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DIREITOS HUMANOS, MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO

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Rev. Augustus | Rio de Janeiro | v.23 | n.46 | p. 136-156 jul./dez. 2018 136

DIREITOS HUMANOS, MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO

Adriano Rosa* Universidade Santa Úrsula

66.rosa@gmail.com Márcia Teixeira Cavalcanti**

Universidade Santa Úrusla márciacavalcante@gmail.com RESUMO

Busca-se caracterizar a relevância do ensino dos direitos humanos a partir da lógica de que ele está presente em todos os atos de nossa vida cotidiana e que para gerar cidadãos participativos precisa ser ensinado. Parte-se da premissa que o direito à vida exige a qualidade de um ambiente ecologicamente equilibrado e sustentável, o que implica reconhecer a interdependência entre os direitos humanos e o meio ambiente. O trabalho é fruto de uma pesquisa bibliográfica.

Palavras-Chave: Direitos Humanos, Educação, Sustentabilidade e Meio Ambiente.

HUMAN RIGHTS, ENVIRONMENT AND EDUCATION

ABSTRACT

It seeks to characterize the relevance of the teaching of human rights from the logic that it is present in all acts of our daily life and that to generate participative citizens needs to be taught. It is part of the premise that the right to life requires the quality of an environmentally balanced and sustainable environment, which implies recognizing the interdependence between human rights and the environment. The work is the result of a bibliographic research.

Keywords: human rights, education, sustainability and the environment.

*

Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990). Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995). Doutor em Educação Física e Cultura na Universidade Gama Filho (2007). Pós Doutor em andamento no Laboratório de Práticas de Integralidade em Saúde do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Coordenador e Professor permanente do Mestrado Profissional em Gestão do Trabalho para Qualidade do Ambiente Construído na Universidade Santa Úrsula.

** Doutora (2014) e Mestre (2002) em Ciência da Informação, pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), convênio Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (1991) e em Letras Português-Literatura pela Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá (UNESA) (2006). Professora do curso de Administração da Universidade Santa Úrsula (USU) onde é membro do Colegiado do Curso. Leciona nos cursos de Direito e Psicologia (USU).

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A Educação em Direitos Humanos (EDH) é, na atualidade, um dos mais importantes instrumentos dentro das formas de combate às violações de direitos humanos, já que educa na tolerância, na valorização da dignidade e nos princípios democráticos. Celma Tavares 1 INTRODUÇÃO

Os direitos humanos representam um processo contínuo de reflexão e postulados acerca das necessidades e oportunidades humanas no seu envolvimento com o meio, seja o que chamamos de natureza em si, flora, fauna, seja o que denominamos como natureza humana, social, caracterizada por Marx como uma segunda natureza.

Quando falamos de direitos humanos estamos nos referindo a um processo complexo, histórico e inesgotável. Histórico porque se faz em tempos e espaços específicos e diferenciados apresentando singularidades e peculiaridades a partir do território e da cultura nele construída. Complexo porque envolve sentidos, significados e percepções de humanos organizados em estruturas sociais, em geral desiguais, e que estabelecem diferenças de status e de humanidades para nós, ditos humanos. Inesgotável porque não cremos ser possível findar a ordem das necessidades humanas e suas interpretações valorativas sobre nós humanos num processo estrutural e hierarquizado do mundo.

Assim, pensar direitos humanos é instituir um campo de embates e disputas na busca de uma definição abrangente e concisa sobre características essenciais da humanidade que habitam em nós de forma a permitir ideais de universalidade cabíveis em qualquer tempo, lugar e cultura. Direitos sem os quais não poderíamos existir ou nos pensar humanos.

Historicamente, a categoria dignidade tem sido apontada como o principal elemento da definição da qualidade da vida humana. Segundo Andrade (2010):

A dignidade da pessoa humana representa uma conquista da civilização; sua descoberta deriva daquilo que LAFAYETTE POZZOLI denomina “cultura da dignidade da pessoa humana”. A expressão dignidade é de origem latina (dignitate) e pode ser definida como honradez, honra, nobreza, decência, respeito pela condição humana ou até mesmo autonomia, encontrando-se intimamente ligada ao ser humano, numa perspectiva nitidamente antropocêntrica; cuida-se ainda, sob o ângulo jurídico, de uma “categoria constitucional, protegida por normas objetivas do ordenamento”.

