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Joao Antônio de Medeiros Neto : um artista seridoense e seu celeiro de sonhos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CCHLA-CENTRO DE CIÊNCIAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

JOÃO ANTONIO DE MEDEIROS NETO: UM ARTISTA SERIDOENSE E SEU CELEIRO DE SONHOS

KELLINE CHRISTINE DE LIMA NATAL – RN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CCHLA-CENTRO DE CIÊNCIAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

JOÃO ANTONIO DE MEDEIROS NETO: UM ARTISTA SERIDOENSE E SEU CELEIRO DE SONHOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do grau de licenciada em Artes Visuais.

Orientador: prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho KELLINE CHRISTINE DE LIMA

NATAL – RN 2017.2

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KELLINE CHRISTINE DE LIMA

JOÃO ANTONIO DE MEDEIROS NETO: UM ARTISTA SERIDOENSE E SEU CELEIRO DE SONHOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do grau de licenciada em Artes Visuais.

Aprovada em de dezembro de 2017 BANCA EXAMINADORA

_________________________________

Orientador: Prof. Dr Vicente Vitoriano Marques de Carvalho Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________ Profª Drª Laurita Sales

Universidade Federal do Rio Grande do Norte ______________________________

Prof. Me Artur Souza Maciel

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

NATAL – RN 2017.2

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Dedico este trabalho aos meus pais Carlos Alberto de Lima e Terezinha Paulino de Lima e à minha querida avó paterna Maria Hilda de Lima, in memoriam. Eles me ensinaram, cada um a seu modo, com seus exemplos de vida, a não desistir e sempre ter esperança em dias melhores. Em suas vidas me mostraram a importância de fazer o que se gosta, não pelo retorno financeiro, mas por amor às vocações. A eles todo o meu esforço em vencer o tempo e nunca dizer que é tarde demais para a renovação dos meus sonhos e anseios.

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5 AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a “Deus”, meu Pai e Senhor, pelo dom da vida e pela força que faz despertar em mim em cada amanhecer.

Agradeço aos meus pais Carlos Alberto e Terezinha Paulino (in memoriam) e à minha avó paterna Maria Hilda de Lima (in memoriam), por todo amor e esforço dispensado em minha educação e formação.

À minha tia Maria de Fátima, pela confiança em mim e por todas as palavras de incentivo.

Aos meus filhos Caio e Karla por todo amor e ajuda durante o curso.

Aos meus irmãos Carlos Alessandro, Marco Rodrigo e Júlio César, pela união.

Ao meu tio Walter Rodrigues por todo apoio durante minha pesquisa.

Ao meu tio Magnos Augusto, por ser tão presente em minha vida.

Às minhas primas Jozélia Macena e Nilza Carvalho pela ajuda e cooperação nesse trabalho.

Ao meu tio Hélio Paulino e à sua esposa Nery Diniz, por todo apoio durante a minha pesquisa na cidade de Currais Novos. À Sra. Noilde Ramalho (in memoriam), diretora da Escola Doméstica de Natal, por todos os ensinamentos passados.

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Aos meus queridos professores: Wilma, Eliene, Zélia, Maria da Paz, Amires, Vera, Pontes, Adailton, Ivani Bastos, Alcir e Artur Souza enfim, a todos que contribuíram para a minha formação.

À minha primeira professora de artes, D. Carmelita.

A todos os meus professores da Universidade, em especial ao amigo e Mestre Artur Souza, por toda a cooperação na construção desse trabalho.

Ao meu orientador Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho, pela disponibilidade, carinho e atenção.

Aos meus colegas de turma, em especial Louise Gusmão, Silvana Benevides, Gabriel de Paiva, Eduardo e Irany Paiva, por todos os momentos compartilhados, pela amizade e companheirismo.

Às minhas amigas Zuleika Areias, Conceição Marinho, Francisca Portela Távora, Rosália Carrilho, Evaneide César e Deise Areias pela amizade e cooperação com este trabalho.

Ao artista plástico João Antonio de Medeiros Neto e a seus familiares, pela disponibilidade de tempo e materiais cedidos paraesta pesquisa.

Enfim, agradeço a todos que de alguma forma estiveram envolvidos na pesquisa e que me acompanharam nesse período tão importante de minha vida.

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“A arte é o lugar da liberdade perfeita”

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8 RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo apresentar resultados de uma pesquisa sobre arte em torno da biografia do artista seridoense João Antonio de Medeiros Neto, levando ao conhecimento do público os projetos em que ele se encontra engajado atualmente. Com base na observação do estilo, técnicas e temáticas de suas obras, o trabalho inclui uma análise das fases artísticas do artista, além de uma apreciação de 9 obras, utilizando o Roteiro Didático de Antonio Costella. A pesquisa bibliográfica se baseia nos estudos da Nova História.

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9 ABSTRACT

This Course Conclusion Paper aims to present the results of a research on art around the biography of the artist from the state of Seridoense, João Antonio de Medeiros Neto, bringing to the attention of the public the projects in which he is currently engaged. Based on the observation of the style, techniques and themes of his works, the work includes an analysis of the artistic phases of the artist, as well as an analysis of 9 works, using the Didactic Roadmap by Antonio Costella. Bibliographic research is based on New History studies.

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10 LISTA DE ABREVIATURAS

CAIC - Centro de Ação integrada à Criança CLAV- Curso de Licenciatura em Artes Visuais

CN - Currais Novos

DEART - Departamento de Artes

ETFRN - Escola Técnica Federal do rio Grande do Norte

FJA - Fundação José Augusto

GRUPEHQ - Grupo de Pesquisa em Histórias em Quadrinhos

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFRN- Instituto Federal do rio Grande do Norte

IVP- Instituto Vivaldo Pereira

RN - Rio Grande do Norte

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11 LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Fotografia de João Antonio - 1ª visita a Casa de Cultura de Currais Novos...29

FIGURA 2 – Fotografia do trabalho do artista Francisco Walter...29

FIGURA 3 – Fotografia do trabalho do artista Francinaldo Moura...30

FIGURA 4 – Fotografia do trabalho do artista Isaías...30

FIGURA 5 – Fotografia de escultura de João Antonio de Medeiros...31

FIGURA 6 – Fotografia da sala da oficina de modelagem, Casa de Cultura - CN ...31

FIGURA 7 – Fotografia da sala da oficina de desenho, Casa de Cultura - CN ...31

FIGURA 8 – Fotografia, eu e os bonecos gigantes do carnaval de Currais Novos...32

FIGURA 9 – Fotografia de João Antonio em seu atelier...32

FIGURA 10 – Fotografia da entrada da Galeria do atelier de João Antonio...32

FIGURA 11 – Fotografia de detalhes da galeria do atelier ...33

FIGURA 12 – Fotografia de detalhes da galeria do atelier...33

FIGURA 13 – Fotografia da biblioteca do atelier do artista...33

FIGURA 14 e 14 A – Fotografia dos portais da galeria de João Antonio...34

FIGURA 15 – Fotografia de escultura em barro “Madona”...35

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FIGURA 17 – Fotografia de obra exposta na galeria do artista João Antonio...36

FIGURA 18 – Fotografia da fachada lateral do Espaço avoante de Cultura...36

FIGURA 19 – Fotografia da fachada lateral do Espaço Avoante de Cultura...36

FIGURA 20 – Fotografia da fachada lateral e frontal do Espaço Avoante de Cultura...37

FIGURA 21 – Fotografia da parte interna do Espaço Avoante de Cultura...37

FIGURA 22 – Fotografia do forno utilizado nas oficinas de cerâmica...37

FIGURA 23 – Fotografia da 1ª pintura de João Antonio em tela...38

FIGURA 24 – Cartaz da Exposição “Luzerna”...38

FIGURA 25 – Fotografia do Boneco gigante do Lula - Currais Novos...39

FIGURA 26 – Fotografia do Boneco gigante do Lula - Currais Novos ...39

FIGURA 27 – Fotografia da entrega da tela de João Antonio à Lula...39

FIGURA 28 – Fotografia da Igreja Matriz de Sant’Ana em Currais Novos...49

FIGURA 29 _ Mapa do estado do RN...49

FIGURA 30 – Fotografia do Desembargador Tomaz Salustino...50

FIGURA 31 – Fotografia da entrada da Mina Brejuí ...50

FIGURA 32 – Fotografia do Memorial Tomaz Salustino...50

FIGURA 33 – Fotografia do casamento dos pais de João Antonio...51

FIGURA 34 – Fotografia de João Antonio e seu irmão Mário Sérgio... ...51

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FIGURA 36 – Fotografia do atelier de desenho e pintura no IVP ...52

