2
junho
2011
I
ZERO
Sobre
achargista
Giovanna Chinellato é estudantedaterceira fase docursode Jornalismo daUFSC. Paraentraremcontato
com aautoraescrevaparaoe-mail
giovanna@chinellato.com.br.
• -I«
-r:r::
O
t-C
W
contra
povo
tema
do
ZERO
Preconceito
islâmico
,e
Por falar em
superação,
apartir
dosegundo
semestre a UFSC receberá 32 intercambistas
haitianos,
assunto da
página
5. Eles virão ao Brasil um ano emeio
depois
doterremotoquedestruiu cidadesinteirase tirouavida demais de200mil pessoas. O
objetivo
do programa é
capacitar
essesjovens
para que possamretomare
ajudar
nareconstrução
dopaís.
Outra
questão
que preocupouos brasileirosnoúltimo mês e repercuteno ZEROé aalta do preço dos combustíveis.Areportagem
investigou
qual
acomposição
docustofinal dagasolina
nasbombas dospostos econstatouquem sãoosgrandes
vilões doaumento.-Não sóo carocombustível brasileiro encheuotan
queda
Vespa
do canadenseSeanJordan,
em suavolta aomundo.AtéomomentoemquepassouporFlorianópolis,
ondeconversou com oZERO,elejá
haviaabas tecido 1400 litros. Cadaquilômetro
rodadovem acompanhado
demuitashistóriasquepodem
serconferidas napágina
13.SeoChileestivesseincluídonoroteirodeSeanJor
dan,
umaboasugestão
seriaconhecerobar temático dojornal
deesquerda
The Clinic. Localizadonocentrohistórico de
Santiago,
éumespaçoaberto paradebates,
ideal para bebercom osamigos
edar boas risadas daspiadas
contraogovernopresentesnasparedes
doestabelecimento.Etemmuito mais...Boaleitura!
.,..
roa
eSsa,
\0
,
�__,j
�ie'pet.
Carosleitores,
O fenômeno da íslafnofobia é matéria
especial
doZERO de
junho.
A reportagemé oportunaemfunção
dorecenteassassinatodo líder sauditaOsama Bin Laden,
noPaquistão.
Arepercussão
dofatoentre as200famílias de
migrantes
edescendentes depalestinos
quevivememSanta Catarinatambémétratadanareporta
gem. Namesma
página
destaca-seareportagemenviada
pelo correspondente
doZEROnaFrança,
emqueépossível perceber
astensõescausadaspela proibição
do uso devéu,
típico
dapopulação
muçulmana
naquele
país.
Abordamos aindacomo afalta de infraestruturaes
portiva
tiroudeSanta Catarinaopostode sededoMun dial de Handebol.Areportagemapurou queadeficiênciadeespaçosse
deve,
entre outrascoisas,à mágestão
dosrecursos
públicos,
comoosempregados
nasobras daArenaMultiuso deCanasvieiras,
projetada
sempare cerestécnicosqueahabilitariamacomportareventosde
grande
porte.Aindanaeditaria deesporte,a
superação
dos atletas do tênispara cadeirantes tambéméassuntodo ZEROde
junho.
Amodalidade,
quejá
épraticada
naUniversidade Federal deSanta Catarinahá 13anos, resiste à
falta de verbaseestrutura
adequada,
como umaqua dra coberta.Charge
' .._..�' ." ..,...ZIBO
JORNAL
LABORATÓRIO
ZEROAno XXIX-W2- Junho de 2011
Universidade Federal de Santa Catarina
-UFSC Fechamento: 07 dejunho
Curso de Jornalismo- CCE- UFSC-Trindade
Rorianópolis
-CEP 88040-900 Tel.:(48)3721-6599/3721-9490
REDAÇÃO
Agatha
Mongi, Alécio Clemente, Diego Cardoso,DirkRuhland,GabriellaBridi,IsisDassow, Jéssica
Camargo,
LaísMezzari, LaryssaD'Alama, Luanna Hedler,NayaraD'Alama,Munlo Bonfim
(correspondente),
Tifany Rodio, Úrsula Dias'EDIÇÃO
Alécio Clemente, CamilaCollato,Darilson Barbosa, Diego Cardoso, Gabriella
Bridi, Jéssica
Camargo,
Juliana Geller, Laryssa D'Alama, Luanna Hedler, Nayara D'Alama,Vinicius .Schmidt
FOTOGRAFIA
Agatha
Morigi, Diego
Cardoso, Dirk Ruhland, Gabriella8rid!,
Giovanna Chinellato, Guilherrne Lopes Souza, Lars Mezzar!, Nayara D'Alama, RodolfoConceição
fOTOGRAFIA DE CAPA RafaelCanoba
EDITORAÇÃO
CamilaColato,Darilson Barbosa,Diego
Cardoso, JéssicaCamargo, LarsMezzari,LaryssaD'Alama,LuannaHedler,Nayara D'Alama, Vinicius Schmidt INFOGRAFIA
Mariana Chirê
ILUSTRAÇÃO
Taís MassaroPROFESSOR-COORDENADOR
JorgeKanehideIjuim MTblSP 14.543 MONITORIA
VerônicaLemus,Wesley
KlimpellMPRESSÃO
Diário Catarinense
CIRCULAÇÃO
NacionalTIRAGEM5.000exemplares ... ' ... . ..
..;""
Z E R O NOT E
NIHI��IP-E-ftIO�---.--'--+--+-1
---+--"'--r-1"""""--T-'----.-rEm dezembro de
2007,
o ZERO dedicou umaedição
inteira ao tema liberdadedigital.
Uma dasreportagens tratava de um sistema
produzido
naUFSC que reúne softwares educativos para serem utilizadosemsala de aula.Orecursofoi
empregado
com sucesso numaescola estadual deFlorianópolis.
A
preocupação
com o usoadequado
da informática em ambientes de ensino, que aparece quatro anosatrás,
é retomadapelo
ZERO nestaedição.
