Não! Sempre estive. Porque apesar de eu não sê daqui, mas no caso minha família toda é. Né? Então, a gente foi morá em outra cidade porque minha mãe casô. Né? Com o meu pai, aí eu nasci lá, mas a minha família seno daqui sempre estive aqui, sempre visitei aqui, meu vô mora numa fazenda do município até hoje.

Qual é o nome da fazenda? NP. Fazenda NP.

E seus pais são daqui? No caso seu pai só?

Minha mãe. Minha mãe que é daqui, no caso ela nasceu aqui, sempre viveu aqui, só depois que ela casô que aí que ela foi morá em Guaranésia, mas... assim nunca se afasto do lugar. E... cê tem irmão, NP?

Tenho, tenho, tenho três, tenho duas. Duas irmãs?

Tenho duas do primeiro casamento e do segundo casamento eu tenho uma. Qual é o nome delas?

NP, NP e do segundo casamento, NP. É... qual a profissão dos seus pais?

Minha mãe era dona de casa e meu pai é lavrador. É... e como é que é sua profissão? Cê estuda? Uai, eu sou vendedora e curso Faculdade de História. Cê faz História?

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E... como é que foi a sua infância?

Ah... a minha infância assim, até um certo ponto assim, eu achei que foi muito boa. Até uma faxa de sete pra oito anos, quer dizer, até uns seis anos mais ou menos. Depois aí eu achei já aí minha mãe fico doente, já começo conturbá um poquinho. Né? Que aí eu já perdí ela. Né? Ficô só a gente com o meu pai, aí já ficô mais difícil. Né? No caso.

E... quais eram os seus brinquedos?

Uai, eu tinha bonecas, num tinha muitas não, tinha pocas. Nunca tive bicicleta, morria de vontade de tê. Mas eu nunca tive, tanto é que eu nem sei andá. Mas assim, mais que eu tinha era boneca, minha madrinha me dava muita boneca. Sabe? Eu tinha, eu sempre tive muito cuidado com as minhas coisa. Tanto é que eu tenho uma irmã que é diferença de seis anos, quando ela nasceu assim, meus brinquedo eu passei pra ela. Porque eu tinha muito cuidado, então tava praticamente novo, aí eu já tava. Né? Quer dizer eu tinha seis anos, mas tipo assim, eu já passei pra ela brincá, eu já num dava muita importância.

E... onde que você brincava?

Ah... a casa onde a gente morava tinha um quintal enorme, e assim, eu costumava brincá no quintal mês, tinha muita árvore, muita sombra. Sabe? Então eu brincava no quintal.

E... cê tem alguma história da sua infância que cê quer contá? Pode ser qualquer história.

Ah... eu num sei se é porque eu perdi minha mãe muito cedo, mas uma coisa que sempre me marcô, que eu lembro assim: que quando eu era a caçula, quando num tinha a minha irmã ainda, então eu num tinha, porque a minha outra irmã ia pra escola à tarde, e aí ela assim, e a gente nunca combino muito, eu com a minha irmã mais velha. Aí, a minha mãe que brincava comigo, inveis de sê a minha irmã, a minha mãe que brincava comigo. Eu nunca esqueci isso, eu sempre lembro disso, eu acho que eu nunca vô esquecê. Brincava de boneca, me ensinô a escrevê. Quando eu entrei na escola, eu já tinha sete anos, eu já sabia fazê a, e , i, o,u, porque minha mãe que brincava comigo, então ela me ensinô. Sei lá, foi uma coisa que marcô pra mim.

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È, eu fui com sete, porque no caso, eu fazia aniversário mais pro final do ano então, quando eu ia pra fazê seis, eu num pude entrá porque era só até quem faz no caso em maio eu acho. Eu faço em outubro, ai eu entrei um ano atrasada, aí eu entrei com sete.

Qual que é a data do seu aniversário? Vinte de outubro.

De que ano? De setenta e sete.

E a escola, cê freqüentou aqui na NP?

Quando eu fiz de primeira à quarta eu estudei : um ano eu fiz em Guaranésia, eu fiz o pré e uma parte da primeira série em Graranésia, depois eu fui estudá lá na fazenda que o meu vô mora, que é município de Arceburgo, tanto é que os professores que me deram aula era daqui. No caso era a NP, a NP, a NP do NP me deu aula, a NP tamém que dá aula de geografia hoje, foi minha professora. Ai depois eu voltei a estudá em Guaranésia de novo, ai eu terminei, fiz de segunda à quarta. Ai de quinta à oitava ao terceiro colegial eu fiz aqui.

