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PPGTE: um programa feito por eles para elas?

Lindamir Salete Casagrande1

Lucas Bueno de Freitas2

Resumo: O objetivo deste artigo é analisar o quadro discente e docente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade - PPGTE da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR sob a perspectiva de gênero. O PPGTE é um programa interdisciplinar cuja área de concentração é Tecnologia e Sociedade. Conta com três linhas de pesquisa, Mediações e Cultura, Tecnologia e Desenvolvimento e Tecnologia e Trabalho. O Programa oferece curso de mestrado desde o ano de 1995 e de doutorado desde o ano de 2008. Até dezembro de 2015 foram defendidas 444 dissertações e 34 teses junto ao PPGTE sobre diversos temas, sendo que 42 destas dissertações e 5 teses versaram sobre relações de gênero e tecnologia. Para este artigo foram analisadas as informações sobre os/as discentes e docentes deste programa desde a sua criação em 1995 até o final do ano 2015, com base em dados de documentos da secretaria do Programa, contribuindo assim para o registro e a divulgação da história do PPGTE. Será um estudo baseado no método de pesquisa quantitativo. Neste estudo buscou-se identificar como ocorre a distribuição do corpo docente e discente por gênero bem como as áreas nas quais eles e elas estão mais concentrados/as. A análise preliminar dos dados indica que as mulheres são a maioria dentre os/as discentes tanto no mestrado quando no doutorado, sendo que no doutorado a presença feminina é mais significativa. Entretanto no que concerne ao quadro docente, os homens são a maioria. Os números do PPGTE indicam que as mulheres procuram mais o programa de Pós-Graduação com vista a sua formação e menos quando se trata de atuar como docente do Programa.

Palavras-chave: PPGTE, Relações de Gênero, Corpo docente, Corpo discente, Gênero e Tecnologia.

Introdução

Dados do Instituto Anísio Teixeira – INEP indicam que a participação feminina nos diversos níveis de escolaridade tem crescido nos últimos anos. A porcentagem de matrículas feminina supera a de matrículas masculina desde a educação infantil até a universidade. Na pós-graduação esta superioridade da presença feminina

1 Pós-doutora em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pelo

PPGNEIM/UFBA, doutora e mestra em Tecnologia pelo Programa de PósGraduação em Tecnologia -PPGTE/UTFPR. Professora do PPGTE da Universidade Tecnológica Federal do Paraná -UTFPR. Vice-coordenadora do Núcleo de Gênero e Tecnologia -GeTec. E-mail: lindasc2002@gmail.com.

2 Doutorando em Tecnologia pelo PPGTE/UTFPR. Pesquisador do Núcleo de Gênero e Tecnologia

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ainda não se consolidou. Segundo Gisele Pinto (2007, p. 83) as mulheres ainda não atingiram na pós-graduação o mesmo patamar de participação que nos demais níveis de ensino.

A participação das mulheres nas ciências tem aumentado nos últimos anos, porém, segundo o argumento de Marília Gomes de Carvalho (2008), os cursos superiores na área tecnológica são predominantemente masculinos. Embora as mulheres sejam a maioria das universitárias, elas são minoria nas Engenharias e em Física. Eles são a minoria nos cursos voltados a educação e as ciências da saúde (RISTOFF, 2008, p. 18).

Estudos têm sido realizados na busca pela compreensão da diferença de participação masculina e feminina no meio científico. Estes estudos apontam como causas para este fato a suposta falta de habilidade feminina para a Matemática, considerada por muitos como essencial para a dedicação ao meio científico e às carreiras voltadas para a ciência e tecnologia (GARCIA; SEDEÑO, 2006, p. 46); a socialização diferenciada de meninos e meninas (VELHO 2006; SELKE, 2006); a forma como se ensina ciências nas escolas (SANTOS; ICHIKAWA, 2006); a falta de estímulo às meninas por parte de pais/mães e professores/as (VELHO; LEON, 1998), dentre outras.

