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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ELIOMAR JOSÉ BEZERRA DA SILVA

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ELIOMAR JOSÉ BEZERRA DA SILVA

A PROIBIÇÃO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MENOR DE 14 ANOS NO MEIO ARTÍSTICO.

JOÃO PESSOA

2011

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ELIOMAR JOSÉ BEZERRA DA SILVA

A PROIBIÇÃO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MENOR DE 14 ANOS NO MEIO ARTÍSTICO.

Artigo científico apresentado como requisito para conclusão de curso referente à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba.

Orientador(a): Profª Anne Augusta Alencar Leite Reinaldo

JOÃO PESSOA

2011

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S586a Silva, Eliomar José Bezerra da Silva

A proibição trabalho da criança e do Adolescente menor de 14 anos no meio artístico / Eliomar José Bezerra da Silva. – João Pessoa, 2011.

15f.

Orientador: Profª Anne Augusta Alencar Leite Reinaldo

Artigo (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP.

1. Direitos fundamentais 2. Relações de trabalho 3. Eficácia I. Título.

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ELIOMAR JOSÉ BEZERRA DA SILVA

A PROIBIÇÃO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MENOR DE 14 ANOS NO MEIO ARTÍSTICO.

Artigo científico apresentado como requisito para conclusão de curso referente à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba.

Aprovada em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________ Profª Anne Augusta Alencar Leite Reinaldo– FESP

Orientador

________________________________________ Profº. – FESP

________________________________________ Profº. – FESP

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A PROIBIÇÃO DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE MENOR DE 14 ANOS NO MEIO ARTÍSTICO.

ELIOMAR JOSÉ BEZERRA DA SILVA *

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo mostrar o real problema jurídico das crianças e adolescentes com idade inferior a 14 anos, que exercem alguma forma de trabalho no meio artístico. Não sendo nossa intenção esgotar os requisitos necessários para a efetivação dos seus direitos, bem como adentrar nas minúcias dos problemas sociais gerados por essa inserção precoce no mercado de trabalho, tão pouco criticar ou condenar a participação de crianças em atividades artísticas. E sim, mostrar primordialmente que não pode existir qualquer exceção no que diz respeito ao tratamento de qualquer criança no âmbito trabalhista, seja em qualquer plano ou setor da economia, no que se refere ao trabalho infantil. Conclamando uma maior atenção do Estado e da sociedade em geral, para esse problema tão bem escondido por algumas pessoas que fazem esse meio artístico.

Palavras-chaves: Trabalho. Menor. Proibição. Direito do Trabalho

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O Trabalho infantil é um tema que repercute cada vez mais na sociedade brasileira. Existindo algumas divergências doutrinárias em relação à exceção de alguma forma de trabalho infantil, no que se refere à atuação de crianças no meio artístico. Talvez isso é devido ao apelo social que tal participação causa na sociedade em geral, pois o glamour gerado pela exposição à mídia televisiva, seduz tanto as crianças como os adultos. Mas essa divergência fica apenas no campo doutrinário, pois não há nenhum tipo de exceção na legislação em vigor no país, em relação ao trabalho exercido por crianças e adolescentes com idade inferior a 14 anos. O que existe realmente são proibições expressas em diversos diplomas jurídicos brasileiros, bem como Tratados Internacionais aderidos pelo Brasil.

Diante do exposto, para chegar as respostas de tais questionamentos, este estudo busca explicitar a incidência de trabalho infantil ilícito no ambiente artístico no Brasil. Assim, o estudo a ser desenvolvido passará por uma análise sobre a realidade dos meios de

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Graduando do Curso de Ciências Jurídica da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP. eliomarjbsilva@hotmail.com

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comunicação, de publicidade e entretenimento que se utilizam da mão-de-obra da criança e do adolescente, de forma equivocada e ilegal.

2 TRABALHO INFANTIL NO CONTEXTO ATUAL

A exploração do trabalho infantil é uma das principais violações dos direitos da criança e do adolescente. Afinal de contas são seres humanos em formação contínua, portadoras de direitos e garantias fundamentais, que cconvergem para o principal direito inerente a elas, que é o de desenvolver-se sadiamente na sua essência biológica, social e psiquíca. O Brasil vem aumentando suas preocupações em relação a prestação laborativa de menores, seja no setor privado, público ou familiar. Aderindo inclusive a Tratados Internacionais que tratam da idade mínima para o ingresso no trabalho.