Ai depois cê foi fazê faculdade?

Fui. Mas num sei, é uma coisa, num sei, eu acho que já, num sei, esse... assim a cidade assim pra mim, é um lugar especial, porque eu... eu nasci em Guaranésia mas eu num gosto de lá. Eu sempre gostei daqui!

Sempre esteve aqui?

Sempre. Eu sempre gostei daqui. Eu nunca gostei de lá. Tanto é que depois que eu vim definitivo pra cá... ( lá quando eu fiz a quarta série eu num quis estudá mais).

Eu só quis estudá depois que eu vim pra cá, mas lá eu num quis, eu num tinha despertado, assim, aquele interesse, aquela vontade. Entendeu? De estudá. Aí depois que eu vim pra cá não. Aí eu já quis entrá na escola, já fazê a quinta série, aí eu já comecei já a ficá mais interessada.

Cê acha que cê ficô mais enturmada aqui?

Fiquei, o pessoal daqui é assim... porque eu vô pra lá ainda. Né? Porque meu pai mora lá ainda. A gente... Assim a gente nota: o pessoal daqui é aquele pessoal assim mais amigo, a

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pessoa te pára na rua, conversa, cê fala oi pra um, pra outro, cê conhece todo mundo e todo mundo na rua te conhece. Entendeu? Sei lá, eu... aqui pra mim, eu acho que é o meu lugar, eu me identifico com sendo assim. Eu adoro aqui! Eu falo pras meninas, minhas amigas que foi embora:

– Se fosse pra mim í vivê numa cidade grande,eu não ia me acostumar. Cê não quer ir pra uma cidade maior?

Não. Eu gosto daqui, adoro a cidade.

E... como é que foi a sua escola? Tem alguma coisa que você acha que foi diferente de hoje no ensino pra você? Como é que foi?

Cê fala, depois que eu vim pra cá? Tanto faz.

Tanto faz? Eu acho que quando eu estudei assim, eu acho que naquela assim... sei lá a gente era muito... sei lá... hoje em dia, os adolescentes têm mais liberdade eu acho. Tem mais liberdade e agora assim, as leis de ensino tamém mudaram muito. É igual assim, hoje o aluno, ele num pode mais, ele num pode ser reprovado. Eu acho que isso muda muito! Antes não, a gente tinha mais empenho, porque a gente sabia que se ocê bobiasse, cê ia repití. Agora não, o aluno sabe que ele num pode sê reprovado. Então o quê que acontece? Talvez ele não tenha tanto interesse em se esforçar pra se sair bem, porque ele sabe que bem ou mal ele vai conseguí de um forma ou de outra, passá. Já antes não, já antes não, o aluno era mais esforçado, ele se empenhava mais. Eu acho. Porquê hoje o pessoal leva muito na brincadera. Eu acho.

Então cê acha que pioro?

De certa forma tem muita vantagem, mas de certa forma piorô sim porque... eu, eu tô fazendo faculdade de história, eu penso em dá aula, só que eu penso assim tamém ó: porque o curso que eu to fazeno, eu posso depois fazê um mestrado, eu posso fazê uma pós- graduação e fazê um mestrado e trabalha em outras áreas tamém. Num preciso só dá aula. Agora eu conheço gente assim, que dá aula aqui e reclama muito. Que não tem respeito na sala de aula, que o aluno desafia muito o professor. Entendeu? Põe à prova se o professor tem o controle da sala ou não. Entendeu? O aluno qué testá o professor, eu vejo muito isso hoje. E lá na faculdade eles trabalha muito isso com a gente, que a gente tem que tê um preparo psicológico muito

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grande porque a gente só vai adquirir mesmo a prática assim... tê um experiência na prática, porque lá assim... porque lá, lógico, tem a teoria, mas sê só vai sabê de verdade mesmo a hora que cê tiver lá na frente.

É. E cê fez o concurso agora?

Não num fiz, porque no caso por eu tá no primeiro ano, pra mim num ia contá nenhum ponto, num ia sê... no caso pra mim, concurso agora só vai tê mais vantagem do segundo ano em diante. Né? Segundo, terceiro ano. Então eu num interessei em fazê, eu fiquei mais empenhada em... lá mesmo na faculdade, me esforçar pra conseguí passa pro segundo ano. É... e cê lembra assim da sua adolescência, onde que eram os passeios, o quê que cê fazia? E hoje, o quê que cê faz? Onde é que cê vai?

