• Nenhum resultado encontrado

A interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento educacional hospitalar na Casa Durval Paiva (classe hospitalar policlínica): proposta de um atendimento multidisciplinar

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento educacional hospitalar na Casa Durval Paiva (classe hospitalar policlínica): proposta de um atendimento multidisciplinar"

Copied!
60
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

MILENA TEDESCHI SEGATO DE ABREU

A INTERFACE ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL E A PEDAGOGIA NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL HOSPITALAR NA CASA DURVAL PAIVA (CLASSE HOSPITALAR POLICLÍNICA): PROPOSTA DE UM ATENDIMENTO

MULTIDISCIPLINAR

NATAL/RN 2019

(2)

MILENA TEDESCHI SEGATO DE ABREU

A INTERFACE ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL E A PEDAGOGIA NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL HOSPITALAR NA CASA DURVAL PAIVA (CLASSE HOSPITALAR POLICLÌNICA): PROPOSTA DE UM ATENDIMENTO

MULTIDISCIPLINAR

Trabalho de conclusão de curso, na modalidade Monografia, apresentado ao Curso de Pedagogia Presencial do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia. Orientadora: Profa. Dra. Jacyene Melo de Oliveira Araújo

NATAL/RN 2019

(3)

MILENA TEDESCHI SEGATO DE ABREU

A INTERFACE ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL E A PEDAGOGIA NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL HOSPITALAR NA CASA DURVAL PAIVA (CLASSE HOSPITALAR POLICLÌNICA): PROPOSTA DE UM ATENDIMENTO

MULTIDISCIPLINAR

Trabalho de conclusão de curso, na modalidade Monografia, apresentado ao Curso de Pedagogia Presencial do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado e aprovado em____/____/____ pela seguinte Banca Examinadora:

_______________________________________________________________ Profa. Dra.Jacyene Melo de Oliveira Araújo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________________________ Profa. Msc. Andreia Gomes da Silva (examinadora)

PPGEd/CE/UFRN- SEEC/RN

_______________________________________________________________ Prof. Msc. Senadaht Barbosa Baracho Rodrigues de Oliveira (Examinadora)

PPGEd/CE/UFRN- SEEC/RN

NATAL/RN 2019

(4)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Abreu, Milena Tedeschi Segato de.

A interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento educacional hospitalar na Casa Durval Paiva (classe hospitalar policlínica): proposta de um atendimento

multidisciplinar / Milena Tedeschi Segato de Abreu. - 2019. 59 f.: il.

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Curso de Pedagogia, Natal, RN, 2019. Orientador: Jacyene Melo de Oliveira Araújo.

1. Pedagogia hospitalar - Monografia. 2. Terapia ocupacional - Monografia. 3. Classe hospitalar - Monografia. 4. Tecnologia assistiva - Monografia. 5. Atendimento multidisciplinar - Monografia. I. Araújo, Jacyene Melo de Oliveira. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 376-056.24:615.851.3

(5)

AGRADECIMENTOS

O processo de graduação é muito gratificante pela possibilidade de crescimento profissional em uma área social tão importante como a Pedagogia, especialmente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É a conclusão de um antigo projeto de vida.

Eu agradeço primeiramente a Deus, por ter me permitido reconhecer seus propósitos para minha vida, e mesmo em meio a tantas dificuldades, caminhar comigo até o fim desse trabalho.

Agradeço aos meus familiares, especialmente aos meus pais, Rafaelina e Raimundo, que assim como na primeira graduação em terapia ocupacional, sem vocês, essa segunda formação não seria possível.

Agradeço minhas filhas, Giovanna e Giulia, por compreenderem, muitas vezes, minha ausência e sempre me acompanharem durante todo o curso, muitas vezes participando ativamente das aulas, das pesquisas e dos trabalhos acadêmicos.

Agradeço, especialmente, ao meu esposo Igor, que acreditou em mim, quando nem eu mesma acreditava, ainda no ENEM, me apoiando integralmente nas minhas escolhas.

Faço, ainda, um agradecimento a todos os colegas de curso, porém, principalmente ao meu grupo: Lorrine, Layla, Nayane e Thays. Eu cresci e aprendi muito com cada uma de vocês e cada momento compartilhado ficará, assim como nossa amizade, para sempre em minha vida. Tenho muita gratidão e orgulho de vocês.

Agradeço ao Grupo de Estudos em Tecnologia Assistiva da UFRN (GETA), que me acolheu e que participou efetivamente desse trabalho, acreditando na proposta educativa da TA.

Agradeço imensamente cada professor que tive o prazer de conviver ao longo do curso. Vocês me ensinaram a ser a profissional que sou pelo ensino, mas muito mais pelos exemplos, e assim espero ser para os meus alunos. Guardo em minha memória cada momento vivido ao longo do curso.

Agradeço, especialmente, a Profa. Dra. Jacyene Melo de Oliveira Araújo pela acolhida e por acreditar em meu projeto, por aceitar dividir comigo essa caminhada, sempre de maneira acolhedora, solicita e profissional.

(6)

Dedico esse trabalho a todas as profissionais da Casa Durval Paiva e alunos da classe hospitalar que contribuíram e participaram desse projeto, buscando construir novas possibilidades de aprendizagem com significativo valor humano e social.

(7)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo promover a interface entre a Terapia Ocupacional e a Pedagogia no atendimento educacional hospitalar da Casa Durval Paiva (classe hospitalar Policlínica), propondo a utilização de uma mesa articulável e funcional – modelo GETA (Grupo de Estudos em Tecnologia Assistiva da UFRN), criada no primeiro semestre desse ano, para desenvolvimento das atividades escolares das crianças/adolescentes em tratamento nesse hospital. Assim, foram desenvolvidos, ainda, dispositivos e adaptações assistivas pedagógicas de baixo custo, para serem utilizados no atendimento pedagógico hospitalar. A revisão da literatura mostra que o atendimento da classe hospitalar tem sido um espaço de estudos e pesquisas, para além de compreender melhor o papel da escola no hospital, garantir o direito da continuidade dos estudos de crianças e adolescentes hospitalizados, com ênfase nas contribuições de Fonseca (1999; 2008; 2011; 2015), Ceccim (1997; 1999), Assis (2009), Araújo e Rocha (2018), dentre outros importantes autores na área. Para a realização da pesquisa, foram realizadas entrevistas abertas e observação participante para coleta de dados e por fim, entrevistas semiestruturada com duas professoras da classe hospitalar da Casa Durval Paiva (classe hospitalar Policlínica), sobre a experiência vivenciada durante o estudo. Os dados obtidos foram analisados pela técnica de análise temática do conteúdo, proposta por Minayo. Os resultados apontaram que, a mesa e os dispositivos e adaptações de tecnologia assistiva pedagógicas, de baixo custo, favoreceram o atendimento pedagógico hospitalar. Assim, em face da legislação vigente sobre a classe hospitalar, a pesquisa constatou que a junção entre essas áreas, da terapia ocupacional e da pedagogia hospitalar, pode contribuir para viabilização das ações educativas pedagógicas e continuidade das atividades escolares das crianças/adolescentes hospitalizados. Contudo, as pesquisas que relacionam saúde e educação ainda se mostram insipientes no Brasil, especificamente da terapia ocupacional e a pedagogia hospitalar. Novos estudos, na área, são sugeridos, para que se possa aprofundar e alicerçar cientificamente essa prática multidisciplinar, como uma possibilidade de atendimento para a classe hospitalar. E, acrescenta-se ainda, especificamente, uma proposta de consultoria colaborativa, em que a TO e a pedagogia hospitalar trabalhem com as necessidades específicas dos educandos e professores, auxiliando na viabilização da inclusão escolar no hospital.