FIGURA 37 – Fotografia da turma do 3º ano no...53

FIGURA 38– Fotografia da Escola Jesus Menino...54

FIGURA 39– Carteira do exame de seleção ETFRN...55

FIGURA 40 – Fotografia do atelier de Artes da ETFRN...55

FIGURA 41 – Mural pintado por João Antonio no Departamento de Artes...56

FIGURA 42 – Fotografia de João Antonio com o grupo de performance Pei puf...57

FIGURA 43 – Fotografia de componentes da turma de composição fotográfica...57

FIGURA 44 – Fotografia do grupo da Exposição “Quadrantes”...58

FIGURA 45 – Fotografia de João Antonio em sua 1ª exposição individual...58

FIGURA 46 – Fotografia da Exposição “O que se vê”...59

FIGURA 47 – Fotografia da Exposição “O que se vê”...59

FIGURA 48 – Fotografia da Exposição “O que se vê”...60

FIGURA 49 – Fotografia da Exposição “O que se vê”...60

FIGURA 50– Fotografia da Exposição “O que se vê”...60

FIGURA 51 – Fotografia da Exposição “O que se vê”...61

FIGURA 52– Fotografia da Exposição “O que se vê”... 61

FIGURA 53 – Fotografia da Exposição “O que se vê”... ...61

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FIGURA 55 – Detalhe do cartaz da Exposição “O que se vê”...62

FIGURA 56 – Fotografia de professores e alunos do Atelier Central...62

FIGURA 57 – Capa da revista Maturínº L...63

FIGURA 58 – Fotografia de reunião do GRUPEHQ - Atelier Central...63

FIGURA 59 – Fotografia de reunião no Atelier Central...64

FIGURA 60 – Fotografia de João Antonio em sua colação de grau ...65

FIGURA 61 – Fotografia de painel de poesias na Exposição “Luzerna”...65

FIGURA 62 – Fotografia de obra escrita no concurso de poesia Navegos...65

FIGURA 63 – Fotografia de encenação do Cortejo Poético...66

FIGURA 64 – Fotografia de encenação do Cortejo Poético...66

FIGURA 65 – Fotografia de encenação do Cortejo Poético...67

FIGURA 66 – Fotografia de encenação do Cortejo Poético...67

FIGURA 67 – Fotografia do Casarão de Poesia - Currais Novos...68

FIGURA 68 – Fotografia da Finalização do painel do Espaço Avoante de Cultura...102

FIGURA 69 – Fotografia da construção do painel do Espaço Avoante de Cultura...102

FIGURA 70 – Fotografia panorâmica do Espaço Avoante De Cultura...102

FIGURA 71 – Propaganda das Lojas UNILAR - Currais Novos...102

FIGURA 72 – Quadro de doação de cadeiras...103

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FIGURA 74 – Cartaz de divulgação da inauguração do Espaço Avoante de Cultura...104

FIGURA 75 – Fotografia do palco do Espaço Avoante de Cultura...104

FIGURA 76 – Fotografia do Teatro Municipal de Currais Novos...105

FIGURA 77 – Fotografia do Arrastão da Gorete...105

FIGURA 78 – Bonecos Gigantes- Bloco Arrastão do Boi...106

FIGURA 79 – João Antonio confeccionando um Boneco Gigante...106

FIGURA 80 – HQ Estórias de Vaqueiros...107

FIGURA 81 – HQ Caos nas Tetas...107

FIGURA 82 – HQ KUEKA...108

FIGURA 83 – Cartaz da 1ªRevoada de Quadrinhos...108

FIGURA 84 – HQ Avoante...109

FIGURA 85 – HQ KAN KÃO ...109

FIGURA 86 – Charge Rosa Carnívora...110

FIGURA 87 – Charge Lelepípedo...110

FIGURA 88 – Cristo Pantocrator- Mosteiro de Dafne...123

FIGURA 89 – Cristo de Rafael Sanzio...123

FIGURA 90 – Cristo de Orozco...123

FIGURA 91 – Quadro Tríptico do Jardim das Delícias- H. Bosch...124

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FIGURA 93 – Fotografia de Natureza morta- João Antonio...125

FIGURA 94 – Fotografia de Natureza morta- João Antonio...125

FIGURA 95 – Quadro Noite estrelada de Vincent Van Gogh...126

FIGURA 96 – Quadro da Composição III- Kandinsky...126

FIGURA 97 – Fotografia de obra de João Antonio...127

FIGURA 98 – Quadro Horta de Ebro- Pablo Picasso...127

FIGURA 99 – Fotografia de obra de João Antonio...128

FIGURA 100 – Fotografia de obra de João Antonio...128

FIGURA 101 – Fotografia de obra de João Antonio...129

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...22

ALBUM I – “Primeiro olhar”...28

Escolha do tema...40

Trabalho de campo...44

ALBUM II – “Memórias”...48

CAPÌTULO I...69

1. Biografia do artista...69

1.1 Origem de Currais Novos...69

1.1.1 Localização, período da mineração e a cidade de Currais Novos hoje...72

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1.2 João Antonio, a infância e a adolescência: as primeiras experiências artísticas...75

1.3 A Universidade: onde os estilos se misturam...83

1.4 O retorno a Currais novos: trabalhos, projetos e mudança de curso...92

ALBUM III – “Projetos”...101

CAPÍTULO II...111

2. Os projetos...111

2.1 O Espaço Avoante de Cultura...112

2.2 O Carnaval e o Bloco Arrastão dos Bois...115

2.3 A experiência com Quadrinhos...118

ALBUM IV – “O Pictórico”...122

CAPÍTULO III...130

3. A Análise...130

3.1 Análise das 3 fases artísticas: Estilo, Temáticas e Técnicas...138

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19 3.1.2 Segunda fase...150 3.1.3 Terceira fase...158 CONSIDERAÇÕES FINAIS...167 REFERÊNCIAS...170 APÊNDICES...175

APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO I...175

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO II...177

APÊNDICE C - EXPOSIÇÃO “LUZERNA” E CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO...178

APÊNDICE D - FOTOGRAFIA DA CASA DE CULTURA POPULAR DE CURRAIS NOVOS...194

APÊNDICE E - FOTOGRAFIA DO LIVRO DE JOSÉ BEZERRA GOMES...194

APÊNDICE F - FOTOGRAFIA DO LIVRO MESTRES DA PINTURA DA EDITORA ABRIL...195

APÊNDICE G - FOTOGRAFIAS DA VISITA AO ATELIER DO ARTISTA DIAS 25 E 26/ 09/2017...195

APÊNDICE H - FOTOGRAFIAS DA VISITA AO ATELIER DO ARTISTA DIA 31/10/2017...199

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APENDICE J - AÇÃO PEDAGÓGICA...205

APÊNDICE K - FOTOGRAFIAS DA APRESENTAÇÃO DE PÔSTER NA CIENTEC 2017...211

APÊNDICE L - ENSAIO HISTÓRICO...212

ANEXOS...219

ANEXO A - FOLDERS DE EXPOSIÇÕES DE ARTES DA ETFRN...219

ANEXO B - MURAIS PINTADOS PELO ARTISTA NO DEART...220

ANEXO C - FOLDERS E NOTÍCIAS EM JORNAIS SOBRE EXPOSIÇÕES O ARTISTTA...221

ANEXO D - FOLDER E TEXTO CRITICO SOBRE A EXPOSIÇÃO “QUADRANTES”...227

ANEXO E - TEXTO CRÍTICO DO PROF. VICENTE VITORIANO SOBRE A EXPOSIÇÃO “O QUE SE VÊ”...228

ANEXO F - CERTIFICADOS DOSS CURSOS DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - UFRN...229

ANEXO G - CERTIFICADO DOS CURSOS DE LETRAS - UFRN, CAMPUS DE CURRAIS NOVOS...232

ANEXO H - CARTAZ DO ESPETÁCULO TEATRAL “QUEM BELISCOU PAULINHO”...236

ANEXO I - PROJETOS FINANCIADOS PELO BNDS E BNDB NO ESPAÇO AVOANTE DE CULTURA...237

ANEXO J - ESPETÁCULOS E EVENTOS ...240

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ANEXO L - DIVULGAÇÃO E VENDA DAS REVISTAS EM QUADRINHOS...249 ANEXO M - FOTOGRAFIAS DE JOÃO ANTONIO...250

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma

biografia do artista seridoense João Antonio de Medeiros Neto, levando ao conhecimento do público os trabalhos e os projetos artísticos em que este se encontra engajado atualmente. Com base na observação do estilo, técnicas e temáticas de suas obras, e utilizando o roteiro de Antônio Costela (2002), o trabalho inclui uma análise das fases artísticas desenvolvidas pelo artista em sua trajetória, que vai desde a década de 80 aos dias atuais.