Ah... aqui, pela cidade sê pequena talvez num tenha mudado tanta coisa. Né? Mas assim... eu lembro assim, eu comecei a sai assim já com uma idade... um poco tarde. Quando as menina já saia... eu inda não, eu era mais tranqüila, gostava mais de ficá em casa... com família, eu num sô muito de saí. Tanto é que eu comecei a me inturmá mais com o pessoal assim, saí, depois que eu comecei a trabalhá, porque eu comecei conhecê mais gente. Aí na escola tamém cê faz mais amizade e vai... aí uma pessoa te chama pá saí, aí cê trabalha, cê chama a pessoa pra frequentá a loja onde cê trabalha, aí cê já:

-Ah! vamo combiná de saí e tal.

Assim, quando eu passei a saí mesmo, eu já tinha dezessete já . Eu quase não saia de casa. E cê sai pra outras cidades?

Não. Não. É muito difícil, muito difícil. Eu fico mais aqui, vô nos barzinho. Né? Aí quando as menina vêm de São José a gente sai. Né? Porque a gente mora aqui, igual, as pessoas que vão embora, igual as minhas amiga, eu tenho muitas que foi, a gente fica com aquela saudade, naquela expectativa de esperá quando a pessoa vem. Né? Mas assim, í pá cidade fora assim... tanto é, é que cê num fica aqui, mas se ocê ficá aqui, mas se ocê ficasse cê ia vê: igual por exemplo, o pessoal de Mococa vem em peso pra cá, porque lá em Mococa, diz que tá uma violência terrível.

Ah é?

Tá! Demais da conta! E aqui como é uma cidade mais pacata, mais calma, cê pode vê: de domingo à tarde e de sábado à noite...

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Mas violência que jeito, assim?

Ah... boate, cê num pode freqüenta com segurança lá mais, danceteria. Sabe? Muita briga. Sabe? Sai tiro, garrafada.

É mesmo?

Esses dia eu fiquei sabeno que um cara é... tomó um tijolada no nariz. Levo ponto! Assim, treze pontos no rosto! Tava na rua... tava bêbado. Né? Num sei se ele mexeu, num sei como é que foi lá, o negócio. Eu não sei o que aconteceu que ele tomô uma tijolada no meio da rua, foi agredido, lá pra cima, já faz um tempinho já.

Meu Deus ! E... cê lembra se seu vô contava alguma coisa sobre a construção da igreja ou o calçamento das ruas, ou cê lembra alguma outra história que seu vô contava? Ah... assim uma coisa que eu lembro assim de vê meu vô falá, que meu vô já tem o quê, já tem mais de oitenta. Eu lembro de vê ele falá de um guerra que teve, eu acho que é aquela guerra que foi São Paulo e Minas, Café com Leite. Ele lembra de vê os soldados. Sabe? Porque aqui é divisa. Né? Do estado de Minas com São Paulo. Assim, mas só que eu num lembro de muitos detalhes assim de coisa. É que faz tempo que ele contô isso. Faz muito tempo, mas assim uma coisa que marcô pra mim. Assim, que eu sempre gostei de história. Sempre gostei! Uma coisa que marcô! E eu lembro de vê ele contá que ... que assim a situação ficô difícil. Né ? Porque começô a faltar muita coisa pro pessoal daqui. Né? Cê num podia andar nas ruas com segurança, tinha medo, tinha que ficar escondido. Ah... eu lembro de umas coisas assim. Agora assim de calçamento. Sabe? Eu lembro de vê algumas pessoas comentarem, da igreja, assim de Arceburgo, a formação. A Festa de São João! Ah... essas coisa. Da história de Arceburgo mesmo, muita coisa eu num sei.

Oh NP, e o carnaval? Cê lembra? Cê participou? Cê participa ainda? Como que é? Eu assim, eu gosto de pular carnaval. Eu num participei, mas eu lembro de vê o pessoal contá assim quando teve aquele bloco, o Funil, o Canecão. Tanto é que as menina participou, eu num tinha amizade com elas ainda. Mas eu lembro de vê assim, hoje, assim, todo ano a gente brinca. Né? Carnaval. Mas é tão simples assim, eu acho que aqui, o pessoal devia lutar pra, tipo assim, ter um bloco, nem que fosse um. Eu acho que devia ter, faz bem. Entendeu? Ter um bloco assim, pro pessoal brincar, uma coisa sadia, natural. Eu acho o Carnaval uma coisa bonita, enquanto tanta gente acha que é vulgaridade, eu num vejo assim. Eu num vejo, eu vejo

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cultura no carnaval. Entendeu? Por isso que eu acho que, uma cidade, toda cidade devia nem que fosse um bloco, por menor que fosse a cidade. Entendeu? Pra passar cultura, mostra pras pessoas o que é a história da cidade. Eu acho que o carnaval tem que servir pra isso.

