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Academic year: 2021

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TÍTULO: TRANSCRIÇÃO DO ÁLBUM INSTRUMENTAL "A VIOLA DO ZÉ" DE 1966

TÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDO

CATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

ÁREA:

SUBÁREA: MÚSICA

SUBÁREA:

INSTITUIÇÃO: FIAM-FAAM - CENTRO UNIVERSITÁRIO

INSTITUIÇÃO:

AUTOR(ES): LORRAINE DE OLIVEIRA SILVEIRA

AUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): SIDNEY JOSÉ MOLINA JUNIOR

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1 1. Resumo

O álbum “A Viola do Zé” de 1966, foi o primeiro álbum completamente instrumental de viola caipira, na vertente sertaneja, gravado no Brasil. Não existem partituras destas músicas, mesmo este álbum sendo um marco na história da viola caipira. Este trabalho contém estas transcrições, não só da parte da viola com tablatura, mas também dos outros instrumentos que acompanham as músicas.

2. Introdução

Dentre as várias tradições e histórias que cercam o universo folclórico de lendas da viola caipira, existe uma muito especial que é a crença de que a viola escolhe o violeiro e não o contrário. Sem levar em consideração a superstição que envolve essa tradição, podemos disser que músicas que nos acompanham desde a tenra infância exercem influência direta no nosso gosto musical quando nos tornamos adultos. A cantora, violeira e pesquisadora Inezita Barroso dizia: “A musica caipira é uma coisa que mora dentro das pessoas. Não é um modismo, é uma paixão pela raça, pela terra.” (PEREIRA, 2013, p. 7)

Violeiros famosos como Tião Carreiro, Almir Sater, Renato Andrade, entre outros, já tem sido contemplados de maneira mais profunda em trabalhos acadêmicos. Porém o violeiro Zé do Rancho, responsável por gravar o primeiro LP contendo apenas música instrumental para viola caipira, não foi pesquisado muito a fundo, sendo apenas citado em livros.

Por esse motivo este trabalho tem como objetivo analisar a importância deste violeiro e, além disso, transcrever as músicas de seu álbum histórico.

3. Objetivo

Este trabalho tem como objetivo pesquisar a biografia de Zé do Rancho e ter maior foco em seu álbum instrumental A Viola do Zé de 1966. Segundo o violeiro e pesquisador Ivan Vilela, dos violeiros existentes nas décadas de 50 e 60, entre os mais importantes está Zé do Rancho:

“Grandes violeiros foram marcantes nessa fase. Bambico, Zé do Rancho e Tião Carreiro, talvez os três mais virtuosos. [...] Neste período, a figura do violeiro começou a se solidificar no segmento e a se firmar diante do público urbano, trazendo para esse espaço a força de um personagem vivo no mundo rural, o tocador de viola.” (VILELA, 2013, p. 108)

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Levando em consideração a relevância de Zé do Rancho, a pesquisa sobre a biografia do violeiro, contendo sua trajetória como músico de estúdio e compositor, irá ressaltar a importância de seu álbum instrumental de 1966.

Por fim a transcrição das músicas que compõe o álbum A viola do Zé serão feitas para que sejam executadas por outros violeiros. Apesar de Zé do Rancho usar a afinação natural1, as transcrições serão feitas para a afinação cebolão em Ré2, por ser a afinação utilizada pelos professores nas atuais instituições que ensinam o instrumento. João Paulo Amaral, professor de viola caipira na EMESP e na Cantareira usa a afinação cebolão em Ré, e Ivan Vilela professor da USP também usa essa afinação.

4. Metodologia

Através da leitura de livros que abordam a história da música caipira vamos levantar dados históricos importantes sobre a música caipira e também sobre Zé do Rancho. Além disso, transcrições das músicas do álbum serão feitas com cifras e também transcrições dos instrumentos que acompanham os solos, como flautas, violinos, violões, percussão e acordeom.

Os ritmos caipiras são muito variados e fazem parte do aprendizado do violeiro, como diz o violeiro e pesquisador Roberto Corrêa:

“Os gêneros musicais encontrados na música caipira, como Cateretê, Cururu, Batuque, Toada, entre outros, são, em geral, oriundos de danças populares e caracterizam-se por determinado padrão rítmico. Conhecer e saber executar bem estes gêneros na viola é essencial na formação do violeiro caipira.” (CORRÊA, 2000, p. 169)

Enquanto para um violeiro estes ritmos já estão inseridos no seu cotidiano, para músicos que não estão familiarizados com este gênero musical é praticamente impossível assimilarem os ritmos acima só de ler os seus nomes. Por esse motivo o livro A arte de pontear a viola, do violeiro Roberto Corrêa será utilizado com o intuito de demonstrar como fazer estes acompanhamentos, ou seja, como fazer as “batidas”, em forma de partitura. As melodias, ou solos de viola terão juntamente a

1

Afinação Natural: Afinação como a do violão, porém sem o Mi grave. Da corda mais aguda para a mais grave as notas seriam: Mi, Si, Sol, Ré e Lá.