A dignidade da pessoa humana se descortina como uma qualidade do homem, perceptível a partir da inteligência e do pensamento; assim é que, em sua qualidade de atributo indissociável do ser humano, a ele esteve imantada desde os

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primórdios da história humana, todavia, somente nos últimos séculos tem sido erigida à condição de fundamento da própria condição humana. (ANDRADE, 2010, P. 18)

Como seres racionais e agentes produtores de sua própria natureza, intervenção mediada pelo trabalho, deveríamos ter como princípio basilar uma concepção acerca de uma vida digna, com base no respeito por nossa humanidade e pela percepção de que ela só pode ser realizada na relação com o contexto que nos circunda, a natureza.

Mas o que observamos é a dificuldade em compreender o processo de produção da vida humana como feito a partir da diversidade geográfica e ambiental, que proporcionou variadas formas de vida, sistema de crenças e culturas que tem dificultado um alinhamento para compreensão de que nossa diferença não nos afasta, não nos diminui como humanos, mas nos potencializa e nos caracteriza e não impede a busca de consensos.

Se há algo que podemos inferir sobre a trajetória de construção dos direitos humanos, da relação dos homens com a natureza e da construção e organização social humana, é que precisamos estabelecer uma nova concepção visando um salto qualitativo na percepção, compreensão e interpretação sobre o que de fato devemos mensurar como vida, dignidade e respeito. Precisamos avançar mais na perspectiva da defesa e da proteção dos direitos dos indivíduos e grupos sociais que se encontram desprotegidos, ora por não serem sequer reconhecidos, ora por não terem seus direitos efetivados.

Como sabemos, não basta estar na lei, não basta a Constituição Federal Brasileira estabelecer nossa igualdade, é preciso que ela se transforme em um fato, mas isso só será possível a partir da conscientização dos indivíduos e da sociedade para a importância do respeito e valorização de todos, da criação de uma igualdade de oportunidades e do estabelecimento de uma justiça social. Só conseguimos este efeito pelo processo educacional, é preciso dotar a população da capacidade de olhar ao seu redor e analisar o contexto em que se constrói para refletir criticamente sobre suas ações e escolhas e aprender a trabalhar em prol do desenvolvimento coletivo, solidário e sustentável, que estimule a reciclagem e a utilização inteligente dos recurso naturais e humanos.

Direitos não podem ser apenas atribuídos, precisam ser conquistados, pois quando compreendemos o processo de sua construção somos efetivos em sua defesa e flexíveis em sua necessária transformação, quando necessário.

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Para fazer valer a concepção de que todos somos iguais, precisamos compreender que o direito de ter direitos exige de nós responsabilidade, compromisso, dedicação e trabalho para que nossas vidas se realizem em um ambiente equilibrado, sadio e preservado. Que a igualdade se paute no respeito a todas as espécies e à natureza como um todo, não há desenvolvimento humano sem que se possa cuidar e zelar pelo nosso ambiente. E mais uma vez, afirmamos isso só é possível pela educação, mas uma educação que forme cidadãos, profissionais, “preocupados” preventivamente com o cuidado do planeta.

Sabemos, hoje, que o direito de ter direito implica em ter deveres, o direito e o dever de desenvolver e crescer sem explorar e destruir, assumindo a responsabilidade pelas ações e escolhas que fazemos e que devem ser fruto de reflexões que tenham como pauta a sustentabilidade, a reciclagem, a solidariedade, o consumo consciente, a liberdade, o respeito, a livre expressão e a valorização do conhecimento e da educação como caminho para construção da dignidade humana, representada na conquista e no exercício de sua cidadania.

Cidadania que não pode se restringir a ser de direito, precisa ser de fato, inclusiva e exercitada por todos e na qual a natureza se apresenta como um elemento essencial, tal qual é descrita na Constituição Brasileira de 1988:

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988)

Cidadania construída pela educação, ensinada e praticada nas relações entre os indivíduos e em prol da coletividade. Vivida e compartilhada em busca da realização da dignidade humana, acomoda peculiaridades e localidades neste globo que habitamos. É o exercício de direitos e deveres, direitos fundamentais tanto no âmbito individual quanto coletivo.