Destavez o que
inquieta
osprofessores
e ospais
de alunos doColégio
deAplicação
daUFSC édispor
deequipamentos cujas
potencialidades
pedagógicas
ainstituição
aindanãotemtotal domínio.Aescola,
uma dascontempladas pelo Programa
UmComputador
por'
Aluno,
recebeu mais de milcomputadores
do governofederal,
queforamentreguesgratuitamente
para
professores
e alunos.Enquanto
grande
partedo corpo docente aindaestá sendo
capacitada
para melhor usufruir daferramenta,
muitos alunos quedispõe
de celulares modernos navegampelas
redessociais,
bate-papos
esitesde vídeos duranteasaulas.Muita coisamudou de 2007paracá.
Computadores
e
smartphones
estão cada vez maisfuncionais,
menores e acessíveis. A tendência também
pode
seracompanhada
na conexão à rede mundial decomputadores.
Abandalarga
vem sedissemiriando,
comvelocidadeemascensãoe opreçoemqueda.
Se
naquele
momento erainimaginável
pensarcrianças
em idade escolar de posse de um celular com acessoàInternet,hoje
essarealidadeé bastantecorriqueira.
Asituação
tantopode
evoluir como se agravar. O que fará adiferença
não serão asmáquinas,
mas aformacomo aspessoas lidamcom elas.Melhor
Peça
GráficaI, II, III, IV,VeXI Set Universitário 1 PUC-RS(1988,89, 9G, 91,92e98)
MelhorJornal-LaboratórionoIPrêmio Foca
SindicatodosJornalistas de SC 2000 3°melhor Jornal-LaboratóriodoBrasil
ZERO
I
junho
2011
3
Manezinho
irreverente
Personagem
criado para
caricaturar nativo
da
Ilha
conquista
audiência
em
shows
e
programas de
rádio
Moriel
para aAdriano darapaziada
boa doCosta,
"Murucasurf",
écompositor
emúsico da bandaDazaranha. Sediadaem
Florianópolis,
a bandaé formada por sete pessoas e toca reggaee
rock aliadoacultura local.Em entrevistaao
ZERO,
Moriel fala sobre seu outrotrabalho,
o personagem Darci. Um "manezinho" que
ganhou
vidanoprogramete
diárioAsaventurasdo
Darci,
veiculadopela
rádio Atlântí da. O humorista também fazapresentações
de standup
comedy
emeventos, festas particulares,
bares epubs.
Moriel é natural deFlorianópolis
eafirmaquesuavida é laboratóriopara comporopersonagem.
Ingenuida
de,
inocênciaeirreverênciasãoalgumas
das características deDarci.Como
surgiu
opersonagem Darci?O Darci
surgiu
da minha vivênciaemFlorianópolis.
Quando
euiacomminhamãe visitarmeuavô na CostadaLagoa,
percebia
que láaspessoas falavam bemdiferente dorestoda cidade.Naépoca,
aspesso asficavam isoladas daregião central,
em umlugar
onde nãotinhaenergia,
aatividade erapesqueira
eagrícola.
Ocomportamento
indígena
eaçoriano
estavano
jeito
desocializar,
nojeito
defalareissomeatraía.Com
quinze
anos,eramoleque,
comeceiaimitaropovo da Costa paraasminhastias.Todo mundosabia queeuimitavaosmanezinhos.
Na banda
Dazaranha,
eu soucompositor,
minha área é criarcoisas,
então transferiopotencial
decriação
paraohumor.Como nãoseridequalq�er
coisa,
realmenteprecisa
sercriativo,
encontraruma mecânica de humor quesurpreenda
as pessoas. Nadapior
que tratar de artequando
opúblico já
sabeoquevaiacontecer.Nãoéarte,passaa ser ar tifício.A artedefatotetiradochão,
temque deixarde bocaaberta.Essefoionorteador do personagem.
Alguma
coisa nova,diferente,
queninguém
tinha feitoantes.Personagem inocente,
ingênuo.
Porquecaracterísticas comoessasatra
emo
público,
que não é formado apenaspelos
nascidosnaIlha?O personagem Darcinasceu nomomentoemquea
população
dailhasesentiadividida,
entre nativosmoradores e moradores vindos de outras
regiões.
Um momentodechoque
cultural. Damesmafor maque eu que soudaqui
quero memanter com asminhasorigens,
quemchega
aqui
também quer se identificar. Acho que se encantar com olugar
tema ver com aspessoasedesencantar também.O
Darcifaza
associação
doantigo
comonovo.Fazaassociação
de forma desastrosa. Ele acha que estáarrebentando.Todo mundo sabe quevaidarmoo.o
Darci e o
amigo
em umarave,tánacaraquevaidar.
Imagina
dois manésnarave.Apesar disso,
elenãose
encolhe,
ele avança,pois
querver odiferente.É
um pouco da falta de cultura associada atudo que ele é de cultura.Como o Darci foi parar na rádio Atlân tida?
O
George
Fortunato é o financeiro das rádios do grupo RBS e mepropôs
paraconversarmos sobreum
possível
programete,
por que a rádio Atlânti daestava tentando sedesestigmatizar,
nãoqueria
maislevar o aimagem
de ser umarádiogaúcha.
Precisavaassociaraprogramação
acoisasque falassem da ilha.Coma nova
proposta,
oGuga
Arruda começou afazer o programa "Mais
Floripa"
e eucomecei oprogramete
"As aventurasdoDarci". Eraumexperimento.
Derepente,
arádiocomeçou aterumfeedback
dotipo:
"eunãoouçoessarádio,
massintonizo paraouvirummanezinho".O Darci começou a dar
cinco,
sete mil acessos por dia.Porumaveiachamada you
tube,
que acabou sendoo viralmais
importante,
maisexpressivo
da rádioAtlântida,
os acessosmultiplicaram.
