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A paisagem urbana vista através da diversidade da organização espacial dos terrenos urbanos: um estudo do caso de Senador Salgado Filho/RS

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA LICENCIATURA

A PAISAGEM URBANA VISTA ATRAVÉS DA DIVERSIDADE DA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DOS TERRENOS URBANOS: UM ESTUDO DO

CASO DE SENADOR SALGADO FILHO/RS

Trabalho apresentado ao curso de Geografia Licenciatura, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, como requisito parcial para a obtenção do título de licenciado em Geografia.

Neimar Plack Brauwers Helena Copetti Callai (Orientadora)

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A PAISAGEM URBANA VISTA ATRAVÉS DA DIVERSIDADE DA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DOS TERRENOS URBANOS: UM ESTUDO DO

CASO DE SENADOR SALGADO FILHO/RS

Neimar Plack Brauwers1 Helena Copetti Callai2

RESUMO

O presente artigo trata da importância do conhecer a paisagem urbana através da diversidade da organização espacial dos terrenos, para promover uma ordenação apropriada no uso do solo urbano, de modo a contemplar todas as necessidades humanas, e assim, tornar a cidade um espaço que ofereça a cada pessoa a qualidade de vida apropriada. Deste modo, é preciso entender a função social da cidade, sua paisagem e os diferentes usos do solo urbano, para conhecer a diversidade que faz parte de sua configuração, tornando possível visualizar um futuro onde a cidade, seja de fato, um espaço que promova o desenvolvimento humano. Isso é importante pelo fato de a cidade ser resultado das ações do ser humano sobre o espaço. Estas ações geram as mudanças que vemos na estrutura da paisagem urbana, e promovem uma reestruturação constante do espaço, em busca do progresso, entretanto, este somente será atingido em sua totalidade quando o espaço urbano for aproveitado da forma correta.

Palavras Chave: Paisagem urbana; Organização espacial; Solo Urbano;

1

Aluno do curso de Geografia Licenciatura da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio

Grande do Sul – Unijuí.

2

Graduação em Geografia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ijuí (1973), mestrado em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (1983) e doutorado em Geografia (Geografia Física) pela Universidade de São Paulo (1995). Pós-doutorado pela UAM - Universidade Autonoma de Madrid. Pesquisadora do CNPq. Atualmente é professora titular no DHE - Departamento de Humanidades e Educação da UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

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INTRODUÇÃO

Cada espaço urbano possui uma configuração de paisagem própria, o que o torna único em um espaço constituído pela diversidade. As diferentes formas de paisagem encontradas dentro do espaço urbano resultam da ação do homem, que intervém sobre o espaço, modificando-o a partir de ações diretas e indiretas direcionadas a um local específico, o que gera a remodelagem constante da paisagem urbana. A remodelagem da paisagem dentro do espaço urbano proporciona uma nova organização dos terrenos, pelo acréscimo de formas artificiais, o que leva a diferentes meios de aproveitamento do solo urbano.

Por esse motivo, pode se afirmar que o espaço urbano de uma cidade é formado a partir do indivíduo, sendo ele o agente produtor do espaço. Este, por meio de sua ação sobre o espaço, imprime a sua criatividade por meio de ações práticas que alteram a configuração da paisagem natural, gerando assim, a diversidade de formas, que é facilmente visível. Sendo assim, a metodologia utilizada para a elaboração desta pesquisa é a visualização da diversidade da paisagem urbana, que é visível através da organização espacial dos terrenos. Isto porque o ser humano, quando detentor de uma fração do espaço urbano, tem o direito de usá-lo conforme o seu interesse, desde que esteja dentro dos conformes da lei urbana de determinado município.

Em virtude disto, o objetivo deste artigo é conhecer os fatores envolvidos na construção do espaço urbano de Senador Salgado Filho, para compreender a diversidade da organização espacial dos terrenos, sua função e importância na configuração da paisagem urbana. Com a intenção de visualizar se a cidade está cumprindo como sua função de ser um local que ofereça uma boa qualidade de vida a todos os munícipes suprindo suas necessidades básicas. Uma vez que compreendemos o espaço urbano e sua estrutura de paisagem, é possível visualizar a realidade, de modo a promover ações concretas que resultem em um espaço urbano que esteja em conformidade com a as leis, onde o solo é aproveitado de forma correta pelo ser humano.

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1 O ESPAÇO URBANO

Nesta primeira seção será abordado o espaço urbano sob quatro aspectos: 1) Como surgiram e se desenvolveram as primeiras cidades; 2) O solo urbano e a importância de seu estudo; 3) Os direitos relacionados ao uso do solo urbano; e 4) A paisagem urbana. Com esta abordagem pretende-se demonstrar o quão importante é o estudo do espaço urbano para a realidade atual, isto, por que o mesmo representa um espaço complexo e com uma estruturação, que em muitas vezes, leva somente em conta o fator de crescimento econômico, desconsiderando as funções sócias. Portanto, faz-se necessário conhecer o espaço urbano de modo que este seja utilizado de forma apropriada para promover um crescimento que contemple todas as necessidades da população.

1.1 O surgimento e o desenvolvimento das cidades

As cidades concentram na atualidade a maioria da população brasileira, e o mesmo ocorre em todo o mundo. O crescimento das cidades e sua concentração populacional desencadeou uma série de discussões com relação a cidade e seus novos desafios para que torne-se um espaço que promova, acima de tudo, a qualidade de vida ao habitantes. Entretanto, quando pensamos sobre a cidade, temos de voltar a atenção para quais fatores que levaram ao surgimento das cidades? Garnier (1997, p.73) argumenta que o surgimento das cidades deu-se devido a três motivos possíveis: “econômicos, políticos e defensivos, podendo este último ser considerado como um subaspecto dos políticos”. O que leva a autora a considerar que cada cidade encontra-se marcada desde a sua origem pela escolha inicial de sua fundação, ou seja, Econômica, política ou Defensiva, o nos leva a considerar que as cidades não surgiram para oferecer a seus habitantes uma boa qualidade de vida, mas sim suprir necessidades.

O motivo econômico está relacionado a sua localização geográfica e sua relação com o comércio, uma vez que as cidades em rotas comerciais tendem a

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crescer de forma mais rápida e adquirir o status de importância comercial. As cidades que surgiram por motivos políticos ou de proteção desenvolvem um papel secundário, pois em alguns casos são cidades que foram construídas para colonização de alguma área de terra ou mesmo para demarcação de território. Dentro dos motivos políticos a cidades que surgiram com a intenção de proteção da população possuem características externas como muros altos e locais de difícil acesso, o que também dificulta o seu desenvolvimento econômico, em virtude de sua intenção de fundação.

Dos três fatores mencionados como responsáveis pelo surgimento das cidades, o econômico é o que contribuí para gerar o crescimento das cidades, principalmente as que se estabeleceram em regiões favoráveis às trocas comerciais. Com as mudanças na economia mundial, a partir do aceleramento da produção industrial, as cidades passaram a ser o destino da maioria das pessoas, que afluíam do campo ou das cidades menores para as cidades que ofereciam oportunidades de empregos e melhores condições de subsistência. Este processo fez com que muitos espaços urbanos tivessem um crescimento acelerado, tornando-os em um verdadeiro labirinto de ruas e construções. Isto fez com que surgisse a necessidade do planejamento, o que desencadeou os primeiros passos para o surgimento do planejamento urbano, de modo a resolver os problemas de ordem organizacional das cidades e promover uma melhor ocupação do espaço.