Apesar dessas iniciativas, e de um vasto ordenamento jurídico interno, que proibe o trabalho infantil a menor de 14 (quatorze) anos, o Brasil vem adotando formas de liberação de trabalho a alguns setores privados da sociedade, em especial no meio artístico. Trabalho esse que em linhas gerais refere-se a labor, ou pelo menos a uma espécie de vínculo assíduo ou habitual de determinada mão-de-obra, que está vinculada a uma prestação remuneratória. Algo não destinado, principalmente, à crianças com a idade inferior ao previsto nos dispositivos legais do país, não se justificando, por exemplo, tratamento diferenciado entre a proibição do trabalho de crianças em setores da indústria, mineração, pecuária, entre outros, às submetidas a trabalho no meio artístico, seja na televisão, cinema, propaganda, etc. Essa diferenciação é devido ao apelo social desses meios de comunicação, que através do entretenimento, muitas vezes passam por cima das garantias legais previstas para essas crianças. Que deviam apenas exercer, funções de mera participação nesse meio, algo não visualizado no contexto atual de algumas mídias que trabalham com entretenimento artístico. Onde crianças que atuam em novelas, teatros, precisam de várias horas de dedicação, quase todos os dias, seja para gravar ou interpretar as cenas a serem desenvolvidas, e crianças que passam horas para gravar comerciais, de forma repetitiva, gerando um possível desgaste físico e mental.

Então, se essas crianças precisam de todo esse tempo para “participar” dessas atividades, de forma rotineira e habitual, e ainda por cima recebem dinheiro por isso, está pelo menos caracterizado uma relação de trabalho, ou dependendo da situação, um vínculo empregatício. Pois todas essas atividades citadas estão longe de serem atividades meramente

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educativas, ou só participativas. Mas como a presença dos menores em atividades artísticas, geram altas retribuições econômicas, tanto para os empregadores, como aos próprios responsáveis legais, todos juntam-se em prol do objetivo financeiro, em detrimento da dignidade da pessoa do menor. No momento, cabe mencionar a explicação de Grunspun1, analisando a questão do trabalho infantil, e ensina que:

O conhecimento cada vez maior sobre os perigos, riscos e prejuízos para as crianças na idade em que trabalham e posteriormente no desenvolvimento podem caracterizar o abuso que significa o trabalho infantil e ajudar a erradicar esse abuso, além da exploração. Temos relatos de crianças que querem trabalhar e fazem manifestações contra as proibições. Mas não é porque querem é(sic) que podem, pois nem elas nem os adultos sabem dos riscos do trabalho infantil e quanto a sociedade poderá, no futuro, arcar com as conseqüências.

O trabalho infantil no meio artístico, começou a ser observado com maior freqüência pelo Poder Judiciário e o Ministério Público, a partir de 2001 na cidade do Rio de Janeiro. Onde o então titular da 1ª Vara da Família e da Juventude, o Juiz Siro Darlan, hoje Desembargador de Justiça do Rio de Janeiro, casou polêmica ao proibir a participação de menores na novela da rede globo Laços de Família. O eminente Juiz, há época, decidiu sobre essa proibição sob a alegação de que algumas crianças participariam de cenas consideradas violentas, como acidentes e algumas brigas de casais.

Outro caso de repercussão nacional, foi da apresentadora mirim do SBT, Maísa Silva, de 7 (sete) anos de idade. Que depois de várias semanas consecutivas de choro e gritos, em participação no programa de Silvio Santos, levaram tanto o Ministério Público Federal como o Ministério Público do Trabalho de São Paulo, a ajuizarem suas respectivas ações civis públicas, buscando investigar a real situação da criança, bem como preservar sua integridade contra a exploração de sua força de trabalho. Inclusive a Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Osasco cassou a licença que permitia que Maísa participasse do “Programa Sílvio Santos”. Esses dois casos só vem evidenciar o quanto é prejudicial o trabalho precoce na vida das crianças e dos adolescentes menores de 14 anos.

