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Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães: implicações para o agir cuidativo educativo em enfermagem

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Academic year: 2021

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RESUMO - Objetivo: analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará. Adotou-se como marco teórico a teoria das representações sociais de acordo com a abordagem estrutural. Metodologia: A coleta de dados foi realizada com 113 mulheres-mães internadas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2012. A técnica utilizada foi a Evocação Livre de Palavras ao termo indutor: “pré-natal”. Os resultados foram processados pelo software EVOC 2003 e analisados por meio do quadro de quatro casas. Resultados: Como possíveis elementos centrais evidenciou-se: “criança-bebê”, “cuidado” e “saúde”. O que remete ao paradigma dominante, centrado na criança, e um emergente com foco na “mulher-mãe”. Os elementos: “cuidado” e “saúde” demonstram a dimensão funcional relacionada ao fazer do pré-natal; e a dimensão normativa considera os valores e sentidos do pré-natal. Os elementos da segunda periferia: “gestação- barriga”, “acompanhamento”, “alimentação”; e da zona de contraste: “importante”, “prevenção”, “bom”. Essas expressões agrupadas originaram as categorias: bio-cuidativa, inter-relacional, e emocional-valorativa. Conclusão: O estudo possibilitou compreender que as mulheres mães representam o pré-natal de acordo com as dimensões do conhecimento científico, porém demonstra a necessidade de ampliar os conceitos de cidadania e educação em saúde. Recomenda-se um redirecionamento do agir cuidativo educativo dos profissionais pré-natalistas em especial dos enfermeiros (as) a partir das representações sociais das mulheres-mães sobre o pré-natal. Descritores: Cuidado pré-natal, psicologia social, saúde da mulher

ABSTRACT - Objective: to analyze the contents and the structure of the social representations on pre-natal among women-mothers in Pará. Having as theoretical framework the theory of social representations, according to the structural approach. Methodology: The data collection was obtained surveying 113 women-mothers who were admitted to Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, from December/2011 to January/2012. The technique used was the Free Evocation of Words regarding the trigger word: “pre--natal”. The outcomes were processed by the EVOC 2003 software and analyzed through a chart of four squares. Results: As possible chief elements, we can point out: “infant/toddler”, “care” and “health”. This leads to the dominant paradigm, child-centered, and an emerging one with the focus on “woman-mother”. The elements: “care” and “health” displayed the functional dimension related to the pre-natal practice; and the normative dimension considers the values and the pre-natal understandings. The elements of the second periphery: “gestation-womb”, “medical follow-up”, “feeding”; and the contrast zone: “important”, “prevention”, “good”. These expressions put together originated the categories: bio-care, inter-relational, and emotional-value. Conclusion: With this study, it was possible to understand that women-mothers view pre-natal according to the dimensions of the scientific knowledge, however, it shows the necessity to widen these representations to the concepts of citizenship and education on health.it is recommended that the nursing care and educational action of the pre-natal professionals, in particular the nurses be redirected according to the social representations of women-mothers on pre-natal.

Descriptors: Pré-natal care, social psychology, woman’s health care

RESUMEN - Objetivo: analizar el contenido y la estructura de las representaciones sociales en la pre-natales las mujeres-madres de Pará, fue adoptado como el marco teórico de la teoría de las representaciones sociales de acuerdo con el enfoque estructural. Metodología: La recolección de datos se llevó a cabo con 113 mujeres admitidas en la Santa Casa de Misericordia de Pará, en el período diciembre 2011 a enero 2012. La técnica utilizada fue la Palabra de evocación libre del término inductor “atención prenatal”. Los resultados fueron procesados por el software EVOC 2003 y se analizaron utilizando el marco de las cuatro casas. Resultados: Como elementos centrales posibles se presentó, “niño-bebé”, “prudencia” y “salud”. Lo que se refiere al paradigma dominante, centrada en el niño, y emergentes con un enfoque de “mujer-madre”. Los elementos: “precaución” y “salud” demostrar la dimensión funcional en relación a la atención prenatal, y la dimensión normativa considera los valores y los significados de la atención prenatal. Los elementos del segundo borde “, del vientre con el embarazo”, “vigilancia”, “poder” y el área de contraste: “importante”, “prevención”, “bueno”. Estas expresiones se originó categorías agrupadas: la bio-cuidativa inter-relacionales, emocionales y de evaluación. Conclusión: El estudio

Representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães: implicações para o agir

cuidativo educativo em enfermagem

Social representation on pre-natal among women-mothers: implications on nursing care and educational action in nursing

Representaciones sociales sobre prenatal de las mujeres-madres: implicaciones para la acerca de la actuación cuidativo educativo en enfermeria

Márcia Simão Carneiro1; Elizabeth Teixeira2; Silvio Éder Dias da Silva3;

Laise Ribeiro de Carvalho4; Bruna Alessandra Costa e Silva5; Camila da Costa Nahum6

¹Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Enfermagem- Universidade do Estado do Pará/ Universidade Federal do Ama-zonas (UEPA/UFAM); Membro do Grupo de Pesquisa Enfermagem e Representações na Atenção à Saúde (ERAS-UEPA); Professora Assistente da Universidade Federal do Pará (UFPA). Endereço postal: Trav. Timbó. Conj. Crispim de Almeida. N° 07. Pedreira. CEP-66085090. Endereço eletrônico: marsimao@oi.com.br. ²Doutora em Ciências Sócio Ambientais pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Professora Titular da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e do Programa de Mestrado Associado em Enfermagem UEPA/UFAM; Líder do Grupo de Pesquisa Enfermagem e Representações na Atenção à Saúde (ERAS-UEPA).

3Professor Adjunto da Universidade Federal do Pará; Membro do grupo de Pesquisa Enfermagem e Representações na Atenção à Saúde (ERAS-UEPA); Líder do Grupo Estudo de Políticas em Saúde no Cuidado de Enfermagem Amazônico (EPOTENA-UFPA).

4Enfermeira Graduada pela Universidade do Estado do Pará (UEPA); Membro do Grupo de Pesquisa Enfermagem e Representações na Atenção à Saúde (ERAS-UEPA). 5Enfermeira Graduada pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), Membro do Grupo de Pesquisa Enfermagem e Representações na Atenção à Saúde (ERAS-UEPA). 6Enfermeira Graduada pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), Membro do Grupo de Pesquisa Enfermagem e Representações na Atenção à Saúde (ERAS-UEPA).

Enfermagem Obstétrica, 2014; 1(1):12-18. ISSN 2358-4661

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Introdução

O pré-natal é um conjunto de ações médicas e de enfermagem direcionadas para a saúde da mulher. Desenvolve-se no período em que esta se encontra grávida, visando assegurar uma melhor condição de saúde, tanto para ela como para o bebê, evitando a morte e o compro-metimento de ambos¹.

As referidas ações são um desafio para as políticas de saúde da mulher, devido à relação entre a efetividade e qualidade da atenção com os altos índices de mortalidade materna e infantil. Apesar da redução dos indicadores de mortalidade materna no ano de 2011, esses resultados ainda estão longe da meta traçada para 2015, dentro dos Objetivos do Milênio, que é de no máximo 35 mortes ma-ternas por cada 100 mil nascidos vivos².

Considerando os dados supramencionados é impre-scindível que toda gestante realize o pré-natal¹. Estas por sua vez, possuem saberes que são compartilhados com outras gestantes, por vivenciarem o fenômeno da gestação e constituírem o mesmo grupo de pertença. Nesse sentido, nos momentos de espera pelas consultas, durante as ações educativas e em vários espaços e momentos interagem e dialogam sobre o pré-natal.

Esses diálogos se estabelecem por meio da comu-nicação e das interações cotidianas, e neste contexto são produzidas e reproduzidas representações sociais. Essas representações são exteriorizadas pela linguagem e por atitudes que se disseminam na sociedade influenciando as condutas. Nesta perspectiva, se reconhece as represen-tações sociais, enquanto sistemas de interprerepresen-tações que regem nossa relação com o mundo e com os outros,

orien-tam e organizam as condutas e as comunicações sociais3:91.

