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Química-Mineral das lavas da ilha de Santa Maria (Açores):implicações petrogenéticas

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Bolsas Universidade de Lisboa / Fundação Amadeu Dias

Edição 2011/2012

Relatório de Projeto

Química-Mineral das Lavas da Ilha de Santa Maria (Açores): Implicações

Petrogenéticas

Bolseira: Susana Santos

Faculdade de Ciências

Curso: Licenciatura em Geologia

Ano: 2012

Tutor: Prof. João Mata

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Índice

1. Introdução ...3

2. Geologia ...4

3. Sistemática das lavas da Ilha de Santa Maria ...5

4. Química-Mineral ...7

4.1. Caracterização química geral ...8

4.2 Substituições não quadrilaterais ...10

4.3 Variações composicionais dependentes da pressão ...13

4.4 Geotermobarometria ...14

5. Execução Financeira ...17

6. Conclusões...17

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1. Introdução

1.1 Objetivos

O presente projeto teve como objetivo um estudo de química mineral de lavas que, aflorando na ilha de Santa Maria (Açores), retratam uma história vulcânica de cerca de 11.2 Ma. Considerando que dos minerais ocorrentes de forma ubíqua nas lavas desta ilha (olivina, clinopiroxena, plagióclase e óxidos), as clinopiroxenas são consensualmente consideradas como a fase que melhor reflete a composição dos magmas a partir do qual cristalizam (e.g. Leterrier et al., 1982; Morris et al., 2002), foi decidido centrar o estudo neste inossilicato. Como principais objetivos definiram-se 1) a determinação dos principais mecanismos de substituição operantes no decurso dos processos de evolução magmática, 2) a obtenção dos primeiros dados de geotermobarometria para as lavas da ilha de Santa Maria e 3) a compreensão dos mecanismos condicionantes da evolução composicional desses magmas.

1.2 Metodologia

Os objetivos científicos deste projeto foram traçados tendo em perspetiva proporcionar uma experiência de iniciação à investigação científica através da tentativa de resposta a questões concretas cuja obtenção implicasse a utilização de equipamento laboratorial que, sendo sofisticado e dispendioso, é considerado uma ferramenta fundamental em estudos petrológicos e mineralógicos de diversa índole. Foi assim definido um tema que implicou a realização de microanálises de minerais por Microssonda Eletrónica, tirando partido de uma unidade JEOL JXA-8200 existente no Laboratório de Microanálise do Centro de Geologia da Universidade de Lisboa (CeGUL). Tendo em atenção o anteriormente referido este estudo incidiu sobre a composição das clinopiroxenas. Para o presente estudo selecionaram-se, no banco de amostras do CeGUL, um total de onze amostras representativas dos diversos complexos vulcano-estratigráficos da ilha de Santa Maria, amostras essas que se pretendia que retratassem, tanto quanto possível, líquidos magmáticos pouco fracionados. Para tal seleção combinou-se o estudo textural micropetrográfico de lâminas delgadas já existentes com a interpretação dos teores de níquel e magnésio das rochas, anteriormente obtidos no âmbito de um projeto do CeGUL. Em termos texturais, procurou-se selecionar amostras de textura afanítica e em que os fenocristais representassem menos de 10% do volume da rocha, i.e., características que evidenciem pouca importância dos processos de acumulação. Esta seleção foi complementada com os valores de Ni e de Mg#, tendo-se, sempre que possível, selecionado para o estudo amostras caracterizadas por Ni>100 ppm e Mg#>59, por forma a

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assegurar que tais rochas resultem de magmas não significativamente afetados por processos de evolução magmática (e.g. Mata, 1996).

A microssonda é um equipamento que permite executar análises elementares quantitativas de um pequeno volume de amostra (tipicamente de alguns μm3), medindo a radiação X resultante da interação de um feixe de eletrões acelerados com o material a analisar. Utilizou-se uma microssonda JEOL JXA-8200, idêntica à de equipas de laboratórios de prestigiadas instituições como o MIT e o Caltech. Este equipamento permite a aquisição de imagens de eletrões secundários, de eletrões retro difundidos e mapas de raios X e encontra-se equipado com quatro espectrómetros de dispersão de comprimento de onda e um espectrómetro de dispersão de energia. A maioria dos elementos da tabela periódica pode ser analisada com este equipamento (do boro até ao urânio). A sensibilidade analítica varia de algumas partes por milhão para casos mais favoráveis, a um limite de deteção típico de várias centenas de ppm. Estima-se que a precisão seja tipicamente de 0.X% relativo e o rigor da ordem de 1 a 2%. Durante as análises das piroxenas de Santa Maria utilizou-se uma corrente de 25 nA, uma voltagem de aceleração de 15 kV, um feixe de 5 µm de diâmetro e como padrões materiais naturais (minerais) e sintéticos. Utilizaram-se lâminas polidas que foram previamente revestidas com uma camada de cerca de 20 nm de carbono por forma a possibilitar a condução de corrente.

