• Nenhum resultado encontrado

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA INGLATERRA. Prometeu desacorrentado.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA INGLATERRA. Prometeu desacorrentado."

Copied!
87
0
0

Texto

(1)

© Cambridge University Press, 1969, 2003. © 2005, Elsevier Editora Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Copidesque e Preparação de Originais Singular Traduções e Serviços Editoriais Editoração Eletrônica

Estúdio Castellani Revisão Gráfica Adriana Kramer Projeto Gráfico Elsevier Editora Ltda. A Qualidade da Informação.

Rua Sete de Setembro, 111 — 16o andar 20050-006 Rio de Janeiro RJ Brasil

Telefone: (21) 3970-9300 FAX: (21) 2507-1991 E-mail: info@elsevier.com.br

Escritório São Paulo: Rua Elvira Ferraz, 198

04552-040 Vila Olímpia São Paulo S P Tel.: ( 1 1 ) 3 8 4 1 - 8 5 5 5

ISBN 85-352-1448-8

Edição original: ISBN 0 5 2 1 5 3 4 0 X X

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ L245p

2,ed. Landes, David S.,

1924-Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, desde 1750 até os dias de hoje / David S. Landes; tradução de Marisa Motta. - 2. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2 0 0 5

il.

Tradução de: The unbound Prometheus Inclui bibliografia

ISBN 85-352-1448-8

1. Indústrias - Europa - História. 2. Europa - Condições econômicas. I. Título.

04-3349. C D D - 338.094 C P U - 3 3 8 . 1 (4) 05 06 07 08 09 5 4 3 2 1

(2)

CAPÍTULO 2

A Revolução Industrial

na Inglaterra

c

V Y ^N o século X V I I I , u m a série de i n v e n ç õ e s t r a n s f o r m o u a i n d ú s t r i a d e a l g o d ã o na Inglaterra e d e u o r i g e m a u m n o v o m o d o d e p r o d u ç ã o - o sistema fabril. ,.(r D u r a n t e esses anos, o u t r o s r a m o s da indústria realizaram progressos c o m p a r á

-V ei s e, j u n t o s , a p o i a n d o - s e m u t u a m e n t e , possibilitaram n o v o s b e n e f í c i o s ,

^ rc n u m a p e r s p e c t i v a cada vez mais ampla. A q u a n t i d a d e e a v a r i e d a d e dessas i n o -t ^ vações quase inviabiliza sua e n u m e r a ç ã o , mas é possível agrupá-las sob -três

princípios: a s u b s t i t u i ç ã o da h a b i l i d a d e e d o e s f o r ç o h u m a n o pelas m á q u i n a s -^ r á p i d a s , constantes, precisas e incansáveis; a substituição d e f o n t e s a n i m a d a s d e

e ne r g i a p o r f o n t e s i n a n i m a d a s , e m especial a i n t r o d u ç ã o d e m á q u i n a s para

c o n v e r t e r o calor e m t r a b a l h o , p r o p o r c i o n a n d o ao h o m e m acesso a u m s u p r i -m e n t o n o v o e p r a t i c a -m e n t e i l i -m i t a d o d e energia; e o uso de -m a t é r i a s - p r i -m a s novas e m u i t o mais a b u n d a n t e s , s o b r e t u d o a substituição d e substâncias v e g e -, ^ i s o u animais p o r m i n e r a i s /

^Esses a p e r f e i ç o a m e n t o s , q u e c o n s t i t u í r a m a R e v o l u ç ã o Industrial, g e r a r a m S ^ u m a u m e n t o sem p r e c e d e n t e s na p r o d u t i v i d a d e e, p o r c o n s e g u i n t e , u m a

elevay Ção substancial da r e n d a per capita. A l é m disso, esse c r e s c i m e n t o foi a u -\ y t o"~s ustentado, ao passo q u e e m épocas anteriores, a m e l h o r i a das c o n d i ç õ e s d e vx vida, o u seja, d e sobrevivência, s e m p r e f o r a m a c o m p a n h a d a s p o r u m

cresci-V m e r" o d e m o g r á f i c o q u e , p o r fim, c o n s u m i a os lucros obtidos. Nesse m o m e n t o ,

Primeira vez na história, t a n t o a e c o n o m i a c o m o o saber e v o l u í r a m c o m ra-/ v P1(iez suficiente para p r o d u z i r u m fluxo c o n t í n u o de investimentos e inovações \ J t tecnológicas; u m fluxo q u e elevou para além dos limites visíveis o m a r c o das

es-tiniativas positivas de Malthus^ Desse m o d o , a R e v o l u ç ã o Industrial i n a u g u r o u

r U m a e r a n o v a e promissora. A i n d a t r a n s f o r m o u o equilíbrio de p o d e r d e n t r o das

X. n aÇoes, e n t r e elas e as demais civilizações, r e v o l u c i o n o u a o r d e m social e m o d i -1 C o u a m a n e i r a de pensar d o h o m e m , assim c o m o sua ação prática.

(3)

/ E m 1760, a Inglaterra i m p o r t o u cerca de £ 2 , 5 milhões de algodão cru para y alimentar u m a indústria e m g r a n d e parte localizada na região rural de

Lancashi-V ,r- re, o n d e existia u m c o n j u n t o de fábricas de p r o d u ç ã o de l i n h o q u e fornecia fios

rijos de u r d i d u r a , q u e o país ainda n ã o aprendera a p r o d u z i r . T o d o esse trabalho, e m geral, era feito m a n u a l m e n t e ( e x c e t u a n d o a tintura e o a c a b a m e n t o ) nas casas dos artesãos e, o c a s i o n a l m e n t e , nos p e q u e n o s ateliês dos mestres tecelões. E m 1787, u m a geração após, o c o n s u m o de algodão cru elevarase para £ 2 2 m i -lhões; e m t e r m o s de pessoas empregadas e d o valor d o p r o d u t o , a fabricação d o V' algodão só era m e n o r d o q u e a da lã. A m a i o r parte das fibras c o n s u m i d a s era

lavada, cardada e enrolada e m máquinas, algumas m o v i d a s a água e m grandes f a -bricas, outras à m ã o e m oficinas m e n o r e s o u m e s m o e m d o m i c í l i o . M e i o século depois, o c o n s u m o a u m e n t a r a para £ 3 6 6 milhões; a m a n u f a t u r a de algodão era a mais i m p o r t a n t e d o r e i n o e m t e r m o s d o valor d o p r o d u t o , capital investido e n ú m e r o de e m p r e g a d o s ; quase todos, e x c e t o o n ú m e r o ainda expressivo dos t e -celões q u e usavam teares manuais, trabalhavam nas fiações e m r e g i m e de disciplina fabril.'ÍO p r e ç o d o fio caíra, talvez, para 1 / 2 0 d o p r e ç o anterior, e a m ã o -• ri d e - o b r a indiana mais barata era incapaz de c o m p e t i r tanto e m qualidade c o m o

e m q u a n t i d a d e c o m as fiandeiras de fusos e os filatórios de Lancashire. O s p r o d u t o s d e algodão ingleses e r a m v e n d i d o s n o m u n d o inteiro: as exportações, s u periores e m 1 / 3 ao c o n s u m o i n t e r n o , valiam q u a t r o vezes mais d o q u e as dos t e cidos de lã e de estame. A p r o d u ç ã o d e algodão era o s í m b o l o da grandeza i n d u s -trial da Inglaterra; o o p e r á r i o da algodoaria, o seu m a i o r p r o b l e m a social - o país assistia à ascensão d e u m proletariado industrial.

. P o r q u e essa revolução das técnicas e da organização industrial o c o r r e u p r i -' ^ m e i r o na Inglaterra? Algumas considerações teóricas talvez a j u d e m a organizar a

». discussão. A m u d a n ç a tecnológica n u n c a é automática. Ela significa a substituição o» _ v / " de m é t o d o s já estabelecidos, prejuízo para o capital investido e, c o m freqüência,

graves c o n t r a t e m p o s pessoais/Nessas circunstâncias, é preciso haver, e m geral, u m a c o m b i n a ç ã o de fatores q u e i n c i t e m essa m u d a n ç a e a possibilitem: (1) u m a o p o r t u n i d a d e de a p e r f e i ç o a m e n t o e m razão da inadequação das técnicas vigen-tes,1 o u u m a necessidade de a p r i m o r a m e n t o criada p o r a u m e n t o s a u t ô n o m o s dos

custos dos fatores; e (2) u m a superioridade de tal o r d e m q u e os n o v o s m é t o d o s fossem compensatórios para cobrir os custos da m u d a n ç a . Nessa última considera-ção está implícito que, p o r mais q u e os usuários dos m é t o d o s mais antigos e m e n o s eficientes tentassem sobreviver p o r m e i o da compressão dos custos dos fatores h u manos, empresariais o u trabalhistas, as novas técnicas seriam suficientes para p e r -mitir q u e os p r o d u t o r e s progressistas aumentassem seus preços e os substituíssem. / / ^ r ^ s m u d a n ç a s t e c n o l ó g i c a s q u e d e n o t a m o s c o m o " R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l ^

' / i m p l i c a r a m u m r o m p i m e n t o m u i t o mais drástico d o q u e q u a l q u e r o u t r o f a t o ° / v

(4)

E L S EV I E R A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l n a I n g l a t e r r a 4 5

V " Vv desde a i n v e n ç ã o da r o d a . D o lado empresarial, e x i g i r a m u m a clara r e d i s t r i b u i

-ção dos i n v e s t i m e n t o s e, ao m e s m o t e m p o , u m a revisão d o c o n c e i t o d e risco. E n q u a n t o antes quase t o d o s os custos da m a n u f a t u r a t i n h a m sido variáveis -L A < / j 6 h r e t u d o m a t é r i a s - p r i m a s e m ã o - d e - o b r a - u m a parcela cada vez m a i o r d o

__capital passou a t e r de ser alocada e m custos fixos de fabricação. W flexibilidade d o a n t i g o sistema fora m u i t o vantajosa para o e m p r e s á r i o : e m épocas de d e pressão, ele p o d i a i n t e r r o m p e r a p r o d u ç ã o a u m c u s t o b a i x o , r e t o m a n d o o t r a -b a l h o só q u a n d o e até o p o n t o e m q u e as c o n d i ç õ e s o r e c o m e n d a s s e m . ^Ágora, passava a ser p r i s i o n e i r o de seu i n v e s t i m e n t o , situação q u e m u i t o s dos t r a d i c i o

-nais c o m e r c i a n t e s e p r o d u t o r e s c o n s i d e r a r a m e x t r e m a m e n t e difícil o u até m e s m o impossível de aceitar.

