• Nenhum resultado encontrado

Efeito do Glifosato no cultivo in vitro de Cattleya nobilior Rchb. F 1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Efeito do Glifosato no cultivo in vitro de Cattleya nobilior Rchb. F 1"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Effect of Glyphosate on in vitro culture of Cattleya nobilior Rchb. F

Among the techniques used by biotechnology for multiplication of orchid seedlings, the in vitro cultivation stands out due to the high production potential of new seedlings. The presence of some chemical substances used in the culture medium, depending on the concentration, may or may not favor the growth and development of the plant. Therefore, the objective of this work was to evaluate the effect of glyphosate on the in vitro cultivation of the orchid Cattleya nobilior Rchb. F. The experimental design was completely randomized, with six treatments and ten replications. The treatments consisted of six concentrations of glyphosate (0.0, 8.5, 17.0, 25.5, 34.0, and 42.5 mg L-1 a.i.), added to the

modified MS culture medium with half the concentrations of macronutrients. Seedlings subjected to different glyphosate concentrations were obtained from seeds germinated in vitro. The length and dry biomass measurements of the shoot and root, number of leaves, leaf length, leaf width, number of shoots, chlorophyll a, b, and carotenoid contents were performed 200 days after transplanting of the seedlings. Among the phytometric components analyzed, only the length and dry biomass of root and the carotenoid content decreased with increasing doses of the glyphosate herbicide. Low concentrations of glyphosate added to the culture medium result in hormese effect, with increased growth of Cattleya nobilior Rchb. F. shoot.

Keywords: hormone; micropropagation; Orchidaceae.

RESUMO

ABSTRACT

Efeito do Glifosato no cultivo in vitro de Cattleya nobilior Rchb. F

1

Dentre as técnicas utilizadas pela biotecnologia para multiplicação de mudas de orquídea, o cultivo in vitro destaca-se pelo elevado potencial de produção de novas plântulas. A predestaca-sença de algumas substâncias químicas utilizadas no meio de cultura, dependendo da concentração, pode favorecer ou não o crescimento e o desenvolvimento da planta. Diante do exposto, objetivou-se, com este trabalho, avaliar o efeito do glifosato no cultivo in vitro da orquídea Cattleya nobilior Rchb. F. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos e dez repeti-ções. Os tratamentos foram constituídos de seis concentrações de glifosato (0,0; 8,5; 17,0; 25,5; 34,0 e 42,5 mg L-1 e.a.),

acrescidas ao meio de cultura MS modificado, com metade das concentrações de macronutrientes. As plântulas subme-tidas às diferentes concentrações de glifosato foram obsubme-tidas de sementes germinadas in vitro. As avaliações de compri-mento e de biomassas secas de parte aérea e de raízes, de número de folhas, de compricompri-mento da folha, de largura da folha, do número de brotos dos teores de clorofilas a, b e de carotenoides foram realizadas 200 dias após o transplantio das plântulas. Dentre os componentes fitométricos analisados, apenas o comprimento, a biomassa seca de raízes e o teor de carotenoides diminuíram com o incremento das doses do herbicida glifosato. Baixas concentrações de glifosato adicio-nadas ao meio de cultura resultam em efeito hormese, com aumento do crescimento da parte aérea de Cattleya nobilior Rchb. F.

Palavras-chave: hormese; micropropagação; Orchidaceae.

Douglas Junior Bertoncelli2*, Guilherme Augusto Cito Alves2, Felipe Favoretto Furlan2,

Gustavo Henrique Freiria2, Jose Henrique Bizarri Bazzo2, Ricardo Tadeu de Faria2

10.1590/0034-737X201865020008

Submetido em 19/07/2017 e aprovado em 23/03/2018.

1 Este trabalho não é parte de tese de doutorado nem dissertação de mestrado

2 Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Agronomia, Londrina, Paraná, Brasil. dj_bertoncelli@hotmail.com; guilhermecito@hotmail.com; ffavorettofurlan@gmail.com;

gustavo-freiria@hotmail.com; agrobazzo@gmail.com; faria@uel.edu.br * Autor para correspondência: dj_bertoncelli@hotmail.com

(2)

INTRODUÇÃO

A família Orchidaceae, uma das maiores famílias do rei-no vegetal, representa o grupo de plantas mais evoluído da ordem Liliiflorae, com aproximadamente 30.000 espéci-es (Cronquist 1981). O gênero Cattleya engloba cerca de 70 espécies e inúmeros híbridos naturais, além de milhares de híbridos artificiais por todo o planeta (Takane et al., 2010).

