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1º estágio_Dano Moral - Erro M+®dico - Neglig+¬ncia de Obstetra - Dano sofrido no Parto

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Poder Judiciário do Estado da Paraíba

Comarca de Campina Grande

3ª Vara Cível

Processo nº : 001.2005.002.549-1

Natureza/ação : Indenização por Danos Morais e Estéticos Autor(a0 : JÉSSICA MIKAELA DE SOUZA COSTA Réu : HOSPITAL PEDRO I

S E N T E N Ç A

CONSUMIDOR. SERVIÇO MÉDICO-HOSPITALAR. OBSTETRÍCIA. DANOS MORAL E ESTÉTICO: Prestação de serviços de obstetrícia – Parto normal – Manobras realizadas para extração do bebê – Lesão obstétrica consistente no estiramento do plexo braquial – Déficit de rotação externa do membro superior esquerdo – Discreta diminuição da força muscular – Discreta atrofia da musculatura supra-escapular – Alteração do padrão estético da infante - Submissão da ofendida a longo e doloroso tratamento fisioterápico - Malefício ao bem-estar físico e mental da menor - Responsabilidade objetiva, informada pela teoria do risco profissional – Cumulação dos danos moral e estéticos – Súmula 387 do STJ -Possibilidade.

É objetiva, informada pela teoria do risco profissional, a responsabilidade dos hospitais e casas de saúde por danos decorrentes da má-prestação do serviço.

Demonstrados o dano e o nexo de causalidade entre este e o proceder da casa de saúde, impõe-se o dever reparatório.

Procedência dos pedidos Vistos etc.

JÉSSICA MIKAELA DE SOUZA COSTA, menor impúbere representada por sua genitora DENIZE DA SILVA COSTA, já qualificado(a), por intermédio de advogado(a) regularmente habilitado(a), ingressou em juízo com a presente ação contra o HOSPITAL PEDRO I, igualmente qualificado(a), objetivando reparação civil por danos morais e estéticos sofridos em razão de negligência no atendimento médico-hospitalar prestado ao ensejo do nascimento da suplicante.

De acordo com a petição inicial, a genitora da suplicante deu entrada na unidade de saúde suplicada em 31 de julho de 2000, já sentido dores e fortes contrações, onde foi atendida por uma parteira conhecida pelo vulgo de “Zefinha”, pessoa essa que, na ausência de médico plantonista no local, conduziu os trabalhos do parto em questão; que a parteira chegou a subir na barriga da genitora da suplicante, forçando a expulsão do rebento, cujo nascimento ocorreu cerca de trinta minutos após o início das manobras levadas a cabo pela referida parteira; que a autora nasceu com uma das mãos defeituosa e o braço paralisado, além de diversos edemas e lesões no couro cabeludo, permanecendo internada no hospital ora suplicada por 45 (quarenta e cinco dias), para tratamento de pneumonia adquirida em razão do parto extremamente doloroso; que a qual a menor foi submetida a várias sessões de

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fisioterapia, tão-logo recebeu alta; que o suplicado agiu com extrema negligência, na medida em que confiou a realização do parto a uma pessoa leiga, provocando danos irreversíveis a integridade física da autora; que a suplicante foi submetida a tratamento penoso desde o seu nascimento, sendo prejudicada intensamente; que a autora ainda terá de submeter-se a inúmeros tratamentos de fisioterapia e ósteo-musculares, como forma de retardar o avanço da paralisia e estimular reações motoras na mãozinha deficiente.

Por tudo isto, pugnou pela condenação da suplicada em indenização por danos morais e estéticos.

Atribuindo à causa o valor de (R$ 300,00) instruiu a petição inicial com os documentos de fls. 16/34.

