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Caminhos e desafios enfrentados por alunas do ensino médio e atletas amadoras para praticar o futsal nas escolas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE

DO SUL - UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO - DHE

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA - LICENCIATURA

CAMINHOS E DESAFIOS ENFRENTADOS POR ALUNAS DO ENSINO MÉDIO E

ATLETAS AMADORAS PARA PRATICAR O FUTSAL NAS ESCOLAS

Tânia Raquel Baldissera

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TÂNIA RAQUEL BALDISSERA

CAMINHOS E DESAFIOS ENFRENTADOS POR ALUNAS DO ENSINO MÉDIO E

ATLETAS AMADORAS PARA PRATICAR O FUTSAL NAS ESCOLAS

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao Curso de Educação Física, Departamento de Humanidades e Educação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Educação Física.

Orientador: Prof. Me. Mauro Bertollo

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Tânia Raquel Baldissera

CAMINHOS E DESAFIOS ENFRENTADOS POR ALUNAS DO ENSINO MÉDIO E

ATLETAS AMADORAS PARA PRATICAR O FUTSAL NAS ESCOLAS

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao Curso de Educação Física, Departamento de Humanidades e Educação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Educação Física.

Aprovado em: ____ de _______________ de ________.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Prof. Ma. Eloisa Borkenhagen Bohrer – Unijuí (Examinador)

__________________________________________ Prof. Me. Mauro Bertollo - Unijuí (Orientador)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por ser essencial em minha vida, o autor do meu destino, meu guia, socorro presente na hora da angustia, pois sem Ele eu não teria forças para essa longa jornada.

À minha família, por sua capacidade de acreditar em mim e investir em mim. Agradeço principalmente a minha mãe Marily, guerreira, que admiro por demais, que com seu cuidado e dedicação foi o que me deu em alguns momentos, a esperança para seguir em frente.

Pai, mesmo sem a sua presença aqui na terra, sei que sempre esteve presente ao meu lado, me dando segurança e certeza de que não estou sozinha nessa caminhada.

E o que dizer de você Rogério meu pai/padrasto? Obrigada pelo incentivo, pela força e principalmente pelo carinho.

À Dioza, pessoa com quem amo compartilhar os momentos da minha vida. Com você tenho me sentido mais viva de verdade. Obrigada pelo carinho, a paciência, por me incentivar a cada obstáculo que tive que passar para chegar até aqui, e por sua capacidade de me trazer paz na correria da minha vida.

Agradeço ao professor Mauro, pela paciência na orientação e incentivo que tornaram possível a conclusão desta pesquisa.

Aos meus amigos, pelas alegrias, tristezas e dores compartilhadas. Com vocês, as pausas entre um parágrafo e outro de produção melhora tudo o que tenho produzido na vida.

Aos colegas de curso e de trabalho, agradeço pelo incentivo e pelo apoio constante. E todos aqueles que de alguma forma estiveram e estão próximos de mim, fazendo está vida valer cada vez mais a pena.

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[...] O grito antes preso na garganta já não me consome É pra acabar com o machismo, e não pra aniquilar os homens

Quero andar sozinha, porque a escolha é minha Sem ser desrespeitada e assediada a cada esquina Que possa soar bem Correr como uma menina Jogar como uma menina Dirigir como menina Ter a força de uma menina Se não for por mim, mude por sua mãe ou filha

Respeita as mina Toda essa produção não se limita a você Já passou da hora de aprender Que o corpo é nosso, nossas regras, nosso direito de ser [...]”

Compositores: Keylla Cristina Dos Santos Batista / Ricardo Bonadio Letra de Respeita as Mina © Universal Music Publishing Group, 2018.

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RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo verificar os caminhos e desafios enfrentados por alunas do ensino médio e atletas amadoras para praticar o futsal nas escolas. Desta forma, propõe-se abordar as dificuldades enfrentadas pelas alunas e atletas desde o início da prática do futsal feminino até os dias atuais, enfatizando estas no espaço escolar. Portanto, foram elaborados dois questionários, sendo um destinado às alunas de ensino médio de uma escola do município de Ijuí e outro às atletas amadoras de futsal, acima de 19 anos, que atualmente estavam disputando um campeonato no município de Ijuí, identificando onde ocorreu a iniciação no futsal, caminhos percorridos e principais dificuldades. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa e quantitativa. A análise dos dados foi realizada com estatística descritiva (distribuição de frequência relativa e absoluta). Como resultado da pesquisa, pode-se perceber que a maioria (83,3%) das alunas do ensino médio tem a iniciação ao futsal no espaço escolar, já a maioria (56%) das atletas amadoras começou a jogar futsal nas ruas. Com relação aos jogos de futsal, a maioria das meninas respondeu que as equipes eram mistas. Foi verificado que 36% das atletas amadoras e 80% das alunas do ensino médio, ao participarem do futsal feminino na escola, alegaram terem encontrado maior oposição ou preconceito por parte dos colegas do sexo oposto. Quanto ao incentivo por parte dos educadores, a grande maioria das atletas e das alunas são incentivadas pelos mesmos. Apesar da discriminação e preconceito ainda existentes, a prática do futsal feminino está recebendo incentivo para o avanço do esporte na categoria feminina.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características da iniciação da prática do futsal... 34

Tabela 2 - Características dos jogos de futsal... 35

Tabela 3 - Características da oposição ou preconceito enfrentadas pelas voluntárias para a

prática do futsal feminino... 35

Tabela 4 - Características sobre discriminação e incentivo as alunas e atletas amadoras de

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 8

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 12

2.1 GÊNERO: UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL ... 12

2.2 A MULHER, A SOCIEDADE E O ESPORTE ... 15

2.3 FUTSAL ... 20

2.4 FUTSAL FEMININO ... 22

2.5 A INICIAÇÃO AO FUTSAL FEMININO ... 27

2.6. FUTSAL: SUA INFLUÊNCIA NAS AULAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ... 29

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 34

4 APRESENTAÇãO E DISCUSSãO DOS DADOS ... 36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 41

REFERÊNCIAS ... 43

APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO APLICADO COM ALUNAS DO ENSINO MÉDIO... 48

APÊNDICE B: QUESTIONÁRIO PARA ATLETAS AMADORAS/PROFISSIONAIS: ... 50

APÊNDICE C: AUTORIZAÇÃO DA ESCOLA ... 52

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1 INTRODUÇÃO

Um dos esportes que vem sendo mais praticado atualmente no Brasil é o futsal. Hoje, podemos ver que o mesmo está crescendo e se desenvolvendo, pois o vemos sendo praticado em escolas, praças e clubes, no entanto, ainda tem pouca valorização no cenário mundial. Já o futsal feminino começou com muitas dificuldades no Brasil e no mundo, tanto com a sua estruturação do esporte, como na questão de igualdade de gênero, pois as mulheres eram vistas como um ser frágil e dependente, enfrentando assim preconceitos das normas sexistas que existem no contexto esportivo (GOELLNER, 2005).

Conforme Goellner (2003), a fragilidade do corpo feminino promoveu uma visível desigualdade entre os gêneros na apropriação ao esporte. Gerou-se uma ideia de que se a mulher se exercitar em excesso poderia ficar masculinizada, principalmente, em modalidades que exigem força e potência, capacidades essas consideradas inadequadas para a preservação da feminilidade da mulher. A mulher tinha que preservar atributos tais como a beleza, a delicadeza, a harmonia do seu corpo, o que causava uma grande preocupação de que o mundo esportivo para elas poderia manchar sua honra, porque sua aparência não seria correspondida ao esperado de um verdadeiro corpo feminino.

Hargreaves (1993) acrescentou um falso argumento utilizado popularmente de que os órgãos reprodutores femininos seriam mais vulneráveis de serem lesionados que os masculinos. Esse argumento foi utilizado em 1921, época em que a mulher foi proibida de praticar o futebol. A autora contestou esse argumento lembrando que na realidade os órgãos reprodutores femininos estão situados e protegidos dentro do corpo da mulher, que assim não teriam risco nenhum de sofrer alguma lesão.

No entanto, esse esporte era praticado somente por meninos e as meninas não podiam praticá-lo, pois isso poderia influenciar na maneira delas serem mães ou até mesmo nos seus corpos, deixando de ser feminina. Mas, em torno do século XX, a mulher começou a se interessar mais sobre o futsal e a praticá-lo, não somente como uma prática de lazer, mas em nível profissional, e com isso elas vêm conquistando, cada vez mais, o seu espaço nesse esporte, quebrando barreiras e atraindo, gradativamente, as mulheres a praticar esse esporte.