Podemos definir uma biografia como uma narração escrita ou visual das etapas da vida de uma pessoa, de um personagem ou mesmo de uma comunidade. Quando escrevemos sobre alguém, mergulhamos em sua história e entramos num tempo muitas vezes que não é o nosso. Juntamos peças como que em um quebra-cabeça, e tentamos organizar os fatos no tempo, pesquisando e recolhendo o maior número possível de informações ligadas ao indivíduo e à época em que viveu, a fim de que a sua história seja contada e compreendida de forma plena. Trata-se de um trabalho que depende de pesquisa, em que

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penetramos em diversas áreas científicas como a história, entre outras ciências sociais.

O indivíduo é um ser diverso que, inserido em uma sociedade, é o fruto das teias de relações que mantém com o meio e os valores apreendidos em sua existência. Isto implica que, para Bastos (sd.,sp.), “o indivíduo deve ser entendido como fragmento representativo da multiplicidade social”.

Deste modo, uma biografia está repleta de história de um tempo, de fatos e influências que fazem parte da construção do indivíduo biografado, sendo estes inseparáveis. Mas nem sempre a biografia foi encarada e estruturada desta forma. Para que se entenda a estrutura da “Nova História”1

em que se baseia este trabalho, vejamos resumidamente como a biografia foi abordada dentro da história no passado, até hoje.

A respeito de biografias de artistas, Sousa (2017, sp.) afirma que

1

Corrente historiográfica surgida na França na Escola dos Analles que foi organizada na década de 70 pelos historiadores Jacques Le Goff e Pierre Nora , seus principais expoentes.

a biografia deve remeter ao entorno do biografado: a sociedade em que ele está inserido, o seu contexto social e econômico, suas influências, suas relações com o contexto em que vive e as relações entre arte e vida. Para que a narração biográfica se torne uma fonte histórica pelo fato de ser um produto de uma época, que enfoca o passado e o presente no contexto atual.

Também a esse respeito Le Goff (2012, p.26) comenta que

o indivíduo não existe a não ser numa rede de relações sociais diversificadas, e essa diversidade lhe permite também desenvolver seu jogo. O conhecimento da sociedade é necessário para ver nela e se constituir e nela viver uma personagem individual.

Os autores acima citados falam dessas relações do indivíduo com o meio e da importância desses registros em uma biografia que se estrutura tomando como base a Nova História.

Para começar, vamos nos situar entre os séculos XII e XIII, quando encontraremos os primeiros escritos biográficos voltados para a vida de artistas. Este período foi de transformações sobre a ideia do que vinha a ser arte e a

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figura do artista começava a se solidificar. Como afirma Bazin (1989), os livros biográficos nesse período, mais pareciam livros de receitas mostrando materiais, técnicas e produções. São dois os escritos sobre a arte mais conhecidos da Idade Média. O primeiro deles remonta ao século XII e o outro ao fim do século XIII. Respectivamente, as obras são: “De diversis Artibus”, escrito por um monge chamado Teófilo, e o “Livro dell’art”, escrito pelo pintor Cennino Cennini. Sobre o primeiro escrito, Bazin (1989, p. 8, apud SOUSA, 2017, sp.) afirma que

é um manual onde se expõem todas as técnicas artísticas; é precedido de um prólogo que confere ao gesto artístico um caráter sagrado, tendo o autor da obra a executar recebido uma missão espiritual muito nobre que consiste em ornar a casa de Deus com as aparências dessa beleza que dele emana. Estamos sempre, portanto, num mundo ideal, intemporal.

A segunda obra tem um caráter mais retrospectivo. Nela, Cennini se baseia nos escritos do seu professor Agnolo Gaddi, que conviveu com Giotto durante vinte quatro anos em seu atelier. A obra de Cennini é baseada nesses escritos e

fala sobre materiais, técnicas e procedimentos. Sobre este escrito, Sousa (2017, sp.) afirma que

com este tipo de escrita pode-se falar que ele criou uma maneira própria de escrever de si e do outro, porque quando se faz uma biografia muitas vezes o biógrafo fala dele mesmo e também do seu tempo no trajeto do outro, do biografado.

Segundo Sousa (2017, sp.) a partir do século XV, tivemos uma mudança de foco do artista para a arte. O artista se tornou independente e sua produção artística e a hierarquização da arte passaram a ser discutidas, havendo uma diminuição dos escritos biográficos sobre artistas a partir deste período.

Gomes (2007, p. 33) afirma que “as vidas de artistas, como gênero literário, foram fundamentais para a formação da imagem moderna que se tem do artista e de suas práticas”. As primeiras manifestações surgiram na Itália no século XVI, se espalhando depois pelo Ocidente europeu.

Não se pode falar nas obras que abordavam a vida dos artistas no século XVI, sem citar o pintor, arquiteto e escritor Giorgio Vasari. Sobre ele Gomes (2007, p.34) comenta:

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25 o processo pelo qual as artes do desenho ganharam o estatuto de Artes Liberais é bem conhecido no que diz respeito à Itália, e foi parcialmente decidido na Florença de meados do século XIX pelo duplo esforço de Vasari, que deu à sua cidade e à arte italiana duas contribuições inestimáveis: a publicação de Le vite de più eccellenti pittori, scultori et archittetori (1550/1567) e a fundação da Accademia del Disegno, em 1563.

Em seu livro, Vasari reuniu a vida dos principais artistas do renascimento além de um tratado de técnicas. Ele é considerado o primeiro biógrafo de artistas e graças a ele temos acesso hoje a informações valiosas e particulares de grandes artistas como Donatello, Michelângelo, Leonardo Da Vinci e Botticelli. Miranda (2013, sp.) comenta sobre Vasari:

sem querer glória para si — o próprio, apesar de pintor, não se colocou em “Vidas dos artistas" — é lembrado até hoje como o pai da história da arte e como precursor de gerações de biógrafos que se seguiram pelos séculos. Mais de 460 anos após seu livro ser lançado, é inimaginável para todos aqueles que estudam a arte renascentista não ter os relatos de Vasari.

Segundo Costa (2017), o método de escrever a história mudou com o tempo e, no século XIX, tivemos o florescer do

pensamento positivista, uma escola metódica, que passou a ver a história como ciência e que teve como fundador o filósofo francês Auguste Comte. Comte defendia que as ciências da natureza tinham uma metodologia própria que conferia a elas exatidão e que, por isso, as ciências humanas ou sociais também deveriam ter uma metodologia que lhes conferisse o mesmo rigor. O método exigia neutralidade por parte do historiador que não podia usar seu senso crítico, bastando-lhe apenas escrever os fatos com base em documentos oficiais ligados ao estado. Nesse período, as biografias apareciam de modo muito esparso; não havia mais uma preocupação com fontes importantes como os livros de artista, correspondências, documentos pessoais, enfim, tudo que servia como base para a escrita de uma história biográfica, visto que não eram considerados documentos oficiais e não atendiam às exigências das fontes historiográficas no Positivismo. Sousa (2017, sp.) comenta a este respeito que, apesar do pensamento positivista ter resgatado a importância das biografias para a história, muitos historiadores tinham aversão às ideias positivistas que eram

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26

centradas no culto aos heróis, acontecimentos históricos grandiosos e batalhas marcantes. Esse pensamento contaminou a escrita da história no final do século XIX e início do século XX.

