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As decisões de gestão dos ativos ambientais para a neutralidade carbónica, com base no SNC-AP

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Academic year: 2021

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As decisões de gestão dos ativos ambientais para a neutralidade carbónica,

com base no SNC-AP

Ricardo Pinheiro Resumo

Há muito que o Antropoceno nos confrontou com uma realidade que nos torna atores centrais de uma sociedade cada vez mais poderosa, mas também cada vez mais doente (Debord, 2004). Na verdade, de uma sociedade agrícola e artesanal, dominada pela natureza, passamos para uma sociedade industrial e capitalista (Servigne & Stevens, 2020). Em todas as suas fases, a Revolução Industrial teve como pedra angular a energia e os recursos energéticos. O consumo de recursos aumentou de forma tão exponencial que segundo Rosa (2013), estamos a assistir a uma diminuição no tempo e no espaço, tal é a aceleração social em que vivemos. Se nas diferentes fases industriais, a economia dependia dos recursos, hoje são os recursos que dependem da economia. Conscientes destas circunstâncias, os líderes mundiais, públicos e privados, passaram a colocar em todas as suas agendas de prioridades o combate às alterações climáticas e o desenvolvimento ambiental. Com a pandemia provocada pelo SARS-CoV-2, os líderes políticos, públicos e privados, perceberam que as decisões a tomar necessitam de ser sustentáveis, pelo que só uma visão integrada e que tenha em consideração os agentes infeciosos e outras ameaças ambientais permitirão desenvolver políticas que garantam, nos próximos anos, a preservação da espécie humana e a proteção do ecossistema (Barouki,Kogevinas & Audouze, 2021). Hoje, como nunca antes, há uma consciencialização de que vivemos numa sociedade de risco, onde já não há, nem pode haver, distinção entre natureza e sociedade (Beck, 2009).

Dado que o desenvolvimento sustentável passa, em primeiro lugar, por intervenções de investimento nos recursos, é fundamental que se proceda a uma inventariação dos ativos ambientais, para que se possa efetuar o planeamento da gestão deste património, de forma a uma utilização mais eficiente, eficaz, económica e sustentável. A estrutura dos ativos ambientais compreende as componentes individuais que podem fornecer recursos para uso na atividade económica. Os ativos ambientais individuais interagem como parte integrante dos ecossistemas. Geralmente, os recursos podem ser colhidos, extraídos ou transferidos para uso direto na produção económica, consumo ou acumulação. O sequestro de carbono é um importante serviço de regulação no ecossistema, com a retenção de dióxido de carbono da atmosfera. A mensuração do sequestro de carbono, seja da biomassa, das zonas húmidas ou dos solos, promove o fornecimento de informação, seja para o combate às alterações climáticas, no balanço com vista à neutralidade carbónica, como para a tomada de decisões, no que se refere ao uso ou preservação dos solos.

Palavras-chaves: contabilidade verde, SNC-AP, emissões GEE, sequestro de carbono, património verde, ativos ambientais

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O desenvolvimento sustentável

De uma sociedade agrícola e feudal, dominada pela natureza passamos para uma sociedade industrial e capitalista. Esta transição deveu-se às necessidades do aumenta na procura, em particular pelos bens essenciais alimentares. Este aumento da procura dos bens alimentares vem substituir, na agricultura, a força manual pela força mecânica. Os métodos artesanais são substituídos pelas máquinas nos métodos mecanizados. A madeira e outros biocombustíveis são substituídos pelo carvão, para produção de energia. A energia da água é substituída pela energia a vapor. Uma nova era cujo foco único e global centra-se na produção e no lucro. Assim assistimos, desde a primeira revolução industrial (1760-1900), a mais três fases. (Prisecaru, 2016)

Fonte: “Challenges of the fourth industrial revolution”

Em todas as fases da revolução industrial, a energia e os recursos energéticos desempenharam um papel preponderante, para o desenvolvimento da fase respetiva. Numa pré-revolução industrial, para além da energia da água, a predominância era proveniente da força humana, onde os recursos dominavam a economia. A energia não pode depender exclusivamente dos recursos. Se nas diferentes fases industriais, a economia depende dos recursos, agora os recursos dependem da economia. O ciclo da economia está agora a tender a fechar, ou voltar ao conceito pré-revolução industrial, no que respeita à importância dos recursos.

A preparação da próxima revolução industrial, no World Economic Forum (WEF), em Davos, corria o ano de 2016, discutiu-se se esta seria uma nova fase industrial, ou se apenas estaríamos perante um up-grade da terceira fase industrial. A primeira revolução introduz a energia a vapor. A segunda fase industrial caracteriza-se pela introdução da energia elétrica, em substituição do vapor na mecânica. Na terceira revolução substituiu-se a mecânica pelo digital. Numa primeira interpretação “(...) porquê, então, uma Quarta Revolução Industrial?” (Rifkin, 2016) e quais os pressupostos para uma nova revolução? As novas tecnologias, a internet e a redução da dependência dos combustíveis fósseis, foram os principais fatores que Judith Magyar, da “SAP Community Networks”, em Davos 2016, identificou para uma nova revolução industrial. Gary Coleman, da “Deloitte Consulting”, entre outros, acrescentam os fatores como a robótica, os sensores, a inteligência artificial, a nanotecnologia, a computação quântica e a automação nos automóveis. Certo é que as revoluções industriais assentam em políticas e instrumentos que contribuam para o desenvolvimento económico. Prova disso, foi o desinteresse demonstrado em todas as “Conferências das Nações Unidas para as Alterações Climáticas” (COP), ou mesmo em Davos no WEF2016, pelo menos até a ratificação do Acordo de Paris, na COP21 em dezembro 2015. O ano 2015 fica também registado com a definição da Agenda 2030, constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), integrando e envolvendo os três vetores: o social, o económico e o ambiental. Embora este tema tenha

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“Dimitrie Cantemir” Christian University

Knowledge Horizons - Economics

Volume 8, No. 1, pp. 57–62 P-ISSN: 2069-0932, E-ISSN: 2066-1061 © 2016 Pro Universitaria www.orizonturi.ucdc.ro

CHALLENGES OF THE FOURTH INDUSTRIAL REVOLUTION

Petre PRISECARU

Senior Researcher, Institute for World Economy, Romanian Academy

Abstract The article presents the main features of the fourth industrial revolution

based on some experts opinions, the most important papers delivered and debated at Davos World Economic Forum in 2016 on the theme of this revolution and some estimation regarding the impact/effects of this

last phase of industrial development in the world. Key words:

Industrial revolution, technology, innovation, jobs, growth, social impact

JEL Codes:

L16, L52, L53, O14, O15, O25, O33

1. The third or the fourth industrial revolution?

Once started in the mid eighteenth century with the invention of the steam engine, the industrial revolution witnessed several phases or steps that allowed the transition from a farming and feudal society to an industrial and capitalist society and then to post industrial or services society, with the gradual release of labor force from physical activity and mental efforts afterwards in favor of more striking creativity. Phases or cycles of industrial revolution entered the literature as the first, second, third industrial revolution and had certain characteristics related to the predominance of specific energy resources, technical achievements with

major effects in economy, means of public transport developed or modernized. This year at Davos it has been much talk about the fourth industrial revolution within the World Economic Forum, but some consecrated authors such as Jeremy Rifkin, had considered previously that we are in front of the third industrial revolution and at the end of the second revolution, that would imply the third phase presented in the Table no. 1 is only an extension of the second phase. In Table no. 1, I made a short presentation of the main features of the industrial revolutions in the period 1760-2015.