Tendo por base essas premissas, este estudo objetivou compreender as representações sociais sobre pré-natal entre mulheres-mães do Pará; identificar os elementos e a estrutura das representações sociais sobre o pré-natal entre mulheres-mães que realizaram o pré-natal no Sistema Único de Saúde (SUS) e analisar as implicações dessas representações sociais para o agir cuidativo-educativo em enfermagem.

Sua relevância se revela à medida que explica a forma como o pré-natal é representado pelas mulheres-mães e desvela as implicações dessas representações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem; proporciona um repensar das políticas publicas de saúde e corrobora com a produção do conhecimento nessas áreas.

Método

O estudo descritivo, do tipo qualitativo, com base na Teoria das Representações Sociais, complementada pela

Teoria do Núcleo Central4.

Os sujeitos da pesquisa foram 113 mulheres-mães, internadas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA). A seleção ocorreu a partir dos critérios: a) ser gestante ou puerpera, b) ter realizado o pré-natal de risco habitual, de forma completa e regular no SUS, c) ser maior de dezoito anos, d) aceitar participar da pesquisa.

Empregou-se a Técnica de Evocação Livre de Palavras ( TELP), que consistiu em solicitar as mulheres-mães dizerem cinco palavras que lhes ocorriam a mente ao ouvirem o termo indutor pré-natal. Esta técnica permite colocar em evidência o universo semântico do objeto estudado, assim como a sua dimensão imagética de forma mais rápida e dinâmica6.

O produto das evocações após a padronização semân-tica (Software Word) foi organizado em um corpus (Software Excell). O material foi tratado por meio do Software EVOC versão 2003, que calculou a freqüência simples de cada palavra evocada, as ordens médias de evocação de cada palavra e a média das ordens médias de evocação.

A partir desses dados obteve-se o quadro de quatro casas, que corresponde a quatro quadrantes. No quadrante superior esquerdo se situam os termos verdadeiramente significativos, constituindo o provável núcleo central da representação. As palavras localizadas no quadrante supe-rior direito compõem a primeira periferia e as do infesupe-rior esquerdo, a segunda periferia. No quadrante inferior

es-querdo estão os elementos da zona de contraste6.

Resultados

A análise do corpus formado pelas evocações rev-elou que em resposta ao termo indutor “pré-natal”, foram evocadas 607 palavras; a média da ordem de evocações (rang) foi de 3,4; o quadro de quatro casas foi obtido com a freqüência mínima de 6 e a freqüência intermediária de 2 1. ( Quadro 1).

O provável núcleo central integrou os termos: “crian-ça-bebê” (maior freqüência do quadrante, 84 e o segundo maior rang 3,048); seguida de “cuidado” (freqüência 57 e rang 2,912); “saúde” (freqüência 44 e rang 2,886); “exame-mãe” (freqüência 39, rang 3,333, o maior do quadrante) e “consulta” (freqüência 29 e rang 3,034). Na primeira periferia observou-se um único termo: “mãe-gestante” (freqüência 35, rang 4,71), este termo tem conexão e for-talece a idéia do núcleo central.

Os elementos da segunda periferia são: “gestação-barriga” (freqüência 17, e o maior rang do quadrante 5, 294); “acompanhamento” (freqüência 13, rang 4,0); “orientação” ( freqüência 12, rang 3,417); “alimentação” (freqüência 11, rang 4,091); “atenção” (freqüência 8, rang 3,750); “remédio” ( freqüência 9, rang 3,444).

nos permitió entender que las mujeres representan a las madres el cuidado prenatal de acuerdo a las dimensiones del conocimiento científico, sino que demuestra la necesidad de ampliar estas representaciones a los conceptos de ciudadanía y educación para la salud. Se recomienda una acción de redirección cuidativo formación de los profesionales en particular prenatales enfermeros (as) de las representaciones sociales de las mujeres-madres sobre el cuidado prenatal.