2 METODOLOGIA

O trabalho é fruto de uma pesquisa bibliográfica em artigos e livros, utilizando a base de dados Scielo e o Google Acadêmico, mecanismo de busca de material acadêmico

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oferecido pela Google. Utiliza-se também documentos como a Constituição Federal Brasileira de 1988, A Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948 e a Declaração da Conferência de Estocolmo, 1972. Foram pesquisados também projetos de educação ambiental desenvolvidos pela iniciativa privada, dentro de uma perspectiva desenvolvida pelo Pacto Global.

3 DISCUSSÃO

3.1 Direitos Humanos

O conjunto de direitos designado por direitos humanos representa um processo histórico de lutas, de idas e vindas, marcado por conquistas, retrocessos e vicissitudes que demonstram a singularidade da natureza humana e sua dificuldade em aceitar as diferenças, sua compreensão etnocêntrica das necessidades e aspirações dos “outros”. Mas, acima de tudo, uma ação crítica da sociedade, de grupos, contra o poder do Estado a partir de uma demanda cidadã que visa garantir direitos por meio do próprio Estado, ora defensor e promotor, ora descumpridor desses direitos.

Diversos movimentos e documentos representam esse processo, são tidos como marcos da luta pela criação e efetivação dos direitos humanos, como a Declaração do Bom Povo (1776), a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Neles estão postos valores que são importantes para a luta pela garantia de direitos como o direito à vida e liberdade, configurando o que denominamos como a primeira geração de direitos. Posteriormente, a medida em que as sociedades se transformavam, outras questões ganhavam destaque, como os direitos sociais, culturais e econômicos, especialmente após a Revolução Industrial e a formação de uma sociedade de massa, forjando o que se denomina de segunda geração de direitos. A eclosão das guerras, particularmente da Segunda Guerra Mundial, dá vazão à necessidade de luta pela fraternidade e solidariedade, estabelecendo a terceira geração de direitos.

Observamos que no processo histórico outras gerações têm sido apontadas, devido a constante transformações nas necessidades e aspirações produzidas nas mais diversas

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sociedades pelo mundo. A primeira geração contemplava os direitos da ordem civil e política, a segunda os da ordem social, econômica e cultural e a terceira é representativa dos direitos difusos. As três primeiras gerações têm como símbolo o lema da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. É na terceira geração que, mais especificamente, encontramos explicitados os direitos coletivos como os da infância, direito a cidade, ao desenvolvimento dos povos e ao meio ambiente.

Os direitos humanos, como processo, tem como marco fundamental a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela ONU em 10 de dezembro de 1948. Em seu preâmbulo estão estabelecidos as condições gerais da declaração e nela se reafirma a necessidade do reconhecimento da dignidade humana e de seus direitos iguais e inalienáveis como fundamento da liberdade, da justiça e da paz, tendo como referência que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos devem ser considerados atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade. O ideal é um mundo em que as pessoas gozem de liberdade de expressão, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade.

A fé nos direitos fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos devem ser os pilares para a promoção do progresso social e da melhoria das condições de vida. Sob estas considerações são definidos os 30 artigos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), todos importantes, mas dos quais gostaríamos de destacar:

Artigo 1

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo 2

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo 3

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 18

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esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.

Artigo 19

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo 25

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

Artigo 26

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo 29

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas. (DECLARAÇÃO, 1948, grifo do autor).

Tais direitos expressos na declaração implicam no reconhecimento de algumas características importantes. Compreendidos como fundamentais, devem ser interpretados como direitos que são inalienáveis, indivisíveis, interdependentes, imprescritíveis, irrenunciáveis, invioláveis, complementares, efetivos, históricos e universais. Entretanto, a realidade demonstra o quanto ainda estamos distante da concretização destes ideais. O Estado, elemento que deve proteger e assegurar a expansão e a prática dos direitos humanos é, também, um dos que mais violam esses mesmos direitos. A universalidade precisa ser repensada para abarcar a diversidade como essência da humanidade. Devemos pensar que temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e o direito de ser

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diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza, como afirma Boaventura Santos (2003, p.56). Ou seja, precisamos estabelecer um conceito de igualdade centrado no reconhecimento das diferenças, sem que esta produza a desigualdade.