Table 1. Main characteristics of industrial revolutions

Period Transition period Energy resource technical achievement Main Main developed industries Transport means

I.1760-1900 1860-1900 Coal Steam engine Textile, Steel Train

II.1900-1960 1940-1960 Oil, Electricity Internal combustion engine Machine Building Metallurgy, Auto, Train, Car III.1960-2000 1980-2000 Nuclear Energy, Natural Gas Computers, Robots Auto, Chemistry Car, Plane IV.2000- ... 2000-2010 Green Energies Genetic Engineering Internet, 3D Printer, High Tech Industries Electric Car, Ultra

Fast Train

Source: Created by author based on specific literature

Whether it is or not the third or the fourth industrial revolution, this new cycle is based on Internet and green energies, the first allowing easy access to information and easy trade for goods and services and the latest diminishing energy impact on the environment. Combining these two leads in the vision of Jeremy Rifkin in establishing the defining

elements of the so-called new industrial revolution: firstly it would shift from fossil fuels to renewables; secondly it is going to transform the building stock of every continent into green microplants to collect renewable energies onsite; thirdly it would be the use of hydrogen and other storage technologies in every building and entire infrastructure to store intermittent

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sido abordado em Davos, não foi considerado preponderante para uma quarta revolução industrial. Alguns cientistas denominam uma era antropogénica, cuja atividade humana influência as alterações do clima e todos os ecossistemas.

Com a assinatura do Acordo de Paris, os líderes mundiais, públicos e privados, passaram a colocar, em todas as suas agendas de prioridades, o combate às alterações climáticas e o desenvolvimento ambiental. Tal como noutros fóruns, o WEF2018 não foi diferente. Demonstrado pela principal intervenção do Primeiro-Ministro Indiano, Narendra Modi, líder da maior economia crescente do mundo, alertando que as alterações climáticas são a maior ameaça à civilização atual. Novos líderes, sejam ativistas e ambientalistas, surgiram a partir de 2018 nas reuniões em Davos. O WEF surge com plataformas temáticas de discussão e ideias, como exemplo a plataforma “Shaping the future of global goods”, que pretende levar ao WEF o desenvolvimento ambiental, em particular os impactes da economia nos sistemas ecológicos e o cumprimento dos ODS e do Acordo de Paris. Surgem agora metas políticas para a redução das emissões de GEE, pelos líderes políticos, até 2021. Mas, enquanto alguns Estados definiam metas para combater as alterações climáticas, mais afincadamente, outros estavam mais reticentes, como o caso dos EUA, onde o Presidente Donald Trump decidiu, em 2019 sair do Acordo de Paris.

Perante os diferentes ritmos de implementação de metas para o combate às alterações climáticas, surge o excecional ano de 2020. O SARS-CoV-2 veio definitivamente mudar as prioridades económicas mundiais. As consequências, em termos ambientais, foram muito significativas, sendo as medidas de combate ao SARS-CoV-2 responsáveis pela diminuição das emissões poluentes, como o CO2 e o NO2, para a atmosfera.

Densidade de NO2 troposférico em Wuhan em μmol/m2

Fonte: Carbon Brief

Os impactes registaram-se também na hidrosfera, onde, por exemplo, foram registadas diminuições da poluição das águas em Veneza, que levou ao aumento da quantidade de seres vivos. Estes impactes devem-se à diminuição das emissões de GEE na utilização dos aviões e outros transportes terrestres e marítimos, bem como do fecho de fábricas e refinarias. Mesmo assim, os dados do clima de 2020 continuam a ser preocupantes, em particular o aumento da temperatura.

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Fonte: Estado do clima 2020 (Carbon Brief)

As temperaturas registadas em 2020 representam o sétimo ano consecutivo, em que as temperaturas são superiores a 1C acimas dos níveis pré-revolução industrial.

Fonte: Estado do clima 2020 (Carbon Brief)

Numa análise das projeções futuras até 2100, através de um modelo combinado da temperatura do ar na superfície da terra, com as temperaturas da superfície do mar no oceano, verifica-se a preocupação dos cientistas para as consequências alarmantes nas alterações climáticas. Tal como, na referida intervenção do Primeiro-Ministro Indiano, Narendra Modi,

“...a maior ameaça à civilização de que há memória”.

A revolução industrial interfere, definitivamente, na esfera ambiental e social. O desenvolvimento económico está intimamente integrado no desenvolvimento social e ambiental. Nos últimos dois anos, os líderes políticos, públicos e privados, perceberam que, para tomar decisões integradas na definição de metas, nomeadamente na redução das emissões de GEE ou na desaceleração do aumento da temperatura global, ou mesmo para o combate à pobreza e a preservação dos ecossistemas, é necessário recolher dados integrados. Nas discussões mais atuais para as medidas excecionais a implementar na fase recuperação

pós-SARS-CoV-2, tal como constatamos nas medidas da recuperação da II Guerra Mundial, estas devem responder às exigências que promovam o desenvolvimento sustentável, com a implementação das metas do Acordo de Paris e dos ODS.

13/02/2021 Situação do clima: 2020 como o ano mais quente já registrado | Carbon Brief

https://www.carbonbrief.org/state-of-the-climate-2020-ties-as-warmest-year-on-record 2/19 (https://iri.columbia.edu/our-expertise/climate/forecasts/enso/current/?enso_tab=enso-sst_table) por um modesto evento La Niña que provavelmente teve uma in uência natural de resfriamento na segunda metade do ano.  É notável que um ano La Niña possa se igualar ao calor de um dos El Niños mais fortes já registrados há apenas alguns anos - ilustrando o poderoso impacto que as emissões humanas de gases de efeito estufa estão tendo nas temperaturas globais.

Os registros da temperatura da superfície global podem ser calculados (https://www.carbonbrief.org/explainer-how-do-scientists-measure-global-temperature) até 1850, embora alguns grupos optem por iniciar seus registros em 1880, quando mais dados estavam disponíveis. Antes de 1850, os registros existem para algumas regiões especí cas, mas não são su cientemente difundidos para calcular as temperaturas globais com qualquer precisão razoável. Esses registros são criados pela combinação de medições baseadas em navios e bóias

(https://www.carbonbrief.org/explainer-how-data-adjustments-affect-global-temperature-records) das temperaturas da superfície do mar do oceano com leituras de temperatura da temperatura do ar na superfície de estações meteorológicas em terra (Copernicus ERA5 é uma exceção, pois usa reanálise

(https://reanalyses.org/#:~:text=Reanalysis%20is%20a%20scienti c%20method,the%20state%20of%20the%20system.) baseada em modelos meteorológicos ). 

O grá co a seguir mostra os registros da temperatura global desde 1850, com as temperaturas mostradas em relação ao período 1880-1899 para destacar o aquecimento desde o período pré-industrial

(https://www.carbonbrief.org/challenge-de ning-pre-industrial-era) .

Temperaturas super ciais médias globais anuais de 1850-2020. Dados da NASA GISTEMP (https://data.giss.nasa.gov/gistemp/) , NOAA GlobalTemp

(https://www.ncdc.noaa.gov/monitoring-references/faq/anomalies.php) , Hadley / UEA HadCRUT5 (https://www.metof ce.gov.uk/hadobs/hadcrut5/) , Berkeley Earth (http://berkeleyearth.org/data/) e registro de temperatura bruta do Carbon Brief. Temperaturas de 1979-2000 do Copernicus ERA5 (https://climate.copernicus.eu/2020-warmest-year-record-europe-globally-2020-ties-2016-warmest-year-recorded) (já que o registro de reanálise começa em 1979). Anomalias plotadas em relação a uma linha de base de 1880-1899 para mostrar o aquecimento desde o período pré-industrial. Grá co por Carbon Brief usando Highcharts (https://www.highcharts.com/) .