As Cattleyas são encontradas exclusivamente nas Américas Central e do Sul, são consideradas as “rainhas das orquídeas”, por suas flores vistosas, grandes e colori-das, além de apresentarem elevada adaptação a diferentes ambientes (Benzing et al. 1982). São cultivadas como plan-tas ornamentais, pela beleza de suas flores, no mundo in-teiro, apresentando extensa importância econômica (Sorace et al., 2009). Dentre as várias espécies, a Cattleya nobilior Rchb. F., nativa do Brasil Central, apresenta flores de até 15 cm de diâmetro e cores que variam de branco a roxo-rosado (Watanabe, 2002).

A produção de mudas de orquídeas pode ser realizada por meio de divisão de touceira de plantas adultas, estaquia e sementes. Essas técnicas, entretanto, são consideradas lentas e onerosas, por causa da baixa velocidade de cres-cimento, do desenvolvimento vegetativo das plantas e da reduzida percentagem de germinação das sementes, o que inviabiliza a multiplicação em larga escala de mudas para a comercialização (Faria et al., 2006).

Uma técnica muito utilizada para contornar esse pro-blema é o cultivo in vitro, que torna o processo de multi-plicação de orquídeas viável (Stancato & Faria, 1996). Essa estratégia vem sendo utilizada no Brasil, pelos produtores de orquídeas, há mais de 30 anos, o que resultou no au-mento da produção de mudas, com elevada qualidade ge-nética e menor custo (Faria et al., 2006).

Dentre os fatores que favorecem a morfogênese in vitro, destacam-se os reguladores de crescimento e outras substâncias químicas que induzem à citocinese, causando alterações na taxa metabólica, na atividade enzimática, na indução e na formação de órgãos, na quebra de dominância apical, na mobilização de nutrientes orgânicos e inorgânicos e no aumento da longevidade de tecidos e órgãos (Oliveira et al., 2007). Normalmente, essas subs-tâncias que induzem a embriogênese são utilizadas em baixas concentrações, pois podem apresentar toxicidade quando em excesso.

Segundo Calabrese & Baldwin (2001), quando um ele-mento considerado tóxico sobre uma determinada caracte-rística biológica apresenta efeito estimulatório, em baixas concentrações, porém com efeito inibitório em altas do-ses, isso é conhecido como efeito hormese. Os mesmos autores relatam que esse conceito foi, originalmente, defi-nido por apresentar um comportamento bifásico, pelo qual

uma característica biológica é estimulada por subdoses ou baixas doses de um composto e inibida por altas doses dele.

Dentro dessa linha de estudo, têm sido realizadas mui-tas pesquisas com herbicidas, vários dos quais foram de-senvolvidos inicialmente como reguladores de crescimen-to, comprovando a hipótese do efeito hormese. Como exem-plos, tem-se o 2,4-D, originalmente desenvolvido como auxina e que, em doses elevadas, apresenta efeito herbicida (Mousdale & Coggins 1991), e o glifosato, cujo antecessor, o glyphosine, ainda é utilizado como regulador de cresci-mento, em vários países (Halter, 2009).

Estudo realizado por Godoy (2007) revela que o uso de glifosato em pequenas doses pode estimular os ganhos de massa seca; de tirosina e de carotenoides e aumentam a absorção de fósforo em plantas de soja. Trabalhos realiza-dos com diversas culturas evidenciam o efeito hormese do glifosato, como o crescimento das partes aérea e radicular de Commelina benghalensis (Meschede et al., 2007), au-mento de matéria verde em milho (Wagner et al., 2003), crescimento inicial em cana-de-açúcar (Silva et al., 2009) e teor de fósforo em folhas de eucalipto (Carbonari et al., 2007).

Por essas razões, objetivou-se, com este trabalho, ava-liar o efeito do glifosato no cultivo in vitro da orquídea brasileira Cattleya nobilior Rchb. F.

MATERIAL DE MÉTODOS

As plântulas de Cattleya nobilior Rchb. F. foram obti-das de sementes germinaobti-das, in vitro, em meio de cultura MS (Murashige & Skoog, 1962) modificado, com a metade da concentração de macronutrientes. As sementes utiliza-das foram colhiutiliza-das de cápsulas maduras, provenientes da autopolinização de plantas cultivadas em estufa, localiza-da a 23º19’42’’ S, 51º12’11" O, em altitude de 594 m.

Após sessenta dias da realização da semeadura, as plântulas em estádio de protocormo foram subcultivadas em meio de cultura MS modificado, com a metade da con-centração dos macronutrientes, acrescido de 30 g L-1 de

sacarose e 7,5 g L-1 de ágar, com pH ajustado para 5,8 (±

0,2), antes da adição do ágar. Posteriormente, o meio de cultura foi autoclavado em temperatura de 120 ºC e pres-são de 1,05 Kg cm-2, durante 20 minutos. Após

autoclava-gem o meio foi vertido, sob câmara de fluxo laminar, em frascos de vidro de 250 mL, esterilizados, com cada frasco recebendo 50 mL do meio de cultura.