Como podemos ver, a biografia tem um período de baixa entre os séculos XV e XX. Mas, em meados da década de 80 do século XX, há uma redefinição do gênero historiográfico. Segundo Sousa (2017, sp.),

a reutilização das biografias como fonte histórica decorreu das relações advindas entre História e o desenvolvimento das ciências sociais e naturais do século XX, juntamente com a introdução de novas abordagens teóricas-metodológicas.

A partir da década de 80, com base nos conceitos da Nova História que legitimam os estudos históricos sobre indivíduos, grupos e comunidades, temos a mudança de foco da macro-história para a micro-história. Esta abordagem historiográfica surgiu na Escola dos Annales na França, fundada em 1929 por Marc Bloch e Lucien Febvre que a princípio lançavam periódicos e acabariam por iniciar o

movimento da Nova História. Esse novo modo de se escrever a história vê o indivíduo comum como parte do fazer histórico. Além da história econômica, social, política, também eram importantes outros pontos de vista como o estudo das mentalidades e a associação da história com outras disciplinas. Essa mudança do político para o social levava a uma história tida como problematizadora do social, o que permitiu o envolvimento de outras áreas como geografia, antropologia, filosofia, psicologia, etc..., permitindo uma interdisciplinaridade entre as áreas e expandindo os campos de domínio da história. Essa nova visão mais abrangente permitiu sair da história tradicional voltada para os grandes vultos como políticos, reis, príncipes, ditadores, dentre outras figuras, para o registro histórico das massas, preocupando-se com o indivíduo comum, seu modo de agir, viver, pensar, levando em consideração o meio em que se está inserido. Com essa proposta metodológica, os historiadores se voltaram para o estudo de pequenos períodos da história.

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27 os avanços da história da biografia são observados pelas mudanças comprovadas nos últimos anos, entre os historiadores, com o surgimento de novas formas de olhar o social como a micro-história italiana, a história do cotidiano, a nova história cultural norte americana, por exemplo. Tais formas foram intensificadas a partir dos anos 1980, sobretudo com sua realização focalizada na dimensão dos indivíduos.

Com base nestes parâmetros da Nova História, este trabalho apresenta aspectos da vida e da obra do artista João Antonio de Medeiros Neto, contribuindo para a história da arte em nosso estado como uma fonte de pesquisa e parte do acervo bibliográfico nesta área.

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28

ALBUM I

“Primeiro olhar”

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29 Fig. 1 - Dia 03/02/2017, fotografia de João Antonio de Medeiros Neto no dia da minha primeira visita a Casa de Cultura de Currais Novos (Foto: Kelline Lima).

Fig. 2 - Dia 03/02/17, fotografia do trabalho de Francisco Walter (Currais Novos), aluno do artista João Antonio Medeiros, exposto na Casa de Cultura de Cultura Popular de Currais Novos (Foto: Kelline Lima).

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30 Fig. 3 - Dia 03/02/17, fotografia do trabalho de Francinaldo Moura (Currais Novos), aluno do artista João Antonio de Medeiros exposto na Casa de Cultura Popular de Currais Novos (Foto: Kelline Lima).

Fig. 4 - Dia 03/02/17, fotografia do trabalho de Isaías (Acarí), aluno do artista João Antonio de Medeiros, exposto na Casa de Cultura Popular de Currais Novos (Foto: Kelline Lima).

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31 Fig. 5 - Fotografia de escultura- obra de João Antonio de Medeiros. Data: 03/02/2017 (Foto: Kelline Lima).

Fig. 6 e 7 - Fotografias, detalhe da sala da oficina de desenho, e modelagem Casa de Cultura Popular de Currais Novos. Data: 03/02/2017 (Foto: Kelline Lima).

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32 Fig. 8 - Eu e os bonecos gigantes, figuras do carnaval de

Currais Novos. Casa de Cultura Popular de Currais Novos. Data: 03/02/2017 (Foto: Júlio Lima).

Fig. 10 - Entrada da galeria do atelier de João Antonio de Medeiros em sua residência. Data: 04/02/2017 (1ª visita ao atelier- Foto: Kelline Lima).

Fig. 9 - João Antonio de Medeiros em seu atelier. Data: 04/02/2017. (1ª visita ao atelier- Foto: Kelline Lima)

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33 Fig. 11 - Detalhe da galeria do atelier de João Antonio de Medeiros em sua residência. Data: 04/02/2017 (1ª visita ao atelier - Foto: Kelline Lima).

Fig. 12 - Detalhe da galeria do atelier de João Antonio de Medeiros em sua residência. Data: 04/02/2017 (1ª visita ao atelier - Foto: Kelline Lima).

Fig. 13 - Biblioteca no atelier do artista. Data: 04/02/2017 (1ª visita ao atelier - Kelline Lima).

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34 Fig. 14 e 14 A - Portais da Galeria que dão acesso ao atelier.

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35 Fig. 15 - Escultura em barro “Madona” exposta na galeria

do artista. Data: 04/02/2017 (1ª visita ao atelier- Foto: Kelline Lima).

Fig. 16 - Escultura em barro “Madona” exposta na galeria do artista. Data: 04/02/2017 (1ª visita ao atelier - Foto: Kelline Lima).

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36 Fig. 17 - Obra exposta na galeria do artista. Data: 04/02/2017,

1ª visita ao atelier (Foto: Kelline Lima).

Fig. 18 e 19 - Fachada lateral do Espaço Avoante de Cultura. Data: 05/02/2017 (Foto: Kelline Lima).

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37 Fig. 21 - Fotografia da parte interna do pátio do Espaço Avoante

de Cultura. Forno utilizado nas oficinas de cerâmica. Data: 05/02/2017 (Foto: Kelline Lima).

Fig. 22 - Fotografia da parte interna do pátio do Espaço Avoante de Cultura. Forno utilizado nas oficinas de cerâmica. Data: 05/02/2017 (Foto: Kelline Lima).

Fig. 20 - Fotografia das fachadas frontal e lateral do Espaço Avoante de Cultura. Data: 05/02/2017 (Foto: Kelline Lima).

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38 Fig. 23 - Fotografia da primeira pintura em tela de

João Antonio. Data: 22/05/17 (Foto: Walter Lima).

Fig. 24 - Banner da Exposição “Luzerna” no dia da abertura (21/07/2017) na Casa de Cultura Popular da cidade de Currais Novos (Fonte: Acervo do artista).

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39 Fig. 25 e 26 - Fotografia do Boneco gigante de Lula na Carreata Lula pelo Brasil (27/08/2017) na cidade de Currais Novos. (Fonte: https://blogdorobsonsantos28.blogspot.com.br/2017/).

Fig. 27 - Fotografia da entrega da tela feita por João Antonio à Lula na Carreata Lula pelo Brasil (27/08/2017) na cidade de Currais Novos.

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40 ESCOLHA DO TEMA

Durante as aulas de História da Arte no Brasil, disciplina ofertada pelo Departamento de Artes (DEART), no primeiro semestre de 2014 para o Curso de Licenciatura em Artes Visuais (CLAV) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ministradas pelo professor Dr. Vicente Vitoriano, me senti impulsionada a fazer uma pesquisa que abarcasse um assunto, pessoa ou elemento que fizesse parte da arte na região norte-rio-grandense do Seridó, em particular da cidade de Currais Novos, terra dos meus saudosos pais.

A história sempre foi, para mim, uma disciplina fascinante, cheia de descobertas do passado, de pessoas, de fatos que, por meio dela, se tornaram visíveis. Deste modo, a ideia de unir história e arte em um trabalho em minha graduação me fez pensar na construção de uma pesquisa nessa área. Falar do que é nosso, da arte da nossa terra e propiciar a propagação desse conhecimento a mais pessoas, foi o meu maior intuito na hora de escolher o tema deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A princípio, pensei em fazer a minha pesquisa voltada para a fotografia na cidade

de Currais Novos, partindo da qual eu iria contar a história da cidade, em um determinado período, com base no acervo fotográfico de Jomar Juvito, um fotógrafo da cidade, mas devido à sua frágil saúde e vários desencontros durante a fase de pesquisa, resolvi guardar este projeto para um futuro próximo. O interessante foi que, na mesma viagem em que desisti do meu primeiro projeto (fevereiro de 2017), me apaixonei pelo trabalho do artista João Antonio de Medeiros Neto, na ocasião em que conheci parte de seu trabalho e de sua história de vida, em um encontro casual na Casa de Cultura da cidade de Currais Novos.