Palavras-chave: Classe hospitalar. Terapia ocupacional. Tecnologia assistiva. Atendimento multidisciplinar. Pedagogia.

(8)

ABSTRACT

The present work has as a objective to promote the interface between Occupational Therapy and Pedagogy in hospital educational care in Casa DurvalPaiva (polyclinic hospital class), proposing the use of a functional folding and table – model SGAT (Study Group on Assistive Technology of UFRN), created in the first semester of this year to develop the school activities for children and teenagers who are being treated at this hospital. This way, low-cost pedagogical assistive devices and adaptations were developed to be used in hospital teaching care. The literature review shows that hospital class has been a space for studies and research, in addition to a better understanding of the school’s role in the hospital and guarantee the right to continue the studies of hospitalized children and teenagers, with emphasis on the contributions of Fonseca (1999; 2008; 2011; 2015), Ceccim (1997; 1999), Assis (2009), Araújo and Rocha (2018), among other important authors in the area. To conduct this research, interviews were conducted, observation with participants for the data collection and semi-structure interviews with two teachers of the hospital class. The data were analyzed trough content analysis proposed by Minayo. The results show that low-cost devices adapted through assistive technology help the hospital care. Therefore, this research shows that the pedagogy associated with occupational therapy contributes to educational actions and the continuity of school activities performed by hospitalizes children and adolescents. However, research linking the two areas of knowledges is still scarce. Therefore, further studies are proposed, seeing to deepen this knowledge. In addition, a collaborative consultancy is proposed too, relating assistive technology and hospital pedagogy, these two meet the needs of learners and teachers and contribute to school inclusion in the hospital.

Keywords: Hospital class. Occupational therapy. Assistive technology. Multidisciplinary care. Pedagogy.

(9)

LISTA DE QUADROS

(10)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1.1 O contexto da criação ... 10

2 PERCURSOS TEÓRICOS DE FUNDAMENTAÇÃO ... 13

2.1 Aspectos históricos do atendimento educacional hospitalar ... 13

2.2 Legislação e políticas educacionais: garantia do direito a esta modalidade ... 16

2.3 A Terapia Ocupacional e a Tecnologia Assistiva no contexto educacional ... 21

3 METODOLOGIA ... 28

3.1 Delineamento da pesquisa ... 28

3.2 Caracterização dos participantes ... 29

3.3 Instrumentos ... 29

3.4 Procedimentos ... 29

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 33

4.1 Análises da interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento da classe hospitalar ... 33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 45

REFERÊNCIAS ... 47

APÊNDICES ... 52

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 52

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO .. 54

APÊNDICE C – ROTEIRO PARA ENTREVISTA ... 55

ANEXOS ... 56

ANEXO 1 - CARTA DE APRESENTAÇÃO ... 56

ANEXO 2 - FOTOS DOS ATENDIMENTOS REALIZADOS NO LEITO ANTES DA INTERVENÇÃO ... 57

ANEXO 3 - FOTOS DOS ATENDIMENTOS REALIZADOS NO LEITO DURANTE A INTERVENÇÃO ... 58

(11)

1 INTRODUÇÃO

1.1 O contexto da criação

O atendimento educacional hospitalar, ou como é comumente conhecido serviço de classe hospitalar sempre foi uma área de grande interesse ao longo do curso de pedagogia pela proximidade com uma experiência pessoal vivida anteriormente.

Em 2006 concluí o curso de Terapia Ocupacional na Universidade Potiguar (UNP) e no mesmo ano, mudei para cidade de Salvador (BA). Nesse período, havia abandonado o curso de Pedagogia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) por motivos pessoais e logo em seguida, comecei a atuar como terapeuta ocupacional no hospital Irmã Dulce, onde trabalhei durante cinco anos nessa área. Já em Natal, no ano de 2015, resolvi voltar à UFRN para finalmente concluir o curso de Pedagogia presencial, realizando assim um grande sonho. Ao longo do curso, após alguns anos dedicados à iniciação científica em outra vertente da Educação Especial, retomo o foco de proximidade entre essas duas áreas de atuação, desejando compreender como pode ocorrer a interface entre a saúde e a educação no atendimento educacional hospitalar.

A classe hospitalar da Casa de Apoio a Criança com Câncer Durval Paiva1 localizada na Políclinica da Liga Norteriograndense Contra o Câncer foi escolhida para lócus de desenvolvimento desse estudo por ser uma referência de excelência na assistência pediátrica e no tratamento de doenças oncohematológicas, com significativos projetos e ações de humanização que visam minimizar os impactos da hospitalização. A instituição desenvolve um trabalho em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no sentido de reconhecer a criança e o adolescente como sujeito de direito, enquanto Ser Histórico-Social, respeitando assim, sua identidade, individualidade e integridade. E para tanto, ressalta-se o Art.3° desse documento, que embasa, também, as premissas desse estudo:

1

Instituição filantrópica que há mais de 20 anos acolhe a criança e o adolescente com câncer e doenças hematológicas crônicas e seus familiares nos estados do RN, PB, CE, PE e SE, durante após tratamento, buscando a cura, contribuindo para o resgate da cidadania, dignidade e qualidade de vida. Site: https://www.casadurvalpaiva.org.br/.

(12)

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990).

A escola é um dos pilares do processo de evolução do ser humano em todas as vertentes de seu desenvolvimento e, a criança e o adolescente em processo de hospitalização, independente do tempo que ficam em tratamento, vivenciam um afastamento da sua rotina de vida diária escolar e muitas vezes, não conseguem acompanhar e realizar as atividades da sala de aula regular. Dessa maneira, as classes hospitalares desempenham o importante papel de dar continuidade ao processo de ensino e aprendizagem do aluno hospitalizado, visando manter o vinculo escolar com possibilidade de retorno a escola de origem após alta, sem prejuízos educacionais. Para Fonseca (2008, p.19), as classes hospitalares servem “[...] como uma oportunidade extra de resgate da criança para escola, a partir da qual, exercendo seu direito de cidadão terá condições de aprender”.

Para tanto, considero oportuna essa pesquisa em virtude da relevância social e da necessidade de mais estudos na área para aprimoramento da mesma, considerando assim, que as classes hospitalares podem, para além da garantia de continuidade dos estudos, proporcionar um melhor desenvolvimento dos aspectos sociais, cognitivos e emocionais da criança e do adolescente para sua formação enquanto cidadãos.

Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo promover a interface entre a Terapia Ocupacional e a Pedagogia no atendimento educacional hospitalar da classe hospitalar da Casa de Apoio a Criança com Câncer Durval Paiva localizada na Políclinica da Liga Norteriograndense Contra o Câncer, propondo a utilização de uma mesa articulável e funcional – modelo GETA (Grupo de Estudos em Tecnologia Assistiva da UFRN). Como objetivos específicos, visa: propor uma intervenção multidisciplinar entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento da classe hospitalar Policlínica; desenvolver dispositivos e adaptações assistivas pedagógicas de baixo custo que favoreçam o atendimento pedagógico hospitalar e desenvolver modelo de mesa articulável funcional, como elemento facilitador do processo de ensino-aprendizagem nos atendimentos da referida classe.

Em face da legislação vigente sobre a classe hospitalar, a pesquisa visa compreender como a junção entre essas áreas pode contribuir para viabilização das

(13)

ações educativas pedagógicas e continuidade das atividades escolares das crianças e dos adolescentes hospitalizados.

O trabalho consiste em uma pesquisa exploratório-descritiva com abordagem qualitativa, que utilizou para coleta de dados, entrevistas abertas, observação participante com registro em diário de campo, e por fim, entrevistas semiestruturadas, com análise temática do conteúdo, metodologicamente orientado pelas teorizações de GIL (2008) e MINAYO (2008; 2011).

