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TV INDUSTRIAL: 1 a representação de Juiz de Fora na televisão nos anos 60 e 70

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TV INDUSTRIAL:

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a representação de Juiz de Fora na televisão nos anos 60 e 70

Frederico Belcavello2

Resumo: O objetivo principal desta comunicação é apresentar uma discussão sobre

a relevância histórica e o papel desempenhado pela TV Industrial de Juiz de Fora, pioneira emissora-geradora de televisão no Brasil a operar oficialmente, mediante concessão, instalada fora de uma capital. O trabalho procura lançar as bases de reflexão sobre o lugar ocupado pela Industrial nos processos de representação da identidade juizforana na televisão, uma vez que esta TV se constituiu como única emissora com programação local por um período de dezesseis anos – entre 1964 e 1979. O estudo bibliográfico que baliza estas reflexões recorre a autores como Zygmunt Bauman, Stuart Hall e Dominique Wolton para tratar da discussão sobre a construção de identidades na contemporaneidade, aliada aos processos de produção de sentido e representação na televisão, em especial no âmbito da comunicação local.

Palavras-Chave: Televisão; Mídia Local; Identidade.

1. Introdução

A cidade de Juiz de Fora teve, ao longo de sua história, um vasto repertório de títulos cunhados a fim de exaltar traços característicos de suas atividades sociais, muitas vezes, inclusive, em referência a outras localidades espalhadas pelo globo. Foi assim que se constituíram, desde fins do século XIX e início do XX, os epítetos de “Manchester Mineira”, com referência ao então pujante parque industrial, “Atenas de Minas Gerais”, por conta da produção artística, ou, ainda, “Princesa de Minas”, em razão de uma atribuída beleza urbanística. Tais títulos, entre outros, ganharam notoriedade e popularidade, marcaram o imaginário da cidade e, em diversos momentos foram alçados a marcos definitivos de uma pretensa identidade juizforana.

Esta noção de identidade se constituía não só dos tais alardeados traços característicos elogiosos, mas, sobretudo, de uma espessa trama semântica construída ao longo do desenvolvimento da sua sociedade, instituições, população e da cultura local. Por estas

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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Comunicação e Sociedade”, do I Ecomig, PUC-Minas, Belo Horizonte, julho de 2008.

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mesmas instâncias, constituintes da esfera pública da cidade, dava-se a produção do sentido e a promoção dessa identidade juizforana. No entanto, ao longo dos anos, um palco de representação específico tornava-se mais destacado e com influência crescente: a mídia local, estabelecida pelos jornais e pelas rádios juizforanas.

Em 1964, o sistema de mídia local foi acrescido de um novo agente: a TV Industrial, pioneira emissora geradora brasileira instalada fora de uma capital3. Tratava-se de um canal com programação predominantemente local que teria, então, a potencial capacidade de promover a representação de Juiz de Fora no espectro daquele que já despontava como o principal meio de comunicação no Brasil e em todo o mundo. Durante dezesseis anos a Industrial manteve-se como único canal de televisão local na cidade, configurando-se, portanto, como um novo espaço de mediação das identidades juizforanas.

É neste cenário apresentado que delimitamos nossa questão/problema: considerando seu caráter local e sua singularidade no espaço televisivo de Juiz de Fora, que papel desempenhou a TV Industrial na representação das identidades juizforanas?

A resposta (ou uma resposta) a essa questão deve ser construída no contexto de um processo crescente do interesse pela investigação desse tipo de problema. A relevância dos estudos sobre história da mídia tem se afirmado à medida que o próprio campo de pesquisa de comunicação se desenvolve e torna-se mais interdisciplinar. Os historiadores Peter Burke e Asa Briggs chamam a atenção para que

(...) as pessoas que trabalham com comunicação e estudos culturais – em número ainda crescente – devem levar em consideração a história; e que aos historiadores – de qualquer período ou tendência – cumpre levar em conta seriamente a comunicação (inclusive a Teoria da Comunicação). (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 14).