Com a presença da mulher no futsal, que vem aumentando bastante no país, ainda podemos identificar situações as quais fazem comparações com a sua fragilidade, reforçando a suposta masculinização em algumas modalidades esportivas, incluindo o futsal. Assim, sendo, como essa modalidade é prioritariamente, praticada por homens, as mulheres que o praticam estão sujeitas a vários preconceitos que associam sua imagem à homossexualidade ou a perda

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de atributos femininos voltados ao seu corpo. Com o suor excessivo, o esforço físico, as emoções, as competições, a rivalidade, os gestos agressivos do corpo, a liberdade de movimento, as imagem das jogadoras colocam a mulher em questionamentos acerca de sua sexualidade e seu corpo. A mulher que joga não se encaixa no que é considerado normal, a heterossexualidade (GOELLNER, 2005).

O futsal feminino está crescendo, e um dos fatores que vem contribuindo para isto é a divulgação e a diminuição do preconceito em relação a prática realizada por mulheres, pois os jogos começaram a ser transmitidos pela televisão, acontecendo mais competições escolares e universitárias. Comparando hoje com antigamente, os pais e maridos aceitam mais que suas filhas ou esposas pratiquem essa modalidade e incentivam para uma prática até em nível de competição. Hoje o esporte também tem uma opção mais difundida em função do treinamento ser dirigido para ambos os sexos, ocorrendo em nível informal e competitivo. E, se observa também, que algumas faculdades chegam a oferecer bolsas-atleta para acadêmicas que queiram praticar esse esporte e as representá-las.

Apesar das dificuldades que a mulher passou e passa para conseguir praticar essa modalidade, elas ainda continuam lutando pelo seu espaço no futsal. Querem romper paradigmas de que esse esporte seja somente praticado por homens, ou simplesmente pela preocupação com a aparência física ou por outros fatores que podem influenciar a realização desse desporto. Sendo assim, me indaguei sobre a seguinte questão: quais as dificuldades e desafios enfrentados por alunas do ensino médio de 15 a 17 anos e atletas amadoras, acima de 18 anos, com relação a pratica do futsal feminino na escola?

A escolha desse tema se deve também ao fato do futsal fazer parte da minha experiência de vida desde minha infância. Sempre tive contato com essa prática na escola, em quadras de ginásios, em quadras abertas, quadras de areia e gramado, no meio de potreiros onde juntamente com meu irmão e vizinhos fazíamos nosso próprio campinho para jogar bola, com traves de bambu ou até mesmo com pares de chinelos. O que mais me motivava a jogar bola era a paixão por esse esporte, amava e ainda amo praticá-lo, tendo como meu maior incentivador o meu pai, que antes de adoecer me levava para jogar com os rapazes mais velhos do que eu, em um campinho de grama que eles mesmos haviam confeccionado.

Com o passar dos anos, fui aprimorando os fundamentos, a técnica e a tática, por sempre estar jogando com os meninos e praticando cada vez mais na escola, assim como, com o apoio do professor de Educação Física. Nas séries finais do ensino fundamental, o professor me fez o convite para ir a Porto Alegre participar de uma peneira. Falou que eu tinha grande chance de passar, mas foi bem na época que meu pai estava com problemas de saúde, então

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minha mãe acabou não me autorizando a ir. Este fato me desmotivou um pouco e parei de jogar por mais ou menos um ano, mas como minha paixão pelo futebol era maior acabei voltando a praticá-lo no ensino médio.

Já no ensino médio, jogando no time da escola, comecei a participar dos jogos escolares. Ano em que o time ficou pela primeira vez em segundo lugar, pois sempre acabava perdendo nas quartas de finais. Fui convidada a participar de vários times da cidade de Ijuí e acabei participando de campeonatos municipais e regionais em outras cidades. Mas foi em 2015 que tive uma grande oportunidade de participar de uma competição em nível estadual de futsal pelo time Associação Santo Ângelo de Futebol Feminino (ASAFF) da cidade de Santo Ângelo-RS, ficando como quarta melhor equipe do estado. Na ocasião, não recebia para jogar, mas também não tive gasto com viagens e alimentação, os gastos eram pagos pelo time.

Além do futebol/futsal me proporcionar várias experiências, me fez adquirir gosto por esportes em geral, o que me motivou também a escolher a Educação Física como profissão. Assim, na metade do ano de 2012 ingressei no curso de Licenciatura em Educação Física, na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Com o andamento das disciplinas do curso fui absorvendo informações sobre a parte pedagógica, cultural e social deste esporte, que me fez refletir muito sobre o assunto além da minha prática. Na UNIJUÍ, integro a equipe de futsal desde 2014, na qual tive o prazer de disputar campeonatos universitários, em nível regional, e sempre conquistando a posição de estar entre as quatro melhores universidades do estado.

Hoje em dia jogo em times da cidade de Ijuí e fora dela também, participando de competições regionais, municipais e de torneios. Continuo essa prática por amor e paixão ao esporte, pois não consigo parar, não me imagino ficar sem jogar. Portanto, o que mais me motivou a escolha desse assunto para este estudo, é o amor que sinto por esse esporte, por ele fazer parte da minha experiência de vida. Também, por perceber que cada vez mais as meninas estão gostando de jogar o futsal, tanto dentro de escola, como fora dela.

Podemos perceber que há uma grande adesão do público feminino pela prática do futsal. Diante disso, a proposta deste estudo terá como objetivo verificar quais os desafios enfrentados por alunas do ensino médio de 15 a 17 anos e por atletas amadoras, com relação a prática do futsal feminino. Tem como objetivos específicos identificar quais as dificuldades e desafios enfrentados pelas meninas na prática do esporte dentro do espaço escolar, buscando identificar onde ocorreu sua iniciação ao futsal feminino, verificar a influência da família/amigos/professores à prática dessa modalidade, investigar os preconceitos vivenciados

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dentro e fora do espaço escolar ao longo da sua prática em frente a esse esporte e por fim verificar as suas expectativas quanto ao futsal na escola ou fora da mesma.

A seguir, abordo, no referencial teórico, alguns temas que darão subsídios para melhor compreender o objeto central deste estudo, auxiliando na análise dos dados coletados. Na sequência são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados para a aquisição dos dados. Posteriormente, apresento os dados e a análise dos mesmos. E, para finalizar, faço minhas considerações finais sobre o estudo.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo será abordado alguns temas que darão subsídios para compreender melhor o objeto central deste estudo, auxiliando na análise dos dados coletados. No primeiro momento, será tratado o tema sobre gênero e sociedade, trazendo conceitos sobre os mesmos, relatando de como a mulher era e é vista na nossa sociedade, bem como, relacionando com a sua participação no esporte.

Para melhor compreender como ocorreu a inserção da mulher no esporte, no segundo tema, será discutido a participação da mulher no esporte e como ocorreu sua iniciação nesse meio e caminhos percorridos por elas para sua visualização na modalidade do futsal. Ou seja, relata alguns acontecimentos transcorridos no decorrer do tempo, preconceitos vivenciados, discriminação e a evolução da mulher nesse esporte.

Para melhor compreensão dessa história, será abordado como tema o futsal, contando historicamente o seu surgimento no Brasil e a sua evolução. Será discutido especificamente o futsal feminino, o seu surgimento, a sua evolução no país e as diferenças e comparações entre a mulher e o homem nesse esporte que era considerado somente masculino. Relata ainda alguns argumentos utilizados para a proibição da prática por mulheres nesse esporte.

Ainda, é discutido como se deve dar a iniciação da menina no futsal feminino, a importância do papel do profissional de educação física nessa iniciação, os cuidados que os mesmos devem ter em relação a essa iniciação esportiva tanto pedagógica como motivacional, dando oportunidades igualitárias para eles e elas, e não as excluí-las das atividades relacionadas à prática do futsal, como muitas vezes acontece.

Para finalizar o referencial teórico, o último tema expõe a importância do futsal como conteúdo nas aulas de educação física escolar, bem como, o significado do professor no processo de ensino-aprendizagem dessa modalidade, de não somente ensinar a técnica para os alunos, mas também trabalhar de forma lúdica para motivar o aluno a essa prática, trabalhando outras concepções que possam desenvolver as habilidades físicas, cognitivas, psicológicas e sociais das crianças, contribuindo para o seu desenvolvimento global na infância e adolescência.