2. Geologia

Santa Maria é a mais oriental das 9 ilhas que, emergindo da plataforma submarina dos Açores, constituem o arquipélago do mesmo nome. As ilhas açorianas localizam-se de ambos os lados da Crista Média Atlântica e, mais precisamente, junto ao ponto triplo correspondente à junção de três placas litosféricas: Norte Americana, Euroasiática e Africana (e.g. Lourenço et al., 1998). O magmatismo que deu origem às ilhas açorianas tem sido considerado o resultado da atuação de uma pluma mantélica. A existência sob os Açores de uma zona de baixa velocidade de propagação das ondas S localizada a profundidades entre os 460 e os 500 km (Silveira et al., 2010) aponta para o enraizamento profundo da pluma que, a julgar pelos dados isotópicos de He e Ne, se terá originado no manto inferior (Madureira et al., 2005). Santa Maria (37º01’16’’-36º55’37’’ N; 25º11’27’’-25º00’49’’ W) terá emergido no Tortoniano e mantido atividade vulcânica até ao Pliocénico superior (Serralheiro & Madeira, 1993). Trata-se, portanto, da mais antiga ilha do Arquipélago dos Açores e a que um mais longo registo vulcânico (11.2 Ma) apresenta, o que a torna num local de eleição para o estudo da variação temporal do quimismo dos magmas açorianos.

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5

De acordo com Serralheiro & Madeira (1993), a ilha de Santa Maria caracteriza-se pela presença de seis unidades vulcano-estratigráficas, de idade compreendida entre o Tortoniano e o Pliocénico superior, encontrando-se cobertas por sedimentos de idade Plistocénica e Holocénica (Figura 1). Da coleção de amostras da ilha de Santa Maria selecionou-se onze de acordo com os critérios enumerados no Capítulo 1.2 Metodologias, representativas dos seis complexos vulcano-estratigráficos:

 Formação Feteiras (Pliocénico Superior) – SM-27; SM-30  Complexo Facho – Pico Alto (Pliocénico)

 Complexo Facho – SM-12; SM-59  Complexo Pico Alto – SM-38; SM-40

 Complexo Touril (Pliocénico inferior a Miocénico superior) – SM-44  Complexo Anjos (Miocénico superior) – SM-16; SM-67

 Formação Porto (Miocénico Superior) – SM-1

 Formação Cabrestantes (Miocénico superior) – SM-8

Figura 1 - Mapa vulcanológico simplificado da ilha de Santa Maria (adaptado de Serralheiro et al., 1987). 1 - Formação dos Cabrestantes; 2 - Formação do Porto; 3 - Complexo dos Anjos; 4 - Complexo do Touril; 5 - Complexo do Facho - Pico Alto; 6 - Conglomerados e calcarenitos fossilíferos do Complexo do Facho - Pico Alto; 7 - Formação das Feteiras; 8 - Praias plio-quaternárias, quaternárias e terraços; 9 - Aluviões, depósitos de vertente, areias e cascalheiras de praia.

3. Sistemática das lavas da Ilha de Santa Maria

De acordo com o estudo petrográfico, as lavas estudadas são no geral porfiríticas, de matriz afanítica, ou mesmo, vítrea. Tal impossibilita a determinação da composição modal pelo que, de acordo com as recomendações da Subcomissão para a Sistemática das Rochas Ígneas da União Internacional de Sistemática em Geologia (IUGS), a sua classificação será feita numa base química utilizando o diagrama TAS (Total de Alcalis vs. Sílica) (Le Bas et al., 1986).

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A Figura 2 põe em evidência que as lavas estudadas da ilha de Santa Maria se caracterizam por composições básicas e ultrabásicas (SiO2 < 52%) revelando um baixo grau

de evolução. Por outro lado, as lavas apresentam um teor de alcalis moderadamente elevado, mas razões alcalis/sílica suficientemente elevadas para lhes conferir um caráter alcalino, que se realça pela sua projeção acima da fronteira entre as séries subalcalinas e alcalinas, definida por Rickwood (1989). Tendo em atenção a Figura 2, a composição normativa das amostras estudadas, bem como os teores relativos em Na2O e K2O, às

amostras estudadas foram atribuídas as designações sistemáticas expostas na Tabela 1.

Figura 2 – Diagrama SiO2 vs. Na2O + K2O (TAS). 1 – Tefrito (se possuir olivina normativa (Ol)n < 10%) ou

basanito (se possuir (Ol)n > 10%); 2 – Fonotefrito; 3 – Tefri-fonólito; 4 – Fonólito; 5 – Traquibasalto: havaito (se Na2O – 2.0 ≥ K2O) ou traquibasalto potássico (se Na2O – 2.0 ≤ K2O); 6 – traquiandesito basáltico: mugearito (se

Na2O – 2.0 ≥ K2O) ou shoshonito (se Na2O – 2.0 ≤ K2O); 7 – Traquiandesito: benmoreito (se Na2O – 2.0 ≥ K2O)

ou latito (se Na2O – 2.0 ≤ K2O); 8 – Traquito (se quartzo < 20%) ou traquidacito (se quartzo > 20%); 9 –

Picrobalsalto; 10 – Basalto: basalto alcalino (se apresentar nefelina normativa) ou basalto subalcalino (se apresentar hiperstena normativa); 11 – Andesito basáltico; 12 – Andesito; 13 – Dacito; 14 – Riolito; 15 - Foidito (campos composicionais segundo Le Bas et al., 1986). As linhas azuis separam os domínios alcalino e subalcalino (fronteiras segundo Rickwood, 1989).

