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Efeito da hidratação endovenose na analgesia de pacientes com episódio agudo de cólica reno-ureteral

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A litíase urinária é um distúrbio comum, definido como o desenvolvimento de cálculos no trato urinário 1. Tal enfermidade afeta os homens desde os tempos mais remotos, sendo que os primeiros exemplos de cálculos vesicais e renais foram encontrados em múmias egípcias datadas de 4800 ac 2. Observou-se que após o fim da Segunda Guerra Mundial houve uma incidência aumentada de cálculos do trato urinário em todo o mundo, mas principalmente nos países desenvolvidos. Acredita-se que as mudanças dietéticas ocorridas em função da melhoria das condições sócio-econômicas após esta época tiveram um papel decisivo neste aumento 3.

A prevalência estimada de cálculos do trato urinário é de 2 a 3%. Calcula-se que um homem branco tenha aproximadamente 1 chance em 8 de desenvolver doença litiásica até os 70 anos de idade. A taxa de recorrência sem tratamento para o cálculo de oxalato de cálcio é em torno de 10% em 1 ano, 35% em 5 anos e 50% em 10 anos2.

Um estudo desenvolvido por Lichtemberg4, em 2002, avaliou a prevalência de urolítíase nos moradores de um bairro de Florianópolis. O resultado obtido foi 7,71% de prevalência.

O impacto econômico da morbidade decorrente de cálculos renais ultrapassa 2 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos, sendo a maior parte dos custos relacionada com a extração ou fragmentação cirúrgica, ou perda da produtividade1.

A predisposição à doença calculosa renal é influenciada por vários fatores epidemiológicos, como idade, sexo, clima, geografia, classe social, profissão, ingesta hídrica, dieta e genética, além de particularidades físico-químicas envolvidas no mecanismo litogênico5.

O pico de incidência dos cálculos urinários situa-se entre 20 e 40 anos de idade, mas não é rara a sua ocorrência em pacientes mais jovens. Aproximadamente três homens são afetados para cada mulher. Durante a infância a ocorrência de litíase urinária é aproximadamente igual em ambos os sexos. Há uma variação sazonal na incidência de calculose urinária, sendo mais freqüente nos meses mais quentes do ano, fato possivelmente atribuído à perspiração aumentada, que pode gerar uma urina mais concentrada, facilitando a cristalização urinária. Soma-se a isso a cristalúria aumentada nos meses de verão, gerada pela maior produção de 1,25-diidroxivitamina D3 em tal época. A geografia parece ter um efeito indireto na prevalência

da litíase urinária, através da influência da temperatura e da umidade local. Observa-se mais freqüentemente cálculos urinários em indivíduos que exercem profissões sedentárias do que em

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trabalhadores braçais, possivelmente porque estes últimos possuem piores condições sócio-econômicas, fator limitante do consumo de carnes e derivados. A ingestão de vários tipos de alimentos que resultam na excreção renal aumentada de substâncias litogênicas, entre elas cálcio, fosfato, oxalato e derivados da purina, tem efeito significante na incidência aumentada de cálculos urinários2. Embora a incidência de litíase renal esteja associada a classes de padrão de vida mais elevado, a incidência de calculose vesical endêmica está associada à desnutrição constatada em países subdesenvolvidos5.

O aumento do volume urinário causado por uma ingesta hídrica elevada reduz o tempo médio de permanência das partículas de cristais livres no trato urinário e dilui os componentes da urina que poderiam cristalizar. Esse efeito é implicado na prevenção da formação de cálculos. Alguns estudos genéticos concluíram que a urolitíase é associada a um defeito poligênico de penetrância parcial. Observou-se que aproximadamente 25% dos pacientes com cálculos renais apresentam história familiar de litíase urinária, mas antes de se atribuir o fator genético como causa determinante da ocorrência de cálculos, deve-se investigar minuciosamente os hábitos dietéticos da população2.