As primeiras tentativas de organização e reestruturação dos espaços urbanos surgiram durante o século XIX. Isto em virtude do crescimento das cidades, que passaram a apresentar alguns problemas novos, com relação a ocupação do espaço e dificuldades de deslocamento interno, levando a surgir a necessidade de intervenções planejadas, de modo a promover as adaptações que a nova realidade do espaço urbano exigia. No livro, Planejamento e Gestão do Território, produzido por Francisco Mafra e J. Amado da Silva, estão citados algumas ações que foram tomadas no século XIX, na Europa com relação ao uso do espaço urbano, do qual faz-se a seguinte citação:

O exemplo de duas praticas urbanísticas do século XIX: o plano Haussmann dos boulevards de Paris e o plano da cidade de Barcelona de 1859; O conceito de zoneamento, atribuída ao arquiteto alemão J.Stübben;

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o conceito cidade-jardim criado pelo inglês Howard; o urbanismo regional deve-se ao escocês Patrick Geddes e de seu discípulo Mumford”. (MAFRA e SILVA, 2004, p. 22)

Os exemplos citados acima representam tentativas de ordenamento dos territórios urbanos, na busca por ocupar da melhor forma possível o solo urbano, de forma a promover um espaço urbano que ofereça uma qualidade de vida apropriada a seus moradores, de cidades que já apresentavam um desenvolvimento ocupacional intenso. Claro que as mesmas representam o começa desta área de pesquisa que na atualidade é de extrema importância, uma vez que, a maioria das cidades antigas não teve um crescimento ordenado e planejado, exceto algumas áreas específicas dentro dos espaços urbanos. Isto pode ser visto quando analisamos a configuração da paisagem urbana.

Todas as ações que foram e que são realizadas no intento de organizar o espaço urbano, contribuíram e contribuem para a construção da cidade, de modo que cada espaço urbano apresenta-se uma organização espacial característica, ou seja, a configuração espacial que o torna único dentro do todo que pertence a perímetro urbano. Desta forma, a paisagem urbana revela as ações que foram sendo realizadas ao longo da história no processo de ocupação, as quais contribuíram para a atual organização do espaço urbano. Como escreve Ana Fani Alessandri Carlos (2007, p.33) “A paisagem revela uma história, o passado inscrito nas formas geradas por tempos diferenciais acumulados, mas sempre atuais, sincrônicos, e diacrônicos, que produzem uma impressão aprendida com os sentidos”.

Este é o desafio para a atual realidade das cidades brasileiras, ou seja, encontrar a melhor forma de organizar o espaço urbano. Com isso, chegamos ao atual estágio das cidades brasileiras, onde a paisagem urbana é um campo de diversidade, em que as diferentes formas ocupam e atribuem valor ao espaço urbano. Desta maneira, a cidade precisa ser construída e reconstruída de forma apropriada e organizada para que a mesma cumpra o seu papel social de promover a boa qualidade de vida de seus habitantes, e não somente ser um espaço de intensa ocupação populacional.

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1.2 O solo urbano

O uso do solo urbano é um debate que se estende pelas mais diversas áreas do conhecimento, e vem ocupando um espaço cada vez maior dentro da geografia, devido ao processo de urbanização que estamos vivendo. Os geógrafos devem contribuir, por meio de suas pesquisas e análises, para encontrar as melhores maneiras de ocupar o solo urbano no intuito de promover o crescimento de forma organizada, fazendo com que a paisagem urbana reflita um espaço harmonioso e agradável.

Para compreendermos a importância deste debate é preciso primeiramente explicar do que se trata o solo urbano. Por solo urbano entende-se todo o solo que se encontra dentro dos limites do perímetro urbano de um município. Estes são basicamente utilizados, conforme argumenta Fabrício de Araújo Pedron (2004, p.1649) nas seguintes funções: “Suporte e fonte de material para obras civis, sustento das agriculturas urbanas, suburbanas e de áreas verdes, meio para descarte de resíduos e armazenamento e filtragem de águas pluviais”.

Segundo Francisco Mafra e J. Amado da Silva (2004, p.14) a cidade, como um espaço ocupado pelo homem, sempre levanta problemas relacionados com território e uso do solo, não importando qual seja o tamanho da cidade, o que impõe “a dicotomia espaço urbano versus espaço rural”. Desta forma surge o argumento de Blumenfeld, (LOPES, 1980 Apud MAFRA e SILVA 2004, p.15) “que propõe a distinção nestes termos: uso rural é uso do solo; uso urbano é uso no solo,” citado por A. Simões Lopes, no livro Desenvolvimento Regional. Ao analisar a forma de uso do solo vê-se, de fato, que o solo urbano é um local, que define uma localização, enquanto, que o solo rural é utilizado para a produção.

A importância do solo rural é, geralmente, calculada a partir de sua praticidade para a aplicação da agricultura mecanizada. Já o solo urbano, apresenta uma característica distinta em relação a atribuição de importância. Este fato está relacionado às diferentes formas de uso do solo: Habitação, comercio, industrial, preservação permanente. Isto ocorre porque na cidade há a possibilidade de o solo

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ser aproveitado em sua totalidade, indiferente a configuração do relevo, o que faz com que cada uma das áreas, que compreendem o espaço urbano, recebam uma valorização distinta, de acordo com o conceito de importância frente a intenção de uso do solo.

Ciente desta situação vê-se durantes as últimas décadas a super valorização do solo urbano. Conforme aponta o professor e Mestre César Augustus Labre Lemos de Freitas e Antônio Vieira Neto, a valorização do solo urbano segue um caminho diferente das mercadorias “pelo fato de a terra não ser considerada um capital, mas sim um equivalente de capital”, sendo que, a valorização do solo urbano é influenciada pelas “formas de como se dão a sua apropriação e uso”. Portanto, o preço do solo urbano, conforme apontam os autores, “não é determinado pela produção, mas determinado principalmente pela relação entre oferta e procura”, relação esta que vai depender do monopólio sobre o mercado.

A cidade, em virtude da valorização do solo, passou a ser um local de disputas pelo espaço, uma vez que adquirir o direito de posse de uma fração do espaço urbano representa a conquista do direito de exercer poder e de fazer deste uma fonte de renda. Por este motivo o valor que é conferido ao solo urbano, não está somente relacionado a questão econômica, como foi comentado no parágrafo acima, mas possui uma ligação muito próxima com a ideia de poder, ou seja, quem possui uma fração do espaço urbano adquiriu o poder de exercer sobre este a sua influência e controle, usufruindo do mesmo, da forma que melhor lhe parecer. Cria-se assim, um ambiente de disputa onde o mais forte vence e controla ao mais fraco. Esta realidade de disputa é observável em todos os espaços urbanos e se intensificam em cidades maiores. Esta intensificação em centros urbanos maiores é resultado da densidade populacional, que desencadeia uma procura maior por áreas de habitação e comércio, gerando assim, uma disputa pelo espaço de maior importância frente a seus interesses. Em virtude disto, a constituição Federal e as leis municipais, precisam ser claras frente ao uso do solo urbano, de modo a inibir abusos e evitar que se perca de vista a intenção social da cidade, que é promover a seus moradores uma apropriada qualidade de vida.

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1.2.1 O direito ao uso do solo urbano

A compreensão da maioria das pessoas é que no momento em que um indivíduo adquire uma fração do espaço urbano, ele possui todos os diretos de fazer com este local o que bem entender, mas conforme a Constituição Federal e municipal, isto não ocorre desta forma. Existem leis que determinam as maneiras adequadas de utilizar o solo urbano, de modo que este seja explorado a fim de aproveitar bem o espaço a disposição e oferecer aos cidadãos um ambiente que apresente condições de promover uma adequada qualidade de vida aos habitantes.