Nesse sentido, ressaltamos a importância da pesquisa historiográfica da mídia juizforana e a investigação dos processos de construção de identidades através dos meios de comunicação locais. Tal esforço revela a preocupação do estudo sobre as articulações entre mídia e sociedade e a produção de sentidos, saberes, identidades locais e/ou globais, em relação aos conteúdos veiculados.

3Antes da TV Industrial Juiz de Fora já tinha contato com produções locais em televisão, através do

funcionamento experimental da TV Mariano Procópio, no início dos anos 60, como resgatou o trabalho de Lívia Fernandes de Oliveira (OLIVEIRA: 2007). No entanto, o pioneirismo da Industrial está baseado em dois aspectos: primeiro por ter entrado em funcionamento em caráter oficial, mediante concessão. Segundo, por, ao entrar em operação, ter permanecido no ar por 16 anos, ultrapassando assim o caráter experimental.

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Pautada primordialmente pelos assuntos locais ou julgados de interesse do público local, a TV Industrial definiu-se, nos anos 60 e 70, como vitrine da sociedade e da cultura juizforanas, segundo “uma filosofia de atendimento às reivindicações da cidade” (MENDES, 1982). Por isso seus programas, grade de programação e a visão de seus comunicadores e suas estratégias de comunicação configuram-se relevantes objetos de investigação sobre a produção de sentidos e a representação de identidades no escopo da mídia juizforana. O fato de ter ocupado com exclusividade, de 1964 a 1979, o espaço local de mídia televisiva reforça ainda mais sua relevância como espaço midiático de significação.

A investigação deste objeto/problema, ao analisar um significativo produto midiático local, soma-se ao acervo local de processos críticos – nos termos de José Luiz Braga e sua proposta do sistema de interação social sobre a mídia – “uma vez que exerce um trabalho analítico-interpretativo, gerando esclarecimento e percepção ampliada” (BRAGA, 2006, p. 46). A contribuição também se refere ao aspecto historiográfico. A memória da TV Industrial reside hoje, primordialmente, nas lembranças e relatos de quem participou de sua trajetória, seja como trabalhador ou como espectador. Não há publicação ou registros históricos completos e organizados. A exceção são breves citações em monografias e artigos acadêmicos recentes que tratam da história da TV em Juiz de Fora como um todo, o que configura uma lacuna a ser preenchida na história da cidade.

2. Identidades, representação e comunicação local

A abordagem apresentada neste artigo fundamenta-se segundo três recortes teóricos primordiais e as articulações entre eles: primeiro, a discussão sobre a construção de identidades na contemporaneidade, no contexto da sociedade pós-moderna; segundo, os estudos referentes à mediação dos processos de produção de sentido e representação nos meios de comunicação, em especial, na televisão e seu destacado papel social; terceiro, as correntes que versam sobre as questões de localidade no contexto da globalização e a comunicação local.

O espírito do tempo contemporâneo, também chamado pós-moderno, revela um contexto social que revê as relações de espaço e tempo e, por conseqüência, do

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posicionamento do sujeito diante do fluxo da experiência humana. Notadamente, falamos de uma realidade na qual as relações humanas estão em movimento.

O pós-moderno (...) privilegia a heterogeneidade e a diferença como forças libertadoras na redefinição do discurso cultural. A fragmentação, a indeterminação e a intensa desconfiança de todos os discursos universais ou (para usar um termo favorito) “totalizantes” são o marco do pensamento pós-moderno (HARVEY, 1992, p. 19).

Zygmunt Bauman (2005) chama a atenção, nesse ambiente fragmentário, para uma “crise de pertencimento” que incita o sujeito em direção à busca pela(s) identidade(s). Neste mesmo sentido, Stuart Hall (2002, pp.10–13) nos apresenta uma concepção de identidade que é a do “sujeito pós-moderno”. Este sujeito, para dar conta da realidade instável e fragmentária do universo que habita, vai buscar sua identidade em processos diversos e passa, inclusive, a assumir identidades variadas de acordo com as diferentes situações de produção de significado com as quais se depara. “A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 2002, pp. 12-13).