Regularmente citado, o promovido ofereceu contestação (fls. 38/42), acompanhada de documentos (fls. 45/50), argüindo, à guisa de preliminar, a ilegitimidade passiva ad causam. No mérito, alega que a genitora da autora deu entrada no hospital em avançado trabalho de parto, quase em processo expulsivo, sendo recepcionada pela parteira de vulgo “Zefinha” (Josefa Vidal de Negreiros Souza); que tão logo avisado, o médio Francisco Couto Bem imediatamente procedeu ao parto normal; que a autora foi encaminhada para o berçário, onde permaneceu por apenas 24 horas, recebendo alta no dia seguinte; que não consta dos arquivos do hospital quaisquer irregularidades em relação ao parto em questão; que o tempo de permanência da autora no hospital foi insuficiente para a aquisição de um processo infeccioso de pneumonia; que as lesões na cabeça da menor foram, ao que tudo indica, oriundas da aplicação de soro quando do tratamento da pneumonia, tudo isso fora do hospital contestante, pugnando, assim, pela improcedência da ação, com a condenação da autora nas penas cominadas à litigância de má-fé.

Indeferimento do pedido de antecipação de tutela (fls. 52/53). Impugnação à contestação (fls. 55/58).

Audiência preliminar conciliatória (fls. 65/66), na qual foi rechaçada a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam.

Audiência de instrução e julgamento (fls. 78/79).

Designação de prova pericial (fls. 82), por profissionais das áreas de neurologia e obstetrícia.

Apresentação de “laudos” periciais (fls 95/98).

Complementação do Laudo Pericial Neurológico (fls. 101/102 e 116/122) e do Laudo Obstétrico (fls. 132/142).

Manifestação das partes sobre os laudos periciais (fls. 147/150).

Oferecidas as razões finais pelas partes e pelo Ministério Público (fls. 152/154, 156/160 e MP...) vieram-me os autos conclusos para a sentença.

É o relatório, em apertada síntese. DECIDO:

Trata-se de ação ordinária de indenização por danos morais e estéticos sofridos em decorrência de negligência na prestação de atendimento médico-hospitalar, realizado em 28 de julho de 2000, por ocasião do nascimento da suplicante, quando em razão de má prestação do serviço de obstetrícia, teria a menor sofrido nascido com vários edemas no couro-cabeludo, defeito na mãozinha esquerda, paralisia do braço esquerdo, tudo isso agravado por um processo infeccioso de pneumonia, obrigando a permanência da menor no hospital suplicado por 45 (quarenta e cinco) dias, além de um custoso, doloroso e inconcluso tratamento de fisioterapia.

Inicialmente, ressalte-se que se está diante de típica relação de consumo, aplicando-se ao presente litígio, em sua totalidade, as regras do Código de Defesa do Consumidor, a teor de seu art. 2º e § 2º do art. 3º, in verbis:

“Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”.

Art. 3º ... § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”.

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Pois bem, em matéria de reparação de danos decorrentes da má prestação do serviço médico-hospitalar, a responsabilidade civil, de índole contratual, biparte-se em duas grandes vertentes, a saber: a do hospital, informada pela teoria do risco profissional e, portanto, objetiva, e a do profissional da medicina, baseada na teoria da culpa e, por conseguinte, de cunho subjetivista.

No particular, registre-se que a responsabilidade contratual dos hospitais e casas de saúde, de natureza objetiva, está disciplinada nos artigos arts. 6º, inc. VI, e 14, do Código de Defesa do Consumidor, configurando-se sempre que demonstrados o evento danoso e a relação de causalidade, independentemente da perquirição do elemento culpa no proceder do causador do dano, in litteris:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

...

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.”.

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido.

...

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.”.

A propósito do tema, prelecionam Nery Jr. e Nery1 que:

“A norma (CDC 6º VI) estabelece a responsabilidade objetiva como sendo o sistema geral da responsabilidade do CDC. Assim, toda indenização derivada de relação de consumo, sujeita-se ao regime da responsabilidade objetiva, salvo quando o Código expressamente disponha em contrário (v.g. CDC 14 § 4º)”.