1.2.2 Lei nacionais com relação ao uso do solo urbano

Em primeiro lugar é preciso conhecer o que a Constituição Federal brasileira apresenta sobre as políticas relacionadas ao espaço urbano. Segundo consta na Constituição Federal, no título sete “Da Ordem Econômica e Financeira”, no capítulo dois “ Da Política Urbana”, a política de desenvolvimento urbana é responsabilidade dos municípios, e estes devem desenvolver suas leis próprias, tendo por base as diretrizes gerais que estão fixadas na lei nacional. Estas leis referentes ao desenvolvimento urbano deve ter o seguinte objetivo (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, Art. 182): “...ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes”.

A Constituição Federal apresenta no artigo 182, disposto em quatro incisos as diretrizes gerais que os municípios precisam utilizar como base para estabelecer as leis de desenvolvimento urbano de forma a alcançar o objetivo proposto na Constituição Federal: 1) A criação do plano diretor; 2) A propriedade urbana deve cumprir sua função social; 3) Toda desapropriação deve ser realizada com devida indenização; e 4) É facultado ao poder municipal, mediante lei, exigir ao proprietário do solo urbano não edificado, o seu adequado aproveitamento.

A Constituição Federal também faz menção ao direito de apropriação de solo urbano por usucapião, entretanto, estabelece diretrizes para este fim. As diretrizes

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para a concessão de direito a propriedade por usucapião visa proteger o proprietário do solo urbano e garantir o direito a um local de moradia a aqueles que não a possui. Para Tal o Artigo 183 prevê que: 1) A área do terreno não pode ser superior a 250m²; 2) O imóvel deve ser ocupado por um período de cinco anos ininterruptos e sem oposição; 3) Deve ser utilizado para moradia familiar; e 4) O requerente não deve ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural, conforme disposto na lei:

Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, Art. 183)

1.3 A paisagem urbana

A paisagem urbana, segundo descreve Carlos (2007, p. 34) “vai revelando o movimento de um fazer-se incessante que aniquila o que está produzido com o objetivo de criação de outras formas”. O movimento do homem sempre envolve construção e desconstrução, na intenção de alcançar o progresso, o que torna a paisagem urbana inconstante e sujeita a alterações em um curto espaço de tempo. Processo esse que foi acelerado durante os últimos anos, e que tem trazido a tona uma diversidade de formas dentro das cidades.

A diversidade pode ser vista pelo simples fato de realizar uma caminhada pelo espaço urbano, onde observa-se a diversidade nas forma de ocupação e organização dos terrenos, revelando toda a potencialidade criativa do ser humano. Ao ponto que a autora Carlos (2007, p. 34) argumenta que a paisagem urbana vai muito além da percepção, “a paisagem revela-nos através de uma imagem aparentemente imóvel, um conjunto cheio de sentido e o ser humano se identifica com os aspectos da vida pressentidos através da paisagem”.

Para Carlos (2008, p. 36), “a paisagem urbana é a expressão da ordem e do caos, manifestação formal do processo de produção do espaço urbano, colocando-se no nível do aparente e do imediato”. A autora aponta a paisagem urbana como

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resultado da produção espacial, e afirma que é possível estudar a evolução da produção espacial de uma cidade através da configuração de sua paisagem, e isto se torna realidade por que:

A paisagem de hoje guarda momentos diversos do processo de produção espacial, os quais fornecem elementos para uma discussão de evolução da produção espacial, e do modo pelo qual foi produzida. (CARLOS, 2008, p.36)

Ao estudar a paisagem urbana temos a possibilidade em entender a natureza da cidade, pois, “através e a partir da paisagem urbana, pode ser percebido o movimento inerente ao processo de (re)produção espacial e seu conteúdo”. A paisagem é o trabalho humano materializado através da construção e desconstrução, onde o trabalho morte e vivo interagem constantemente, dando a paisagem urbana uma toque especial e conferindo a mesma a sua característica diversidade, o que vemos e convivemos em nosso cotidiano. O trabalho morto é a estrutura já concluída e que já faz parte da paisagem do município e o trabalho vivo é toda obra que está sendo realizada e que contribui para a reestruturação da paisagem urbana.

Por este motivo, quando é observada a paisagem urbana, é fundamental levar em conta dois pontos, que Carlos (2008, p. 40) considera fundamentais: 1) o espaço construído; e 2) o movimento da vida. Estes dois elementos são considerados fundamentais por que: “Tais diferenciações baseiam-se no fato de que a cidade é, antes de mais nada, uma concentração de pessoas exercendo, em função da divisão do trabalho, uma série de atividades concorrentes ou complementares, desencadeando uma disputa de usos”.

Conforme Atkinson e Azambuja (2009, p.15), a paisagem pode ser considerada “como um conjunto de fatores naturais e humanos”. Na afirmação da junção dos fatores naturais e artificias tem-se em mente a ideia de uma sociedade em que o homem age diretamente sobre o espaço e o modifica. Sendo assim, esta ideia de paisagem como o resultado dos fatores naturais e humanos vem diretamente ao encontro da realidade urbana em que vivemos.

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Na construção do espaço urbano estes dois elementos contribuem, gerando assim a diversidade, ao que podemos considerar a paisagem urbana como o produto resultante da interação entre os fatores naturais e artificiais. Esta contribuição dá a diversidade que é visível no espaço urbano de todas as cidades. Os fatores naturais contribuem com as formas do relevo, estruturação do solo e diversidade de plantas; já os fatores artificias são os acréscimos realizados pelo homem para adaptar o espaço natural as suas necessidades, dando assim, uma infinidade de formas, cores, estruturas, que interagem com os fatores naturais e produzem a paisagem urbana.

Entretanto, a paisagem urbana não permanece constante e igual, mas é modificada com o decorrer do tempo. Este processo de modificação da paisagem ocorre com uma velocidade cada vez maior, o que demonstra a capacidade e o poder do homem em modificar o que está em sua volta. No constante processo de modificação da paisagem o homem descobre novas formas e métodos para agir sobre o espaço e modificar a paisagem, tornando o espaço urbano um local onde a diversidade impera. Isto por que cada fragmento do espaço urbano é trabalhado de forma distinta e conforme o interesse e a capacidade financeira de quem possui o direito de uso do fragmento.

Durante o processo de modificação do espaço o homem modela a paisagem de cada fragmento do espaço urbano, dando a cada local uma identidade própria e única, que serve como identificador dentro do espaço urbano total. Diversas pessoas quando chegam em alguma cidade nova e procuram por um familiar ou conhecido, loja ou empresa, quando solicitam informações geralmente recebem a descrição da paisagem do fragmento do espaço urbano. Estas informações podem ser cor de pintura da casa ou cercas, plantas, formas de telhado e outras informações características que servem de identificação.

Desta maneira é possível concordar com o argumento de heterogeneidade da paisagem, apresentado por Célia Clarice Atkinson e Leonardo Dirceu Azambuja. O homem como agente modificador da paisagem age a partir dos fatores naturais, acrescentado os artificiais, o que faz com que a paisagem urbana, por mais alterada que seja pelo homem, apresente esta heterogeneidade em sua constituição.

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A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é formado por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade ou qualquer outro critério. A paisagem é sempre heterogênea. (SANTOS Apud ATKINSON, AZAMBUJA, 2009, p.16)

Milton Santos associa a ideia de paisagem com o conceito de articulação entre os elementos geográficos, naturais e artificias, considerando a paisagem um conjunto destas duas naturezas essencialmente diferentes. O homem cumpre o papel de articular entre os elementos geográficos naturais e artificiais. Estes dois elementos se sobrepõem no espaço urbano, e interagem entre si na formação da diversidade. As cidades são a representação exata desta ideia apresentada por Milton Santos, pois é visível a ação do homem modificando a forma natural da paisagem utilizando as formas artificiais.