2 Cebolão em Ré: Afinação aberta de viola caipira. Da corda mais aguda para a mais grave as notas seriam: Ré,

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tablatura para a afinação cebolão em Ré, algo comum nos métodos de viola e também nas transcrições feitas em trabalhos acadêmicos.

5. Desenvolvimento

Um fato relevante sobre este álbum é: nem todas as músicas do álbum foram compostas para ele, algumas músicas já eram canções de sucesso na época, sendo que algumas nem eram parte do repertório de música sertaneja.

Outro ponto importante, que foi citado na primeira parte do primeiro capítulo, é que Zé do Rancho afinava sua viola em afinação natural, igual a do violão. Porém, as transcrições foram feitas para a afinação cebolão em Ré, por ser a afinação utilizada pelos professores nas atuais instituições que ensinam o instrumento. João Paulo Amaral, professor de viola caipira na EMESP e na Cantareira usa a afinação cebolão em Ré, e Ivan Vilela professor da USP também usa essa afinação. Por esse motivo algumas músicas em especial tem uma breve explicação sobre a adaptação feita para a transcrição em outra afinação, incluindo a mudança de tonalidade em alguns casos.

Além das transcrições dos solos de viola, os outros instrumentos também foram transcritos, sendo necessária uma breve explicação sobre as batidas ou levadas feitas pelo violão, por serem ritmos tradicionais caipiras. Estes ritmos são muito simples para um violeiro fazer, porém, para músicos que não estão inseridos no meio musical sertanejo seria mais difícil assimilar o acompanhamento.

O Canto do Rouxinol

Esta talvez seja a música mais famosa do álbum, uma espécie de “peça de confronto” para os violeiros, por se tratar de uma música rápida (característica das polcas paraguaias ou polca Mato-grossense), com muitas apojaturas e ligaduras ascendentes e descendentes.

Os compositores desta música foram Zé do Rancho e Nenete. Foi gravada especialmente para este álbum. Como o próprio nome da música diz, ela busca imitar o som do canto do rouxinol. Sobre os sons da natureza e a viola, João Paulo diz:

A prática instrumental dos violeiros, somada ao cotidiano no meio rural, reflete-se na criação de toques criativos, por exemplo, imitando animais, em geral pássaros. Jose Souza Martins atribui a herança da “cultura musical indígena do contato”, algumas das características da música caipira como a repetição monótona de um único refrão ou de alguns ritmos derivados dos cantos dos pássaros e da natureza. Já numa frase em que o

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segmento caipira instrumental começa a se formar, entre outros, podemos exemplificar a gravação de “O Canto do Rouxinol” (Nenete e Zé do Rancho) gravada por Zé do Rancho em 1966 no LP instrumental de viola caipira A Viola do Zé (RCA), “Seriema no campo” gravada por Renato Andrade no LP A fantástica viola de Renato Andrade (1977, Chanteclear), “Inhuma” (D.P) gravada por Zé Coco do Riachão no LP Brasil Puro

(Rodeo/WEA, 980). (PINTO, 2008, p. 26)

Além das músicas citadas a cima, podemos lembrar ainda de “Prelúdio dos Pássaros” de Índio Cachoeira e “Araponga isprivitada” de Roberto Corrêa. Isso mostra a identificação do violeiro com os sons da natureza. Os ornamentos usados por Zé do Rancho nesta música buscam reproduzir o som do canto do rouxinol. Apesar de o tom original ser Lá Maior e o pedal de corda solta usado ser o primeiro par afinado em Mi, a transcrição foi feita em Sol Maior, pois corda solta utilizada como pedal na afinação em cebolão em Ré é o primeiro par Ré. Abaixo o exemplo de um trecho de como é a versão da gravação tocada por Zé do Rancho e depois como foi feita a transcrição:

No exemplo a cima fica claro que a maior parte da digitação no braço da viola será feita igual à versão original, com a única diferença de o tom ser outro.

Na contracapa do disco a descrição notada para música é “rasqueado3”, um sinônimo para “polca paraguaia”. Ritmo que tornou-se muito ocorrente na música sertaneja na década de 40.

A música rural sertaneja mexicana e paraguaia, conquanto penetrasse sensivelmente no meio urbano brasileiro [...] certo é que em 1943 a gravação de Sou um tropeiro [...] com Mariano Gouveia, conquistou estrondoso sucesso em todas as áreas brasileiras, particularmente em São Paulo e Minas Gerais. O triunfo comercial desse disco, lançado pela então Columbia (depois Continental) num tempo em que a própria criação musical

3

Rasqueado ou rasgueado: em instrumentos de cordas como o violão ou a guitarra flamenca, uma varredura das cordas, executada nos sentidos descendente e ascendente, com o polegar e, respectivamente, o dorso das unhas ou as pontas dos dedos. Pode também ser executado com uma palheta. (Dicionário Groove de Música, P.765)

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urbana entrava em momentâneo declínio, deixou todos os produtores nacionais ouriçados.