Cê acha que a história da cidade podia ser contada num bloco de carnaval?

Eu acho! Eu acho ! E principalmente porque os alunos poderiam, tipo assim, desenvolver um trabalho. Entendeu? Em cima disso... e aprender muito mais!

Cê acha que o Instituto Histórico poderia se integrar mais com a cidade através disso? Acho! Eu acho! Porque o Intituto Histórico, tem gente aqui em Arceburgo, que num sabe nem pra quê que serve aquilo ali. Tem gente que nem sabe. Tem gente que nunca nem entro, nem sabe o quê que tem lá, nem sabe pra quê que serve. Então eu acho assim: a escola devia se integrar com o Instituto Histórico. Entendeu? Juntá fazê alguma coisa! Agora, tem aquilo ali, ninguém sabe pra quê que serve, ninguém sabe quê que tem lá... Entendeu? Fica uma coisa assim, muito vaga! Eu acho, sei lá, eu acho falta. Viu? Falta, falta muita coisa.

E... um fato importante na sua vida. Tanto na sua vida ou na cidade...

Um fato? Qualquer coisa? Assim, uma coisa que aconteceu que eu achei importante? É. Tanto na sua vida quanto na vida da cidade...

Ai! Num sei! Ai, foi, num foi, assim, que eu acho assim independente, foi um fato político. Que eu acho que uma pessoa, durante tantos anos tipo assim. Né? governô a cidade durante tanto tempo, igual no caso que foi o NP, eu acho que foi importante o pessoal se conscientizá e mudá. Entendeu? Porque eu acho assim, as pessoas têm que dá oportunidade pra outras pessoas. Num deu certo, daqui quatro anos, nós vamos votar, vamo tirá esse e vamo colocá outro de novo tamém. Então, uma coisa que eu achei super interessante assim, que a cidade intera se uniu. Entendeu? Porque viu que num tava seno bom. Se uniu pra tirá , pra mudá , pra colocá um outro.

E você vota aqui já?

Voto. Voto aqui. Eu tirei meu título aqui. Tirei aqui! Tirei aqui! Então você é um cidadã arceburguense!

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É... e uma pessoa importante pra você? Ah... uma pessoa importante... ai são tantas... Pode falá mais de uma.

Pode fala? Ah... eu acho assim, eu considero muito minha família, meus amigos, eu acho que minha família e meus amigos é um família só pra mim. Eu... amizade pra mim, eu acho uma coisa muito importante. Eu acho que se a gente num tiver amigos, a gente num... cê num tem vínculo cum nada. Eu acho que a amizade é uma coisa que a gente tem que cultivá. Entendeu? Eu acho que uma amizade vale muito mais do que talveis muita coisa que uma pessoa... às vezes uma pessoa dá tanto valor num bem material... tipo isso aqui, nossa! Esse sofá! Entendeu? E ás vezes num dá valor num pessoa que ta sempre lá, tá dano força. Pode ser uma pessoa da família ou uma amizade de fora. Pra mim, eu dô muito valor na amizade.

E cê tem uma pessoa que cê pode citá? Cê fala entre amigos ô ...

Pode ser mais que um. Pode ser mais que um? Pode ser uma turma.

Assim, de família que eu acho assim, eu falo a minha tia. Que ela é... depois que eu perdi minha mãe ela é minha mãe pra mim.

Como que é o nome dela? NP.

NP. Ah a NP é tua tia? É.

Da escola?

É. Tua mãe conhece, cê conhece uai! Ah, eu conheço a NP.

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Minha tia. E assim, de amizade olha: a NP, a NP, a NP o NP, nossa ele é gente fina! São pessoas assim, que eu estimo. Sabe? Se precisá de mim qualqué hora.

O NP é professor de historia já. Né? Geografia.

É geografia?

Pode dá aula de história, mas ele é professor de geografia.

O NP num tem como intrevistá porque ele mudou pra cá tem muito pouco tempo. Né? É, ele é de Guaxupé.

É. Então ele num teve assim essa... que nem você, você praticamente viveu aqui. Praticamente.

A vida inteira. Praticamente. Agora o NP., não.

É, ele viveu muito fora mesmo.

Então, na época da sua adolescência, como que eram os namoros? Cê acha que era diferente de hoje? O quê que cê acha que mudou?