1.4 A intervenção do homem na construção do espaço urbano

A diversidade observada na paisagem urbana é resultado da intervenção do homem sobre o espaço; se assim não fosse a diversidade da paisagem urbana não existiria. Por esse motivo, depois de conhecermos o todo que faz parte da diversidade da paisagem urbana e investigamos as diferentes formas de organização e aproveitamento dos terrenos urbanos na cidade de Senador Salgado Filho/RS, é primordial entender o papel do homem neste processo, como responsável pela diversidade das formas da paisagem urbana.

Isto ocorre porque o homem intervém diretamente sobre o espaço que ocupa, imprimindo voluntariamente novas formas ao espaço tornando-se um mediador que atua com poder e autoridade. Por meio das formas artificiais, ou seja, moradia, construções e a organização dos terrenos, visualiza-se que o uso do solo urbano vai depender das intenções do indivíduo que detém o direto de posse da fração do espaço urbano. Com isto é preciso entender o poder do homem em intervir sobre o espaço que ocupa.

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O homem, com seu poder de intervenção, participa diretamente no processo de modificação da paisagem. Ele é a peça chave que comanda as ações que são realizadas sobre o espaço, fazendo do mesmo um local de acréscimo de novas formas. O espaço urbano é um exemplo deste processo de intervenção do homem, pois é constituído em sua maioria por formas artificias que são oriundas das ações realizadas pelo homem no processe de intervenção sobre o espaço. Estas intervenções são intencionais, ou seja, não acontecem por acaso, mas advém de planejamento antecipado.

Por este motivo é conveniente afirmar que o homem intervém sobre o espaço por meio de sua capacidade de planejar. O homem planeja para encontrar a melhor forma de aproveitar o espaço que lhe é concedido. Este ato de planejar faz com que seja poupado tempo e dinheiro na execução de certas ações sobre o espaço. Claro que a forma de planejar a ocupação do espaço não foi sempre a mesma, pois as situações históricas mudaram, mas o ato de pensar antes de agir é algo nato do ser humano. Entretanto, as ações planejadas pelo homem possuem a limitação do espaço, sendo que ocorrem de forma fragmentada sobre o espaço urbano total.

Este fator faz com que a intervenção do homem ocorrem de forma individual porque o homem não consegue intervir sobre o espaço urbano como um todo, mas somente em certas frações. Estas frações do espaço urbano representam uma pequena parte de um todo, e por isso não podem ser desassociadas uma das outras. E é sobre a fração do espaço urbano que o indivíduo intervém diretamente, produzindo assim um espaço único e ao mesmo tempo diferente. É único por que cada espaço urbano possui sua forma e paisagem; e diferente quando pensamos no todo urbano e seus diversos fragmentos que o compõe.

O que nos leva a afirmar que o espaço urbano, tal como o conhecemos e interagimos na atualidade, não foi sempre da forma como o vemos, mas foi alterado pelo homem que interveio sobre a forma natural do espaço e lhe acrescentou formas artificiais. Desta maneira fica obvio que a diversidade do espaço urbano que existe na atualidade, surgiu ao longo do tempo histórico decorrido, em que a forma da paisagem atual representa o acúmulo de formas artificiais sobre a natural no processo de intervenção do homem.

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É importante salientar que a intervenção do homem sobre o espaço teve como intuito melhorar as condições de habitação, locomoção, e acesso aos bens de consumo básicos, o que demonstra que a diversidade urbana não é resultado de interesses estéticos, mas sim, sobrevivência humana. As ações de intervenção do homem sobre o espaço sempre objetivam uma busca pelo melhor, pelo novo, ainda mais nestes tempos modernos onde a tecnologia trabalha a favor do homem.

E, durante o processo de intervenção sobre o espaço, ocorre a relação entre a paisagem natural e os acréscimos artificiais. Alguns geógrafos, afirmam que o espaço como o conhecemos hoje é resultado da articulação entre forma natural e artificial. E nesse processo de intervenção ocorre a remodelação da paisagem, que torna-se urbana pelo fato da grande concentração de população, que acrescenta ao espaço uma diversidade de construções e obras que viabilizam a vida urbana. Desta forma, veem-se as cidades como um local de diversidade, onde cada indivíduo contribui para a construção de um espaço urbano diversificado através de sua intervenção.

Toda modificação gerada pelo homem é realizada em um determinado espaço, ou seja, área ou região, específica. E acerca deste espaço, que se trata de um local específico e único dentro do todo, é necessário lembrar que o mesmo representa um local definido e único dentro do todo. O indivíduo gera sua influência de forma direta e com característica próprias, tornando a ação algo direcionado e localizado. Ligado a ideia de espaço como sendo um lugar definido e específico, vem a afirmação de Milton Santos de espaço como uno e múltiplo.

O espaço, segundo a observação de Santos (2006, p.67) é “uno e múltiplo, por suas diversas parcelas, e através do seu uso, é um conjunto de mercadorias, cujo valor individual é função do valor que a sociedade, em um dado momento, atribuiu a cada pedaço da matéria, isto é, cada fração da paisagem”. Como foi mencionada no parágrafo acima, a fração do espaço urbano que é concedida a um indivíduo, possui esta unicidade e multiplicidade devido a sociedade, pois é ela que desenvolve a fragmentação do espaço urbano, seguindo um padrão estabelecido por lei, exceto no caso de loteamentos indevidos.

Por este motivo a ação do homem, que é exercida sobre uma fração do espaço urbano, que lhe é concedida, torna-se algo muito amplo, pois não pertence a

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ações isoladas em um local desassociado, mas está ligado a um todo urbano local, regional, nacional e mundial. Por mais que o espaço urbano seja fragmentado nos papeis e plantas que estão em posse de seus proprietários, a sua real desassociassão do todo é impossível. As frações do espaço perdem sua validade ainda mais quando pensamos em relação as ações que são realizadas sobre estes fragmentos.

Isto resulta da capacidade das ações humanas sobre o espaço de vencer divisas e limites impostos pelo homem. Atualmente toda a ação que é realizada sobre um determinado espaço não pode mais ser considerada como isolada ou desassociado do todo urbano, regional, nacional e mundial. Cada ação realizada em uma fração do espaço urbano repercute sobre os espaços próximos, e pode avançar dependendo o tipo de ação que é realizada. Isto ocorre devido a vivermos em uma sociedade interligada, onde as ações isoladas no espaço e tempo inexistem.

Além disto, é importante mencionar que as ações que são realizadas sobre uma fração do espaço não limitam seus resultados a uma única geração, mas atravessam as gerações, podendo gerar resultados positivos ou negativos a longo prazo. Como exemplo, cito o uso de poços para o despejo de dejetos humanos, oriundos de banheiros e pias, realizado por algumas pessoas durante o período em que se começou a utilizar a água encanada. Estes indivíduos que assim agiram, exerceram uma ação sobre uma fração do espaço urbano, considerando-a inofensiva, e hoje reflete-se na contaminação das águas do lençol freático, e afeta toda a população que depende das águas subterrâneas.

Além do exemplo acima citado, as ações do homem sobre o espaço deixa um registro histórico, por meio dos acréscimos artificiais que são realizados. Isto foi observado na amostra utilizada para a realização da pesquisa, ou seja, o município de Senador Salgado Filho, no estado do Rio Grande do Sul. As construções demonstram as características dos primeiros colonizadores, que por meio delas desenvolveram a sua vida cotidiana, alterando o espaço natural. Ligada a estas construções vemos as características casas de madeira com telhado de cupiá, que na grande maioria possuem mais de 20 anos. Estas casas continuam a existir e, por assim dizer, dividem o espaço com as novas construções em alvenaria.

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Desta forma é visível que o processo de modelagem e reestruturação do espaço natural, por meio da ocupação realizada pelo homem, não ocorre de uma única vez e forma, mas é algo gradativo constante, em que ao espaço é acrescentando ou removendo alguma forma. Por esse motivo vemos nas cidades construções antigas dividindo o espaço com as novas construções. Entretanto, o espaço urbano está em constante modificação, sendo assim, as construções antigas que não são tombadas como patrimônio histórico, acabam sendo reformadas e remodeladas ou ainda totalmente removidas para a realização de uma nova construção.