Hoje,
passam de dois milhões os acessos ao Darci. Olegal
é ver que aspessoasprecisam
se identificarmesmo e o humor éumgrande
caminho paraaidentificação.
Quais
asprincipais
diferenças
entre fazer o personagem manezinho na rádio Atlântida com o
quadro
Aventuras do Darci e o stand up que você realiza em baresepubs?
Eu
vejo
que naradiofonia,
ainterpretação
davozacontece
depois
de ter sido elaborado um texto, que fazparte
dacriação,
então,
vocêvai gravare tambémtemacondição
deeditar,
ouseja,
nãotemo
improviso,
você consegue deixarexatamentedojeito
que sequer. Claro que temos momentosque nãodá para entenderoqueoDarcifala,
masnãoé para entendermesmo.Agora,
encarar opúblico
é diferente.Porque pramim,
quetoconoDazaranha,
mesmo com aexperiência
detocaremcidades onde o show éoprincipal
evento,algo
muitoesperado,
mesmo
acompanhando
abanda quejá
tocoupra muitagente,
no stand up é bem diferente. Comopessoal
da Dazaranha você temumaestrutura, osom, a
luz,
opaleo
e no stand. up é só você com omicrofone namão.É
imitarum manezinho. Sevocênãoformuito
carudo,
nãochegar
junto
enão estiverbem afiado nadaacontece.Quem
apoia
você financeiramente nasapresentações
embares epubs?
Soueu mesmo.Entre
conseguir apoio
epatrocina
dores paraconstruirumprojeto
efazer paradepois
oferecer aideia,
achei melhor asegunda
opção.
Acho quequando já
existeumaideia que funciona é mais fácilconseguir apoio.
"Você quer associar sua marca a esseprojeto? Quero."
Além domais,
ficaa meu
critério, pois
odia queeunãofaço
stand up émuitobom para mim também.Possomededi car aoutrascoisas.Qual
o diferencial do Darci emrelação
aoutrospersonagens conhecidos do hu
mor?Oque
você
faz de diferente?Nãovoudizer que é por queeutenho
potencial,
ou quesouengraçado
eestoupreparado
paraisso. Nãopor queeu nuncafui
engraçado
enãosei ondevaiparar. Oqueeu
percebi
é quecresce equeeu
nãopreciso
fazeroDarcitododia, preciso
fazer apenas trêsvezes nasemana,mas comestrutura,com umcenário,
emteatros.Quero
irpara aáreamais artística,
sairdopub,
sairdo bar.Adiferença
entrebar eteatroé queoprimeiro permite
ocombatecom opúblico,
e osegundo,
proporciona
aproteção
dopaleo.
Quais
sãeosplanos
paraoDarci?ODarcivai terumacolunana
jornal
Hora,
do gru poRBS,
éumtesteparaentrarnoDiárioCatarinense.Os meiosde
comunicação
entendemcomoclasseA,
B,
CeD,
entãotemrádio que émaisparaopovão
erádio que émaiselite,
comoacontececom osjor
nais. No caso,
aqui,
sãoossegmentosdaprimeira
esegunda
divisão,
porissovouentrarcom acoluna doDarciprimeiro
noHora. Outraparticipação
ímportante
éaquevoufazercom oDiogo
Portugal,
noSentaprarir. Elemeconvidou para
participar
dosquinze primeiros
minutos. Youpegarofilé,
tenho que fazerumaperformance
incrível.Artisticamentearrasar.
ÚrsulaDias
ursuladias21@gmail.com
Ii
Fotos:GiovanaChinellato
•
m
z
-t
:::o
m
<
-en
�
Fazendo
rir
"Precisa de
uma
mecânica
de humor que
surpreenda
as
pessoas. Nada
pior
que
tratar
de
arte
quando
o
público já
sabe
o
que vai
4
junho
2011
I
ZERO
Ilustração:MendesGobiArquiteturaParque
incentiva
ciências
Iniciada
a
sondagem
para
construir
primeiro
prédio
na
Baía
Sul
liA esperança é que
nossos
deputados
se convençam danecessidade do
parque"
O
estado deSantaCatarina,
aocontráriodeseus vizinhosParanáeRioGrande do
Sul,
aindanão tem um museu de ciências. Mas existe
um embrião se desenvolvendo dentro do campus Trindade daUniversidadeFederal deSanta Catarina
(UFSC).
Aideia éantiga
e otrabalho deconstrução
vemsendo feitoininterruptamente.
Iniciativas quenão parecem diretamente
ligadas
aoprojeto
já
foram tomadas e constituem seuspilares.
As maisantigas
delassãoosLaboratóriodeInstrumentação,
Divulgação
eExperimentação
emFísica(Labidex)
e emQuímica (Quimidex).
Ambos recebem estudantes do ensinofundamental,
médio esuperior.
Outroprojeto
é o Baú deCiências,
doDepartamento
deFísica,
que promoveexperiências
para alunos do ensino fundamental.Oplanetário
e o observatório astronômicocomplementam
asações
na área daastronomia.
A distância e falta de
integração
dos espaços dificulta as visitas e oaproveitamento
dos alunos.Assimapropostade
implantar
umparquequeabrigue
um museu de diversas áreas do conhecimento seconcretizaatravésdo
projeto
Parque
VivaaCiência,
apoiado pelo
Ministério da Ciência eTecnologia
(MCT)
atravésdoDepartamento
dePopularização
e Difusão de CiênciaeTecnologia
(DEPDI).
Noaterroda Baía
Sul, próximo
aoterminal desativado doSaco dos Limões, seráconstruída umagrande
estruturacom
pavilhão
deexposições,
um novoplanetário,
local para arealização
de oficinasexperimentais
paraestudantes,
ambiente paracursos deformação
continuada paraprofessores
das redes de ensinopública
eprivada
e,ainda,
espaços paraaprática
deesportes
(ver
ilustração
acima).