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, composto por seis tratamentos e dez repeti-ções. Os tratamentos constaram de seis concentrações de glifosato - glifosato atanor 48® (0,0; 8,5; 17,0; 25,5; 34,0 e

42,5 mg L-1 e.a.) acrescidas ao meio de cultura MS

(3)

sendo que essas concentrações foram baseadas em uma redução de cem vezes a dose comercial. Cada repetição foi formada por um frasco com cinco plântulas. O herbicida adicionado ao meio de cultura foi esterilizado por meio de filtragem em membrana millipor (0,45 µm). Após o transplantio das plântulas no meio de cultura, os frascos foram mantidos em sala de crescimento, à temperatura de 25 ºC (± 2 ºC), sob fotoperíodo de 16 horas de luz e intensi-dade luminosa de 25 µmol m-2 s-1.

Aos 200 dias após o transplantio das plântulas, foram avaliadas as seguintes caraterísticas fitométricas: compri-mento de parte aérea (cm): determinado pela distância do colo da planta até a extremidade superior da maior folha; comprimento de raiz (cm): determinada pela distância do colo da planta até a extremidade da maior raiz; número de folhas: determinado pela contagem de folhas por planta; número de brotos: determinado pela contagem do número de brotos por planta; comprimento da folha (cm): determi-nado a partir da maior folha, sendo considerada a distân-cia da inserção da folha até a sua extremidade; largura da folha (cm): determinada na maior folha com paquímetro digital; biomassa seca de parte aérea (g): determinada por meio da secagem em estufa com ventilação forçada a 60 °C; biomassa seca de raízes (g): determinada por secagem em estufa com ventilação forçada, a 60 °C.

Os teores de clorofila a, b e carotenoides foram deter-minados seguindo metodologia descrita por Meschede et al. (2011), em que amostras de 0,2 g de tecido foliar fresco foram colocadas em tubos com tampa, contendo 10 mL de acetona 100% (v/v). Os extratos foram filtrados, sendo as leituras realizadas em espectrofotômetro, nos comprimen-tos de onda de 663, 645 e 434 nm para clorofilas a, b e para carotenoides respectivamente. As determinações dos ní-veis de clorofila (mg gmf-1) basearam-se nas equações

des-critas por Whitham et al. (1971): clorofila a = (11,24 x A663 - 2,04 x A645), clorofila b = (20,13 x A645 - 4,19 x A663) e carotenoides = (1000 x A434 - 1,90 Clorofila a - 63.14 Cloro-fila b)/214, em que A é a absorbância no comprimento de onda indicado.

Os dados foram submetidos aos pressupostos paramétricos de normalidade e homocedasticidade de re-síduos, pelos testes de Shapiro-Wilk e Hartley (R Core Team, 2012), respectivamente e, posteriormente, à análise de variância. Apresentando significância, os dados foram submetidos à análise de regressão, a 5% de probabilidade de erro utilizando-se o software R (R Core Team, 2012). Também foi estimada a correlação de Pearson entre as ca-racterísticas avaliadas, e feita a análise de componentes principais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados de comprimento de parte aérea ajustaram-se a uma equação quadrática, com ponto de máxima em 10,71

mg L-1 e.a. de glifosato (Figura 1 A). Carbonari et al. (2007),

estudando os efeitos da aplicação de glifosato no cresci-mento inicial de mudas de eucalipto, verificaram que bai-xas concentrações do herbicida (18 mg a 36 mg L-1 do i.a.)

influenciaram positivamente o crescimento das plantas, com aumento da área foliar e da biomassa fresca.

Estudando o efeito de baixas concentrações de glifosato nos cultivares de soja BRS 232 (susceptível ao glifosato) e BRS 243 (resistente ao glifosato), Godoy (2007) verificou que as concentrações de 18 a 180 g L-1 do i.a. do

glifosato estimularam o crescimento das plantas. Silva et al., (2009) obtiveram resultados positivos com a utilização da concentração de 9 mg L-1 do i.a. do glifosato sobre as

características de crescimento e de desenvolvimento inici-al de cana-de-açúcar variedade SP80-1842.

O glifosato atua no metabolismo das plantas por meio da inibição da via do ácido chiquímico, rota responsável pela produção dos precursores da lignina (Schmidt, 1997). A menor síntese de lignina resulta em paredes celulares mais elásticas, o que resulta em maior crescimento longitu-dinal (Duke et al., 2006). Essa hipótese é confirmada, pela ausência de estímulo de crescimento, em qualquer con-centração do herbicida aplicada sobre a soja resistente ao glyphosate, a qual é insensível à enzima 5-enolpiruvilshi-quimato-3-fosfato sintase (EPSPs), não afetando assim a rota do ácido chiquímico (Cedergreen & Olesen, 2010).