D eg re es C r el at iv e to t he 1 88 0-18 99 a ve ra ge

Global surface temperature records, 1850-2020

NASA Hadley/UEA NOAA Berkeley Copernicus ERA5 Raw Records

1850 1875 1900 1925 1950 1975 2000 -0.3 0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 Privacidade - Termos de Utilização

13/02/2021 Situação do clima: 2020 como o ano mais quente já registrado | Carbon Brief

https://www.carbonbrief.org/state-of-the-climate-2020-ties-as-warmest-year-on-record 8/19

A gura abaixo mostra a gama de projeções de modelos CMIP5 individuais desde 1850, bem como projeções futuras até 2100 sob o cenário de emissões RCP4.5 (https://link.springer.com/article/10.1007/s10584-011-0151-4) no meio do caminho . A linha preta mostra a média de 38 modelos diferentes, enquanto a área cinza mostra a faixa de 95% ( dois sigma (https://en.wikipedia.org/wiki/Standard_deviation) ) das projeções do modelo. As temperaturas observacionais são plotadas no topo dos dados do modelo climático, com os registros observacionais individuais representados por linhas coloridas.

Temperaturas super ciais médias globais anuais de modelos CMIP5 (https://www.wcrp-climate.org/wgcm-cmip/wgcm-cmip5) e observações entre 1850 e 2100 (até 2020 para observações). Os modelos usam o cenário RCP4.5 (https://link.springer.com/article/10.1007/s10584-011-0151-4) após 2005. Eles incluem as temperaturas da superfície do mar sobre os oceanos e as temperaturas do ar na superfície da terra para corresponder ao que é medido por observações

(http://www-users.york.ac.uk/~kdc3/papers/robust2015/background.html) . Anomalias plotadas em relação a uma linha de base de 1981-2010. Grá co por Carbon Brief usando Highcharts (https://www.highcharts.com/) .

Os resultados do modelo climático mostrados aqui são combinados - isto é, eles combinam a temperatura do ar na superfície da terra com as temperaturas da superfície do mar no oceano da mesma forma que são medidos no registro climático observacional. Isso permite uma comparação mais precisa

(https://www-users.york.ac.uk/~kdc3/papers/robust2015/background.html) dos dois. 

As observações estão bem dentro da faixa de projeções do modelo climático CMIP5 nos últimos 170 anos. As temperaturas em 2020 estão bem próximas da média do modelo. A gura abaixo mostra uma visão ampliada dos modelos e observações do clima dos últimos 70 anos (1950-2020). Ele também inclui uma linha preta tracejada mostrando os resultados do modelo não misturado (por exemplo, temperaturas globais do ar na superfície).

D eg re es C a no m al y, 19 81 -2 01 0 ba se lin e

Global surface temperatures 1850-2100: climate models and observations

NASA Hadley/UEA NOAA Berkeley Copernicus Model Avg Blend

1850 1900 1950 2000 2050 2100 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 Privacidade - Termos de Utilização

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Já durante a II Guerra Mundial, foram utilizadas estimativas, pioneiras, de Produto Interno Bruto (PIB) para as decisões, do Reino Unido e dos EUA para planear a guerra. Na recuperação económica, no fim da II Guerra Mundial, foram implementados os primeiros sistemas de contabilidade aceites internacionalmente, promovidos pelas Nações Unidades em diversos estados espalhados pelo mundo. A primeira versão do System of National Accounts surgiu em 1953, com mais três atualizações (1968, 1993 e 2008) e a última versão, apresentada pela Comissão Europeia, é de 2009. Agora com a implementação de medidas de recuperação do pós-SARS-CoV-2, é também necessário focar nos sistemas de contabilidade, por forma a ir de encontro às necessidades da implementação dos ODS e de cumprimento do Acordo de Paris. O próprio Acordo de Paris refere a importância da implementação de regras de contabilização dos recursos financeiros e das emissões.

No webinar promovido pelo System of Environmental-Economic Accounting (SEEA), em 15 de dezembro de 2020, sob o tema “Building Back Better: Natural Capital Accounting

for a Green Recovery”, concluiu que há uma necessidade urgente de implementação de uma

contabilidade do capital natural, pois assim produzem-se dados integrados, para as decisões integradas, nas três dimensões do desenvolvimento sustentável, o económico, o social e o ambiental. A importância da introdução de contas dos ativos de capital natural, mencionada pelo Professor Sir Partha Dasgupta, surge pelo impacte em que, as decisões futuras terão nesses ativos. Além disso, ele apontou que, “os decisores políticos em todo o mundo precisam de estar cientes de que a contabilidade do capital natural é crítica, porque os ajuda a tomar decisões com suporte”.

O SEEA Ecosystems Accouting apresentou à UN Statistical Commission, em 5 de março de 2021, uma proposta padronizada para a integração dos ecossistemas e do meio ambiente, nos sistemas de contabilidade, que foi aceite. Através da análise do primeiro draft das conclusões apresentado da 52ª sessão da UN Statistical Commission, a Decision 8:

Environmental-economic accounting (Item 3f) incentiva os países a implementarem o SEEA Ecosystems Accouting, não experimentalmente, mas sim uma adoção definitiva.

O SEEA-CF identifica três tipos de contas relacionadas com a gestão dos recursos: (1) contas dos fluxos dos ativos ambientais, (2) contas de ativos ambientais e (3) contas dos serviços dos ecossistemas, que promovam a economia verde. Os ativos ambientais constituem os seres vivos e não-vivos da Terra, que no seu conjunto constituem o ambiente biofísico, que pode trazer benefícios para a humanidade (SEEA Central Framework). Os ativos ambientais de um país, são mensurados nas contas de ativos. A inventariação do património natural ou ativos ambientais “(...) é fundamental para o planeamento da gestão deste património, de forma a uma utilização mais eficiente, eficaz, económica e sustentável. O desenvolvimento sustentável passa, em primeiro lugar, por intervenções de investimento nos recursos.” (Pinheiro & Cunha 2016) Os líderes políticos têm como missão administrar esses ativos e recursos de forma sustentável. Os ativos ambientais devem ser classificados e valorados como de proteção ou de produção. Os recursos não renováveis são esgotáveis, assim a sua gestão deve ser de responsabilidade reforçada. A intervenção humana irresponsável nos recursos, provoca danos ambientais, por vezes irreparáveis. A administração pública, em particular as autarquias locais, “devem evoluir para um sistema contabilístico ambiental que lhes permita avaliar a sua gestão ambiental efetivamente, incluindo também os ativos e passivos que lhe estão afetos.

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A mensuração e valoração da neutralidade carbónica

As alterações climáticas, de origem antropogénico, estão a condicionar mudanças sociais e económicas. O efeito significativo antropogénico nesta mudança de paradigma, cria uma oportunidade para o desenvolvimento de novos estudos científicos no domínio da contabilidade. A contabilidade ambiental está presente numa perspetiva de gastos ambientais, ou investimentos que minimizem os impactes ambientais gerados pelas empresas. Nas entidades públicas os gastos ambientais estão focados na competência de cada entidade, veja-se o caso das autarquias locais, que veja-se repreveja-sentam como gastos, na competência ambiental, a recolha do lixo, a manutenção de jardins, entre outros deste género.

Os gastos ambientais realizados pelas empresas e pelas entidades públicas, na União Europeia, têm a classificação EPEA (Environmental Protection Expenditure Accounts). Os serviços com a proteção do ambiente são classificados por atividades CEPA 2000 (Classification of environmental protection activities).

De acordo com os dados do Eurostat, de 2006 a 2019, os gastos e investimentos ambientais aumentaram 34%. Esta tendência, tem um crescimento idêntico ao do PIB (GDP). Os investimentos com a proteção ambiental diminuíram 13%. Em 2019 a crise financeira motivou uma diminuição nos investimentos globais dos Estados-Membros, incluindo os de proteção ambiental. Nos últimos anos, os investimentos globais recuperaram a tendência crescente, ao invés os investimentos ambientais têm uma tendência negativa. O aumento da consciência para combater as alterações climáticas, preservar a natureza e os ecossistemas, tem levado a um aumento na disponibilização de produtos “amigos do ambiente”. As entidades públicas têm planeado um aumento significado no investimento neste combate, cada vez mais urgente. A classificação e análise dos gastos ambientais e da proteção ambiental aumenta a responsabilização e a implementação do conceito do “princípio poluidor-pagador”.