3.2 Educação em Direitos Humanos

Educar é um processo de formação, longo é contínuo, precisa ser progressivamente construído para permitir ao indivíduo o desenvolvimento de sua capacidade de reflexão crítica. Viver a experiência e retornar a ela para repensá-la e fazer dela um fluxo de referência para propiciar novas visões, opções e escolhas.

A educação, como processo, implica em ensinar o questionamento, o desejo pela pesquisa e descoberta, a problematização da realidade e do contexto em que se está inserido, estimula a curiosidade e a abertura de novos cenários interpretativos que possibilitem a integração entre as realidades das diversas gerações e grupos que compõem a estrutura da sociedade.

A educação propicia a transformação do indivíduo de um ser singular em um ser social, através dos valores, diretrizes e normas que precisam ser compartilhadas para que se realize a solidariedade social e a efetiva legitimidade de valores e interesses coletivos, que gozem não só da legitimidade mas também da legalidade. Como dizia Durkheim “o homem que a educação deve realizar, em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja e ela o quer conforme o reclame a sua economia interna, o seu equilíbrio” (1978, p. 35).

A construção de um sistema social estabelece como regra uma percepção sobre o que é o humano e como ele deve ser tratado, quais direitos e deveres devem ser organizados, para que os indivíduos que compõem este sistema possam ter uma vida digna. Logo, educar é uma prática da socialização dos indivíduos, fornecendo-lhes referências sobre como o grupo social concebeu sua realidade. Fazer parte desta realidade implica forjar algumas concordâncias, aceitações e, até mesmo, discordâncias, dentro de uma margem possível de negociação.

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os direitos humanos e como, de fato, são definidos quem é humano e que respeito merecem. Isso não significa que todos naquele sistema estão contemplados com a classificação de humanos e possam usufruir de direitos.

A construção destes sistemas é formalizada em um sentido duplo e concomitante, o primeiro nos faz perceber a sociedade como uma coisa que está fora de nós, nos constrange e impele à ação e, o segundo, como algo que está em nós, que é internalizado e íntimo, é o nosso ser. A sociedade não se detém à superfície de nossa pele, ela nos entranha e nos envolve, afirma Berger (1978).

Assim, é relevante perceber que uma educação voltada para o questionamento, baseada na valorização da diversidade e da diferença, que estabelece a possibilidade da relatividade dos valores, como uma proposta reflexiva, é a que melhor se adequa a um projeto de ensino em direitos humanos. Pois é preciso saber encontrar nas diversidades internas de cada sociedade e de cada cultura cultura, e entre as sociedades e culturas, pontos consensuais que garantam e valorizem os direitos humanos em uma perspectiva universalizante, apoiada em uma leitura local e não excludente.

Ensinar direitos humanos é trabalhar pela comunhão de sentidos e compreensão de que as diferenças possam ser o nosso epicentro, o local de nossa universalidade como humanidade e o ponto a partir do qual os direitos humanos devam ser pensados.

Educar em direitos humanos é ensinar que eles estão presentes em cada instante de nossa vivência, fazem parte de todas nossas ações no cotidiano e que não são estáticos ou inalteráveis. É preciso romper com a falsa ideia de que eles só servem para defender bandidos ou minorias que querem perturbar a ordem. Ao contrário, eles estão presentes na moradia que te abriga, na qualidade do saneamento básico que você tem, na educação que recebe na definição da qualidade de vida e saúde que você disponibiliza e constrói, nos documentos que te identificam, na nacionalidade e naturalidade que você informa, no seu ir e vir, nas condições que, definidas como básicas, lhe proporcionam o que se define como dignidade, e devem fazer parte do projeto de construção de uma coletividade baseada na justiça e equidade.

Ensinar direitos humanos é transformar as cidades, os bairros, em territórios educadores, partir da vivência dos indivíduos, de seus locais, para ensinar e aprender com

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eles. É trabalhar o ambiente como um cenário e instrumento da educação, fazendo com que os indivíduos observem e reflitam sobre sua realidade e percebam que ali está o potencial de construção de uma vida de qualidade e digna, que ali se estabelecem a responsabilidade e o exercício do direito de ter direitos. É na cidade, no bairro, na rua educadora que se manifestam os valores e os significados de nossas escolhas e ações. É nesses espaços que encontraremos as escolas como alicerces de contínua colaboração para o desenvolvimento de nosso pertencimento a uma coletividade e a possibilidade de afirmação de uma identidade positiva.