No presente caso concreto, não paira a menor dúvida de que houve, de fato, defeito na prestação no serviço médico-hospitalar ao ensejo do nascimento da suplicante, restando sobejamente caracterizada a responsabilidade da promovida pela reparação dos danos morais e estéticos reclamados na presente demanda.

Com efeito, embora se esteja diante de responsabilidade de natureza objetiva, verificável independentemente do elemento culpa, registre-se que a negligência com que se procedeu ao atendimento da suplicante sobrepuja as frágeis argumentações defensivas, as quais não encontram o menor eco no contexto probatório dos autos.

Inicialmente, ressalte-se que, diferentemente do sustentado pela suplicada, a criança permaneceu no hospital por vários dias; a alta registrada no dia seguinte ao parto limitou-se à sua genitora, conforme esclarecido no respectivo depoimento pessoal:

DENIZE DA SILVA COSTA (fls. 78):

“[...] que a criança passou de dois a três meses internada no hospital, enquanto a depoente recebeu alta no dia seguinte ao parto; que durante todo esse período, a criança ficou no berçário do hospital, sob os cuidados do pediatra Paulo Gayoso; que a depoente tinha uma autorização expressa da assistente social para entrar no berçário; [...]”.

Tais informes, além de totalmente compatíveis com o quadro clínico da menor, cuja evolução se vê retratada nas fotografias que instruem a petição inicial (fls. 21/29), estão corroborados pelo relatório de fls. 30 e, notadamente, do documento de fls. 32, este último do seguinte teor:

“HOSPITAL PEDRO I [...] Caro Vigilante! A Senhora Lenise de S. Costa, (sic) está autorizada a entrar no Berçário, pela manhã ou a tarde, para amamentar

1 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Novo Código Civil e Legislação Extravagante Anotados, 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 725.

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a sua filha, que encontra-se internada sob os cuidados do Dr. Paulo Gayoso. Maria Helena da S. e Silva – Assistente Social – CRESS/PB 16-019”

Tais elementos de convicção demonstram, à saciedade, que tanto o suplicado, quanto o médico Francisco Couto Bem, faltaram com a verdade quando afirmaram que tanto a mãe quanto a menor teriam recebido alta no dia seguinte ao parto. Evidencia-se, ainda, que o prontuário médico que instrui a defesa não merece credibilidade, uma vez que omite, propositadamente, informações desfavoráveis à tese defensiva, tais como os vários dias em que a autora seguiu internada após o parto; o tratamento da pneumonia; o acompanhamento pelo Dr. Paulo Gayoso e, notadamente, as lesões neurológicas sofridas em razão do parto.

De outra senda, a prova pericial produzida ao longo da instrução ratificou, de forma absolutamente incontestável, a etiologia das lesões neurológicas retratadas na petição inicial, corroborando, mais uma vez, o que declarou a genitora da menor em juízo:

DENIZE DA SILVA COSTA:

“[...] que foi forçado muito o nascimento da criança, mas que foi parto normal; que a criança nasceu com alguns problemas, como falta de controle na região do pescoço/cabeça e o membro superior esquerdo com defeito, conforme mostram (sic) a fotografia de fls. 21... [...] mas ficou com seqüela o defeito no braço e mão esquerdos; que inicialmente e ainda hoje a menor sofre de déficit de coordenação motora no referido membro;” (grifei).

Com efeito, a prova pericial não deixa margem à dúvida quanto à etiologia das lesões neurológicas apresentadas pela menor, as quais decorreram de manobras realizadas por ocasião do parto, consistindo, especificamente, no estiramento do tecido nervoso do plexo braquial, consoante as conclusões do Neurologista José da Costa Leão Segundo:

“a) Se a autora apresenta alguma seqüela?

R – Sim, discreto déficit de rotação externa do membro superior esquerdo. b) Em caso positivo, qual a origem patológica da seqüela?