Por outro lado, e mais recentemente, há uma preocupação maior com a criação de regras e metodologia para a contabilidade do carbono. Uma contabilidade não financeira, cujo objetivo é o relato integrado de informação, em particular, de emissões e remoções de GEE. O novo paradigma nesta revolução verde, é a influência antropogénica nos sistemas ambientais, sociais

Key indicators for environmental protection

Figure 1: Key environmental protection and economic indicators, EU-27, 2006–2019

(2006=100)Source: Eurostat (env_ac_epneis), (env_ac_epite) and (nama_10_gdp)

National expenditure on environmental protection(’NEEP’) measures the resources used by resident units in a given period for protecting the natural environment. It is calculated as a sum of current expenditure on envi-ronmental protection (EP) activities and investments for EP activities, including net transfers to the rest of the world.According to Eurostat’s estimates, from 2006 to 2019, EU-27 expenditure on environmental protection, measured by the NEEP aggregate, increased by 34 % following the overall trend of gross domestic product (GDP)(see Figure 1). In the two more recent years (2018-2019), NEEP’s increase was, however, slightly lower than the one of GDP.

In the same period (2006-2019), investments for environmental protection decreased by 13 %. The trend observed for environmental protection investments is quite different from the one observed for total invest-ments in the economy, notably for some specific years (such as in 2006, 2009 and 2016). In 2009, the financial crisis appears to have hit the total investments in the economy much stronger than the environmental pro-tection investments. The latter, however, continued to decrease in most of the subsequent years, once the non-environmental protection investments had already recovered and, consequently, the total investments re-mained stable or started to rise. In particular, in 2016 a large decrease of environmental protection investments is observed following a reduction of these investments in almost all Member States.

National expenditure on environmental protection

In 2019,EU-27national expenditure on environmental protection amounted to EUR 269billion, according to Eurostat’s estimates.

From 2006 to 2019, NEEP at current prices increased overall by 34 %, rising on average by nearly 2 % each year (see Figure 2, left-hand scale).

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e económicos. A contabilidade verde tem de preparar a informação não financeira e mensurar a informação financeira, seja na contabilidade de gestão como na contabilidade financeira ou patrimonial. Esta nova era em que, já se percebeu, que as decisões económicas têm impactes ambientais e sociais, a contabilidade tem de estar preparada para apoiar nas decisões de gestões, por forma a que os impactes económicos, sociais e ambientais, dessas decisões, respeitem os princípios da economia, da eficiência e da eficácia da entidade, mas também os princípios de responsabilidade económica, social e ambiental na sua envolvente.

Portugal assumiu a meta da neutralidade carbónica até 2050, durante a Conferência da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), em 2016. Neste sentido, desenvolveu o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050), que define as políticas e instrumentos para cumprir a meta, durante este prazo. O RNC2050 vai de encontro às linhas orientadoras e conclusões do Intergovernmental Panel on Climate Change

(IPCC), para que a redução das emissões de GEE, tendo um maior significado no horizonte 2030.

Desde 1995, que a Comissão Europeia vem alertando para a necessidade crescente de uma contabilidade ambiental e da necessidade de esta incluir o valor monetário associado à utilização e esgotamento dos recursos naturais. A contabilidade verde tem por objetivo preparar informação credível e transparente referente ao volume das emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) e às ações desempenhadas pelas entidades públicas e privadas, com vista à sua redução. Além disso, deve evidenciar e proceder ao reconhecimento e valorização do património verde que, contribui para o sequestro de carbono. A contabilidade nacional, através do Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC-AP), em particular na Norma de Contabilidade Pública n.º 27 (NCP 27) – Contabilidade de Gestão, apresenta uma ferramenta inovadora, de mensuração dos compromissos de sustentabilidade, para cumprimento das metas das políticas internacionais e nacionais, nomeadamente o Acordo de Paris e o RNC2050, respetivamente, com vista à neutralidade carbónica. No entanto, ainda falta uma definição de metodologias, de valoração dos serviços dos ecossistemas e da sua propriedade. As contas de fluxos dos ativos ambientais, conforme proposto pelo SEEA-CF, refletem a introdução dos imputs de recursos naturais, tais como matérias-primas, madeira ou água, na economia. O retorno no ciclo respetivo será, para além dos outputs produzidos, nos impactes no ambiente, como por exemplo as emissões de GEE, com a queima de combustíveis fósseis.

Fonte: SEEA – Central Framework (Unietd Nations et al., 2014a)

| 49 The SEEA-CF brings together, in a single measurement

system, information natural resources, pollution and waste, production, consumption and accumulation. The SEEA-CF is composed of several subsystems which focus on specific areas of policy interest. For example, SEEA-Water is the conceptual framework and set of accounts which present hydrological information alongside economic information. SEEA-Water supports the analyses of the role of water within the economy and of the relationship between the environment and water-related activities, thereby supporting integrated water management. Other subsystems include agriculture, forestry and fisheries air emissions energy environmental activity land material flow and waste.

In practice, environmental-economic accounting includes the compilation of physical and monetary supply and use tables, functional accounts (such as environmental protection expenditure, taxes and subsidies accounts) and physical and monetary asset accounts. To assess how the economy supplies and uses natural inputs, SEEA accounts disaggregate flows by different units of production (industries as categorized by the International Standard Industrial

Classification17 and households). Data for SEE

accounts is usually collected from business and household surveys related to resource extraction and use.

SUPPLY AND USE TABLES

Supply and use tables in the SEE -CF record the flows of natural inputs (e.g. flows of minerals, timber, fish and water), products and residuals (e.g. solid waste, air emissions and return flows of water) in both physical and monetary terms. In recording these flows, the SEEA-CF provides information on the amount and value of materials, water and energy that enter and leave the economy and flows of materials, water and energy

within the economy itself. By providing information disaggregated by industries and households, supply and use tables provide valuable information on production and consumption patterns and changes in these patterns over time, as well as changes in the productivity and intensity of the use of natural inputs and the release of residuals.

17 See https://unstats.un.org/unsd/publication/seriesM/seriesm_4rev4e.pdf.

Figure 1. Physical flows of natural inputs, products and residuals

Source: SEEA-Central Framework (United Nations et al., 2014a)

ECONOMY ENVIRONMENT

Natural inputs (including mineral resources, timber resources, aquatic resources and water resources) Residuals (including air emissions and return flows of water)

Products (goods and services produced and consumed in the economy)

Industries Households Government

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O ciclo do carbono é a base da mensuração do carbono na contabilidade verde. (Pinheiro & Cunha 2019). O SNC-AP, com a adaptação das IPSAS, inova na contabilidade ambiental ao defender a adoção de uma contabilidade verde, tendo por base a Norma de Contabilidade Pública n.º 27 (NCP 27) – Contabilidade de Gestão. A contabilidade verde considera, para além dos gastos ambientais, os recursos e os ativos ambientais, bem como a preparação da informação, com vista à melhor avaliação da economia, eficiência e eficácia das políticas públicas. (Pinheiro & Sandra 2019). A conta 9244 regista os ativos ambientais relacionados com créditos gerados com a redução de gases de efeito estufa. Por exemplo, o investimento na plantação de árvores, pode ser considerado um investimento ambiental, que será́ reconhecido na contabilidade financeira.