Londa Schiebinger (2001) argumenta que a cultura ocidental vê a mulher mais como receptora do conhecimento do que como geradora do mesmo e os conhecimentos utilizados para entender a natureza e as necessidades humanas nem sempre são vistos como Ciência. Ângela Maria Freire de Lima e Souza (2003) considera que o acesso ao conhecimento de forma plena foi negado às mulheres por muitos séculos, por se considerar que elas não eram dotadas de razão. Esta situação mudou e nos dias atuais, as mulheres cada vez mais têm acesso à educação e ao conhecimento científico. Na atualidade elas são tão responsáveis quanto os homens na produção e divulgação do conhecimento. Embora enfrentem dificuldade de inserção e permanência em alguns campos do conhecimento como as engenharias (FARIAS, 2007; SOBREIRA, 2006), o acesso não é mais negado a elas.

A formação de cientistas passa pela formação acadêmica. O mestrado e o doutorado se constituem em etapas fundamentais para este processo. Sendo assim,

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compreender como ocorre a participação de homens e mulheres nos programas de pós-graduação pode contribuir para que se tenha uma ideia de quais os caminhos que a produção científica está tomando. Isabel Tavares (2008, p. 32-33) em estudo realizado com base em informações do Diretório de Grupos de Pesquisa (GDP), argumenta que “o crescimento feminino nas atividades de pesquisa tem sido constante” chegando a um crescimento de 103% no período de 2000 a 2006. No mesmo período, o crescimento do número de homens nestas atividades foi de 71%. A referida autora argumenta que este crescimento ocorre tanto no nível de mestrado quando no de doutorado. Em 2006 as mulheres eram 55% dos/as mestres/as e 44% dos/as doutores/as no Brasil. No ano de 2000 as mulheres eram 37% dos/as doutores/as fato que indica um crescimento significativo na titulação de mulheres nos últimos anos.

A maior inserção feminina em mestrados e doutorados indica que mais mulheres estão se interessando pela Ciência e que futuramente as estatísticas sobre a participação feminina neste campo podem ser transformadas. Fanny Tabak (2002, p. 54) considera que “a sub-representação das mulheres no campo científico representa uma subutilização dos recursos humanos disponíveis na sociedade, o que afeta o desenvolvimento nacional”. Para a referida autora, um país que se encontra em desenvolvimento como o Brasil não pode abrir mão da capacidade intelectual de mais da metade de sua população.

Com o intuito de contribuir para a discussão e o conhecimento sobre a participação de homens e mulheres no meio científico e na pós-graduação é que se desenvolveu a pesquisa cujos números serão aqui apresentados. O objetivo deste artigo é analisar o quadro discente e docente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade - PPGTE da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR sob a perspectiva de gênero. Neste artigo analisa-se a distribuição docente por gênero, buscando estabelecer relação entre o corpo docente e as orientações realizadas no PPGTE no período analisado. Analisa-se também a distribuição do corpo discente por gênero e por linha de pesquisa.

Entender como ocorre a ocupação das vagas ofertadas para o Mestrado e Doutorado em Tecnologia e Sociedade por homens e mulheres bem como a constituição

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do seu corpo docente contribuirá para o registro histórico do Programa. Ressalta-se a importância de se preservar a história das Instituições e Programas com o intuito de propiciar às gerações vindouras a possibilidade de conhecer sua trajetória.

O estudo foi baseado no método quantitativo e os dados foram obtidos em documentos internos do PPGTE. Foram analisadas as informações referentes ao período de agosto de 1995, ano de sua criação a dezembro de 2015. Embora seja um estudo sobre um único Programa, este artigo poderá contribuir para a construção do conhecimento acerca dos programas de pós-graduação e estimular outros estudos sobre outros programas com características similares a este ou não.

A pós-graduação Stricto Sensu encontra-se em expansão na Instituição e este processo foi acelerado com a transformação da Instituição centenária3 em Universidade ocorrida em 2005. Os cursos estão distribuídos por diversos campi da UTFPR e atendem pesquisadores/as das diferentes regiões paranaenses.