/Para o trabalhador, a transformação foi ainda mais f u n d a m e n t a l , pois n ã o \ i ^ a p e n a s seu papel ocupacional, c o m o t a m b é m seu estilo d e vida estavam e m y ^ / l i o g o . Para m u i t o s - e m b o r a n ã o para todos - a i n t r o d u ç ã o da

m a q u i n a r i a acarre--Í9U, Pel a primeira vez, u m a c o m p l e t a separação dos m e i o s d e p r o d u ç ã o ; o

traba-> ^ l h a d o r c o n v e r t e u - s e e m 11111 " o p e r a d o r " . A m á q u i n a i m p ô s u m a n o v a disciplina r ^ .a quase t o d o s ^ í \ fiandeira n ã o podia girar sua roda e o tecelão n ã o podia c o r r e r

v/f" sua lançadeira e m casa, livres de supervisão, n o h o r á r i o q u e lhes conviesse. A ^ y partir de então, o trabalho era feito e m fábricas, e m u m r i t m o estabelecido p o r incansáveis e q u i p a m e n t o s inanimados, c o m o parte de u m a g r a n d e e q u i p e q u e tinha de c o m e ç a r , i n t e r r o m p e r e parar ao m e s m o t e m p o - sob estrita fiscalização de supervisores, q u e i m p u n h a m a assiduidade p o r m e i o de c o m p u l s ã o m o r a l e pecuniária e, às vezes, p o r ameaça física. A fábrica era u m n o v o tipo de prisão e o _ r e l ó g i o , u m n o v o tipo de c a r c e r e i r o /

E m r e s u m o , apenas os mais significativos i n c e n t i v o s p o d e r i a m ter p e r s u a -d i -d o os e m p r e s á r i o s a e m p r e e n -d e r e aceitar essas m u -d a n ç a s ; e s o m e n t e g r a n -d e s progressos p o d e r i a m ter s u p e r a d o a t e n a z resistência dos t r a b a l h a d o r e s à m e c a -\ nização.

^ . / A s origens d o interesse empresarial pelas máquinas e pela p r o d u ç ã o fabril ^ „ J i j ser buscadas na crescente i n a d e q u a ç ã o dos antigos m o d o s de p r o d u ç ã o , v ^ f y t f _?nraizada e m c o n t r a d i ç õ e s internas q u e , p o r sua vez, e r a m agravadas p o r forças ^ ^

« « e m a s . ' v * E n t r e esses sistemas préfabris de organização, os mais antigos f o r a m as o f i c i

-nas artesanais i n d e p e n d e n t e s , e m q u e u m mestre era, e m geral, assistido p o r u m ° u mais artífices o u aprendizes. Mas, j á n o século X I I I , essa i n d e p e n d ê n c i a p e r deuse e m muitas áreas e o artesão passou a d e p e n d e r d o c o m e r c i a n t e q u e f o r n e -cia sua m a t é r i a - p r i m a e vendia seu p r o d u t o . Essa s u b o r d i n a ç ã o d o p r o d u t o r ao i n t e r m e d i á r i o (ou, c o m m e n o s f r e q ü ê n c i a , dos p r o d u t o r e s fracos aos fortes) foi u m a c o n s e q ü ê n c i a d o c r e s c i m e n t o d o m e r c a d o . Antes, o artesão trabalhava para

(5)

V .11

u m a clientela local, u m g r u p o p e q u e n o p o r é m b e m estável, ligado a ele t a n t o pessoalmente q u a n t o p o r interesses financeiros. Agora, passara a d e p e n d e r d e vendas realizadas p o r i n t e r m e d i á r i o s e m m e r c a d o s distantes e c o m p e t i t i v o s , além de estar despreparado para lidar c o m as oscilações inerentes a esse tipo de arranjo. E m épocas difíceis, p o d i a ficar t o t a l m e n t e ocioso, s e m c o m p r a d o r , e q u a n d o os n e g ó c i o s m e l h o r a v a m e m geral t o m a v a emprestada de seu i n t e r m e diário a m a t é r i a p r i m a para r e c o m e ç a r . U m a vez e n r e d a d o n o e n d i v i d a m e n t o -c o m seu p r o d u t o final a n t e -c i p a d a m e n t e h i p o t e -c a d o a seu -c r e d o r - era raro q u e o artesão reconquistasse sua i n d e p e n d ê n c i a . Seu trabalho era suficiente para sus-t e n sus-t á - l o - nada mais além disso - e ele era, na v e r d a d e , senão p o r princípio, u m p r o l e t á r i o q u e n ã o v e n d i a u m p r o d u t o , mas m ã o - d e - o b r a J

f ,/Âlém das dificuldades financeiras, o artesão local n ã o tinha c o n d i ç ã o de c o -/ n h e c e r e explorar as necessidades dos c o n s u m i d o r e s distantes. Só o c o m e r c i a n t e

u jp • era capaz de reagir aos fluxos e refluxos da d e m a n d a , e x i g i n d o m o d i f i c a ç õ e s n o

/ p r o d u t o final para a t e n d e r às preferências d o c o n s u m i d o r , r e c r u t a n d o trabalha-dores adicionais q u a n d o preciso, e f o r n e c e n d o i n s t r u m e n t o s e matérias-primas / aos artífices e m potencial. Foi assim, p r i m o r d i a l m e n t e , q u e a p o p u l a ç ã o rural foi y y atraída para o circuito p r o d u t i v o . L o g o , os negociantes u r b a n o s p e r c e b e r a m q u e Y a zona rural era u m a f o n t e de m ã o - d e - o b r a barata: c a m p o n e s e s ansiosos para X c o m p l e m e n t a r a m a g r a r e n d a da terra c o m o trabalho extra d u r a n t e a entressafra,

esposas e crianças c o m horas vagas para preparar o trabalho d o h o m e m e a j u d á l o e m suas tarefas. E e m b o r a o tecelão, o ferreiro o u cuteleiro d o i n t e r i o r f o s -sem m e n o s habilidosos d o q u e o artesão da guilda o u o artífice citadino, ele era m e n o s dispendioso p o r q u e , p e l o m e n o s n o início, a utilidade marginal d o seu t e m p o o c i o s o era baixa e seus recursos agrícolas, m e s m o m u i t o m o d e s t o s , p e r -m i t i a -m q u e ele se sustentasse c o -m essa r e n d a adicional -m u i t o inferior. A l é -m dis-v- so, o sistema de p r o d u ç ã o domiciliar rural estava livre das restrições das guildas

sobre a natureza d o p r o d u t o , as técnicas de fabricação e o t a m a n h o d o e m p r e e n -d i m e n t o . / /

vy>'; v ^ Essa descrição de u m l o n g o e c o m p l e x o processo histórico é, s e m d ú v i d a ,

/ e x t r e m a m e n t e simplista. P o d e - s e afirmar q u e , c o n s i d e r a n d o a E u r o p a c o m o u m t o d o , a maioria dos c o n t r a t a d o r e s da p r o d u ç ã o domiciliar p r o v i n h a da área m e r -cantil, p o r é m é i m p o r t a n t e m e n c i o n a r as muitas exceções: os tecelões q u e se t r a n s f o r m a v a m e m negociantes de tecidos e roupas, e m p r e g a n d o seus vizinhos m e n o s e m p r e e n d e d o r e s , e os pisoeiros e tintureiros, q u e h a v i a m a c u m u l a d o ca-pital nos processos de a c a b a m e n t o , associavam-se, c o n t r a t a n d o d i r e t a m e n t e o f o r n e c i m e n t o de fios e tecidos. E m algumas áreas, e m especial nos arredores d e Leeds, na região oeste d e Y o r k s h i r e , os artesãos rurais o r g a n i z a v a m seus p r ó p r i o s galpões d e t e c e l a g e m , u n i a m s e q u a n d o necessário para criar instalações c o

(6)

-ELSEVIER A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l n a I n g l a t e r r a 47

m u n s , e v e n d i a m suas peças c o m o fabricantes i n d e p e n d e n t e s de tecidos nas feiras semanais de p r o d u t o s têxteis. P o r é m , m e s m o e m Y o r k s h i r e , essa f r a g m e n t a -ção da iniciativa era, s o b r e t u d o , característica d o c o m é r c i o lanígero; na fabricação d e estame q u e exigia mais capital, a u n i d a d e p r o d u t o r a era maior, e o c o n -tratante da p r o d u ç ã o domiciliar tinha u m papel mais i m p o r t a n t e .2

//h indústria têxtil inglesa construiu sua f o r t u n a n o fim da Idade M é d i a e i n í -/ c i o da era m o d e r n a . N e n h u m c e n t r o de p r o d u ç ã o , e x c e t o talvez Flandres, diri-giu-se tão rápido das cidades para o interior; calcula-se q u e , j á e m 1400, mais da ^metade da p r o d u ç ã o de tecidos de lã fosse realizada na zona rural.3 A t e n d ê n c i a

y r - S 5n t i n u o u : e m m e ad o s d o século X V I I I , a fabricação lanígera inglesa era p r o d u