Em uma sociedade midiatizada, como se configura o mundo desde o século XX, os sistemas que mais ganham destaque são os meios de comunicação. Este processo se iniciou tendo o jornal como principal meio de comunicação, mas ao longo dos anos descobriu e se rendeu aos meios eletrônicos de comunicação. O rádio, primeiro, e, sobretudo, a televisão, potencializaram drasticamente o sistema de mídia de massa e tornaram-se protagonistas na produção social de sentido.

A difusão da televisão nas três décadas após a Segunda Guerra Mundial (em épocas diferentes e com intensidade variável, dependendo do país) criou uma nova Galáxia de comunicação, permitindo-me usar a terminologia de McLuhan. Não que os outros meios de comunicação desaparecessem, mas foram reestruturados e reorganizados em um sistema cujo coração compunha-se de válvulas eletrônicas e cuja fachada atraente era uma tela de televisão (CASTELLS, 1999, p. 355).

Dada a relevância da televisão, infere-se que cada vez mais os processos de identificação e construção de identidades se dariam em torno da relação entre telespectadores e TV. Martín-Barbero (2002, p. 280) destaca que “no centro da nova dinâmica cultural, no papel de grande interlocutor, estará a televisão”. Dominique Wolton (2004) aponta a televisão como um dos principais laços sociais da sociedade individual de massa, por protagonizar a organização dos espaços simbólicos.

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A televisão, como sempre dizemos, é o “espelho” da sociedade. Se ela é seu espelho, isso significa que a sociedade se vê – no sentido mais forte do pronome reflexivo – através da televisão, que esta lhe oferece uma representação de si mesma. E ao fazer a sociedade refletir-se, a televisão cria não apenas uma imagem e uma representação, mas oferece um laço a todos aqueles que a assistem simultaneamente. Ela é, além disso, um dos únicos exemplos em que essa sociedade se reflete, permitindo que cada um tenha acesso a essa representação. (WOLTON, 2006, p. 124)

A noção da televisão como “espelho da sociedade” é particularmente notabilizada no âmbito local, considerando características que reforçam o laço nestes limites sociais. Para Renato Ortiz, a intensidade do local estaria baseada na proximidade do lugar, na familiaridade e na diversidade (em oposição à padronização do modelo global) que se contrasta em relação ao distante e, por estar realmente presente em nossas vidas, associamos à idéia de autêntico. (ORTIZ, 1999, p. 38 apud PERUZZO, 2006, p. 144). Assim, os elos estariam vinculados muito mais aos laços de identidades de interesses e de identidades simbólicas, do que à questão puramente territorial, uma vez que, como destaca Alain Bourdin (2001, p.17) não é possível “definir um objeto local e principalmente dar-lhe um contorno territorial preciso”.

O interesse e a valorização contemporâneos do local estão, na verdade, diretamente associados ao intenso desenvolvimento do processo de globalização. Primeiro, porque a manifestação do global se dá em âmbito local, na esfera da realidade perceptível e do cotidiano. Segundo, porque a necessidade de referenciar-se estimula o interesse pelo que está mais próximo, afeta mais palpavelmente nossas vidas e produz identificação. É o que destaca Cicília Peruzzo (2006, pp.145-146): “as pessoas (...) buscam suas raízes e demonstram interesse em valorizar as ‘coisas’ da comunidade, o patrimônio histórico cultural local e querem saber dos acontecimentos que ocorrem ao seu redor”. É fundamentada nestes pressupostos que se ergue e se mantém um canal de televisão com programação local.

3. O pioneirismo na TV de Juiz de Fora

A trajetória da televisão em Juiz de Fora evoca um cultuado traço identitário da cidade: o pioneirismo. Em 28 de setembro de 1948, o técnico em eletrônica Olavo Bastos Freire colocou em serviço os equipamentos por ele montados para uma das primeiras

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experiências de transmissão pública televisiva da América Latina. A demonstração se deu com equipamentos instalados em dois pontos do centro da cidade: no primeiro andar do Edifício Clube Juiz de Fora, na Avenida Rio Branco, e na Casa do Rádio, que ficava na Avenida Getúlio Vargas, onde convidados assistiram a cenas captadas no Parque Halfeld. Publicações da historiografia da TV no Brasil também relatam o trabalho de Bastos Freire na transmissão de eventos como o Congresso Eucarístico e o jogo de futebol entre Tupi e Bangu, em comemoração ao centenário de Juiz de Fora, em 1950.

