INTRODUÇÃO + TEORIAS EXPLICATIVAS POSSE
A posse é um tema estudado de forma setorizada, pois não pode ser confun-dida com direito real ou obrigacional. A posse é uma situação fática que, devido a sua repercussão, seus efeitos jurídicos e sua importância econômico-social, passa a ser um interesse juridicamente tutelado.
Seguindo a orientação do professor Clóvis Beviláqua, a posse é um direito especial suis generis, isto é, sua natureza jurídica é um misto de fato e direito.
Em regra, as provas de concurso costumam cobrar qual é a teoria da posse adotada no Brasil. Nesse sentido, há uma dicotomia:
• Teoria Subjetiva de Savigny: P = C+A • Teoria Objetiva de Ihering: P = C
(P – Posse / C – corpus / A – animus domini)
A teoria adotada no Brasil é a objetiva de Ihering. Essa afirmação é funda-mentada no art. 1.196 do Código Civil.
A Teoria Subjetiva de Savigny pressupõe que a posse é o corpus + animus
domini, ou seja, o elemento objetivo + o elemento subjetivo, respectivamente.
Essa é uma teoria que enseja bastante importância ao elemento subjetivo. Para Savigny, a posse necessariamente deveria advir da fusão citada acima. O corpus é o direito de exercer o poder físico/jurídico sobre a coisa, ou seja, é necessário estar perto do objeto sobre o qual se exerce posse, pois, a partir do momento em que a pessoa se distancia do objeto, o corpus desaparece. Essa teoria precisou ser adequada ao longo do tempo.
Assim, Savigny determina que, na falta de algum dos elementos, tem-se a situação de detenção, que é a ausência de posse.
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AÇÕES
Peculiaridade: antes da reforma, a teoria de Savigny previa que, se uma pessoa deixasse seu carro no estacionamento para ir ao shopping, ela não teria mais a posse do carro, pois estaria longe do corpus.
Já para o professor Ihering, a posse é a exteriorização da propriedade, a visi-bilidade de domínio, a conduta de dono. Ou seja, sabe-se que uma pessoa é a dona de um determinado objeto observando a forma como essa pessoa o trata , dando à coisa uma destinação econômico-social.
Essa foi a teoria adotada no Brasil, porém, conforme o art. 1.196 do Código Civil, o possuidor é aquele que pode exercer, em seu próprio nome, qualquer das prerrogativas de dono (previstas no art. 1.228 do CC).
Para o professor Flavio Tartuce, o Brasil já superou a dicotomia entre teoria objetiva e subjetiva da posse. Assim, hoje o Brasil adota de fato a teoria socioló-gica da posse, que entende a posse conforme a sua função social.
Atenção!
A banca FGV adota a dicotomia entre as teorias e a posição de que o Brasil adota a teoria objetiva de Ihering; contudo, hoje é mais consentâneo falar em teoria sociológica da posse.
Código Civil
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
Enunciado 236 da JDC – Arts. 1.196, 1.205 e 1.212: Considera-se possui-dor, para todos os efeitos legais, também a coletividade desprovida de persona-lidade jurídica.
Enunciado 492 da JDC – A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de inte-resses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela (função social da posse).
OOs..:
em uma escala de proteção, em primeiro lugar, há a propriedade; em seguida, a posse; e, por último, a detenção. Esses elementos não podem ser confundidos. Além disso, a propriedade não pode ser confundida com o domínio, pois esse é parte integrante dela.
Teoria Sociológica da posse (posse-social) Perozzi, Saleilles e Hernandez Gil. A posse é um fenômeno social, econômico e jurídico, porém precisa ser exer-cida conforme a sua função social. Essa teoria encontra adeptos nos direitos italiano, francês e espanhol.
DETENÇÃO
Para Ihering, a ausência de posse é igual à detenção e, segundo ele, as hipó-teses de detenção são de opção do legislador.
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AÇÕES
OOs..:
existem hipóteses em que é possível haver a aparência de posse, mas esta não é configurada por uma questão de política legislativa. Assim, é preciso estudar as hipóteses legais de detenção, ou seja, quando o legis-lador prefere afirmar que se trata de detenção, e não de posse.
As hipóteses legais de detenção estão previstas nos artigos 1.198 e 1.208 do Código Civil.
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de
depen-dência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.
O artigo acima trata especificamente do fâmulo (servo) da posse – aquele que exerce a posse em função de outrem. Exemplo: o caseiro em relação à fazenda, a empregada doméstica em relação aos utensílios utilizados, a bibliotecária em relação aos livros e também o soldado em relação às armas.
Os detentores não podem se utilizar da proteção judicial da posse, ou seja, não possuem legitimidade para propor e para responder, regra geral, ações pos-sessórias. O detentor pode se valer de mecanismos de proteção da posse extra-judiciais.
Código Civil
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim
como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão
depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
Enunciado 301 da JDC – Art. 1.198 c/c art. 1.204: É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercí-cio em nome próprio dos atos possessórios.
Exemplo: se um caseiro rompe o vínculo de subordinação e se apodera de algum bem de seu antigo patrão, recusando-se a devolvê-lo, esse caseiro sairá da figura de detentor e passará a ser o possuidor.
Enunciado 493 da JDC – O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder.
Exemplo: a legítima defesa da posse e o desforço imediato (art. 1210, § 1º, do Código Civil).
Atos de mera permissão ou de tolerância não induzem posse. Exemplo: uma pessoa que compra um ingresso com cadeira marcada para assistir a uma peça de teatro não terá a posse da cadeira, mas, sim, a mera permissão de utilizá-la.
Ato de mera tolerância – exemplo: uma pessoa que utiliza de forma indevida a vaga de garagem do vizinho por este não possuir carro. Se o dono da vaga tolera essa situação, o usuário da vaga não tem a posse, mas, no máximo, a detenção.
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Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pela professora Raquel Bueno.