-</~ ^jzida, basicamente, pelo trabalho artesanal domiciliar; e n t r e todas as cidades asso^ c i a d a s ao c o m é r c i o de lã, apenas N o r w i c h c o n t i n u a v a a ser u m i m p o r t a n t e c e n -* tro u r b a n o , mas perdia r a p i d a m e n t e sua i m p o r t â n c i a relativa. A l é m disso, apesar

das variações regionais e algumas pausas ocasionais, a indústria c o m o u m t o d o prosperara d e f o r m a impressionante. N o final d o século X V I I e início d o X V I I I , q u a n d o a indústria italiana era u m a sombra de seu a p o g e u , a p r o d u ç ã o holandesa de tecidos declinava sistematicamente, e a França estava m e r g u l h a d a n u m a p r o -longada depressão, o c o n s u m o inglês de lã crua crescia à taxa de 8% p o r década; e e n t r e cerca d e 1740 e 1770, o a u m e n t o decenal foi de 13% o u 14%.4 '

Esse crescimento m e r e c e u m exame detalhado, p o r q u e foi o p r i m e i r o fator que desencadeou as mudanças a q u e c h a m a m o s de R e v o l u ç ã o Industrial, e sua compreensão p o d e ajudar a e n t e n d e r as razões da primazia inglesa n o desenvolvi-m e n t o tecnológico e e c o n ô desenvolvi-m i c o . A indústria lanígera crescera, e desenvolvi-m parte, devido às condições favoráveis d o p r o d u t o . N e n h u m país possuía u m a oferta tão a b u n -dante de lã bruta, e m especial de fibras longas exigidas pelos tecidos mais leves e mais resistentes de estames. Além disso, a indústria rural, livre das restrições das guildas o u das regulamentações governamentais, tinha condições de tirar o m á x i -m o proveito dessa superioridade, adaptando seu p r o d u t o à d e -m a n d a e às variações dessa d e m a n d a . S o b r e t u d o , tinha a liberdade de produzir tecidos mais baratos, tal-vez m e n o s resistentes d o q u e as casimiras e os tecidos tradicionais, mas possíveis de serem usados e, muitas vezes, mais confortáveis. Essa liberdade de adaptação e inovação é especialmente i m p o r t a n t e na indústria leve, na qual os recursos e o u tras ponderações similares, e m geral, são m e n o s significativos c o m o locais o p e r a cionais d o q u e fatores empresariais. C o m o u m b o m e x e m p l o p r o v e n i e n t e da i n -dústria lanígera inglesa, p o d e m o s citar o rápido crescimento d o c o m é r c i o de esta-m e de Yorkshire, q u e ultrapassou o centro esta-mais antigo d o Leste da Inglaterra ao longo d o século X V I I I . S e g u n d o C l a p h a m : " C a s o corriqueiro de u m a localidade dinâmica e trabalhadora, c o m certas vantagens pequenas, lançando-se nos níveis mais elementares de u m a indústria e m expansão."5 T e r e m o s o p o r t u n i d a d e de

(7)

as-sinalar exemplos comparáveis das vantagens da liberdade empresarial, ao examinar os países continentais. Nesse ínterim, v e m o s q u e a indústria de lã na Inglaterra b e -neficiou-se ainda mais dessa liberdade, visto q u e seus concorrentes mais perigosos d o o u t r o lado d o Canal da M a n c h a estavam submetidos, n o século X V I I e início d o X V I I I , a u m a regulamentação e controle crescentes.

/ Finalmente, deve-se m e n c i o n a r a liberdade relativa da indústria inglesa diante dos conflitos e destruição da guerra, o fluxo instável, mas p r o l o n g a d o e a t r n n ^

f1 " ' ' " —

dante de hábeis artesãos estrangeiros e o acesso dos centros de p r o d u ç ã o ao transporte p o r vias navegáveis e, p o r t a n t o , a m e r c a d o s distantes - fatores q u e c o n t r i b u í a m para custos m e n o s onerosos de fabricação e d i s t r i b u i ç ã o /

/ Q u a n t o à d e m a n d a , a indústria lanígera inglesa foi t a m b é m , comparativa-m e n t e , favorecida. A população do reino não era grande, comparativa-mas crescia, e comparativa-m comparativa-meados ^ d o século X V I I I , p r o v a v e l m e n t e mais rápido d o q u e a de qualquer dos países c o n

-tinentais da E u r o p a . D e cerca de 6 milhões e m t o r n o de 1700, ela elevou-se a quase 9 milhões e m 1800, sendo q u e 70% a 90% desse a u m e n t o o c o r r e u na se-g u n d a m e t a d e desse p e r í o d o / ' Ainda mais, a inexistência de barreiras alfandese-gárias internas o u de tributos feudais criou, na Inglaterra, o m e r c a d o mais h a r m ô n i c o da E u r o p a . Essa u n i ã o política era confirmada pela geografia da ilha: território p e -q u e n o , topografia simples e u m a costa p r o f u n d a m e n t e recortada. E m contraste, barreiras alfandegárias dividiam u m país c o m o a França, c o m u m a população mais de três vezes maior, e m três grandes áreas comerciais fragmentadas, e m razão de costumes informais, tributos e encargos obsoletos e, acima de t u d o , pela c o m u n i -cação precária e m u m mosaico de células semi-autárquicas diversas^,

l/O h o m e m t a m b é m a p r i m o r o u o legado da natureza. A partir de m e a d o s d o século X V I I , h o u v e u m i n v e s t i m e n t o c o n t í n u o e crescente d e recursos públicos ., v e privados na ampliação d o sistema fluvial e na c o n s t r u ç ã o de novas estradas e pontes. E m 1750, havia mais de mil milhas de vias navegáveis na Inglaterra e há

/y V m e i o século o P a r l a m e n t o aprovava leis sobre barreiras de pedágio, à razão de

j Jr o i t o p o r a n o / P o r mais significativo q u e fosse esse d e s e n v o l v i m e n t o , ele era, e n

-l ^ v / V - X / - ' -' t r e t a n t o , insuficiente para as necessidades da e c o n o m i a , e o r i t m o dos investi

. m e n t o s cresceu a c e n t u a d a m e n t e nas décadas de 1750 e 1760. Esses anos assisti-i r a m ao s u r g assisti-i m e n t o dos p r assisti-i m e assisti-i r o s canaassisti-is ( N a v e g a ç ã o Sankey, 1 7 5 5 - 5 9 ; canal d o

d u q u e d e B r i d g e w a t e r , 1759-61) e de leis de c o b r a n ç a de p e d á g i o à razão de 4 0 p o r a n o . E m duas décadas ( 1 7 6 0 1 7 8 0 ) , vias navegáveis e estradas b e m c o n s t r u í -das ligavam os principais centros industriais d o N o r t e e dos c o n d a d o s d o c e n t r o , estes a Londres, e L o n d r e s à bacia d o Severn e ao Atlântico.

/ N o m e r c a d o da Inglaterra, o p o d e r de c o m p r a per capita e o p a d r ã o d e vida y e r a m m u i t o mais elevados d o q u e na E u r o p a c o n t i n e n t a l . N ã o d i s p o m o s de d a

-dos exatos sobre a r e n d a nacional n o século X V I I I ,7 mas há u m a a b u n d â n c i a de

J^T Y

P y-y -tf

(8)

ELSEVIER

A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l n a I n g l a t e r r a 49

d e p o i m e n t o s sobre a impressão de viajantes dos dois lados d o C a n a l da M a n c h a q u a n t o à m e l h o r distribuição de riqueza, dos salários mais altos e da m a i o r f a r t u -ra e n c o n t r a d o s na Inglater-ra. Assim, u m dos sinais mais evidentes de c o n f o r t o era o c o n s u m o de p ã o b r a n c o ; n o século X I X p o d e - s e fazer u m a estimativa c o m p a r a d a d o a u m e n t o de renda per capita e a disseminação de padrões mais al-y tos de vida e n t r e os s e g m e n t o s mais pobres da p o p u l a ç ã o , nas áreas rurais e na , E u r o p a central e oriental, s e g u i n d o a fronteira d o trigo. N o século X V I I I , a

r<\r*" Inglaterra era c o n h e c i d a c o m o o país d o p ã o b r a n c o . Mas isso é u m exagero: e m

vastas áreas, s o b r e t u d o nos c o n d a d o s centrais e n o N o r t e , o c e n t e i o e a cevada eram os cereais mais c o n s u m i d o s , e m especial na primeira parte d o século. M e s -m o nessas regiões, n o e n t a n t o , o p ã o foi clareando ao l o n g o dos anos, e n ã o exis-tia nada s e m e l h a n t e ao hábito de c o n s u m i r cereais mais grosseiros, c o m o o trigosarraceno e aveia dos países continentais ./Do m e s m o m o d o , havia u m g r a n -de m i t o na i m a g e m -de J o h n Buli, o g r a n d e c o n s u m i d o r -de carne. Q u a n d o ^ A r t h u r Y o u n g s e n t o u - s e para c o m e r n o País Basco - " o q u e c h a m a r í a m o s de ^ comida habitual d o c a m p o n ê s " serviramlhe "farta provisão de r e p o l h o , g o r

-dura, água e a carne oferecida para toda aquela g e n t e alimentaria só u m a meia dúzia de lavradores ingleses q u e ainda reclamariam c o m seu anfitrião pela c o m i -da escassa".8 A t é m e s m o a c o m i d a oferecida pelas casas correcionais, d i f i c i l m e n

-te preparada para t o r n a r a vida de seus residen-tes mais agradável, incluía carne todos o u dias o u , pelo m e n o s , várias vezes p o r s e m a n a .9/

/ / O trabalhador inglês n ã o apenas comia m e l h o r ; ele gastava m e n o s d i n h e i r o c o m c o m i d a d o q u e seus semelhantes na E u r o p a c o n t i n e n t a l e, na maioria dos outros lugares, esse gasto d i m i n u í a , e n q u a n t o d o o u t r o lado da M a n c h a é b e m j y ^ K P o s s í v e l q u e t e n h a a u m e n t a d o d u r a n t e grande parte d o século X V I I I .1 0 P o r t a n

-j.-^' to> possuía u m a reserva m a i o r para gastar c o m outras coisas, inclusive c o m p r o

-\ V ^ . d u t o s m a n u f a t u r a d o s . O ingleses t i n h a m a r e p u t a ç ã o de usar sapatos de c o u r o , y a° Pa s s o clu e o s holandeses e franceses usavam tamancos. Vestiam-se c o m roupas

>/ lã, e n q u a n t o os c a m p o n e s e s franceses o u alemães t r e m i a m , c o m f r e q ü ê n c i a , f de frio vestidos c o m suas roupas de l i n h o , tecido n o b r e para r o u p a de cama o u

me s a , p o r é m u m a p r o t e ç ã o precária contra os rigores d o i n v e r n o e u r o p e u . ^ D e

foe descreveu, e m 1728, c o m entusiasmo e o r g u l h o , a i m p o r t â n c i a dessa d e -m a n d a de p r o d u t o s britânicos e -m seu Plan of the English Co-m-merce:n

n o mais, vemos suas Casas e Hospedarias razoavelmente mobiliadas ou, V ^ V me n o s , providas de utensílios necessários de uso doméstico: mesmo

aque-les a q u e m chamamos de pobres, os artífices, gente operosa e esmerada, agem assim; deitam aquecidos, vivem na abundância, trabalham m u i t o e [não] c o -^ n h e c e m a privação.