O referencial teórico utilizado para a construção desta pesquisa aborda importantes referências na área da pedagogia hospitalar como Fonseca (1999, 2008; 2011; 2015), Matos; Mugiatti (2011; 2012), Ceccim (1997; 1999), Araújo; Rocha (2018), dentre outros. Outras importantes referências teóricas da terapia ocupacional foram utilizadas na construção dessa pesquisa: Cavalcanti; Galvão (2007); Carlo; Luzo (2004); Willard e Spackam (2002). Além, da legislação vigente que permeia as duas profissões na atuação pedagógica hospitalar e terapêutica hospitalar.

Essa monografia foi divida capítulos que constroem os caminhos trilhados pelo atendimento pedagógico hospitalar e pela terapia ocupacional, no contexto escolar e hospitalar, culminando na convergência entre elas na prática hospitalar.

O primeiro ponto abordado trata dos percursos teóricos de fundamentação, apresentando: os aspectos históricos do atendimento educacional hospitalar; a legislação e políticas educacionais que permeiam esta modalidade; e, ainda, a terapia ocupacional e a tecnologia assistiva no contexto educacional.

Em seguida, é descrita a proposta da interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento da classe hospitalar. E, por fim, são apresentados os resultados, com base na observação participativa, nas entrevistas realizadas com as professoras do setor da classe hospitalar e nas intervenções propostas no presente projeto.

(14)

2 PERCURSOS TEÓRICOS DE FUNDAMENTAÇÃO

2.1 Aspectos históricos do atendimento educacional hospitalar

A implementação da primeira classe hospitalar aconteceu na França, no ano de 1929 por Marie Luoise Imbert (PAULA, 2011 apud OLIVEIRA, 2013). Porém, outros autores afirmam que a classe hospitalar surgiu em 1935 quando Henri Sellier inaugurou em Paris a primeira escola para crianças inadaptadas e logo em seguida, se difundiu na Alemanha, em toda a França, na Europa e nos Estados Unidos, com objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças com tuberculose e outras graves moléstias (VASCONCELOS, 2005 apud OLIVEIRA, 2013; OLIVEIRA, 2006). Esse estudo não visa discutir o ano de surgimento verdadeiro da classe hospitalar, mas apresenta esses dados a título de informação.

Segundo Rocha; Passegi (2010, p. 114), a Segunda Guerra Mundial “[...] causou mutilações em crianças e adolescentes [...]”, tornando-se um fato histórico decisivo para o crescimento do serviço de atendimento pedagógico educacional hospitalar. Em 1939, foi criado em Suresnes, nos arredores da França, o Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptada (CNEFEI) com o objetivo de formar professores para o trabalho em institutos especiais e em hospitais. Nesse mesmo período, foi criado o cargo de professor hospitalar junto ao Ministério da Educação na França (OLIVEIRA, 2013).

É importante enfatizar que o CNEFEI existe atualmente, formou mais de mil professores para classes hospitalares, envolve profissionais da saúde e educação e tem como missão mostrar que a escola não é um ambiente completamente fechado (VASCONCELOS, 2008).

Nesse contexto, fomentou a necessidade de uma formação mais direcionada da pedagogia para atuar nesses espaços. Assim:

[...] verificada a necessidade da existência de uma práxis e uma técnica pedagógica nos hospitais, confirma-se a existência de um saber voltado a criança/adolescente num contexto hospitalar envolvido no processo de ensino-aprendizagem, instaurando-se aí um corpo de conhecimentos de apoio que justifica a chamada Pedagogia Hospitalar (MATOS; MUGGIATI, 2012, p.49).

(15)

No Brasil, de acordo com estudos sobre a história da educação, “[...] há relatos de que, já no período colonial, crianças recebiam atendimento escolar” (JANNUZZI, 1985 apud FONSECA, p.14, 2011). Para Jannuzzi, 1985 apud Caiado, 2003, ainda nesse período, por volta de 1600, foi criado em São Paulo, o primeiro atendimento escolar na enfermaria do hospital Santa Casa de Misericórdia, contudo, essas intervenções eram destinadas aos deficientes físicos e eram realizadas na própria enfermaria do hospital.

No séc. XX, somente, que se fortalecem os estudos sobre o entendimento da infância, especialmente nas áreas da pediatria e psicologia, para melhor compreensão da criança enquanto ser com necessidades, características e interesses próprios a sua fase desenvolvimento (FONSECA, 2011). Portanto, a educação escolarizada é considerada um processo de construção histórica e que emergiu juntamente com os movimentos de humanização dos serviços de saúde que provocaram mudanças nos conceitos de saúde e doença (PAULA, 2004 apud NASCIMENTO; FREITAS, 2010).

Assim, na década de 50, conforme Schilke (2010, p.255), a primeira ação educativa hospitalar surgiu “[...] em 14 de agosto de 1950, no Hospital Municipal Jesus, no Rio de Janeiro”, através da portaria n°634, a pedidos do próprio diretor do hospital na época, David Pillar (OLIVEIRA, 2013). Nesse período, o hospital possuía aproximadamente 200 leitos e atendia uma média de 80 crianças internadas, a primeira professora dessa classe hospitalar foi Lecy Rittmeyer e as aulas eram realizadas nas enfermarias, de maneira individual e contínua ao aprendizado da criança.

Em 1958, de acordo com solicitações realizadas por meio de ofícios sobre a necessidade de novas professoras, o Departamento de Educação Primária cedeu ao Hospital Municipal Jesus a professora Esther Lemos Zaborousky, permitindo, dessa maneira, uma melhoria desse serviço (OLIVEIRA, 2013). Ao longo dos anos essa classe passou a ser uma Unidade Escolar com regime próprio e foi desenvolvendo uma trajetória de construção dessa atividade, que permanece atuante até os dias de hoje.

Já nos anos 90, essa modalidade escolar, de fato, começou a se fortalecer e expandir, principalmente pelo respaldo do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990); da Lei dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes Hospitalizados (BRASIL, 1995) e ainda, pelo apoio da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (CONANDA), que aprovou a resolução n.º 41, de 13 de outubro de 1995 (BRASIL, 1995) e, dessa forma, garantiu o direito à escolarização dos estudantes hospitalizados (ROCHA; PASSEGGI, 2010).

(16)

Conforme reitera Fonseca (1999), a partir de 1981 o atendimento de classe hospitalar teve um aumento significativo no Brasil e aconteceu concomitante ao “[...] redimensionamento do discurso social sobre infância e a adolescência, que culminou com a aprovação do Estatuto da criança e do Adolescente e seus desdobramentos posteriores” (FONSECA, 1999, p.121).

Os estudos de Fonseca (1999 apud Caiado, 2003, p.72) revelam a “[...] existência de classes hospitalares nos diversos estados do país, demonstrando que, até dezembro de 1997, havia 30 classes hospitalares em funcionamento nas diferentes regiões”. Ainda conforme o autor, no ano seguinte, um novo levantamento verificou a existência de 74 classes hospitalares em diferentes estados (FONSECA, 2000 Apud CAIADO, 2003).

Em outras pesquisas, no ano de 2014, foram publicados novos dados estatísticos com demonstrativo de classes hospitalares no Brasil afirmando a existência de 148 classes hospitalares (ARAÚJO; ROCHA, 2018). Fonseca (2015)demonstra que subiu para 155 hospitais com escolas em 19 estados e no Distrito Federal. No estado do Rio Grande do Norte, esse mesmo estudo apontou a existência de 06 hospitais com classes hospitalares: Hospital Infantil Varela Santiago, Hospital do Seridó (Caicó) – Escola Sulivan Medeiros, Hospital Pediátrico do Estado Maria Alice Fernandes, Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, Hospital Dr. Pedro Bezerra e Hospital Giselda Trigueiro (FONSECA, 2015).