Delineado o objeto de estudo, este trabalho corresponde a uma pesquisa sobre arte e se inscreve nos estudos da História da Arte do Rio Grande do Norte. Como toda história, esse registro também não está isento de conter observações críticas.

A pesquisa tem caráter exploratório e se baseia em entrevistas estruturadas e conversas formais e informais. Com isto, organizei uma biografia do artista a partir da perspectiva da “Nova História”. A pesquisa ainda se

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caracteriza como qualitativa, pois, foi feita uma análise dos dados obtidos, buscando construir um quadro geral, contendo informações sobre sua vida e obra do artista focalizado. A pesquisa também é descritiva, pois foram feitos o estudo, a análise, o registro e a interpretação dos dados. Por fim, a pesquisa é crítica, já que faz reflexão sobre os dados, principalmente na análise das obras de arte, onde deixo expressa a minha opinião sobre diversos pontos.

Ainda quanto à sua tipologia, esta é uma pesquisa documental, pois utiliza como fontes documentos pessoais, registros gráficos, fotografias, matérias em jornais e revistas. As técnicas de coleta utilizadas foram o registro fotográfico, a pesquisa bibliográfica e as entrevistas estruturadas e gravadas com oartista João Antonio de Medeiros Neto.

O trabalho de análise das fases artísticas, assim como das obras do artista nos distintos períodos, foi feito com base em Costela (2002), Dondis (2007) e Osório (2005). Sobre História da Arte, utilizei Argan (2010) e Gombrich (2008). Estesautores foram abordados nas disciplinas Crítica da Arte, História da Arte, História da Arte no Brasil, Estética Filosófica,

Expressão Visual I e II, Produção Tridimensional, Estágio III, Desenho e Pintura, todas do DEART. Essas disciplinas fazem parte do currículo do CLAV e pautam meus conhecimentos na área de artes. Dentre os autores que embasaram esta pesquisa no âmbito da biografia utilizei Bastos (sd.,sp.), Costa (2017), Gomes (2007), Le Goff (2002), Miranda (2013), Oliveira (2011) e Sousa (2017).

De acordo com as minhas observações, quanto às obras do artista, defini as fases artísticas de João Antonio de Medeiros em três. A sua primeira fase tem notável influência do artista Hyeronimus Bosch (1450-1516) do Surrealismo e

Expressionismo. A segunda fase é marcada por

características do Cubismo com a desconstrução das imagens, e, na sua terceira fase, podemos perceber a ênfase das linhas em suas composições. O artista atribui esse gosto pela ênfase das linhas em seu trabalho ao artista abstrato Wassilly Kandinsky (1866-1944).

Dentro do acervo do artista escolhi 03 obras de cada fase de seu trabalho e fiz a análise distinta das obras, traçando um perfil das mudanças ocorridas no trabalho do

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autor quanto às técnicas, temáticas e estilo. O roteiro de Antônio Costela foi por mim escolhido para a análise das obras por este ser bem didático e de linguagem simplificada na apresentação de seus pontos de vista, não exigindo do leitor grandes conhecimentos na área de artes, podendo ser bem utilizado no exercício de leituras de imagem nas escolas de ensino fundamental e médio.

Quanto ao número de obras escolhidas para a análise das fases, acredito que 03 seja um número capaz de refletir bem as características de cada fase, deixando claro para o meu leitor a evolução do trabalho do artista e as mudanças ocorridas em seu trajeto artístico.

Durante a pesquisa, foram feitas 04 visitas à Casa de Cultura de Currais Novos, 07 visitas ao atelier de João Antônio Medeiros e 01 visita ao sítio Riacho dos Bois. Foi organizada uma lista com 42 questões para orientar a entrevista (APÊNDICE A). A gravação da entrevista,feita com um celular, totalizou 02 horas e 47 minutos, divididas em 06 seções. Após a transcrição, como meio de complementação de alguns quesitos que ficaram incompletos, foi gerada uma

segunda lista, contendo 09 questões (APÊNDICE B). Foram feitas 632 fotografias, utilizando celular e câmera fotográfica digital, e foram compiladas 371 imagens no acervo do artista e no blog http://culturaavoante.blogspot.com.br/. Utilizando um scanner de mão, digitalizei uma série de documentos disponibilizados pelo artista: fotografias, certificados obtidos no decorrer de sua trajetória artística, recortes de jornais, panfletos de espetáculos que tiveram sua participação e programas de exposições de que ele participou. As imagens escanceadas aparecem no corpo deste trabalho e nos anexos, para ilustrar a biografia.

Este TCC está composto por esta Introdução, três capítulos e uma sessão de considerações finais. Na Introdução se encontram expostos os objetivos, a justificativa da pesquisa e um diário de bordo que se refere ao período da pesquisa de campo, além de situar o leitor sobre os parâmetros escolhidos para a escrita da biografia. No Capítulo I, temos a biografia do artista na qual eu falo sobre a sua vida e trajetória artística. O Capítulo II é dedicado aos projetos que ele empreende atualmente em sua cidade. No

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Capítulo III se encontra o estudo das fases artísticas do artista com base nas minhas observações e conhecimentos em arte adquiridos durante o CLAV e um estudo de 3 obras de cada fase do artista, com base no roteiro de Antônio Costella (2002). Por último, temos a conclusão do trabalho, onde apresento minhas considerações finais. As fotografias estão divididas em 4 álbuns e antecedem os capítulos deste trabalho.

Nos Apêndices deste trabalho se encontram um texto sobre “Luzerna”, a última exposição do artista, que é acompanhado de um pequeno catálogo (APÊNDICE C), o relatório da minha ação pedagógica (APÊNDICE J), o registro fotográfico da minha apresentação de pôster na XXIII CIENTEC no dia 25/10/2017, onde exibi dados sobre essa pesquisa (APÊNDICE K) e o ensaio histórico “Outros olhos, outras impressões” escrito para a disciplina de História da Arte no RN no qual anoto informações e impressões de outras pessoas do convívio do artista sobre sua vida e seu trabalho, além de minhas próprias impressões e mais informações

obtidas com o artista no período de pesquisa do TCC (APÊNDICE L).

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44 TRABALHO DE CAMPO

No dia 03 de fevereiro de 2017, estava frustrada e chateada, pois viajei para Currais Novos em mais uma tentativa de manter contato com o Sr. Jomar Juvito, o fotógrafo escolhido para dar corpo ao meu projeto. Para tentar esquecer meu desapontamento quanto ao meu antigo objeto de estudo, com uma máquina fotográfica em mãos, resolvi dar um passeio pelas ruas da cidade de Currais Novos, na intenção de fotografar a casa onde meu pai nascera. Próximo à antiga residência do meu pai, hoje funciona a Casa de Cultura de Currais Novos (APÊNDICE D), instituição cultural ligada à Fundação José Augusto, órgão estadual de que sou funcionária desde o ano de 1991. Senti vontade de visitar o espaço. Sempre que vou à uma cidade e vejo uma casa de cultura ou museu, gosto de visitar e me inteirar sobre as mostras que aquele local propicia, principalmente hoje quando sou uma estudante de artes visuais.

Assim que entrei no espaço, me deparei com inúmeras obras expostas, pinturas e esculturas. A curiosidade me levou a perguntar de quem eram os trabalhos em exposição, pois o

meu primeiro impulso foi saber se os artistas eram seridoenses. Para a minha surpresa o autor da maioria das obras se encontrava no local, era seridoense e estava disposto a me falar sobre o seu trabalho. Nessa tarde, tive o prazer de conhecer João Antônio de Medeiros Neto (Fig. 1), ocasião em que, além de seus trabalhos, vi as obras de alguns de seus alunos que se encontravam também expostas no local (Fig. 2, 3, 4 e 5).