* Ys ^

(9)

V

São essas pessoas que respondem pelo grosso de vosso consumo; é para elas que vossos mercados ficam abertos até mais tarde nas noites de sábado; porque, n o r -malmente, recebem tarde seu salário semanal (...). E m uma palavra, elas são a vida de todo nosso comércio, e m toda sua multidão: seus números não são centenas ou milhares ou centenas de milhares, mas milhões; é por sua multidão, penso, que todas as rodas do comércio são acionadas, a indústria e a produção da terra e do mar, finalizadas, depuradas e adequadas aos mercados externos; é pela largueza de seus rendimentos que eles são sustentados e pela grandeza de seu n ú m e r o que se m a n t é m o país inteiro; c o m seus salários, eles estão aptos a viver na fartura, e é por seu estilo de vida dispendioso, generoso e livre que o consumo interno é al-çado a tamanho volume tanto da nossa produção quanto da externa/

A referência d e D e f o e ao "estilo de vida dispendioso, g e n e r o s o e livre" dos ingleses traz à m e n t e u m ú l t i m o aspecto d o m e r c a d o i n t e r n o inglês: u m p a d r ã o d e c o n s u m o favorável ao c r e s c i m e n t o de p r o d u t o s m a n u f a t u r a d o s / P r o v a v e l -m e n t e , -mais d o q u e q u a l q u e r outra sociedade da E u r o p a , a sociedade britânica era aberta. N ã o apenas a renda tinha u m a distribuição mais eqüitativa d o q u e n o c o n t i n e n t e , c o m o t a m b é m e r a m m e n o r e s as barreiras à m o b i l i d a d e e mais i n d e -terminadas as definições d o status social. N a d a mais revelador nesse sentido d o q u e u m a c o m p a r a ç ã o das imagens c o n t e m p o r â n e a s da sociedade nos diferentes países da E u r o p a ocidental. E m relação à Inglaterra, p o d e m o s citar G r e g o r y K i n g o u J o s e p h Massic - m u i t o s g r u p o s ocupacionais classificados de a c o r d o c o m a riqueza e tão e n t r e m e a d o s a p o n t o de i m p e d i r o d e s e n h o de linhas h o r i -zontais d o status na totalidade da p i r â m i d e social. Q u a n t o à França, t e m o s u m a estrutura tripartite mais nítida: aristocracia, burguesia, peuple; d e n t r o dessas c a t e gorias, é e v i d e n t e , e x i s t e m distinções sutis e n e m s e m p r e é fácil classificar p e s

-v« soas de ocupações diferentes o u grupos limítrofes, c o m o os artesãos e c o m e r c i a n

-tes varejistas; c o n t u d o , a disposição é o r d e n a d a e segue u m a lógica tradicional. N a m a i o r parte da A l e m a n h a ocidental, prevalecia o sistema francês, p o r é m mais rígido e mais c r i t e r i o s a m e n t e d e f i n i d o , a p o n t o de a posição social, até m e s m o / " de subgrupos, c o m f r e q ü ê n c i a constar f o r m a l m e n t e da legislação. A leste d o Elba, a sociedade era ainda mais simples: u m a p e q u e n a aristocracia rural, a g r a n -d e massa -de c a m p o n e s e s p e s s o a l m e n t e -d e p e n -d e n t e s e, e n t r e eles, u m a cama-da fina de burgueses c o m e r c i a n t e s , espiritual e muitas vezes q t n i c a m e n t e alheios ao c o r p o social e m q u e viviam e m o v i a m - s e e n c a p s u l a d o s /

v J!Em relação às taxas de c o n s u m o , as implicações da m a i o r igualdade d e r e n d a são controversas.1 2 D e m o d o similar, os efeitos da m o b i l i d a d e são a m b í g u o s ;

al-g u m a s pessoas p o u p a m para subir na escala social e outras c o n s o m e m para s e r e m notadas. O resultado final d e p e n d e das circunstâncias.'/

(10)

ELSEVIER A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l n a I n g l a t e r r a 51

Á qualidade e o d i r e c i o n a m e n t o d o c o n s u m o são, c o n t u d o , o u t r o s n o v o s q u e s t i o n a m e n t o s . N a s sociedades não-primitivas, nas quais as habilidades profis-^ sionais são b e m desenvolvidas e e m q u e j á h o u v e u m a certa a c u m u l a ç ã o de riqueza, a desigualdade estimula u m a predileção p o r luxos e serviços e x t r a v a g a n tes e n t r e as m i n o r i a s privilegiadas, ao passo q u e a igualdade p r o m o v e u m a d e -, m a n d a de c o n f o r t o s mais sóbrios e sólidos para a maioria. A g r a n d e riqueza e m

m e i o à p o b r e z a é, e m geral, p r o d u t o da relação inferior e n t r e capital e trabalho J ' (ou d e investimentos). Ela p r o v o c a u m p r ó d i g o d i s p ê n d i o n o prazer e na

ele-gância: n u m a s u p e r a b u n d â n c i a de e m p r e g a d o s d o m é s t i c o s - a p o n t o d e a d o n a de casa passar mais t e m p o supervisionando seus criados d o q u e as m u l h e r e s mais modestas gastavam f a z e n d o suas próprias tarefas; e m u m vestuário sofisticado e caríssimo, na d e c o r a ç ã o luxuosa das residências e na p r o d u ç ã o de obras de arte

vv requintadas.//

• y K / A difusão mais eqüitativa da riqueza, n o e n t a n t o , resulta de u m a m ã o d e

/ „ ° b r a cara. Essa era a situação da Inglaterra, o n d e os salários a d m i t i n d o s e a i n -certeza e a impossibilidade parcial de c o m p a r a r as estimativas - e r a m cerca de duas vezes mais elevados d o q u e os da França e ainda superiores aos d o leste d o •v -B^eno. E m tal e c o n o m i a , as f u n ç õ e s d e p r o d u ç ã o r e c e b e m mais i n v e s t i m e n t o d e

capital, e n q u a n t o o c o n s u m i d o r rico a t e n d e m e n o s a seus caprichos e satisfaz-se ? v c o m u m a q u a n t i d a d e m a i o r de p r o d u t o s acessíveis, e m m e n o r escala e c o m q u a

-c < ^ lidade inferior, aos mais pobres. P o r o u t r o lado, o p o d e r aquisitivo r e l a t i v a m e n

-> ^ v £e elevado da camada mais p o b r e da p o p u l a ç ã o implica u m a d e m a n d a m a i o r 6

1

c o r r e s p o n d e n t e d e artigos q u e ela precisa c o m p r a r e pelos quais p o d e pagar -^ ? mercadorias mais baratas e mais simples, q u e são as mais passíveis de p r o d u ç ã o

V / r ^ a s s a - f r

J / / u m a sociedade c o m o essa, a m o b i l i d a d e é u m a força e m p r o v e i t o da p a

-r° n i z a ç ã o . A m u d a n ç a implica imitação e esta p r o m o v e a disseminação d e p a - V

V ~ í ?e s de c o n s u m o p o r toda a p o p u l a ç ã o . E m sociedades e m q u e n ã o há m o b i l i - ^ ^ O '

J a d e social, distinções claras e invioláveis d e vestuário e d e estilo r e p r e s e n t a m v

graus hierárquicos marcantes. Q u a n d o surge essa m o v i m e n t a ç ã o , c o m o n o fim ;

a Idade M é d i a , leis suntuárias são c o m f r e q ü ê n c i a necessárias para imobilizar as Pessoas e m seu lugar. E, q u a n d o a m o b i l i d a d e t o r n a - s e tão c o m u m a p o n t o d e

S e r C o n si d e r a d a p o r m u i t o s u m a v i r t u d e , é impossível i m p o r controles

discrimi-natórios sobre os g a s t o s i

\ ç Inglaterra, as leis suntuárias estavam e m desuso n o final d o século X V I e ^ w . r a m e ü m i n a d as p o r J a i m e I e m 1604. N o s dois séculos seguintes, a t e n d ê n c i a à W1 di m° ^e n e idad e d e gastos - a e x t i n ç ã o das diferenças regionais verticais e das

ju l n ç o e s s c ,ciais horizontais - prosseguiu. À época, as pessoas q u e i x a v a m - s e d o X o das classes inferiores, q u e se vestiam igual aos seus superiores. Isso é u m