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A zona de contraste é constituída pelos termos: “ importante” (freqüência 18, rang 3,278); “prevenção” ( freqüência 18, rang 3,11); “bom” (freqüência 14, rang 3,357); “vacina” (freqüência 12, rang: 3,333); “médico” (freqüência 12, rang 3,250); “amor” (freqüência 9, rang: 1,889); “aprendizagem” (freqüência 7, rang: 3,143); “precisa tem que” (freqüência 7, rang: 2,857); “amamentação” ( freqüência 7, rang: 2,714); “responsabilidade” (freqüência 6, rang: 3,333).

Discussão

As palavras agrupadas no quadrante superior esquer-do são aquelas que tiveram as maiores freqüências e foram mais prontamente evocadas, formando o núcleo central da representação social. Esses elementos caracterizam a parte mais consensual e estável da representação, assim como a menos sensível a mudanças em função do contexto externo

ou das práticas cotidianas dos sujeitos4.

Com base na distinção entre propriedades quantita-tivas (valor simbólico e poder associativo) e propriedades qualitativas (saliência e conexidade), compreende-se que os elementos do núcleo central simbolizam o objeto rep-resentativo e se caracterizam pela polissemia e capacidade

de associar-se a outros termos4.

O valor simbólico presente nas representações soci-ais sobre o pré-natal entre as mulheres-mães, estabeleceu prioritariamente relações com o termo “criança-bebê”, o qual apresentou a maior saliência (84) com o maior número de evocações.

O poder associativo encontra-se presente, consid-erando que há conexidade entre todos os termos evoca-dos com o termo “criança-bebê”, seguido das expressões,

“saúde”, “consulta” e “exame-mãe” demonstrando que esses elementos são inerentes e constitutivos do pré-natal. Há um sentido positivo e pendular, pois emerge tanto a criança-bebê como a mãe.

O núcleo central possui duas funções essenciais: a função-geradora, que constitui e dá sentido a represen-tação do objeto, por ser elemento criador e transformador da significação dos outros elementos da representação; a função-organizadora que unifica e estabiliza a represen-tação, em decorrência de determinar a idéia principal que

une os elementos7.

O termo “criança-bebê” exerce a função-geradora, tendo em vista que cria e pode transformar a significação dos outros elementos da representação. Cabe destacar que o valor do núcleo central determina a significação dos out-ros elementos e deve ser significativamente mais elevado que os itens periféricos7.

Os termos: “cuidado”, “saúde”, “exame-mãe” e “con-sulta”, exercem a função organizadora, por organizarem os conteúdos da representação, determinando a natureza e os laços que unem esses elementos ao termo “criança-bebê”. Por isso é possível inferir, que para as mulheres mães, o pré-natal tem como foco principal a criança-bebê, considerando o cuidado como forma de promoção à saúde por meio das consultas e da realização de exames na mãe.

A natureza do objeto e a finalidade da situação do núcleo central poderão ter duas dimensões: a dimensão funcional, em que seus elementos estarão voltados para a realização de tarefas; e a dimensão normativa, comporta as normas e regras que regem o contexto social, implicando em questões sócio-afetivas e ideológicas, as quais im-primem valor ao objeto, que privilegiam na representação, os elementos percebidos como inerentes para a eficácia da

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O termo “consulta” também organizado em torno do provável do núcleo central, remete às normas do Ministério da Saúde, indicam que as consultas de pré-natal poderão ser realizadas na unidade de saúde ou durante visitas domiciliares1.

O poder associativo entre os termos do núcleo cen-tral: “criança-bebê”, “cuidado”, “saúde”, “exame- mãe” e “consulta” por agruparem tanto elementos funcionais, quanto normativos, constituem uma primeira categoria, que denominamos bio-cuidativa.

O termo “mãe-gestante” foi o único termo que con-stituiu a primeira periferia. Os elementos periféricos são mais importantes pela sua freqüência elevada, porém são evocados mais tardiamente. Esses elementos desvelam a conexidade com o valor simbólico das representações soci-ais e com o objeto representado. Esse componente, busca fortalecer a ligação entre o pré-natal, a mulher e a gestação. Visto que todos os elementos do núcleo central estão rela-cionados ao elemento da primeira periferia “mãe-gestante”. Este termo complementa a categoria bio-cuidativa.