R – Lesão obstétrica com estiramento do plexo braquial” (fls. 116) “Conclusões:

A lesão obstétrica do plexo braquial ocorrida na paciente Jéssica Mikaela de Souza Costa foi uma lesão típica de estiramento do plexo braquial em virtude de manobra obstétrica, [...]” (fls. 118).

Ressalte-se que o laudo obstétrico veio instruído com literatura ilustrativa da lesão do plexo braquial [estrutura a partir da qual têm origem os nervos dos membros superiores] em razão da pressão exercida pelo parteiro no momento da extração do bebê, provocando o estiramento excessivo e subseqüente danificação do tecido nervoso (fls. 119/122), tratando-se, inclusive, de patologia previsível e, por conseguinte, evitável (fls. 117).

Em conseqüência, “[...] a menor com 08 (oito) anos apresenta uma discreta diminuição da força muscular do m.s.e. com limitação do movimento de rotação interna do m.s.e.”, consoante conclusão do laudo obstétrico (fls. 133), em consonância com as conclusões do laudo neurológico.

Em conclusão, restaram sobejamente comprovados os danos de ordem neurológica retratados na petição inicial, em decorrência da má-prestação do serviço pelo suplicado, refletindo negativamente tanto na higidez psicossocial da infante, devido, sobretudo, ao trauma sofrido em razão dos danos e do subseqüente e doloso tratamento fisioterápico a que fora submetida, tudo isso agravado pela alteração de seu padrão estético, resultante da atrofia da musculatura supra-escapular esquerda e déficit de rotação do membro superior esquerdo [fls. 116], devendo o promovido, por conseguinte, reparar os danos morais e estéticos experimentados ora reclamados, de forma cumulativa, a teor da recente Súmula 387 do c. STJ:

“É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.

No tocante à quantificação dos danos, ressalte-se que, na ausência de critérios pré-estabelecidos, sua determinação submete-se ao prudente arbítrio do juiz, devendo ser quantificado em valor que atenda, a um só tempo, a finalidade repressiva e punitiva para o agente, desestimulando a prática de novos ilícitos, e compensatória para o ofendido, recompondo o patrimônio imaterial, considerando-se a extensão do dano, o grau de culpa, o proceder tanto do agente quanto do ofendido, a situação econômica das partes e etc, atendidos os critérios de adequação, suficiência e proporcionalidade.

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No presente caso concreto, levando em consideração todo o sofrimento injustamente infligido à recém-nascida, a negligência com que procedeu o suplicado, deixando, inclusive, de ministrar os meios materiais tendentes à eliminação e/ou minoração dos danos causados, agindo com culpa grave, todo o sofrimento causado à menor, com seqüelas permanentes em seu padrão estético e demais circunstâncias inerentes ao presente caso concreto, entendo razoável uma reparação equivalente a 25 salários mínimos para os danos morais e 15 para os danos estéticos, totalizando 40 (quarenta) salários mínimos.

Por tais fundamentos

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JULGO PROCEDENTES OS PEDIDOS, condenando o promovido a indenizar a autora, a título de danos morais e estéticos, na quantia de R$ 18.600,00 (dezoito mil e seis reais), devidamente corrigida2, a contar desta data, e

acrescida de juros moratórios de 0,5% (meio por cento) ao mês da data do evento danoso [28/07/00] até a entrada em vigor do atual CCB: 11/01/03, a partir de quando o percentual se eleva para 1% (um por cento) ao mês [art. 398 do CCB c/c a Súmula 54 do STJ].

Condeno a ré, ainda, no pagamento de honorários advocatícios, em favor do patrono da autora, os quais arbitro em 20% (vinte por cento) do valor da condenação, devidamente corrigido, além do pagamento das custas processuais.

P. R. Intimem-se.

Campina Grande, 16 de setembro de 2009. MANUEL MARIA ANTUNES DE MELO Juiz de Direito Titular

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