2.1 GÊNERO: UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL

O conceito de gênero é utilizado para caracterizar a construção social sexo-biológica, fazendo uma distinção entre aspectos biológicos associados à natureza (sexo) do aspecto social e associada à cultura (gênero). Já, a sociedade define as pessoas como homens e mulheres,

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macho ou fêmea, masculino ou feminino, desde seu nascimento com base nas suas características físicas do corpo humano, e as ciências sociais apresentam que o gênero se refere à organização social da relação entre os sexos e mostra que homens e mulheres são produtos do contexto social e histórico e não resultado da análise de seus corpos (SCOTT, 1990).

Assim, o conceito de gênero não é algo criado pelo senso comum mas que tem embasamento científico, pois segundo GDE1:

Para as ciências sociais e humanas, o conceito de gênero se refere à construção social do sexo anatômico. [...] criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social. [...] gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos. (GDE, 2009, p. 39).

No entanto, o sexo não determina a identidade de gênero ou orientação sexual de um indivíduo. Mas diz respeito à atração que a pessoa sente por outro indivíduo do mesmo sexo ou não, e geralmente envolve questões sentimentais e não somente sexuais. Conforme Grossi (1998), a identidade de gênero remete ao sentimento individual de cada um, ou seja, ao longo de nossas vidas, desenvolvemos uma percepção de quem realmente somos. E definir ser homem ou mulher faz parte de um processo cultural porque já nascemos com sexo biológico (masculino e feminino) para além do qual nos tornamos homens e mulheres.

Suárez (2000) frisa que o gênero constata uma ligação entre homens e mulheres e a natureza com a finalidade mesmo que alusivo, da igualdade entre eles. Ou seja, o conceito de gênero é entendido como desnaturalização do sexo, como características biológicas de cada indivíduo, delimitando o poder entre os sexos.

Assim às mulheres são atribuídas qualidades como paciência, fragilidade, emoção, aos homens são atribuídos qualidades como agressividade, força e dinamismos. Permitindo pensar que nas diferenças do conhecimento de gênero sem transformá-las em desigualdades, ou seja, sem que essas diferenças sejam ponto de partida para a discriminação (SANTANA e BENEVENTO, 2013).

A mulher é vista muitas vezes com uma força que se traduz no emocional, pois gera e educa os filhos, organiza o lar, sendo compreensiva com questões do marido e de toda a família. Cabral e Diaz (1999) evidenciam que as questões referentes à mulher são tratadas sob o termo gênero, buscando socialmente entender relações estabelecidas entre homens e mulheres, assumindo assim cada um o seu papel na sociedade e as relações de poder determinados entre eles. Assim, a mulher é conduzida desde pequena ao papel que deve desempenhar, sendo

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incentivada a brincar com brincadeiras consideradas femininas, como brincar de bonecas, casinhas, e aprender a cuidar do lar.

[...] Ou seja, as meninas brincam de boneca, de casinha, de fazer comida, de limpar a casa, tudo isto dentro do lar. Pelo contrário, os meninos brincam em espaços abertos, na rua. Eles jogam bola, brincam de carrinho, de guerra, etc. Ou seja, desde pequenos eles se dão conta que pertencem ao grupo que tem poder. Até nos jogos os meninos comandam. Ninguém os manda arrumarem a cama, ou lavarem a louça, eles são incentivados a serem fortes, independentes, valentes. (CABRAL e DIAZ, 1999, p. 142).

O conceito de gênero atribui ao conjunto de representações sociais e culturais a partir da diferença biológica dos sexos. Enquanto o sexo no conceito biológico refere-se ao atributo anatômico, no conceito de gênero se refere ao desenvolvimento das noções de masculino e feminino como construção social (CARLOTO, 2001).

Essas representações sociais são formas de compreender a vida diária em sociedade, onde o sujeito é valorizado com a participação na produção de significados ocorrido na vida cotidiana (TEIXEIRA, 1999), de modo que essas representações sociais são entendidas e constituídas no dia-a-dia da vida social, a partir de um processo sociocultural, entre os sujeitos sociais local, ocorrendo essa construção em todos os espaços da sociedade.

A sociedade humana é histórica, e vai mudando de acordo com seus padrões de desenvolvimento de produção, normas sociais e dos valores. Conforme ocorre a transformação, atinge as representações de gênero, constituindo os papeis de cada um em seu modo de ser. Essas representações são uma construção cultural que ultrapassa séculos e são transmitidos de geração em geração, constituída em cultura, definindo o lugar do homem e da mulher com competências diferenciadas e contraditórias. Apesar das transformações dos costumes e dos valores que vem ocorrendo nas últimas décadas, ainda persistem muitas discriminações relacionadas ao gênero (SWAIN, 2001).

Swain (2001) expõe que os instrumentos de socialização são inúmeros para conformação de identidade de gênero. Que as relações sociais, sejam elas no âmbito familiar, comunitário ou nas políticas públicas se fazem presentes e interagem em diversos níveis, tanto no domínio das práticas, mas também no domínio psíquico. Definindo tais relações pela colocação de papeis sociais, de expectativas e representações de comportamentos, baseando-se de uma caracterização biológica do masculino e do feminino.

Entretanto, Goellner (2001) refere que a construção social do sexo é um consenso do gênero e que diferencia homens e mulheres, não apenas pelos aspectos biológicos, mas sociais,

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históricos e culturais. Altmann e Sousa (1999) salientam e confirmam a ideia que determinadas culturas, constituem e estabelecem suas construções para o feminino e o masculino.

Assim como Scott (1995), enfatizo que as representações históricas de antigamente interferem na construção de gênero presente. Desta forma, o peso da história da mulher em nossa sociedade é importante, mesmo quando tentamos analisar e justificar sua situação no meio esportivo, levando em consideração suas peculiaridades construídas no universo feminino, como a fragilidade física, maternidade e a feminilidade.

Como todos sabem existem diferenças entre homem e mulher, não somente em fatores biológicos. Ou seja, é através desse determinante que surgem conceitos e interrogações em relação a esses indivíduos que residem na sociedade brasileira.

A construção dos corpos masculinos e femininos passa a ser analisada e delimitada aos assuntos de gênero e nos últimos anos vem sendo argumentado por vários estudiosos de diversas áreas. A historiadora feminista Scott (1995, p. 86) traz o conceito que “o gênero é um elemento constituído de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e o gênero é uma forma primária de dar significado as relações de poder”.

No meio do universo do futebol no Brasil, observa-se que esta modalidade é uma concepção de poder designada ao sexo masculino e se manifesta desde a infância. Percebemos que a educação de meninos e meninas se obtém antes mesmo de serem inseridos na escola, e refletem bastante nas aulas de Educação Física com discriminações e preconceitos de gênero. Mourão (2003, p. 144) traz a seguinte conclusão “O esporte e a atividade física não fazem parte da realidade feminina brasileira; esse é um direito que hoje as mulheres não desfrutam por não terem sido educadas para isso”.

A participação feminina no esporte gera muita discriminação, preconceitos, manifestações e questionamentos, pois as mulheres são protagonistas nas modalidades esportivas definidas culturalmente como masculinas. A inserção da mulher teve influências europeias, foi no início do século XIX que surgiram as primeiras participações das mulheres no atletismo, no ciclismo e no turfe (GOELLNER, 2001).

2.2 A MULHER, A SOCIEDADE E O ESPORTE

Na antiguidade as mulheres eram proibidas de participar dos jogos olímpicos tanto como atletas quanto espectadoras, e foi um caminho bem longo percorrido por elas. As mulheres tiveram que lutar e se esforçar para conseguir um espaço na prática do esporte. Isto é visto, pela predominância da presença masculina no esporte e da menor exposição das mulheres

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(DUNNING e MAGUIRE, 1999). A participação da mulher em atividades esportivas mudou muito ao longo dos tempos, seja como atleta ou espectadora, variando de cultura para cultura, e de época para época.