O IPCC de 2006, revisto em 2019, define as diretrizes para os inventários nacionais de gases com efeito de estufa, para as emissões antropogénicas e as remoções ou sequestro. O objetivo geral é fornecer uma base científica, atualizada e sólida, para apoiar a preparação e melhoria continua dos inventários nacionais de GEE. As emissões e remoções antropogénicas resultam da atividade humana. As diretrizes para os inventários nacionais de gases com efeito de estufa (IPCC 2006), permitem fornecer dados de emissões e remoção de GEE, para as tomadas de decisão, com vista a combater as alterações climáticas, através da redução de GEE. O SNC-AP na NCP 27 permite mensurar na contabilidade nacional, através da contabilidade de gestão, os inventários de emissões e remoções de GEE. A contabilidade de gestão deve proporcionar informação sobre “Os ativos ambientais relacionados com créditos gerados com a redução de gases de efeitos de estufa”, fornecendo informação financeira, para a tomada de decisão de investimento na redução de emissão de GEE, bem como no investimento para aumentar a remoção dos GEE, em particular o sequestro de carbono, através de informação não financeira, ou seja, dos inventários das emissões e das remoções de GEE.

A contabilidade pública e a decisão publica cinge-se ao orçamento de estado e ao deficit orçamental. O Orçamento de Estado, tendo como base a contabilidade orçamental, que assenta basicamente nas despesas e receitas de um determinado ano económica, acrescido dos compromissos assumidos. A tardia implementação do POCP e respetivos Planos Setoriais, forçou a implementação da uma contabilidade patrimonial e nalguns casos uma contabilidade de gestão. Uma contabilidade de gestão limitada à contabilidade analítica, mas surgiu a necessidade de criar metodologias de calculo, para os custos dos serviços públicos prestados pelo Estado, como forma de avaliação do próprio serviços prestados, como para o cálculo das respetivas taxas.

De salientar que, relativamente ao ambiente, a contabilidade de gestão apenas controla os gastos e rendimentos associados à gestão ambiental, cabendo à contabilidade financeira informar sobre os investimentos ambientais de caracter duradouro que deverão estar refletidos no balanço como ativos fixos tangíveis ou intangíveis, bem como os passivos inerentes. Assim, por exemplo, no caso da conta 9241 – Associados a investimentos adicionais em equipamentos e formação, registam-se apenas os gastos referentes ao uso periódico dos investimentos realizados, tais como, depreciações, manutenção, consumíveis, etc., sendo o valor do investimento registado como um ativo ambiental na contabilidade financeira. (Galvão & Teixeira 2019)

A “representação contabilística das receitas, despesas, ativos, passivos, rendimentos e gastos que se referem ao Estado, enquanto ente soberano em que diferentes agentes atuam por sua conta e nome” para implementação da Entidade Contabilística Estado (ECE), é condição necessária, para a plena aplicação do SNC-AP e da LEO, permitir uma visão integrada das finanças das administrações públicas. A Entidade de serviços Partilhados da Administração Pública (eSPap) em auditoria à implementação do SNC-AP e da ECE, em outubro 2018, numa das componentes detetou que não foram adaptados os “rendimentos e gastos ambientais”.

(9)

Desde 1995, com a publicação da Diretiva 2014/95/EU, a diretiva de relato não financeiro (NFRD), estabelece as normas para a divulgação de informação não financeira, a aplicar às grandes empresas, nos domínios ambiental, social e transparência, nos seus relatórios anuais. Atualmente, as normas mais utilizadas nas organizações da EU são da GRI, embora o

European Financial Reporting Group (EFRAG) está a desenvolver, através de grupos de

trabalho, os modelos dos relatórios financeiros de futuro. Estes trabalhos são agora mais necessários, atendendo à particular vertente da sustentabilidade.

Atualmente é dedicado às análises de responsabilidade ambiental, a gestão ambiental, com base nas despesas de proteção do ambiente. Nomeadamente a redução da poluição (ar, água, solo e ruído), gestão de resíduos e águas residuais, proteção da biodiversidade, bem como pesquisa e desenvolvimento, educação e formação. A proximidade às necessidades e eventos ambientais e às pessoas, pelas autarquias locais, leva a estas entidades desempenharem um papel preponderante na resposta e prevenção. (Fünfgeld & McEvoy, 2014; van den Berg & Coenen, 2012; Mees, 2017). As autarquias locais, sendo o nível do governo mais próximo da comunidade local, assumem um papel socioambiental de extrema importância. (Galvão & Teixeira, 2019)

Ativos ambientais no SNC-AP

Para assegurar um desenvolvimento sustentável é crucial que, o desempenho e desenvolvimento de um país, integrem não só as questões económicas, como também questões ambientais e sociais. Dado que o desenvolvimento sustentável passa, em primeiro lugar, por intervenções de investimento nos recursos, é fundamental que se proceda a uma inventariação dos bens ambientais, para que se possa efetuar o planeamento da gestão deste património, de forma a uma utilização mais eficiente, eficaz, económica e sustentável.

Fonte: Mensuração da Sustentabilidade a partir de informação não financeira

A inventariação dos ativos ambientais será o primeiro passo para (1) identificar o património ambiental de um país, seja de proteção ou de produção, (2) quantificar o recurso respetivo, pela sua função e valorar pelo enquadramento no mercado financeiro respetivo ou a intervenção do proprietário na sua preservação ou manutenção.

12

Figura 1 – Processo de inventário do Património Ambiental

Este processo permitirá que o património ambiental intervencionável, por projetos de desenvolvimento sustentável, esteja identificado e mensurado nas demonstrações financeiras da entidade pública respetiva. A inventariação e valorização do património natural estão previstas no Cadastro e Inventário dos Bens do Estado (CIBE) publicado na Portaria 671/2000, de 17 de abril. O CIBE prevê um Cadastro e Inventário dos Imóveis e Direitos do Estado, de imóveis rústicos de domínio público ou privado, onde inclui os terrenos destinados à agricultura, silvicultura e floresta, bem como o capital arbóreo ou de outras plantações. Inclui ainda os terrenos integrados na rede nacional de áreas protegidas, bem como o capital arbóreo de proteção, a la a e de bi di e idade. Na cla ifica de i ei , i cl i a i i a ural e os terrenos e águas territoriais. As avaliações deste património devem basear-se nos preços correntes de mercado e identificar os valores de forma autónoma. Ora, atendendo às características do património natural, sendo este principalmente inalienável, podemos apenas avaliar o seu potencial de produção, como por exemplo o capital arbóreo florestal para produção.

O Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de agosto, define as regras gerais e comuns sobre a gestão dos bens imóveis do domínio público, bem como o regime jurídico da gestão dos bens imóveis do domínio privado do Estado. Este diploma legal estabelece para efeitos de inventariação, regras de coordenação, gestão patrimonial e de informação sobre os bens imóveis. Neste sentido, o Conselho de Ministros aprovou a Resolução n.º 162/2008, de 24 de outubro, aprovando o Programa de Gestão do Património Imobiliário (PGPI) 2008-2012, para prossecução das medidas previstas no Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de agosto, bem como a integral execução do POCP ou do respetivo Plano Setorial. Embora o PGPI incida também sobre os imóveis de domínio público, instruindo a necessidade de um instrumento legislativo próprio, a aprovar pelo Governo até 31 de dezembro de 2008. Em 2009 iniciou-se um processo legislativo para regulamentar esta lacuna na gestão do património

Le

van

tamen

to

Terrenos destinados •agricultura •silvicultura •floresta

•Rede Nacional Áreas Protegidas Capital arbóreo de produção Capital arbóreo de proteção Outras plantações de produção Outras plantações de proteção ou de biodiversidade Património natural terrestre Património natural marinho

Id

en

tificaç

ão

Identificar os titulares dos bens

V

al

or

iz

ão

Inventariar os créditos de carbono, com base no sequestro de carbono, de cada bem individualmente Valorizar ao preço de mercado

Mens

u

raç

ão

Os creditos calculados, serão mensurados nas demonstrações financeiras da entidade titular do bem

(10)

A complexidade da inventariação dos ativos ambientais, devido às políticas da biodiversidade, está em particular na valoração, nomeadamente, dos seres vivos de proteção, mas também na quantidade muito significativa de dados para a identificação e quantificação. Os ativos ambientais individuais integram ecossistemas complexos e coletivos. A integração de dados ambientais na inventariação dos ativos e serviços ambientais, com dados económicos e sociais permite uma tomada de decisão integradora e responsável.