Recentemente, o Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar no RN, conforme afirma Silva; Chagas (2018, p.305), “[...] é realizado pela Secretaria Estadual e Secretaria Municipal de Educação através de convênios com instituições que atendem as crianças e adolescentes em tratamento de saúde”. São elas: Hospital Infantil Varela Santiago, Hospital Pediátrico Maria Alice Fernandes, Hospital do Seridó, Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva, Grupo de Apoio à Criança com Câncer do RN, Associação de Apoio à Portadores de Câncer de Mossoró e Região ( AAPCMR), Hospital Gizelda Trigueiro, Hospital Universitário Onofre Lopes, Hospital Walfredo Gurgel (SILVA; CHAGAS, 2018).

O público destes hospitais e casas de apoio que possuem atendimento educacional é bem diversificado, abrange crianças e adolescentes hospitalizados com as mais diversas doenças e com graus diferentes de gravidade. De acordo com Silva; Chagas (2018, p.311), este alunado encontra-se em “[...] diferentes faixas etárias e com

(17)

uma grande diversidade social, cultural, curricular e emocional; com diferentes patologias, com ou sem deficiências [...]”.

Contudo, mesmo em meio ao processo de adoecimento, que envolve o tratamento médico, com terapias medicamentos que causam efeitos colaterais, exames invasivos, intervenções cirúrgicas, dentre outros aspectos, essas crianças e adolescentes continuam crescendo e se desenvolvendo em meio a esse cenário.

Para Fonseca (2015):

A clientela da classe hospitalar é variada. Os convênios firmados entre os hospitais e suas secretarias de saúde e as secretarias de educação em geral contemplam a obrigatoriedade escolar (dos 6 aos 16 anos de idade cronológica) na primeira etapa do ensino fundamental (até o 5° ano escolar). Há convênios que contemplam a segunda etapa do ensino fundamental (a partir do 6° ano até o 9° ano escolar). Em alguns hospitais a educação infantil também é contemplada (FONSECA, 2015, p. 16).

É válido ressaltar que historicamente o atendimento educacional hospitalar mostra um longo processo de lutas e conquistas, e que, mesmo previsto por lei, o direito das crianças e dos adolescentes de continuarem e manterem seus estudos dentro do ambiente hospitalar, nem sempre é garantido e viabilizado. Portanto, se faz necessário um maior aprofundamento, teórico e metodológico sobre essa temática, para aprimorar a qualidade do serviço escolar, com capacitação e formação continuada para os professores, que perpasse por uma visão mais ampliada de atendimento, de maneira que saúde e educação dialoguem, conservando as especificidades do trabalho pedagógico e do trabalho terapêutico.

2.2 Legislação e políticas educacionais: garantia do direito a esta modalidade

A educação se faz necessária no processo de construção da sociedade, pois se constitui através das transformações sociais. Dessa maneira, são necessárias diversas formações docentes, que possam desenvolver novas habilidades aos profissionais da educação, para que os mesmos possam desempenhar seu trabalho de maneira significativa, para além da escola, mas também em outros ambientes educativos não escolares (WELLICHAN; OLIVEIRA, 2018).

(18)

A legislação brasileira assegura esse direito em sua Constituição Federal, desde 1988. No título VIII – Da Ordem Social, Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I, afirma no seu art. 205:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1998, p. 137). O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, no ano 1990, disposto pela Lei n° 8.069/90, reafirmou a responsabilidade do Estado, da família, da sociedade em relação à proteção integral e de garantia dos direitos essenciais para os seres humanos (BRASIL, 1990). E a partir desse período, os órgãos públicos passaram a inserir a área hospitalar em suas políticas públicas de educação (WELLICHAN; OLIVEIRA, 2018). Nesse sentido, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), publicou em 1994, o documento Política Nacional de Educação Especial (PNEE), que por sua vez, definiu a classe hospitalar como um ambiente que “[...] possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados que necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar” (BRASIL, 1994, p.20).

Dando seguimento aos dispositivos legais, com vista a preservar à escolarização à criança e o adolescente, por meio da Resolução n°41 de 13 de outubro de 1995, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, os Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizado garante, entre outros aspectos, no item 9, o direito a “[...] desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar” (BRASIL, 1995, p.1).O acompanhamento do currículo escolar é uma das diretrizes essenciais para o funcionamento adequado desta Resolução. Para tanto, a classe hospitalar deve buscar contato com a escola de origem da criança ou adolescente hospitalizado, permitindo a continuidade das atividades que lá eram desenvolvidas (BARROS, 2007).

A Educação Especial é uma modalidade de ensino garantida desde 1996 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), que no título II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional, reitera em seu art.2° que “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996, p.7). Em seu capítulo V, conforme o parágrafo 2°, art.58 da referida lei, é

(19)

enfatizado que o atendimento educacional “[...] será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular” (BRASIL, 1996).

A importância do atendimento hospitalar nesse interim já se configura como direito. No entanto, Ceccim (1999) ressalta:

A hospitalização não implica, necessariamente, qualquer limitação ao aprendizado escolar e, apesar de ser na Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994/1995) que a educação em hospital aparece como modalidade de ensino e de onde decorre a nomenclatura “classe hospitalar”, deve-se ter presente que esta oferta educacional não se resume às crianças com transtornos do desenvolvimento, como já foi no passado (anos 50 aos 80), mas também às crianças em situação de risco ao desenvolvimento, como é o caso da internação hospitalar, uma vez que a hospitalização impõe limites à socialização e às interações, impõe o afastamento da escola, dos amigos, da rua e da casa e impõe regras sobre o corpo, a saúde, o tempo e os espaços (CECCIM, 1999, p.42).

Nesse sentido, a pedagogia hospitalar reafirma, assim, seu compromisso com a sociedade, oferecendo condições para a realização dos processos de ensino-aprendizagem independente dos limites da sala de aula convencional, indo além da intencionalidade e proposta curricular, mas capacitando cidadãos para viverem em sociedade, criando oportunidades de conhecimentos sobre o mundo e suas relações sociais por meio de interações e gerando, dessa forma, um processo educativo (GOHN, 2006 apud WELLICHAN; OLIVEIRA, 2018).

Portanto, as classes hospitalares não devem ser confundidas com salas de recreação, brinquedotecas e com os Projetos de Humanização, facilmente encontrados nos hospitais, pois apesar de utilizar o lúdico em sua estratégia pedagógica no ambiente hospitalar, a classe hospitalar possui uma proposta educativa-escolar, que implica em uma regularidade e uma responsabilidade com as aprendizagens formais da criança e do adolescente, sendo de fato uma continuidade da sua escola de origem (CECCIM, 1999).

A Câmara de Educação Básica (CEB), do Conselho Nacional de Educação (CNE), institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, no ano de 2001, através da Resolução n° 2 de 11 de setembro de 2001, publicada no DOU nº 177 (seção 1 E de 14/09/2001, p. 39-40), e em seu art. 13, refere-se à classe hospitalar, ampliando o público com direito a esse serviço. Segundo as mesmas

(20)

diretrizes, em outra publicação, observa-se que o atendimento educacional especializado estende-se também aos espaços não escolares e abrange a classe hospitalar e o ambiente domiciliar (BRASIL, 2001).