Na segunda periferia os conteúdos evocados revelaram o poder associativo das representações das mulheres-mães com a realidade vivenciada. Dessa forma, o termo “gestação-barriga” remete ao anseio das mulheres-mães por uma boa gestação, e a relação desta com o cuidado e a saúde, o que reforça a idéia do núcleo central e da primeira periferia.

O termo “acompanhamento” sintetizou a expressão “acompanhamento-médico”, possibilitando inferir que para os sujeitos, o acompanhamento no pré-natal, tem como foco o profissional médico, desconsiderando por sua vez a atuação de outros profissionais. Esse elemento da represen-tação social demonstra a necessidade da propagação entre as mulheres-mães do dispositivo consulta de enfermagem como espaço de acompanhamento e cuidado no pré-natal; desvela-se assim a segunda implicação do estudo das repre-sentações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. O termo “orientação” é um dos elementos que compõe a educação em saúde, e revela uma perspectiva educativa no pré-natal.

“A educação é fundamentada em princípios filosóficos e estruturada de acordo com os momentos históricos viven-ciados pela sociedade, podendo gerar profundas mudanças no processo de ser e de viver dos indivíduos. É, portanto

uma dimensão do processo de cuidar”9:10.

É também um processo ético, estético, criativo, que possibilita ao ser humano, no âmbito individual e coletivo, o desenvolvimento de suas potencialidades, podendo adquirir autonomia e decidir sobre seus objetivos e ações,

tornando-se sujeito das situações vivenciadas9.

A partir dessas considerações afirmamos que a edu-cação é um dos componentes no cuidado com a gestante, parturiente, puérpera e família, seja no ambulatório, hospital ou domicílio. É a oportunidade para a promoção da saúde e prevenção de doenças. É o suporte para a com-preensão do processo de gestação e dos riscos, podendo ser um instrumento de capacitação e de socialização de

conhecimentos9.

ação4. A dimensão normativa é suscetível de privilegiar os

julgamentos, estereótipos e opiniões admitidas pelo sujeito

ou grupo no qual ele se insere7.

Neste estudo a centralidade foi mais funcional que normativa, pois os termos em sua maioria apontam para o que é mais importante, o fazer pré-natal, isso pode estar associado a relação que os sujeitos tiveram com o objeto de estudo. Apesar dessa centralidade global ser funcional, os termos “criança-bebê”, “cuidado”, e “saúde”, tanto podem indicar uma dimensão funcional (enquanto ato), como uma dimensão normativa ( enquanto princípio).

O núcleo central é determinado pelo sistema de

va-lores e normas sociais do sujeito-grupo7. Neste aspecto, o

termo “criança-bebê” foi o mais evocado. Este resultado nos remete aos movimentos de transformação do paradigma dominante, centrado no bebê, em outro emergente, com foco na mulher.

Nesse sentido, revela-se a necessidade de ampliar a visão da mulher acerca do pré-natal para além da dimensão do filho (a) incluir a dimensão mulher-mãe; desvelando-se a primeira implicação deste estudo para o agir cuidativo-educativo em enfermagem.

A evidência corrobora com os achados de um estudo que objetivou compreender a razão pela qual as mulheres aderiram ao pré-natal, o qual revelou a preocupação com o nascimento de uma criança saudável, fator que remete ao paradigma dominante e perpassa pela significação dos

elementos centrais aqui encontrados8.

O elemento “cuidado” teve a segunda posição no núcleo central. Vimos com este termo a possibilidade de pensar um paradigma emergente, com um caráter mais integrador, holístico e conseqüentemente mais humano, o qual corrobora com movimentos em prol da humanização do pré-natal, parto, nascimento e puerpério vigentes a mais de uma década nas políticas de saúde da mulher.

A humanização do nascimento origina-se na con-cepção, no entanto é construída no pré-natal, durante as consultas. Dessa forma, a atenção pré-natal implica um acompanhamento minucioso do ciclo gestacional, com envolvimento, compromisso, empatia e respeito à clientela,

e não se restringe apenas aos aspectos biológicos9.