Tabela 1 – Classificação das lavas da ilha de Santa Maria de acordo com a nomenclatura da IUGS (Le Bas et al., 1986).

Amostra Complexo vulcano-estratigráfico Classificação SM-27 Formação Feteiras Basanito SM-30 Formação Feteiras Basanito

SM-12 Complexo Facho Basanito

SM-59 Complexo Facho Basanito

SM-38 Complexo Pico Alto Basalto Alcalino SM-40 Complexo Pico Alto Basalto Alcalino SM-44 Complexo Touril Havaíto SM-16 Complexo Anjos Basalto Alcalino

SM-67 Complexo Anjos Basanito

SM-1 Formação Porto Basalto Alcalino SM-8 Formação Cabrestantes Havaíto

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 67 69 71 73 75 77 79 N a 2 O + K 2 O w t% SiO2 wt% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Alcalino Sub-Alcalino

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O caráter alcalino das lavas de Santa Maria é também demonstrado pelo significativo enriquecimento nos elementos-traço mais incompatíveis como é bem evidenciado pelo facto de, como se pode observar na Figura 3, as amostras estudadas serem significativamente mais enriquecidas em terras raras leves (e.g. La e Ce) que em terras raras pesadas (e.g. Yb e Lu), o que se traduz também em valores elevados da razão (La/Yb)n > 11.322.

Figura 3 – Para as onze amostras selecionadas dos seis complexos vulcano-estratigráficos, representativas de líquidos magmáticos pouco fracionados, encontra-se representado: A: Padrão de terras raras normalizado em relação aos condritos C1 (valores de referência de McDonough & Sun, 1995) e B: Perfil de elementos incompatíveis normalizado relativamente ao manto primordial, onde os elementos se encontram ordenados, da direita para a esquerda, pelo crescente grau de incompatibilidade (valores de referência e grau de incompatibilidade segundo McDonough & Sun, 1995).

4. Química-Mineral

As lavas estudadas apresentam tipicamente textura holocristalina, afanítica porfirítica, com abundantes fenocristais de clinopiroxena e olivina, de dimensão muito variada, e, em alguns casos, abundantes microfenocristais de mineralogia idêntica. A matriz, cuja granularidade varia de muito fina a média, apresenta a referida mineralogia e ainda, em alguns casos, cristais subédricos a anédricos de plagioclase e pequenos óxidos, de hábito arredondado e sensivelmente equigranulares. As clinopiroxenas observadas, de hábito euédrico a subédrico, cor acastanhada, pleocróicas e com tintas de refletância de II ordem, surgem frequentemente muito fraturadas, com núcleos subcirculares corroídos e, em alguns casos, apresentando óxidos inclusos. Contrariamente ao observado no núcleo, os bordos surgem frequentemente não alterados, permitindo uma clara distinção das faces do cristal. É ainda comum apresentarem um bordo com uma tonalidade mais escura que o núcleo, num contraste muito nítido em alguns casos. Alguns cristais de clinopiroxena, quando observados com nícois cruzados, apresentam zonamento concêntrico, mais ou menos acentuado, ou textura em ampulheta existindo, contudo, muitos cristais não zonados.

1 10 100 La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu 1 10 100 Rb Ba Th K Ta Nb La Ce Nd Zr Hf Sm Ti Y Yb R o c h a /C o n d ri to s R o c h a /M a n to P ri m o rd ia l

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Como referido, as piroxenas constituem bons indicadores petrogenéticos permitindo inferir acerca dos processos de evolução magmática e do tipo de magma a partir do qual se formaram (e.g. Le Bas, 1962; Leterrier et al., 1982). Isto deve-se ao facto de a sua variabilidade composicional depender fortemente das características que presidiram à sua cristalização, tais como a composição do líquido magmático, a pressão e temperatura da câmara magmática e ainda a sequência paragenética e a velocidade de cristalização dos cristais. Foram então efetuadas análises de microssonda a piroxenas das onze amostras selecionadas, perfazendo um total de cerca de 450 análises de fenocristais, microfenocristais e matriz. Para estas amostras, as fórmulas estruturais foram calculadas na base de 6 oxigénios e 4 catiões segundo Morimoto et al. (1988) e o cálculo do ferro segundo Droop (1987).

4.1. Caracterização química geral

Em termos estruturais, a fórmula geral das piroxenas pode ser expressa como [(M2)(M1)T2O6], onde M2 e M1 correspondem a catiões com coordenação octaédrica

geralmente distorcida e regular, respetivamente, e T refere-se a catiões com coordenação tetraédrica (Deer et al., 1992).

A Figura 4A permite constatar que a totalidade dos cristais analisados se integra no grupo das piroxenas “Quadrilaterais” ou piroxenas cálcico-ferro-magnesianas, o que indica que a sua composição é dominada por substituições quadrilaterais, i.e., Fe2+ e Mn2+ por Mg em M1 e Fe2+, Mg e Mn por Ca em M2. Tal permitiu a utilização do diagrama Ca2Si2O6 (Wo)

– Mg2Si2O6 (En) – Fe2Si2O6 (Fs) (Figura 4B), onde se verifica que a quase totalidade das

piroxenas é classificável como diópsido, segundo a nomenclatura de Morimoto et al. (1988).