No âmbito da pós-graduação, em seus 13 campi, a UTFPR oferece: 19 programas de pós-graduação na área de engenharias, com dois cursos de mestrado profissional, 16 cursos de mestrado e cinco cursos de doutorado; oito programas na área de ciências exatas e da terra, com cinco cursos de mestrado profissional e três de mestrado; cinco programas na área de ciências agrárias, com um curso de mestrado profissional, quatro de mestrado e um de doutorado; dois na área de linguística, letras e artes, com dois cursos de mestrado; três na área de ciências sociais aplicadas, com um curso de mestrado profissional e dois de mestrado acadêmico; um na área de ciências biológicas, com um curso de mestrado, um na área de ciências ambientais, com um curso de mestrado; um na área da ciência da saúde, com um curso de mestrado; sete na área de ensino, com seis cursos de mestrado profissional e um de doutorado; e quatro na área multidisciplinar, com um curso de mestrado profissional, três de mestrado e um de doutorado.

3 A história da UTFPR inicia com a criação da Escola de Aprendizes e Artífices em 1909. Passou a se

denominar Liceu Industrial do Paraná em 1937. Em 1942 passou a se denominar Escola Técnica de Curitiba e em 1959 mudou novamente sua denominação para Escola Técnica Federal do Paraná. Outra transformação ocorreu em 1978, quando passou a ministrar graduação plena e assumiu o nome de Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - CEFET-PR. No ano de 2005 foi transformada na primeira universidade tecnológica do Brasil e recebeu a nomenclatura atual.

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A escolha do PPGTE para ser objeto deste estudo deu-se pelo fato do mesmo ser interdisciplinar, o que garante uma diversidade de áreas de formação de professores e professoras. Outro motivo é o fato do PPGTE ser berço de um grupo de estudo específico sobre relações de gênero, o Núcleo de Gênero e Tecnologia – GETEC, o que permite a inserção da temática entre as/os estudantes. E, para finalizar, devido a ligação da autora (docente) e do autor (discente) com o referido Programa, fato que suscitou a pergunta título desta comunicação.

Breve histórico do PPGTE

O Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade – PPGTE, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, iniciou suas atividades no

campus Curitiba em agosto de 1995, oferecendo curso em nível de Mestrado. Está

vinculado a área de conhecimento interdisciplinar e acolhe estudantes com graduações em diversas áreas. Da mesma forma os/as professores/as apresentam formação de graduação e pós-graduação diversificada.

A concepção de tecnologia que consta da base de instituição do PPGTE é ampla. Segundo João Augusto Bastos, seu fundador, (2003, p. 20) “O PPGTE busca estudar e pesquisar a tecnologia como um todo, não se detendo exclusivamente na aplicação das técnicas, procura entendê-la como fenômeno cultural e social”. Como programa interdisciplinar engloba em seu bojo, estudos sobre a relação da tecnologia com a sociedade nos mais diversos enfoques.

Inicialmente o PPGTE contava com duas áreas de concentração: Inovação Tecnológica (IT) e Educação Tecnológica (ET) e quatro linhas de pesquisa – educação, ciência, tecnologia, trabalho, qualificação e produção: fundamentos e manifestação prática; currículos, métodos e técnicas de ensino tecnológico; dimensões da inovação tecnológica; e história da técnica. No ano de 1996 foi adicionada a linha de pesquisa “interação homem máquina” (BASTOS, 2003, p. 28-30).

No ano de 2000 foi realizada uma reformulação no Programa. As duas áreas de concentração foram excluídas e as linhas de pesquisa foram reduzidas para três:

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Tecnologia e Desenvolvimento - TD; Tecnologia e Interação - TI; e Tecnologia e Trabalho - TT. As mudanças ocorridas foram justificadas pela dificuldade da consolidação da interdisciplinaridade que a estrutura inicial do Programa gerava (BASTOS, 2003, p. 35) bem como, pela chegada de novos/as docentes que se credenciavam ao Programa e apresentavam formações diferentes da formação dos/as profissionais que participaram do corpo docente no início do Programa. Surgiu então a necessidade de mudança para que melhor representasse a nova configuração do corpo docente. No final de 2011, na busca por maiores possibilidades de entendimento do conceito de tecnologia, rompendo a ligação semântica do termo “interação” como simples uso instrumental de ferramentas, a linha TI passou a se denominar Mediações e Culturas - MC, funcionando, desta forma, até o presente ano.