Ah... sabe o quê que eu acho, eu acho assim que... a algum tempo atrás, que nem eu tô com vinte e quatro,eu acho que quando eu tinha assim, dezessete, dezoito, assim, talveis ainda tivesse algum assim...ai é difícil falá disso. Né? Mas assim ainda tivesse alguma oportunidade pra se ter um namorado. Sabe? Namorá sério. Entendeu? Ter uma pessoa.

Agora hoje, já é mais difícil.

Cê acha que as pessoas num tão quereno mais compromisso?

Não. As pessoas não tão quereno compromisso, num tão quer se envover. Entendeu? Elas num qué assim, talvez acreditá que outra pessoa seja capais de gostá. Entendeu? De ter fidelidade. Hoje as pessoas são muito infiéis, eu acho. Hoje elas ficam com uma pessoa, amanhã ficam com outra e... sabe? Antes não. Antes as pessoas assim, era mais, ah sei lá,

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tinha mais respeito umas pelas outras. Né? Eu acho que antes as pessoas namoravam mais tinham mais compromisso. Tinha ,tinha, só que hoje as pessoas tem necessidade de ter uma pessoa. Entendeu? De ter um compromisso, de ter um relacionamento mais sério, mas é mais difícil. Principalmente, assim, eu gosto muiiinto daqui, mas aqui por ser uma cidade pequena. Entendeu? As pessoas, elas nascem, crescem e vão embora. Entendeu? Às vezes vão muito contra a vontade, tamém. Tem muita gente que gosta muito daqui, mas chega uma fase, não tem trabalho. Entendeu? Elas têm que í embora, têm que í pra trabalhá, têm que í pra estudá. Entendeu? E as que ficam, vão ficano.

E um história que você sentiu medo, que cê achou que foi perigoso pra você? Medo? Uai num sei, parece que eu num lembro. Cê fala um fato assim?

Não uma coisa assim que cê sentiu medo que cê achou que num ia dar conta.

Que eu não ia dar conta? Ah num sei, assim, num sei, foi uma coisa que eu... que eu nunca achei que ia conseguir. Assim, quando eu comecei trabalhá, eu nunca, eu num tinha experiência em comércio, eu era super tímida, eu num conversava, a NP mesmo sabe: eu num, eu num tinha amizade com ninguém, só com as pessoa lá na escola assim. E eu comecei a trabalhá e eu percebi que eu tinha que fazer de tudo pra mi enturmá. Entendeu? Tanto com a sociedade, na loja, eu tinha que me abrir, eu tinha que seu uma pessoa mais... entendeu? Mais aberta, mais falante. Eu fiquei com medo de eu não conseguir perder a timideis. D`eu não conseguir. Entendeu? E era muito importante pra mim porque eu precisava trabalhá e se eu num conseguisse, tinha muita gente que talveis, seria muito mais fácil entrar no meu lugar e desempenhar um papel. Entendeu? E eu graças à Deus, eu posso falá: eu consegui. Se entrá qualquer pessoa na loja ô eu precisá conversá, entrá num lugar. Entendeu? E conversá, eu vô. Eu não tenho medo.eu perdi a timideis.

É, cê é conhecida em Arceburgo inteira.

Ah... eu falo pra meninas esa morre de rí. Eu sou popular em Arceburgo! Eu sô! Isso eu posso falá! Eu sô popular em Arceburgo! Eu:

– Oi Fulano. – Oi Beltrano.

E falô que é NP, minha fia, num tem quem num cunhece aqui em Arceburgo! Todo mundo cunhece? Até os cachorro! É. Até os cachorro me conhece aqui! O pior é que é verdade!

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O pior é que é verdade, NP!

Num tem quem num me cunhece aqui!

E a loja da NP fica conhecida por tabela. Né? HÁ HÁ HÁ... fica, fica! Fica memo!

E...é... a gente já tocou nesse assunto, eu acho que você desenvolvesse um pouco mais, o quê que você acha do Instituto Histórico?