Assim, o homem como agente modificador do espaço, estrutura-o de forma horizontal e ligada ao presente e de forma única, o que faz com que o espaço nunca mude, mas sim a forma de ocupação e utilização é alterada conforme a necessidade de quem mantém o direito de uso da fração do espaço. O espaço é como o palco de um grande teatro, onde o ser humana desenvolve a história da sua existência, modificando-o conforme a sua capacidade e conhecimento e necessidade.

Portanto, o processo de modelagem do espaço é perceptível pelo homem por que a paisagem do espaço é alterada. A paisagem não é o espaço, nem o espaço é a paisagem, mas estes mentem uma relação próxima, conforme afirma Santos (2006, p. 67) “O espaço é a sociedade, e a paisagem também o é. No entanto, entre espaço e paisagem o acordo não é total, e a busca deste acordo é permanente; essa busca nunca chega a um fim”.

2 A DIVERSIDADE DA PAISAGEM A PARTIR DOS DIFERENTES USOS DO SOLO NO ESPAÇO URBANO EM SENADOR SALGADO FILHO

Agora que já se visualizou todas as questões relacionadas a cidade, ao solo urbano, as leis concernentes a ocupação do espaço e o resultado que vemos expresso por meio da paisagem, passaremos a descrever o uso do solo na realidade encontrada no município em questão, ou seja, analisaremos a diversidade da organização espacial através das diferentes formas de uso do solo urbano de Senador Salgado Filho. Com esta subdivisão pretende-se visualizar o espaço

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urbano a partir de cada fragmento, e verificar como o processo de ocupação está ocorrendo em cada local, e se o mesmo está devidamente cumprindo com o seu papel social, de promover a cada cidadão os recursos básicos para uma apropriada qualidade de vida.

2.1 Localização do Município de Senador Salgado Filho

O município de Senador Salgado Filho está localizado na região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, e faz parte de microrregião de Santo Ângelo. Possui como municípios limítrofes Santa Rosa, Giruá, Ubiritama, Guarani das Missões e Sete de Setembro, conforme pode ser visto nas figuras Nº 1 e Nº2. A sua localização geográfica é muito favorável para o desenvolvimento e crescimento como município dentro da microrregião de Santo Ângelo, pois é uma rota alternativa para o escoamento da safra de grãos da região Noroeste, mas não é utilizada em virtude da não pavimentação da via que liga Santa Rosa a Guarani das Missões, passando por Senador Salgado Filho.

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Imagem Nº1- Localização de Senador Salgado Filho

Fonte: http://www.mapas.ors.com.br/mapa-populacional-e-administrativo-municipios-estado-rs-escala-4.html; Acessado dia 17 de Março de 2015

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Imagem Nº2 – Município de Senador Salgado Filho Fonte: Arquivo pessoal (2015)

2.2 Políticas públicas municipais referentes ao uso do solo urbano de Senador Salgado Filho

Conforme referido no subtema acima, a Constituição Federal atribui a responsabilidade de ordenação do uso do solo urbano aos municípios, sendo eles responsáveis pela criação, legalização e aplicação das leis referentes ao uso do solo urbano. A atribuição da responsabilidade aos municípios em desenvolver as leis, faz com que ocorra uma ordenação apropriada do solo urbano ligado a realidade em cada local, e garante o respeito as particularidade ligada a cada cidade que faz parte da nação brasileira.

De modo e ser objetivo na apresentação da importância das leis referentes ao uso do solo urbano, veremos o caso da amostra utilizada para realizar a pesquisa,

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ou seja, o município de Senador Salgado Filho. A cidade localiza-se na microrregião de Santa Rosa, Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, e possui uma população de aproximadamente 2814 habitantes, conforme o senso do IBGE de 2010, e estima-se que no corrente ano a população seja de 2887 pessoas. Destes, a população urbana, representava 878 pessoas.

2.2.1 Histórico do Município de Senador Salgado Filho

A localidade nasceu com o nome de linha Giruá e pertenceu inicialmente ao município de Cruz Alta. Posteriormente passou a pertencer ao município de Santo Ângelo e no ano de 1931 a Santa Rosa. Em 28 de janeiro de 1955, com a emancipação de Giruá, passou a pertencer a este município, já com a denominação de Salgado Filho, quando foi elevado a condição de Distrito (2º distrito). Os motivos do surgimento do distrito e posteriormente o município de Senador Salgado Filho não é oficialmente informado, entretanto, ao que tudo indica é que o seu desenvolvimento deu-se em virtude da distância entre as cidades vizinhas, sendo necessários ao moradores desta nova colônia desenvolverem um local para adquirirem os produtos básicos que necessitavam, de modo a evitar um deslocamento as cidades estabelecidas.

Colonizado por imigrantes alemães, suecos, russos e austríacos, o município tem como principal característica as pequenas propriedades rurais, denominadas minifúndios. Estas propriedades iniciaram suas atividades para a manutenção e sobrevivência dos integrantes da família, que representavam a mão de obra da propriedade. As propriedades representavam para os colonizadores como uma nova oportunidade, pois a grande maioria dos colonizadores enfrentava em sua pátria de origem problemas como a fome e falta de terras para plantio.

Segundo informações o início do povoamento ocorreu por volta dos anos de 1906 e 1907, com a chegada da primeira leva de imigrantes nas denominadas Linhas República e Giruá. As terras pertencentes ao município na atualidade começaram a ser divididas em lotes rurais a partir do ano de 1897, e foi concluído somente vinte anos depois, em 1917.

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A segunda leva de imigrantes chegou entre os anos de 1908 e 1911, oriundos de “Estados Satélites” da Ex–União Soviética (Ucrânia, Polônia), do antigo Império Prussiano e, principalmente, da Alemanha, e também se estabeleceram nas localidades de Linha República e Giruá. Eram pessoas na maioria em fuga devido às revoluções que determinaram o fim dos czares na Rússia e ascensão do nazismo na Alemanha, e de todos os acontecimentos da Primeira Guerra Mundial.

Já no Brasil, padres missionários indicaram Salgado Filho como alternativa para fixar residência. Além do mais as terras poderiam ser adquiridas e pagas mediante prestação de serviços para o Governo (construção de estradas, medições, etc). Todos receberam uma pequena ajuda do Governo, destacando-se a distribuição de sementes. (Site da Prefeitura)

Segundo documentos da prefeitura de Senador Salgado Filho, a emancipação do município ocorreu no ano de 1995, até então era um distrito do município de Giruá. Depois de votado, o projeto de Lei que concedeu a Salgado Filho, o direito de realizar a consulta plebiscitaria, que atingiu aprovação de mais de 80% da população votantes. Ao ser aprovado pela população a emancipação, em 29 de dezembro de 1995 foi publicada a Lei Estadual nº 10662 que cria o município de Senador Salgado Filho, pelo Governador do Estado, o senhor Antônio Britto. A instalação oficialmente do município ocorreu em 01 de janeiro de 1997, por meio da primeira administração pública.

2.2.3 O Código Municipal de Meio Ambiente e de Postura

Por tratar-se de um município pequeno, a lei não obriga que tenha um plano Diretor, entretanto, os dados referentes as leis de uso do solo urbano encontram-se no código municipal de meio ambiente e de postura, e no Código de edificações do município de Giruá, do qual Senador Salgado Filho desmembrou-se no ano de 1997. Estes dois códigos visam ordenar o uso do solo urbano de forma apropriada para o bem da população e do meio ambiente.