(11)

exagero; a l a m e n t a ç ã o social c o m o g ê n e r o literário é s e m p r e hiperbólica. A l é m disso, g r a n d e parte da elegância d o p o v o era falsa, p r o v e n i e n t e de u m c o m é r c i o de roupas d e s e g u n d a m ã o . M e s m o assim, a d e m a n d a de artigos descartados era a p r o v a da inexistência o u decadência das distinções habituais: os p o b r e s p o d i a m usar e, r e a l m e n t e , usavam o m e s m o tipo de casaco q u e os ricos*, c o m o a b a n d o n o da antiga rusticidade. D e n o v o , tratase de u m e x a g e r o p o r é m , e m n e n h u -m a e c o n o -m i a o c a -m p o estava tão i n t i -m a -m e n t e i n t e g r a d o n o circuito co-mercial; e m n e n h u m lugar os focos d e a u t o n o m i a locais e r a m tão distribuídos//

/ T u d o isso fazia parte de u m processo generalizado de urbanização q u e , p o r sua vez, era reflexo da comercialização e da industrialização avançadas. L o n d r e s , . sozinha, tinha u m a taxa p o p u l a c i o n a l espantosa: D e f o e calculou, e m 1725, q u e possuísse 1,5 m i l h ã o d e habitantes, quase % da p o p u l a ç ã o d o reino. Essa cifra é t e s t e m u n h o , n ã o da precisão de D e f o e , mas da impressão q u e a " c i d a d e g r a n d e " inspirava aos c o n t e m p o r â n e o s ; e n t r e t a n t o , m e s m o as estimativas conservadoras situavam a p o p u l a ç ã o da área m e t r o p o l i t a n a e m cerca da m e t a d e desse n ú m e r o . N a s províncias, após a G u e r r a Civil, as cidades e os p o v o a d o s d e s e n v o l v e r a m - s e sistematicamente; e n t r e os de expansão mais rápida, havia " p o v o a d o s " n ã o e m a n c i p a d o s c o m o M a n c h e s t e r q u e teria, talvez, 12.500 habitantes e m 1717 e 20 mil e m 1758. U m a estimativa q u e i n d i q u e a distribuição de 15% da p o p u l a -ção e m cidades de 5 mil habitantes o u mais, e m m e a d o s d o século, e de 25% e m 1800 estará p r o v a v e l m e n t e mais p r ó x i m a da v e r d a d e .1 4 E m contraste, a cifra

francesa às vésperas da R e v o l u ç ã o era p o u c o s u p e r i o r a 10%, e a p o p u l a ç ã o da A l e m a n h a era ainda mais r u r a l /

//No e n t a n t o , n ã o era apenas o fato de a Inglaterra ter mais pessoas m o r a n d o nas cidades d o q u e q u a l q u e r o u t r o país da E u r o p a , e x c e t o talvez os Países B a i -:T xos,1 5 q u e tornava m u i t o peculiar seu p a d r ã o d e p o v o a m e n t o , mas sim o caráter

da vida u r b a n a inglesa. N o c o n t i n e n t e , muitas cidades t i n h a m f u n ç õ e s essencial-m e n t e adessencial-ministrativas, judiciais e eclesiásticas. Suas p o p u l a ç õ e s consistiaessencial-m, p r i n c i p a l m e n t e , e m burocratas, profissionais liberais e soldados, além de lojistas, artesãos e criados q u e lhes prestavam serviços. A cidade era m e n o s u m n ú c l e o de atividade e c o n ô m i c a , q u e trocava artigos m a n u f a t u r a d o s e serviços comerciais c o m p r o d u t o s da zona rural, d o q u e u m c e n t r o político e cultural: recolhia i m -postos e aluguéis da p o p u l a ç ã o rural, c o m o r e t r i b u i ç ã o p e l o g o v e r n o e c o m base n o direito tradicional. M a d r i é o e x e m p l o clássico desse t i p o d e p o v o a m e n t o , mas Paris lhe era m u i t o s e m e l h a n t e , e talvez a maioria das principais cidades p r o -vincianas francesas, inclusive lugares c o m o Arras, D o u a i , C a e n , Versalhes,

*De modo similar, os contemporâneos reclamavam que os agricultores imitaram os modos citadinos.

(12)

ELSEVIER A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l n a I n g l a t e r r a 53

N a n c y , T o u r s , Poitiers, A i x e T o u l o u s e . N a A l e m a n h a , a f r a g m e n t a ç ã o d o p o -der político era u m estímulo à multiplicação de centros u r b a n o s semi-rurais, cada qual c o m sua corte, sua burocracia e sua guarnição.

E m contraste, o t a m a n h o relativamente r e d u z i d o da organização política bri-tânica e sua concentração e m Londres deixou os centros provinciais mais antigos ^ entregues à inércia e à decadência. N a d a é mais s u r p r e e n d e n t e , n o mapa da

Ingla-terra d o século X V I I I , d o q u e a m o d e r n i d a d e d o padrão u r b a n o . As sedes dos f ^ condados medievais - Lancaster, Y o r k , C h e s t e r e Stafford - f o r a m suplantadas p o r ^ ir „ ^ g a r e s mais novos, c o m o Liverpool, Manchester, Leeds e B i r m i n g h a m , e j á havia ^ V " um a m u d a n ç a substancial de população e m favor d o n o r t e e da região central.

G r a n d e parte d o crescimento, além disso, n ã o o c o r r e u nas cidades p r o p r i a m e n t e ditas, mas n o a u m e n t o populacional n o c a m p o . Surgiram diversos vilarejos i n d u s triais muitíssimo desenvolvidos concentrações de centenas de fiandeiros e t e c e -lões nos distritos m a n u f a t u r e i r o s de Lancashire e Y o r k s h i r e , semelhantes, e m niuitos aspectos, às antigas aglomerações rurais da Inglaterra oriental.,/

v • • / O p a d r ã o geral era de u m c o n t a t o estreito e u m i n t e r c â m b i o f r e q ü e n t e e n t r e

a cidade e o c a m p o . O c o m é r c i o e as oficinas i a m até os clientes: A . P . W a d s -\ w o r t h o b s e r v o u os n u m e r o s o s a n ú n c i o s de aluguel de casas para negociantes nos t</ y Povoados ao r e d o r d e M a n c h e s t e r , o q u e refletia, de a m b o s os lados, u m a

res-1 & posta entusiástica à o p o r t u n i d a d e e c o n ô m i c a .1 6 Apesar da escassez de dados, p a

-• -• re c e claro q u e o c o m é r c i o inglês d o século X V I I I , c o m p a r a d o ao d o c o n t i n e n t e ,

^ era e x t r e m a m e n t e ativo, e m p r e e n d e d o r e a b e r t o às inovações. Parte da explica-ü ã o desse fato é institucional: os c o m e r c i a n t e s ingleses estavam relativamente li-vres de restrições tradicionais o u legais q u a n t o aos o b j e t o s o u ao caráter de sua ^atividade. P o d i a m v e n d e r o q u e quisessem e m q u a l q u e r lugar e p o d i a m c o n c o r

-r e -r ~ e c o n c o r r i a m - l i v r e m e n t e c o m base n o p r e ç o , p r o p a g a n d a e crédito. Se a

\ v / ' m a i o r i a dos c o m e r c i a n t e s c o n t i n u a v a a barganhar, m u i t o s seguiam o e x e m p l o

v V yd o s l a c r e s e v e n d i a m a preços fixos e marcados. À m e d i d a q u e f o r a m s e n d o

I ^ adotados,

esses m é t o d o s c o n d u z i r a m a u m a alocação mais eficiente dos recursos ° e c o n ôm i c o s e a u m custo m e n o r de distribuição.//

L / / / E m r e s u m o , o m e r c a d o i n t e r n o de p r o d u t o s m a n u f a t u r a d o s desenvolvia-se,

f ^ a ç a s ao a p e r f e i ç o a m e n t o das c o m u n i c a ç õ e s , ao a u m e n t o da p o p u l a ç ã o , à r e n

-^ da média elevada e crescente, a u m p a d r ã o de c o n s u m o favorável aos p r o d u t o s

1 ,, duráveis, padronizados e de p r e ç o m o d e r a d o , e à iniciativa comercial n ã o cercea-d a . N o

/ i N O e n t a n t o , n ã o se p o d e delimitar seu c r e s c i m e n t o c o m precisão, p o r q u e

/ V>' n a° dispomos d e u m a estatística sobre o c o n s u m o d o m é s t i c o . /

/ ' { j Poss>>ímos mais i n f o r m a ç õ e s sobre o c o m é r c i o exterior, n e m q u e seja a p e

-^ y n a s Pelo fato de q u e a maioria dos p r o d u t o s q u e entrava o u saía d o país passava

(13)

completas, inexatas e falseadas p e l o uso de valores fixos e m u m m u n d o de p r e -ços flutuantes. P o r é m , p r o p o r c i o n a m u m a o r d e m de c o m p a r a ç ã o , i n d i c a n d o , p o r e x e m p l o , u m a u m e n t o de três o u q u a t r o vezes nas exportações britânicas (incluindo a r e e x p o r t a ç ã o ) d u r a n t e os c e m anos decorridos e n t r e 1660 e 1760.