O sintoma mais freqüentemente relacionado à litíase urinária é a cólica reno-ureteral. Comumente chamada de cólica ureteral ou cólica renal, é rotineiramente observada em serviços de emergência e constitui-se numa das mais típicas intercorrências médicas, de modo que raramente é confundida com sintomatologia de outros órgãos6.

Dados britânicos sugerem uma incidência anual de 1-2 casos por 1000 habitantes. O risco estimado de um indivíduo apresentar um episódio de cólica ureteral no decorrer da vida é de 10 - 20% para o sexo masculino e 3 - 5% para o sexo feminino7.

A dor vivenciada pelo paciente é a expressão clínica de uma obstrução aguda da via urinária superior, tanto ao nível ureteral (proximal, médio ou distal) quanto ao nível piélico. Apesar de ter como etiologia mais comum a presença de um cálculo impactado no ureter, fatores congênitos, extraluminais, anatômicos ou funcionais, também podem ser implicados como causa de cólica ureteral. Trata-se de uma dor paroxística, de caráter espasmódico, intermitente, que começa de leve intensidade e evolui rapidamente até atingir um estado de forte intensidade, sem contudo desaparecer completamente ao final do episódio5.

No momento de uma crise aguda de cólica ureteral o paciente apresenta-se bastante agitado, com dor lombar intensa, às vezes irradiada para o abdômen, região inguinal e órgãos genitais externos6. Quando a obstrução situa-se ao nível da pelve, a dor geralmente se estende

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da região lombar, ao nível do ângulo costo-vertebral, em direção ao hipocôndrio ipsilateral chegando até a cicatriz umbilical. A obstrução ao nível ureteral superior poderá causar dor irradiada ipsilateralmente para a região inguinal e testículo no homem e para o grande lábio e ligamento redondo na mulher, em virtude da inervação autônoma comum a estes órgãos. Ao nível do terço médio do ureter, a obstrução propiciará uma dor irradiada para o flanco e abdome, sendo referida no ponto de Mac Burney e podendo simular apendicite aguda ou diverticulite, quer seja do lado direito ou esquerdo, respectivamente5. Quando o ponto de obstrução estiver localizado próximo à junção uretero-vesical (JUV), sintomas de irritabilidade do trato urinário inferior como disúria, urgência miccional e polaciúria podem ocorrer5,6.

Concomitantemente ao quadro doloroso o paciente pode apresentar sinais e sintomas tais como palidez cutânea, sudorese, extremidades frias, hipotensão postural, náuseas e vômitos. Reflexamente, poderá ocorrer íleo paralítico e distensão abdominal com diminuição dos ruídos hidroaéreos5.

Embora a fisiopatologia da cólica reno-ureteral não esteja totalmente elucidada e a inervação do ureter não seja completamente conhecida, acredita-se atualmente na seguinte seqüência de eventos: na presença de obstrução ureteral aguda, a pressão dentro da via excretora se eleva rapidamente, sobretudo ao nível piélico. Essa variação brusca da pressão na parede da pelve renal gera um estímulo nervoso que, através dos nervos esplâncnicos e do plexo celíaco, atinge o sistema nervoso central e resulta na sensação dolorosa5.

Clinicamente, o aumento da pressão intrapiélica é intimamente relacionado à dor da obstrução ureteral aguda8.

Com a passagem de pequeno volume de urina através do ponto de obstrução a tensão diminui, aliviando a dor até que nova distensão ocorra, caracterizando, assim, a intermitência do quadro6.

O aumento de pressão dentro da via excretora estimula a síntese e liberação de prostaglandinas (PG), principalmente PGE2, na região papilar da medula renal9. A PGE2 inibe

o hormônio anti-diurético (ADH) e aumenta o fluxo glomerular por vasodilatação da arteríola aferente. Tal condição permite uma produção adequada de urina, mesmo na presença de pressão intrapiélica elevada, o que mantém o quadro doloroso5,6.