Com relação aos dados de comprimento de raiz, obser-vou-se que essa variável apresentou redução linear com o incremento da concentração de glifosato em meio de cul-tura (Figura 1 B). Isso pode estar relacionado com uma possível redução da produção e da translocação de auxina para as raízes, além de menor teor de giberelinas, causado pelo glifosato.

Sabe-se que a biossíntese de ácido indolacético (AIA) é inibida pela ação do glifosato, pois essa molécula inter-rompe a produção de corismato e de triptofano, importan-tes precursores desse fitormônio (Taiz & Zeiger, 2013). O glifosato afeta ainda o AIA, por meio do aumento da oxi-dação desse hormônio, processo decorrente do bloqueio da formação de compostos fenólicos, os quais são inibidores da enzima AIA-oxidase, o que resulta em menor nível de AIA livre nos tecidos (Yamada & Castro, 2007), além de restringir o transporte basípeto da auxina (Baur, 1979).

O decréscimo da quantidade de auxina na planta influ-encia negativamente a concentração de ácido giberélico nos tecidos vegetais, já que a auxina está envolvida na biossíntese da giberelina (Ross & O’Neil, 2001). Este fato, provavelmente, também pode ter interferido na redução do comprimento de raiz.

Porém, a redução do crescimento de raiz pelo uso do glifosato pode não causar efeito negativo sobre a aclimatização das mudas, pois, segundo Mayer et al.

(4)

Figura 1: Comprimento de parte aérea (A), comprimento de raiz (B), massa seca de parte aérea (C), massa seca de raízes (D), número

de folhas (E), comprimento de folhas (F), largura de folhas (G) e número de brotos (H) de plântulas de Cattleya nobilior Rchb. F. submetidas à adição de glifosato em meio de cultura ½ MS semissólido, 200 dias após o transplantio.

(5)

(2008), raízes de plantas cultivadas in vitro são fracas e pouco funcionais, uma vez que seu diâmetro e seu siste-ma vascular são reduzidos, sendo que, no momento em que essas plantas são aclimatizadas, novas raízes são formadas e as formadas no cultivo in vitro cessam o cres-cimento, sendo pouco eficientes. Pierik (1990), estudan-do o cultivo in vitro de plantas superiores, também ob-servou que as raízes provenientes do cultivo in vitro são fracas e pouco funcionais. Mayer et al. (2008), estudan-do a anatomia de raízes da orquídea Cymbidium Hort., cultivadas in vitro e ex vitro, concluíram que as estrutu-ras das plantas in vitro não influenciam a sobrevivência durante a aclimatização.

Os dados de massa seca de parte aérea adequaram-se a uma função quadrática, com ponto de máxima em 17,00 mg L-1 e.a. de glifosato (Figura 1C). Esse resultado indica o

efeito hormese do glifosato, em baixas concentrações, no desenvolvimento inicial de C. nobilior. O maior desenvol-vimento da parte aérea pode estar relacionado com o fato de que baixas doses de glifosato possivelmente aumen-tam a condutância estomática (Carvalho & Alves, 2011), o que favorece a fixação de carbono (Cedergreen & Olesen, 2010) e o consequente aumento de massa.

Os dados de incremento de massa seca de parte aérea podem também estar vinculados ao fato de o glifosato, quando utilizado em baixas concentrações, promover a paralisação parcial da enzima 5-enolpiruvoil-shikimato-3-fosfato sintetase (EPSPS), levando a planta a um acúmulo de chiquimato e de ácido quínico nos vacúolos, o que resulta em perda do controle de retroalimentação do fluxo de carbono na rota do chiquimato, sendo essa rota res-ponsável por aproximadamente 35 e 20% da matéria seca da planta e do carbono fixado pela fotossíntese (Kruse et al., 2000), respectivamente.

Yoshida (1969) afirma haver relação linear positiva en-tre o crescimento vegetal e o teor de ácido quínico em plantas, pois, em seu estudo, foi verificado o estiolamento em mudas de feijão e de trigo, e indução de brotação de coníferas, quando a concentração desse ácido foi máxima, o que permite concluir que o ácido quínico e o ácido chiquímico são ativamente metabolizados durante o cres-cimento das plantas.

Velini et al. (2008) observaram que a aplicação de bai-xas concentrações de glifosato bloqueou parcialmente a produção da enzima EPSPS, o que estimulou o crescimen-to de eucalipcrescimen-to, pinus, milho e soja convencional. Meschede et al. (2011) também relatam que a aplicação de baixas concentrações de glifosato em eucalipto reduziu a atividade da enzima EPSPS, o que elevou a concentração de ácido chiquímico, implicando maior taxa de crescimento de plantas jovens.