Essas diretrizes têm caráter obrigatório, a partir de 2002, com o documento da Secretaria de Educação Especial intitulado “Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações”, que afirma em seus princípios e fundamentos que “[...] esta atenção também diz respeito ao paradigma de inclusão e contribui para com a humanização da assistência hospitalar” (BRASIL, MEC/SEESP, 2002, p.11).O objetivo desse documento é estruturar ações políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes hospitalares e domiciliares e o mesmo, reconhece como objetivos da classe hospitalar:

[...] elaborar estratégias e orientações para possibilitar o acompanhamento pedagógico-educacional do processo de desenvolvimento e construção do conhecimento de crianças, jovens e adultos matriculados ou não nos sistemas de ensino regular, no âmbito da educação básica e que encontram-se impossibilitados de frequentar escola, temporária ou permanentemente e, garantir a manutenção do vínculo com as escolas por meio de um currículo flexibilizado e/ou adaptado, favorecendo seu ingresso, retorno ou adequada integração ao seu grupo escolar correspondente, como parte do direito de atenção integral (BRASIL, MEC/SEESP, 2002, p.13).

Para tanto, administrativamente, é recomendado que as classes hospitalares e domiciliares devem articular-se com as equipes de Educação e Saúde, estaduais, municipais e do Distrito Federal na perspectiva de melhor estruturá-los (BRASIL, MEC/SEESP, 2002).

Assim, surgem as classes hospitalares como uma nova perspectiva de inclusão escolar. Conforme Araújo; Rocha (2018, p.294), a classe hospitalar se trata de uma modalidade de atendimento especial pela secretaria de Educação Especial do MEC que “[...] possibilita à criança e ao adolescente internado, prosseguir com as atividades de suas escolas de origem, da educação infantil ao ensino médio”. E ainda, enfatizam o dever do Poder Público da garantia do processo de aprendizagem aos diferentes níveis de ensino (ARAÚJO; ROCHA, 2018).

Ainda nesse contexto, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (BRASIL, 2008), em seu item VI que dispõe sobre suas diretrizes, declara que o professor no atendimento educacional especializado (AEE) deve ter caráter interativo e interdisciplinar e deve atuar nas salas comuns de ensino regular, nas salas de recursos

(21)

multifuncionais, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, visando ofertar serviços e recursos de educação especial (BRASIL, 2008).

Em âmbito nacional, atualmente temos em vigor a Lei n° 13.716, de 24 de setembro de 2018 que altera a LDB 9.394/96 para assegurar o atendimento educacional ao aluno da educação básica internado para tratamento de saúde. Em seu art. 4°-A,acrescido a LDB 9.394/96, define que:

É assegurado atendimento educacional, durante o período de internação, ao aluno da educação básica internado para tratamento de saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado, conforme dispuser o Poder Público em regulamento, na esfera de sua competência federativa. (BRASIL, 2018).

A trajetória legislativa no estado do Rio Grande do Norte tem significativa relevância na área da pedagogia hospitalar. Conforme explicitado por Silva; Chagas, (2018), a origem do atendimento pedagógico hospitalar e domiciliar no RN originou-se em instituições filantrópicas e no trabalho voluntário nas casas de apoio à criança com câncer, através da contratação de professores pelas mesmas. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte também foi atuante nesse processo de construção do serviço de classe hospitalar no estado, criando projetos de extensão, desde 2004 (SILVA; CHAGAS, 2018).

O município de Natal institucionalizou pela Lei n° 6.365, de 21 de agosto de 2012, o atendimento educacional hospitalar, que, de acordo com seu art. 1°, cria o Programa de Classe Hospitalar no município de Natal (NATAL, 2012). Dando continuidade, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, em seu Plano Estadual de Educação – PEE/RN, por meio da Lei n° 10.049, de 27 de janeiro de 2016 (2015-2025), apresenta em sua Meta 4 – Estratégias que seguem na ordem 3 e 12:

Assegurar, nas redes escolares estadual e municipais, os serviços de apoio pedagógico especializado, com a oferta dos professores do atendimento educacional especializado, professores itinerantes, professores para o atendimento educacional hospitalar e domiciliar, profissionais de apoio ou auxiliares [...]

Orientar e monitorar a implementação do atendimento educacional hospitalar e domiciliar, em regime de colaboração com a União e os municípios, em ações intersetoriais com instituições de saúde parceiras, a fim de assegurar o direito à educação aos escolares que

(22)

estão hospitalizados ou em domicílio para tratamento de saúde. (PEE/RN, 2016).

A Lei n° 6.603, de 01 de abril de 2016, da câmara Municipal de Natal, aprova o Plano Municipal de Educação do Município do Natal (PME), e apresenta em sua Meta 4, as seguintes estratégias nos itens 4.14 e 4.20, respectivamente:

Assegurar equipe multidisciplinar de profissionais habilitados para atender toda a demanda dos educandos de educação especial matriculados nas escolas públicas do Município, das classes hospitalares, atendimento educacional domiciliar e para o atendimento educacional especializado, profissionais de apoio ou auxiliares [...] Garantir atendimento educacional hospitalar e domiciliar aos educandos matriculados nas unidades de ensino, promovendo articulações com instituições da área de saúde. (PME/Natal/RN, 2016).

No mesmo ano, os escolares do atendimento educacional hospitalar, são especificados de acordo com a Portaria de Avaliação n° 981/2016- SEEC/RN, art.23° que “Considerar-se-á como estudante com necessidades educacionais especiais, aquele atendido em classes hospitalar/domiciliar, sendo observados os limites impostos pelo tratamento”.

Recentemente, a Lei n° 10.320, foi sancionada em 05 de janeiro de 2018 e dispõe sobre a criação do Programa de Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar nas unidades da Rede Estadual de Saúde e dá outras providências, com objetivo de assegurar o direito de crianças e adolescentes internados em tratamento de saúde e matriculados na rede pública de ensino do estado, continuarem estudando, em caráter complementar, através das classes hospitalares.

O atendimento educacional hospitalar e domiciliar no Estado do Rio Grande do Norte, atualmente, funciona em 10 instituições de saúde, apoiadas pela Secretaria de Estado da Educação e da Cultura do RN (SEEC/RN), que é de um serviço da Subcoordenadoria de Educação Especial (SUESP), realizado pelo Núcleo de Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar (NAEHD-RN); e Secretaria Municipal de Educação (SME). Segundo Silva; Chagas (2018), as classes hospitalares do RN contam com mais de 30 professores das Redes Pública e Privada de Ensino e mais de 2000 alunos atendidos anualmente em todas as classes.

(23)

2.3 A Terapia Ocupacional e a Tecnologia Assistiva no contexto Educacional

A terapia ocupacional (TO) é uma profissão da área de saúde relacionada à reabilitação que surgiu no Brasil, concomitante ao serviço de classe hospitalar, após a Segunda Guerra Mundial. As modificações sociais, nesse período, também trouxeram mudanças na estrutura organizacional e no papel do hospital, promovendo uma eficiência crescente nos cuidados médicos tradicionais e a profissionalização dos envolvidos com os cuidados da saúde (TROMBLY; RADOMSKI, 2005).

Nesse contexto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU) foram em busca de países para se constituírem como referência em reabilitação e organizaram os treinamentos dos profissionais que comporiam os programas de reabilitação (VOGEL; GOUBERT, 2002). Com esse movimento, a história da terapia ocupacional, inicia-se formalmente no Brasil, seguindo as estratégias de implantação de programas de reabilitação na América Latina preconizadas por organismos internacionais (DE CARLO; BARTALOTTI, 2001).

Regulamentadas pelo Decreto Lei n° 938, de 13 de outubro de 1969, a TO e a fisioterapia são profissões que surgiram juntas e existem há mais de 50 anos, de acordo com o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO, 1969). Seus profissionais atuam em todos os níveis de atenção a saúde: no nível primário (prevenção), no nível secundário (tratamento especializado) e no nível terciário (cirurgia e reabilitação); e atendem de maneira humanizada pessoas de todas as idades. Ainda segundo o COFFITO, a terapia ocupacional é definida como:

Profissão nível superior voltada aos estudos, à prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psico-motoras, decorrentes ou não de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, através da sistematização e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos, na atenção básica, média complexidade e alta complexidade (COFFITO, 1969).