Emáreaabertaserãoinstaladosos
equipamentos
queatualmenteestãoao lado doplanetário
docampusTrindade.Umpouco de história
Em2006foicriadaa
Associação Parque
Viva a
Ciência,
umainstituição
semfins lucrativos com oobjetivo
de articular pessoas e captar recursos. Pormeio dessa
associação
a propostaé
apresentada
a diversosórgãos
dogovernoeempresas dainiciativa
pri
t vada.Doisanos
depois,
2008, oparquefoi
inaugurado
com oitobrinquedos
educativosmontados ao ar livre ao lado do
planetário,
nocampusda Trindade. Desdeentão,osvisitantes
podem
conversarcom um
colega
a umaboadistânciasemajuda
dequalquer parafernália
eletrônica,
pedalar
em uma bicicleta suspensaem uma cordabamba,
ouvira
própria
voz comalguns segundos
deatrasoou se
balançar
numa gangorra aparentementedesequilibrada.
Elessedivertemenquantoaprendem
orientados
pelos
bolsistasmediadoresque conduzemavisita.
Em 2010, o reitor
Álvaro
Prata assinou umcontratocom a
Superintendência
do Patrimônio daUnião emSanta Catarinadecessãode uso
gratuito
doterrenolocalizadonobairroSacodosLimões,
depropriedade
da Marinha.Ocontratodefine duas áreas noaterroda BaíaSul,
umadeaproximadamente
21milm2eoutrade29milm',numtotalde poucomais
de 50 milm-. A UFSCreivindicamaisuma
área,
no mesmolocal,
comaproximadamente
15 milm2•Paraqueserve ummuseu?
Quando
uma pessoavai a um museu que temcomo
objetivo popularizar
aciência,
elanãoesperateraulas de
história, geografia,
físicaouquímica.
O visitante,guiado
unicamente por suacuriosidade,
busca
interagir
com oquethechameatenção.
Acriança
ouadulto queviveestaexperiência
entraemcontatocomconceitos
complexos
e, muitas vezes, nãopossui
oconhecimentoespecífico
paraexplicar
este ou
aquele
fenômeno: Estanecessidade de umaresposta
pode despertar
seu interessepela
ciência.Nocasodos
alunos,
osprofessores podem
utilizarasvisitas ao museupararetomarostemasemsala de
aulaeintroduziroconhecimento formal.
Despertar
ointeressedos estudantestrazboasperspectivaspara asociedade amédio elongo
prazo,pois
orienta osalunos paraáreas
científico-tecnológicas.
o
projeto
do novoparqueA iniciativa
prevê
aconstrução
deumCentrodeDivulgação Científica,
comespaços paraexposições
permanentes e
temporárias,
cominstalações
eequipamentos
de áreascomoAntropologia,
Biologia,
Engenharia,
História, Física,
MatemáticaeQuímica.
O centro também deve
abrigar
umabiblioteca,
auditório,
salas de aula e laboratórios. Oprojeto
inclui a
implantação,
no mesmo terreno, depistas
paracaminhadas,
ciclovia,
praçadeesportes,parqueinfantil,
lanchonete,
restaurante e estacionamento. Um novoplanetário
comequipamento
deprojeção
digital
e comcapacidade
paraatender200 pessoas,o dobro doatual,
tambémseráconstruído.Aáreade lazerdeveráserabertaao
público,
paraqueacomunidade tenha livreacesso, assimcomoéo
parquenobairro de
Coqueiros,
mas asáreasinternas seráo administradase haverácobrança
deingressoparacustearopagamentodos funcionários.
O
professor
NelsonCanziandoDepartamento
deFísica,
umdos coordenadores doprojeto,
mostraque,apesar da
instalações
estaremlonge
dacondições
idealizadas,
ocorrem15 milvisitasporano.Canzian estimaqueseja
necessáriouminvestimentosuperior
a
R$lO
milhões. Dois aportes, um deR$100
mil e outro deR$600
miljá
foram realizadospelo
CNPq
eFinep.
O MCTjá
liberou uma verba deR$
2,1 milhões para a
construção
no aterro da Baía Sul.Ocomplemento
aindadepende
deprevisão
noorçamentoda
união,
atravésde emenda de bancadapropostapor
deputados
federais. "A esperançaéque os nossos representantes doCongresso
Nacional se convençamdanecessidadeeutilidade doparquepara a comunidade e apresentemlogo
suaspropostas",
esperaCanzian.Além dosrepresentantesemBrasília,
oprofessor
buscaengajar
colegas
de outras áreas:"Na medidaemque obtemos
realizações,
oprojeto
ganha
credibilidade e novosparceiros
aderem àproposta",
completa.
Nãoéfácilcriareconstruireste
complexo
delazer eciências,
mas o parque trarágrandes
novidades.Umadelas
podemos
adiantar.Estásendo construída umamaquetedo relevo do estado deSanta Catarina em umaáreaemtornode100 m2•Além deobservar,
ovisitantepoderá
caminhar sobre ela.Apesar
deser difícilpreverdatas,
tudo indica que estápróximo
o diaemque teremoso parque de ciências deportas abertas.Em novembro deste ano uma comissão doMCT virá avaliaroandamento do
projeto.
Alécio Clemente
ZERO
I
junho
2011
5
o
Haiti é
aqui
Intercambistas de ilha caribenha
chegam
em
julho
para
seguir
estudos de
graduação
No
segundo
semestre deste ano, rostos novos vão começar a circular
pelo
campus daUFSC- enão sãocalouros.
No
próximo
mês,
3Z estudantes haitianos desembarcam na
capital
catarinense,ondeterãoa
oportunidade
deseguir
seusestudos,
prejudicados pelo
terremoto dejaneiro
deZ010.Osalunos
já
deveriamterchegado
anopassado
aoBrasil,
masproblemas
burocráticosimpediram
agilidade
noprocesso.Quase
um ano e meioapós
o desastre naturalquedevastoucidadesinteirase matou maisdezoo
mil pessoas, o Haiti ainda encara os desafios da
reconstrução.