Os dados de massa seca de raiz ajustaram-se a uma função linear decrescente, em resposta ao aumento da

concentração do glifosato no meio de cultura (Figura 1 D). A redução dessa característica ocorreu, possivelmente, pelo efeito do glifosato sobre o AIA, que pode ter diminu-ído o teor desse fitormônio na plântula, acarretando queda da massa da raíz, já que a auxina é responsável pelo desen-volvimento das raízes (Taiz & Zeiger, 2013). Esse mesmo fato ocorreu com a variável comprimento de raízes (Figura 1 B), o que sugere que a redução do ritmo do alongamento das raízes pode ter influenciado negativamente sua massa seca.

Os dados de número de folhas adequaram-se a uma equação quadrática com ponto de máxima em 28,24 mg L-1

e.a. de glifosato (Figura 1 E). Esse resultado está possivel-mente relacionado com a baixa relação entre os fitormônios auxina/citocinina, pela aplicação do glifosato, o qual inibe a formação de AIA. Neste sentido, a maior proporção de citocinina encontrada nos tecidos vegetais, estimula o desenvolvimento das gemas laterais, o que eleva o núme-ro de folhas.

Os dados de comprimento de folha adequaram-se a uma função quadrática, com ponto de máxima em 5,44 mg L-1 e.a. de glifosato (Figura 1 F). Os de largura da folha

ajustaram-se a uma função quadrática, com ponto de máxi-ma em 15,60 mg L-1 e.a. de glifosato (Figura 1G). O aumento

da expansão foliar nas menores concentrações de glifosato pode estar relacionado com o maior acúmulo de massa seca de parte aérea (Figura 1C), que também aumentou por causa do efeito hormese do herbicida.

De acordo com Pincelli-Souza (2014), a aplicação de subdoses de glifosato em cana-de-açúcar não bloqueia completamente a ação da enzima EPSPS, além de não inibir totalmente a rota do chiquimato, a qual é precursora da síntese do ácido indolacético (AIA), responsável pela ex-pansão celular, além de estar também relacionado com a síntese de giberelinas, ou seja, a planta ainda pode ser estimulada à promover expansão e elongação celular. Es-ses incrementos validam a teoria de efeito de dose-respos-ta, como descrito por Velini et al. (2008), que relatam a ocorrência de estímulos ao crescimento vegetal, quando o herbicida glifosato é aplicado em baixas doses (variando de 9 a 180 mg e.a. L-1), e a redução do crescimento, quando

aplicadas concentrações mais elevadas.

Os dados de número de brotos adequaram-se a uma equação quadrática com ponto de máxima em 25,41 mg L -1 e.a. de glifosato (Figura 1 H). Assim, como para o

núme-ro de folhas (Figura 1 E), acredita-se que este fato pode estar relacionado com a menor relação auxina/citocinina, o que estimula o desenvolvimento de gemas laterais. Se-gundo Velini et al. (2012), alterações na atividade da enzima EPSPs, pela aplicação de glifosato, como maturador, em cana-de-açúcar, pode resultar em efeito secundário, com quebra da dominância apical e com brotação de gemas laterais.

(6)

Outra hipótese para o aumento do número de brotações em baixas concentrações de glifosato pode estar relacio-nada com o fato de a aplicação do herbicida aumentar a absorção de fósforo, elemento que está diretamente liga-do à divisão celular.

Algumas pesquisas já comprovaram que a aplicação de subdoses de glifosato causa a indução de genes res-ponsáveis pelo transporte de fósforo para o interior das células vegetais (Carbonari et al., 2007; Godoy, 2007). Se-gundo Tomaz (2009), a aplicação de baixas concentrações de glifosato aumenta o número de perfilhos em cana-de-açúcar, sendo esse resultado atribuído ao incremento do teor de fósforo na planta.

Os dados de teor de clorofila b ajustaram-se a uma função linear decrescente, em resposta ao incremento da concentração do glifosato em meio de cultura; já os de teores de clorofila a e de carotenoides adequaram-se a equações quadráticas, com ponto de máxima em 8,33 e 8,32 mg L-1 e.a. de glifosato, respectivamente (Figura 2).

A redução do teor de clorofila pode estar relacionada com a inibição da síntese de seu precursor, o ácido aminolevulinato, ou com a maior degradação do pigmento pelo glifosato (Carvalho & Alves, 2011). Segundo Galli & Montezuma (2005), a diminuição da atividade da enzima EPSPS, pela aplicação do glifosato, reduz a síntese de clo-rofila.