Muito ainda há de se esclarecer em relação aos mecanismos envolvidos na gênese da cólica reno-ureteral. Medidas terapêuticas baseadas nos mecanismos fisiopatológicos descritos são ineficazes em alguns pacientes com este quadro doloroso6.

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A idéia de que líquidos deveriam ser administrados abundantemente em pacientes com episódio agudo de cólica renal foi quase universalmente aceita durante muitos anos, mas alguns autores declaram que a dor é reduzida pela restrição hídrica em tais pacientes10.

Devido à fortíssima intensidade da dor apresentada pelos pacientes, é de suma importância a adoção de medidas terapêuticas rápidas e eficientes. No entanto, poucos estudos clínicos têm sido publicados abordando o efeito da hidratação no episódio agudo de cólica reno-ureteral, fato este que permanece controverso entre os profissionais de saúde e que justifica a realização do presente trabalho.

(5)

2 O

BJETIVOS

2.1 PRINCIPAL

Avaliar se a associação de hidratação endovenosa à terapia com analgésico e antiinflamatório, em pacientes apresentando um episódio agudo de cólica reno-ureteral, resulta em melhor controle da dor.

2.2 SECUNDÁRIO

(6)

3 M

ÉTODO

2.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O presente trabalho é um ensaio clínico controlado.

2.2 LOCAL

ULTRALITHO Centro Médico (UCM) – Florianópolis – Santa Catarina

2.3 PERÍODO

Os pacientes estudados foram atendidos no período compreendido entre fevereiro e maio de 2003.

2.4 PACIENTES

Foram avaliados cinqüenta (50) pacientes com idade acima de 18 anos, de ambos os sexos, sem distinção de etnia, atendidos na emergência do UCM apresentando quadro agudo de cólica ureteral.

A amostra foi composta de acordo com os seguintes critérios:

2.4.1 CRITÉRIO DE INCLUSÃO:

y Presença de quadro clínico típico de cólica ureteral.

2.4.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO:

y Dúvida diagnóstica; y Menores de 18 anos; y Gestantes;

y Pacientes com febre;

y Hipertensão arterial sistêmica;

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y Ter sido submetido a qualquer procedimento urológico invasivo (ureteroscopia ou cirurgia percutânea) ou litotripsia extra-corpórea por ondas de choque.

y Recusa em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

2.5 PROCEDIMENTOS

Uma vez caracterizada clinicamente a cólica ureteral, os pacientes foram intercalados em uma razão de 1:1 num dos grupos do estudo: grupo 1 (controle) ou grupo 2 (hidratação). O protocolo de pesquisa (Apêndice 1) e o termo de consentimento livre esclarecido (Apêndice 2) foram devidamente preenchidos.

A etapa seguinte foi a administração da medicação, como segue:

¾ Grupo 1 (controle)

y tenoxicam 20mg endovenoso

y N-butilescopolamina 20mg + dipirona sódica 2500mg endovenoso y cloridrato de metoclopramida 10mg endovenoso

Atenta-se para o fato de que tais drogas foram administradas conjuntamente, em bolo, numa única seringa de 20 ml.

¾ Grupo 2 (hidratação)

y tenoxicam 20mg endovenoso

y N-butilescopolamina 20mg + dipirona sódica 2500mg endovenoso y cloridrato de metoclopramida 10mg endovenoso

Utilizou-se o mesmo modo de administração do grupo 1 e, imediatamente após, o paciente recebeu 500ml do soro fisiológico 0,9% endovenoso em gotejamento rápido.

Em ambos os grupos o grau subjetivo da dor apresentada pelo paciente foi avaliado imediatamente antes da instituição da terapia endovenosa e após 30 minutos da mesma. Para isso utilizou-se uma escala visual análoga da intensidade da dor, com dez gradações, sendo definido como 0 (zero) a ausência completa de dor e como 10 (dez) a dor máxima imaginável pelo paciente (Apêndice 3).