Diferente doJapão,
que poucos diasdepois
do abalo sísmicodemarçodesteanojá
tinha estradasrefeitas,
opaís
maispobre
das Américasprecisa
deajuda
internacional em massa para se reerguer.Foinessecontextoque,emabril deZOlO,aCoordenação
deAperfeiçoamento
de Pessoale NívelSuperior
(Capes) lançou
oPrograma
Emergencial
Pró-HaitiemEducação
Superior,
pelo qual pretende
ajudar
nareestruturação
dasinstituições
de lá epermitir
que estudantesprossigam
seusestudosaqui.
Apesar
deseucaráteremergencial,
apenasquatro universidades federais brasileiras aderiram àpropostaque,
inicialmente,
previa
500 bolsas de estudo. Osalunos deveriam tervindo no
segundo
semestre deZOlO, mas a falta de dados que comprovassem a escolaridade deles
impediu agilidade
nos trâmites. "Muitosperderam
seusdocumentosnoterremoto,e semisso nãohácomotersegurança sobreo curso e afase que elesestãoaptosparaacompanhar
aqui",
HAITIANOS
NA
UFSC
4
2
.,4
2
2
2
12
, (4
" l'2
..2
32
I (llA �I •explica
oprofessor
Ênio
LuizPedrotti,
secretário deRelações
InternacionaisdaUFSC.Nos
primeiros
seis meses os haitianos terão• somente aulas para
aprender português, pois
osidiomas oficiais da ilha caribenha são o francês e o criolo. No
total,
os intercambistas devem ficar18 meses no
país:
meio ano para oaprendizado
dalíngua
local e um anoparaasgraduações,
sempoderem
terminar seus cursos no Brasil. Um dosmotivos dessa
exigência
daCapes
é para que nãohaja 'fuga
decérebros', já
que oobjetivo
é formarprofissionais
quecolaboremcom oreerguimento
de suanação.
A Secretariade
Relações
Internacionais(Sinter)
se preocupa em
integrar
osestrangeiros
com os brasileiros. Os selecionados devem ficarseparados,
inclusive em turmas de um mesmo curso, paraque
interajam
com outros estudantes e nãohaja
segregação.
Assim como ocorre com outrosintercâmbios,
alunos daUFSCpodem
secandidatarpara ser
'padrinhos'
doshaitianos,
o queimplica
emajudar
naadaptação
e apresentaros ambientes dauniversidade,
como o restaurante e abiblioteca central. Alémdisso,
espera-se que osestrangeiros
comecem afrequentar
osdepartamentos
e laboratórios deseus cursosjá
noprimeiro
semestre,para se familiarizarem com seu futuro ambiente de estudo. "A universidadevai mostrar se é aberta e acolhedora ou se é
elitista",
comenta Pedrotti....
Uma
grande
-e
importante
-preocupação
é como essesalunosvãoconseguir
semanternoBrasil,
já
queoauxílio mensalque irãoreceberédeR$
500. Elespoderão almoçar
ejantar
de graçanorestauranteuniversitário
(RU),
mas asrefeições
de fins de semana edespesas
comhabitação
ficampor contaprópria.
Taís Prates,assistente doprofessor
Pedrotti eresponsáve!
porajudar
aencontrarmoradia paraíntercambistas,
preocupa-se: "As famílias quetemoscadastradaspara
receber
estudantes de fora cobramR$
1000 mensais. Não há como esses bolsistas pagarem porisso." Afuncionária diz que pensanapossibilidade
deoshaitianossejuntarem
para dividir oaluguel
deapartamentos
para tentarreduzir os custos, e faz umapelo: "Quem
tivercondições
deabrigar
um desses alunosgratuitamente,
pode
seapresentarnoSinter".
Assimqueo programafoi
lançado,
houve quem seprontificasse
para prestarajuda.
LuizGonzaga
Gaivão,
sz,
economistaaposentado,
sepropõe
a colaborar."Conheço
muitagentenacidade.Podemostentar
junto
à Câmara dos Vereadorese aPrefeituradispensar
o pagamento do ônibus para que eles possam conhecer nossa Ilha nos fins de semana, além daisenção
de entradaparaatividadesculturais.Com
R$
500não vaidar,
elesvão passarnecessidades,
não vãosobreviver
aqui.",
conclui Gaivão.O
professor aposentado
de Estudo de Problemas Brasileiros da UFSC éengajado
em várias causas voluntáriase sedefinecomo"um cidadão domundo,
ummanezinho que batalhapelo
desenvolvimentoepela qualidade
de vida." Elecontaqueháalguns
anos16 cursosoferecem vagas para
capacitar jovens
que irãoajudar
areerguero
país
tentou
ajudar
umjovem
do Haiti que estava na
capital
catarinense e
queria
estudar Medicinanafederal. Oestrangeiro
não
pôde
entrar no curso e foi embora. "Ele mepediu ajuda
eeu não
pude
fazer nada porele,
me sintoimpotente",
seemociona."Nãoseiseele estávivo,se sobreviveuaoterremoto,sehoje
émédico...Eunãoconsigo
maisencontrá-lo",
desabafa Gaivão.Outra pessoa que se ofereceu para
ajudar
os haitianos é o seucompatriota,
frei PierreJúnior
jentil,
30, missionário daigreja
católica. Ojovem
estuda
teologia
emFlorianópolis
e lembra que é difícilchegar pela
primeira
vez em outropaís.
"Sei que écomplicado,
por isso se eles tiveremalgum
problema
comcomunicação,
eu medisponho
aajudar."
Solidariedadenãotemfronteiras
O Brasil não é o único
país
a auxiliar nareconstrução
doHaiti.Após
odesastrenatural,
váriasnações
enviaramajuda
financeira e humanitária. Tambémnãoé dehoje
queoferecemosajuda
àilhacaribenha,
mesmo antes do terremoto de Z010, o governojá
mantinhaForçasdePazatuandonopaís.