Na consolidação do Programa sentiu-se a necessidade de se definir uma área de concentração e isto ocorreu no ano de 2007 quando foi instituída a área de concentração de Tecnologia e Sociedade. Com esta mudança ficou ainda mais evidente a vocação do PPGTE em estudar a interação da tecnologia com a sociedade, como elas se constituem simultaneamente.

No final de 2007 foi aprovado o curso de Doutorado em Tecnologia que começou a funcionar em março de 2008. A primeira turma de doutorado acolheu seis estudantes, sendo três do sexo masculino e três do sexo feminino. A aprovação do Doutorado demonstra o amadurecimento do PPGTE e a caminhada na direção da consolidação como um dos principais programas de pós-graduação na área interdisciplinar. No início do ano de 2016 o Programa mudou o seu nome passando a se denominar Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade mantendo a sigla que o representa – PPGTE.

A característica interdisciplinar possibilita a acolhida de estudantes com as mais variadas graduações e isso tem ocorrido durante toda a trajetória do PPGTE. O convívio dos/as estudantes oriundos/as de áreas tão diversas enriquece a formação dos/as alunos/as e as produções do Programa. Dentre as dissertações e teses defendidas e em desenvolvimento pode-se perceber uma ampla diversidade de temas abordados. Esta multiplicidade de temas evidencia a ampla capacidade de orientação e diversidade

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de formação de seus/as professores/as. A interdisciplinaridade se mostra no corpo docente, discente e nas produções do Programa.

O PPGTE é responsável pela publicação de três periódicos na área interdisciplinar. O Programa publica a Revista Educação e Tecnologia, a Revista Tecnologia e Sociedade e os Cadernos de Gênero e Tecnologia. Estas publicações são destinadas a pesquisadores/as nacionais e internacionais e tem publicados artigos nos mais variados temas, característica de publicações interdisciplinares.

Nos vinte anos de funcionamento do PPGTE foram defendidas 444 dissertações de mestrado e 34 teses de doutorado4. Dentre os temas abordados nas teses e dissertações, as relações de Gênero, Ciência e Tecnologia é um dos temas que se sobressai. Sobre esta temática foram defendidas 42 dissertações e cinco teses até dezembro de 2015. Outras 10 dissertações e três teses encontram-se em desenvolvimento sobre esta temática.

O quadro docente do PPGTE: eles são a maioria

Desde o princípio do funcionamento do PPGTE, os homens são a maioria dentre os/as docentes. Durante os vinte anos de existência do PPGTE, passaram por seu quadro docente 25 professores e 17 professoras, totalizando 42 profissionais. No final de 2015 tinha-se 19 professores e 10 professoras, totalizando 29 docentes atuando no PPGTE. A diferença na participação feminina e masculina no corpo docente do Programa vem aumentando nos últimos anos. Ao considerar todos/as docentes que passaram pelo PPGTE, as mulheres representam 40% do total, entretanto ao considerar os/as docentes que atuavam no PPGTE em dezembro de 2015 esta porcentagem diminui para 34% (Quadro 1).

As mulheres constituem a maioria das/os docentes que por alguma razão5 se afastaram das atividades junto ao PPGTE. O maior afastamento feminino e o maior

4 Contagem feita em dezembro de 2015 com base em documentos do PPGTE.

5 Dentre as causas de afastamento encontra-se a aposentadoria, o desligamento voluntário e o

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credenciamento masculino junto ao Programa nos últimos anos contribuem para o aumento da diferença do número de homens e mulheres em seu quadro docente.

Sexo dos docentes Docentes atuais Docentes desde o início Docentes que deixaram o PPGTE

no % no % no %

Masculino 19 66 25 60 6 46

Feminino 10 34 17 40 7 54

Total 29 100 39 100 13 100

Quadro 1: Distribuição do corpo docente por sexo

Legenda: no – número absoluto; % porcentagem sobre o total de docentes de cada categoria Fonte: documentos do PPGTE

Existe um equilíbrio na distribuição do corpo docente entre as linhas de pesquisa (Quadro 2). Entretanto quando se faz o recorte de gênero, percebe-se que a linha de Tecnologia e Desenvolvimento – TD é a que apresenta o maior número de homens. Segundo o site do Programa um dos objetivos dos estudos desenvolvidos nesta linha de pesquisa, é “avaliar o impacto tecnológico e de novos padrões de atividades de trabalho na sociedade e no meio ambiente” (PPGTE, 2016). O quadro docente de TD é composto por duas professoras e sete professores.

