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O advento das tecnologias da era pósindustrial

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Academic year: 2021

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3.2 AS CRISES DO CENÁRIO

O advento das tecnologias da era

pós-industrial

As tecnologias que ordenaram a era industrial foram ultrapassadas pelas novas tecnologias surgidas a partir do século XX, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial. Deste ponto de vista, essas inovações tecnológicas tornaram irremediavelmente ultrapassadas as tecnologias que caracterizaram a era industrial e as eras anteriores: a mecânica e a máquina; a física, a química e a biologia tradicionais; os conhecimentos, e seu uso. Portanto, tornaram inadequada a organização social que elas inspiraram ou que com elas convivem.

A fusão da matéria e o átomo; a nova Física e a Química fina; os avanços da Eletrônica; a Informática, a Tecnotrônica e a capacidade de comunicação; a penetração nos segredos da vida e a Engenharia Genética, esses novos conhecimentos, trouxeram um mundo radicalmente novo. Tão amplos e rápidos foram esses avanços que se pode dizer que o próprio átomo, por si só, já pertence aos conhecimentos do passado e a cibernética ameaça substituir, perigosamente, a inteligência humana; as comunicações já eliminaram o espaço, e a velocidade exponencial da mudança ameaça eliminar o tempo; a manipulação da vida, enfim, põe questões de uma dimensão jamais imaginadas pelo homem, a exigir que, inovadoramente, ele se debruce sobre elas como condição de sobrevivência.

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A organização da sociedade e de seus comportamentos, deveria ter se transformado junto, e no mesmo ritmo. As pequenas mudanças havidas, no entanto, de forma alguma ocorreram na mesma velocidade e nem de forma sistematizada, isto é, como conseqüência da capacidade humana de ordená-las, ou talvez até de percebê-las e antecipá-las. A adaptação da sociedade, de suas estruturas e comportamentos, a essa nova realidade, vem ocorrendo apenas – ou quase só, de forma desordenada e pontual, sem suficiente análise crítica, e sem um adequado esforço de sistematização. Ao contrário, o esforço se concentra em impor as proporosições do passado à realidade transformada. Por isso, a organização social não tem avançado. As formas de organização social e os comportamentos institucionalizados permanecem estratificados, quando não se opõem à transfor-mação, condicionando-a a seus interesses ou aos parâmetros impostos pelo passado. Ou, simplesmente, a organização social se desestrutura, os comportamentos individuais se tornam caóticos, inseguros ou anti-sociais.

Para se perceber a incompatibilidade entre esse processo e a dimensão das mudanças, trazidas pela tecnologia, basta pensar que, quando se consolidou a organização social vigente e as instituições e comportamentos que ela comporta, não existiam a interdependência, a globalização e os fatores que as determinam, nem a velocidade dos transportes e das comunicações, nem a eletrônica e as redes informatizadas, permitindo o império da comunicação e o controle da informação e dos processos; não existiam os sistemas de mídia, nem a engenharia

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genética, com seu poder de atuar sobre os princípios da vida, revolucionando tudo – a biologia, os comportamentos humanos, a ética, os processos; não havia os instrumentos ou sistemas globais, capazes de afetar a economia, os comportamentos e a cultura de todo o planeta, instantaneamente.

Entende-se, dessa forma, que as organizações e instituições, embasadas nas realidades e nos instrumentos anteriores a essas mudanças, não queiram, ou não sejam capazes, de promover as transformações impostas por esse mundo transformado.

Essas considerações levam à conclusão da importância de ter havido uma revolução na organização social, em seus fundamentos, suas estruturas, e comportamentos institucionalizados. Não houve.

Por isso tais instituições mantêm apenas uma sobrevida, herdada do passado e, por isso, também, sentem-se, e são incapazes de responder às exigências trazidas pela realidade transformada. A crise decorre disto; ou é isto.

A crise das ideologias da era industrial e de seus fundamentos

Dois princípios fundamentaram a organização social da era industrial: a competição e a concentração. Esses fundamentos, ou seja, a concentração e a competição, permanecem dando forma a organização social, apesar das transformações trazidas pela tecnologia. As mudanças introduzidas na organização social, de forma alguma tiveram a dimensão ocorrida no campo da tecnologia. Apenas receberam retoques de atualização, para que os referidos fundamentos – a

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competição e a concentração se tornassem mais eficientes, isto é, tornassem as instituições mais competitivas e mais capazes de produzir maior concentração. Portanto, as transformações havidas na organização social tiveram como objetivo fortalecer aqueles fundamentos, ou seja, impedir a mudança.