Atos de solidariedade como esse também trazem
benefíciospara quemprestaosocorro.
De acordocom adoutoraKarinedeSouza
Silva,
coordenadora do
Programa
dePós-graduação
emRelações
Internacionais da UFSC, ospaíses
têminteresses internoseexternosque
podem
sersupridos
com aoferta de auxíliointernacional. OBrasil,
porexemplo, pleiteia
umassentopermanentenoConselho deSegurança
dasNações
Unidas(ONU).
"Aatuação
positiva
pode
nosfavorecer, já
que ficamos entregrandes potências
nadiscussão de paze segurança,temas
importantes
paraasrelações
internacionais",explica.
Oenviodesoldados também éumamaneiradetreinaras
forças
armadas brasileiras.A
professora
estevenoHaitientreofinal demarço e o começode abrilparaparticipar
deumamissãode reconhecimento da
operação
demanutenção
da pazMINUSTAH(Missão
dasNações
Unidaspara aEstabilização
doHaiti),
que atua desde zo04 etem oBrasil como lídermilitar. "A
situação
é bem melhor que adoanopassado,
mashámuitoaindapor fazer. Na medida do
possível,
tudo está sendoreconstruído".Maisdeum ano
após
atragédia,
800mil
desabrigados
vivememacampamentos,
semboascondições
de saúde.Além deproblemas
comosurtode
cólera,
ainda há índices altos de violênciaefome.Karine analisa a
recepção
dos intercambistas como umaparceria
bem construída e frutífera."Educação
éfundamental,
seelesnãopodem
seguir
seus estudos
lá,
que tenham a chance de estudaraqui.
Solidariedadenãotemfronteiras".NayaraD'Alama
naydalama@gmail.com Ilustrações:Tais Massaro
..
Estudantes
terão
apenas
R$
500
mensais para
se
6
junho
2011
I
ZERO
•Alguns jovens
passam
o
recreio inteiro
navegando
em
redes sociais
, . VerônicaLemusno e
aprendizagem,
seforem tomadosalguns
cuidados.Romeu
Augusto
Bezerra,diretor doCA,admiteos
problemas
naimplementação,
masapóia
o usodosnetbooksnasala deaula. "Ocomputador
ajuda,
sim! Na hora que o aluno tiver ocontrole, quando
ele seapropriar
devidamente dessapossibilidade
deconhecimento,
terá umamelhoraprendizagem."
Além do bomsenso dosalunos,
ainternetdoCA
bloqueia
sitescomconteúdoconsiderado
impróprio
-pornografia,
porexemplo.
"OMinistério
[da
Educação]
exige
queoprojeto
UCAtenhaumarede
própria.
Etambém devemos con siderar que o controle de acesso vem decasa, dafamília,
paraqualquer
conteúdo."Pedagogia
desconectada
Netbooks
na
sala de aula divertem
alunos
e
desafiam
professores
Apequena
quadra
de esportes doColégio
de
Aplicação
da UFSC(CA),
ponto deencontrodaturmado futebolcomlatinhas de
refrige
rante,costumavaser umdos locaismaisdisputa
dosnahora do intervalo.
Hoje,
oespaçonemé tãodesejado pelos
alunos,
que agoradivertem-secom conversas emredessociaisetrocade linkscomvideos
engracados.
O motivodamudança
sãoos ne tbooks distribuídospela
escolanoiniciodesteanoparauso emsala de aula.
Enquanto
osestudantes divertem-seno recreio com os novos"brinquedi
nhos",
osprofessores
pensamemmaneirasdeusar essas novastecnologias
para fins educacionais.Os
computadores
distribuídosnaescola fazemparte do PROUCA, o
Programa
UmComputador
por Aluno. O PROUCA foi criado em 2005 paramelhorara
situação
tecnológica
daeducação
básica e
proporcionar
inclusãodigital
pormeio dadistribuição
gratuita
de netbook nas escolaspú
blicas brasileiras. Desdeo anopassado,
300 colégios participam
deumafasepreliminar
doprojeto
- entre
eles,
oColégio
deAplicação,
que recebeu1082
computadores,
entregues paraprofessores
e alunos doensinofundamentalemédio.O
"uquinha",
nome dado carinhosamentepelos
estudantes aosnetbooks, chegou
no início deste ano para todas as turmas, mas ainda nãoconsegue atender às
expectativas
dosjovens
doCA. O aluno Mateus
Ebenriter,
porexemplo, quis
instalarumprograma para editar
vídeos,
masnãoconseguiu
até agora. "Amáquina
ébemsimples,
possui
umacapacidade
limitada.Agenteusamaispra acessar a internet mesmo.
Quem
quer fazeralgo diferente,
nãoconsegue",
avaliaMateus, que usamais o celular e ocomputador
decasa para fazer trabalhos escolares. "Prefiro trabalhar nocomputador
decasa- émais
rápido.
Pralerslides doPowerpoint,
uso meucelular",
explica
ojovem,
enquantomostraa
apresentação
exibida naúlti maaula deSociologia.
Darsuporteàs
disciplinas
oferecidasnoensinobásico é umdos
principais
motivosparaa distribuição
doscomputadores. Segundo
aprofessora
EdlaMaria FaustRamos, coordenadora doproje-toem SantaCatarina,há um
grande esforço
dasinstituições
deensino para que oprojeto
dêcerto."Estamosnumafase
piloto.
Umadasgrandes
difi culdades paraaaplicação
édeterminaradinâmi cado dia adia desses netbooksnasala de aula." Edla acreditaqueapresençadoscomputadores
em sala de aulapode
trazer benefícios para o estudante
-por issoainsistênciano
aperfeiçoamento
doprojeto.