Foi a partir do século XIX que o cotidiano e a vida da mulher doméstica começou a mudar significativamente, para um mundo mais desenvolvido. Por volta 1875 em diante, as mulheres começaram a ter menos filhos. “Não obstante, é razoável supor que o fato de ter menos filho foi, na vida das mulheres, uma mudança mais notável do que a de ver sobreviverem mais filhos seus” (HOBSBAWM, 1998, p. 273). Nessa época a vida da mulher melhorou consideravelmente, mas continuava num mundo privativo. A mulher só podia fazer aquilo que se tinha uma aprovação social, ou seja, a vida da mulher era determinada por formas sociais, totalmente voltadas para um conjunto de capacidades muito delimitado.

A mudança na posição e nas expectativas sociais das mulheres a partir da década de 1870 se tornou óbvia. A mulher começou a lutar pelo direito do seu voto; da educação; a participar de movimentos operários e socialistas; e pelo direito de sair para trabalhar fora e de ter uma profissão (HOBSBAWM, 1998; MARÍAS, 1981).

Com a luta da mulher buscando mais visibilidade, liberdade, igualdade e uma inserção no âmbito social pôde ser observada no decorrer dos anos levando a uma divisão social. A mulher passou a ser reconhecida como um sujeito ativo na sociedade e ganhando seu espaço, ganhando seu direito à cidadania, regulando o seu papel como agente transformador. (ALTTIMAN e COSTA, 2009).

A mulher vem querendo modificar seu status socialmente no decorrer dos últimos 50 anos, buscando o reconhecimento que pode ser observado depois de muitos anos de lutas, quebrando a desigualdade social, enfrentando preconceitos e proibições. Constata-se que antes a mulher era vista como um ser frágil, dona de casa, responsável pela criação e educação dos seus filhos, e agora passa a ter um reconhecimento social, conquistando novos papéis sociais, inclusive ajudando economicamente no lar, ou seja, trabalhando dentro e fora de casa, tornando-se financeiramente independente (ALTTMAN e COSTA 2009).

Assim como a mulher conquistou vários ambientes na sociedade, o do meio esportivo vem se mostrando um de muita importância para a visibilidade da luta feminina. A mulher vem ocupando no espaço esportivo como apresentadora, comentarista de programas esportivos, árbitra, técnica e até como atleta, assim como em vários esportes coletivos ou individuais, entre essas áreas consideradas masculinas e de grande visibilidade da mídia, que gera para a sociedade um tipo de compreensão sobre os papeis que podiam ser desempenhados por elas.

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Apesar da sempre crescente presença feminina na vida esportiva do país, a situação atual das mulheres deve ser avaliada com cautela. Mesmo que sua participação como esportistas seja significativa, ainda é consideravelmente menor que a dos homens (MOURÃO e MOREL, 2005, p. 80).

Complementando a explicação, e expondo as conquistas das mulheres em vários níveis sociais, Nascimento (2008) diz que:

[...] hoje, as mulheres já fazem todo tipo de serviço, muitas vezes com melhor qualidade que os próprios homens. É comum, ver-se mulheres nos tribunais, exercendo com maestria a profissão de advogadas, promotoras, juízas, profissões que eram antigamente, exclusivamente “para” os homens, [...] Há a presença feminina em todos os níveis executivos das empresas e do governo[...] (NASCIMENTO, 2008, p. 1).

Desta forma, a mulher conquistou importantes áreas no meio da sociedade ao ser inserida em muitas que antes eram consideradas totalmente masculinas. Mas, nota-se que no meio esportivo há muito ainda a ser conquistado, pois a predominância dos homens ainda é muito maior, por isso a mulher ainda encontra muita dificuldade, discriminação e preconceito ao praticar alguma modalidade esportiva dominada por eles.

Foi em 1900, que a mulher teve sua primeira participação nos Jogos Olímpicos de Paris, onde 19 mulheres competiram em dois esportes – o golfe e o tênis. A inclusão da mulher nesses dois esportes se deu pelo fato, que não existia o contato físico entre elas e por serem consideradas esteticamente belas (COI, 2003).

No entanto, foi por volta do final do século XIX, e do início do século XX, que as mulheres começaram a praticar esportes inaceitáveis pela sociedade até então - como o rugby, o boxe e o hockey - por serem considerados esportes inapropriados para as mulheres, pois estavam com ideia dessas modalidades serem totalmente denominadas masculinas. E caso se tornassem modalidades femininas, estariam indo contra os posicionamentos ideais contemporâneos e contra aprovação social, enquanto a sua feminilidade e ao modo de ser ao corpo feminino. De acordo com Goellner (2005, p. 145), na transição do século XIX para o XX “o temor à desmoralização feminina frente à exibição e espetacularização do corpo se traduzia num fantasma a rondar as famílias, em especial, as da elite”.

A condição do esporte ser praticado somente por homens foi alterando-se a medida que as mulheres foram aumentando a sua autoconfiança, o seu posicionamento e a independência no seu modo de ser e de poder. Ou seja, à medida que elas ingressarem no esporte, concorreriam com tais experiências para questionar as ideias e instituições tradicionais de superioridade

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masculina. Ao tentar combater a ideia de que o esporte era somente masculino, as mulheres, principalmente no EUA, tiveram o apoio de alguns homens com influência no esporte. Por exemplo, do James Naismith, o inventor do basquete, para ser jogado por jogadores de futebol no inverno em 1891, e declarou que esse esporte era ideal para mulheres praticarem (DUNNING e MAGUIRE, 1999).

Além disso, o movimento esportivo feminino ganhou força com a dedicação da francesa Alice Melliat, que frequentava os estádios de esportes, convencida de que o mesmo auxiliava no desenvolvimento da personalidade, da coragem e de um espírito ágil. Com o passar do tempo se tornou uma ótima atleta, sendo a primeira mulher a obter o diploma que era concedido a remadores de longa distância. Mas foi em 1917, que Alice fundou a Federação de Sociedade Femininas da França (FFSF). Ela organizou também a Olímpiada Feminina, em 1921, em Mônaco, que contou com a participação de países como a Inglaterra, Suíça, Itália, Noruega e França. Com o apoio dos EUA, Itália, Inglaterra, Tcheco Eslováquia e França, criou-se a Federação Internacional Desportiva Feminina (FSFI) em 31 de outubro de 1921. Já em 1922, a Segunda Olímpiada Feminina contou com 300 mulheres aproximadamente de 7 países. Não muito contente com a atenção dada as mulheres nos Jogos Olímpicos de 1928 e 1932, Alice Melliat decidiu realizar os Jogos Mundiais Femininos em Praga, Tcheco Eslováquia e Londres em 1930 e 1934. No ano de 1938, a FSFI se extinguiu, pois as provas femininas foram pouco a pouco sendo incluídas nos Jogos Olímpicos (CARRILLO, 2000).

Com o aumento do movimento feminista e com decorrente questionamento dos papeis sociais, as mulheres que não aceitavam o feminismo passaram a participar de atividades esportivas. Desse modo, se contribuiu para debater antigas crenças, como a ideia de que as mulheres são o sexo frágil ou que lhes faltam espírito competitivo e coletivo (ALONSO, 2003). Entretanto, o desempenho da mulher foi melhorando e alcançando marcas que antes eram apenas alcançadas pelo homem. Elas estavam lutando por seus direitos, mas as atletas, musculosas, suadas e fortes, eram ainda vistas pela sociedade e imprensa como ofensivas, pouco femininas e sua individualidade sexual era posta sob dúvida por médicos e aos dirigentes esportivos. Conforme Goellner (2005),

[...] o suor excessivo, o esforço físico, as emoções fortes, as competições, a rivalidade, os músculos delineados, os gestos especularizados do corpo, a liberdade de movimentos, a leveza das roupas e a seminudez, práticas comuns ao universo da cultura física, quando relacionadas à mulher despertavam suspeitas porque pareciam abrandar certos limites que contornavam uma imagem ideal de ser feminina. Pareciam, ainda desestabilizar o terreno criado e mantido sob o domínio masculino cuja justificativa, assentada na biologia do corpo e do sexo, deveria atestar a superioridade deles em relação a elas. (GOELLNER, 2005, p. 92).

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Embora o crescimento da presença da mulher nos jogos se deu a partir da década de 50, alguns médicos ainda defendiam a ideia que poderia ser prejudicial para a saúde da mulher em provas de longas distâncias como a maratona. Foi então a partir de questionamentos de papéis sociais estimulados pelo movimento feminista no ano de 1960, onde criticavam os pressupostos de que as mulheres deveriam somente se dedicar a casa, a família e dedicar-se a sua feminidade, já que passaram a participar mais de modalidades esportivas, conforme Alonso (2002).