/ V i m o s q u e o a u m e n t o das vendas da Inglaterra n o exterior, assim c o m o n o j n e r c a d o i n t e r n o , refletiu, e m g r a n d e parte, sua v o c a ç ã o natural; a isso c o n v é m acrescentar algumas vantagens institucionais e históricas. O país tinha u m a sólida _ tradição m a r í t i m a e, ao c o n t r á r i o da maioria de seus rivais n o c o n t i n e n t e , n ã o desviou suas energias para a m a n u t e n ç ã o de exércitos dispendiosos e para a e x pansão territorial. E m v e z disso, c o n c e n t r o u s e e m garantir privilégios c o m e r -ciais e u m i m p é r i o colonial, à custa, e m grande parte, de seus principais rivais continentais, a França e os Países Baixos. Essa política, m e n o s dispendiosa d o q u e n o território e u r o p e u , a l o n g o prazo foi mais vantajosa. N e n h u m país a t e n -d e u mais aos -desejos -de suas classes mercantilistas; o u foi mais alerta q u a n t o às implicações comerciais da g u e r r a / g . D . R a m s a y o b s e r v o u c o m perspicácia o papel de L o n d r e s na p r o m o ç ã o dessa h a r m o n i a e n t r e o c o m é r c i o e a diplomacia, c o n t r a s t a n d o , nesse aspecto, c o m o isolamento de B o r d e a u x , Marselha e N a n t e s e m relação a Paris e Versalhes.1 7

//Ao m e s m o t e m p o , a Inglaterra d e s e n v o l v e u u m a grande e p o t e n t e m a r i n h a m e r c a n t e , b e m c o m o instituições financeiras necessárias à sua m a n u t e n ç ã o . D e ^ t o d o s os países d o c o n t i n e n t e , apenas H o l a n d a , mais u m a vez, p o d i a rivalizar

c o m ela, e a relativa s u p e r i o r i d a d e dos Países Baixos situava-se n o c o m é r c i o , e ' * Y \ í * n ã o n a indústria. E n t r e o p o d e r i o mercantil holandês e a c o m b i n a ç ã o britânica

^ y / d e p o d e r m e r c a n t i l e industrial, n u n c a h o u v e dúvida: o m a i o r t r u n f o de u m p o r -' t o é u m t e r r i t ó r i o p r o d u t i v o . /

^ A l o n g o p r a z o , a v a n t a g e m capital da Inglaterra foi a capacidade d e fabricar c o m b a i x o custo os artigos e m relação aos quais a d e m a n d a estrangeira era mais flexível^Ds m e r c a d o s mais promissores da Inglaterra, nos séculos X V I I e X V I I I , ' n ã o se situavam na E u r o p a , o n d e suas indústrias estavam c r e s c e n d o e cujos g o

-v e r n a n t e s mercantilistas e r a m cada -vez mais hostis à i m p o r t a ç ã o de p r o d u t o s m a n u f a t u r a d o s , mas nas terras de a l é m - m a r : n o N o v o M u n d o , na África e n o O r i e n t e . Essas áreas e r a m m u i t o diferentes q u a n t o a necessidades e preferências. O s habitantes tribais da África e os trabalhadores rurais das Antilhas q u e r i a m t e -cidos finos e leves, cores vivas, metais vistosos - lãs finas, xadrezes de l i n h o d e alg o d ã o de M a n c h e s t e r , ferraalgens baratas de B i r m i n alg h a m . As d e m a n d a s dos c a m -poneses indianos o u chineses e r a m semelhantes ( e x c e t u a n d o - s e a maioria dos p r o d u t o s de algodão), e m b o r a mais sóbrios. O agricultor da N o v a Inglaterra o u o c o m e r c i a n t e de Filadélfia, c o n f r o n t a d o s c o m u m clima mais rigoroso e instá-vel, e mais sofisticados e m t e r m o s d e tecnologia, c o m p r a v a m tecidos mais pesa-

(14)

ELSEVIER A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l n a I n g l a t e r r a 55

dos e ferragens mais resistentes. E n t r e todos, havia u m d e n o m i n a d o r c o m u m , p o r é m d e c u n h o negativo: eles n ã o estavam especialmente interessados e m artigos de l u x o , dispendiosos e de a c a b a m e n t o refinado.

À s s i m , o a u m e n t o das exportações r e f o r ç o u as pressões favoráveis à p a d r o n i -za -zação e contrárias à diferenciação, a q u a n t i d a d e e m oposição à qualidade. Essa

V^t,. o p ç ã o pela q u a n t i d a d e e m d e t r i m e n t o da qualidade era u m a história antiga na indústria inglesa. Mas isso n ã o significa a adulteração o u a v e n d a de p r o d u t o s i n ^ feriores c o m o artigos de qualidade superior essa era u m a política negativa i n -^ y ternacional, c o m o evidencia a reiteração de n o r m a s p o r parte dos g o v e r n o s e das y ° guildas n o c o n t i n e n t e e u r o p e u ^ R e f i r o m e à a d o ç ã o de n o v o s m é t o d o s de p r o

-dução, q u e r e d u z i a m os custos e m p r e j u í z o da solidez o u da aparência; o m e l h o r e x e m p l o é o uso d o carvão e m vez da madeira na fabricação de v i d r o o u na i n -dústria da cerveja.1 8 Essa p r o n t i d ã o e m a b a n d o n a r os velhos m é t o d o s e m favor

dos novos, e m p ô r o lucro acima d o o r g u l h o artesanal o u até m e s m o de u m a aparência d e o r g u l h o , implica u m a certa separação e n t r e o p r o d u t o r e a p r o d u ção, u m a o r i e n t a ç ã o voltada para o m e r c a d o , e m vez da f á b r i c a / E m certa m e d i -da, ela refletiu a d o m i n a ç ã o inicial da indústria inglesa p o r interesses mercantilist a e a r e d u ç ã o d o armercantilistesão à c o n d i ç ã o de m e r o e m p r e g a d o d o c o n mercantilist r a mercantilist a n mercantilist e . E n mercantilist r e tanto, isso n ã o basta para explicar o f e n ô m e n o ; na indústria lanífera, p o r e x e m -plo, o c e n t r o de p r o d u ç ã o mais d i n â m i c o situava-se e m Y o r k s h i r e , u m a fortale-za dos p e q u e n o s fabricantes i n d e p e n d e n t e s de tecidos; e na metalurgia, na fabri-cação de vidro, na cervejaria e na indústria q u í m i c a - as indústrias mais afetadas Pela i n t r o d u ç ã o d o c o m b u s t í v e l mineral , a organização da p r o d u ç ã o n ã o se r e -lacionou ao sistema d e p r o d u ç ã o domiciliar.

A o c o n t r á r i o , essa p r e o c u p a ç ã o c o m os custos d e v e ser vista c o m o parte de

um a racionalidade m a i o r , resultante, e m certa m e d i d a , das circunstâncias m a t e

riais acima d e t u d o , da m a i o r coesão d o m e r c a d o inglês e da eficácia das p r e s sões competitivas , mas t a m b é m c o m o u m a força ideológica própria, cujas f o n -tes ainda estão p o r ser exploradas. C o m a possível exceção dos Países Baixos, e m n e n h u m país d o século X V I I I a sociedade era tão sofisticada d o p o n t o de vista comercial. E m parte alguma era tão rápida a reação aos lucros e perdas; e m n e -n h u m lugar as decisões empresariais refletiam tão p o u c o as co-nsiderações não-racionais, ligadas ao prestígio e ao hábito. T e r e m o s o p o r t u n i d a d e de voltar a e x a m i n a r essa questão ao falarmos dos investimentos e da oferta de capital para

a industrialização. N o m o m e n t o , m e u ú n i c o interesse é mostrar o r u m o seguido

Pelos p r o d u t o r e s diante das pressões de m e r c a d o e p o r q u e eles reagiram. Talvez seja impossível afirmar q u e parcela d o a u m e n t o da d e m a n d a e da tendência para a p r o d u ç ã o maciça de artigos mais baratos foi atribuída à e x p a n

(15)

estimativas globais aproximadas da p r o p o r ç ã o e n t r e as vendas domésticas e as u l -tramarinas, e estas, p r e s u m i v e l m e n t e , abarcam t u d o , inclusive os p r o d u t o s agrí-colas. Mas o q u e nos interessa aqui é a d e m a n d a de p r o d u t o s m a n u f a t u r a d o s e apenas de alguns deles. P o d e m o s tentar fazer esse tipo d e c o m p a r a ç ã o e m relação à indústria lanígera: n o final d o século X V I I , as e x p o r t a ç õ e s inglesas de t e c i -dos de lã r e s p o n d i a m , possivelmente, p o r mais de 30% da p r o d u ç ã o industrial local; e m 1740, essa p r o p o r ç ã o parece ter a u m e n t a d o , talvez para mais da m e t a -de, e e m 1 7 7 1 - 2 c o r r e s p o n d i a a p o u c o m e n o s da m e t a d e .1 9 Nesse i m p o r t a n t e

r a m o , p o r t a n t o , o principal i m p u l s o parece ter v i n d o d o c o m é r c i o exterior, e Y o r k s h i r e , a área e x p o r t a d o r a mais ativa da indústria, era t a m b é m o c e n t r o fabril q u e crescia c o m mais rapidez. A r g u m e n t a s e q u e a i n d u ç ã o de u m a v a n ç o t e c -n o l ó g i c o desse p o r t e requereria u m m e r c a d o m í -n i m o g r a -n d e demais para basearse e m u m país isolado, de m o d o q u e o e m p u r r ã o decisivo d e p e n d e r i a t a m -b é m d o acesso a u m a fatia significativa de u m m e r c a d o m u n d i a l e m expansão. U m a c o m b i n a ç ã o singular de circunstâncias e c o n ô m i c a s e políticas é q u e teria p e r m i t i d o à Inglaterra conquistar para si, n o século X V I I I , u m a parcela tão g r a n -de d o c o m é r c i o -de p r o d u t o s m a n u f a t u r a d o s a p o n t o -de explicar o salto b e m - s u c e d i d o para o m o d o de p r o d u ç ã o " d i f e r e n c i a d o " .2 0

/ M a s a resposta n ã o é tão simples. As cifras q u e d i s p o m o s e m relação às e x -p o r t a ç õ e s inglesas ( s o b r e t u d o de -p r o d u t o s m a n u f a t u r a d o s ) m o s t r a m u m a clara ^ ^ Y estabilização n o terceiro quartel d o século. O v o l u m e de c a r r e g a m e n t o s de lã ^ >V caiu a partir d o fim da década de 1750; os p r o d u t o s de algodão oscilaram n o fim

V -da década de 1760 e na d e 1770; a q u e d a n o t o c a n t e ao ferro e ao aço o c o r r e u n o

V.

y '' fim da década de 1760 mas foi a c e n t u a d a e persistiu até a década de 1790.2 1

