XVI Encontro de Iniciação à Docência
Universidade de Fortaleza 17 a 20 de outubro de 2016
Experiências de aprendizagem vivenciadas pelos alunos de graduação na
modalidade de ensino a distância
Francisco Renato da Silva Soares¹* (ID), Francisco Helder Braga Lobo Filho¹ (ID), Gabriela Teles¹ (ID), João Ítalo Mascena Lopes¹ (ID), Thayana Brunna Queiroz Lima Sena¹ (ID), Luciana de Lima² (PO)
1 – Universidade Federal do Ceará – Grupo de Pesquisa Tecnodocência 2 – Universidade Federal do Ceará – Instituto Universidade Virtual fcorenato18@hotmail.com
Palavras-chave: Ensino a distância. Graduação. Aprendizagem.
RESUMO
O objetivo da seguinte pesquisa é analisar como os alunos participantes da disciplina Diferença e Enfrentamento nas Desigualdades Sociais, ofertada no semestre 2016.1 na modalidade de ensino a distância pela Universidade Federal do Ceará (UFC) no Ambiente Virtual de Aprendizagem Solar, vivenciaram a experiência de aprendizagem. A disciplina é composta por oito fóruns, onde são discutidos temas considerados importantes e desafiadores para a comunidade acadêmica, assim como para a população em geral. No último fórum da disciplina, foi disponibilizado aos alunos um formulário eletrônico com um total de vinte e quatro questões divididas entre objetivas e subjetivas, para que respondessem e avaliassem sua experiência e aprendizado adquirido durante o período em que cursaram a disciplina. Realizou-se uma comparação entre as experiências que cada aluno vivenciou anteriormente com outras modalidades de ensino em busca da compreensão sobre a relevância da modalidade de ensino a distância nos cursos superiores, bem como as principais contribuições e obstáculos enfrentados. Ao final do trabalho, percebeu-se uma visão geral da forma como os alunos enxergaram a disciplina, seus professores e a si mesmo, com um resultado que demonstra opiniões concisas e uniformes.
INTRODUÇÃO
A educação a distância, nos dias atuais, já pode ser considerada uma realidade inserida no ensino superior. Apesar de ainda não ter um papel de grande destaque em algumas universidades brasileiras, essa modalidade de ensino está ganhando espaço entre os alunos e professores, aprimorando cada vez mais a experiência docente e discente. Seja com o uso das redes sociais, que são hoje as principais formas de interação entre as pessoas, seja por meio de aplicativos, já é possível estabelecer uma relação de ensino e aprendizagem com a mediação da tecnologia e todos os seus gadget’s (NASCIMENTO, 2016).
Com o objetivo de se trabalhar o enfrentamento das diferenças e procurando equalizar o respeito pela diversidade, a Universidade Federal do Ceará, disponibiliza semestralmente aos alunos de todos seus cursos um total de 360 vagas para a disciplina Diferença e Enfrentamento Profissional nas Desigualdades Sociais. O ensino é totalmente a distância, via Ambiente Virtual de Aprendizagem Solar, onde os alunos da universidade ativam seus cadastros. A disciplina busca tornar-se um espaço para sensibilizar os discentes para as problemáticas que envolvem questões relacionadas às etnias e africanidades, à tecnocultura, ao gênero, ao meio ambiente e aos direitos humanos, tendo como meta, incentivar um aprofundamento posterior dos alunos nas causas abordadas, fazendo com que se engajem nessas causas e busquem melhorias para a sociedade, relacionando os conhecimentos específicos de suas áreas de saber àqueles abordados na disciplina.
Logo no início do semestre, os alunos são divididos em doze turmas com aproximadamente 30 participantes. A disciplina é dividida em oito fóruns que duram em média três semanas cada, onde o primeiro funciona como uma ambientação em EaD. São repassadas dicas de como ter um melhor aproveitamento na aprendizagem a distância. Neste primeiro fórum, todos os alunos, professores e tutores se apresentam, criando assim maior empatia entre os participantes de cada turma. Entre o segundo e o sétimo fórum, cada turma fica com um assunto específico para debate e com um professor responsável pela moderação e avaliação das postagens realizadas pelos alunos. Os assuntos debatidos são: diferença como qualidade do que é diferente, direitos humanos como construção cultural, tecnocultura, tecnologia e tecnocracia, cultura étnica e africanidades na sociedade da diversidade, papel e identidade de gênero e educação ambiental. Ao final de cada fórum o professor avalia os alunos que participaram do debate, atribuindo uma nota entre 0,00 e 2,00 pontos. Para obter aprovação na disciplina, é necessário que o aluno tenha uma nota igual ou superior a 7,00. Já no último fórum da disciplina, é disponibilizado aos alunos um formulário eletrônico, onde podem opinar e avaliar o aprendizado adquirido durante todo o semestre. Com esse formulário, a coordenação da disciplina, busca identificar os pontos positivos e negativos apontados pelos alunos e quais aspectos mais beneficiaram ou prejudicaram a aprendizagem.