A mulher foi rotulada por muitos anos como um ser de sexo frágil. Atualmente vem conquistando um espaço especial na nossa sociedade. Invadiram os campos de futebol, as quadras, piscinas e todo o complexo esportivo que antes era dominado por homens. Foi um grande avanço para o mundo do esporte que cedeu aos encantos do universo feminino. Com toda a sua garra, coragem e força de vontade, se tornaram campeãs e vencedoras de seus próprios limites, rompendo os preconceitos e discriminações existentes nesse meio esportivo.

No entanto, a história da mulher nesse universo cultural do esporte foi e é marcada por rupturas, insistências, avanços e recuos. Tanto que a melhor visibilidade que elas tiveram no esporte foi quando participaram da segunda etapa dos Jogos Olímpicos Modernos, mesmo sob protesto de várias pessoas, pois consideravam que a mulher podia vulgarizar esse ambiente tão repleto de honras e conquistas ocupado por homens (GOELLNER, 2003).

A medida que o tempo foi passando e o crescimento da sociedade aumentando, a mulher foi perdendo o seu espaço em relação ao esporte. Isto é, passando a ser apenas dona de casa, com a sua principal função de cuidar do lar, sendo de suma importância para a criação e educação dos seus filhos, fazendo com que sua participação em modalidades esportivas fosse repreendida. Diante de tudo isso, a mulher teve que ser reinserida no meio esportivo, lutando e enfrentando paradigmas que foram se formando pela sociedade e que caracterizava a mulher unicamente feminina e com características físicas inapropriadas para a prática de alguns esportes, assim como se refere Teixeira Junior (2006):

O futebol foi negado as mulheres por argumentos extremamente machistas e infundados. Falava-se que o campo de futebol, colocava em prova as representações de feminilidade, comprometendo graciosidade, a harmonia das formas, a beleza, sensualidade e delicadeza da mulher. (TEIXEIRA JUNIOR, 2006, p.16).

Apesar de vivermos em mundo que ainda favorece muito os homens, nossa realidade vem mudando. Não chegamos a um ideal ainda, mas a culpa não é delas, já que bons exemplos de luta e superação não falta. A seguir trago alguns exemplos de mulheres brasileiras citadas

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no portal iG São Paulono dia das mulheres 07 de março de 2017, essas que contribuíram para a visibilidade da mulher no esporte.

A precursora é a brasileira Maria Lenk, que foi a primeira sul-americana a participar de uma Olimpíada, com apenas 17 anos, em 1932. Não conquistou pódio, mas o feito foi considerado um marco para a história do esporte nacional. Até hoje ela é vista como a principal nadadora brasileira da história e única mulher do pais a entrar para o Hall da Fama da natação.

Outra foi a carioca Aída dos Santos, a primeira brasileira a disputar uma final olímpica, ficando em quarto lugar no salto em altura na competição de Tóquio, em 1964, sendo a única mulher da delegação do Brasil. Após quatro anos, voltou a participar dos Jogos da Cidade do México.

O que falar da Hortência então, uma das maiores jogadoras brasileiras de basquete de todos os tempos. Participou da conquista do mundial de basquete de 1994 e da medalha de prata nas Olimpíadas de 1996. Em 2005, entrou para o Hall da Fama do basquete feminino.

E da gaúcha Daiane dos Santos a primeira ginasta brasileira a conquistar a medalha de ouro, entre os homens e mulheres, em uma edição do Campeonato Mundial. E possui ainda movimentos nomeados em sua homenagem, como o consagrado duplo twist carpado.

E no meio futebolístico não podemos deixar de citar Marta, que entrou na Seleção Brasileira em 2003 e é a maior artilheira da história vestindo a camisa verde e amarela. Em 2015, a camisa 10 superou a marca de 95 gols de ninguém menos que Pelé. Ganhou seis vezes a Bola de Ouro pela Fifa. Marta mostrou ao mundo que não somente os homens fazem do Brasil o país do futebol. É chamada por muitos de rainha e, com certeza, é uma das maiores da história.

2.3 FUTSAL

O Futsal surgiu no Brasil por volta do ano de 1940 pelos frequentadores da Associação Cristã de Moços, em São Paulo (SP), que tinham dificuldades de encontrar campos de futebol livres para poderem jogar, então começaram a jogar em quadras de basquete e hóquei. Existe outra versão quanto ao surgimento do futebol de salão, que surgiu no Uruguai, na Associação Cristã de Moços (ACM) de Montevidéu, onde as primeiras regras foram redigidas em 1933, pelo Professor Juan Carlos Ceriani, sendo o futsal praticado por jovens como forma de recreação entre eles. Mas foi o Brasil o grande responsável pela expansão do futebol de salão (SANTANA, 2008).

Alguns autores atribuem ao Brasil o nascimento do Futsal, como Teixeira Jr. (1996) e Figueiredo (1996). Mas autores como Apollo (1995), Lucena (1994) e Zilles (1987) relatam

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que o Uruguai foi o criador deste esporte. Não se sabe muito o certo se foram os brasileiros que quando foram visitar a ACM2 de Montevidéu viram essa prática e voltaram estendendo a mesma para todo o país ou se levaram do Brasil o hábito de jogar futebol em quadras de basquete.

O esporte se tornou popular em todo o país a partir de 1950, quando levou ao surgimento de Federações e Confederações, assim como o desenvolvimento das suas regras e competições (FERREIRA, 2001, p. 24). A primeira Federação de desporte no Brasil foi fundada em 28 de julho de 1954, denominada Federação Metropolitana de Futebol de Salão, que atualmente é a Federação de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janeiro, que tinha como presidente Ammy de Moraes. Ao passar dos anos foram sendo estabelecidas Federações em todos os estados brasileiros. No decorrer do tempo o futebol de salão foi se fortalecendo e ganhando seu espaço e propriedade no cenário brasileiro, tendo mais organização e adeptos para a modalidade (CBFS, 2018).

Algumas décadas depois, a modalidade teve um termo para denominar esse esporte. “Fut-sal” foi o termo criado por FIFUSA3, pois a FIFA4 proibiu de se utilizar o nome Futebol por entidades que não era de sua propriedade. Posteriormente, foi adotado pela FIFA, mas sem a utilização do hífen, e tornou-se desta entidade. Acabou sendo uma mudança importante na trajetória do Futebol de Salão na década de 90, pois foi feita sua fusão com o futebol de cinco, prática esportiva reconhecida pela FIFA, e assim surgiu uma nova modalidade denominada Futsal, nomenclatura escolhida para identificar esta fusão no contexto esportivo internacional (CBFS, 2010).

Mesmo o Futsal não sendo um esporte Olímpico vem crescendo a cada ano que passa, por ter várias pessoas praticando-o, como afirma Santana (2005), ao relatar que o Futsal se desenvolveu significativamente nos últimos anos. Isso se deve as alterações nas regras, tornando-se um esporte mais dinâmico, competitivo e atraente. Para justificar o aumento de pessoas praticando essa modalidade, Santana (2005), afirma, ainda, que como os espaços públicos das cidades diminuíram, as pessoas tiveram que jogar em lugares pequenos, dessa forma, o Futsal foi adaptado para essa prática, pois precisa somente de uma bola e metas que podem ser improvisadas facilmente, sendo sua adesão de fácil adaptação.

2 ACM: Associação Cristã de Moços.

3 FIFUSA: Federação Internacional de Futebol de Salão. 4 FIFA: Federação Internacional de Futebol.

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2.4 FUTSAL FEMININO

Ocorrem muitas comparações entre o futsal feminino e o masculino, sendo que as diferenças são enormes em relação aos salários, infraestrutura e investimentos. Mas por trás dessas comparações o desempenho das mulheres é positivo, o belo futebol, a garra e a dedicação das jogadoras servem como uma forma de diminuir o preconceito, e acabam estimulando-as a jogarem.

Quando se tem uma visão recorrente e histórica se tratando da mulher no esporte, suas primeiras participações se deram no início do século XX. Segundo Goellner (2005), ao investigar alguns argumentos em busca de justificar a exclusão das mulheres em determinadas modalidades esportivas consideradas por muitas violentas e masculinas, como o futebol e as lutas, as mulheres estão se destacando com sucesso.