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O código municipal de meio ambiente e de postura tem por intuito orientar a forma de organização dos terrenos urbanos e rurais, entretanto, a ênfase neste artigo recai sobre as leis referentes a área urbana do município de Senador Salgado Filho. O código municipal de meio ambiente e de postura enfatiza do artigo 74 ao 77 os deveres e obrigações dos inquilinos e proprietários de certa fração do espaço urbano. Os artigos que compreendem esta seção do Código Municipal de Meio Ambiente e de Postura tem por intenção o melhor uso possível do solo urbano fazendo com que cada proprietário de terreno mantenha um devido cuidado com sua fração do espaço, de modo a, manter uma apropriada visão de paisagem, além de prevenir a infestação e a proliferação de pragas nocivas ao ser humano.

O artigo 74 estabelece como regra a todos os proprietários ou inquilinos a manutenção dos terrenos, de modo que sejam mantidos limpos, afim de que dentro do perímetro urbano não ocorra a proliferação de insetos ou pragas nocivas a ao ser humano. A lei prevê que em caso do não cumprimento da mesma, o município, depois de vencer o prazo de limpeza conferido ao proprietário, está apto a realizar a limpeza do local levando em conta que o mesmo esteja sendo a origem de alguma praga nociva a saúde humana. Este ato de limpeza requererá, conforme o artigo 74, a cobrança ao proprietário ou inquilino os gastos para a limpeza, com acréscimo de 10%, a título de administração. O artigo 76 prevê que todo terreno não edificado deve ser cercado.

O artigo 77 do Código, determina que cada habitação deve ser pintada ou caiada conforme exigência das autoridades sanitárias. Todos os artigos que compreendem o Código Municipal de Meio Ambiente e de Postura visam estabelecer normas que contribuam para a conservação ambiental e o bem estar humano dentro do espaço urbano. Isto pode ser visto ainda na subdivisão que trata do controle de sons, e uso de chaminés de fogões, lareiras e churrasqueiras.

2.2.4 O Código de Edificações do Município de Giruá

Ao realizar um estudo das leis referentes ao uso do solo urbano percebe-se a existência de uma diversidade de leis, sendo que cada área do espaço urbano

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possui suas prescrições próprias. As leis são criadas levando em conta o tipo de ocupação, ou seja, construção de casas, prédios comerciais, ou área industrial, de modo que em cada um destes locais seja devidamente ocupado. Isto é importante porque cada local possui suas particularidades, sendo assim, exige um olhar diferenciado levando em conta a organização própria que vise o bom desenvolvimento do espaço urbano, de modo a não causar danos a nenhum munícipe.

Para este fim serve o plano gestor do município, entretanto, como foi mencionado acima, Senador Salgado Filho não o possui por não ser uma obrigatoriedade para municípios de pequeno porte. Entretanto, é utilizado no município de Senador Salgado Filho, além do já mencionado Código Municipal de Meio Ambiente e de Postura, o Código de Edificações do Município de Giruá, que serve de referencial para a ocupação dos terrenos por meio das construções. Este apresenta as lei referentes as edificações a serem realizadas, a fim de, ordenar cada parte da cidade de forma apropriada para que o espaço urbano seja devidamente utilizada sem agredir o meio ambiente e atrapalhar o mobilidade urbana. No Código de Edificações do Município de Giruá, consta as leis referentes as edificações em terrenos sob o título: Dos terrenos e das fundações.

Segundo o artigo 49, é libera a construção somente em terrenos que estejam devidamente licenciados para a construção segundo as leis previstas no Código de edificações do município de Giruá, seguindo os seguintes critérios (1993,art.: 49): 1) Possuam testada para via pública oficialmente reconhecida; 2) Possuam matrícula individualizada no Cartório de Registros de Imóveis; e 3) Após terem sido vistoriadas e aprovadas pela prefeitura municipal as obras de infraestrutura urbana.

O artigo 50 prevê que as obras de construção não serão liberadas nos seguintes casos: 1) Terrenos alagadiços ou sujeitos a inundações, sem que sejam tomadas as devidas providências para o escoamento da água; 2) Terrenos que tenham aterrados com material nocivo a saúde pública; 3) Terrenos onde as condições geográficas não são apropriadas para construções; e 4) Áreas de preservação ecológicas.

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2.3 Caracterização básica do uso do solo urbano

Ao analisar algumas imagens e dados sobre o município de Senador Salgado Filho, desde a sua emancipação, que ocorreu no ano de 1995, verifica-se um crescimento no consumo do espaço urbano. A intensificação no uso do solo urbano é visível nas imagens aéreas e plantas do município dos anos de 1997 e 2013, descrevem bem o processo de ocupação do espaço e avanço em direção as áreas agrícolas que cercavam a área urbana inicial, ou seja, o sítio. Vale ainda salientar, que na imagem da planta do município no ano de 1997, onde aparece uma marcação em preto, refere-se ao total do solo urbano que estava sendo utilizado na época.

Imagem Nº3 – Perímetro urbano em 1997

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Imagem Nº 4 - Planta da cidade em 1997

Arquivo da Prefeitura de Senador Salgado Filho (1997)

Imagem Nº 5 – Vista aérea de 2013;

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Imagem Nº 6 - Planta urbana de 2013

Fonte: Arquivo da Prefeitura de Senador Salgado Filho (2014)

Conforme Garnier (1997, p.87) o consumo de espaço urbano não está somente relacionado ao crescimento populacional da cidade, mas as novas necessidades que surgiram durante os últimos anos. Senador não é um caso isolado, onde ocorreu este aumento no consumo do espaço urbano, mas é um exemplo da situação que ocorreu em todo o mundo. Sendo que em alguns países, principalmente os que possuem uma pequena extensão territorial o grande consumo de espaço vem tornando-se um problema muito sério, devido as novas necessidades. Entretanto, na realidade da amostra da pesquisa, este ainda não é um problema, pois existe espaço suficiente para novas construções e a ocupação do solo reservado para o perímetro urbano, conforme pode ser visto na planta urbana de 2013, está longe de ser concluído.

Para obter uma ideia melhor do aumento no consumo do espaço urbano no município de Senador Salgado Filho, podemos utilizar a relação das ligações da

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rede de água no perímetro urbano, que no ano de 1997, quando o município passou a existir legalmente, tendo o seu primeiro prefeito assumindo, somavam um total de 60, o que representava uma quantidade aproximada de edificações. No ano de 2013 o número de ligações somava um montante de 440, ou seja, durante o ano de 1997 a 2013 ouve um acréscimo de 380 ligações de água, conforme estimativas da prefeitura. O uso destes dados com relação ao número de ligações de água é feito pelo fato deste demonstrar, o mais próximo possível, a quantidade de construções encontradas no perímetro urbano de Senador Salgado Filho.

Em virtude da disponibilidade de solo urbano ainda a ser explorado, a cidade de Senador Salgado Filho, caracteriza-se como sendo uma cidade de extensão, que apresenta um crescimento no sentido horizontal. O crescimento vertical, que é observado em centros maiores não ocorre na realidade local em virtude de dois fatores: 1) densidade populacional baixa; e 2) Uma grande quantidade de espaço para novas construções. A existência de áreas livres para novas construções demonstra a realidade de um espaço urbano em construção, com poucos anos de formação. E isto faz com que os terrenos apresentem um valor de comercialização relativamente baixo se comparado com cidades maiores da região, com Santa Rosa ou Giruá.

2.4 Uma análise dos diferentes usos do solo urbano

O uso do solo urbano, no município de Senador Salgado Filho, segue a seguinte configuração: 1) área central da cidade, onde é situado o centro de negócios e de onde foi iniciado o desenvolvimento urbano do município, ou seja, o sítio; 2) a cidade alta, caracteristicamente habitacional, que teve um crescimento com o programa minha casa minha vida do governo federal; 3) espaço de construção das casas populares, localizada na saída para o município de Guarani das Missões; 4) Áreas de lazer; 5) Área de proteção ambiental; 6) Área industrial; e 7) Área não urbanizada.

