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MEMÓRIA E DESEJO

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Academic year: 2021

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(1)

-MEMORIA E DESEJO

OSMÌ R IIARIA GABBI JR Universidade de

Mo

Paulo

Universidade

Estøùnl

de Cømpinns

No

fìnal

rJa Psicotempiø

da

Hísteria,

Freud

apresenta

a

questâ'o de saber se as

recordações prorluzidas na análise

foram um dia conscientes ou se elas sâ'o recorda-ções de algo que teve apenas uma possibilidade de existir

-

em suma, se aquilo que é

relatado na sessão analítica reaLnente ocorreu. Freud acredita que só poderádaruma resposta mais precisa quando investigar os processos psfquicos que ocorrcnì no sistema

nervoso e, cnr cspecial, na consciência (Freud,

Ztr Psycltoterapie

der llysterie,

p.306).

A

afirrnação freudiana reveste-sc de irnportância porque suscita o problcma da relação entre ntemória c desejo e sugcrc a sua vinculação corn a teoria

do

aparelho psfquico.

Nesse sentido,

o

objetivo da presente exposição é

o

de assinalar as moclificações que

ocorrent na teoria do aparclho psíquico quando se passa da teoria cla seduçã'o para a da

sexualidade

infantil e

de como elas repercutem sobre a concepção que Freud tem a respeito da rncrnória e de sua reiação com o dcsejo.

No

hojeto

paru

utlú

Psicobgit, Freud tem corno objetivo expÌícito o de

"represen-tar os processos psíquicos como estados quantitativamente detenninados de partículas materiais cspecilicáveis" (Freud, Aus den

Anfthtgøt

der Psyclnønalyse,

p.

305). Tal fonua de aprescntação encontraria sua justificativa no fato de possibilitar uma psicolo-gia prccisa e livre dc contradições, na qual os conceitos fundamentais sâ'o os <le

quanti-dadc e de neurônio.

O conccito de quantidade é definido conlo una diferença entre atividade e repouso e o de neurô¡rio corno uma partícula material capaz de conter uma oerta quantidade.

A

quantidade

é

governada

por um princfpio,

o

da iné¡cia neuronal, segundo o qtral os

neurônios tcndem a descarregar a quantidade. O aparelho psfquico assinr concebido é insatÍsfatório para

dar

conta de sistemas que, além de sofrerem estimulação externa,

estâ'o sujeitos às cxigôncias da vida: respiração, fome e sexo. Os estímulos endógenos,

diferentenlentc dos cxtcnros que atuam por impacto, vão seacrescentando,e só

quan-do

o

organisnro ¡rroduz uma ação específica sobre

o

mundo externo

uma inter-ru¡ryão provisória

no

processo de acréscirno . Para realizar a ação especlfìca, é preciso

que

o

aparclho suportc uma certa quantidade ¡ro seu interior. O que leva Freud a con-cebcr

uln

novo aparelho organiza<lo em

torno

de um novo princfpio, o princípio da

corrstância, scguntlo

o

r¡ual

o

orgauismo tende a

malter

no seu

interior

a quantidade constante. Há, portanto, duas funçõçs a serenr realizadas

no

aparelho psíquico: a de descarregar quantidades (que pcrnrane ce como um traço do aparelho primitivo) e a de

conservil os canrinhos de descarga (Aus den Anfcingen, pp. 305-7).

(2)

BIEJ Ep so¡olotu soruornou ep 33J3csãp EIod

€p¿ll[qlssod

'o]ueurBsuod

op

âp¿pllBel ? .ãpBplleoJ op lEurs orlno tun gr¡ 'e8aurg ure uSrecsep

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-

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9

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9

H

(3)

Memória e

Deseio

1

(Aus tlen Artfdngen, p.

36$.

Portanto, é a fala que possibilita que se tenha consciência do conlcúdo dos pensarnentos. Todo esse sistenra funciona, corno

foi

tlito,

pela inl-bição do processo primário.

Contudo há duas condições eln que pode ocorrer unr processo prinrário dentro do

ego.

A

prirneira relaciona-se conr a vivência de satisfação e se manifesta enr todos os seres, toclos os dias: trata-se

dos

sonhos. São produzidos quattdo

o

nrecattismo de atençã'o é rctirado do ego.