[...] nesta prática poderia infringir as leis da natureza, pois, ao mostrarem-se mais forte do que se suponha, seria fissurado o discurso das diferenças naturais cuja base estava assentada na sobrepujança física de um sexo sobre o outro”. (GOELLER, 2005, p. 145).

Ao longo da sua história, dois argumentos foram profundados e utilizados para justificar a suspensão da participação das mulheres na prática do futebol. O primeiro era que este esporte era somente para homens, e que a participação da mulher levaria a masculinização das mesmas. E o segundo argumento utilizado era que a mulher tinha que preservar a representação da mulher feminina, preservando sua beleza, graciedade, harmonia e principalmente a sua sensualidade (GOELLNER, 2005). Segundo a autora por estarem conectados, esses argumentos enfatizam discursos que criticam a participação das mulheres no futebol.

Foram utilizados argumentos para afastar a mulher da prática do Futebol ou Futsal. Ballariny (apud FARIA JUNIOR, 1995), afirmou que era um esporte muito violento e prejudicial para o corpo feminino, podendo causar danos aos órgãos reprodutores. Ballariny acreditava que com a prática a mulher poderia ficar com o corpo masculinizado, desenvolvendo pernas mais grossas, tornozelos mais rechonchudos e joelhos deformados, deformando assim o padrão do corpo feminino. Outro falso argumento utilizado para evitar o Futsal Feminino foi à ocorrência de lesões mamárias (FARIA JÚNIOR, 1995).

E foi durante o século XX, que surgiu, no Brasil, às políticas públicas com a proibição legal da participação das mulheres em determinadas modalidades esportivas. Criadas pelo governo do Presidente Getúlio Vargas, proibiu as mulheres de praticar qualquer tipo de esporte

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como o futsal, futebol, beisebol e lutas de qualquer natureza e foi implementado em 1965 pelo Conselho Nacional de Desportos (GOELLNER, 2005).

Com a suspensão do Decreto-Lei a partir dos anos 70, teve um aumento, mesmo que lento, mas progressivo da participação da mulher no futsal, e assim surgiu um movimento voltado para a erotização dos seus corpos, na afirmação de um novo determinado padrão de feminidade. A partir de então, elas poderiam jogar desde que mantivessem sua feminidade. A erotização, objetificação e espetacularização dos corpos e ações femininas ainda estão presentes nos dias atuais do mundo dos esportes. São constantes comentários e reportagens sobre a aparência das jogadoras, o que dificilmente ocorre com jogadores masculinos (GOELLNER, 2005).

Por muitos anos a participação das mulheres dentro de campo ou das quadras estava restrita somente a torcida. Mas foi em 1981, 16 anos após sua criação, que o decreto foi revogado. As mulheres tiveram muitas dificuldades em poder jogar o Futsal, para se ter uma ideia, a prática desse esporte por mulheres foi ser oficializada somente em 1983, pelo Conselho Nacional de Desportos (CND) (TEIXEIRA, 1992).

Como podemos constatar, a mulher não podia, por exemplo, praticar o futebol, sendo que mais tarde sua participação influenciou diretamente para isso, já que ela teria que ir contra a sociedade. A primeira partida de futebol foi realizada em 1988, em Londres, entre os times de Inglaterra e Escócia (VASCONCELOS, 2009).

Porém, o futsal, assim como o futebol, se caracterizava como um espaço dominado pelos homens, construído historicamente e, com a participação feminina, vem passando recentemente por um processo de fortalecimento, bem como, sofrendo ainda com as barreiras socioculturais. Como por exemplo, a prática do futsal feminino só foi autorizada pela Federação Internacional de Futebol de Salão (FIFUSA) em 1983 (SANTANA; REIS, 2003). Além do que, a mulher no futsal é uma figura tímida, pelo fato de que o esporte é de domínio masculino, e que falta muito incentivo e patrocínio das equipes profissionais (GOELLNER, 2005).

O primeiro Campeonato Feminino organizado pela Confederação Brasileira de Futsal foi em 1992, tendo a participação de 10 equipes indicadas por suas respectivas federações. Desde então, o esporte começou a se popularizar cada vez mais, atraindo mais mulheres a praticá-lo. A partir de 2003 passaram a contar com uma Seleção Nacional Feminina de Futsal, conforme a CBFS5.

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Atualmente o futsal vem sendo praticado por várias brasileiras, pois o mesmo exige um espaço menor e um número reduzido de atletas para que se realize um jogo, quando comparado ao futebol. Então, é bem mais fácil de conseguir fazer um jogo de futsal feminino do que de futebol feminino, tanto nas escolas como fora dela. No entanto, não podemos dizer que a inserção da mulher brasileira nesses esportes foi fácil. Pelo contrário, a mulher enfrentou muitos preconceitos ao longo da história até conseguir ter o direito de praticar futsal/futebol. Alguns desses preconceitos podemos ver através da carta de José Fuzeira enviada a Getúlio Vargas:

[...] [venho] Solicitar a clarividente atenção de V. Ex. para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina. Refiro-me, Sr. Presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadores de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar esse esporte violento, sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe... Ao que dizem os jornais, no Rio, já estão formados, nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte também já está constituindo-se outros. E, neste crescimento, dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil, estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol, ou seja, 200 núcleos destroçadores de saúde de 2.200 futuras mães que, além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes. (Jose Fuzeira, em carta datada de 25/04/1940 e repercutida pela imprensa). (TEIXEIRA JUNIOR, 2006, p.16).

Como podemos ver esta carta mostrava a preocupação de um homem, e foi como uma intuição, pois logo após isso, por volta dos anos 80, mais ou menos 200 times aguardavam a oficialização e a liberação do esporte no Brasil, pela CND6, em visto que teve que garantir que iria oficializar, pois já reconhecia que esta prática tinha se tornado popular pelo público feminino (BRUHNS, 2000).

Com o crescimento e popularização desta modalidade, mulheres de diferentes idades e condições socioeconômicas começaram a ter espaços para mostrar suas habilidades dentro da quadra. E tudo começa com um incentivo na escola e, também, em treinos para competições. Assim como os homens, jogadoras brasileiras de Futsal têm ganhando o mundo com os seus altos níveis de habilidade técnica e tática individual/coletiva, e também chegou à era do profissionalismo, o que era diversão passou a ser ofício.

[...] Hoje nos países europeus e nos Estados Unidos o futebol/futsal é uma realidade que movimenta milhões. Podemos citar a copa da "UEFA" de futebol feminino, que ocorreu em 2005, na qual a Alemanha foi campeã. Mas, o maior evento nessa área é a Copa do Mundo de Futebol Feminino da FIFA que teve início em 1991 sendo realizada também a cada 4 anos. (TEIXEIRA JUNIOR, 2006, p. 13-14).

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Em 2014, o coordenador de futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, causou muita polêmica e foi acusado de sexista e machista, por ter comentado sobre os uniformes que a seleção feminina usaria para a Copa de 2015:

Agora as mulheres estão ficando mais bonitas, passando maquiagem. Elas vão a campo de uma maneira mais elegante. Futebol feminino costumava copiar o futebol masculino. Até nos modelos de camisa, que era masculino. Nós vestíamos as meninas como garotos. Então faltava o espírito de elegância, de feminilidade. Agora os shorts são mais curtos, os cabelos são bem feitos. Não são mulheres vestidas como homens (http://www.revistaforum.com.br/. “Agora os shorts são mais curtos”: Dirigente da CBF é acusado de machismo, 2015).

Entre adaptações e controvérsias, é fato que a condição da mulher no esporte ainda precisar ser analisada com muita cautela, pois o espaço dedicado para essas mulheres no país ainda é precário, e a modalidade desvalorizada e tendo ainda muitos obstáculos.

Como podemos observar, a mulher historicamente foi negada a praticar alguma atividade física, seja ela por razões de saúde ou as que afetavam a sua feminilidade. Com a mulher inserida no Futebol ou Futsal percebeu-se com destreza que ela pode praticar, cuidar de si mesma de forma saudável, sem risco para sua saúde ou feminilidade. Contudo, profissionais da Educação Física, escolas e instituições privadas são as grandes responsáveis junto com as mulheres de não se deixarem vencer por qualquer preconceito, seja ele machista ou não.