Linha de Pesquisa Sexo Total Masculino Feminino Tecnologia e Desenvolvimento - TD 7 2 9 Mediações e Culturas – MC 4 4 8 Tecnologia e Trabalho – TT 8 4 12

Total 19 10 29

Quadro 2: Distribuição do corpo docente por sexo e por linha de pesquisa em dezembro de 2009 Fonte: documentos do PPGTE

A linha de pesquisa Mediações e Culturas – MC apresenta igualdade numérica entre os números de professoras e professores (quatro mulheres e quatro homens). O interesse da linha “é pelo conhecimento e pela circulação de técnicas, processos, práticas, artefatos, meios, ambientes e outras mediações” (PPGTE, 2016). As temáticas abordadas nesta linha são bastante diversificadas. O quadro docente da linha de Tecnologia e Trabalho – TT é formado por oito professores e quatro professoras. Nesta linha de pesquisa reflete-se sobre a centralidade do trabalho na constituição da

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sociedade, ou seja, “entende-se o trabalho na sua dimensão ontológica a partir da qual o homem6, não somente altera, cria e modifica seu entorno mediante o seu labor, mas institui-se, enquanto ser humano, no e pelo trabalho” (PPGTE, 2016).

Os professores são os responsáveis pela maioria das orientações de dissertações e teses defendidas até dezembro de 2015 (61% - Quadro 3), porcentagem muito semelhante ao de professores que atuaram no Programa desde seu início (60% - Quadro 1). Com base nestes dados podemos concluir que a produtividade de homens e mulheres no que tange a orientações de teses e dissertações é igual. Podemos assim, inferir que o sexo do/a profissional que atua neste Programa não interfere na capacidade de orientação de trabalhos de mestrado e doutorado.

Quadro 3: Orientações de dissertações e teses por sexo dos docentes

Legenda: nº - número absoluto; % - porcentagem sobre o total de cada categoria (mestrado e doutorado).

Fonte: Documentos do PPGTE

O corpo discente do PPGTE: elas são a maioria

A participação feminina no corpo discente do PPGTE é significativa. As mulheres representam 59% dos/as mestres/as e 70% dos/as doutores/as formados/as deste Programa até dezembro de 2015, se analisarmos por nível de formação, conforme Quadro 4, perceberemos que as mulheres são maioria tanto no mestrado como no doutorado, porém neste, a diferença é ainda maior. Esta diferença pode indicar que as mulheres estão mais interessadas na formação acadêmica, porém podem indicar dificuldade delas se inserirem no mercado de trabalho o que as levaria a continuar estudando com o intuito de ampliar as possibilidades de atuação profissional.

6 Aqui, o termo “homem” está sendo usado como sinônimo de ser humano. Na área de estudos de gênero

este uso é criticado e, nós, como estudiosos/as desta área, concordamos com este questionamento. Docente Dissertações Teses

nº % nº % Masculino 272 61 21 61 Feminino 172 39 13 39 Total 444 100 34 100

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Sexo dos/as discentes Dissertações Teses Total No % No % No %

Masculino 185 42 10 30 195 41 Feminino 259 58 24 70 283 59 Total 444 100 34 100 478 100

Quadro 4: Distribuição discente por sexo

Legenda: No - números absolutos; % - porcentagem sobre o total em cada categoria Fonte: Documentos do PPGTE

No que diz respeito à distribuição dos/as discentes pelas linhas de pesquisas, eles estão mais concentrados na linha de Tecnologia e Desenvolvimento - TD na qual totalizam 54,6% das dissertações defendidas. As mulheres estão mais presentes em Tecnologia e Trabalho - TT (70,2%) e Mediações e Cultura - MC (61,8%) (Quadro 5). Como as mulheres são a maioria dentre os/as titulados/as pelo PPGTE, esta diferença se manifesta na distribuição dos/as mesmos/as pelas linhas de pesquisa. Os dados evidenciam que a linha de pesquisa TD é um reduto masculino e TT se constitui num espaço feminino.