"Além doslaptops,
oProjeto
prevê
oinvestimento em
infraestrutura,
ofinanciamento depesquisas
pelo
CNPq,
aexpansão
das redes...Queremos proporcionar
uma imersão dessesjo
vens nas novastecnologias."
A"imersão" de boapartedos alunosnãoocor redo
jeito
queoscoordenadores doprojeto
gostariam. Comainternetabertaparaacessar asredes
sociaisesites de
vídeos,
ofoco dealgumas
aulastornou-se o
bate-papo
no Facebookparaalguns
estudantes. "Nãoacreditoquefaçam
isso pormaldade.Paraeles éirresistível-nãoháuma censura.
Eu
poderia
mandaroalunofecharocomputador,
masémelhoreuchamaraatenção,
alertar sobre oscuidadosnainternet...",dizoprofessor
degeografia
doCA,José
Carlos da Silveira.Paraele,
essetipo
deorientação
eimportante,
mas o processo de ensinoeaprendizagem
nãopode
seperder.
"A escola deve continuar sendo espaço paraanálise,
debateeescrita. O
"uquinha"
deveterrelação
com aescola,Elepode
estarali,
mas com umsignifica
doecercadodealguns
cuidados."Afalta de uso
pedagógico
do"uquinha"
também preocupa
alguns
pais
de alunos.ParaAdrianoEbenriter, pai
de Mateus, osprofessores
precisam
preparar-se melhor paraa entrada doscomputa dores naescola. A falta deplanejamento
nautilização
dos netbooks geradesperdício
de tempo,aprendizado
edinheiropúblico.
"Para miméumprojeto
malgerenciado.
Afinal,
essaéumatecnologia
queexistehátantotempo,né?Issomepare cehistóriaprainglês
ver,só para fazer númeroe aparecerempropaganda
dogoverno."
Mesmo com
algumas
críticas,
aequipe
doColégio
deAplicação
acredita nacapacidade
dos"uquinhas"
para incrementar oprocesso deensi-Capacitação
Enquanto
os alunos divertem-se onlineno recreioe usam o
"uquinha"
comfacilidade, alguns
professores
ainda têm dificuldades no usobásico datecnologia.
Antesdeuma dascapacitações
so bre o PROUCA,alguns
docentes se reunem paratrocarideias sobreo novo
computador. Alguns
de les abremonetbookpela
primeira
vez,outrosmanejam
ocomputador
comfacilidade,
e unspoucosbrigam
paraconseguir
conectar à rede do UCA."Comoeu
faço
praentrarnainternet?",
pergunta umadelas."Alguém pode
meajudar
aqui?".
O
objetivo
destetipo
de oficinaé estimular osprofessores
aexplorar
maiso"uquinha"
emsala de aula. Em SantaCatarina,
umaequipe
fornecerá,
até o final do ano,capacitação
para todas asdez escolascatarinenses queparticipam
dopro
jeto.
"Aformação
fazparte daimplementação
doPROUCA.
Queremos
estimularosprofessores
ade senvolveremnosalunosacompetência
nalingua
gem
tecnológica
e nas textualidades midiáticas.Paraisso,temosque criarumlink bem articulado
entre a reflexão
teórico-pedagógica
e aprática",
defendeaprofessora
EdlaRamos.O temada
capacitação
naquele
diaera o uso e aspossibilidades
multimídia do netbookna sala de aula. Apalestrante
Heloísa Schumacher Correa mostrou
alguns
resultados dadissertação
do mestrado emeducação
defendidaporela:grande
ZERO
I
junho
2011
r
parte
dos alunos doAplicação
utilizavam compu tadores paraassistirvídeose usarsitesde relacionamentos. Adiscussão sobre o usode "novastex
tualidades", porém,
desencadeou umdebate sobre a utilidade docomputador. "Já
vi alunos usando o'uquinha'
pra conversar entreeles,
no meio daaula!",
diz umaprofessora
"Mesmoquando
não sãoautorizados,
eles usam. Não tem mais comosegurar!",
dizoutra.Depois
dealgumas
discussõesmais acaloradas e trocas de
experiências
com ocomputador,
Heloísaconseguiu
chegar
nummeio termo: épreciso
didatizar esseinstrumento,
pro blematizar o uso e aspossibilidades
que ele criaparaosalunos.
Afinal,
comodizapalestrante,
"se usarmos ocomputador
sópra escrever, viracurso dedatilografia!".
Para
alguns
professores
doColégio
deAplica
ção,
a tal"máquina
de escreverdigital"
mostrouser umaboa ferramenta educacional.
É
o casodaprofessora
deinglês
MaristelaCampos,
queincen tivaosalunos de saa8asériesa usar o"uquinha''.
Como
netbook,
osestudantespodem
assistirvideoclipes legendados,
traduzireinterpretar
asletras das músicas de acordocom oquemostramasimagens. Além
disso,
Maristela levaparaasala de aulajogos
onlinefeitos paraoensinodalíngua
inglesa.
"Nãopodemos
ficar distantes desse mundotecnológico.
Devemosnosaproximar
dele,
junto
com os alunos! Grandeparte dessesjovens
é alfabetizada nesses novos suportes, mas nós estamos dandoacesso àtodos os alunos."
Segundo
aprofessora,
alguns colegas
têm certa resistência para usar ocomputador
com asturmas."Alguns
têm medodeperder
contato com arealidade,
de pensarmos só novirtual.Essadiscussãoéimportante,
mastemosque
aproveitar
essaoportunidade!"
Afalta de "mundo real"nocotidiano dascrian ças é uma
questão
problematizada
por um dosprincipais
defensores brasileiros da sala de aula semcomputadores:
ValdemarSetzer,
professor
aposentado
pela
USP epesquisador.