O esporte ainda é constituído por um universo masculino em superioridade (GOELLNER, 2007). Há um menor reconhecimento dos feitos das mulheres em relação aos homens (MARIVOET, 2002). Esta questão está muito presente no futsal, pois para praticá-lo as mulheres precisam enfrentar barreiras sociais que atribuem à jogadora em um processo de masculinização. Jogar futsal significa, para muitas mulheres, uma forma de buscar novas possibilidades de ser mulher na sociedade atual, driblando o estereotipo homossexual, incluindo esta prática como experiência de vida possível (ALTMANN e REIS, 2013).

No momento que foi aberto o espaço para as mulheres praticar o futsal, as mulheres só podiam participar de uma equipe se fossem atraentes ou bonitas, como ressalta Darido (2002). Ou seja, além do desafio que era de poder jogar o futsal, tiveram que conviver com outro problema, que para jogar teria que ser bonita, não interessava se tinha habilidade ou não. Mas isso era por causa dos interesses econômicos ligados ao esporte, pois com mulheres mais bonitas venderiam muito mais com facilidade. Mas é fundamental estarmos atentos para essas novas formas de discriminação, e cabe aos profissionais que atuam nessas áreas tanto em escola,

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escolinhas, clubes ou academias, buscar atualizações para poder acompanhar tal evolução, sendo contra os valores e práticas sociais que desrespeitam a dignidade de qualquer indivíduo. É preciso reconhecer as diferenças no comportamento de meninos e meninas e trabalhar para não os transformar em desvantagens.

Hoje, vemos que a realidade está mudando, pois a mulher também passou a gostar de jogar futebol desde criança, aprendendo a jogar, dando dribles e fintas, jogando pelas ruas, escolas e em casa mesmo, e as vezes com o incentivo da família. É evidente que as pessoas amam a bola, sendo sua “droga”, uma forma de transformação corporal em vivenciá-la, apreendendo e criticando-a (TEIXEIRA JUNIOR, 2006). Assim, podemos pensar que os movimentos esportivos são expressões corporais, onde nosso corpo experimenta novas ações sendo elas diversas. No Brasil, o futebol está relacionado à cultura, sendo um ato de expressão e incentivo de coletividade e individualidade demostrando emoções diferenciadas e livres, mostrando seu potencial em poder praticar algo. O futebol é um fenômeno de várias culturas, como podemos afirmar, pelo fato de ter diversas práticas e com diferentes raízes em cada sociedade (DAÓLIO, 2006).

Portanto, para que o futsal feminino tenha uma importância grande na vida das meninas, é de suma importância que os profissionais de Educação Física estimulem essas meninas a jogarem em escolas, clubes e ruas, procurando manter uma base sólida de influências motoras em sua infância, desde movimentos básicos, como de correr, pular, andar, não apenas colocando o esporte como competição, mas levando em conta o esporte para a educação, trabalhando sem cobranças e pressões. Conforme Barbanti (2005, p. 35), “As crianças de hoje perderam a riqueza de movimentos das últimas gerações. Não sobem mais em árvores, não nadam em rios, não brincam de pega-pega. Todas essas atividades são indispensáveis para que no futuro elas consigam se tornar esportivas saudáveis”, e assim, podendo se transformar em uma atleta profissional, pois toda base começa na infância.

Assim como o nosso corpo se mexe, se faz parte se mexer no ambiente que vivemos, fazendo de cada gesto uma técnica corporal, porque todos nós temos movimentos naturais, mesmo sendo diferente uns dos outros (DAÓLIO, 2006). Como exemplo, podemos citar o vôlei, que antes era somente jogado por mulheres, e hoje é dominado pelos homens também, vivendo sua evolução tanto cultural como social. Deste modo, o futebol que antes era dominado pelos homens, também agora faz parte da cultura feminina.

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2.5 A INICIAÇÃO AO FUTSAL FEMININO

Os profissionais de Educação Física sabem que a iniciação do esporte ocorre nas escolas na maioria das vezes. Assim, cabe ao professor(a) oportunizar a prática para ambos os sexos. É importante e necessário que possíveis comparações com o Futsal masculino devem ser sinteticamente evitadas, pois são minimamente inadequadas. Porém, devem ser comparadas entre si e terem as suas individualidades respeitadas, visto que, as meninas poderão iniciar no futsal sem ter a responsabilidade e/ou objetivo de ter que se comportar como os meninos para que possam ser aceitas pelos(as) professores(as).

Atualmente, muitas meninas estão começando cedo a praticar esse esporte, sem ter uma estrutura de preparação, atrapalhando, assim, o desenvolvimento do seu futuro. É necessário desenvolver atividades para estas meninas que não as prejudiquem futuramente, como vem ocorrendo com atletas masculinos que acabam tendo uma vida esportiva curta, devido à má preparação na iniciação, não conseguindo desenvolver todo seu potencial (SANTANA, 2003). Para Santana e Reis (2006), a menina começando cedo a prática dessa modalidade pode se equivocar em algumas etapas da vida durante seu desenvolvimento. Portanto, o professor de Educação Física ou treinador deve procurar ensinar sem exagerar, proporcionando que ela viva a sua adolescência e saiba o que deseja para o seu futuro, sem apressá-la de nada.

A mulher iniciou primeiramente no âmbito esportivo através das modalidades individuais e sem contato físico, pois o mesmo poderia oferecer perigo para seu corpo, já que alguns mitos e argumentos eram sustentados por médicos que tinham total domínio na Educação Física. Neste caso, o voleibol, o tênis e a natação eram recomendados por não oferecerem perigo aos seus praticantes. É importante ressaltar que o futebol, surgiu com os mesmos princípios de outras modalidades, e alguns preconceitos foram criados e permanecem nos dias atuais como argumentos sustentáveis, ao tentar justificar a presença e a inserção da mulher nessa prática esportiva. Ao analisar a situação do futebol feminino no âmbito escolar, é nas aulas de Educação Física que ocorre, principalmente, preconceitos de raça, gênero e classe. O futebol sendo um fenômeno cultural deve estar presente no cotidiano escolar, se o mesmo for trabalhado de forma pedagógica nas aulas se torna essencial para a formação motora, cognitiva e cultural dos alunos.

Assim como para Friedman (1996):

[...] trazer o jogo para dentro da escola, é uma possibilidade, de pensar na educação numa perspectiva criadora, autônoma, consciente. Através do jogo, não somente

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abre-se uma porta para o mundo social e para a cultura infantil, como abre-se encontra uma rica possibilidade de incentivar o seu desenvolvimento. (FRIEDMAN, 1996, p. 56).

Algumas meninas não possuem um incentivo ao esporte como os meninos recebem durante a infância, não jogam bola, não correm, não sobem em árvores, ou seja, não exercem nenhuma atividade quando crianças que as incentivem na inserção ao esporte. Basta ver nas brincadeiras e brinquedos da sua infância feminina que as fazem que a sociedade as identifiquem como fracas e incapazes de praticar algum esporte, principalmente o futebol. Utilizando as palavras das autoras Sousa e Altman (1999) podemos compreender o significado da exclusão nas aulas: “Não se pode concluir que as meninas são excluídas de jogos apenas por questões de gênero, pois o critério de exclusão não é exatamente o fato de elas serem mulheres, mas por serem consideradas mais fracas e menos habilidosas que seus colegas ou mesmo outras colegas” (SOUSA e ALTMANN, 1999, p. 56).

Daolio (2003) propõe uma Educação Física plural, onde atinja todos os alunos, sem a discriminação das meninas, dos menos habilidosos ou dos gordinhos. Para que essa pluralidade aconteça, é preciso reavaliar as aulas, já que todos os alunos se diferem do grupo. Nesse sentido, devemos possibilitar nas aulas, experiências motoras que todos possam explorar suas capacidades físicas, descobrindo novas expressões corporais e criando novas situações.

Portanto, cabe ao professor dar oportunidades para as meninas usufruírem da cultura corporal, isto é, jogos, esportes, ginásticas e lutas. Desse modo, é fundamental que o esporte esteja no cotidiano feminino. Conforme Altmann e Sousa (1999), a escola é também constituidora da cultura, e muitas vezes esses valores culturais afastam as meninas do meio do futebol, mas é possível criar práticas pedagógicas para que esses valores sejam resinificados e que mudanças aconteçam.

Cardoso (1994) traz um comentário relevante que:

A ação do professor de Educação Física, por mais progressista que seja ainda não conseguiu se liberar da dicotomia criada culturalmente entre o masculino e o feminino, prosseguindo a atual ação pedagógica a limitar o plano desenvolvimento motor dos indivíduos, norteada pelos atributos aceitos socialmente para cada sexo. (CARDOSO, 1994, p. 267).