Pintor, escultor, educador, João Antônio era tudo que eu precisava encontrar. A conversa entre nós fluiu naturalmente. Ele me mostrou as dependências da Casa de Cultura, dentre elas as salas de oficina de desenho (Fig. 6) e modelagem (Fig. 7), seus enormes bonecos de Carnaval (Fig. 8) e me falou sobre o Espaço Avoante de Cultura que engloba um teatro, construído com recursos próprios. Em pouco tempo eu já estava interessada em sua história e me dei conta de que tinha à minha frente um artista da terra que escolhi, com uma biografia maravilhosa a ser escrita.

Naquela tarde fui para casa com um convite feito pelo artista para visitar o seu atelier no dia seguinte e já sai

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rabiscando questões que surgiram durante a nossa conversa. Após entrar em contato com meu orientador, Professor Dr. Vicente Vitoriano, e conversar a respeito do artista, resolvi iniciar uma nova pesquisa. A história desse homem deveria ser escrita e constar nas páginas de nossa história da arte.

No dia seguinte (04/02/2017), fiz uma visita ao atelier do artista. Neste encontro conversamos informalmente, pois ainda não existia um questionário a ser aplicado. O artista me mostrou sua galeria, atelier e vários estudos para pinturas de sua nova exposição que ainda não tinha um nome no momento, exposição essa que já foi realizada em Julho de 2017, e que vou me ater a falar mais adiante na Biografia e no APÊNDICE C desse trabalho. Com base nesse encontro, as questões surgiram. Neste dia fotografei o espaço do seu atelier, (Fig. 10 a 15), João Antônio (Fig. 9), algumas de suas obras (Fig. 16 e 17) e anotei possíveis questões para o futuro questionário.

No dia 05/02/2017, com base em minhas observações, me dediquei a formular as questões do questionário e, no dia

06/02/2017, fiz uma segunda visita ao atelier, com o intuito de fazer a entrevista com João Antônio Medeiros.

Durante a entrevista tomei conhecimento de vários outros projetos em que o artista atualmente encontra-se envolvido dentro da cidade. Fora seu trabalho como pintor e escultor, o Espaço Avoante de Cultura e o carnaval da cidade, havia sua dedicação às histórias em quadrinhos com várias revistas publicadas, com histórias de sua autoria e com a participação de seus alunos. Ele também me falou sobre sua atuação no teatro, nas letras e sua docência na área de artes na cidade de Currais Novos. Com certeza a vida deste homem está atrelada à arte e o seu discurso e os seus caminhos o levam a esse fim. Saí de lá muito satisfeita com a minha pesquisa e tirei a tarde deste dia para conhecer e fotografar o Espaço Avoante de Cultura (Fig. 18 a 22).

No dia 22/05/17, retornei à cidade de Currais Novos e fotografei todas as telas expostas no atelier do artista, inclusive o seu primeiro trabalho em pintura (Fig.23). Também apliquei o último questionário que contém 09 questões (APÊNDICE B) complementares ao primeiro aplicado no dia

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06/02/17 (APÊNDICE A). Por último, conversamos

informalmente sobre o blog do Espaço Avoante de Cultura ( http://culturaavoante.blogspot.com.br/ ) de onde retirei grande parte das fotos e informações para a construção desse trabalho, no que diz respeito aos projetos que o artista desenvolve neste Espaço. Este blog foi uma excelente fonte de imagens, além de conter registros dos projetos de que João Antonio participa.

No mês de julho eu retornei a Currais Novos durante a Festa de Santana. João Antonio de Medeiros Neto, em meio às festividades, brindou a cidade com a exposição “LUZERNA” (APÊNDICE C) que teve sua abertura no dia 21/07/2017, na Casa de Cultura Popular de Currais Novos (Fig.24). Nesta ocasião, eu tive a oportunidade de registrar o acontecimento por meio de fotografias.

No dia 22/07/2017, compareci à exposição no período da tarde com o intuito de anotar a ficha técnica das obras e, no dia 25/07/2017, visitei o atelier para medir, fotografar e fazer algumas anotações sobre as obras por mim escolhidas para a análise das fases do artista.

No dia 27/08/2017, voltei à Currais Novos para acompanhar a caravana do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva no Nordeste, quando João Antonio lhe prestou homenagem, produzindo um boneco gigante (Fig. 25 e 26) e lhe presenteando com uma obra de pintura, de sua autoria (Fig. 27). Na ocasião, fiz algumas fotografias do evento.

Voltei à cidade no mês de setembro, mais especificamente nos dias 25 e 26, com a escrita da biografia já iniciada, no intuito de fazer alguns ajustes quanto a fatos e datas que precisavam de esclarecimentos. Aproveitei para fazer mais algumas fotografias (APÊNDICE D), escancear mais documentos e conversar sobre as obras escolhidas para a análise das fases do artista.

Minha última visita ao artista se deu no dia 31/10/2017, data esta em que fui ao Atelier do artista e pude conhecer a primeira de uma série de esculturas (ANEXO H) que João Antonio está iniciando para o Espaço Avoante de Cultura. Nessa ocasião também conheci o Sítio Riacho dos Bois. No sítio, conversamos a respeito das oficinas de pinturas feitas nesse local e dos encontros com outros artistas que eram

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promovidos por João Antonio, na década de 90. Aproveitei a oportunidade para fotografar o local (APÊNDICE I).

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ALBUM II

Memórias”

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49 Fig. 28 - Fotografia da Igreja Matriz de Sant’Ana em Currais Novos (Fonte: http://franciscoguiacm.blogspot.com.br/2012/05/currais-novos-rn.html ).

Fig. 29 - Mapa do estado do Rio Grande do Norte destacando a cidade de Currais novos e a capital Natal (Fonte: http://historiadascidadesdoserido.openbrasil.org/2013/08/currais-novos-rn.html?m=0).

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50 Fig. 30 - Fotografia do Desembargador Tomaz

Salustino

(Fonte: https://papjerimum.blogspot.com.br/2014/05/o-parque-tematico-mina-brejui-em.html).

Fig. 31 - Fotografia da entrada da Mina Brejuí (Foto: Getson Luis).

Fig. 32 - Fotografia do Memorial Tomaz Salustino (Foto: Jorge Luiz).

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51 Fig. 33 - Fotografia do casamento dos pais de

João Antonio, a Sra. Maria de Lourdes Medeiros e o Sr. Severino Mário de Medeiros (Fonte: acervo do artista).

Fig. 34 - Fotografia de João Antonio de Medeiros Neto (à esquerda) ao lado do seu irmão Mário Sérgio de Medeiros (Fonte: acervo do artista).

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52 Fig. 35 - Fotografia da Escola Instituto Vivaldo Pereira (Foto: Hélio Paulino).

Fig. 36 - Fotografia do Atelier de desenho e pintura no IVP (Fonte: http://culturaavoante.blogspot.com.br/).

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Fig. 37 - Fotografia da turma da antiga escola de aplicação do IVP – 3ºano. João Antonio está na última fila, no chão a direita da professora Francisca Batista (Fonte: acervo do artista).

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Fig. 40 - Atelier de Artes da ETFRN no ano de sua fundação em 1979 (Fonte: http://centenario.ifrn.edu.br/cronologia).

Fig. 39 - Carteira do exame de seleção ETFRN (Fonte: acervo do artista).

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Fig. 43 - Fotografia da aula de composição fotográfica no Laboratório do Curso de Jornalismo. Marcelino, João Antonio, Nilza Carvalho, Diana Porpino, Ana Lúcia e Iara (Fonte: Nilza Carvalho).

Fig. 42 - Fotografia do desempenho teatral com o grupo de performance Pei puf , no Teatro Sandoval Wanderley – João Antonio, Ana Maria, Pedro Queiroga, Fábio Espírito Santo e Lenilton Teixeira (Fonte: acervo do artista).

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58 Fig. 44 - Grupo da Exposição Quadrantes - João Antonio,

Vicente Vitoriano, João Natal e Marcelino (Fonte: Acervo do prof. Vicente Vitoriano).

Fig. 45 - Fotografia de João Antônio em sua primeira exposição individual: “O que se vê” - Abril de 1988 (Fonte: Acervo do artista).

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59 Fig.46 - Fotografia da Exposição “O que se vê” - Lenilton Teixeira, Vicente Vitoriano e Francisco (Chico) Alves (Fonte: Acervo do artista).

Fig. 47 - Fotografia da Exposição “O que se vê” - Vicente Vitoriano, Chico Alves, Geruza Câmara (Fonte: Acervo do artista).