Um terceiro elemento do provável núcleo central é o termo “saúde”. As concepções de saúde e doença são reveladoras e determinantes de necessidade constituídas

nos grupos sociais6. A concepção de doença, incorporada

por parcelas da sociedade, é aquela localizada no corpo, as-sociada à disfunção, com forte viés biomédico. A saúde, aqui revelada, pode equivaler à ausência de ruídos corporais, ao silêncio biológico, à plenitude e bom funcionamento de todos os órgãos. “A perspectiva biomédica reduz a saúde e a doença ao contorno biológico individual, separando o sujeito do seu entorno social e contexto integral de vida” 6: 113.

O termo “exame-mãe”, organizado em torno do provável núcleo central, mostra a importância dos exames na mãe para o controle e detecção precoce de doenças no pré-natal. Podemos inferir pela análise do termo que para as mulheres-mães o pré-natal relaciona-se com a realização de exames.

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Dessa forma, o desconhecimento das crenças e sa-beres das mulheres-mães por parte dos profissionais no pré-natal pode resultar na falta de efetividade da educação em saúde e ser uma das causas da não adesão de mulheres-mães à adequação de alguns hábitos e costumes, que se não transformados podem ser nocivos saúde.

Nessa perspectiva, a educação em saúde deve ser fundamentada nas representações sociais como uma peda-gogia que se organiza em torno da idéia de que a aprendi-zagem se dá através da interação entre a representação

social e o conhecimento científico10.

Concebe-se a educação em saúde no pré-natal es-sencial para que a mulher desenvolva-se com autonomia e obtenha empoderamento; conheça seus direitos de ci-dadania; compreenda as influências de gênero no processo de gestar e parir; identifique a gestação como fenômeno fisiológico, sujeito a riscos e intercorrências; compreenda a importância de realizar o pré-natal e identifique-o enquanto espaço de aprendizagem que oportuniza a mudança de práticas e condutas, resultando na adequação de novos hábitos e cuidados durante o ciclo gravídico e puerperal.

Compreende-se que o termo “orientação”, de forma isolada, não contempla os objetivos da educação em saúde propostos para o pré-natal. Fato que possibilita a inferência de que nas representações sociais das mulheres-mães deste estudo, há uma consideração restrita da educação em saúde no pré-natal sugerindo a ampliação dessa visão; revela-se aqui a terceira implicação das representações para o agir cuidativo-educativo em enfermagem.

“Uma educação em saúde ampliada inclui políticas públi-cas, ambientes apropriados e reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos e curativos, assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja essência está na melhoria da

qualidade de vida e na promoção do homem” 11:19 .

O termo “alimentação” remete aos preceitos do Ministério da Saúde, ao descrever que durante o pré-natal são previstos a avaliação e monitoramento do estado nu-tricional da gestante, além da prevenção e o tratamento dos distúrbios nutricionais. A alimentação adequada e balanceada na gestação é requisito essencial para a saúde da mãe e desenvolvimento fetal adequado de acordo com a

idade gestacional1. Dessa forma, é que o conhecimento

rei-ficado contribuiu para a gênese das representações sociais. O termo “remédio” também corrobora com os preceitos do Ministério da Saúde, quando destaca que o pré-natal, obje-tiva o tratamento das intercorrências da gestação, com oferta das medicações padronizadas para as diversas patologias

previstas durante a gestação1. O termo “atenção” é destacado

pelo Ministério da Saúde, quando ressalta que uma atenção pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada é funda-mental para a saúde materna e neonatal. A atenção à mulher na gravidez e no pós-parto deve incluir ações de prevenção e promoção da saúde, além de diagnóstico e tratamento

ad-equado dos problemas que ocorrem neste período1.

Dentre os princípios e diretrizes do pré-natal, o Ministério da Saúde, determina a garantia de recursos

hu-manos, físicos, materiais e técnicos necessários à atenção pré-natal, assistência ao parto, ao recém-nascido e atenção puerperal, com o estabelecimento de critérios mínimos para

o funcionamento das maternidades e unidades de saúde1.