Refletiu-se, a partir de então, em torno de misturas que pudessem resultar num outro tipo de canção rural, visando a atingir um público ainda imune aos efeitos do conflito mundial4 no seu paraíso campestre. [...] Corridos, rancheiras, guarâneas e polcas começaram a ingressar no repertório de alguns intérpretes [...] (FERRETE, 1985, P. 122) Podemos constatar que os ritmos mexicanos e paraguaios desde a época citada à cima passaram a integrar o repertório dos artistas sertanejos. Na imagem a baixo mostramos como funciona o acompanhamento de uma polca paraguaia no compasso 31 do Canto do Rouxinol:

O pesquisador João Paulo explica a polirritimia que acontece neste ritmo da seguinte forma:

Podemos observar que uma das características mais marcantes da polca é a sua ideia polirrítmica. Essa ideia esta presente no contraste entre as células rítmicas feitas pelo violão e a célula rítmica do baixo. Assim, enquanto o violão define ritmicamente a pulsação do compasso composto (6/8) e acentua sua metade (representada pela quarta colcheia), o baixo traz a notação rítmica ternária, na medida em que divide o compasso em três pulsações iguais, como se tocasse em 3/4. [...] Essa soma de células traz um contraste rítmico sofisticado e movimentado. (PINTO, 2008, p. 104-5)

O Canto do Rouxinol é a única polca Paraguaia do álbum. O uso de apojaturas5, ligaduras e arrastes6 é recorrente em grande parte das músicas do álbum, porém nesta em especial Zé do Rancho demonstra seu virtuosismo nestas passagens rápidas cheias de ornamentos.

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Segunda Guerra Mundial.

5 Apojaturas: a haste da nota ornamental é cortada por um traço [...] Um caso especial é a “appoggiatura de

passagem” ou “acciaccatura múltipla”, em que a nota adicional é interpolada entre duas notas principais, uma terça à parte e (normalmente) descendente; seu tempo pode ser deduzido pela nota precedente, mas do que pela nota seguinte. (Dicionário Groove de Música, P.35-6)

6

Arraste: consiste em arrastar literalmente uma ou mais notas do traste de origem até o traste de destino. É esse efeito que faz a viola “chorar”. (ARAUJO, 1999, P.22)

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9 6. Resultado

Através das treze transcrições feitas foi possível analisar tecnicamente o virtuosismo de Zé do Rancho, além de deixar registro de sua obra para que outros violeiros possam estudá-las.

7. Considerações Finais

Cada vez mais a viola caipira tem ganhado espaço no meio acadêmico, tanto no ensino prático, como nas pesquisas. Este instrumento idiomático de nossa cultura rural merece ser valorizado e as músicas e canções tradicionais sertanejas precisam ser transcritas e publicadas, para que não só os violeiros as estudem executem, mas também para que os músicos em geral conheçam esta tão importante vertente da música popular brasileira: a música sertaneja.

8. Fontes Consultadas

CALDAS,Waldenyr. O que é música Sertaneja. São Paulo: Brasiliense, 1999.

CORRÊA, Roberto N. A Arte de Pontear a viola. Brasília: Editora Viola Corrêa, 2000. Dicionário Grove de Música: edição concisa \ editado por Staley Sadie; editora-assistente Alison Latham; Tradução Eduardo Francisco Alves – Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1994.

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FERRETE, J. L. Capitão Furtado, Viola Caipira ou Sertaneja? Rio de Janeiro: Funarte, Instituto Nacional de Música, Divisão de Música Popular, 1985)

LIMA, Marisa Ramires Rosa de. Harmonia: uma abordagem prática: parte I. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 2ª edição 2010.

NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: roça ao rodeio. São Paulo: Ed. 34, 1999.

PAHLEN, Kurt. A Ópera. São Paulo: Gráfica e Editôra EDIGRAF Ltda, 86/88.

PEREIRA, Arley, Inezita Barroso: a história de uma brasileira. São Paulo: Editora 34, 2013.

PERIPATO, Sandra Cristina. Zé do Rancho.

_________. Cascatinha e Inhana "Os Sabiás do Sertão" _________. Ritmos e danças

Disponível em:

< http://www.recantocaipira.com.br/> Acesso em 12 de maio. 2017

PINTO, João Paulo de Amaral. A viola de Tião Carreiro. 2008. 371 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes. Campinas, SP. 2008.

TINHORÃO, José Ramos. Cultura Popular: temas e questões. São Paulo: Ed. 34, 2001.

_________. Pequena História da música popular: da modinha à lambada. São Paulo: Art. Editora, 1991.

VILELA, Ivan. Cantando a própria historia: Música Caipira e Enraizamento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013.

ZÉ DO RANCHO. Autobiografia: Um artista e sua História. Q+ Imagem e Print Graf: 2008.

CDs e LPs

ROBERTO CORRÊA. 2011. CD. Viola de Arame {Composições brasileiras}. Viola Corrêa. Brasília Brasil.

ZÉ DO RANCHO. 1997. CD. Luar do Sertão. BMG. São Paulo Brasil.

Referências

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