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Fig. 50 - Fotografia da Exposição “O que se vê”, o mímico Antônio Rocha atuando na exposição (Fonte: Acervo do artista).

Fig. 48 - Fotografia da Exposição “O que se vê” - O ator Pedro Queiroga em performance durante a exposição (Fonte: Acervo do artista).

Fig.49 - Fotografia da Exposição “O que se vê”, o mímico Antônio Rocha atuando na exposição (Fonte: Acervo do artista).

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61 Fig. 51 - Fotografia da Exposição “O que se vê”, o mímico

Antônio Rocha atuando na exposição (Fonte: Acervo do artista).

Fig. 52 e 53 - Fotografias da Exposição “O que se vê”, Biblioteca Câmara Cascudo - Abril de 1988 (Fonte: Acervo do artista).

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62 Fig.54 - Fotografia da Exposição “O que se vê”, imagem

da tela que ilustrou o cartaz da exposição - Abril de 1988 (Fonte: Acervo do artista).

Fig. 55 - Fotografia da Exposição “O que se vê”, cartaz da exposição - Abril de 1988 (Fonte: Acervo do artista).

Fig. 56 - Fotografia de professores e alunos do Atelier Central (Fonte: Acervo do GRUPEHQ).

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Fig. 58 - Fotografia da reunião do GRUPEHQ, na entrada do Atelier Central - 1985 (Fonte: Acervo do GRUPEHQ).

Fig. 57 - Capa da Revista Maturí nºL – Publicada em 1983 (Fonte: Acervo do GRUPEHQ).

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Fig. 59 - Fotografia de reunião de alunos e professores do Atelier Central e desenhistas de quadrinhos com Piet Du Lombardi, representante da Agência de Quadrinhos Belga-1988 (João Antonio se encontra na última fila de cadeiras).

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65 Fig. 60 - Fotografia de João Antonio e sua colega de

curso Margô na colação de grau de sua licenciatura curta no dia 30 de dezembro de 1986 (Fonte: acervo do artista).

Fig. 61 - Fotografia do painel da Exposição “Luzerna” composto por poesias feitas pelos visitantes da exposição (Foto: Kelline Lima).

Fig. 62 - Fotografia de obra inscrita no concurso Navegos de Poesia na cidade de Currais Novos (Foto: Kelline Lima).

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66 Fig. 63 - Fotografias da encenação do Cortejo

Poético - Currais Novos/RN, agosto de 2001 (Fonte: http://culturaavoante.blogspot.com.br/).

Fig. 64 - Fotografias da encenação do Cortejo Poético - Currais Novos/RN, agosto de 2001 (Fonte: http://culturaavoante.blogspot.com.br/).

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Fig. 66 - Fotografia da encenação do Cortejo Poético- Currais Novos/RN, agosto de 2001 (Fonte: http://culturaavoante.blogspot.com.br/).

Fig. 65 - Fotografias da encenação do Cortejo Poético- Currais Novos/RN, agosto de 2001 (Fonte:

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Fig. 67 - Fotografia do Casarão da Poesia- Currais Novos/RN (Fonte: http://casaraodepoesia.blogspot.com.br/2017/).

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CAPÍTULO I

1. BIOGRAFIA DO ARTISTA

1.1 ORIGEM DE CURRAIS NOVOS-REGIÃO DO SERIDÓ

Antes de iniciar a biografia de João Antonio de Medeiros Neto, quero situar o leitor quanto à localização e a uma breve história da região do Seridó, mas especificamente da cidade de Currais Novos, berço do artista.

A cidade de Currais Novos surgiu no ciclo do gado, no ano de 1755, quando o Coronel Cipriano Lopes Galvão, vindo de Iguassú (PE), se instalou na Fazenda Totoró2 com sua esposa D. Adriana e seu comércio de gado. Após enfrentar grandes dificuldades com o rebanho por causa da falta de água, esse fez uma promessa à Sant’Ana, prometendo que, se fosse atendido, ergueria uma capela em sua homenagem como agradecimento à causa concedida. O coronel faleceu em 1764, mas seu filho, o Capitão-mor Galvão, honrou a promessa do pai e em 1808 construiu uma capela,

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“entronizando o vulto barroco da padroeira no dia 26 de julho, com definição do patrimônio”, como cita Souza (2008, p. 21).

Como, em geral, a igreja era um marco para o surgimento das formações urbanas, não foi diferente aqui. Após a construção da igreja (Fig. 28), se iniciou o povoamento ao seu redor. Como afirma Souza (2008), “a povoação foi crescente em torno da Igreja, na bifurcação dos rios São Bento e Totoró entre os três currais novos que foram construídos para a venda e troca de gado na fazenda Bela Vista” (SOUZA, 2008, p. 21).

Segundo o IBGE (2017)

a Lei Provincial no 893, de 20 de fevereiro de 1884, criou o distrito de Currais Novos. Em 15 de outubro de 1890, através do Decreto Estadual nº 59, Currais Novos desmembrou-se de Acari tornando-se município do Rio Grande do Norte.

Com esse desmembramento, o povoado passou a ser vila e foi elevado à categoria de cidade pela lei estadual nº 486

em 1920, no dia 29 de novembro. Segundo Souza (2008, p. 87-88), a capela de Currais Novos foi

elevada à Paróquia e desmembrada do Acari, aos 21 de fevereiro de 1884, pela Lei 893, sancionada pelo Presidente da Província do Rio Grande do Norte. [...] instalada oficialmente no dia de Sant’Ana (26 de julho) do mesmo ano pelo Padre Manoel Joaquim da Silva Chacon. [...] No dia 11 de outubro de 1889, deu-se início à demolição do antigo templo para a construção de um maior e mais belo, que é o atual, em estilo gótico-romano com detalhes rococós nos frontais.

João Antonio diz3 ter uma visão diferente do que é contado na literatura sobre a fundação de sua cidade. Ele diz que acrescentaria algo mais a respeito, observações que ele acha interessante comentar. Sobre o momento em que foram registrar o nome da cidade, ele comenta que não foi nada catalogado, não se tem um registro de como foi escolhido este nome. Ele diz que em sua cidade não houve a escolha

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Todas as falas do artista são retiradas das entrevistas gravadas durante o período de pesquisa.

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de um nome de batismo em especial, pegaram o título que popularmente foi caracterizando essa região, os currais que eram um ponto de comércio de gado. Sendo assim, para o artista, esse nome surgiu de uma relação comercial, de valores comerciais. Mais adiante, ao se tornar povoado, vila, etc., houve a necessidade de se escolher um nome. O nome continuou o mesmo. Para João Antonio, o nome da cidade só correspondeu ao ponto de vista utilitário deixando de lado o estético (MEDEIROS NETO, 2017).

Outro aspecto que João Antonio comenta, e de que também senti falta nos livros que li sobre a origem da cidade, é a ausência da fala sobre os indígenas que habitavam a região e que foram dizimados pela dominação branca. João Antônio conta que os exploradores matavam os homens e deixavam as mulheres com quem muitos constituíram família. Este foi o caso do meu tataravô que era português e casou-se com uma índia tapuia.

João Antonio conta que D. Adriana, esposa do coronel Cipriano Lopes Galvão, expulsou os índios da Serra de Sant’Ana; expulsou entre aspas: os índios foram eliminados.

O artista disse que sobre esse tema começou a escrever uma história em quadrinhos contando a história de D. Adriana e do último índio que foi expulso, mas não a finalizou.

João Antonio também comenta que, depois do ciclo do gado, teve o ciclo do algodão que foi a base econômica do curraisnovense e que alimentou economicamente as famílias. Este ciclo é apenas citado nas referência bibliográficas que li sobre a cidade mas, para o artista, foi um período importante e deve ser comentado. João Antonio me falou do livro de José Bezerra Gomes, escritor curraisnovense (“Os brutos” – Romance), história que se passa no auge do ciclo do algodão e que está no livro “Obras reunidas” (APÊNDICE E). O romance “Os brutos” retrata a vida social desse tempo e mostra a relação de poder entre os donos de terra e os trabalhadores. Os brutos era a denominação usada para os trabalhadores rurais da época. João pensa em escrever uma peça de teatro com essa abordagem. Para ele, “Os brutos” tem uma conotação preconceituosa, não do autor, mas dos que criaram essa denominação para esse grupo de pessoas que trabalhavam na agricultura.