Acredita-se que a atenção considerada pelas mulheres-mães, direciona-se ao diálogo estabelecido na relação interpessoal entre mulheres e profissionais, pois este termo sintetizou a expressão “atenção profissional”, possibilitando inferir que essa atenção deve ser pautada na empatia, ética, credibilidade e abertura as necessidades das mulheres.

Neste aspecto, a comunicação entre diferentes sa-beres não é apenas possível, é necessária ao desenvolvi-mento humano. Os encontros entre sistemas de saber dependem da maneira como diferentes conhecimentos se comunicam e até que ponto a constituição de um espaço intersubjetivo de comunicação permite o reconhecimento ou negação do conhecimento do outro. O reconhecimento ou negação do outro define os encontros como dialógicos ou não dialógicos12.

O diálogo franco e a capacidade de percepção daquele que acompanha o pré-natal, são condições básicas para que o saber em saúde seja colocado à disposição da mulher e da família, atores principais da gestação e do parto. Escutar sem julgamentos e sem preconceitos, permitindo à mulher falar de sua intimidade com segurança, fortalece a gestante no seu caminho até o parto e a ajuda na construção do conhecimento sobre o processo de nascimento e sobre si

mesma, levando a um nascimento tranqüilo e saudável1.

Sobre os termos evocados na segunda periferia, vimos que ressaltam a importância do processo gestacional e da orientação. Ressalta-se o acompanhamento à mulher e o incentivo à alimentação adequada, como ações fundamen-tais para a saúde da mãe e concepto, além do fornecimento de remédios nas intercorrências e necessidades, fatores que refletem a atenção vivenciada no pré-natal. Nesse sentido, reforçou-se a categoria bio-cuidativa e desvelou-se uma segunda categoria, a inter-relacional.

No quadrante inferior esquerdo, apesar das baixas freqüências, os elementos são importantes pela ordem de importância atribuída pelos sujeitos. Observam-se elementos que reforçam a primeira periferia e elementos que representam a heterogeneidade das representações no grupo. O termo “prevenção” indica tanto uma associação com a categoria bio-cuidativa (núcleo-central e primeira periferia), como com a categoria inter-relacional (segunda periferia), e amplia a necessidade das ações de prevenção estipuladas pelas políticas de atenção à saúde da mulher.

Os termos da zona de contraste defendem o núcleo central, o que reforça o sentido de fazer o pré-natal, remet-endo ao cotidiano das mulheres-mães, por isso o destaque à necessidade de melhoria do serviço. Os termos apresentam conexidade entre si e possuem sentido valorativo, possibil-itando inferir que para as mulheres-mães “precisa- tem- que” se fazer o pré-natal, devido a sua importância, pois além de ser um ato de amor é ação de responsabilidade; revela-se uma terceira categoria, a emocional-valorativa. Nesta perspectiva, a representação social além de ser uma estrutura que permite a construção do conhecimento sobre

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o objeto- mundo, seu desenvolvimento também está

enre-dado na dinâmica afetiva e social das relações Eu e Outro12.

O termo “médico” indica a associação com todas as categorias e caracteriza representações negativas da ação desse profissional, bem como do dimensionamento nos serviços, visto que este termo sintetizou expressões como: “mais médicos para atender” e “descaso do médico”. A expressão “vacina” destaca a ação enquanto procedimento e reforça a categoria bio-cuidativa do pré-natal.

O termo amamentação retrata uma preocupação da mulher com o ato de amamentar. Nesse sentido, o Minis-tério da Saúde afirma que o contexto de cada gestação é determinante no processo de amamentação e nos cuida-dos com a criança e com a mulher. Um contexto favorável fortalece os vínculos familiares, condição básica para o desenvolvimento saudável do ser humano. Podemos inferir que as mulheres-mães compreendem a importância do pré-natal para o preparo à amamentação. Esses elementos remetem e reforçam a categoria bio-cuidativa do pré-natal. A formação das representações sociais acontece mediante dois processos sócio-cognitivos: ancoragem e objetivação. O primeiro integra cognitivamente o objeto representado ao sistema de pensamento social já existente e comum para o sujeito, transformando o não familiar em familiar, enquanto o segundo torna real e dá forma ao

conhecimento que se tem acerca do objeto representado5.