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2.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS

Utilizou-se o teste de Mann-Whitney, aplicado às diferenças de gradação de dor observadas nos grupos controle e hidratação, considerando dois grupos independentes.

O teste ANOVA foi utilizado para a análise da variância de idade entre os grupos.

A diferença entre duas prevalências foi comparada usando o teste do Qui-quadrado, considerando um intervalo de confiança de 95%.

2.7 APROVAÇÃO PELO COMITÊ DE ÉTICA

O presente trabalho foi apresentado ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina em 03 de fevereiro de 2003 e obteve sua aprovação em 24 de fevereiro de 2003 (Apêndice 4).

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4 R

ESULTADOS

Participaram do estudo 50 pacientes, sendo que 25 destes foram incluídos no grupo 1 (controle) e os outros 25, no grupo 2 (hidratação). A distribuição de acordo com o sexo foi a mesma entre os dois grupos: cada um deles foi composto por 10 mulheres e 15 homens. A proporção obtida foi de 1,5 homens para cada mulher.

Nos pacientes pertencentes ao grupo 1, a idade variou de 26 a 55 anos, sendo que a média foi de 40,4 anos. No grupo 2, a idade variou de 19 a 62 anos, com média de 40,4 anos. Não houve diferença estatisticamente significante no que concerne à diferença de idade entre os grupos. A tabela 1 resume a caracterização da amostra quanto ao sexo, assim como a idade média dos indivíduos em cada grupo.

TABELA 1: Distribuição dos pacientes com cólica reno-ureteral de acordo com

o sexo e idade média em cada grupo.

Grupo 1 Controle Grupo 2 Hidratação Feminino Masculino Total

Idade média (limite), anos

10 (40%) 15 (60%) 25 (100%) 40,4 (26 – 55) 10 (40%) 15 (60%) 25 (100%) 36,69 (19 – 62)

FONTE: Dados de pacientes do Ultralitho Centro Médico, Florianópolis, 2003.

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Em relação ao grau subjetivo de dor apresentado, observou-se que no momento da admissão, o escore indicado pelos pacientes variou de 4 a 10 em ambos os grupos. Observou-se ainda, que a maioria das pessoas Observou-se apreObservou-sentou com dor de forte intensidade, visto que um escore entre 8 e 10 foi apontado por 18 pacientes (72%) no grupo 1 e por 20 pacientes (80%) no grupo 2. Os dois grupos eram semelhantes quanto à gradação inicial da dor, conforme apresentado na tabela 2.

TABELA 2: Distribuição dos pacientes com cólica reno-ureteral de acordo com

a gradação da dor no momento da admissão.

Número de pacientes Grau subjetivo da dor Grupo 1

Controle Hidratação Grupo 2

0 – 3 4 – 7 8 – 10 0 (0%) 7 (28%) 18 (72%) 0 (0%) 5 (20%) 20 (80%) Total 25 (100%) 25 (100%)

FONTE: Dados de pacientes do Ultralitho Centro Médico, Florianópolis, 2003.

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A segunda avaliação, que ocorreu após 30 minutos da instituição da terapia endovenosa, mostrou que 9 pacientes do grupo 1 e 7 pacientes do grupo 2 obtiveram alívio completo da dor. O escore de dor apontado neste segundo momento foi menor que 50% do escore inicial em 12 pacientes (48%) do grupo 1 e em 10 pacientes (40%) do grupo 2. Algum grau de alívio da dor foi percebido, mas esta permaneceu com escore maior ou igual a 50% do inicial, em 4 pacientes (16%) do grupo 1 e em 8 pacientes (32%) do grupo 2. Nesta segunda avaliação, nenhum paciente apresentou escore de dor superior ao inicial. Os resultados obtidos podem ser vistos na tabela 3.

TABELA 3: Distribuição dos pacientes segundo o grau de alívio da dor, 30

minutos após instituição da terapia endovenosa.