O prejuízo gerado por essa precoce inserção no mercado de trabalho artístico, vem levantando estudos das mais variadas disciplinas de ensino e pesquisa, em especial a psicologia. Como evidencia a psicóloga Renata Lacombe2, que em sua dissertação de

1 GRUNSPUN, Haim. O trabalho das crianças e dos adolescentes. São Paulo,LTr, 2000. 2

LACOMBE, Renata. A infância dos bastidores e os bastidores da infância: uma experiência com crianças que trabalham em televisão. Dissertação de Mestrado para o Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica do Departamento de Psicologia da PUC-RIO, Rio de Janeiro: PUC. 2006, p. 14

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mestrado, mostrou a realidade e o cotidiano das crianças em uma emissora de televisão, que diz:

O trabalho em televisão é, por excelência, espaço de produção, eficiência e rapidez. No lema que faz parte da linguagem comum de seus trabalhadores, fazer televisão é “matar um leão por dia. É um trabalho de superação, onde o impossível praticamente não existe, a não ser onde não há esforço.

Esse relato nos traz a uma realidade, em que o trabalho infantil na televisão, que é uma forma de trabalho artístico, não visa na realmente estimular o desenvolvimento da criança ou adolescente, mas é o retrato das características básicas de trabalho laboral. Pois percebe-se um trabalho não só com esforço, mas com um comprometimento e dedicação de forma árdua e repetitiva.

3 TRABALHO INFANTIL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

3.1 A Criança e o Adolescente menor de 14 anos na CF/88

Nossa Carta Magna proíbe todo e qualquer trabalho às crianças ou adolescentes menores de 14 anos, não fazendo qualquer distinção da forma ou meio empregado para realização do fim. Cabendo aqui evidenciar o equívoco por parte daqueles que acham que podem se utilizar do trabalho desses menores, a Constituição Federal de 1988, através da Emenda Constitucional nº 20, de 1998, em seu art. 7º, inciso XXXIII, diz:

proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.

Essa proibição expressa na lei, parte do princípio da dignidade da pessoa humana, algo tão preconizado pelos legisladores constituintes, que vem em consonância com os deveres exigidos aos responsáveis legais e a sociedade como um todo, bem como ao próprio Estado, de garantir uma infância digna, o que se evidencia reiteradamente na CF/88, através da Emenda Constitucional nº 65, de 2010, em seu art. 227, que diz:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;

Como já exposto, esse outro dispositivo legal, deriva da adoção por nosso legislador constituinte, do princípio da proteção integral das crianças e dos adolescentes, tendo como objetivo oferecer as condições necessárias para um desenvolvimento humano de forma natural, para que esses menores tenham uma transição da sua vida de criança, para a adulta, com a tranqüilidade e qualidade necessária no que diz respeito a sua fase de desenvolvimento atual . Sendo o limite mínimo para ingresso ao trabalho, como uma das formas de garantir que se alcance esse tão almejado crescimento ideal infanto/juvenil.

3.2 A Criança e o Adolescente menor de 14 anos na CLT

A Consolidação das Leis Trabalhistas, Decreto-lei 5.452/43, só vem a ratificar o que preconiza a CF/88, no que diz respeito à proibição do trabalho do menor de 14 anos, taxando mais uma vez de forma clara e direta, a idade mínima para qualquer trabalho a esses menores. Vejamos o que assevera o art. 402 e 403, recentemente alterados pela lei 10.097, de 2000, que alterou alguns dispositivos da CLT:

Art. 402. Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de quatorze até dezoito anos”.

Parágrafo único - O trabalho do menor reger-se-á pelas disposições do presente Capítulo, exceto no serviço em oficinas em que trabalhem exclusivamente pessoas da família do menor e esteja este sob a direção do pai, mãe ou tutor, observado, entretanto, o disposto nos arts. 404, 405 e na Seção II.

Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.

Parágrafo único. O trabalho do menor não poderá ser realizado em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

Observou-se nesses artigos do referido diploma infraconstitucional, a preocupação da lei em relação ao próprio menor que se encontra apto a trabalhar, ou que esteja em aprendizado no trabalho. Ressaltando como deve se dar o desenvolvimento básico desses adolescentes. Vale ressaltar também, que o legislador, no parágrafo único, do art. 402, trata do trabalho prestado em regime familiar, que nada mais é que o poder conferido aos pais ou

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responsáveis de dirigir e educar seus filhos, sem vínculo empregatício, apenas auferindo conhecimento para o convívio em sociedade. Mas mesmo assim, o próprio dispositivo mostra algumas restrições.

3.3 A Criança e o Adolescente menor de 14 anos no ECA

O Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8.069/90, no que se refere ao trabalho do menor de 14 anos, diz em seu art. 60, caput:

É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.