Figura 4 – Sistemática das piroxenas da ilha de Santa Maria. A: Projeção das piroxenas dos diversos complexos vulcano-estratigráficos da ilha de Santa Maria no diagrama Q vs. J, onde Q = Ca + Mg + Fe2+ e J = 2Na; Campos: 1) Quad, 2) Ca-Na, 3) Na; Fronteiras: a) Q + J = 2.0, b) Q + J = 1.5, c) J / (J + Q) = 0.2, d) J / (Q + J) = 0.8 (campos composicionais e fronteiras segundo Morimoto et al., 1988). B: Projeção das piroxenas dos diversos complexos vulcano-estratigráficos da ilha de Santa Maria no diagrama Ca-Mg-Fe (campos composicionais segundo Morimoto et al., 1988).

0 1 2 0 1 2 Q J 1 2 3 a) b) c) d) A B

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No entanto, verifica-se que uma grande percentagem (cerca de 79%) de exemplares se projeta acima da linha que define 50% de Ca2Si2O6. Este facto, normal em ambiências

alcalinas (e.g. Mata, 1996), sugere a ocorrência de substituições não quadrilaterais, em proporções não desprezáveis (veja-se 4.2 Substituições não quadrilaterais).

Libourel et al. (1989) demonstrou experimentalmente o que Carmichael et al. (1970) havia explicado teoricamente recorrendo à equação CaAl2O6 (Ca-Tschermak) + SiO2

(líquido) = CaAl2Si2O8 (anortite): uma baixa atividade da sílica facilita a incorporação do Al na

posição Z da piroxena uma vez que favorece o aumento da estabilidade, na piroxena, da molécula Ca-Tschermak, pobre em sílica, relativamente ao componente anortítico da plagioclase. Estes pressupostos suportam a utilização das variações SiO2/Al2O3 na

determinação das afinidades magmáticas das lavas hospedeiras tal como proposto empiricamente por Le Bas (1962).

Da análise da Figura 5 constata-se que cerca de 98% das análises efetuadas se projeta no campo das piroxenas ocorrentes em lavas alcalinas e peralcalinas o que reforça o caráter alcalino das lavas de Santa Maria, se se tiver em consideração a definição dos termos básicos peralcalinos (basaltos nefelínicos) de Le Bas (1962) e o facto de a maioria dessas lavas se caracterizar pela presença de nefelina normativa.

Le Bas (1962) definiu as fronteiras composicionais do diagrama SiO2 vs. Al2O3 com

base em cristais da matriz, enquanto que as piroxenas de Santa Maria projetadas na Figura 5 englobam para além desse tipo de cristais, fenocristais. Considerando que Gamble & Taylor (1980) demonstraram que a incorporação de certos catiões (e.g. Al) na estrutura da clionopiroxena também depende da velocidade de cristalização, o facto de algumas (2%) das amostras se projetar no campo subalcalino poderá dever-se a causas dinâmicas.

Figura 5 – Diagrama SiO2 vs. Al2O3 (Le Bas, 1962) para as diversas análises de clinopiroxenas de amostras dos

seis complexos vulcano-estratigráficos; Campos: 1) cpx em rochas subalcalinas; 2) cpx em rochas alcalinas e 3) cpx em rochas peralcalinas. 39 41 43 45 47 49 51 53 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 S iO 2 (% ) Al2O3(%) 3) 2) 1)

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Tendo em vista explorar esta hipótese interessa estudar como variam composicionalmente grãos zonados. A Figura 6 demonstra que as amostras que se projetam no campo subalcalino correspondem a núcleos de cristais cujos bordos se projetam no campo peralcalino o que, tendo em atenção os dados de Mollo et al. (2010) indicando que a incorporação de alumínio na clinopiroxena varia inversamente com a velocidade de crescimento, permite concluir de algum condicionamento dinâmico da composição das piroxenas estudadas.

Figura 6 – Diagrama SiO2 vs. Al2O3 (Le Bas, 1962) evidenciando a variação composicional de grãos de

clinopiroxena zonados. Foi selecionada uma piroxena de cada complexo para ilustrar o comportamento da variação composicional; Campos: 1) cpx em rochas subalcalinas; 2) cpx em rochas alcalinas e 3) cpx em rochas peralcalinas.

4.2 Substituições não quadrilaterais

No Capítulo anterior foi sugerida a ocorrência nas piroxenas de Santa Maria de substituições não quadrilaterais. Frequentemente, a elevada interdependência de Si e Al (Figura 7) traduz a substituição (Al = Si)IV, o que provoca a redução do número de cargas em uma unidade. A substituição de Ca por Na em M2 é igualmente responsável pela redução do número de cargas. Verifica-se então a necessidade de ocorrência simultânea de outra substituição que compense a deficiência de cargas criada. É então comum a substituição de (Mg, Fe2+) por Al, Cr, Fe3+ e Ti em M1, por forma a assegurar a manutenção da neutralidade em termos de cargas.