Nesse sentido pergunta-se: como os alunos de ensino superior compreendem a experiência com a modalidade a distância em seu processo de aprendizagem? O objetivo deste trabalho é analisar como os alunos participantes da disciplina Diferença e Enfrentamento nas Desigualdades Sociais, ofertada no semestre 2016.1 na modalidade de ensino a distância pela Universidade Federal do Ceará (UFC) no Ambiente Virtual de Aprendizagem Solar, vivenciaram a experiência de aprendizagem.
METODOLOGIA
Esse trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa quantitativa, método que se caracteriza pelo emprego da quantificação e que possui como diferencial a intenção de garantir a precisão dos trabalhos realizados, conduzindo a um resultado com poucas distorções. Durante o trabalho, foram analisados os formulários eletrônicos respondidos pelos alunos da disciplina. A pesquisa busca traçar um perfil dos participantes, com informações básicas como idade, curso, modo como utilizam a internet (fundamental ferramenta de participação na disciplina), quais equipamentos utilizados durante o semestre para participação nos fóruns.
A disciplina possui 360 participantes dos mais variados cursos ofertados pela universidade. Desse total foram selecionados 100 alunos (28%), com o cuidado para que houvesse pelo menos um participante de cada uma das doze turmas que compõem a disciplina. Os alunos selecionados pertencem aos seguintes cursos: Administração, Agronomia, Direito, Ciências Ambientais, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Ciências Sociais, Computação, Cinema e Audiovisual, Engenharia, Farmácia, Geografia, Filosofia, Finanças, Gastronomia, Letras, Matemática, Física, Química e Secretariado Executivo. Dentre estes cursos, Engenharia (31%), Computação (10%) e Ciências Contábeis (8%) são os que possuem maior número de participantes selecionados para a análise.
A pesquisa foi organizada em três etapas: criação de um banco de dados, seleção de um percentual de respostas e análise dos dados obtidos.
Na primeira etapa os alunos foram convidados a responder virtualmente um formulário de autoavaliação disponibilizado no último fórum da disciplina. Foram recebidas 291 respostas, ou seja, 80% dos participantes da disciplina responderam ao questionário.
Na etapa seguinte, foram selecionadas 100 respostas enviadas, tomando cuidado para que cada uma das turmas fosse representada por pelo menos 1 participante. A busca é pela homogeneidade da escolha e garantia de uma amostra representativa da população, pois na mecânica da disciplina todas as turmas debatem sobre os mesmos assuntos e com os mesmos professores e tempo de fórum, porém em momentos distintos do semestre.
Na terceira etapa, foi realizada a análise das respostas selecionadas, traçando assim o perfil dos alunos da disciplina por meio das seguintes perguntas:
• com que frequência você utiliza a internet? • qual é o local que você mais utiliza a internet?
• qual equipamento você utiliza mais frequentemente para acessar a internet? • o que você costuma fazer quando utiliza a internet?
• quais os aspectos positivos vivenciados na disciplina? • quais aspectos negativos vivenciados na disciplina? • qual a sua avaliação sobre os professores da disciplina? • Como você avalia a sua participação na disciplina?
• O que você aprendeu sobre a experiência de participar de uma disciplina na modalidade a distância?
A análise dos dados ocorreu através da leitura interpretativa das respostas, onde buscou-se evidenciar os principais aspectos apontados pelos alunos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a análise das respostas, foi possível identificar que 97% dos participantes utilizam a internet todos os dias e que 84% tem como principal local de acesso à sua própria residência. Essas duas informações são muito importantes para traçar o perfil ideal de um aluno que deseja cursar alguma disciplina a distância, já que essa facilidade de acesso é um importante aliado do discente no decorrer do curso (SLOMSKI, 2016).
Os alunos também revelaram que para 56% deles, o smartphone é o principal equipamento utilizado nesses acessos, o que mostra que o tradicional desktop está perdendo espaço entre os estudantes e dando lugar a um equipamento menor, mais prático e bem mais portátil. Essa informação é muito importante para os docentes pois partindo dessa preferência dos alunos pelos smartphones, é possível enxergar o aparelho como um grande aliado, haja vista que dispõe de vários aplicativos e ferramentas que podem intensificar e auxiliar a aprendizagem.