Apesar de mencionar a possibilidade do menor com idade inferior a 14 anos, trabalhar na condição de aprendiz, teve tal idade alterada na CF/88, pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998, em seu art. 7º, inciso XXXIII, inclusive já supracitado, que passou a idade limite para os 14 anos idade, mesmo na condição de aprendiz.

Esse diploma infraconstitucional, também se refere à competência dos Juizados da Infância e da Juventude, onde houver tal juizado, quanto a cuidar dos interesses da criança e do adolescente. Em específico quanto a participação destes, em espetáculos, desfiles, entre outros, sendo necessário a autorização judicial, devendo o Juiz verificar caso a caso, de acordo com suas particularidades, respeitando os direitos fundamentais da criança e do adolescente. Vejamos o que diz o presente artigo:

Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:

(...)

II - a participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; (...)

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre outros fatores:

(...)

d) o tipo de freqüência habitual ao local;

e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e adolescentes;

f) a natureza do espetáculo.

§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral.

Fica evidenciado apenas o caráter participativo da criança e do adolescente em atividades artísticas como um todo. Não mencionando qualquer autorização destinada a

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permitir o trabalho de criança ou adolescente menores de 14 anos. Entendendo-se como participação, sendo aquela freqüência esporádica, sem assiduidade, sem vínculo de trabalho, muito menos com obrigatoriedade de participar.

3.4 A Criança e o Adolescente menor de 14 anos na OIT

O Brasil aderiu a Convenção 138 e a Recomendação 146 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata sobre a Idade Mínima de Admissão ao Emprego, a partir da aprovação do texto da convenção, através do Decreto Legislativo Nº 179/99, e conseqüentemente, com a promulgação pelo Presidente da República, com o Decreto Nº 4.134/02. Mas apesar dessa adoção, o Brasil estipulou no próprio decreto, a idade mínima para admissão a emprego ou trabalho. Bastando visualizar o que diz o seguinte artigo:

Art. 2 o Para os efeitos do art. 2 o , item 1, da Convenção, fica estabelecido que a idade mínima para admissão a emprego ou trabalho é de dezesseis anos.

Seguindo a própria orientação da Convenção 138 da OIT, que diz no art. 2º, item 1:

Todo País-membro que ratificar esta Convenção poderá notificar ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, por declarações subseqüentes, que estabelece uma idade mínima superior à anteriormente definida.

Mas uma vez, fica evidenciada a preocupação por parte do Estado Brasileiro, em respeitar a idade mínima adotada pelo ordenamento jurídico interno, servindo como base para toda contratação, relação de emprego ou trabalho no que se refere ao menor, em especial. Os menores de 14 anos.

4 COMPETÊNCIA JURISDICIONAL

4.1 Juizados da Infância e da Juventude

Um fato que preocupa, é a contínua autorização por parte de juízes da infância e da juventude, através de alvarás de participação, onde a realidade de vários desses menores, é de exercerem uma forma de trabalho artístico, que é algo tão combatido por nossa Carta Magna, que prioriza à educação, o lazer, a vida no meio familiar, e atividades artísticas sem obrigação

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laboral. Levando cultura e conhecimento na medida certa ao menor, como preconiza Sérgio Pinto Martins3:

O menor de 14 anos, comprovadamente em bom rendimento escolar, não pode obter autorização judicial para trabalhar, meio período, em caso de necessidade familiar (...). Alguns juízes da infância e da juventude têm autorizado o trabalho de menor de 16 ou 14 anos, porém há proibição expressa na legislação para esse fim.

Em quase todas as jurisprudências pesquisadas, que tratavam da autorização de participação do menor de 14 anos no meio artístico, a maioria foram favoráveis a tal prática, mencionando o art. 149 do estatuto da Criança e do Adolescente. Isso vem servindo de amparo para as emissoras de televisão, agências de propagandas, entre outros, a se utilizarem dessa alegação de forma equivocada. Pois o presente artigo, como já tratado aqui, não estabelece qualquer relação de trabalho com esses menores, pelo contrário, pois o ECA repudia qualquer forma de exploração de trabalho infantil.