Neistadt; Crepeau (2002, p.3) afirmam que: “A terapia ocupacional é a arte e a ciência de ajudar pessoas a realizarem as atividades que são importantes para elas, apesar das debilidades, incapacidades e deficiências”. Para tanto, o terapeuta ocupacional deve basear sua prática em uma intervenção que compreenda avaliar o paciente buscando identificar alterações nas suas funções práxicas, considerando sua

(24)

faixa etária e/ou desenvolvimento, sua formação pessoal, familiar e social, através de abordagens e condutas fundamentadas em critérios avaliativos com eixo referencial pessoal, familiar, coletivo e social, coordenadas com o processo terapêutico (COFFITO, 1969).

Os locais de atuação do terapeuta ocupacional são: hospitais gerais; ambulatórios; consultórios; clínicas dia; projetos sociais oficiais; sistemas prisionais; instituições de ensino superior; órgãos de controle social; creches e escolas; empresas e comunidades terapêuticas. E quanto às especialidades reconhecidas pelo COFFITO temos: a Terapia Ocupacional em acupuntura; em contextos hospitalares; em contextos sociais; no contexto escolar; em gerontologia; em saúde da família e em saúde mental (COFFITO, 1969).

Portanto, reconhecemos a afinidade entre as áreas da TO e da Pedagogia, especialmente no atendimento educacional hospitalar ao longo do processo de constituição das profissões. Entretanto, somente em 08 de julho de 2013, a especialidade de TO em contextos hospitalares foi reconhecida pela resolução n° 429, e nesse estudo, destacamos o art. 6, que trata do conhecimento necessário para essa prática, nos itens: “V – Atuação em equipe inter, multi e transdisciplinar; VII – Próteses, órteses, dispositivos de tecnologia assistiva e comunicação e acessibilidade; VIII – Humanização hospitalar (COFFITO, 2013)”. A especialidade de TO no contexto educacional, especificamente, é recente e foi reconhecida e disciplinada em 26 de dezembro de 2018, pela Resolução n° 500 que define as áreas de atuação e as competências do terapeuta ocupacional especialista em contextos escolar e dá outras providências (COFFITO, 2018).

O plenário do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, no exercício de suas atribuições legais e regimentais, considerando a Resolução COFFITO n° 378, de 11 de junho de 2010, resolve em seu art. 2°:

O terapeuta ocupacional especialista em “Terapia Ocupacional no Contexto Escolar” é profissional competente e com formação específica, seja em contextos de escola Regular e/ou Especial, Salas Multifuncionais, em outros contextos educacionais formais e não formais em todas as modalidades de ensino, gestão de processo para implantação e implementação das políticas que garantam a inclusão dos estudantes nos espaços de aprendizagem e formação da comunidade educativa (COFFITO, 2018).

(25)

Dessa maneira, no contexto escolar na classe hospitalar, o terapeuta ocupacional deverá avaliar e intervir no desempenho ocupacional do estudante, de maneira que ele seja capaz de se envolver e realizar suas atividades e ocupações, que são resultados da interação dinâmica entre ele, seu contexto educacional e as atividades a serem desempenhadas no espaço de aprendizagem (COFFITO, 2018).

Nesse sentido, ainda respaldado pela Resolução n° 500, o terapeuta considera para além da aprendizagem, todas as áreas de desempenho ocupacional e atividades cotidianas: educação, brincar, lazer, participação social, Atividade da Vida Diária (AVD), Atividade Instrumental da Vida Diária (AIVD), entre outras, buscando priorizar a autonomia e independência do indivíduo (COFFITO, 2018).

A Associação Americana de Terapia Ocupacional (AOTA), importante referência de estrutura da prática dessa profissão, declara que “Os serviços de terapia ocupacional visam à habilitação, reabilitação e promoção de saúde e do bem estar em pacientes com necessidades relacionadas ou não a incapacidades” (AOTA, 2015, p. 1). E, complementa, ratificando que os profissionais de TO, devem, quando necessário, realizar adaptações, adequações e modificações do ambiente e/ou objetos desse ambiente para a realização do atendimento (AOTA, 2015).

As adaptações são um aspecto essencial na TO e no contexto educacional é importante destacar, ainda segundo a Resolução n° 500, que a atuação do terapeuta ocupacional visa, no seu art. 7, no item III: “Mediar os processos de implantação e implementação das adaptações razoáveis e/ou ajustes com o estudante, no ambiente e/ou na tarefa/ocupação visando o desempenho ocupacional do estudante no contexto escolar” (COFFITO, 2018). No que se refere ao ambiente de trabalho, no exercício profissional, em todas as modalidades, etapas e níveis de ensino, em todas as fases do desenvolvimento ontogênico, com ações de prevenção promoção, proteção educação, intervenção oferecidos aos estudantes e comunidade educativa, entre outros, no seu art. 9, destaca-se o item “VI – Hospitais” (COFFITO, 2018).

Assim, é garantido legalmente o atendimento educacional hospitalar e o atendimento terapêutico ocupacional no contexto escolar, também nos hospitais.

Nessa perspectiva, a avaliação terapêutica ocupacional é centrada no aluno/paciente e inicia-se pela busca “[...] de quais tarefas e atividades ele precisa, deseja ou espera realizar, e está tendo dificuldade” (LAW; COLS, 1994 apud TROMBLY; RADOMSKI, 2005, p.34). Assim, centrados na necessidade dos alunos e/ou pacientes, as adaptações e a tecnologia assistiva (TA) se apresentam como

(26)

importantes ferramentas para promoção e viabilização dos atendimentos no contexto hospitalar e /ou escolar.

No contexto educacional hospitalar, de acordo com Araújo; Rocha, 2018, a legislação nacional sobre a classe hospitalar e domiciliar é restrita, e o manual sobre “Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico domiciliar – Estratégias e Orientações” é “[...] o único documento elaborado pelo MEC/SEESP que esclarece os objetivos e a estrutura organizacional do serviço de classe hospitalar no Brasil” (ARAÚJO; ROCHA, 2018, p.296). Em relação aos aspectos físicos do espaço, das instalações e dos equipamentos, especificamente no item 4.1.3, ele discorre sobre a adaptação de recursos e instrumentos didático-pedagógicos; e ainda, no item 4.1.4, trata da adaptação do ambiente escolar, orientando para “Eliminação de barreiras arquitetônicas possibilitando o acesso a todos os ambientes da escola, assim como a adaptação de mobiliário, de recursos pedagógicos, de alimentação e cuidados pessoais de acordo com as necessidades do educando” (BRASIL, MEC/SEESP, 2002, p. 17).

As adaptações são um dos aspectos da tecnologia assistiva (TA), no entanto, a TA é um termo abrangente, utilizado para descrever produtos, objetos, equipamentos, utensílios, adaptações, estratégias e metodologias, de baixo e alto custo, que promovem autonomia e independência, inclusão escolar, profissional e de lazer, bem como qualidade de vida aos indivíduos com limitações diversas, sejam elas cognitivas, físicas e/ou sensoriais. A construção do conceito de TA no Brasil se deu com a instituição do Comitê de Ajudas técnicas – CAT (2006) definindo-a como:

[...] área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BRASIL, 2009, p.9).

A aplicação desse termo abrange todas as ordens do desempenho humano, desde as tarefas básicas de atividades da vida diária (AVD) até o desempenho de atividades profissionais, perpassando, assim, pela atividade escolar. De acordo com CAT (2006, p.15), a compreensão de TA deve ser para além de apenas,

[...] artefatos ou produtos que auxiliam a “função”, mas envolve também serviços, estratégias e práticas e acima de tudo a aplicação do conhecimento destinado a promover autonomia e participação das pessoas com deficiência (BRASIL, 2009, p.15).