A

partir daí, a quantidade percorre as vias de descarga rnais

prÍntitivas

-

é nesse sentido que Freud desenvolve a tese de que os sonhos realizam de-sejos.

A

quantidade produz um curto-circuito em seu petcurso, e isso rnotiva a falta de compreensão

do

sonho

(Au:

den Anfdngen, pp.343-7).

A segunda

oondição refere-se à vivóncia de

dor

e aparece unicalnente uas ncuroses de defesa. Só estes neuróticos são capaz.es

de tcr

unra vivência scxual prenratura.

A recordação da cena

de sedução na

puberdade lova a unra dcfesa prirnária, rnotivada ¡rela cornpreensõo cle que a vivência originária

tinlra um

caúúer sexual (,4us tlen Anftirryen,

pp.35l-9).()

resultado da defcsa ó unl curto-circuÍto nas vias dc clcscarga.

Ac1ui, corno r'ìo caso anterior, o percurso <1a quantidade clel-inc o selltido ou, rnelhor,

sua perda por' ¡rarte

do

sujeito. Os sonlros sâ'o ta-o incornplccnsíveis <¡uanto os

sinto-mas histéricos. Contudo, como as duas condiçõcs estão relacionadas a vivências

distin-tas,

r'narcarlas

pela tlicotomia

origeur cxtcrrra/origern

interna, Flcud

é

obrigado a

afirnrar c¡ue cntre

o

sonho e

o

sirttorrra

hl

apcnas uma relação dc arralogia e não de identiclaclc (Arts den Anfwtgen,

p.

3al).

Ern tennos nlais claros; neste molnento da

teoria, riâo se corlcebc recalque no sonho assim co¡no desejo na neurose.

A

rnenrória nada urais

ó do

que

urn

registro cle vivéncias. Ela exprirne

a

manu-tençÍio ilas vjas

dc

dcscarga e deve aprender a evitar, fora de certas contlições, tanto as cøtltexis

de

desejo como as de

objeto

algógeno.

A

perda

da

auto-refe¡ência, no sonllo

c

rra rìeurosc, ó cxplicada pclos curtocircLritos da cluantidade. Mas estes sâ'o de

naturczas distintas.

No primeiro,

alucirra-sc

o

objcto

de desej<1, mas, corno não se

possui

toda

a cadeia cle representações,

nlo

se compreende que se

estl

diante dcle.

No

segurrdo, nâo se fcz

o luto

devido porque, na ocorréncia do

evelto, nltr

se tinha

conro

saber

quc

tal

cvcnto daria lugar a ¡cpreserìtações de objetos algógenos. Não

lrá, ao

nívcl do llroieto,

uma memória que retenlra aquilo que teve apenas ullta pos-sibilidade

do existir. Bla é

orientada pelo

princípio

de constância, llìas irrcapaz de

fantasiar.

A scparação raclical

entre as duas vivôncias, aliada â ausô¡rcia de prazer na neurosc, inrpcdc a fbrnrulaçâ'<r do conceito de fantasia.

Essc quaclro couìcça

a

sofrer urna série de nrocl ilìcações

a paltir da

carta

29

da corrcspon<-lôrrcia Frcucl-llliess.

Nela, Freud

pede

a

Flies

que consiclere

a

hipótese cle que a ncurosc obscssiva apresenta, corno uma cle suas condições, a existência de urna vivência sexual prirnária acompanhada cle prazer (Aus den Anlangen,

p.

112).

A

importância dessa hipótese está

em adruitir que

rìa neurose pode

ocorrer

uma dinrinuição

da

cluantitlade. Esta possibilidade só existia no l-'rojeto para a vivéncia de satisfução, nâ'o para a de dor. Eyidcnterlrente, essa hipótese só pocle ser integrada ao esquema do Prcjeto se este sofrer uma reformulação. Ela inicia-se a partir da carta

39,

onde Freud produz

lma

série

de

alterações na sua concepção

de

aparelho

(4)

-E

8

Osmyr Faris Gabbi Jr.

a

evelttos cle ftrclcllc sexual ocorridos antcs

da

rnattrridade sexual, Somente nessa

situação as representaçõcs desses eventos sâ'o capazes de gcrar desprazer

atual'

Em outras palavras, quanclo as ccnas de sedução ocorreram, as tepresentações

correspon-detrtes

não foraltt

acompanhadas

de

nenhum grallde dcsprazer Porque nâ'o havia

verilade que Freud se interroga no Manuscrito

K

sobre os fatores que vão determinar a escollìa entre tìeurose

e

pcrvcrsão (Aus den Anfangert,

pp.