A estrutura dos ativos ambientais, compreende as componentes individuais que podem fornecer recursos para uso na atividade económica. Os ativos ambientais individuais interagem como parte integrante dos ecossistemas. Geralmente, os recursos podem ser colhidos, extraídos ou transferidos para uso direto na produção económica, consumo ou acumulação. O sequestro de carbono é um importante serviço de regulação no ecossistema, com a retenção de dióxido de carbono da atmosfera. A mensuração do sequestro de carbono, seja da biomassa, das zonas húmidas ou dos solos, promove o fornecimento de informação, seja para o combate às alterações climáticas, no balanço com vista à neutralidade carbónica, como para a tomada de decisões no que refere ao uso ou preservação dos solos. O aumento do sequestro de carbono depende de um ordenamento e gestão florestas eficiente, mas também do restabelecimento da matéria orgânica dos solos.

A identificação dos ativos ambientais engloba o ecossistema de um determinado território, que pode incluir floresta ou outra flora, fauna, geologia ou sistemas hídricos. Um determinado ecossistema de um determinado território, deverá ser considerado como o ativo ambiental de domínio público, independentemente de existirem parcelas de domínio privado, nomeadamente de produção, atendendo ao seu interesse público. Ou seja, um determinado território que engloba um conjunto de propriedades florestais de produção privada, deverá ser inventariado e mensurado no património público pelo serviço de ecossistema que presta, independentemente da(s) propriedade(s). O proprietário privado detém e regista o respetivo ativo para a sua produção e o Estado mensura o ecossistema, o conjunto das propriedades privadas. Por exemplo, um perímetro florestal, enquadrado no Regime Florestal, engloba proprietários privados, sejam comunitários (baldios) ou particulares, mas o Estado detém a gestão total ou em co-gestão. A conservação e proteção da floresta e dos sistemas naturais associados, é da competência do Estado, promovendo este, ações para o seu cumprimento. Neste sentido, o Estado investe direta ou indiretamente na floresta com vista à sua conservação e proteção por forma a garantir os serviços do ecossistema. O investimento direto corresponde à florestação ou reflorestação, ou outras atividades de manutenção da floresta. O investimento indireto representa a atribuição de subsídios ou convenções a outros proprietários, para as mesmas atividades, mas também a vigilância da floresta ou outras medidas de prevenção ou mesmo o combate a incêndios florestais ou rurais. Assim, em nossa opinião, num determinado território, há o domínio público dos ecossistemas, mensurado na contabilidade pública e o domínio privado, mensurado na respetiva contabilidade privada, ou mesmo pública. No caso de um determinado território de domínio privado do Estado, este poderá ser uma floresta de produção, terá uma mensuração em função da sua produção e uma mensuração de domínio público pelo serviço do ecossistema. As Matas Nacionais, património do Estado, são classificadas como de proteção, terão apenas uma mensuração pelo serviço do ecossistema. O exemplo do Pinhal de Leiria, desempenha as duas funções, a produção e a conservação. Assim, terá uma mensuração pela produção de madeira, como domínio privado e uma mensuração pela proteção. Os espaços florestais ocupam 6,2 milhões de hectares, que representa 69,4% do território nacional continental.

(11)

Fonte: Inventário Florestal Nacional 2015

O Inventário Florestal Nacional 2015 (IFN2015) calculou os reservatórios (ou sequestro) de biomassa viva nas árvores, como no sob coberto (matos), morta nos cepos, nas árvores mortas em pé́, nas árvores mortas caídas no chão e na manta morta (folhada). Assim, o total do carbono armazenado, conforme o IFN2015, é de 365,93 Gg CO2eq. “Para efeitos de

contabilização da contribuição da floresta para a mitigação do efeito de estufa (através do armazenamento de carbono), converteu-se o carbono armazenado em CO2 equivalente,

recorrendo à sua multiplicação por um coeficiente que pondera a relação entre o peso molecular do dióxido de carbono e o peso atómico do carbono.” (IFN2015) O valor apresentado, representa o valor total, ou cumulativo, da reserva da biomassa, calculado em 2015. Para efeitos de cálculo da neutralidade carbónica, apenas é considerável o valor do sequestro anual, isto é, a variação de sequestro do ano n-1 para o ano n. Esta justificação deve-se ao facto de que o cálculo das emissões de GEE, são efetuadas anualmente, ora, o sequestro terá de mensurar o valor anual e não cumulativo. O valor total não pode ser considerado para o reconhecimento inicial.

A IPSAS 17 (ativos fixos tangíveis) tem como objetivo estabelecer um tratamento contabilístico para ativos imobilizados, através do seu reconhecimento e valoração. Nesta norma, são também considerados os ativos nacionais, atendendo à sua relevância cultural, histórica ou ambiental. A Norma de Contabilidade Pública n.º 5 (NCP 5) considera o ativo ambiental como património histórico tangível, dando como exemplos as áreas de conservação e reservas naturais. Este é o ponto de partida para o enquadramento e conceito que damos aos ativos ambientais, descritos neste artigo.

O Plano de Contas Multidimensional apresentado pela Comissão de Normalização Contabilística, sugere as seguintes contas para o património histórico:

PORTUGAL

I F N 6 38

311.PTC CARBONO ARMAZENADO POR USOS DO SOLO E ESPÉCIE

Espécie

Biomassa viva Biomassa morta

total

árvores* sobcoberto árv. em pé árv. caídas cepos folhada

Gg CO2e Floresta 305,23 21,78 5,37 1,06 0,471 0,101 333,92 Pinheiro-bravo 82,46 5,66 1,69 0,30 0,166 0,033 90,3 Eucaliptos 63,64 6,61 0,61 0,33 0,228 0,037 71,4 Sobreiro 62,87 4,34 0,72 0,11 0,016 0,006 68,0 Azinheira 17,97 1,72 0,29 0,03 0,002 0,002 20,0 Carvalhos 13,26 0,51 0,09 0,01 0,012 0,004 13,9 Pinheiro-manso 16,96 1,08 0,07 0,02 0,008 0,005 18,1 Castanheiro 14,83 0,20 1,54 0,00 0,003 0,002 16,6 Alfarrobeira 1,14 0,09 0,00 0,00 0,000 0,000 1,2 Acácias 4,77 0,04 0,18 0,01 0,001 0,000 5,0 Outras folhosas 20,68 1,22 0,13 0,23 0,029 0,009 22,3 Outras resinosas 6,67 0,31 0,06 0,02 0,006 0,002 7,1

Usos do solo não florestal 8,51 23,01 0,20 0,23 0,00 0,06 32,01

Matos e Pastagens 2,09 22,65 0,02 0,23 0,00 0,06 25,06

Improdutivos 0,01 0,04 0,00 0,00 0,00 0,00 0,04

Agricultura 6,30 0,30 0,18 0,00 0,00 0,00 6,78

Urbano 0,11 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,13

(12)

Fonte: Manual de implementação do SNC-AP

Os recursos naturais serão aqueles que podem ser extraídos para uso na atividade económica. Os ativos ambientais prestam um serviço público, o serviço dos ecossistemas. Assim, sugerimos acrescentar a conta “43015 Ativos Ambientais”.