Nesse mesmo sentido, Daolio argumenta que “os professores de educação física sentem dificuldades em se libertar de determinados preconceitos e propor uma prática que propicie as mesmas oportunidades a todos os alunos, meninos e meninas, respeitando as diferenças e os interesses de cada um” (DAOLIO, 2003, p. 115).

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O professor de Educação Física é de suma importância para diversas questões debatidas em aulas, pois dependendo de sua postura, visão e opinião, pode influenciar muito na formação dos alunos, podendo criar condições iguais e justas para que cada indivíduo possa desenvolver e experimentar diversas formas de movimentos corporais, aprendendo assim a lidar com as diferenças, discutindo e interpretando-as no universo das aulas, conforme acredita Oliveira (1996).

Portanto devemos ter cuidados pedagógicos com a iniciação esportiva para meninas, para não proporcionarmos os mesmos problemas que os meninos vêm desenvolvendo com a iniciação precoce. Além dos cuidados com a iniciação, enquanto jogadores de Futsal, Moura (2007) afirma que:

Atualmente, para as mulheres brasileiras, sua participação ultrapassa o entendimento de que as mesmas tenham apenas um papel de relevância secundária, sendo coadjuvante, como a mãe que lava os uniformes dos meninos, a irmã que limpa as chuteiras, a namorada que prepara os canapés e serve as bebidas, etc. Elas agora se afirmam tendo um papel sócio-esportivo no mesmo nível dos homens brasileiros. Não igual, pois o direito à diferença articula um caminho para uma convivência mais saudável entre os sexos e para a construção de um gênero humano que se componha como uma unidade na diversidade. (MOURA, 2007, p. 3).

Na realidade que vivemos não podemos deixar de lado as mudanças exigidas pelos novos tempos. Devemos compreender que as mulheres no futsal não é um espaço apenas a conquistar, mas compreender que alguns dos sentidos estão incorporados no Futsal e que esse espaço na sociedade é seu também.

A mulher muitas vezes não é vista no futsal pelo seu desempenho, conquista ou pelas belas jogadas desconcertantes, mas sim, vista pela sua beleza e pelas suas pernas bonitas. A cultura do preconceito e discriminação foi construída historicamente. Atualmente a mulher vem buscando vencer as barreiras e quebrar os preconceitos, tendo o respeito que merecem dentro das quatro linhas da quadra e fora dela.

2.6. FUTSAL: SUA INFLUÊNCIA NAS AULAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) no § 3°, do art. 26, estabelece que a Educação Física seja inserida na proposta pedagógica da escola, como componente curricular obrigatório da Educação Básica, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB n° 9.394/96. Ainda, segundo o art. 26 da citada lei, os currículos do ensino fundamental e médio necessitam ter um apoio comum, a ser concluída em cada sistema de ensino e rede escolar, por

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uma parte heterogênea, definida pelos atributos regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos indivíduos.

Através da educação, principalmente na Educação Física, são desenvolvidas habilidades inatas do comportamento do ser humano. De acordo com Baseggio (2011), atividades realizadas nas aulas de Educação Física, como os jogos desportivos são instrumentos que facilitam o desenvolvimento global da criança e adolescente. A prática de atividades físicas na educação física escolar, não favorece somente a melhora do processo mental dos alunos, mas também a integração do indivíduo no grupo, o seu autoconhecimento, percepção corporal, temporal e espacial, domínio das habilidades, entre outras. Confirmando essa ideia, podemos dizer que:

Os principais objetivos da Educação Física é o despertar para o prazer de aprender a aprender; Potencializar a capacidade de criar e recriar situações de aprendizagem; Ampliar a capacidade de comunicação; Prevenir dificuldades relacionais, emocionais, motoras e de aprendizagem; Incentivar a autoestima e facilitar a socialização; Prevenir dificuldades relacionais de desenvolvimento e de aprendizagem; Exercer uma prática terapêutica no caso de dificuldades relacionais de desenvolvimento e de aprendizagem já instalados; Oportunizar uma estruturação mais saudável da personalidade; Estimular posturas positivas frente a si, ao outro e ao mundo. (SANTOS, 2007, p. 9).

Desta maneira, as aulas de educação física na escola não devem apenas ser focadas nos aspectos físicos dos alunos. Ou seja, devemos observar movimentos, que possam ir além do objetivo de estimulo do desempenho físico e, assim, assumir um papel de formadores de cidadãos, buscando atitudes mais cooperativas e participativas desses alunos. Conforme Baseggio (2011):

Os valores alcançados através do jogo esportivo, como a interiorização das regras, a colaboração, a aceitação da autoridade, a disciplina, a iniciativa e a superação de si mesmo, configuram uma constelação de condutas positivas, construtivas e integradoras, que se encontram presentes no sistema de valores que cada um assume para si mesmo e com sua maneira de viver. (BASEGGIO, 2011, p. 6).

Portanto, a prática de esportes é um conteúdo muito importante nas aulas de Educação Física escolar, visto que, dá oportunidade de os alunos vivenciarem diversos esportes, afim de melhorar o desenvolvimento global dos mesmos. Entre os diversos esportes praticados podemos citar o futsal, que é o mais popular e tem a preferência entre os alunos. Por ser um esporte fácil de se praticar, pois necessita somente de uma bola, de um espaço pequeno e de jogadores (RABELO; AMARO, 2001).

O futsal hoje está presente na vida do aluno tanto na escola como fora dela, durante os intervalos de recreio, na entrada na escola e de um horário para outro, podemos encontrar

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estudantes praticando esse esporte. E muitas vezes esse jogo é reinventado, criam suas próprias regras, praticam em qualquer lugar pequeno e utilizando materiais alternativos para jogar, por exemplo, bola de papel, latas, garrafas pet, tampinhas, e mesmo que tenham regras adaptadas ao espaço de jogo e ao número de jogadores, o mesmo possuí características semelhantes comparando ao esporte oficial de futsal, pois o jogo possui um gol, defesa e ataque.

Como uma prática tradicional no nosso contexto cultural, o futsal pode integrar as aulas de educação física. Segundo Gardner (1999) o objetivo da educação é transmitir valores culturais, pois através dessa prática, crianças e adolescentes são submetidas a situações reais de convivência entre pessoas, de respeitar as regras do jogo, respeitar o próximo, conviver com situações de vitória e derrota do jogo, ou seja, possibilitando que elas se desenvolvam emocionalmente.

Nesta perspectiva, o movimentar-se é entendido como uma forma de comunicação com o mundo que é constituinte e construtora de cultura, mas também, possibilitada por ela. É uma linguagem, com especificidade, é claro, mas que enquanto cultura habita o mundo do simbólico. A naturalização do objeto da EF por outro lado, seja alocando-o no plano do biológico ou do psicológico, retira dele o caráter histórico e com isso sua marca social. Ora, o que qualifica o movimento enquanto humano é o sentido/significado do mover-se. Sentido/significado mediado simbolicamente e que o colocam no plano da cultura. (BRACHT, 1996, p. 24 apud BETTI, 1995).

Porém, na escola, o futsal tem desempenho definitivo na metodologia de ensino-aprendizagem, não somente na aula de educação física, mas também como atividade extraclasse, visto que, é um meio de motivar as crianças e adolescentes a praticarem essa modalidade. Assim, o professor deve trabalhar, ao mesmo tempo, tanto os aspectos técnicos-táticos do jogo, bem como, as questões igualitárias, como por exemplo, a cooperação, o individualismo, o respeito, a liderança, o espírito de equipe, etc.

Portanto, o ensino do futsal não deve ocorrer apenas com o intuito de ensinar a técnica para o aluno nas aulas, mas por meio dele ser capaz de trabalhar outras concepções de suma importância para o desenvolvimento global de crianças e adolescentes, como o desenvolvimento de habilidades motoras, físicas, cognitivas, psicológicas e sociais. Nesse sentido,

As atividades físico-desportivas “futsal” entendidas como atividades naturais de movimento, jogo e confraternização são elementos básicos para a educação das pessoas e possuem funções altamente pedagógicas que podem incidir no desenvolvimento equilibrado e harmônico do ser humano. (BASEGGIO, 2011, p. 10 apud VARGAS NETO, 1995).

Referências

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