129-31). Nunca é demais assir.ralar que tais observações são feitas no contcxto da teoria da sedução, Sem dúvida, alguérn

poderia

perguntar: como

é

possível

ter

prazer numa cena sexual ativa sem

possuir sexualidade? Mas não nos intc¡cssa ficar aclui assinalando as aporias da teoria

da

sedução, sabemos cluc clas síio inúrncras.

A

questão consiste

eln

entendel que a

pro<lução

da

neurose nurtca esteve coloc¿r(la unicamente

do

lado da cena. Pa¡a se

produzir

o

sintotna, é preciso cluc tambCm cxista aquilo que faz com que a recordação da cena na atualidade gere desprazcr; isto é,

o

puclol e a moral. Quando essas forças

repressoras, assinaladas

por

Freud,

rrio

cxistem, as cenas originárias cotlduzeln à perversão

e

trão

à

lleurosc. Contudo, quanclo se tontam presentes,

o

seu efeito só se

faz

sentir se, na vida atual

do

paciente, há uma tensão sexual não satisfeita que o leva a percorrer velhas vias de descarga (Aus tlenAnfringen,

pp'

129-30). Em suma,

é

na

direção

de uma certa

regressão, motivada

por um

desprazer atual, que surge

um

desprazer

maiot

que leva

a

uma defesa prirnária. Portanto, a partir

da

carta

39,

temos

a

crença

de

que

o

recalque pode ser ativado contra recordações prazerosas. Entretanto, ainda falta explicitar o sentido desse movimento regressivo.

(5)

-Memória e

Deseio

9

Na

carta

52

encontramos a solução. Freud propõe que

o

aparelho psíquico seja

construído æsumindo-se

a

hipótese

de que ele

se

forma a partir

de

um

processo

de

estratifìcação. Segundo

Freud:

"de

tempos

em

tempos,

o

material

al presente

-

traços

de

recordação

-

sofre uma reordelìação

de

acordo com novas relações

-de certo modo, uma transcrição" (Aus den Anfdngen,

p. 15l).

Logo, a memória nâo é

retida de uma única manefua, mas de diversas formas, de acordo com princlpios

dis-tintos. O

mesmo

tipo

de modelo

fora utilizado por

Freud

no

seu trabalho Sobre a

Afasia,onde encontramos as seguintes observações acerca do aparelho da fala:

a) a atividade de um centro de fala nece ssita da atividade de outros, com os quais está associado;

sd

da

-

o

sensorial-vi

a existente

en-tre

eles, ditada pela época

do início de

sua função (Freud, On Aphasia,

pp.4l'2).

As obsewações indicam que há diferentes registros para uma mesma fala. Por

exem-plo,

a palavra 'mesa' é transcrita inicialmente enquanto sinal acrlstico. Posteriormente,

ela

o

é enquanto imagem motora, Mais tarde, poderá receber uma terceira e uma quar-ta transcrição se o zujeito aprender a ler e a escrever'

Podemos representar de modo análogo o aparelho pslquico. Ele consiste em uma se-qüência

de

cinco sistemas cujos extremos

-

o

sistema da percepçÍio e

o

da consciên' óia

-

s¡o incapazes de reter traços de memória. Os outros três servem para definir o número

mínimo de

transcrições

que Freud

concede ao seu modelo da mente. No

primeiro,

memótia,

presentes

r relações

de

simult

nte, onde

há uma nova transcrição. Seus registros também são incapazes de captação pela cons'

ciência, mas a sua

orgnuação

ê feita através de relações do

tipo

causal. Finalmente, no

terceiro

sistema de memória,

o

préconsciente, realiza-se uma

riltima

transcrição.

A

conscientização pode ocorrer desrle que os registros estejam ligados a imagens acrlsticæ da fala (Aus den Anftingen,pp. 151-2).

Em certos perfodos, nos indivíduos notmais, as inscrições de um sistema sâ'o tradu-zidas em

um outro,

o

que leva ao surgimento de uma nova transcrição que inibe a anterior

e

afasta

de

si

o

prcc€sso excitativo.