D a v i d Eversley m o s t r o u - s e c o n t r á r i o à aceitação simplista das e x p o r t a ç õ e s ^ c o m o o principal setor da e c o n o m i a e m processo de r e v o l u ç ã o : o b s e r v a n d o o \ / t V ^ peso e a relativa estabilidade da d e m a n d a interna, ele afirma q u e só a existência v i desse t i p o de m e r c a d o confiável j u s t i f i c o u e p e r m i t i u a a c u m u l a ç ã o de capital na J y indústria.2 2 P o r o u t r o lado ( c o m o e m muitas questões históricas, é lícito discutir

os prós e os contras), essa variabilidade das e x p o r t a ç õ e s constituiu, s e m dúvida, u m e s t í m u l o à m u d a n ç a e ao c r e s c i m e n t o industriais. N ã o se trata apenas de q u e o a u m e n t o marginal das vendas muitas vezes traduz a diferença e n t r e lucros e perdas; o c o r r e q u e os surtos de d e m a n d a ultramarina i m p u s e r a m cargas abruptas e rígidas ao sistema p r o d u t i v o , i m p i n g i r a m u m a situação de custos r a p i d a m e n t e V»

crescentes às empresas e a m p l i a r a m o i n c e n t i v o à t r a n s f o r m a ç ã o tecnológica. A c" - ^ partir d o fim d o século X V I I I , os fluxos de i n v e s t i m e n t o p a r e c e r a m suceder-se , . vA' aos a u m e n t o s das vendas n o e x t e r i o r .2!

r

D e qualquer m o d o , essa d e m a n d a crescente c o n t i n h a as sementes da dificul-dade. T o d a f o r m a de organização industrial traz e m seu â m a g o o p o r t u n i d a d e s de

(16)

ELSEVIER

A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l n a I n g l a t e r r a 57

conflito entre e m p r e g a d o r e e m p r e g a d o . Estas são particularmente graves n o sis-tema de p r o d u ç ã o domiciliar, p o r q u e f o r n e c e m tanto as anuas q u a n t o as causas da hostilidade: o trabalhador d e t é m a custódia da matéria-prima d o e m p r e g a d o r e a transforma, trabalhando para isso e m u m horário a seu critério, e m sua própria casa, livre de supervisão. O ú n i c o recurso d o negociante é o controle limitado so-bre a renda dos empregados: se lhes pagar u m valor suficientemente baixo, eles se-rão forçados a trabalhar, p o r m e d o da f o m e ; e, se da r e m u n e r a ç ã o lhes deduzir qualquer desvio dos padrões de qualidade, eles serão obrigados a m a n t e r u m nível m í n i m o de d e s e m p e n h o . Sem dúvida, o exercício dessas restrições deriva d o esta-b e l e c i m e n t o de algum tipo de vínculo m o n o p s ô n i c o entre o e m p r e g a d o r e o tra-balhador; caso contrário, o e m p r e g a d o r terá de aceitar o p r e ç o da m ã o - d e - o b r a vigente n o m e r c a d o . Parece incontestável o fato de, muitas vezes, haver efetiva-m e n t e existido esse vínculo - e efetiva-m razão d o efetiva-m o n o p s ô n i o real e efetiva-m alguefetiva-mas áreas, de laços pessoais, ou d o e n d i v i d a m e n t o - e de ele ter levado a abusos.2 4 Existem

ele-m e n t o s folclóricos significativos construídos e ele-m t o r n o da figura d o ganancioso negociante de tecidos e de seu criado ainda mais avarento, J i m m y S q u e e z u m .

P o r sua vez, t a m b é m é e v i d e n t e q u e esses controles eram, na m e l h o r das h i -póteses, irregulares e de efeito limitado; q u e o trabalhador c e d o a p r e n d e u a c o m p l e m e n t a r sua renda p o r m e i o d o desvio, para uso pessoal o u para r e v e n d a , de parte da m a t é r i a - p r i m a fornecida pelo n e g o c i a n t e . Essa apropriação indébita costumava ser efetuada e m d e t r i m e n t o d o p r o d u t o final: o fio era e n g o m a d o para atingir u m peso falso; o tecido era esticado até e além d o p o n t o de transpa-rência. T a m p o u c o havia q u a l q u e r s e n t i m e n t o de c o m p u n ç ã o m o r a l p o r essa subtração, encarada c o m o u m a prerrogativa n o r m a l d o oficio e mais d o q u e j u s -tificada pela exploração dos negociantes.

O c o n t r o l e d o e m p r e g a d o r sobre a m ã o - d e - o b r a atingia sua força m á x i m a n o m e r c a d o e m depressão. Nessas ocasiões, a ameaça de d e s e m p r e g o pairava p e sadamente sobre os trabalhadores domiciliares e, d o p o n t o de vista d o n e g o c i a n -te, u m a das maiores vantagens d o sistema de p r o d u ç ã o domiciliar era a facilidade de dispensar os e m p r e g a d o s , pois os custos indiretos e r a m m í n i m o s . (Mais tarde, q u a n d o a alternativa da p r o d u ç ã o c o n c e n t r a d a nas fabricas t o r n o u - s e acessível, m u i t o s empresários, e s p e c i a l m e n t e nos países d o c o n t i n e n t e , retardaram a m u -dança e m v i r t u d e da flexibilidade dos arranjos anteriores.) N o século X V I I I , n o entanto, os contratantes ingleses da p r o d u ç ã o domiciliar depararam-se c o m u m C e r c a d o tradicional e m expansão, q u e m i n o u a disciplina industrial e agravou °s conflitos e n d ê m i c o s ao sistema. A predileção dos trabalhadores pela a p r o p r i a

-ção indébita, a c e n t u a d a na depressão p e l o desejo de c o m p e n s a r perdas maiores e

a falta de trabalho, n ã o d i m i n u í a na prosperidade; ao c o n t r á r i o , a r e c o m p e n s a

(17)

f / h l é m disso, e m b o r a o sistema fosse flexível de cima para baixo, era difícil a u m e n t a r a p r o d u ç ã o . A t é c e r t o p o n t o , a indústria rural e x p a n d i u - s e f a c i l m e n t e c o m a abertura d e novas áreas, m u d a n d o s e das imediações das cidades m a n u f a -tureiras para os vales vizinhos e para as regiões m o n t a n h o s a s m e n o s acessíveis, d i f u n d i n d o - s e c o m o u m líquido à p r o c u r a de seu nível - n o caso, o mais b a i x o nível salarial possível. Foi assim q u e a indústria lanígera e n c h e u as várzeas de W i l t s h i r e e S o m e r s e t e floresceu ao l o n g o de t o d o s os charcos galeses n o fim d o século X V I ; n o c o n t i n e n t e , as crescentes fabriques d e lã de Verviers e M o n s c h a u i a m buscar seus tecelões na província de L i m b u r g , e m m e a d o s d o século X V I I I , e n q u a n t o a fabricação de algodão da N o r m a n d i a , depois de se espalhar pela r e -gião de Calvados, c o m e ç o u a instalar-se na Picardia.

/ M a s , na Inglaterra d o século XVIII, as possibilidades de expansão geográfica es-tavam praticamente esgotadas. As áreas mais acessíveis tinham sido exploradas e atraídas para o sistema. O s tecelões de estame de W e s t R i d i n g c o m p r a v a m fio nas .^várzeas d o N o r t e e e m regiões tão distantes quanto a Inglaterra oriental. E m

Lancas-hire, e m meados d o século, os tecelões andavam milhas para obter os fios de trama q u e manteriam seus teares ocupados pelo resto do dia, e subornavam as fiandeiras c o m fitas e outras futilidades. Grande parte dessa dificuldade devia-se à diferença dos requisitos de m ã o - d e - o b r a para a fiação e a tecelagem: eram necessárias pelo m e n o s cinco rodas para suprir u m tear, u m a proporção c o m u m e n t e discrepante e m relação à composição da população. E n q u a n t o a questão era apenas de encontrar fiandeiras rurais cujos maridos trabalhavam nos campos para fornecer o fio aos tecelões u r -banos, não havia problema. Mas, depois que a tecelagem disseminou-se para o inte-rior e os h o m e n s abandonaram o cultivo da terra e m prol da indústria, o desequilí-brio estava fadado a se transformar e m u m obstáculo à expansão. H á indícios de q u e algumas fiandeiras haviam c o m e ç a d o a se especializar e m tipos específicos de fio e m meados d o século XVIII, de q u e havia surgido u m a divisão de trabalho, ao m e n o s e m algumas partes de Lancashire, e m resposta à pressão da demanda. P o r é m , isso di-ficilmente seria o bastante, dada a situação da tecnologia, e o preço d o fio subiu drasticamente entre o fim d o século X V I I e meados d o século X V I I I /

Essencialmente, o a u m e n t o d e v e u - s e à dispersão cada vez m a i o r da força d e trabalho, pois os salários n o m i n a i s da fiação p o u c o se m o d i f i c a r a m . P r i m e i r o , o custo d o t r a n s p o r t e era elevado; ainda mais grave e m u m m u n d o de c o m u n i c a ções precárias, o p r e ç o da m o v i m e n t a ç ã o dos p r o d u t o s n ã o era u m a simples f u n ção da distância; os custos a u m e n t a v a m muitíssimo todas as vezes q u e era p r e c i -so cruzar u m a barreira natural o u cobrir lacunas na r e d e de estradas e de vias fluviais. Mais c e d o o u mais tarde, p o r t a n t o , o fabricante e m expansão viase e n r e -d a -d o n u m a trama e n o r m e -de custos e o b r i g a -d o a buscar u m a p r o -d u ç ã o m a i o r d e n t r o d e sua p r ó p r i a área d e a t u a ç ã o .2 5

(18)

ELSEVIER

A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a l n a I n g l a t e r r a 59