A mensuração dos ativos ambientais deve considerar o valor anual do sequestro de carbono, prestado pelo serviço de regulação do ecossistema, em função do volume de biomassa, transformada em CO2equivalente, aplicando os valores de mercados de carbono. O crédito de

carbono gerado pode ser transacionável em mercados de carbono, pelo “justo valor”. As entidades que não estejam enquadradas nos mercados organizados devem submeter os seus inventários e respetivo plano de ação a mercados voluntários, por forma a valorar a tonCO2eq.

Assim, sugere-se o seguinte tratamento contabilístico: Ex:

Sequestro carbono (território A) ano n: 100tonCO2eq

Valor de mercado: 25€/tonCO2eq

Operação Conta Descrição da conta Débito Crédito

Inventário anual

43015 Ativos ambientais 2 500

775 Em ativos ambientais 2 500

Fonte: Elaboração própria

A contabilidade de gestão, nos termos da NCP 27, permitirá analisar e comparar os gastos e os rendimentos ambientais associados por tonCO2eq. Assim, sugere-se o seguinte

tratamento contabilístico:

Operação Conta Descrição da conta Débito Crédito

Inventário anual

9274 Créditos Gerados com a redução de GEE 2 500

9844 Carbono 2 500

Fonte: Elaboração própria

Versão 12 de março de 2019

426 Outras propriedades de investimento …

428 Depreciações acumuladas

429 Perdas por imparidade acumuladas 43 Ativos fixos tangíveis

430 Bens de domínio público, património histórico, artístico e cultural 4301 Terrenos e recursos naturais

43011 Terrenos incluídos em planos de urbanização com capacidade construtiva

43012 Terrenos não incluídos em plano de urbanização – solo rural 43013 Outros terrenos situados dentro do perímetro urbano 43014 Recursos naturais

43018 Terrenos militares

43019 Outros terrenos e outros recursos naturais 4302 Edifícios e outras construções

43021 Habitações e edificações para serviços 43022 Edifícios para fins industriais

43023 Edifícios e construções com finalidade sociocultural 43024 Parques de estacionamento

43025 Piscinas e complexos desportivos 43026 Cemitérios

43027 Barragens

43028 Edifícios e outras construções militares 43029 Outros

(13)

Passivos ambientais no SNC-AP

Por outro lado, as emissões de GEE devem ser consideradas como um gasto ambiental da entidade. As emissões de GEE diretas são geradas por fontes de domínio privado da entidade, tais como, a energia consumida em edifícios ou nos transportes. As emissões indiretas são geradas por fontes de emissão em domínio público ou privado, de outras entidades, mas emitidas no território da entidade em causa, como o caso das autarquias locais. As entidades públicas são responsáveis pelo cumprimento das políticas publicas para a redução das emissões de GEE sejam elas diretas ou indiretas. Para cada uma delas, definir-se-ão investimentos para a sua redução ou compensação/mitigação. A compensação/mitigação representa o investimento em determinado ativo ambiental que equilibre a emissão de GEE correspondente. Esta compensação/mitigação é global. Para exemplificar, a emissão de 1tonCO2eq de um

determinado local, pode ser compensado pela retenção/sequestro de 1tonCO2eq em qualquer

parte do globo. A necessidade da mensuração na contabilidade pública dos fluxos dos ecossistemas, com vista ao cumprimento de metas ambientais, contribui para o desenvolvimento sustentável, medindo o impacto financeiro dos balanços nacionais, nos relatórios de gestão e do respetivo orçamento de Estado.

O IPCC de 2006, revisto em 2019, define as diretrizes para os inventários nacionais de gases com efeito de estufa, criando metodologias e as respetivas fórmulas de cálculo para os diferentes gases. A revisão de 2019 estabelece novas orientações de elaboração dos inventários das emissões de GEE, bem como ferramentas, planos de trabalho, sistemas de gestão de dados, sistemas de qualidade, formação e capacitação. As diretrizes apresentadas pelo IPCC dependem da organização dos dados e das instituições de cada país. A elaboração dos inventários deve ter em consideração (1) território, (2) fontes. (1) O inventário das emissões de GEE, considera-se no território onde as emissões ocorrem, que podem ou devem ser à escala nacional e a uma escala municipal. (2) As fontes de emissões de GEE podem ser diretas, controladas pela entidade ou indiretas no caso do inventário de um determinado território onde englobam emissões de várias entidades. As empresas elaboram os inventários com base nas suas emissões diretas. As entidades públicas elaboram os inventários de um determinado território, para além das emissões proveniente da sua propriedade, engloba as emissões indiretas proveniente de todas as fontes emissores naquele território. Assim, os diversos inventários de emissão de GEE, com base em fontes diretas, deverão ser agregados para um inventário por território, seja nacional ou municipal. Considera-se então, a pegada de cada entidade e a pegada de cada território.

O compromisso para a redução das emissões de GEE é global. Em Portugal elaborou-se o Roteiro Nacional de Baixo Carbono 2050 (RNBC2050) alinhado com o objetivo da União Europeia de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 80-95% em 2050, face aos níveis de 1990.

(14)

Fonte: Roadmap for moving to a competitive low carbon economy in 2050 (CE, 2011)

Em Portugal, é da responsabilidade da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) o inventário nacional das emissões de GEE e respetiva submissão à Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. No segundo período do Protocolo de Quioto (2013-2020), a UE assumiu o compromisso de redução das emissões em 20%, em relação a 1990, meta esta, a ser atingida coletivamente pela UE. “Em termos nacionais, as metas para 2020 estabelecidas, reafirmadas no âmbito do PNEC, apontam para níveis de redução das emissões nacionais de GEE de -18% a -23% face aos níveis de 2005 (68-72 Mt CO2e)”. No Inventário Nacional de Emissões 2020, tendo por base as estimativas de emissão de 2018, as emissões de GEE, sem contabilização das emissões de alteração do uso do solo e florestas (LULUCF), são estimadas em cerca de 67,4 Mt CO2e, representando um aumento de cerca de

15,0% face a 1990 e um decréscimo de 4,6% relativamente a 2017.

O total das emissões de GEE, incluindo o LULUCF, ascendeu em 2017 a 80,5 Mt CO2e.

“Esta enorme queda está relacionada com os eventos trágicos, excecionais, relativamente aos

14 ROTEIRO NACIONAL DE BAIXO CARBONO - ANÁLISE TÉCNICA DAS OPÇÕES DE TRANSIÇÃO PARA UMA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO COMPETITIVA EM 2050

O RNBC está assim perfeitamente alinhado com as orientações políticas comunitárias neste âmbito.

No Roadmap for moving to a competitive low carbon economy in 2050, a Comissão Europeia conclui que para conseguir converter a economia numa economia de baixo carbono competitiva, a União Europeia tem de se preparar para reduzir as suas emissões internas em 80% até 2050, comparativamente a 19904. Neste contexto, constata-se que o sector da energia e processos industriais é passível de sofrer uma redução de emissões de CO2 de cerca de 70% no período 1990 a 2050. A análise dos diversos cenários estudados pela Comissão Europeia revelou que a trajectória economicamente vantajosa seria reduzir as emissões internas cerca de 40% até 2030 e cerca de 60% até 2040, comparativamente aos níveis de 1990, e aponta para uma redução de 25% em 2020. Estes elementos são ilustrados na Figura 1. Tal trajectória corresponderia a reduções anuais, comparativamente a 1990, de cerca de 1% na primeira década, até 2020, de 1,5% na segunda década, de 2020 a 2030, e de 2% nas duas últimas décadas, até 2050. Da análise da Comissão Europeia verifica-se que todos os sectores contribuem para as reduções (Quadro 1) e o esforço necessário aumentaria ao longo do período, beneficiando da maior diversidade de tecnologias economicamente vantajosas que irá ficando disponível.

4 Trata-se aqui de reduções reais das emissões da UE no território da União Europeia, excluindo qualquer compensação por via do mercado

de licenças de emissão.