Número de pacientes Grau de alívio da dor Grupo 1

Controle Grupo 2 Hidratação Sem dor Dor <50% da inicial Dor ≥50% da inicial 9 (36%) 12 (48%) 4 (16%) 7 (28%) 10 (40%) 8 (32%) Total 25 (100%) 25 (100%)

FONTE: Dados de pacientes do Ultralitho Centro Médico, Florianópolis, 2003.

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Quando comparamos o grau médio de dor apresentado pelos pacientes, antes e após a instituição da terapia endovenosa, observamos que o grupo 1 apresentou um escore médio inicial de 8,04, que foi reduzido para 1,88 após o tratamento. No grupo 2 o escore médio de dor inicial foi de 8,6 e, após o tratamento, 3,04. Estes valores são demonstrados na tabela 4. Não houve diferença significante entre os grupos em relação ao grau de alívio da dor.

TABELA 4: Comparação entre o grau médio de dor, antes e 30 minutos após o

tratamento.

Grupo 1 Controle Grupo 2 Hidratação Antes Após 8,04 1,88 8,6 3,04

FONTE: Dados de pacientes do Ultralitho Centro Médico, Florianópolis, 2003.

p = 0,96

Ao compararmos a resposta ao tratamento em relação ao sexo do paciente, não encontramos diferença estatisticamente significante entre homens e mulheres de ambos os grupos, conforme mostram os dados da tabela 5.

TABELA 5: Grau médio da dor, antes e 30 minutos após o tratamento, em

relação ao sexo.

Grau médio da dor

Sexo Grupo 1 Controle Grupo 2 Hidratação Feminino Antes tratamento Após tratamento Redução Masculino Antes tratamento Após tratamento Redução 8,4 2,4 71,4% 7,8 1,6 79,5% 8,1 3,4 58,0% 8,9 2,8 68,6%

FONTE: Dados de pacientes do Ultralitho Centro Médico, Florianópolis, 2003.

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5 D

ISCUSSÃO

A respeito da obstrução ureteral aguda, muito se conhece devido a experimentos com animais e também em seres humanos. No entanto, poucos estudos clínicos foram publicados com relação ao efeito da administração de líquidos durante episódios agudos de cólica ureteral10.

O presente trabalho se propôs, portanto, a avaliar o efeito da hiper-hidratação endovenosa na analgesia dos pacientes com episódio a agudo de cólica reno-ureteral.

A medicação endovenosa administrada a todos os pacientes incluídos neste estudo, composta por um inibidor da prostaglandina-sintetase, um espasmolítico associado a um analgésico e um antiemético é a medicação utilizada de rotina na clínica onde o estudo foi desenvolvido, salvo sob alguma contra-indicação.

A justificativa para o uso do antiemético reside no fato de que uma parcela significativa dos pacientes com episódio agudo de cólica reno-ureteral apresenta náuseas e/ou vômitos simultaneamente ao episódio doloroso e, deste modo, é oferecido um melhor alívio sintomatológico. A metoclopramida, utlizada neste estudo, age de forma procinética no trato digestivo, exercendo, também, antagonismo central e periférico à dopamina, atuando na sensibilidade dolorosa tanto ao nível local como central. O uso da associação de espasmolítico com analgésico, N-butilescopolamina e dipirona, é praxe consagrada na prática médica nesta eventualidade5.

A indometacina foi o primeiro antiinflamatório não-hormonal (AINH) estudado que mostrou efeito benéfico em casos de cólica ureteral. Apesar de diferirem quimicamente, todos os AINH parecem ser efetivos na cólica ureteral, resultado de sua capacidade de inibir a produção de prostaglandinas9. Em nosso estudo, o AINH utilizado foi o tenoxicam.

Admite-se que a cólica reno-ureteral seja causada pela distensão da pélvis renal e do ureter acima de um ponto de obstrução ureteral. A pressão intrapélvica aumentada, de qualquer modo, não é o único fator determinante da dor. Quando o aumento é lento, pressões intrapélvicas elevadas, acima de 60 mmHg (pressão normal = 6,5 mmHg) puderam ser constatadas em seres humanos sem que estes apresentassem dor. Um aumento rápido da pressão, por outro lado, causaria dor mesmo quando a pressão máxima não ultrapassasse 20 mmHg10.