Entretanto, as primeiras experiências juizforanas de consumo da televisão só se iniciam mais tarde, no fim dos anos cinqüenta, com a instalação de antenas para retransmissão das emissoras cariocas TV Rio e TV Tupi. As até então conhecidas estrelas do rádio nacional mostram seus rostos pela primeira vez dentro da casa dos juizforanos, mas com o sotaque e a identidade da capital federal.

A identidade pioneira é novamente evocada em 1964, quando é inaugurada a primeira emissora geradora do interior do Brasil, a TV Industrial, fundada e administrada pelo empresário e advogado Sérgio Vieira Mendes e seus filhos Geraldo e Gudesteu.

A incursão da família no ramo da comunicação começou em 1954, quando Sérgio Mendes adquiriu, nos últimos dias do governo Getúlio Vargas, concessão para exploração de uma rádio no município de Matias Barbosa. No entanto, a Rádio Difusora Minas Gerais só entrou em operação em 1955, quando a família conseguiu a transferência da concessão para Juiz de Fora. Em 1956, os Mendes adquiriram também a Rádio Industrial e formou a cadeia Dial (Difusora e Industrial) de rádio.

Em janeiro de 1963, após intensa disputa com outros grupos empresariais da cidade, a Rádio Industrial tornou-se detentora da concessão para estabelecer uma estação de televisão geradora de programas na cidade de Juiz de Fora. Um ano e meio depois, em 29 de julho de 1964, ao vivo, direto da sede construída no Morro do Imperador, a emissora fez sua primeira transmissão.

A Industrial, como todo o sistema de televisão no Brasil, ergueu-se baseada na estrutura do rádio. Valeu-se do nome e de profissionais da Rádio Industrial e produzia uma programação composta, principalmente, por programas de auditório, esportivos e noticiários, todos transmitidos ao vivo.

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O principal esforço para marcar sua diferença em relação às emissoras cariocas que podiam ser sintonizadas em Juiz de Fora era colocar na tela da TV uma programação de caráter mais regional e local, tratando de assuntos específicos da vida social juizforana ou de presumido interesse da população local. Neste sentido, o canal investia em produções locais como noticiários, mesas de debate, programas de auditório e de variedades. Era uma tentativa de levar à tela da televisão o “sotaque” juizforano e promover a inclusão, a existência da cidade no espectro dessa mídia, então emergente.

No entanto, a Industrial também operava em caminho inverso, esforçando-se para se indiferenciar das concorrentes, afirmando-se como emissora de “alto padrão”, ao incluir na programação formatos e produtos típicos dos canais cariocas ou das redes nacionais. É o que se via no que tange à transmissão de jogos dos clubes cariocas – os preferidos na cidade – e aos programas especiais ancorados por estrelas do rádio e da televisão do Rio de Janeiro, com a participação de artistas de projeção nacional. Havia ainda os contratos com distribuidoras de filmes, com os quais a grade era preenchida e totalizava aproximadamente 12 horas de programação diária. A Industrial costumava também investir na promoção de shows, concursos de danças e outros eventos, que eram gravados e posteriormente exibidos.

Fica evidente que, assim como acontecera no auge do rádio na cidade, os modelos a serem seguidos eram os das emissoras cariocas. E mais: a pejorativa identidade “carioca do brejo” não poderia traduzir melhor o esforço para manter intercâmbio com as emissoras do Rio de Janeiro e valer-se da exaltada proximidade geográfica com a já ex-capital federal para povoar a tela de elementos típicos do universo carioca, como os cantores, os apresentadores e animadores de auditório e, claro, as cores de Vasco, Botafogo, Flamengo e Fluminense.