De acordo com Pereira et al., (2016), o glifosato pode inibir a absorção de manganês (Mn), elemento envolvido na reação de fotólise da água e evolução de O2 no sistema fotossintético; na formação de clorofila; na estrutura, no funcionamento e na multiplicação de cloroplastos, além de realizar o transporte eletrônico e ser requerido para a ativi-dade de algumas desidrogenases, descarboxilases, quinases, oxidases e peroxidases (Vitti et al., 2006).

Cedergreen (2008), trabalhando com a cultura da ceva-da, atribuiu o aumento do crescimento das plantas trata-das com subdoses de glifosato à teoria da compensação entre as raízes e a parte aérea. Outra hipótese para explicar

Figura 2: Teores de clorofila a, clorofila b e de carotenoides de plântulas de Cattleya nobilior Rchb. F. submetidas à adição de glifosato

em meio de cultura ½ MS semis-sólido, 200 dias após o transplantio.

Figura 3: Plântulas de Cattleya nobilior Rchb. F. submetidas à adição de glifosato em meio de cultura ½ MS semissólido, 200 dias após

(7)

Figura 4: Coeficientes de correlação de Pearson (A) e análise de componentes principais (B), entre as variáveis comprimento de

parte aérea (CPA), comprimento de raiz (CR), número de folhas (NF), número de brotos (NB), comprimento da folha (CF), largura da folha (LF), massa seca de parte aérea (MSPA), massa seca de raízes (MSR), clorofila a (Clorof. a), clorofila b (Clorof. b) e carotenoides (Carot.) de plântulas de Cattleya nobilior Rchb. F. submetidas à adição de glifosato em meio de cultura ½ MS semissólido, 200 dias após o transplantio.

B

A

(8)

o crescimento das plantas, pode estar relacionada com o aumento das taxas fotossintéticas, pelo maior aproveita-mento de luz ou maior eficiência de fixação de carbono, graças à expansão dos órgãos da parte aérea da planta (Cedergreen & Olsen, 2010).

Como foi observado neste trabalho, baixas concentra-ções de glifosato (variando de 5,44 a 17,00 mg L-1 e.a.) em

meio de cultura, resultam em efeito hormese, com o herbicida estimulando o crescimento e o desenvolvimento da parte aérea. Entretanto, o aumento da concentração do glifosato no meio de cultura, causa decréscimo do comprimento e da massa seca de raízes, nas características de parte aérea, bem como nos teores de clorofilas e de carotenoides de plântulas de C. nobilior.

Calabrese et al. (1999) afirmam que a planta, quando exposta a um agente estressor externo, reage a essa situa-ção, dentre outras formas, por meio do maior desenvolvi-mento vegetativo, sendo esta uma característica adaptativa do sistema biológico, na busca de compensar os danos causados pelo estresse. Contudo, os mesmos autores res-saltam que os estímulos podem variar nas plantas de acor-do com a intensidade acor-do estresse, senacor-do que estímulos fracos aceleram a atividade fisiológica e estímulos fortes cessam essa atividade. Na Figura 3, é possível observar o desenvolvimento das plantas no meio de cultura.

De acordo com a correlação de Pearson (Figura 4A), observa-se correlação positiva entre comprimento de par-te aérea, comprimento de raiz, comprimento da folha e lar-gura da folha, massa seca de raízes e parte aérea, de cloro-filas a e b e de carotenoides. Já o número de folhas apre-sentou correlação positiva com número de brotos.

Pode-se inferir que essa alta correlação positiva entre número de brotos e número de folhas esteja relacionado com o fato de o glifosato reduzir a relação auxina/citocinina, causada pela inibição da síntese de AIA. Essa maior rela-ção de citocinina estimulou o desenvolvimento das gemas laterais e, consequentemente, resultou em maior número de folhas e brotos.

De acordo com a análise de componentes principais (Figura 4B), é possível observar que as menores concen-trações (0 e 8,5 mg L-1 e.a.) de glifosato formaram um grupo

e as concentrações intermediárias formaram um segundo grupo (17; 25,5 e 34 mg L-1 e.a.) por outro lado, a maior

concentração (42,5 mg L-1 e.a.) de glifosato ficou isolada

dos outros dois grupos, apresentando correlação inversa com todas as variáveis analisadas.

O número de brotos (NB) e o número de folhos (NF) apresentaram correlação com a concentração de 34 mg L-1

e.a glifosato, porém não apresentaram correlações com as outras variáveis analisadas. A massa seca de parte aérea (MSPA) e a largura da folha (LF) apresentaram baixa corre-lação com as concentrações de 17 e 25,5 mg L-1 e.a.

glifosato.

Baixas concentrações de glifosato podem ser utiliza-das para melhorar o desenvolvimento inicial de C. nobilior, quando cultivado in vitro, obtendo-se, assim, plantas de melhor qualidade e mais resistentes ao período de aclimatização.