Apesar das diferentes formas de uso do solo urbano, imprimir uma diversidade na organização espacial dos terrenos, e cada um apresentar suas

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particularidades, cada qual permanecem interligados entre si. O permanecer interligado significa que mesmo cada espaço apresente suas particularidades, ele dependo dos demais espaços para oferecer aos cidadãos as condições mínimas para obter uma boa qualidade de vida. Cada um dos diferentes locais, cumpre seu papel dentro do todo urbano, e contribuiu para o desenvolvimento e manutenção do espaço urbano, sendo indissociável do todo.

Conforme argumenta Roberto Lobato Corrêa (2000, p. 7), apresenta o conceito de espaço urbano por duas perspectivas distintas: 1) fragmentado e 2) articulado. O espaço urbano é fragmentado porque o uso do solo ocorre de forma fragmentada, o terreno representa a menor parte deste fragmento, sendo ligado a ele o bairro como um espaço fragmentado que é formado pela junção de diversos terrenos, o que constitui a segunda parcela do espaço urbano fragmentado. Sendo que: “cada uma de suas partes mantém relações espaciais com as demais, ainda que de intensidade muito variável”. Ou seja, o espaço urbano é divido em pequenas partes, os bairros, que representam uma realidade particular e que estão ligados a um todo, o espaço urbano de um município.

Os espaços fragmentados mantem um relação de dependência, ao ponto que articulam entre si por meio dos fluxos de veículos, o deslocamento das pessoas das áreas de residência para os locais de trabalho, o deslocamento para compras no centro de comércio, visitas a parentes, cultos religiosos, e outras atividades. Está articulação ocorre por necessidade, pois cada local fragmentado depende do todo para manter-se e suprir as necessidades de seus habitantes, tanto econômicas quanto socais. Em cidades de pequeno porte, como Senador Salgado Filho, vemos que esta articulação é facilitada pela pequena dimensão do espaço urbano, o que possibilita uma maior proximidade entre os diferentes fragmentos que compõe o espaço urbano.

Esta articulação entre os diferentes espaços urbanos faz com que a cidade seja este um local de constantes contatos sociais, gerando assim troca de informações dos espaços fragmentados e desenvolvendo a cultura urbana que se apresenta de forma desigual, devido as diferenças existentes, mas ao mesmo tempo forma uma totalidade indenitária, por constituir uma cultura urbana mesclada e unida pelos diferentes grupos que a compõe.

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2.4.1 O centro de negócios

O centro de negócios de uma cidade é o local com a maior concentração de negócios, pode-se dizer que é o coração vivo da cidade, traduzindo a face da vida urbana. O centro de negócios é definido por Jacqueline Beaujieu-Garnier (1997, p. 392) como sendo “o local onde se reúnem as atividades que dirigem e que relacionam, tal como das que visam dar à população a possibilidade de satisfazer as suas mais elevadas exigências”.

O centro de negócios é um local com elevada disputa pelo consumidor e também pela ocupação do solo urbano, devido a representar um interesse estratégico para a comercialização. O valor atribuído ao solo urbano, que compreende o centro de negócios se reflete no valor diferenciado aplicado aos preços de venda e compra de terrenos ou do espaço disponível para aluguel, em comparação com os demais locais dentro do espaço urbano.

A valorização do espaço no centro de negócios tende a aumentar de acordo com o porte da cidade. O que influência no valor dos terrenos no centro de negócios pode ser estruturada sobre duas bases: 1) Número de habitantes; 2) Oferta de espaços vagos. Quanto maior for a cidade em número de habitantes terá mais procura por produtos, gerando oportunidade de negócios, o que é bom para os comerciante. Os terrenos e espaços para aluguel tendem a aumentar seu valor conforme aumenta o interesse dos comerciantes em ocupar os espaços que fazem parte do centro de negócios, tornando os espaços vagos cada vez menores, aumentando os valores atribuídos a compra e venda de terrenos e aluguel de imóveis.

O centro de negócios não se trata de um local de produção, mas, sim de comercialização, sendo assim, não se deve confundir o centro de negócios com a área industrial, uma vez que a área industrial é por essência o local de produção. Em algumas cidades existem pequenas indústrias exercendo atividades de produção dentro do espaço do centro de negócios ou mesmo em área de habitação, mas estas são situações que os próprios municípios precisam resolver para o bem da população e para as indústrias.

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Segundo Ribeiro Filho (2004) a delimitação do centro de negócios segue quatro aspectos; 1) O valor da terra; 2) A intensidade comercial; 3) A verticalização; e 4) O fluxo de pedestres e veículos. Na amostra utilizada para a realização da pesquisa, ou seja, o espaço urbano do município de Senador Salgado Filho, o centro de negócios é justamente a parte central da cidade, entretanto, isto não é uma regra, como foi dito anteriormente. Aplicando os aspectos apontados pelo professor e doutor Vitor Ribeiro Filho, à realidade da amostra, verifica-se que os quatro aspectos são funcionais, entretanto, a verticalização é reduzida, em virtude da baixa densidade populacional e a oferta de terrenos para construção, sendo assim, não há motivos para a verticalização.

O centro de negócios, em Senador Salgado Filho consiste nas laterais da avenida central, Avenida Henrique Martin, que atravessa toda a cidade, e a rua Henrique Osvaldo Pukall. O centro econômico se restringe a 8 quadras, mas mais especificamente as quadras 01, 02, 03, 04, 06, 09, 14, 15, 16, conforme visível no recorte abaixo.

Imagem Nº 7 - Planta da área central da cidade

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2.4.2 A área central

Conforme Ribeiro Filho (FERNANDES E MARTINS, 1988 Apud 2004, p.155) no artigo intitulado: A área central e sua dinâmica, uma discussão, faz uma citação em que descreve “a área central é, indubitavelmente, a parte da cidade com maior facilidade de identificação no conjunto do espaço urbano, pelas suas características e de forma mais significativa, pelas relações que estabelece entre a cidade e sua hinterlândia”.

Ribeiro Filho caracteriza a área central como um local que concentra as principais atividades econômicas e dos fluxos urbanos, tratando o espaço como resultado do processo de centralização da economia do mercado capitalista que tomou conta do mundo moderno e deixou as suas marcas. A área central, trata-se de um espaço privilegiado, segundo Ribeiro Filho (2004, p. 156) “Assim, a Área Central tornou-se o ponto mais privilegiado do espaço urbano em termos de acessibilidade, em função da concentração das atividades localizadas neste setor da cidade”.

Outro detalhe que é apontado por Ribeiro Filho é a tendência atual de renovação urbana periférica, onde a periferia das maiores cidades tende a receber o comércio. Este deixa a área central em função da grande concentração de comerciantes, sendo o comércio, nestas áreas, controlado por alguns comerciantes que possuem a capacidade financeira e influência para manter-se na área central, o que é complicado para os pequenos comerciantes ou pessoas que tentam começar alguma atividade comercial na área central. Este processo de descentralização ocorre principalmente em centro grandes, entretanto, em cidades pequenas como a da amostra a parte central continua a figurar como a área mais privilegiada e com acesso menos complicado para novos comerciantes.

Na amostra estudada, verificou-se algo em particular, a área central é o local onde começou a ocupação urbana do município, recebendo a denominação de sítio. No período em que a cidade de Senador Salgado Filho ainda era uma vila pertencente ao município de Giruá, começou o processo de ocupação do espaço e construção do espaço urbano, na atual área central. É o local de maior ocupação do

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espaço, sendo a área de comércio com uso intensivo do solo, onde os terrenos estão praticamente todos ocupados, e com um preço elevado, devido a valorização comercial. Mesmo, Senador Salgado Filho sendo um município de pequeno porte, na área central é encontrado edificações com mais de um andar, que demonstra um começo tímido de verticalização.