Nas piroxenas estudadas o teor de Al IV varia entre 0.100 a 0.513 átomos por fórmula unitária (afu) o que corresponde a uma ocupação de 5 a 25.7% da posição tetraédrica por Al. Considerando esta grande variação é possível, segundo Mata (1996), inferir acerca dos mecanismos de substituição complementares através das projeções AlIV vs. AlVI, Fe3+, Cr e Ti (Figura 8). 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 S iO 2 (% ) Al2O3(%) 3) 2) 1)

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Figura 7 – Relações Si vs. Altotal (afu) para as diversas análises de clinopiroxenas de amostras dos seis complexos vulcano-estratigráficos.

Figura 8 – Diagrama Al IV vs. Al VI, Fe3+, Cr e Ti (afu), evidenciando a importância das substituições nos vários complexos da ilha de Santa Maria.

Constata-se que as substituições envolvendo Ti são as que apresentam maior importância no balanço de cargas nas lavas da ilha de Santa Maria, o que é também comprovado pela Tabela 2 uma vez que o par AlIV – Ti é o que apresenta maiores valores de

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2 A l to ta l Si 0 0,04 0,08 0,12 0,16 0,2 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 A l V I Al IV 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 F e 3 + Al IV 0 0,01 0,02 0,03 0,04 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 C r 3 + Al IV 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 T i Al IV

A

B

C D Ti / Al = 2 Si + Al total = 2

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coeficiente de correlação. A julgar pela Figura 8 e pela Tabela 2 a incorporação de Fe3+ foi também importante.

Tabela 2 - Coeficientes de correlação para os pares AlIV vs. AlVI, Fe3+, Cr e Ti, evidenciando a importância das subsituições nos vários complexos da ilha de Santa Maria.

Complexo Amostra Coeficiente de correlação

AlIV - AlVI AlIV - Fe3+ AlIV - Cr3+ AlIV – Ti Feteiras SM-27 0,244 0,792 -0,275 0,964 SM-30 0,463 0,802 -0,332 0,777 Facho SM-12 0,531 0,586 -0,641 0,965 SM-59 0,739 0,744 -0,308 0,962 Pico Alto SM-38 0,558 -0,392 -0,240 0,901 SM-40 -0,499 0,503 -0,510 0,956 Touril SM-44 0,114 0,770 0,120 0,903 Anjos SM-16 0,319 0,666 0,491 0,927 SM-67 0,638 0,797 0,100 0,945 Porto SM-1 0,167 0,477 -0,319 0,810 Cabrestantes SM-8 -0,021 0,501 0,368 0,774 Média 0,390 0,639 -0,337 0,899

De facto, pela análise da Figura 8D constata-se que a maioria das análises se projeta abaixo da linha que define 2Al:Ti, sugerindo que a substituição envolvendo Ti não é o único mecanismo operante no balanço da deficiência de cargas provocada pela substituição (Al = Si) IV, o que seria explicado pela equação (Tracy & Robinson, 1977; Mata, 1996):

Ti4+ + 2AlIV = (Mg+Fe2+) + 2Si4+

Por outro lado, a ocorrência em exclusivo de tal substituição implicaria que a soma de Ti, Mg e Fe2+, na posição M1, fosse aproximadamente constante e com um valor próximo de 1 (Tracy & Robinson, 1977), o que claramente não se verifica para as lavas da ilha de Santa Maria (Figura 9A). Considerando os moderados a elevados coeficientes de correlação para o par AlIV – Fe3+, adicionou-se a contribuição do Fe3+ à equação, passando a condição a ser definida por Fe3+ + Ti + Mg + Fe2+ = 1 (Mata, 1996) (Figura 9B). Verifica-se que o trend de análises aproxima-se da nova condição definida, evidenciando uma importante contribuição de Fe3+ no balanço da deficiência provocada pela substituição (Al = Si) IV. Deste modo, para além da substituição expressa pela equação 1) deverá considerar-se igualmente a substituição expressa pela equação (Mata, 1996):

Fe3+ + 2AlIV = (Mg+Fe2+) + Si4+ 2)

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Figura 9 – A: Diagrama Fe2+ + Mg vs. Ti (afu) e B: Diagrama Fe2+ + Mg vs. Fe3+ + Ti (afu), evidenciando a importância das substituições envolvendo Ti e Fe3+ nos vários complexos vulcano-estratigráficos da ilha de Santa Maria.

Outro mecanismo capaz de compensar a entrada de catiões trivalentes e tetravalentes na posição M1 é a substituição de Ca2+ por Na+ em M2. No caso das lavas da ilha de Santa Maria verifica-se que o Na ocupa de 1.9 a 12.5% da posição M2, indicando que este tipo de substituição teve um papel menor quando comparada com a substituição de Si por Al na posição tetraédrica.

4.3 Variações composicionais dependentes da pressão

Tem sido demonstrada a influência da pressão na composição das piroxenas com os exemplares formados a alta pressão caracterizando-se por valores de AlVI/AlIV superiores aos determinados em piroxenas geradas a baixa pressão (Aoki & Shiba, 1973; Wass, 1979). O valor 0.25 de AlVI/AlIV é desde Wass (1979) utilizado como discriminante.