A

neurose surge quando o processo de

traduçlo

acarreta

um

aumento

de

quantidade

no

aparelho pslquico, Nesse caso, a

excitação será rcsolvida de acordo com leis psicológicas vigentes no período anterior (Aus den Anflingen,

p.

152). Portanto, a falta de tradução produz a neufose e suas

ca-racterfsticas. As diferenças entre os diversos quadros serão definidas a partir dos siste' mas envolvidos.

(6)

FI

lO

OsnYr Fariø GabbiJr'

temos uma fala maquinal' Entretanto' nÍio iedade de aumentar a quantidade no

se referem a experiências sexuais'

o

de aumentarem a sua carga afetiva

).

I¡go,

é na falta de coincidência das fases

de desenv.lvimento sexual e psíquico que se

ioloca

a possibilidade da neurose e da

p.*rrreo.

Contudo, mesmo åesse

textõ, tão rico

de conseqüências' não se resolve

å ¿il.-u

colocado pela admissão

do præ

r

nos quadros da neurose' embora se re-conheça que nela não há o rePúdio à

llo

Mecønismo

híquico

do Esqu

plo

de lapso de memória. Freud não co

Ós únicos nomes que lhe ocorrem sío

de saber

o

que ocorreu na passagem do

sis-tema inconsciente para

o

pré-consciente

e

que resultou na co¡scientzação

do

nome dos outros dois pintores.

ô.r-pt.

ressaltar, antes de mais nada, que

o

distúrbio não afeta

a

relação

õntre

represeniaçao

da

palawa

e

representação

do

objeto,

ou

seja,

não

se

trata de uma

"a'fæia

si-bólica",

para utilizarmos a linguagem

do texto

de

Freú

Sobre ø Afasia.

À

ferturbação p rdã ser melhor descrita como uma parafasia, onde

..empobreciå.otå ¿ut patävrai com abundância de impulsos de linguagem",

; *j;,

uma afasia verbal que

ie cæacteriza

Por uma perturbação na associação

en-tre

os elementos da representação da fala

(on

aphasia,

p.

2l).

Em

outras palavras,

saber

o

que ocorreu

relaçãó inconsciente/pré-consciente

é

desvendar

o

que

pet-turbou

a associação

entfe

as replesentações ¿ã fala. De acordo com

o texto,

o foco

eúdo que se produziu entre

o

afresco

pin-to

-

e os temas sexualidade e morte (Zum

cuta

52, que, entre as

rela-ceituais

-

o

que

justifica

no

trfiï

îî

l;ü3Jäi":åäi

col

.

Contudo,

isto não dá conta

do

aspecto vizual, extremamente claro, presente durante

o

esquecimento

do

nome

signoìeili. sua

produção deve ser procurada na

relação entre

o

sistema

seopróprioinconsciente'Aquanti'

ãuãå,

p.to

princípio

da

de acordo com as leis do sistema mais

uc¡cô

"nu-oluido

- no

nos perceptivos' Isso ju-stifica

o

elemento vi-sual preænte

no

esquecimento que

é do

mesrno

tipo

que se observa entre pacientes

rpsta observaçtfo resulta da comparaçâ'o entre os diagramas da ca¡ta 46 (Aus den Anfàhgen der PsychoanalysJ, pp. I 44-5) e os da ca¡ta 52 (Ibid., p. 154)'

(7)

7

IVemôriue

Desejo

ll

lústéricos. Entretanto surge uma nova questão:

O

que leva a análise a essa direção? Por que ela acaba convergindo para o sistema dos signos perceptivos?

A

resposta pode ser trabalhada a

partir

do texto

Recordações Encobridoras pu-blicado também

em

1898.

O

objetivo de Freud

é

o

de mostrar que existe urna ra-zão para

o

fato

de nossas recordações da. infância geralmente apresentarem um

cará-ter

fragmentário

e

indiferente

(Freud,

Uber Deckerinnerungen,

p.531).

A

justifì-cativa

é

serem "recordações encobridoras"

(em

alemão, "Deckerinnerung"). Este

termo

foi

cunhado

por Freud a partir do

verbo

"decken",

intimamente associado

a três outros

verbos: "bedecken"

(encobrir),

"verhuellen"

(ocultar) e

"schuetzen"

(proteger).