(27)

A TA surgiu no cenário educacional, durante o processo de construção de um longo caminho de conquistas e grandes desafios da Política de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (BRASIL, 2008). O documento define a Educação Especial, como modalidade de ensino transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, que disponibiliza recursos e serviços e o atendimento educacional especializado, complementar ou suplementar, aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação no ensino regular; e assim, estabelece diretrizes que fazem emergir mudanças na concepção e práticas escolares nas salas de aula e na formação dos professores para atender as necessidades educacionais de todos os alunos (BRASIL, 2008).

Fundamentadas nos marcos legais e princípios pedagógicos da igualdade de condições de acesso à participação em um sistema educacional inclusivo, essa política educacional, não contempla em seu público-alvo, crianças e adolescentes hospitalizados (CAIADO, 2003; ARAÚJO; ROCHA, 2018), mas objetiva assegurar a inclusão escolar e orienta os sistemas de ensino para garantir:

[...] acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008,p.14).

Segundo a Política de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (BRASIL, 2008), estabelece-se que o atendimento educacional é realizado por meio da

[...] atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do sistema Braille, do soroban, da orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros (BRASIL, 2008, p.17).

(28)

Dessa forma, ainda na perspectiva da educação especial, conforme supracitado, de acordo com a orientação de formação do professor no atendimento educacional especializado, uma das áreas de atuação desse profissional é a classe hospitalar e o ambiente domiciliar, para oferta dos serviços e recursos de educação especial (BRASIL, 2008).

No entanto, apesar de estar inserido na Educação Inclusiva, o serviço de classe hospitalar e domiciliar não tem sido evidenciado nessa área (Rocha, 2014 apud Araújo; Rocha, 2018). Conforme observado no documento, a única parte do texto que faz referência ao atendimento educacional hospitalar é quando “[...] se refere ao caráter interativo e interdisciplinar da ação e aos locais de atuação do professor” (ARAÚJO; ROCHA, 2018, p.297).

Corroborando com essa elucidação, uma das políticas públicas adotada para o desenvolvimento da inclusão escolar, se deu pelo Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais (2010), que focalizou o uso da TA nesses espaços, com disponibilização de diversos recursos, equipamentos e apoio pedagógico para o atendimento dos alunos com necessidades educacionais especiais, matriculados no ensino regular.

A TA se faz necessária em todos os ambientes de aprendizagem, portanto, deve-se ampliar o conhecimento sobre deve-seu caráter multidisciplinar e a prática de sua utilização, pois, na educação ela é uma possibilidade de ferramenta pedagógica, que pode proporcionar autonomia e funcionalidade a todos os alunos, principalmente aqueles com necessidades educacionais especiais, sejam elas temporárias ou não, no seu processo de desenvolvimento.

(29)

3. METODOLOGIA

3.1 Delineamento da pesquisa

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva com caráter qualitativo, conforme suas características e objetivos, de modo a proporcionar uma visão geral, acerca de um determinado assunto, em pesquisas que tratam de temas pouco explorados, para os quais se torna difícil elaborar hipóteses definitivas e operacionalizáveis (GIL, 2008).

Segundo Minayo (2011), a abordagem qualitativa trabalha com uma diversidade de significados, motivos, aspirações, crenças valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos sociais. Ainda conforme a referida autora, as características desse método, permite desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupos particulares, favorecendo a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação (MINAYO, 2008).

A pesquisa social de nível exploratório, em consonância com esse estudo, caracteriza-se por ter como principal finalidade “[...] desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores (Gil, 2008, p.27)”. E ressalta que o planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo a possibilitar considerações dos mais variados aspectos relativo ao fato estudado. Assim, o produto final deste processo passa a ser um problema mais esclarecido, suscetível de investigação através de procedimentos mais sistematizados (GIL, 2008).

O mesmo autor assinala que os estudos descritivos relatam as características de uma determinada população, ou fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis, objetivando emergir as opiniões, atitudes e crenças de uma população. Para tanto, os procedimentos metodológicos envolvem utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados, observação sistemática, entrevistas, entre outras. Dessa maneira, as pesquisas descritivas associadas às exploratórias são geralmente utilizadas pelos pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática (GIL, 2008).

(30)

3.2 Caracterização dos participantes

Esse projeto foi realizado com duas professoras da classe hospitalar da Casa de Apoio a Criança com Câncer Durval Paiva localizada na Políclinica da Liga Norteriograndense Contra o Câncer, situada no bairro Alecrim em Natal (RN). A Casa Durval Paiva é uma instituição não governamental, que atende os estados do RN, PB, CE, PE e SE, e que tem como missão acolher a criança e o adolescente com câncer e doenças hematológicas crônicas e seus familiares, durante e após o tratamento, buscando a cura, contribuindo para o resgate da cidadania, dignidade e qualidade de vida.

No quadro a seguir estão apresentados os perfis das participantes da pesquisa:

Quadro 1 - Caracterização das entrevistadas

Identificação Idade Formação Tempo de experiência

na classe hospitalar P1 35anos Pedagogia (UFRN);

Psicopedagogia (UNIFACEX) 06 anos

P2 38anos

Pedagogia (UFRN);

Especialização na Educação Infantil (UFRN)

Psicopedagogia com ênfase na Ed. Especial (FACULDADE SÃO LUIZ)

04 anos

Fonte: dados empíricos da pesquisa, Natal. 2019.

3.3 Instrumentos

Foram realizadas entrevistas abertas durante a observação participante para exploração do campo de pesquisa, diário de campo para observação descritiva e por fim, entrevistas semiestruturadas para coleta de dados.

3.4 Procedimentos

A partir da construção de um pré-projeto de pesquisa, com vista a observar a interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento de crianças e adolescentes na classe hospitalar da Policlínica (Alecrim), foi realizado o primeiro contato com a coordenadora da classe hospitalar da Casa de Apoio a Criança com

(31)

Câncer Durval Paiva, que para fins desse estudo nomearemos de C1, na Casa Durval Paiva. Após aprovação da mesma, em conjunto com direção da instituição, se deu o encontro com as professoras na Policlínica. O espaço conta com quatro professoras regulares e uma itinerante, com atuação semanal. A pesquisa foi desenvolvida com duas professoras, no turno vespertino, conforme disponibilidade das mesmas, que aqui serão nomeadas de P1 e P2.

No período de setembro a outubro de 2019 foram realizadas entrevistas abertas, face a face com as entrevistadas e anotações no diário de campo, concomitante a observação participante, visando conhecer o trabalho das professoras, bem como seus recursos pedagógicos e contextos de atendimento, tanto no que se refere ao espaço de atendimento, quanto nas características próprias, sociais e emocionais das crianças e adolescentes em processo de internação. Após período de observação, de acordo com as necessidades constatadas, em consonância com os objetivos da pesquisa relacionado à proposta de trabalho das entrevistadas, foram fornecidos materiais e adaptações de baixo custo, bem como mobiliário para realização das atividades pedagógicas no leito.