A identidade juizforana do canal era construída a partir dos seguintes elementos: a) veiculação de programas cujas pautas, assuntos e fontes eram construídas junto às

instituições da vida cotidiana da cidade;

b) referência à cidade na apresentação do canal como veículo local; c) participação do público na platéia dos programas de auditório;

d) transposição de conteúdos tradicionais no sistema de rádio local para a programação da televisão;

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f) espaço para expressão das opiniões, conhecimentos ou talentos artísticos da população local;

g) naturalidade juizforana de seus apresentadores e seus históricos pregressos de envolvimento com entidades locais e atuação na mídia local;

h) afirmação da diferença em relação aos outros canais de televisão que tinham uma programação constituída no Rio de Janeiro, direcionada ao público carioca, pautada por conteúdos que não consideravam a vida cotidiana da cidade;

Nos anos 70, a TV Globo já se organizava como rede e buscava em todo o país a aquisição de emissoras afiliadas. Para sobreviver frente à já líder de audiência Rede Globo foi criada a Rede de Emissoras Independentes, liderada pela TV Record. A REI também representava a última chance de sobrevivência das pequenas emissoras, como a Industrial, uma vez que possibilitava um intercâmbio, com o qual os programas produzidos e exibidos em cada emissora da rede eram posteriormente cedidos para exibição nas demais.

A Industrial resistiu até 19794. As mortes de Sérgio Mendes e Gudesteu Mendes anos antes, aliadas às dificuldades financeiras enfrentadas pela emissora e o assédio da TV Globo para a sua aquisição puseram um ponto final na história da Industrial. A emissora foi adquirida pela Rede Globo, e tornou-se TV Globo Juiz de Fora, de propriedade da família Marinho, como parte de um projeto de conquista dos mercados do Sul de Minas e da Zona da Mata5.

Entretanto, ao contrário dos discursos acadêmicos acalorados sobre a perda de um espaço local de mídia e das relações afetivas de profissionais envolvidos, o empresário Geraldo Mendes destaca que não houve contestação da audiência ou da opinião pública:

Foi uma reação muito pacífica, alguns assumiam ares de certa satisfação com a participação da TV Globo na vida de Juiz de Fora. Pura ilusão: a Globo nunca foi parte de Minas ou do Brasil; é uma emissora feita exclusivamente no sentido de explorar o serviço público em todos os seus aspectos (CABRAL, 1985, p. 29).

4. Conclusão

O início das atividades da TV Industrial, em 1964, representou um efetivo marco no percurso histórico da cidade e uma forma nova dos habitantes juizforanos se relacionarem

4 O fechamento oficial data de 29 de novembro de 1979. 5 A TV Globo Juiz de Fora estreou em 14 de abril de 1980.

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com a cidade. A partir daquele dia 29 de julho Juiz de Fora passou a se ver de uma maneira diferente: percebia-se representada em áudio e vídeo na tela da televisão e, portanto, passava a ‘existir’ no ambiente televisivo, já que, até então, a vida social juizforana, o espaço público local midiatizado estava restrito aos jornais e ao rádio.

Ao criar um canal de televisão que buscava exibir prioritariamente traços e marcas de juizdeforaneidade ou, pelo menos, considerar tais elementos ao compor a sua grade, é certo que os processos de produção de sentido acerca dos assuntos locais tenham sido reconfigurados.

Além disso, ao permanecer por dezesseis anos como único espaço local televisivo, numa época em que a televisão se consolida como mídia hegemônica de audiência, a TV Industrial assegura um papel que deve ser examinado em profundidade, no que tange à construção e representação das identidades locais. Neste sentido, não tanto porque os produtos televisivos que encarnaram a representação das identidades juizforanas tenham trazido revoluções de formatos, linguagens ou discurso, mas pela carência de espaços de significação da localidade no sistema de mídia da cidade.

E uma vez que a mídia, especialmente a televisão, tem papel fundamental na mediação das relações de significado da vida cotidiana, o juizforano podia encontrar apenas na programação da TV Industrial o espelho da sociedade apontado por Wolton, ou seja, um espelho de um cotidiano que poderia ser por ele vivenciado nos espaços da cidade real. O telespectador acabava por deparar-se com imagens, pessoas e situações bastante reconhecíveis, muitas vezes presentes, realmente, na sua esquina. E, por isso, essas imagens e discursos veiculados eram elementos inexoravelmente empregados pelo telespectador no processo de construção da identidade da cidade.

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