Área de Concentração/Linha de Pesquisa Número de defesas masculinas Número de defesas femininas Total No % No % Educação Tecnológica 15 39,4 23 60,6 38 Inovação Tecnológica 21 41,1 30 58,9 51 Tecnologia e Desenvolvimento 76 54,6 63 45,4 139 Mediações e Cultura 39 38,2 63 61,8 102 Tecnologia e Trabalho 34 29,8 80 70,2 114 Total 179 41,7 259 58,3 444

Quadro 5: Distribuição de mestres/as por sexo e por área de concentração/linha de pesquisa Legenda: No - números absolutos; % - porcentagem sobre o total em cada área de

concentração/linha de pesquisa. Fonte: Documentos do PPGTE

Em relação ao doutorado, as mulheres foram a maioria entre as/os tituladas/os pelas três linhas, conforme o Quadro 6.

Os números evidenciam a maior concentração feminina em áreas de concentração e linhas de pesquisas voltadas à educação e ao trabalho e a maior concentração masculina nas áreas voltadas à inovação e a gestão Estes números convergem para os resultados encontrados por Tavares (2008, p. 35). Os dados

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apresentados por esta autora indicam que os homens são a maioria dos mestres nas Ciências Sociais Aplicadas e nas Engenharias e as mulheres são a maioria dos mestres em Ciências da Saúde e Ciências Humanas.

Linha de Pesquisa Número de defesas masculinas Número de defesas femininas Total No % No % Tecnologia e Desenvolvimento 4 28,5 10 71,5 14 Mediações e Cultura 2 33,3 4 66,7 6 Tecnologia e Trabalho 4 28,5 10 71,5 14 Total 10 29,5 24 70,5 34

Quadro 6: Distribuição de doutores/as por sexo e por linha de pesquisa.

Legenda: No - números absolutos; % - porcentagem sobre o total em cada linha de pesquisa. Fonte: Documentos do PPGTE

No Brasil, a constituição dos quadros docentes das escolas do ensino fundamental e médio é majoritariamente feminina. No ensino superior, a participação feminina no quadro docente vem aumentando ano após ano e, segundo Ristoff (2008, p. 27) em 2006 era de 45,5% do total de docentes nas diversas áreas. Como extensão desta realidade é plausível que, dentre os/as pesquisadores/as sobre educação, educação do trabalhador, mercado de trabalho e estudos de gênero, temas recorrentes nas dissertações da área de concentração Educação Tecnológica e da linha de pesquisa Tecnologia e Trabalho, encontre-se mais mulheres do que homens como autoras/es.

Quando o corpo docente e discente se interseccionam

Quando analisamos a relação entre orientadores/as e orientandos/as os dados apresentados no Quadro 7 evidenciam ainda que os professores orientaram a maioria das dissertações defendidas por homens (71%), bem como a maioria das dissertações defendidas por mulheres (54%). Vemos que 31% de todas as dissertações defendidas foram de uma mestra sendo orientada por um professor, 30% são dissertações são produzidas por mestres orientados também por um professor, 27% das defesas são de mestras orientadas por uma professora e somente 12% são de mestres orientados por professoras. Ou seja, a parceria aluno homem com orientadora mulher é menor, bem

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como, a maior parceria é aluna mulher com orientador homem. Como, dentre as orientações concluídas temos a maioria sendo orientadas por professores, o resultado apresentado neste quadro se justifica. Se eles orientaram a maioria dos trabalhos, é compreensível que eles sejam os orientadores da maioria das dissertações defendidas por homens e também por mulheres. A pergunta que permanece é por que tão poucos homens foram orientados por mulheres? O que origina outros questionamentos: Seria uma questão de gênero? Isso é ruim? Os dados aqui apresentados não permitem responder estas perguntas, porém possibilitam algumas conjecturas. Estes números podem ser resultado de uma postura das professoras de selecionar outras mulheres com o intuito de empodera-las; podem indicar que homens tem dificuldade de ser orientados por mulheres, e sendo assim, não se candidatam as vagas por elas oferecidas; e podem ser apenas uma casualidade.