(14)

Num estudo feito por Grenabo et al11, 25 pacientes com cólica ureteral foram tratados com indometacina endovenosa. Observou-se que os pacientes que relataram alívio completo da dor com este tratamento, tinham níveis plasmáticos significativamente maiores de hormônio anti-diurético (ADH) antes da infusão da indometacina do que aqueles que relataram apenas alívio parcial ou nenhum alívio da dor. Estes achados indicam que o estado de hidratação pode ter significativa importância no alívio da dor quando são utilizados inibidores de prostaglandinas em pacientes com cólica ureteral, sugerindo que a restrição hídrica traria benefícios no quadro álgico de tais indivíduos.

Um estudo feito com animais concluiu que infusão salina após indometacina se contrapõe ao efeito vasoconstrictor induzido pela droga nos vasos aferentes renais, sugerindo que tal prática deveria ser desencorajada. No entanto tal efeito não foi comprovado em seres humanos12.

Dois estudos noruegueses avaliaram o efeito da hidratação endovenosa no episódio agudo de cólica ureteral. No primeiro, Edna e Hesselberg10 avaliaram o grau de alívio da dor em pacientes tratados com aplicação intramuscular de morfina e restrição hídrica com a de outros, que receberam o opióide mais infusão salina por 6 horas. Após esse período de observação, não houve diferença significativa entre os dois grupos em relação à dor. No segundo estudo, realizado por Edna, Hesselber e Loe13, também não houve diferença significativa no grau de dor entre os pacientes tratados com indometacina e restrição hídrica e aqueles tratados com indometacina e hidratação endovenosa por 6 horas.

Num outro estudo, Khalifa e Sharkawi8 compararam a eficácia do inibidor da prostaglandina-sintetase, diclofenaco de sódio, com a da associação de morfina e espasmolítico no episódio agudo de cólica reno-ureteral. Dentro de cada um dos dois grupos do estudo, aproximadamente 50% dos pacientes foram submetidos a hiper-hidratação endovenosa. Observou-se que, em ambos os grupos, não houve diferença na resposta ao tratamento entre os pacientes hiper-hidratados e os com restrição hídrica.

No presente trabalho, não obtivemos uma diferença estatisticamente significante no grau de dor após 30 minutos do tratamento endovenoso.

Podemos interpretar esses resultados da seguinte maneira: na oclusão ureteral de algumas horas de duração, a maior parte do excesso de líquido administrado é filtrado pelo rim contralateral. O mecanismo pode ser a elevada pressão piélica ou a filtração glomerular reduzida no lado ocluído, com condições hemodinâmicas alteradas em ambos os rins10. No

(15)

rim contralateral há um lento aumento compensatório no fluxo sanguíneo e na taxa de filtração glomerular13. Portanto, a quantidade de urina adicional produzida no lado ocluído nos pacientes hiper-hidratados pode não ter sido suficiente para produzir um rápido aumento da pressão ureteral e piélica, requerido para gerar uma diferença de dor entre os dois grupos, que fosse mensurável na escala visual por nós utilizada.

Em nossa pesquisa bibliográfica não foi encontrado nenhum estudo que avaliasse separadamente a resposta ao tratamento da cólica reno-ureteral em relação ao sexo do paciente. Em nossa observação, os graus de redução da dor no sexo masculino e no feminino foram semelhantes, não havendo diferença estatística entre ambos, indicando que, provavelmente, a resposta à dor nessa situação seja similar entre homens e mulheres.

(16)

6 C

ONCLUSÕES

Com base nos dados do presente estudo, podemos concluir que:

1. A administração de analgésico e antiinflamatório associados a hidratação endovenosa oferece analgesia para pacientes com episódio agudo de cólica reno-ureteral, mas não há diferença no grau de redução da dor entre os pacientes hidratados e os não hidratados.