Eu acho que é super importante. Sá quê que eu acho? Eu acho assim, ó, igual, por exemplo, eu num lembro se lá em Guaxupé tem, é assim porque eu trabalhei lá, então às veis eu falo muito em Guaxupé porque eu comparo muito, às veis eu comparo lá com aqui, lá com aqui. Eu acho assim, aqui, igual, por exemplo tem o Instituto Histórico ali, fica aberto. Entendeu? E... o pessoal num tem noção da importância que tem o Instituto Histórico pra cidade. O Instituto histórico, eu acho que deveria, tipo assim desenvolver um trabalho da História de Arceburgo. Entendeu? Desde quando começou aquele pessoalzinho lá em baixo. Entendeu? Que Arceburgo começo, foi lá em bacho! Lá naquele riuzinho , lá per da NP. Né? Então eu acho assim, que deveria desenvolvê um trabalho, sobre a história de Arceburgo, entendeu? Pra passá, igual por exemplo, hoje cê pode vê na escola, a história, antes não, mas a história ela tem um papel muito importante hoje, na vida das pessoas. Se ocê num subé um poquim di história, cê num entende o porque da Guerra do Afeganistão tanto é. Se ocê num subé. Então eu acho assim, deveria desenvolvê um trabalho, se integrar mais com a escola, pra mostrá pras pessoas que freqüenta ou que num freqüenta. Porque hoje tamém muita gente qué voltá pra escola, qué fazê um supletivo porque tá veno a falta que tem um estudo. Muita gente fala aqui na loja. Entendeu? E pra mostrá a importância. Entendeu? Pras pessoas vê como é que é Arceburgo, porque tem muita gente que... entendeu ? Num dá valor na cidade, e a gente tem que dá gente! Pá cresce, pá cidade cresce, a gente tem que fazê, entendeu? Nossa! Eu fiquei super contente, igual, veio a NP, deu serviço pra muita gente. Vamo torcê, vamo rezá pra chamá cada veis mais pessoas e que venham mais firmas. Entendeu? Pra Arceburgo crescê! Arceburgo é um cidade boa, só que sabe o que eu acho, o poder fica muito concentrado na mão de muito poca gente e a fatia menor, a fatia maior com pouca gente. Entendeu? Então num...sei lá, eu num sei se eu tô sabendo explicá direito, às vezes eu tenho dificuldade.

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É. Se ocê ficá lá um dia intero, cê pode contá, eu aposto que num entra ninguém lá. Eu aposto! Fica aberto o dia inteiro, eu duvido que um dia entra pelo menos é... sete pessoa lá. Eu duvido! Num entra! Todo dia! Eu acho que eles... entendeu? Pras pessoas visitá, conhece, lê, incentivá.

Fazê uma propaganda. Usar a rádio agora. Né?

Usa a rádio! Gente! Uma coisa que eu acho muito importante: lê! Tem que lê! Entendeu? Lê! Lê pro cê sabê! Pro cê conhecê, pro cê aprendê escrevê. Eu acho. A pessoa, ela tem que sabê a história da própria cidade, pra ela sabê a história da própria vida. Entendeu? Senão ela nunca vai se identifecà! Eu acho isso. Porque aqui em Arceburgo, eles num sabem se são paulistas, se são mineiros... se eles são... o quê eles são. Então eles precisavam sabê. Então eles precisavam saber a história que é uma história importante. Então! Eu acho, eu acho importante a gente sabê a história da cidade da gente. Poxa vida! Se você nasceu aqui, cê cresceu, cê casa, tem filhos. Sei lá, eu acho, é a identidade do povo. Eu acho.

Cê acha que a partir do momento que o povo descobrir essa identidade, cê acha que vai ter mais auto-estima?

Vai tê mais auto-estima, vai crescê a cidade, vai dá mais valor no comércio da cidade. Porque o pessoal tem muito aquilo:

– Ai, vô compra lá em Mococa.

Gente! Se aqui tem a mesma coisa, sai mais barato porque vai pagá passagem pá í, vai gastá gasolina de carro, se cê pode vim a pé, andá de a pé. Entendeu? Tem que dá ma... eles conhecendo a história. Entendeu? Vai dá mais incentivo pá cidade crescê.

Entendeu? Vai dá mais valor na cultura. A gente tem que dá mais valor na cultura da gente! Entendeu? Eu acho. Pra ficá fazê uma coisa mais sólida. Eu acho isso.

É... e da Festa de São João? Cê lembra? Da Festa de São João quando você era pequena?

Bom, eu passei a freqüentar a Festa de São João aqui assim, mais na minha adolescência. Mas eu lembro ssim. E a festa assim, eu acho um acontecimento... ó de festas aqui na região, igual, lá em Guaranésia tem festa igual aqui, lá tem de Santo Antônio e Santa Bárbara, que é no mês de junho e no mês de dezembro. E, festas assim, eu acho que é a melhor festa de barraca,de rua, é a festa de Arceburgo. Cê pode fazê uma pesquisa em qualquer lugar, cê, cê, aliás, na região qui, na região, fais uma pesquisa pô cê vê: a melhor festa de barraca é a de Arceburgo.