Ao se propor uma articulação entre a objetivação e o núcleo central, e a ancoragem e o sistema periférico, concebe-se que o núcleo central deriva do processo de

objetivação e a ancoragem origina o sistema periférico13.

A objetivação pode ser definida como a transformação de uma idéia, de um conceito, ou de uma opinião em algo concreto, cristaliza-se a partir de um processo figurativo e social e passa a constituir o núcleo central. A ancoragem desempenha um papel importante nos estudos das rep-resentações sociais e do desenvolvimento da consciência, uma vez que se constitui na parte operacional do núcleo

central e em sua concretização13.

A partir dessa proposta identificamos que as represen-tações sociais sobre pré-natal entre as mulheres-mães deste estudo, são objetivadas na categoria bio-cuidativa, revelando uma significação pendular relacionada ao paradigma domi-nante ao paradigma emergente; o núcleo central é formado pelo sistema de valores e normas sociais que constituem o conjunto de idéias próprias do grupo, que gera a significação da representação, materializando o objeto da representação. A ancoragem que ocorre nas zonas periféricas sustenta-se nas categorias bio-cuidativa, inter-relacional e emocional-valorativa, revelando uma experiência concreta, plural e multidimensional com o pré-natal.

Considerações Finais

As evidências deste estudo demonstram que o senso comum das mulheres-mães corrobora com o conhecimento científico ou reificado acerca do pré-natal. Constatou-se uma significação guiada pelo paradigma dominante por um outro emergente; as mulheres-mães revelaram

repre-sentações sociais sobre o pré-natal centradas na criança e na dimensão biomédica, ao mesmo tempo que apontam a mãe, como foco para saúde do binômio mãe e filho.

Apesar da predominância da dimensão biomédica sustentada pelos termos da categoria bio-cuidativa no provável núcleo central, e reforçada nas periferias, eviden-ciou-se elementos da dimensão psicossocial do pré-natal presentes nas zonas periféricas e reveladas nas categorias inter-relacional e emocional-valorativa.

No que tange a dimensão histórica e cultural do pré-natal, influenciada pelas questões de gênero, nota-se que ao mesmo tempo em que o pré-natal constitui direito à cidadania, revela-se imbricado ideologias políticas e capi-talistas do serviço. Pode-se inferir que há um desconheci-mento pelas mulheres-mães sobre o pré-natal enquanto espaço de cidadania e empoderamento, devido não haver um único termo evocado relacionado a essas questões, fato que possibilita recomendar a divulgação do pré-natal enquanto ação de direito e exercício de cidadania da mulher.

As mulheres-mães interagem no contexto social, influenciando pessoas por meio de suas representações; a mídia é responsável pela produção e reprodução de representações sociais nos meios em que circula. Desta forma, podemos inferir que os termos organizados no provável núcleo central das representações das mulheres deste estudo, que remetem a dimensão bio-cuidativa do pré-natal, podem não compor as representações sociais de outras mulheres, que ao representarem a gestação en-quanto um fenômeno exclusivamente natural, e se sentirem saudáveis não realizam o pré-natal. Esta hipótese remete a não adesão de algumas mulheres ao pré-natal, situação grave que contribui para elevados índices de mortalidade materna e perinatal. Neste sentido, recomenda-se ampla divulgação na mídia das dimensões, importância e objetivos do pré-natal.

Tendo em vista as implicações das representações sociais das mulheres deste estudo para o agir cuidativo- educativo em enfermagem, enquanto primeira implicação, há que se ampliar a noção do pré-natal para além do foco no filho para incluir a mãe. A segunda implicação é a necessi-dade da propagação entre mulheres-mães do dispositivo “consulta de enfermagem” enquanto espaço para o agir cuidativo-educativo em enfermagem. A terceira implicação é a necessidade de ampliar a educação em saúde enquanto processo de construção, integração e valorização de todas as formas de saberes.

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