2. Com a terapia utilizada, o grau de redução de dor demonstra ser semelhante entre homens e mulheres.

(17)

7 N

ORMAS ADOTADAS

O presente trabalho foi digitado de acordo com a Resolução n° 001/2001, aprovada em reunião do colegiado do Curso de Graduação em Medicina em 5 de julho de 2001.

(18)

8 B

IBLIOGRAFIA

1. Hruska, K. Cálculos renais (Nefrolitíase). In: Bennett JC, Goldman L. Cecil – Tratado de Medicina Interna. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. p.689-.94

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8. Khalifa MS, Sharkawi MA. Treament of pain owing to acute ureteral obstruction with prostaglandin-synthetase inhibitor: a prospective randomized study. J Urol 1986;136(2): 393-5.

9. Sherif AE, Foda R, Norlen LJ, Yahia H. Treatment of renal colic by prostaglandin synthetase inhibitors and Avafortan (analgesic antispasmodic). Br J Urol 1990;66(6):602-5.

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10. Edna TH, Hesselberg F. Acute ureteral colic and fluid intake. Scand J Urol Nephrol 1983;17(2):175-8.

11. Grenabo L, Aurell M, Delin K, Holmlund D, Sjödin JG. Antidiuretic hormone levels and the effect of indomethacin on ureteral colic. J Urol 1983;129(5):941-3.

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13. Edna TH, Hesselber F, Loe B. Indomethacin in the treatment of ureteral colic: is fluid restriction necessary?. J Urol 1986;136(2):390-2.

(20)

A

PÊNDICE

1

Protocolo de Pesquisa

“Efeito da hidratação endovenosa na analgesia de pacientes com

episódio agudo de cólica reno-ureteral”

Nome: _____________________________________________________ Idade: _______ Sexo: ( )M ( )F Número prontuário:__________

Grau subjetivo da dor, segundo o paciente, no momento da admissão (0 –10):________

Terapia instituída na emergência Hora

1___________________________________________________________ ______________ 2___________________________________________________________ ______________ 3___________________________________________________________ ______________ 4___________________________________________________________ ______________

(21)

A

PÊNDICE

2

Informação e consentimento pós-informação para pesquisa

Meu nome é Nilo Rafael Batista da Silva, sou estudante do sexto ano do curso de Medicina da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina e estou desenvolvendo a pesquisa chamada “Efeito da hidratação endovenosa na analgesia de pacientes com episódio agudo de cólica reno-ureteral”, sob orientação do Dr. Rogério Paulo Moritz - médico urologista, com o objetivo de avaliar uma forma de tratamento da dor em pacientes com cólica renal. Este estudo é necessário porque não há, na literatura médica, um consenso sobre a real eficácia da administração de líquidos no alívio da dor neste grupo de pacientes. A participação nessa pesquisa não acrescenta riscos à sua saúde, mas esperamos que seus resultados possam trazer benefícios no tratamento de muitos outros que no futuro apresentarão o mesmo problema. Se você tiver alguma dúvida em relação ao estudo ou não quiser mais fazer parte do mesmo, pode entrar em contato pelo telefone 48–234-3216 ou através do correio eletrônico – www.nilorafael981@hotmail.com. Se você estiver de acordo em participar, posso garantir que as informações fornecidas serão confidenciais e só serão utilizadas neste trabalho.

__________________________ _________________________

Nilo Rafael Batista da Silva Dr. Rogério Paulo Moritz Acadêmico de Medicina Orientador

Consentimento Pós-Informação

Eu, ______________________________________, fui esclarecido (a) sobre a pesquisa chamada

“Efeito da hidratação endovenosa na analgesia de pacientes com episódio agudo de cólica reno-ureteral” e concordo que meus dados sejam utilizados na realização da mesma.

Florianópolis, _____ de ___________ de 2003.

(22)

Referências

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