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72 1.1.1 LOCALIZAÇÃO, PERÍODO DA MINERAÇÃO E A CIDADE DE CURRAIS NOVOS HOJE.

O município de Currais Novos encontra-se situado no estado do Rio Grande do Norte, na Mesorregião Central Potiguar, que reúne as microrregiões de Macau, Angicos, Serra de Santana, Seridó Ocidental e Seridó Oriental (Fig.29). O município mede 903 Km² e situa-se no Sertão do Seridó Oriental. Seu clima é quente e seco e o seus ciclos econômicos iniciou com o gado, passando pela cultura do algodão e prosseguindo com a mineração da xelita (concentrado do Tungstênio), minério encontrado no sítio Brejuí, propriedade do Desembargador Tomaz Salustino (Fig. 30). A mineração resistiu de 1943 a 1980, período de grande crescimento da cidade, que ficou conhecida como a Princesinha do Seridó.

Na propriedade do desembargador Tomaz Salustino teve início a garimpagem rudimentar, depois se estruturou a vila operária que existe até os dias de hoje. A empresa com o tempo e crescimento foi sendo dotada de modernos equipamentos. Hoje, as instalações da mina (Fig. 31) se

encontram em sua maioria desativadas, com apenas algumas áreas abertas para visitação. Existem famílias que ainda ocupam as casas da vila operária e foi criado o Museu Mineração Tomaz Salustino (Fig.32), no local onde funcionava a mina, com a memória do período áureo da mineração na cidade.

Atualmente, a economia básica do município se divide entre a agricultura, pecuária, extração de minério e do comércio. A maior movimentação social e cultural da cidade se dá no mês de julho com a festa de Sant’Ana, padroeira do município e de outras cidades do Seridó. A cidade também se enfeita no período de Natal, quando ganha uma colorida decoração com motivos estilizados.

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73 1.1.2 A INFLUÊNCIA JUDAICA NO SERIDÓ

João Antonio enfatizou a importância em se falar da influência judaica no Seridó, levando-me a buscar fontes que abordassem a influência dos judeus nessa região. Este assunto muito me intriga, visto que minhas origens paternas são de Currais Novos e cresci ouvindo falar da história dos meus ascendentes judeus que vieram se refugiar em Currais Novos. Segundo meus parentes contam, nossa origem familiar advém de um judeu português que habitava a região de Algarve em Portugal. Primeiro ele se instalou em Recife e depois procurou a cidade de Currais Novos para firmar suas raízes, casando com uma índia nativa. A história da minha família, da família de João Antonio, como a de muitos seridoenses, tem essas mesmas características de judeus vindos de Portugal que se refugiaram no Nordeste do nosso país. Atualmente existem vários estudos sobre os judeus denominados judeus novos, cristãos novos e Marranos4 dentre eles o livro do historiador Janduhi Medeiros “A Pedra

4

Expressão hebraica genérica que se refere aos judeus convertidos ao

cristianismo que continuavam a praticar clandestinamente seus antigos costumes e sua religião anterior.

da Cruz” e os estudos de José Augusto Bezerra de Medeiros5

que deixou vários apontamentos sobre o tema. Estes judeus vieram se refugiar em nosso país, principalmente do Nordeste. Inclusive, existe uma discussão sobre a origem do nome” Seridó”. Segundo Glasman (2011),

Seridó, região no Rio Grande do Norte, tem seu nome originário da forma hebraica contraída: refúgio dele. Porém, não é o que escreve Luís da Câmara Cascudo, indicando uma origem indígena do nome da região, de “ceri-toh”. Em hebraico, a palavra Sarid significa sobrevivente. Acrescentando-se o sufixo ó, temos a tradução sobrevivente dele. A variação Serid, “o que escapou”, pode ser traduzido também por refúgio. Desse modo, a tradução para o nome seridó seria refúgio dele ou seus sobreviventes.

Vemos em muitos costumes e dizeres de nossa região a influência judaica. Sobre algumas dessas expressões, Glasman (2011) exemplifica:

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Disponível em http://www.substantivoplural.com.br/87364-2/ e

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74 “Que massada!” – usada para se referir a uma tragédia ou contratempo, é uma alusão à fortaleza de Massada na região do Mar Morto, Israel, reduto de Zelotes, onde permaneceram anos resistindo às forças romanas após a destruição do Templo em 70 d.C., culminando com um suicídio coletivo para não se renderem, de acordo com relato do historiador Flávio Josefo.

Glasman (2011) também comenta sobre alguns costumes: “pedir a bênção” aos pais ao sair e chegar em casa é prática judaica que remonta à benção sacerdotal bíblica, com a qual pais abençoam os filhos, como no Shabat e no Ano Novo.

Segundo João Antonio, a origem da sua família Medeiros é judia e comenta que existe um núcleo de Medeiros no Seridó onde estes prevalecem. Ele conta que existiam dois ramos de Medeiros, um que ficou aqui no Seridó e um que foi para o sul do país. A origem da família de João Antônio, segundo o seu avô conta, veio de Jardim dos Bertos, zona rural que ficava entre as cidades de Jardim do Seridó e Cruzeta. O artista fala sobre as publicações que já leu a

respeito desse tema e das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas nesse âmbito. Segundo ele, foram encontradas várias inscrições judaicas em antigos oratórios que pertenciam a famílias seridoenses. Por ele também, fiquei sabendo que uma curiosa tradição que meus familiares tinham, que era a de enterrar o umbigo dos recém-nascidos, também é uma tradição que advém dos judeus (MEDEIROS NETO, 2017).

Segundo João Antonio, existem características comuns em sua região que dizem muito dessa influência judia que vão desde a organização da casa, como lidar com a limpeza, a higiene, características que são muito visíveis e se repetem. Costumes e traços que se misturaram e que fazem essa diferença no ser seridoense (MEDEIROS NETO, 2017).

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75 1.2 JOÃO ANTONIO, A INFÂNCIA E A ADOLESCÊNCIA: AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS ARTÍSTICAS.

João Antonio de Medeiros Neto nasceu no dia 19 de Agosto de 1963 na Maternidade Ananília Regina, na cidade de Currais Novos, região do Seridó do estado do Rio Grande do Norte. Filho de Maria de Lourdes Medeiros e Severino Mário de Medeiros (Fig. 33) que eram primos. João Antônio é o mais novo de seis irmãos (dois homens e quatro mulheres): Lúcia de Fátima de Medeiros, Luciene Maria de Medeiros (falecida), Luciana Maria de Medeiros, Lucélia Regina de Medeiros e Mário Sérgio de Medeiros (Fig.34). O interesse pela arte não foi espelhado em nenhum outro familiar, visto que João Antonio desconhece a existência de outro artista na família que não ele. Aliás, dos seis irmãos, apenas ele sentiu vontade em trilhar o caminho artístico e, quando indagado a respeito de como surgiu esse empenho, ele me respondeu que não acha “que teve interesse não, a gente já nasce com esse potencial” (MEDEIROS NETO, 2017).

O artista lembra que quando ia ao Sítio do seu avô (Sítio Riacho dos Bois), quando era bem pequeno, adorava

desenhar o gado. Ele “não tinha nenhum bichinho”. (MEDEIROS NETO, 2017), Então, em seu caderno de desenho, retratava esses animais, criando sua própria fazenda. Durante seus exercícios infantis, sem perceber, ele treinava e desenvolvia o desenho de observação. Ele passava boa parte do tempo analisando a cabeça do boi, o joelho, tentando retratar mais fielmente possível os animais da sua fazenda imaginária. Todo esse apreço ao desenho fez que João Antonio levasse para a escola também as suas experiências artísticas. A partir da 5ª série do 1º grau ele ilustrava seus trabalhos escolares, principalmente os trabalhos de história, que eram todos desenhados. Ele recorda que seus trabalhos eram enormes, alguns chegavam a ter mais de 20 páginas, porque ele fazia questão de desenhar os vultos históricos que eram citados nos livros didáticos. Infelizmente ele não tem nenhum caderno dos seus primeiros desenhos, nem nenhum de seus trabalhos escolares que continham ilustrações suas.

Referências

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