Paraele,
a presença destasnovastecnologias
atrapalha
ode senvolvimento dos estudantes. "O brincarinfantil,
Mateus
gostaria
de editar vídeosno
"uquinha",
masprefere
usar ocomputador
de casaatividades sadias naadolescência como a leitura e a
sociabilização
real,
não avirtual,
sãoabsolutamente essenciaisparase termais tarde adultos
criativos,
sociáveis,
comcompaixão
equetenhamforça
de vontade ecoragem paraenfrentaras ad versidades que certamente irão ocorrer em suasvidas." Além dos
problemas
naformação,
Setzeracredita que o excessode
tecnologia atrapalha
o trabalho dosprofessores, já
quemanteraatenção
dos alunos no conteúdo dadisciplina
tornou-seum desafio
-principalmente
agora, com a presençado
"uquinha''.
Antesmesmodachegada
docomputador, alguns
estudantes atualizavamperfis
noFacebookeassistiamvídeosnoYoutube,
emal gunsmomentosduranteaaula- tudoistocom um
celular,
netbook ou outrotipo
dedispositivo
mó vel."É
umatragédia
queumaparelho
possa atrairmaisum aluno doqueuma
pessoa."
Além da
dispersão
dosalunos,
umanavegação
semcuidadosousupervisão
nainternetpode
gerarproblemas
mais graves. Osjovens
podem
servíti masdefraudes,
exposição
indevidaouatéassédio.Para o
professor
Valdemar Setzer, deixar o estudante "andar comas
próprias
pernas"
nem sempre
leva
aomelhor caminho. "Emprimeiro
lugar,
esse andar deve seradequado
para a idade. Porexemplo:
umacriança
pequenapode
teraliberda de de escolher comqual brinquedo
querbrincar,
dentreosjogos
sadioseapropriados
parasuaida deecultura,
colocadosadisposição
porpais
epro fessores.Essaindividualização
emrelação
acadacriança
não existenosmeioseletrônicos,
pois
elessão
dirigidos
a uma massa, paramilhões de pessoas." Ousodesorientado dos
netbooks,
paraele,
reforça
aideia decomputador-brinquedo. "Dê-se,
porexemplo,
umcomputador
para umacriança
ouadolescente. Oque elesvãofazercomele?Orabolas,
vão brincare sedivertir,
e isso é absolutamentenormal." DiegoCardoso diego.kardoso@gmail.com DiegoCardoso Divulgação
"Tecnologia
é
panela"
ParaomineiroRubemAlves,
a"informatízação"
das escolasnãodeve esquecer deumator
fundamental
noprocessode
ensinoeaprendizagem:
oprofessor.
EmentrevistaaoZERO,
oeducador
falasobrea
importância
do pensarnasala deaula,
independente
dousodas
tecnologias.
ZERO: Neste ano,
algumas
escolas deSantaCatarinacomeçarama distribuir notebooks paraosalunos.Oscomputadores
podem
serusados dentro da sala de aula.Osr.acredita queestaferramentatrazvantagensparaoprocesso de
ensino-aprendizagem
dos estudantes? Rubem Alves:Astecnologias,
emsi mesmas, sãocomoqualquer objeto
tecnológico:
como umcanivete,
umserrote,ummartelo,
umbisturi... Tudodepende
decomoelasvãoserusadas.Enessesentido háaimportância
enorme doprofessor,
porqueelevaimostraroscaminhos.Vouusar aseguinte
imagem:
nãobasta vocêter
panela
boa pratercomida boa.Tecnologia
épanela.
Vocêprecisa
terumgrande cozinheiro,
ele équemfazacomida boa.Amesmacoisacom as
tecnoloigas.
Osartefatostecnológicos
emsipodem
nostornarmais
imbecis,
maisincapazes
de pensar. Você pensa que,apertando
umbotão,
vai
conseguir
alguma
coisa.Vocêpode
usar umcaniveteparamataroupara descascarlaranja.
Opontonevrálgico
detodosestesprogramaséainteligência
e odesejo
doprofessor.
Ele équem vairegeraorquestra,entende?Nãobasta vocêterosinstrumentos. Terosinstrumentos nãovaifazer música bonita.
Z:Muitosconsideram que há déficit de
tecnologia
nasescolas.Osr.acha que istopode
serconsideradoumdosgrandes
problemas
daeducação
brasileira?Deveserprioridade?
RA: Euachoque existemoutras
prioridades,
sabe?Aquestão
fundamental daeducação
nãoé termaiscomputadores.
Quais
sãoasquestões
quesepropõe
aos alunos? Existeatéumaexpressão
queeuachodetestável,
osprofessores
falam essaexpressão
semprestaratenção,
que é "Grade Curricular".Essaexpressão
revela todaumafilosofia de queosconhecimentosvemtodos eles
engradados.
Mas issoé deuma
estupidez
imensa. Aquestão
fundamental,
paramim,é afilosofia daeducação.
Oque quesepretende
com aeducação?
Não éusarcomputador
- éaprender
apensar.Setodatecnologia
nãofor usada praajudar
a pensar...Sevocê pensabem,
vocêusabemosartefatostecnológicos.
Z:
Alguns
defensores dasnovastecnologias
naescola acreditam queestamosdiante deumnovo
paradigma educacional,
pelo
qual
o estudante "andacom aspróprias pernas"
ebuscaoconhecimentodesejado
nosinfinitos bancos de dadosnainternet. ComooSr.analisaeste
ponto
devista?RA:Osalunos devemter
noção
doqueé que elesdesejam. Imagine
que vocêvaifazerumacomida:
enquanto
vocênão tiverideia doquequerfazer,
que comida querfazer,
tudo que for procurar estaráerrado,
porque vocênãosabeo queoalunodeseja.
Enóstemosumdefeitomuito gravenosnossoscurrículos:pressupõe-se
quetodososalunossãoiguais,
que todos elesvãoaprender
no mesmotempo, na mesma
velocidade,
as mesmascoisas...Isso nãoéaverdade dos alunos. Cadaalunotemum
desejo
diferente-e as nossas