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Ninguém vai descorda, eu tenho certeza que todo mundo vai concordá: a melhor festa. Cê pode perguntá pá quem sai daqui e vai pá festa em Guaranésia. Cê pode perguntá, ninguém gosta. As pessoa de lá quando tem festa aqui, vêm em peso. Cê pode vê: festa aqui, final de semana lota! Festa de São João é um festa tradicional. Entendeu? Tem o pessoal de São Paulo que sai lá de São Paulo pra vim na festa de Arceburgo. Entendeu? É a melhor festa que tem. É um acontecimento, assim. Sabe? Eu acho que... que chama o povo. Entendeu?

E cê acha que mudou alguma coisa do tempo da sua adolescência pra hoje?

Ah... mudô. Né? De primero assim, eu acho que... ah... mudô assim... antes eu acho assim: antes a festa era conhecida, mas agora eu acho que ela foi ficano mais... mais conhecida... as pessoas assim, um vem e fala pro outro. Agora uma coisa que eu acho que eles deveriam fazê: tipo assim, eu acho que eles deviam melhorá mais assim as condições. Né ? Pra festa... porque assim: fais ali na praça. Né? Fica mei sujo.Né? Fica sujo, é ruim pá cidade. Né?

Quê que ocê acha que tem que fazer? Cê acha que essa briga do pessoal aí: fais a festa na praça, num fais a festa na praça. O quê você acha? Que deve ser na festa na praça ou que num deve ser na praça?

É difícil, sabe porquê? Igual por exemplo assim: a festa, a gente acostumou, é gostoso festa aí na praça. Né? Todo mundo gosta, num tem quem num gosta. Né? Mas ao mesmo tempo, eu penso assim: que num tem um banhero, fica um sujera danada, a rua aqui fica imunda. Entendeu? Num tem condições! Eu acho assim, se a festa fô na praça, eu acho que o prefeito tem que desenvolver um projeto.Entendeu? Pra ela acontecer na praça, mas em condições adequadas. Arrumá um banhero público, poderia fazê um alojamento pras pessoas que vêm põe barraca. Entendeu? Eu acho. Pro pessoal ficá mais... né? Pô mais lixera. Entendeu? Pra cidade num ficá tão suja, fica muito... um mal chero. Sei lá, porque é difícil falá : ah vai saí daqui, num vai. E se saí tamém lá em cima num tem... o espaço é grande mas às veis já num dá pá pô barraca, já num dá mais certo.

Às vezes pode até perder a tradição da festa.

Então! É isso. Perde a tradição da festa. Né? Na realidade perde.

E... o quê que você acha da época que você chegou aqui, da época que você vinha pra cá , quando cê era pequena pra hoje em dia. O quê que você acha que melhoro na cidade? Quê que cê acha que aumento?

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Ah... eu acho assim, Arceburgo cresceu. Né? Antes assim, igual por exemplo, antes, lá onde eu moro, eu lembro quando eu vinha pra cá, lá era pasto, lá num tinha casa.

Cê mora onde?

No NP. Lá num tinha nada, lá era pasto. Lá onde é o NP, lá tamém num tinha nada, era tudo mato lá. Vila Progresso tamém, num tinha nada, a cidade era menor. Nossa eu lembro que as rua era tão assim, eu gostava daqui, eu já gostava daqui, mas num sei, eu achava esquisito, eu achava assim, num sei se depois que eu vim morar mesmo aqui, eu me acostumei mesmo com o lugar, passei a gostá mais. Era aquelas rua assim, era muito estreita, num sei, sei lá. Mas assim eu acho que de uma certa forma, assim, melhorou e talvez em alguns pontos piorou. Porque esse negócio de... né? Aí a pessoa vêm e fala, promete que vai dá casa, tal. Aí trais aquele monte de pessoal que mora na roça, aí vem aquele pessoal e esse pessoal fica sem serviço porque a cidade num comporta. Né? Porque num tem serviço pra todo mundo,aí começa aquele desemprego aquela crise danada. Entendeu? Mas agora eu acho que Arceburgo agora, se Deus quiser, eu acredito muito em Arceburgo. Eu acho que agora vai mudá. Eu acho que depois de NP... eu acho que depois que a NP veio pra cá, cê vai vê: vai mudar pra melhor. Eu acho.

O quê você acha do hospital?

Ta uma vergonha. Eu acho que a vergonha de Arceburgo é o hospital. Eu acho. Eu acho que esse pessoal, eu acho assim que é um absurdo uma mulher grávida num podê tê o filho aqui. Porque num tem condições. Eu essa semana, domingo, tinha um colega tomano soro. Né? Aí a gente foi lá vê se ele tava precisando de alguma coisa. Tá uma vergonha! O hospital tá sujo, não tem remédio, não tem nada. Sabe? Tá precário demais da conta.