FIGURA 1 - Redução de 80 % das emissões de gases com efeito de estufa na União Europeia (100% = 1990)

80% 100% 40% 60% 0% 20% 80% 100% 40% 60% 0% 20% 1990

Fonte: Roadmap for moving to a competitive low carbon economy in 2050 (CE, 2011)

2000 2010 2020 2030 2040 2050

Produção de electricidade

Indústria

Transportes

Agricultura (gases não-CO2)

Outros sectores (gases não-CO2) Sectores residencial e terciário

Políticas actuais

Memorando sobre emissões GEE

Figura 2 – Evolução das emissões nacionais de Gases com Efeito de Estufa (GEEs)

Após o rápido crescimento verificado durante a década de 90, as emissões nacionais registaram um abrandamento no início dos anos 2000, verificando-se posteriormente, em especial após 2005, um decréscimo das emissões nacionais. Estas tendências refletem em grande medida a evolução da economia portuguesa que se caraterizou por um forte crescimento associado ao aumento da procura de energia e da mobilidade na década de 1990, seguindo-se uma situação de estagnação e recessão verificada com especial incidência no período 2009-2013.

Após o aumento de 7,0% das emissões nacionais registadas em 2017 face a 2016, explicado em grande medida pela forte redução da produção hidroelétrica em 2017 devido à muito desfavorável disponibilidade de hídrica (IPH = 0,47), as emissões totais em 2018 diminuíram 4,6% em relação a 2017. Esta redução está associada ao decréscimo das emissões de vários setores, e particularmente às “indústrias da energia”, que registraram uma significativa queda - 14,1% - em relação a 2017, refletindo as melhores condições em termos de disponibilidade hídrica (IPH = 1.05) em 2018 e o incremento da produção hidroelétrica e a consequente queda de emissões.

A figura seguinte mostra a preponderância do sector energia no total das emissões nacionais. Com efeito, este setor, que inclui os transportes, é, para toda a série temporal, o principal responsável pelas emissões nacionais de gases com efeito de estufa, determinando a sua evolução ao longo dos anos.

58.6 85.7 63.8 63.7 67.9 66.0 70.6 67.4 80.5 61.1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 CO2 e q . (M t)

(15)

incêndios florestais ocorridos no ano de 2017, em resultado de um ano particularmente seco, associada às altas temperaturas verificadas, e a ventos invulgarmente fortes, como o furacão Ofélia que varreu a costa da Península Ibérica em outubro de 2017.” O evento dos incêndios florestais, para além do aumento das emissões de GEE, representam uma perda no sequestro de carbono da floresta queimada, ora o carbono retido na biomassa florestal, foi libertado com o incêndio e emitido para a atmosfera. Podemos concluir que, aquando da elaboração do inventário florestal de 2017, o desequilíbrio da balança do carbono estará evidente. Também por este motivo, conforme já foi descrito anteriormente, o inventário do sequestro de carbono, tem de ser anual e não cumulativo no inventário inicial. Os dados cumulativos devem representar a agregação dos inventários anuais, por forma a obtermos informação anual e cumulativa, tal como no caso das emissões de GEE.

Considerando a linha de orientação do apêndice à Norma 26 do SNC, a emissão de gases com efeito de estufa deve ser considerada como uma responsabilidade, na NCP 15 “Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes” do SNC-AP. Assim sugere-se o seguinte tratamento contabilístico:

Ex:

Emissões GEE ano n: 200tonCO2eq

Valor de mercado: 25€/tonCO2eq

Operação Conta Descrição da conta Débito Crédito

Inventário anual 675 Provisões Matérias ambientais 5 000 295 5 000

Fonte: Elaboração própria

A contabilidade de gestão, nos termos da NCP 27, permitirá analisar e comparar os gastos e os rendimentos ambientais associados por tonCO2eq. Assim, sugere-se o seguinte

tratamento contabilístico:

Operação Conta Descrição da conta Débito Crédito

Inventário anual

9844 Carbono 5 000

9244 Créditos Gerados com a redução de GEE 5 000 Fonte: Elaboração própria

A conta 9244 deve refletir as emissões dos GEE da entidade. Este valor corresponderá às provisões criadas com a validação do inventario anual de emissões de GEE. A conta 9244 deverá ser divida por fontes de emissão conforme o inventario da entidade:

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Fonte: Mensuração da sustentabilidade a partir de informação não financeira

Conclusão

A redução das emissões de GEE é apenas um dos fatores para um desenvolvimento sustentável e combate às alterações climáticas. Uma contabilidade verde deve responder aos novos desafios e à responsabilização da gestão pública. Os serviços públicos, nomeadamente os serviços dos ecossistemas, geram valor público com impacte nos sistemas económicos, sociais e ambientais, que devem ser relatados, para apoio à decisão. Para a criação de valor público, é necessário que, através da informação não financeira possibilite a mensuração na contabilidade de todos os imputs e outputs nas diversas dimensões. A definição de propriedade e metodologias de mensuração nas contabilidades das entidades públicas nacionais, das emissões de GEE, é um desafio real presente, que vai de encontro às decisões internacionais da pertinência desta informação para novas decisões. Por outro lado, para que a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade, seja em terra ou nos oceanos, seja feita de forma consistente e eficaz, é importante conhecermos e avaliarmos o património natural atual e a sua propriedade. O SNC-AP é uma ferramenta inovadora e pioneira nesta temática, nos sistemas de contabilidade nacionais, que vai ao encontro dos instrumentos propostos pela SEEA e aprovados pelo UN Statistical Commission. Cabe às entidades nacionais competentes validar e acompanhar a sua implementação e demonstrar, a outros países, a sua eficácia. Com a aplicação do SNC-AP, especificamente da NCP 27, as entidades públicas ficam obrigadas a divulgar de acordo com o previsto nos relatórios da contabilidade de gestão, os gastos e os resultados ambientais.

Portugal deve integrar o grupo de trabalho para a contabilidade dos oceanos (SEEA Ocean), proposto pela UN Statistical Commission. Deve ser criado em Portugal um grupo de trabalho de implementação, acompanhamento e intercâmbio nas entidades nacionais, sejam públicas ou privadas. Estas medidas estão no seguimento das decisões e recomendação da 52ª Sessão da UN Statistical Commission.

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924 Gastos ambientais

9241 Associados a investimentos adicionais em equipamentos e formação 9242 Aquisição de matérias-primas e mão-de-obra

9243 Outros gastos de responsabilidade social e ambiental 9244 Créditos gerados com redução de gases de efeito estufa

9241 Emissões diretas 9242 Emissões indiretas

9249 Outros

A conta 9244 deve refletir as emissões dos GEE da entidade, que poderá estar divida por fontes de emissão conforme o inventário da entidade. Este valor corresponderá às provisões criadas com a validação do inventário anual de emissões de GEE.

Assim, no caso apresentado, o valor calculado e valorizado no inventário das emissões de GEE debita-se a 9844 por contrapartida da conta 9244 - 712.788,30 u.m.

Na conta 9243, devem estar refletidos todos os gastos associados a ações que contribuam para a responsabilidade ambiental das entidades. Incluem-se as ações que reduzam as emissões dos GEE. A titulo de exemplo, veja-se o caso do Porto de Leixões, ilustrado na tabela 2.

No caso do Porto de Leixões foram propostas as seguintes ações, para reduzir as emissões de GEE: Projeto 1: Limitação dos Tipos de Motores dos Camiões que entram no Porto

Projeto 2: Tecnologias de Redução das emissões dos Navios Projeto 3: Implementação de sistema solar fotovoltaico Projeto 4: Implementação de sistema de energia eólica

Com a implementação deste plano de ação, prevêem-se as reduções de emissões de GEE apresentadas na tabela 2.

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