Foi neste sentido que se estudou a variação da razão AlVI/AlIV em diversos fenocristais e grãos de matriz das onze amostras selecionadas, projetando-se num diagrama AlIV vs. AlVI análises de núcleo e bordo (Figura 10A) e de matriz (Figura 10B). Constata-se que os núcleos dos fenocristais se caracterizam por elevados valores da razão AlVI/AlIV, que diminuem no sentido do bordo do cristal, traduzindo-se em condições de “alta” pressão aquando da cristalização do núcleo e de “baixa” pressão na cristalização do bordo dos fenocristais. Em relação aos grãos de matriz, verifica-se que cerca de 84% dos cristais analisados apresentam baixos valores da razão AlVI/AlIV. Tal traduz a cristalização polibárica de piroxena durante o processo de ascensão magmática e a existência de câmaras magmáticas, onde cresceram lentamente os fenocristais, localizadas a diferentes profundidades. 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 T i Fe2++ Mg 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 F e 3 ++ T i Fe2++ Mg A B Ti + Mg + Fe 2+ = 1

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Figura 10 – Diagrama AlIV vs. AlVI (afu), evidenciando A: variações composicionais intragrão (núcleo – bordo) na fração fenocristalina e B: entre grãos de matriz; o valor discriminante é AlVI/AlIV = 0.25, definido por Wass (1979).

4.4 Geotermobarometria

A determinação da profundidade e da temperatura às quais os magmas sofreram cristalização parcial é crucial para inferir acerca do transporte e evolução do magma.

Putirka et al. (1996) apresentou modelos termobarométricos e termométricos baseados no equilíbrio clinopiroxena-liquido, por este ser uma fase fenocristalina comum em rochas vulcânicas, constituindo, portanto, geotermobarómetros de aplicabilidade generalizada. A calibração foi feita com base na cristalização da componente jadeítica da clinopiroxena e da troca de equilíbrio jadeíte – diópsido + hedenbergite. O grande volume molar parcial dos óxidos de Na e Al em líquidos basálticos (Lange & Carmichael, 1987) aliado ao pequeno volume molar parcial da jadeíte resulta numa relativamente grande dependência da pressão para a formação deste componente em comparação com outros equilíbrios mineral-líquido. Já os equilíbrios diópsido – jadeíte (DiHd-Jd) e diópsido – calcium Tschermak (DiHd-CaTs) são menos sensíveis à pressão, mas são sensíveis à temperatura, fornecendo termómetros sensíveis à pressão. Estes equilíbrios são expressos pelas seguintes equações, onde Fm = MgO + FeO (Putirka et al., 1996):

2SiO2liq + NaO1/2liq + AlO3/2liq = NaAlSi2O6liq

CaFmSi2O6px + NaO1/2liq + AlO3/2liq = NaAlSi2O6px + CaOliq + FmOliq

CaFmSi2O6px + 2AlO3/2liq + CaAlVIAlIVSiO6px + FmOliq + SiO2liq

Com base em dados reais e experimentais, Putirka et al. (1996) apresentam geotermobarómetros envolvendo expressões de termodinâmica que relacionam a pressão e

0 0,04 0,08 0,12 0,16 0 0,2 0,4 0,6 A l V I AlIV 0 0,04 0,08 0,12 0,16 0 0,2 0,4 0,6 A l V I AlIV

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“Alta” pressão “Alta” pressão “Baixa” pressão “Baixa” pressão A B

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a temperatura a constantes de equilíbrio, especificamente 1) a troca de equilíbrio DiHd-Jd entre a piroxena e o líquido na construção do termómetro, por ser sensível à temperatura, e 2) a constante de equilíbrio para a formação da jadeíte na construção do termobarómetro, por ser mais sensível à pressão que a situação anterior.

Putirka et al. (2003) apresentam termobarómetros calibrados experimentalmente e aplicáveis a líquidos hidratados e/ou com composições evoluídas e com erros típicos de ± 1.7 kbar e de ± 33 K para a pressão e temperatura, respetivamente:

Para a aplicação desta metodologia são necessárias análises de clinopiroxena por microssonda eletrónica e ainda o conhecimento da composição do líquido. Neste estudo utilizou-se a composição de rocha total e dos núcleos de clinopiroxenas analisadas em amostras dos diversos complexos vulcano-estratigráficos da ilha.

Torna-se também necessário verificar se as composições de rocha total representam os líquidos a partir dos quais os fenocristais de piroxena cristalizaram, i.e. se existe equilíbrio para o par sólido-líquido considerado. Para verificar se o par clinopiroxena-líquido representa uma situação de equilíbrio pode utilizar-se a constante de equilíbrio KD para a

troca Fe-Mg entre a clinopiroxena e o líquido coexistente (KDcpx-liq[Mg-Fe]) e compará-lo com

o valor médio (0.27±0.03) determinado experimentalmente por Putirka (1999):

Com este objetivo selecionaram-se as análises de núcleo de fenocristais de clinopiroxena com maior teor de MgO uma vez que tais cristais são os que maior probabilidade apresentam de estar em equilíbrio com a composição da rocha total por o teor em MgO diminuir naturalmente durante o processo de cristalização das piroxenas. Da análise da Tabela 3 conclui-se que apenas as amostras 8, 16, 27, 59 e SM-67 representam, de acordo com o valor determinado de KDcpx-liq[Mg-Fe], condições de

equilíbrio. No entanto a amostra SM-27 viria a ser excluída pois as percentagens relativas dos componentes da clinopiroxena analisada (determinado pela metodologia de Putirka et

al., 1996) afastam-se significativamente dos valores previsíveis a partir dos dados

experimentais e empíricos de Putirka (1999) (Tabela 3B).