CONCLUSÕES

Dentre os componentes fitométricos analisados, o com-primento de raiz, a massa seca de raízes e o teor de clorofila b apresentaram redução com o incremento das concentra-ções do glifosato.

Baixas concentrações de glifosato adicionadas ao meio de cultura ½ MS resultam em efeito hormese, com aumento do crescimento da parte aérea de Cattleya nobilior Rchb. F.

REFERÊNCIAS

Baur JR (1979) Eftect of glyphosate on auxin transport in corn and cotton tissues. Plant Physiology, 63:882-886.

Benzing DH, Ott DW & Friedman WE (1982) Roots of Sobralia macrantha (Orchidaceae): structure and function of the velamen-exodermis complex. American Journal of Botany, 69:508-614. Calabrese EJ & Baldwin LA (2001) Hormesis: a generalizable and unifying hypothesis. Critical Reviews in Toxicology, 31:353-424.

Calabrese EJ, Baldwin LA & Holland CD (1999) Hormesis: A highly generalizable and reproducible phenomenon with important implications for risk assessment. Risk Analysis, 19:261-281. Carbonari C, Meschede DK & Velini ED (2007) Efeitos da

aplica-ção de glyphosate no crescimento inicial de mudas de eucalipto submetidas a dois níveis de adubação fosfatada. In: Simpósio Internacional sobre Glyphosate, Botucatu. Anais, FEPAF. p.68-70.

Carvalho LB & Alves PLC (2011) Efeitos do glyphosate na fotossíntese do cafeeiro. In: Simpósio Internacional sobre Glyphosate, Botucatu. Anais, FEPAF. p.86-89.

Cedergreen N (2008) Is the growth stimulation by low doses of glyphosate sustained over time? Environmental Pollution, 156:1099-1104.

Cedergreen N & Olesen CF (2010) Can glyphosate stimulate photosynthesis? Pesticide Biochemistry and Physiology, 96:140-148.

Cronquist A (1981) An integrated system of classification of flowering plants. New York, Columbia University Press. 1262p. Duke SO, Cedergreen N, Velini ED & Belz RG (2006) Hormesis: Is it an important factor in herbicide use and allelopathy? Outlooks on Pest Management, 17:29-33.

Faria RT, Dalio RJD, Unemoto LK & Silva GL (2006) Propagação in vitro de Oncidium baueri Lindl. (Orchidaceae) sem uso de ágar. Acta Scientia Agronomica, 28:71-74.

Galli AJB & Montezuma MC (2005) Alguns aspectos da utilização de glyphosate na agricultura. São Paulo, ACADCOM Gráfica e Editora. 66p.

Godoy MC (2007) Efeitos do glyphosate sobre o crescimento e absorção de fósforo pela soja. Dissertação de Mestrado. Uni-versidade Estadual Paulista, São Paulo. 53p.

(9)

Halter S (2009) História do herbicida agrícola glyphosate. In: Velini ED (Ed.) Glyphosate. Botucatu, FEPAF. p.11-16. Kruse ND, Trezzi MM & Vidal RA (2000) Herbicidas inibidores da

EPSPs: revisão de Literatura. Revista Brasileira de Herbicidas, 1:139-146.

Mayer JLS, Ribas LLF, Bona C & Quoirin M (2008) Anatomia comparada das folhas e raízes de Cymbidium Hort. (Orchidaceae) cultivadas ex vitro e in vitro. Acta Botânica Bra-sileira, 22:323-332.

Meschede DK, Velini ED, Carbonari CA & Silva JRM (2011) Alte-ração fisiológica da cana-de-açúcar pela aplicação de glyphosate e sulfumeturon-methyl. Planta Daninha, 1:413-419. Meschede DK, Carbonari CA & Velini ED (2007) Efeito de subdoses

de glyphosate sobre o crescimento e desenvolvimento de

Commelina benghalensis. In: Simpósio Internacional Sobre

Glyphosate, Botucatu. Anais, FEPAF. p.65-67.

Mousdale DM & Coggins JR (1991) Amino acid synthesis. In: Kirkwood RC (Ed.) Target sites for herbicide action. New York, Premium Press. 327p.

Murashige T & Skoog FA (1962) Revised medium for rapid growth and bio assays with tobacco tissue cultures. Physiologia Plantarum, 15:473-497.

Oliveira LM, Paiva R, Santana JRF, Nogueira RC, Soares FP & Silva LC (2007) Efeito de citocininas na senescência e abscisão foliar durante o cultivo in vitro de Annona glabra L. Revista Brasileira de Fruticultura, 29:25-30.

Pereira CS, Bevilacqua UC, Souza TV, Matte WD & Chapla MV (2016) Phytotoxicity in transgenic soybean treated with glyphosate doses. Scientific Electronic Archives, 3:52-61. Pierik RLM (1990) Cultivo in vitro de las plantas superiores. 3ª

ed. Madrid, Ediciones Mundi-Prensa. 120p.