Ao serem questionados sobre os pontos positivos da disciplina, 64% dos alunos disseram que o ponto mais importante foram os assuntos abordados em cada fórum, pois devem ser trabalhados dentro das universidades brasileiras, são muito desafiadores e relevantes. Outro ponto positivo comentado por 34% dos participantes foi a convivência com múltiplas opiniões e experiências relatadas nos fóruns, muito importante para o seu crescimento acadêmico e pessoal. O terceiro ponto mais comentado, 22% afirmaram que a interação entre os cursos também foi muito positiva e que isso precisa ser incentivado, o que mostra que a universidade está no caminho certo na tentativa de realizar maior integração entre os seus alunos, independente do curso, área e campus.
Os alunos foram incentivados também a apontar os aspectos considerados negativos ou que poderiam ser melhorados. Para 32% dos alunos o grande problema da disciplina está no seu material de apoio. No início de cada fórum, o professor responsável pelo debate entra em contato com os alunos e lhes passa uma lista de textos e links que devem ser utilizados como material de estudo e base para o debate que se iniciou. Entretanto, os alunos informaram que os textos são muito extensos e complexos para serem abordados em uma disciplina a distância; que essa
dificuldade em compreender o que está sendo exposto no material acaba por criar um desinteresse pelo tema abordado.
Como segundo ponto negativo mais citado, 30% dos alunos expuseram o desejo por mais conteúdos audiovisuais. Muitos destes gostariam que filmes e músicas fossem melhor aproveitados pelos professores, pois as abordagens de temas tão complexos podem ser mais sutis e eficazes, se desenvolvidas por meio da arte.
Outro ponto negativo apontado por 32% dos participantes foi a ausência dos professores nos debates ou o distanciamento entre o professor e a turma, já que para os alunos os principais responsáveis pela moderação dos debates eram os tutores, que são alunos bolsistas. Continuando nessa mesma linha, 26% dos alunos sugeriram ao menos um encontro presencial entre os professores e os alunos, pois acreditam que essa interação pessoal é muito importante para uma total integração das turmas.
Para 62% dos alunos, a avaliação dos professores durante todo o semestre foi positiva e consideram que a seriedade como a disciplina foi tratada durante o semestre foi fundamental para o bom aproveitamento que obtiveram. Ao se auto avaliarem, alguns alunos foram bem críticos com suas próprias contribuições para a disciplina, mas no fim 74% deles consideraram suas participações satisfatórias, mesmo que, para 18% ainda seja necessária maior dedicação.
Quando questionados sobre o maior aprendizado adquirido por eles ao participarem de uma disciplina totalmente a distância, 60% responderam que o maior aprendizado adquirido foi saber que a EaD é uma modalidade bastante válida para o ensino superior e que a experiência vivida durante o semestre foi muito importante para quebrar um preconceito existente contra essa modalidade de ensino. Para 20% dos que responderam à pergunta, a disciplina os ajudou a ter maior organização dos seus horários de estudo, já que tinham que se programar para participar dos fóruns dentro do prazo estabelecido.
CONCLUSÃO
Ao analisar as respostas dos participantes da pesquisa, pode-se notar que a modalidade de ensino a distância, apesar de ainda enfrentar preconceito, já encontra maior aceitação entre os alunos do ensino superior. Entre os participantes, mais de 60% fizeram questão de relatar a surpresa que sentiram quando se viram imersos nas atividades da disciplina.
Pode-se destacar a importância do professor nesse processo, pois quando os estudantes sentem a presença do professor nos debates, mesmo a distância, conseguem desenvolver melhor seu raciocínio (SLOMSKI, 2016).
O fato de os alunos terem acesso diário à disciplina, principalmente de suas residências, mostra um caminho que pode ser utilizado pelas universidades na tentativa de incluir a EaD no nível superior, onde é possível considerar o uso das redes sociais como uma aliada nesse processo (SLOMSKI, 2016).
Os resultados obtidos pela pesquisa serão direcionados aos professores responsáveis pela disciplina, com o objetivo de uma melhoria tanto na abordagem nos fóruns como nos materiais de apoio que serão disponibilizados aos alunos que participarão da disciplina no próximo semestre.
REFERÊNCIAS
NASCIMENTO, João Paulo Rodrigues do; VIEIRA, Maria das Graças. Os desafios da
institucionalização do ensino superior na modalidade a distância: a visão dos gestores de uma universidade federal. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. Rio de Janeiro , v. 24, n. 91, p. 308-336, June 2016 . Available from:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362016000200308&lng=en&nrm=iso>. Access: on 14 Aug 2016.
SLOMSKI, Vilma Geni et al. TECNOLOGIAS E MEDIAÇÃO PEDAGOGICA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTANCIA. JISTEM J.Inf.Syst. Technol. Manag. São Paulo, v. 13, n. 1, p. 131-150, Apr. 2016. Available from