Imagem 8 - Visão aérea do centro de negócios, que também é a área central Fonte: Arquivo da Prefeitura de Senador Salgado Filho (2014)

2.4.3 Área de habitação

O direito de cada cidadão brasileiro ter uma moradia digna vem tomando cada vez mais as discussões no cenário político e jurídico brasileiro. E Segundo a ficha informativa dos direitos humanos, número 21 (2002, p.6) todo cidadão tem o direito de ter uma habitação digna, sendo que neste documento afirma que “Dispor de uma habitação condigna é universalmente considerada uma das necessidades básicas do ser humano”. O assunto da habitação dentro das cidades toma uma proporção de grande importância pelo fato de muitas pessoas ainda hoje não terem um lugar digno para morar. Sendo assim, o estado precisa procurar fornecer meios para auxiliar a população a atingir as condições mínimas à obtenção de uma moradia apropriada para que tenham um sentimento de segurança e bem estar. Este direito está garantido no artigo 25º da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

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I) Todo o homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. II) A maternidade e a infância tem direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social. (Procuração geral da República, 2002, p. 08)

Na amostra utilizada para pesquisa existem basicamente três divisões com relação a área de habitação, sendo elas: 1) A área de habitação mais antiga, relacionada ao começo do processo de urbanização; 2) Área de habitação mais recente, ligada aos programas de financiamento de habitações; e 3) Área de habitação popular. Estas três áreas estão separadas geograficamente dentro do perímetro urbano, o que facilita a sua identificação. Para tal faz-se abaixo uma descrição de cada um destes espaços.

2.4.3.1 Área de habitação antiga, o sítio

O termo sítio citado por Beaujeu (1997, p.76), onde esclarece que o mesmo refere-se ao local onde deu-se o início do desenvolvimento da cidade, o que confere ao sítio um valor histórico para o município. O sítio é o local onde começou a ocupação urbana, e a partir deste a cidade expande-se e cresce, tornando o sítio não mais relevante para o desenvolvimento da cidade, sendo assim, abandonado e recebendo somente um valor histórico, “o desenvolvimento da cidade faz-se a partir dele; a cidade envolve-o, ultrapassa-o, transforma-o e, por vezes, mesmo, abandona-o”.

No caso da amostra a área do sítio se encontra próxima ao centro da cidade. As casas que estão construídas nesta área de habitação fazem parte da história do município, pois foi local onde se deu o início do processo de construção do espaço urbano da cidade de Senador Salgado Filho. No espaço urbano de Senador Salgado Filho vê-se que o sítio continua a exercer um papel importante dentro do espaço urbano, apesar da expansão da cidade. Os terrenos que estas casas ocupam são

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hoje de um grande valor comercial devido a sua proximidade com a área de comércio, o que atribui a este espaço uma característica heterogênea, coexistindo as habitações e o comércio.

Portanto, é um local não puramente habitacional, onde as casas contrastam com os locais de comércio. Neste espaço vemos lojas, oficinas, igrejas, escolas, ocupando o espaço juntamente com as casas. Desta forma, esta área pode ser considerar um espaço heterogêneo, e, portanto, apresenta características distintas quando comparamos esta área de habitação com as demais encontradas dentro do espaço urbano da cidade. Outro fato que é característico desta área é a transformação de casas em salas de comércio, sendo que é comum a manutenção da estrutura da casa.

As construções que vemos nesta área são em sua maioria de madeira e antigas, subsistindo com as novas construções em alvenaria. Este fato cria nesta área o contraste entre o trabalho morto e o trabalho vivo, ou seja, as antigas construções e as novas construções, conforme pode ser visualizar na figura Nº 7. Segundo a visão de Santos (1998), a paisagem do espaço urbano representa a acumulação de tempos passados e presente, naturais ou sociais, num acumulo de trabalho morto e vivo. O trabalho morto é o que já está construído pelo homem e faz parte da paisagem histórica do espaço urbano, como casa, prédios, ruas, ou seja, são formas espaciais que estão incorporadas pela sociedade. E o trabalho vivo representa as ações atuais, o trabalho que está sendo realizado no momento, e é incorporado ao que já existe no espaço, o que faz surgir o contraste entre trabalho morto e vivo neste espaço de sitio.

Imagem Nº 9: Visão de casas e empresas na área central da cidade; Fonte: Arquivo pessoal (2014)

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Durante os últimos anos através da liberação de empréstimos para a construção, começou-se um processo de construção de novas casas, e estas de alvenaria, que estão substituindo as tradicionais casas de madeira e telhado de cupiá. A troca das casas de madeira pelas de alvenaria está ocorrendo num processo lento nesta área mais antiga de ocupação do espaço urbano, mas é gradativo, e apresenta a tendência, em um futuro próximo, a substituição das casas de madeira pelas de alvenaria, como aconteceu em cidades que hoje possuem um porte médio à grande.

2.4.3.2 Área de habitação recente, a cidade Alta

A cidade de Senador Salgado Filho depois de 2003 apresentou um crescimento periférico, que fez com que a cidade expandisse a área urbana. Esta área de habitação, ou seja, a cidade alta é resultado da expansão periférica, a partir do sitio, do espaço urbano de Senador Salgado Filho. Garnier (1997, p.121) descreve o crescimento periférico da seguinte forma: “Numa primeira fase, domina o crescimento segundo os eixos de comunicação; depois, constroem-se vias de acesso transversais que se tornam também áreas de urbanização”.

O desenvolvimento periférico ocorrido em Senador Salgado Filho seguiu, a partir do sítio, em duas direções, uma à Oeste, que foi incorporada pela parte central da cidade e ao norte, que é conhecida como cidade alta. Esta expansão ocorreu a partir do ano 2000, e prossegue até o presente momento, devido a uma diversidade de espaços vagos. O principal crescimento desta área é na avenida Henrique Martin, entretanto, as construções estão avançando, tanto a leste como oeste a medida que os proprietários de terra loteiam sua áreas e as colocam à venda.

Na cidade alta podemos encontrar as casas que são em sua maioria financiadas pela caixa econômica Federal, pelo programa minha Casa minha vida, que alavancou as edificações em alvenaria no município. O projeto minha casa minha vida também criou um novo padrão de arquitetura das casas, dando assim a cidade um ar de moderna. Isto concede a cidade alta uma característica própria em

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suas edificações e também nos jardins. Nos terrenos vê-se uma preocupação com a organização da paisagem, com jardins bem cuidados e com inovações.

Neste local somente é permitido a instalação de empresas ao longo da Avenida Henrique Martin, e os demais espaços são reservados para a habitação. E por tratar-se um espaço reservado unicamente à habitação, não ocorre a mesma agitação comum que é observada na área central da cidade. O mesmo vemos com relação ao valor dos terrenos, que possuem um valor de comércio diferenciado, quando comparados com a área de sítio e de habitação popular, pelo fato das construções e da valorização desta fração do espaço urbano, uma vez que é considerado um local nobre pelos munícipes.

Em virtude dos fatores mencionados acima, as casas que são encontradas neste fragmento indicam uma categoria econômica média e média alta de seus moradores, portanto, a casa pode ser um indicador referencial externo de nível econômico dos moradores. Desta forma, desenvolve-se uma identidade, onde é atribuído ao espaço um status de superioridade frente a outros locais de habitação que fazem parte do espaço urbano. Na figura Nº 10 está descrito o que foi referido sobre este espaço.

Imagem Nº 10 - Visão de construções na parte alta da cidade; Fonte: Arquivo pessoal (2014)

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