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Constatou-se que para as situações em equilíbrio a temperatura de cristalização variou entre 1130 e 1255 ºC (Tabela 3A). Relativamente à pressão, verifica-se que esta varia de 5,5 a 11 kbar, o que, considerando o caráter fenocristalino das piroxenas em causa e, portanto, o seu arrefecimento lento, aponta para um presumível desenvolvimento de câmaras magmáticas a dois níveis: um aos 5-6 kbar e outro a 10-11 kbar (Tabela 3A). Considerando uma densidade média para a crosta oceânica basáltica de 2800 kg.m-3 conclui-se que o desenvolvimento de câmaras magmáticas terá ocorrido a cerca de 18-22 km e de 36-40 km de profundidade.

Tabela 3 – A: Valores de geotermobarometria de acordo com os modelos de Putirka et al. (2003) obtidos para as lavas da ilha de Santa Maria, com auxílio da folha de cálculo excel de Putrika (2008). B: Valores dos componentes da clinopiroxena previstos e observados, determinados pelos modelos de Putirka (1999) e Putirka et al. (1996), respetivamente. De notar que não se considerou que a piroxena PX37 se encontra em equilíbrio com o líquido uma vez que os teores das componentes da clinopiroxena apresentam grandes discrepâncias quando se compara valores previstos e observados.

Complexo Amostra REF KD(Fe-Mg)cpx-liq

T(K) P(kbar) T(ºC ) Porto SM1 PX1 0.42 1513.7 11.2 1240.5 Cabrestantes SM8 PX8 0.25 EQUILÍBRIO 1403.4 5.8 1130.2 Facho SM12 PX12 0.32 1555.4 16.2 1282.2 Anjos SM16 PX17 0.24 EQUILÍBRIO 1439.8 5.5 1166.7 Feteiras SM27 PX37 0.29 1497.6 11.1 1224.5 Feteiras SM30 PX21 0.55 1519.3 11.2 1246.1 Pico Alto SM38 PX67 0.38 1541.0 15.0 1267.8 Pico Alto SM40 PX28 0.36 1550.4 14.4 1277.2 Touril SM44 PX35 0.92 1523.4 17.4 1250.3 Facho SM59 PX79 0.28 EQUILÍBRIO 1527.8 13.0 1254.7 Anjos SM67 PX84 0.28 EQUILÍBRIO 1461.5 10.3 1188.4

REF Componentes da cpx previstos (modelo de Putirka, 1999)

Componentes de cpx observados (modelo de Putirka et al., 1996)

DiHd EnFs CaTs Jd CaTi CrCaTs Total DiHd EnFs CaTs Jd CaTi CrCaTs Total PX1 0.66 0.10 0.02 0.01 0.06 0 0.85 0.74 0.11 0.04 0.05 0.09 0 1.03 PX8 0.73 0.08 0.02 0.02 0.10 0 0.94 0.77 0.09 0.02 0.03 0.11 0 1.04 PX12 0.61 0.13 0.02 0.02 0.04 0 0.81 0.70 0.12 0.06 0.05 0.06 0.02 1.01 PX17 0.75 0.09 0.02 0.01 0.07 0 0.95 0.75 0.09 0.06 0.03 0.10 0 1.03 PX37 0.69 0.07 0.01 0.02 0.06 0 0.84 0.83 0.09 0.06 0.03 0.06 0.01 1.02 PX21 0.67 0.10 0.01 0.02 0.05 0 0.85 0.77 0.13 0.01 0.02 0.08 0 1.01 PX67 0.60 0.15 0.02 0.02 0.04 0 0.83 0.67 0.14 0.06 0.07 0.10 0 1.04 PX28 0.62 0.13 0.02 0.02 0.04 0 0.82 0.71 0.13 0.07 0.04 0.02 0 0.98 PX35 0.59 0.08 0.01 0.02 0.05 0 0.75 0.78 0.07 0 0.09 0.07 0 1.01 PX79 0.66 0.10 0.01 0.01 0.04 0 0.83 0.77 0.12 0.03 0.03 0.06 0.01 1.02 PX84 0.69 0.10 0.02 0.01 0.06 0 0.88 0.75 0.12 0.03 0.04 0.10 0 1.04

As ilhas oceânicas são o testemunho subaéreo de processos de fusão parcial e de transferência de magma desde o manto até à superfície. Os magmas ascendem enquanto a sua densidade for menor que a das rochas encaixantes. No entanto, durante o processo de ascensão tenderão a estacionar a um nível em que a densidade das rochas crostais se torne idêntica ou menor que a sua, formando câmaras magmáticas onde ocorrem os

A

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processos de cristalização fracionada (Ryan, 1994; Represas et al., 2012). Recentemente, Silveira et al. (2010) apresentam a estrutura sísmica da região dos Açores tendo identificado várias descontinuidades físicas a partir da variação de velocidade das ondas sísmicas P e S. Interessantemente estes autores detetaram uma importante descontinuidade aos 40 km de profundidade e posicionam a descontinuidade de Mohorovicic (transição crosta-manto) a cerca de 20 km de profundidade. A conjugação destes dados geofísicos com a profundidade inferida neste estudo para a ocorrência de câmaras magmáticas reforça os modelos que, como o de Ryan (1994), invocam a densidade como o fator condicionante fundamental dos processos de ascensão magmática.