Sexo do/a docente Defesas de dissertação

M F T

nº % %T nº % %T nº T Masculino 132 71 30 140 54 31 272 61 Feminino 53 29 12 119 46 27 172 39 Total 185 100 42 259 100 58 444 100

Quadro 7: Orientações de dissertações por sexo dos discentes e docentes

Legenda: M – Alunos; F – Alunas; T – Total de orientações por sexo do/a docente; no - número absoluto; % - porcentagem sobre o total de discentes por categoria: %T – porcentagem sobre o total de defesas de dissertações.

Fonte: Documentos do PPGTE

A parceria professor/aluna também é maioria no caso do doutorado (44%) como aponta os dados do Quadro 8, seguida pela parceria professora/aluna (26%) e professor/aluno (18%), a parceria professora/aluno, assim como no caso do mestrado, também é minoria (12%). Destaca-se que, no doutorado, as mulheres representam uma porcentagem ainda maior dentre os/as titulados/as (70%) do que no mestrado (58%).

Sexo do/a docente Defesas de dissertação

M F T

nº % %T nº % %T nº T Masculino 6 60 18 15 62,5 44 21 61

Feminino 4 40 12 9 37,5 26 13 39

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Quadro 8: Orientações de teses por sexo dos discentes e docentes

Legenda: M – Alunos; F – Alunas; T – Total de orientações por sexo do/a docente; no - número absoluto; % - porcentagem sobre o total de discentes por categoria: %T – porcentagem sobre o total de defesas de teses.

Fonte: Documentos do PPGTE

Considerações finais

A análise dos dados sobre o PPGTE evidencia que a participação feminina no quadro docente vem diminuindo nos últimos anos. Além de serem maioria, os homens são responsáveis pelo maior número de orientações de dissertações defendidas no período analisado. Porém a produtividade dos/as profissionais de ambos os sexos é a mesma pois a porcentagem de dissertações e teses defendidas por sexo do/a orientador/a é muito próxima da porcentagem de docentes de cada sexo que atuaram no programa desde sua criação.

No que se refere ao quadro discente, as mulheres são a maioria dos/as concluintes do mestrado e do doutorado. Muitas podem ser as causas para explicar a maior presença feminina no quadro discente do PPGTE. Somente pesquisa mais aprofundada de cunho qualitativo poderá identificá-las. Os dados apresentados neste artigo indicam que o meio acadêmico e por consequência o científico, considerando que o mestrado e o doutorado são estágios de formação dos/as pesquisadores/as, se mostram atraentes às mulheres.

Estes números convergem para os resultados apresentados por Tavares (2008, p. 32-33) que apontam para o crescimento feminino na titulação de mestres/as e doutores/as. Na pesquisa da referida autora, as mulheres eram 55% dos mestres brasileiros em 2006. No PPGTE elas são 58% dos/as mestres/as e 70% dos/as doutores/as. Este panorama pode indicar que a presença feminina nas ciências tende a aumentar e a se equiparar a participação masculina nestes campos.

Durante a realização deste estudo percebeu-se a necessidade de se desenvolver mais pesquisas sobre programas de pós-graduação nas mais variadas instituições e com enfoques diversos. Estas pesquisas possibilitariam estabelecer o perfil dos/as discentes que buscam a titulação acadêmica, as características dos diversos Programas, o

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conhecimento sobre as semelhanças e diferenças de programas ofertados por instituições localizadas nas diversas regiões brasileiras. A realização de pesquisas sobre os programas que tradicionalmente pesquisam sobre outros setores da sociedade contribuirá para a construção do conhecimento sobre o desenvolvimento da pós-graduação no Brasil.

Este é um estudo inicial sobre o PPGTE. Outros elementos e características do corpo docente e discente poderiam ser analisados. A faixa etária dos discentes, o nível sócio-econômico dos/as estudantes e o direcionamento dos/as egressos/as para o mercado de trabalho ou para a continuidade dos estudos poderiam fazer parte de trabalhos futuros.

Com relação a pergunta que se apresenta no título deste estudo podemos dizer que sim, o PPGTE é um Programa feito por eles para elas.

Referências

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Referências

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