É porque uma estrutura daquela, era pra tá funcionando um dos melhores hospitais da região.

Não é um hospital pequeno, todo mundo sabe, podia dá condições melhores pro povo. E o pessoal daqui, a maioria é gente simples, não tem dinheiro para consultas particulares, eu acho. Entendeu? Às vezes a pessoa acaba ficano doente e se agravando o estado porque num tem um médico, o hospital num dá condições pra pessoa se interná. Entendeu? Apesar de que hoje, tem ambulância, tem o ônibus que leva pra qualquer cidade pra fazê tratamento. Mas eu acho que só isso num basta, eu acho que todo... eu acho que a cidade tem que tê um hospital. E funcionano com médico, enfermeiro, pessoas capacitadas. Pessoas capacitadas. Entendeu?

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Que cê pode chegá lá e a pessoa vai te atendê bem. Porque tem... porque tem muita gente que com esse negócio de política, dá serviço pá gente que num tem enfermagem, pá médico que num tem condições de exercê o cargo. Eu acho.

E o quê você acha do asilo aqui em Arceburgo?

Eu acho que o asilo melhoro muito, muito mesmo. Eu acho que o NP feis muita coisa boa pô asilo. Apesar deu num... é muito difícil eu í lá. Vô sê sincera. Eu passo lá na porta todo dia, assim a gente vê muita gente comentano, a minha tia mesmo às vezes vai lá. Eu acho que ele melhorou muito lá. Feis muita coisa. Agora tem uma carro só pro asilo, só pra trazer as pessoas, igual se for preciso levar no médico.né? Trazê num farmácia, trazê pra recebê a aposentadoria, se for pra levá prum lugar tem. Né? Eu acho que o asilo tá bom.Né? E aos pocos vai ficano melhor. Assim, aos pocos vai chegano lá. Né?

E o que você acha desse programa que eles tão fazeno agora, o médico da família? É bom porque eu acho que tem muito pessoal, muita gente carente, tem pessoa assim que talvez tem uma certa ignorância, num vai no médico. Entendeu? Aí vai um pessoa assim, igual por exemplo, aí tem uma pessoa doente em casa aí vai lá, pede pro médico í lá, se for grave pode encaminhar a pessoa pra levá pra outro lugar.né? Eu acho bom! Eu acho bom! E... NP, o quê que você acha que precisa mudar em Arceburgo?

Muita coisa ainda tem que mudar. Eu acho que o pessoal assim, aqui o pessoal é muito gente boa, mas eu acho que tem uma pessoal que tem que abrir mais a cabeça. Entendeu?

No aspecto histórico, essa idéia do carnaval, é muito interessante. Quais outras idéias que você tem pra tornar o Instituto Histórico mais acessível?

Eu acho assim, igual eu te falei do carnaval, eu acho a história de Arceburgo, uma história bonita. Eu gosto de escutá quando eu vejo gente, pessoa assim mais velha contano alguma coisa,eu já fico assim, que eu quero sabê , eu quero entendê, eu quero escutá. Eu acho assim que, igual por exemplo, cê já imagino? Assim montá assim bloco, tudo assim direitinho e contano com enredo, contano a história de Arceburgo, as pessoas vestida, assim, cada ala mostrano como que foi até nos dias atuais. Cê num acha... eu acho que seria maravilhoso! Eu acho que ia ser .Sabe? eu num sei se é porque eu adoro carnaval. Porque igual, muita gente quando vê que é carnaval:

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Eu num vejo isso. Eu vejo cultura. Mesmo porque se cê for fazer um grupo de carnaval, cê num precisa por o povo pelado. Num precisa gente! Eu acho que se tivesse... não! Eu te juro! Eu dava apoio! Eu entrava pá ajudá. Nossa, gente! Eu acho que ia sê ótimo! E eu acho que é tipo assim, o Instituto Histórico apoiaria, poderia apoiá, as escolas. Entendeu?

O Instituto Histórico entraria com a teoria e o pessoal com a prática?

E o pessoal com a prática, porque no Instituto Histórico tá toda a história. Né? Entendeu? Eu acho. Nossa, eu acho que ia sê maravilhoso! Porque eu acho que história é muito importante, gente! Eu acho que história, nossa, a história é tudo gente! A gente tem que dá importância pra história. Tem que dá. Nossa eu ... eu acho que ia sê o máximo!

Ô NP, muito obrigada pela sua colaboração com a pesquisa, eu gostei muito da entrevista, foi muito boa.

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