Anteriormente a espessura crostal dos Açores era considerada como sendo de cerca de 12-14 km (Escartín et al., 2001; Luís & Neves, 2006). O trabalho que aqui se apresenta confere mais plausibilidade à proposta de Silveira et al. (2010), segundo a qual a espessura crostal na região dos Açores é próxima de 20 km.

Os dados obtidos põem, também, em realce o caráter polibárico dos processos de cristalização da piroxena nos magmas de Santa Maria e sugerem que posteriormente à cristalização de piroxena, a ascensão magmática foi suficientemente rápida para impedir o reequilíbrio, a mais baixas pressões, das piroxenas previamente formadas.

5. Execução Financeira

De acordo com o previsto no plano orçamental, as despesas laboratoriais realizadas no âmbito deste projeto de investigação foram asseguradas pelo CeGUL e são referentes à manufatura de 20 lâminas polidas e a análises de microssonda eletrónica (45 horas). A importância referente à bolsa financiada pela Fundação Amadeu Dias foi utilizada para custear parcialmente as despesas escolares da bolseira durante o ano letivo 2011/2012 (propinas, material de apoio às unidades curriculares, etc.).

6. Conclusões

O presente projeto teve como objetivo o estudo químico das clinopiroxenas das lavas aflorantes na ilha de Santa Maria, nos Açores, que testemunham uma atividade magmática de cerca de 11.2 Ma.

As lavas da ilha de Santa Maria caracterizam-se por texturas porfiríticas com uma geração fenocristalina essencialmente constituída por piroxena e olivina, dispersos numa matriz afanítica ou vítrea. São lavas alcalinas (basanitos e basaltos alcalinos) caracterizadas por composições básicas e ultrabásicas, que indiciam um caráter pouco diferenciado. O quimismo alcalino das lavas é também evidenciado pelo significativo enriquecimento nos elementos-traço mais incompatíveis, o que se encontra expresso pelo enriquecimento em

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terras raras leves em detrimento das terras raras pesadas, como expresso por exemplo por (La/Yb)n > 11.322.

Verificou-se que a totalidade dos cristais de clinopiroxena analisados integra-se no grupo das piroxenas “Quadrilaterais” ou piroxenas cálcico-ferro-magnesianas, sendo a maioria classificada como diópsido. No entanto, verifica-se que uma grande percentagem (cerca de 79%) de exemplares se projeta acima da linha que define 50% de Ca2Si2O6 o que

sugere a ocorrência, em proporções não desprezáveis, de substituições não quadrilaterais. Destas, verificou-se que as substituições envolvendo Ti e também algum Fe3+ em M1 constituem as que apresentam maior importância no balanço de cargas em complemento às substituições (Al = Si) IV na posição tetraédrica e, em menor grau, (Ca = Na) 2+ na posição octaédrica M2.

Constatou-se que o processo de cristalização apresentou um caráter polibárico, refletido na composição química das piroxenas: os núcleos dos fenocristais traduzem condições de pressão relativamente elevada quando comparados com o que se retira das composições dos bordos fenocristalinos e dos grãos de matriz.

Os dados de geotermobarometria permitiram constatar que a temperatura de cristalização dos núcleos dos fenocristais variou entre 1130 e 1255 ºC e que se revestiu de um carácer polibárico. De facto, os dados obtidos são compatíveis com a presumível existência de câmaras magmáticas a dois níveis, um aos 5-6 kbar e outro a 10-11 kbar, traduzindo-se em cerca de 18-22 km e em 36-40 km de profundidade, respetivamente. Estes dados de geobarometria estão de acordo com o desenvolvimento de câmaras magmáticas em regiões que, caracterizando-se por descontinuidades físicas, traduzirão variações bruscas de densidade: uma corresponde à transição crosta-manto (≈ 20 km) enquanto que a outra (≈ 40 km), sendo intramanto litosférico, implica a ocorrência de processos de cristalização fracionada desde profundidades mantélicas.

A Bolseira O Tutor Susana Santos João Mata Data: 31/07/2012 Data: 31/07/2012

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Imagem

Figura  1  - Mapa  vulcanológico  simplificado  da  ilha  de  Santa  Maria  (adaptado  de  Serralheiro  et  al.,  1987)
Tabela 1 – Classificação das lavas da ilha de Santa Maria de acordo com a nomenclatura da IUGS  (Le Bas et al., 1986)
Figura 3 – Para as onze amostras selecionadas dos seis complexos vulcano-estratigráficos, representativas de  líquidos magmáticos  pouco  fracionados,  encontra-se  representado: A:  Padrão  de  terras  raras  normalizado  em  relação  aos  condritos  C1
Figura 4 – Sistemática das piroxenas da ilha de Santa Maria. A: Projeção das piroxenas dos diversos complexos  vulcano-estratigráficos  da  ilha  de  Santa  Maria  no  diagrama  Q  vs
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Referências

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