4.2 Justiça do Trabalho

Caso se verifique a relação ou vínculo trabalhista desses menores, caberá a Justiça do Trabalho julgar tal violação. Pois a CF/88, através da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, dispõe o seguinte:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

Com a implementação dessa nova redação, destaca-se não haver dúvida em relação a competência para conciliação e julgamento dos conflitos que tenham como o objeto a relação de trabalho, seja trabalho artístico ou outro qualquer. Pois apesar da proibição expressa ao trabalho infantil, os direitos gerados no período de vínculo ilegal, devem ser efetivados, pois se assim não fosse, beneficiaria o explorador dessa mão-de-obra infantil.

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5 DECISÕES JUDICIAIS

A jurisprudência sobre o tema trabalho infantil artístico, vem por divergir apenas quanto às formas de participação dos menores nesse meio. Deixando evidenciado, o caráter participativo do menor, inexistindo qualquer vínculo laboral. Pois o mesmo, seria irregular, e passível das sanções cabíveis ao caso concreto. Esse caráter participativo, pode ser visualizado na seguinte jurisprudência transcrita in verbis:

RESP 278356 - ECA - PARTICIPAÇÃO DE MENOR EM ESPETÁCULO PÚBLICO - PROGRAMA DE TV - ALVARÁ JUDICIAL. RECURSO ESPECIAL Nº 278.356 - RJ (20000095440-3) EMENTA ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA); PARTICIPAÇÃO DE MENOR EM ESPETÁCULO

PÚBLICO; PROGRAMA TELEVISIVO; ALVARÁ JUDICIAL;

IMPRESCINDIBILIDADE; ART. 149, II DO ECA; MULTA; ART. 258 DO ECA; PRECEDENTES. - Os programas de televisão têm natureza de espetáculo público,

enquadrando-se a situação na hipótese prevista no inciso II, do art. 149 do ECA. - A participação da criança e/ou adolescente em espetáculo televisivo, acompanhado ou não dos pais ou responsáveis, não dispensa o alvará judicial, a teor do disposto no art. 149, II do ECA. - A falta do alvará judicial autoriza a aplicação da multa prevista no art. 258 do ECA. - Recurso especial não conhecido.

6 ORIENTAÇÕES: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

O MPT vem adotando várias medidas de prevenção e fiscalização do trabalho infantil em todo país. Pois através da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes, publicou recentemente algumas orientações a respeito do trabalho do infantil artístico, vejamos algumas:

ORIENTAÇÃO N.01. Autorizações Judiciais para o Trabalho antes da idade mínima. Invalidade por vício de inconstitucionalidade. Inaplicabilidade dos arts. 405 e 406 da CLT. Inaplicabilidade do art. 149 da CLT [leia-se ECA] como autorização para o trabalho de crianças e adolescentes. I – Salvo na hipótese do art. 8º, item I da Convenção n. 138 da OIT, as autorizações para o trabalho antes da idade mínima carecem de respaldo constitucional e legal. A regra constitucional insculpida no art. 7º, inciso XXIII [leia-se XXXIII], que dispõe sobre a idade mínima para o trabalho é peremptória, exigindo aplicação imediata. II – as disposições contidas nos arts. 405 e 406 da CLT não mais subsistem na Ordem Jurídica, uma vez que não foram recepcionadas pela Ordem Constitucional de 1988, a qual elevou à dignidade de princípio constitucional os postulados da proteção integral e prioridade absoluta (art. 227), proibindo qualquer trabalho para menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14. III – a autorização a que se refere o art. 149, inciso II, do Estatuto da Criança e do Adolescente, não envolve trabalho, mas a simples participação de criança e de adolescente em espetáculo público e seu ensaio e em certame de beleza. (Orientação elaborada e aprovada com base em estudo da Coordinfância).