O mobiliário disponibilizado foi uma mesa articulável e funcional, modelo GETA (Grupo de Estudos em Tecnologia Assistiva da UFRN), criada no primeiro semestre desse ano, para desenvolvimento das atividades escolares de crianças e adolescentes hospitalizados, em qualquer situação de atendimento, mas especialmente, nos leitos das enfermarias. As adaptações de baixo custo foram: um adaptador de escrita, para lápis, com apoio ergonômico, de silicone colorido, que já se encontra a venda em livrarias e na internet e um adaptador para tesoura escolar, de fabricação própria que substitui o encaixe dos dedos por uma mola plástica, semirrígida, que une os orifícios de encaixe dos dedos. Os materiais pedagógicos, também foram confeccionados, de baixo custo, limpável (plastificados), com uso de velcro, nove pregadores de lavanderia coloridos (plásticos) e duas canetinhas de quadro branco (comercializadas em livrarias), para auxiliar no processo de alfabetização. São eles: um jogo de formação de sílabas correspondente a sua figura; um disco com números e quantidades correspondentes para usar com o pregador; jogo de discos com letras iniciais de palavras; pranchas com figuras para identificação da letra inicial para usar com as canetinhas; e livro adaptado com passador de páginas feito com palitos de picolé.

Por fim, foi realizada a entrevista semiestruturada ou também conhecida como entrevista semiaberta, para coleta de dados sobre a experiência vivenciada na pesquisa.

(32)

Para Gil (2008) a entrevista é uma forma de interação social, portanto uma maneira de diálogo assimétrico, não apenas para coleta de dados, mas também para um diagnóstico situacional e possível orientação sobre determinado tema.

Nessa perspectiva, a entrevista para Minayo é:

[...] um instrumento privilegiado de coleta de informações para as Ciências Sociais é a possibilidade que tem a fala de ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) e, ao mesmo tempo, ter a magia de transmitir, através de um porta-voz, as representações grupais, em condições históricas, sócioeconômicas e culturais específicas (MINAYO, 2008, p.204).

Assim, a escolha inicial da entrevista aberta se deu pela possibilidade dos assuntos tratados surgirem, não necessariamente em uma sequência rígida, mas pelas próprias constatações, preocupações, necessidades, relevâncias e ênfase que o entrevistado dá ao assunto em pauta (MINAYO, 2008). A observação como técnica de coleta de dados é um elemento fundamental para pesquisa qualitativa. Assim, o contexto de observação participante foi essencial para o desenvolvimento desse estudo. De acordo com Gil (2008), esse tipo de observação permite uma participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada, a partir do interior dele mesmo.

Para desenvolvimento e registro da observação participante, durante o estudo, foi utilizado o instrumento diário de campo, ou seja, um pequeno caderno de anotações, utilizado em todas as observações para registro de informações. Nele são escritas as impressões pessoais, que podem se modificar com o tempo, resultados de conversas informais, observações de comportamentos contraditórios com as falas, ou não, bem como manifestações dos interlocutores quanto aos pontos investigados, a própria rotina do ambiente, dentre outros aspectos relevantes para a pesquisa (MINAYO, 2008).

Para coleta de dados, sobre a experiência vivenciada, foi realizada a entrevista semiestruturada, através do aplicativo whatsapp, por mensagens de áudio, via telefone celular, visando otimizar o tempo de realização. Gil (2008) afirma que a entrevista por telefone, vem sendo desenvolvida nas ultimas décadas, e já são aceitas como procedimento adequado para pesquisa social.

(33)

[...] é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida em que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa (TRIVIÑOS, 1990, p. 146).

Os dados obtidos foram analisados pela técnica de análise temática do conteúdo proposta por MINAYO (2008), que se desdobra nas seguintes etapas: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

A pré-análise é a fase de “[...] escolha dos documentos a serem analisados; na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa, reformulando-as frente ao material coletado; e na elaboração de indicadores que orientem a interpretação final (MINAYO, 2000)”. É desenvolvida para sistematizar as ideias trazidas pelo referencial teórico e estabelecer indicadores para interpretação dos dados coletados.

A segunda fase, exploração do material, consiste na operação de codificação. Minayo (2008, p. 317) ratifica que, essa etapa, “Consiste essencialmente numa operação classificatória que visa alcançar o núcleo de compreensão do texto”. Para isso, de acordo com a mesma autora, é necessário que se estabeleça categorias. A categorização é um “[...] processo de redução do texto a palavras e expressões significativas (Minayo, 2008, p. 317)”. Assim, o texto das entrevistas e de todo material coletado é recortado em unidades de registro.

O tratamento dos resultados obtidos e interpretação consistem na terceira fase. Minayo (2008, p.318) relata que nesse momento o “[...] analista propõe inferências e realiza interpretações, inter-relacionando-as com o quadro teórico desenhado inicialmente ou abre pistas em torno de novas dimensões teóricas e interpretativas, sugeridas pela leitura do material”.

(34)

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Análises da interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento da classe hospitalar

O lócus da pesquisa, o hospital, é para além de uma instituição com grande complexidade administrativa e de serviços de saúde prestados, mas de grande alcance populacional e de extrema relevância técnico-científica e social. De Carlo; Bartalotti; Palm (2004, p. 8) afirmam que “Nela, transitam saberes e tecnologias diferenciados e são discutidos temas significativos para os que lá trabalham e para os que são assistidos [...]”. E ainda, destacam aspectos significativos para esse estudo, que são comuns aos ambientes hospitalares, como: indagações sobre a fragilidade da vida e eminência da morte; a dor (física e emocional) e outras consequências físicas e cognitivas do adoecimento; a perda da qualidade de vida e da rotina habitual decorrente da ruptura do cotidiano; reestruturação e preparação para o retorno a casa, escola e ambientes sociais de costume (DE CARLO; BARTALLOTI; PALM, 2004).

O conhecimento da dimensão da relação entre saúde e educação, nesse sentido, é fundamental para compreensão do contexto que está inserido a classe hospitalar. O atendimento educacional hospitalar da classe hospitalar da Policlínica da Liga Norteriograndense Contra o Câncer, situado no bairro Alecrim e administrado pela Casa de Apoio a Criança com Câncer Durval Paiva (CAAC), iniciou suas atividades em 2010, quando foi assinado o primeiro termo de cooperação técnica com a Secretaria Estadual de Educação, e a partir daí o Estado cedeu as professoras para atendimento escolar nesse espaço, e o serviço de atendimento educacional hospitalar foi instituído de fato e de direito.

Dessa maneira, Silva e Chagas (2018) colocam que esse atendimento oferecido pela Secretaria de Estado da Educação e da Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC/RN) é:

[...] um serviço da Subcoordenadoria de Educação Especial (SUESP) realizado pelo Núcleo de Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar (NAHD-RN), criado em 2010, que tem por objetivo: acompanhar a implementação da classe hospitalar e atendimento

Referências

Documentos relacionados

São dispositivos utilizados para entrar ou visualizar dados do microcomputador... Entrada – São dispositivos que o usuário entra com

Nesse sentido, o livro de Mary Del Priori Sobreviventes e guerreiras: Uma breve história da mulher no Brasil de 1500 a 2000 convida seus leitores a refletir sobre a história

Entretanto, durante o trabalho de campo com idosos/as no curso de informática para a Melhor Idade, percebi que o que levava alguns desses homens e mulheres com mais de 50 anos

O analista responsável pela elaboração deste relatório, destacado em negrito, certifica que as opiniões expressas neste relatório refletem, de forma precisa, única e exclusiva,

Toscana - Viareggio: Elegante e refinada, Viareggio, sede da histórica moradia para venda em Itália, é uma das cidades mais conhecidas da Costa Toscana.. Meta do turismo de elite

inalatória 15 mg/m³ População geral [Consumidores] Sistémico Longa duração Via.. oral 1.6 mg/kg bw/dia População geral [Consumidores] Sistémico Longa

1ª ETAPA: ANÁLISE CURRICULAR: A análise curricular constará da verificação de atendimento ou não aos pré-requisitos do espaço ocupacional (cargo), relativos à escolaridade

• O nome empresarial deve estampar dados verdadeiros sobre a pessoa do empresário individual ou dos sócios da sociedade empresária, e refletir com clareza a atividade que