A

escolha nÍÍo poderia ser mais apropriada, pois de fato encontramos os três traços semânticos

no

conceito

de

recordações encobridoras. Elas encobrem

ou-tras

representações

e

ao

fazê-lo produzem

um

ocultamento, graças ao qual

prote-gem

o

sistema psíquico do desprazer que seria gerado caso nâ'o se produzisse

o

ocul-tamento.

Na

recordação encobridora analisada

por Freud telnos

três tnomentos que me-recem ser examinados ern detallrc.

No

prirneiro,

unra recordação

infantil

onde

certos e.lementos apresentam-se extremamente claros:

o

sabor do pâ'o e o amarelo das

flores((foer

Deckerinnerungen,p.54l). A

cena inicia-se com a retirada das flores rla

lnão de urna menina.

No

segundo momento, ele reconhece que a recordaçâ'o surgiu a

partir de .utna cena onde também há um elemento extremamente claro: o amarelo do vestido ([Jber Deckerinnetungen,

p.

5a3). Finalmente, uma terceira recordação,

pos-terior

à segunda,

onde

se descobre

o

elo

intermediário entre as duas primeiras: o

único praze

r

deixado ao sujeito era

o

de escalar montanhas onde havia uma

flor

que,

ao pé

da nrontanha,

teln

o

alnarelo da primeira recordação e,

no

cimo,

o

amarelo

do

vestido. Também se revela a

partir daí

um desinteres,s.e

do

zujeito, que é

o

pró-prio

Freud, tanto

pelo dentede-leão conro pela jovem (Uber Deckerinnerungen, p.

s44).

Novanrentc

é

possível analisar os deslocamentos semânticos produzidos

utilizan-do

o

esquema da carta

52. Aqui,

no

entauto, é necesário reconhecer que a pertur-bação sc instala

na

rclação entre a representação

do

objeto e a representação da pa-lavra,

ou

scja, trata-se de uma afasia simbólica. O sujeito desconhece

o

referente de

sua fala.

No

caso anterior, ele conhecia

o

objeto, mas havia perdido a possibilidade de nomeá-lo.

Aqui,

ele nomeia algo, mas não sabe

o

quê. Quando Freud realizou a primeira viagenr

de volta

a sua terra natal, apaixonou-se pela moça

e

culpou

o

pai pela situação econônrica em

que

se encontrava. Contudo,

no

lugar

do

desejo pela jovenr e

do ódio

ao pai, produz-se uma cena furfantil, onde

o

arrebatar as flores

sig-nilica

p<lssuir a

jovcm,

e

o

pã'o delicioso, unra situação econômica

mais

favorável

(Uber

Deckerittnerungen,

p.

5a5).

Contudo seria

muito

estranho se

tudo

se

resol-vesse nesse

jogo de

sinrples substituições.

Afinal de

contas,

Freud

sabia, desde o prirneiro instante,

que

se scntira atraído pela

jovem

e

que

recriminara

o

seu pai.

Portanto

esses elemerrtos

não

podern

ser

responsabilizados pela distorçâ'o

produ-zida.

A

motivação está

na

relação que esses ele¡nentos criaram com outros cuja tra-dução para

o sistema

pré-consciente se acha bloqueada: os desejos de possuir a mãe

e

de nratar

o pai.

O carâter

primordial e

estruturante desses desejos está assinalado pelos elementos quase alucinatórios presentes na recordação infantil.

(8)

FI

12

OsmYr Faria Gabbi Jr'

tural entre sonho e sintoma e que garantem

stulação

do

Ptazer na

neu-rose abriu espaço

para

eformar

o

desejo' ou seja'

seria possível

ter

uma

o

produto de

algo que só

teve a possibilidade

de

Cõntr¡do Freud não chega

até aí,porque

,, ugurt

d.a cena de sedução' As coisas sô se trans' formarn

com

a

descob

t

tnfutttif e

da postulação

do Édipo'

Atra-vés desses conceitos, a memória adquire uma função

dações de coisas que nunca existiram' que só eram p

taa'.*

deformadas. Durante

os três

períodos existe

;;;;;;rr.

Mas

só a partir

de

um

momento bem preciso

foi

possível aPafecer a

memória

do

desejo,

;"';;i;,

u

memoria daquilo que só teve uma possibilidade de existir.

LISTA BIBLIOGRÁFICA

I

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Referências

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