Pincelli-Souza RP (2014) Hormesis de glyphosate em cana-de-açúcar. Tese de Doutorado. Universidade Estadual Paulista, São Paulo. 75p.

R Development Core Team (2012) R: A Language and Environment for Statistical Computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. Disponível em: <http://www.R-project.org/>. Acessado em: 20 de abril de 2017.

Ross J & O’Neil D (2001) New interactions between classical plant hormones. Trends in Plant Science, 6:2-4.

Schmidt RR (1997) Classification of herbicides according to mode of action. In: Brigton Crop Protection Conference – Weeds, Brighton. Proceedings, HRAC. p.1133-1140.

Silva MDA, Aragão NC, Barbosa MDA, Jeronimo EM & Carlin SD (2009) Efeito hormótico de gliphosate no desenvolvimento inicial de cana-de-açúcar. Bragantia, 1:973-978.

Sorace M, Faria RT, Batista Fonseca IC, Yamamoto LY & Fonse-ca Sorace MA (2009) Alternative substrata for xaxim on culture of Cattleya intermedia X Hadrolaelia purpurata (Orchidaceae). Semina: Ciências Agrárias, 30:771-778.

Stancato GC & Faria RT (1996) In vitro growth and mineral nutrition of the lithophytic orchid Laelia cinnabarina Batem. (Orchidaceae) I: effects of macro and microelements. Lindleyana, 11:41--43.

Taiz L & Zeiger E (2013) Fisiologia vegetal. 5ª ed. Porto Alegre, Artmed. 918p.

Takane RJ, Yanagisawa SS & Pivetta KFL (2010) Cultivo moder-no de orquídeas: Cattleya e seus híbridos. Fortaleza, UFC. 179p. Tomaz HVQ (2009) Fontes, doses e formas de aplicação de fósfo-ro na cana-de-açúcar. Dissertação de Mestrado. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, São Paulo. 93p.

Velini ED, Carbonari ED, Meschede DK & Trindade MLB (2012) Modo de ação do glyphosate. In: Velini ED, Carbonari ED, Meschede DK & Trindade MLB (Eds.) Glyphosate: uso susten-tável. Botucatu, FEPAF. 213p.

Velini ED, Alves E, Godoy MC, Meschede DK, Souza RT & Duke SO (2008) Glyphosate applied at low doses can stimulate plant growth. Pest Management Science, 64:489-496.

Vitti GC, Oliveira DB & Quintino TA (2006) Micronutrientes na cultura da cana-de-açúcar. In: Segato SV, Pinto AS, Jendiroba E & Nóbrega JCM (Eds.) Atualização em produção de cana-de-açúcar. p.121-138.

Yamada T & Castro PBC (2007) Efeitos do glifosato nas plantas: implicações fisiológicas e agronômicas implicações fisiológicas e agronômicas. International Plant Nutrition Institute, 1:1-32. Yoshida S (1969) Biosynthesis and conversion of aromatic amino

acids in plants. Annual Review Plant Physiology, 20:41-62. Wagner R, Kogan M & Parada AM (2003) Phytotoxic activity of

root absorbed glyphosate in corn seedlings (Zea mays L.). Weed Biology Management, 3:228-232.

Watanabe D (2002) Orchidas: manual de cultivo. São Paulo, Asso-ciação Orquidófila de São Paulo. 296p.

Whitham FH, Blaydes DF & Devlin RM (1971) Experiment in plant physiology. New York, Van Nostrand Company. 236p.

Referências

Documentos relacionados

Os dados publicados pelo Departamento do Comércio, em junho, indicam que os consu- midores têm resistido a pressões como au- mento de impostos e cortes de

» Se desejar mais torradinho, abra, mexa novamente e coloque mais tempo na função Airfryer.. Faça cortes na pele em dois sentidos, formando

Baroni &amp; Maltempi (2020) apresentam que as tecnologias digitais não são abordadas com centralidade na formação inicial de futuros professores de Matemática nas

O estudo de memórias históricas documentais pela psicologia social da memória exige, pois, que, dada uma população e um fato, processo ou período histórico: (1) sejam

(UFPE) Uma caixa cúbica metálica de 10 L está completamente cheia de óleo quando a temperatura do conjunto é de 20 °C. Sejam os coeficientes de dilatação volumétrica do vidro e

Diante de todo o contexto em referência, seja com a atitude do primeiro representado, como dos demais ali presentes, restou insofismável não se tratar de um mero ato público

Desse modo, os estudantes só poderão cursar até o limite máximo de 32 (trinta e dois) créditos por semestre, seja com o objetivo de integralizar mais rapidamente o curso