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ORIENTAÇÃO N.02. Trabalho Infantil Artístico. Proibição Geral para menores de 16 anos. Excepcionalidades. Condições Especiais. I. O Trabalho artístico, nele compreendido toda e qualquer manifestação artística apreendida economicamente por outrem, é proibido para menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos, nos termos do art. 7°, XXXIII da Constituição Federal. II. Admite-se, no entanto, a possibilidade de exercício de trabalho artístico, para menores de 16 anos, na hipótese do art. 8°, item I da Convenção n. 138 da OIT, desde que presentes os seguintes requisitos: A) Excepcionalidade; B) Situações Individuais e Específicas; C) Ato de Autoridade Competente (autoridade judiciária do trabalho); D) Existência de uma licença ou alvará individual; E) O labor deve envolver manifestação artística; F) A licença ou alvará deverá definir em que atividades poderá haver labor, e quais as condições especiais de trabalho. III. Em razão dos princípios da proteção integral e prioridade absoluta, são condições especiais de trabalho a constar em qualquer alvará judicial que autorize o exercício de trabalho artístico para menores 16 anos, sob pena de invalidade: A) Imprescindibilidade de Contratação, de modo que aquela específica obra artística não possa, objetivamente, ser representada por maior de 16 anos; B) Prévia autorização de seus representantes legais e concessão de alvará judicial, para cada novo trabalho realizado; C) Impossibilidade de trabalho em caso de prejuízos ao desenvolvimento biopsicosocial da criança e do adolescente, devidamente aferido em laudo médico-psicológico; D) Matrícula, freqüência e bom aproveitamento escolares, além de reforço escolar, em caso de mau desempenho; E) Compatibilidade entre o horário escolar e atividade de trabalho, resguardos dos direitos de repouso, lazer e alimentação, dentre outros; F) Assistência médica, odontológica e psicológica; G) Proibição de labor a menores de 18 anos em locais e serviços perigosos, noturnos, insalubres, penosos, prejudiciais à moralidade e em lugares e horários que inviabilizem ou dificultem a freqüência à escola; H)Depósito, em caderneta de poupança, de percentual mínimo incidente sobre a remuneração devida; I) Jornada e carga horária semanal máximas de trabalho, intervalos de descanso e alimentação; J) Acompanhamento do responsável legal do artista, ou quem o represente, durante a prestação do serviço; L) Garantia dos direitos trabalhistas e previdenciários quando presentes, na relação de trabalho, os requisitos do arts. 2° e 3° da Consolidação das Leis do Trabalho. (Orientação elaborada e aprovada com base em estudo da Coordinfância).

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se como nosso ordenamento jurídico é taxativo em relação à idade mínima para ingresso em uma relação de emprego ou trabalho. Apesar dos diplomas legais fixarem idade mínima de 16 anos, consideramos a fase ente os 14 (quatorze) e 16 (dezesseis) anos, que trata da condição de aprendiz, como uma forma de relação trabalhista regulamentada, e usamos como referência a idade mínima citada, como idade limite para qualquer relação trabalhista. Então, verificou-se a proibição expressa de trabalho abaixo dessa idade, não sendo permitido vínculo de trabalho, ou vínculo laboral, seja em qualquer esfera da sociedade. Sendo o trabalho artístico enquadrado no rol das proibições, não havendo exceção. Pois desse trabalho é gerado características como habitualidade, remuneração, fadiga física e psicológica. Cabendo a justiça do trabalho julgar os prejuízos causados por essa relação ilícita, e ao

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Juizados da Infância e da Juventude verificarem melhor suas decisões ao concederem as autorizações das participações de menores no meio abordado. De fato o que se percebe, é uma nova discussão em relação ao trabalho infantil artístico, pois com a instalação da doutrina da proteção integral da criança e do adolescente, vários fatores tem que ser pesados na relação do menor com o mundo dos artistas. Não sendo, evidentemente, evitar o contato desses menores com esse mundo, pois é de extrema importância para o desenvolvimento do potencial criativo, mas apenas respeitar a criança, permitindo apenas a participação sem caráter obrigatório, desde que seja de forma espontânea, sem a pressão relativa às obrigações do trabalho. Por fim, espero que este artigo científico tenha contribuído para chamar a atenção da sociedade, em especial a classe dos juristas, para o fato real que é a exploração do trabalho infantil artístico, para que as crianças e os adolescentes não sofram as conseqüências do trabalho precoce, algo tão repudiado por nossa sociedade, bem como por todo ordenamento jurídico.

ABSTRACT

This paper aims to show the real legal problem of children and adolescents under the age of 14 years, they have some kind of work in the arts. Is not our intention to exhaust the requirements necessary for the realization of their rights and enter into the minutiae of the social problems generated by this early participation in the labor market, so little to criticize or condemn the participation of children in artistic activities. And yes, primarily to show that there can be no exception with regard to treatment of any child in the workplace or in any plan or sector of the economy, with regard to child labor. Calling for greater attention of the State and society in general, for this problem so well hidden by some people that make this artistic medium.

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REFERÊNCIAS

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