Esta constatação – parte da disritmia do processo – vale para as duas formas de organização social que ordenaram a era industrial: o capitalismo e as diversas formas de socialismo. No livro A Idade do Homem, e, depois, em Reflexões sobre a Educação∗, alongo-me

em demonstrar como essas duas formas de organização social, embora diferentes na aparência e na teoria, se identificam pela raiz, como gêmeas siamesas. Na prática, ambas buscaram, na concentração e na competição, as respectivas formas de organização da sociedade, eliminando competidores, fortalecendo-se a si mesmas, e buscando eliminar-se mutuamente, dentro da lógica da competição, a guerra fria.

Eliminado o socialismo em sua forma mais expressiva, a soviética, os mesmos fundamentos tendem a se aprofundar nas ideologias que sobreviveram, nos remanescentes do socialismo e no capitalismo. A derrocada do império soviético, ou a sobrevivência do comunismo chinês – mais sábio em se adaptar a um mundo comandado pelo capitalismo, mantém a concentração e a competição. Nos livros citados, afirmava que o socialismo, implantado em sua forma comunista, na prática vinha sendo mais concentrador que o próprio capitalismo, sendo o capitalismo menos concentrador, porque diluído em múltiplos grupos. A concentração maior do comunismo acabaria por inviabilizar primeiro este sistema. O esgotamento do capitalismo viria depois, mas seria inevitável, preconizava. A queda do socialismo em seu

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modelo comunista clássico – o da União Soviética e seus satélites, de fato, ocorreu, e de nada valeu a concentração de tudo nas mãos do Estado, concentração que tinha gerado uma formidável capacidade de competição, expressa na guerra fria, ou na corrida espacial. A concentração acabou, porque inviabilizou o funcionamento da sociedade e o monolitismo do sistema ruiu dentro da lógica dos fundamentos que o sustentavam: no contexto da concentração, a competição foi vencida pelos mais forte, e o menos competitivo acabou eliminado.

O que ocorrerá no próximo passo, com o competidor que resta, o bloco ou os blocos capitalistas? O que ocorrerá com os remanescentes do socialismo?

A verdade é que as questões básicas que afetam o mundo continuam se agravando. A exclusão de povos inteiros e de contingentes populacionais cada vez maiores, se torna, a cada dia, mais forte e os que ainda permanecem no processo se articulam para salvar sua capacidade de competição, através de blocos ou alianças de mercado, tentando sobreviver, ou prolongar a sobrevida, como mostra adiante o mapa n° 1.

Sobreviver por mais algum tempo, porque o antagonismo é inerente à concentração e à competição. Em nível de nações, nesta fase, elas se unem em blocos. Em nível interno, a sobrevivência dos grupos leva a uma concentração cada vez maior, repetindo-se o mesmo processo que ocorre na sociedade global. Enquanto isto, os excluídos aumentam em quantidade. Brevemente,

aumentarão em massa ÕÕ resultado da equação ÕÕ

quantidade ÕÕ dimensão da exclusão ÕÕ velocidade

do processo ÕÕ consciência e aumento dos laços

de união, ou solidariedade. A explosão, seja qual for a forma, tende a se tornar inevitável, porque as parcelas excluídas irão rejeitar cada vez mais o

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assistencialismo e não terão a paciência necessária para cultivar a esperança de que, algum dia, poderão vir a ser, também, beneficiadas com o processo, ou com suas sobras.

Mapa nº 01 – Etapa atual do processo: a ordenação do mundo em blocos regionais.

Se os que vierem a dominar o mundo imaginarem poder mantê-lo sob o domínio pelo emprego da força, estarão incidindo em lamentável equívoco e os resultados relativos de pequenas amostras de confronto, como Cuba, Vietnã e, mais recentemente, o Iraque ou a Iugoslávia mostram isto.

Na verdade, não se trata de saber de quanto poder dispõem nos desenvolvidos. Trata-se de saber quanto deste poder poderá ser utilizado, sem que se destrua o próprio Planeta e, portanto, aqueles que o empregam.

Afora as razões de ordem ética, é este limite do emprego do poder que põe, com armas diferentes, em pé de igualdade, os que concentram e os excluídos.

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Não há, pois, como imaginar que o mundo do terceiro milênio possa continuar se embasando na competição e na concentração. Esses fundamentos que embasaram a atual ordem mundial, como a que ordena no Brasil, estão entrando em processo de crise, que poderá se tornar rapidamente irreversível.

Referências

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