Vv

Á l o n g o prazo, é claro, ele podia esperar q u e a imigração e o a u m e n t o n a t u ral da p o p u l a ç ã o ampliassem sua m ã o d e o b r a . Havia u m a m o v i m e n t a ç ã o c o n V siderável da p o p u l a ç ã o , apesar das restrições devidas às leis d e p o v o a m e n t o ; L a n -cashire, e m particular, era u m a espécie de fronteira interna, atraindo milhares de pessoas dos c o n d a d o s adjacentes, b e m c o m o da Irlanda e da Escócia, m u i t o antes y > d o s u r g i m e n t o da m a q u i n a r i a e das fabricas. A o f o r n e c e r n o v o s recursos, a

atividade industrial possibilitava u m a ampla divisão da terra, incentivava os c a s a m e n -t o s p r e m a -t u r o s e dava o r i g e m a densidades populacionais q u e , de o u -t r o m o d o ,

teriam sido inconcebíveis. O professor H a b a k k u k e o u t r o s c h a m a r a m a a t e n ç ã o para a atração da indústria pelas áreas super p o v o a d a s ;2 6 mas, nesse aspecto,

c o m o tantas vezes sucede na história, o processo era de r e f o r ç o r e c í p r o c o : a i n -dústria rural f r e q ü e n t e m e n t e lançava as bases d o q u e , p o r fim, convertia-se n u m a superpopulação.2 7^

^Entretanto, a m i g r a ç ã o e o a u m e n t o natural são paliativos de ação lenta. A c u r t o prazo, o fabricante q u e quisesse a u m e n t a r a p r o d u ç ã o tinha de extrair mais trabalho da m ã o - d e - o b r a j á contratada. Nesse p o n t o , c o n t u d o , ele tornava a es-b a r r a r nas c o n t r a d i ç õ e s internas d o sistema. N ã o d i s p u n h a de n e n h u m m e i o para

obrigar seus e m p r e g a d o s a prestarem u m d e t e r m i n a d o n ú m e r o de horas de tra-balho; o tecelão o u artesão d o m é s t i c o era s e n h o r de seu t e m p o , c o m e ç a n d o e p a r a n d o q u a n d o desejava, fembora o e m p r e g a d o r pudesse elevar o salário p o r u n i d a d e p r o d u z i d a , para estimular a diligência, era c o m u m ele constatar q u e isso, na v e r d a d e , reduzia a p r o d u ç ã o . O trabalhador, q u e tinha u m a c o n c e p ç ã o bastante rígida d o q u e considerava ser u m p a d r ã o de vida d e c e n t e , a partir de u m certo p o n t o preferia o lazer à renda; q u a n t o mais alta sua r e m u n e r a ç ã o , m e n o s p r e c i s a v a trabalhar para atingir esse p o n t o / N a s épocas d e abastança, o c a m p o n ê s 0 vr" vivia o diaadia; n ã o pensava n o f u t u r o ; gastava b o a parte de seus parcos t r o c a -dos na estalagem o u na cervejaria local; farreava n o sábado de p a g a m e n t o , n o d o m i n g o de descanso e t a m b é m na "sagrada s e g u n d a f e i r a " ; arrastavase r e l u

-v,> / t a n t e m e n t e d e volta ao trabalho na terça, animava-se c o m a tarefa na quarta e 1 A trabalhava f u r i o s a m e n t e na quinta e na sexta, para acabar a t e m p o de o u t r o f i m

: de semana p r o l o n g a d o .2/

P o r t a n t o , justamente nas ocasiões e m que as oportunidades de lucro eram m a i o

-r ° fabricante viase frustrado p o r essa inversão das leis do c o m p o r t a m e n t o e c o

-/ n ô m i c o sensato: a oferta de m ã o - d e - o b r a caía à medida que o preço se elevava. A

\\ y >

v "*"* "' ••"•li '••—« '" 1 —

V ^ ü c a inversa t a m p o u c o era mais eficaz. O s cortes diretos nos salários não eram viá-J f veis, diante da demanda crescente, visto q u e havia u m limite para o controle d o

e mp r e g a d o r sobre seus empregados. Mais c o m u n s eram os aumentos sub-reptícios

/ 5 ^ Í ^ f i a _ d o t r a b a l h a d o r : ele recebia urdiduras mais longas o u m e n o s crédito pelas ££rdas; ou então, os m é t o d o s de mensuração e pesagem eram alterados e m favor v

(19)

d o empregador. N o entanto, esse tipo de ardil trazia e m si suas próprias punições. O s y empregados ressentidos eram incitados a furtar ainda mais, e os atritos inerentes ao

sistema eram correspondentemente a g r a v a d o s ^ ) século X V I I I assistiu a u m esforço persistente de sustar o furto de matérias-primas p o r m e i o da transformação da apro-priação indébita e m u m delito criminal, da concessão de direitos especiais de busca e apreensão aos empregadores e agentes da lei, da imposição d o ônus da prova a qualq u e r pessoa qualq u e detivesse matériasprimas cuja posse não pudesse explicar, e d o a u -m e n t o reiterado das penalidades pela violação. Essas últi-mas incluía-m a punição corporal, u m a vez q u e as multas não surtiam efeito sobre fiandeiros e tecelões sem u m tostão. A própria reiteração dessas leis é a m e l h o r prova de sua ineficácia; n o úl-t i m o quarúl-to d o século XVIII, o mercado paralelo da lã e d o fio úl-transformara-se e m u m negócio organizado, e afirmava-se que muitos fabricantes de algodão haviam iniciado sua carreira c o m p r a n d o matéria-prima dessa fonte.2''' D o m e s m o m o d o , as

leis q u e obrigavam os trabalhadores a concluir p r o n t a m e n t e suas tarefas e a cumprir suas obrigações para c o m u m empregador, antes de aceitar o contrato de o u t r o u m problema q u e aparentemente a u m e n t o u c o m a demanda de m ã o d e o b r a -significavam apenas u m r e c o n h e c i m e n t o dessa dificuldade e u m a manifestação de intenções. A disciplina d o sistema industrial desmoronava-se.

//a m u d a n ç a d e a t i t u d e p e r a n t e os t r a b a l h a d o r e s p o b r e s n o fim d o século X V I I e i n í c i o d o X V I I I refletiu, e m p a r t e , a f r u s t r a ç ã o e a irritação dos e m p r e -gadores. E m é p o c a s a n t e r i o r e s , a p o b r e z a fora e n c a r a d a c o m o u m mal i a e v i t á - . vel, e os p o b r e s , c o n s i d e r a d o s c o m o o b j e t o de p i e d a d e e r e s p o n s a b i l i d a d e para »°seus v i z i n h o s . A g o r a , ela passou a ser vista c o m o u m p e c a d o , e os p o b r e s , v í t i -j - ^ r mas d e sua p r ó p r i a i n i q ü i d a d e . N e s s e a s p e c t o , D e f o e é apenas o p o r t a - v o z mais

v claro e e f i c i e n t e , q u e p u n i a o t r a b a l h a d o r pela i n d o l ê n c i a e o d e s p e r d í c i o d e seu t e m p o n o ó c i o e e m diversões vulgares, e p e l o v í c i o q u e o levava a dissipar seus escassos r e c u r s o s n o álcool e na devassidão/yEssa i n d i g n a ç ã o virtuosa p a r e ^ ce t e r se a t e n u a d o a p a r t i r d e m e a d o s d o s é c u l o ; ao m e n o s , a q u e l e s q u e e s c r e v i a m s o b r e q u e s t õ e s e c o n ô m i c a s c o m e ç a v a m a a r g u m e n t a r q u e os t r a b a l h a d o res n ã o e r a m u n s p r e g u i ç o s o s i n c o r r i g í v e i s e, na v e r d a d e , r e a g i a m p o s i t i v a } m e n t e a m e l h o r e s s a l á r i o s ^ t o a t s s u g e r i u q u e essa m u d a n ç a d e v e u s e e m g r a n -V*" d e p a r t e à i n t r o d u ç ã o da m a q u i n a r i a e à p r o m e s s a d e u m a s o l u ç ã o d e f i n i t i v a

para o p r o b l e m a .3 0 T a l v e z ; e n q u a n t o isso, os n e g o c i a n t e s c o n t i n u a v a m céticos

p-e. e m lugares c o m o M a n c h e s t e r , ainda dizia-se às pessoas, e m 1769, q u e o

c> ^ " m e l h o r a m i g o " de u m f a b r i c a n t e e r a m e s t o q u e s elevados.3 1_É c o m p r e e n s í v e l _

j- ^ q u e a visão dos e m p r e g a d o r e s se voltasse para oficinas e m q u e os h o m e n s se r e u - _ n i a m para trabalhar sob a vigilância d e capatazes a t e n t o s , e para m á q u i n a s que__ s o l u c i o n a s s e m a escassez d e m ã o - d e - o b r a e, ao m e s m o t e m p o , c e r c e a s s e m a V / i n s o l ê n c i a e a d e s o n e s t i d a d e h u m a n a s / .sr ^ — • • V - ^ «V V 0

\

Referências

Documentos relacionados

Em relação ao projeto expográfico, foram analisadas ambas as montagens original e brasileira, a fim de ponderar sobre as diferenças entre elas e observar como

Lei Orgânica do Município de Balneário Barra do Sul. Lei Complementar nº 46/2017 – Plano de Carreiras, Cargos e Vencimentos dos Servidores do Município de Balneário Barra do Sul.

2- 2020/2021 - Pandemia causada pela COVID-19 desde março de 2020 (Campus GV presente com projetos de extensão, pesquisa e ações de saúde direcionadas

Essa dimensão é composta pelos conceitos que permitem refletir sobre a origem e a dinâmica de transformação nas representações e práticas sociais que se relacionam com as

As etapas que indicam o processo de produção do milho moído são: recebimento da matéria prima pela empresa, transporte manual, armazenamento, elevação mecanizada do produto,

Os historiadores têm diferentes interpretações sobre a vinda da Família Real para o Brasil: enquanto para alguns a vinda foi positiva, para outros, foi negativa. Cite dois argumentos

z tenho conhecimento da existência e disponibilidade do plano Amil Referência, quarto coletivo, com abrangência Nacional, e que ele a mim foi oferecido, sendo minha a opção

3.3 Invalidez Permanente Total ou Parcial por Acidente (IPA): é a garantia do pagamento de uma Indenização ao próprio Segurado, relativo à perda, redução ou