Portanto, os direitos humanos devem ser compreendidos como uma tarefa da sociedade, e para isso precisam ser aprendidos e exercitados desde cedo e a concepção do ambiente como um elemento educador é fundamental para a prática dos direitos humanos e para formação de uma cidadania ativa. Temos que estimular, ampliar e fortalecer os mecanismos de inclusão social, mobilizando e assegurando a participação autônoma e ampla dos indivíduos e da sociedade, isto é um requisito fundamental para valorização e exercício dos direitos humanos.

Uma proposta de “Educação em Direitos Humanos” deve estar orientada por um conceito amplo de Direitos Humanos, que consiga contemplar a indivisibilidade dos direitos civis, políticos, econômicos, culturais, sociais, ambientais, mas também os recortes necessários de gênero, raça, sexualidade etc. Lidar, portanto, com a igualdade enquanto direito, mas reconhecendo, respeitando e promovendo as diferenças. (PREFEITURA, 2014, p. 3)

Assumir o compromisso de ensinar na temática dos direitos humanos leva à construção e ao respeito por uma cultura dos direitos humanos. E independente de estar em uma disciplina específica da grade curricular, deve perpassar transversalmente todas as disciplinas, porque não há aspecto que envolva a vida humana que não esteja relacionado à existência ou condicionada ao respeito pelos direitos humanos ou a produção de condições dignas de vida.

O ensino não pode estar circunscrito apenas a formação para prática profissional, sua condição essencial e função é formar o cidadão para o mundo, para a vida coletiva, que deve e pode ser exercida, inclusive, através das profissões. Deve capacitar os indivíduos para uma vivência baseada no respeito e na dignidade humana, na diversidade e diferença. Precisa

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situar o humano dentro do seu contexto e significar esta participação com a valorização de todos os elementos que dão sentido e perfazem a vida humana, como a natureza, o meio ambiente em que está inserido, e as demais espécies existentes.

Quando trabalhamos com esses princípios estimulamos os indivíduos a aprenderem a refletir criticamente sobre a realidade que os envolve e sobre a possibilidade de torná-los valores fundamentais para sua existência. Não temos cidadania sem direitos humanos. Não basta ter direito a educação, tem que ser uma educação que permita o desenvolvimento crítico, reflexivo de nossa personalidade.

3.3 Direitos Humanos e o Meio Ambiente

Como pensar a vida humana sem compreender a importância do meio ambiente? Como fazer a vida humana digna sem preservar a natureza? O meio ambiente é o cenário de atuação de todas as espécies, mas a nossa é aquela que vem atuando de modo incisivo em sua transformação, infelizmente, e não de forma consciente e sustentável. A construção da vida humana fez do meio ambiente um cenário de transformação e intervenção, buscando alterá-lo para dar vazão às suas necessidades. Este processo contínuo e complexo nos permitiu estar presente nos mais variados e diversos ambientes que a natureza produziu.

Habitamos os lugares mais inóspitos que o planeta tem e da relação com ele elaboramos diversos modos de existência, com maior ou menor nível de respeito e integração ao meio, o que significa que aprendemos com ele e demonstramos na ocupação do espaço os princípios que valorizamos. Olhando esta experiência, talvez possamos dizer que temos muito que rever ou aprender.

Mas o ambiente como um espaço, natural ou construído, representa uma cartografia de nossa trajetória e das escolhas que estabelecemos até agora. Tal fato nos permite, pela reflexão, retornar ao sentido básico de que o ambiente, o território, educa, ensina. Se quisermos uma sociedade que valoriza e se produz com base em direitos humanos e no desejo de formação de uma cidadania participativa, a educação para o ambiente e no ambiente é importante. Educação ambiental é o respeito à natureza, à riqueza da diversidade de espécies e à perspectiva de respeito e de integração entre elas, o que implica no ensino

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dos direitos humanos.

Os direitos humanos dão conta dos direitos dos homens e do contexto de relação que os envolve, isto é, a natureza, logo, valorizá-la e preservá-la, fazendo uso sustentável dela, é uma condição básica de direito, que implica por consequência na existência dos deveres.

O processo de ensino aprendizagem tem na escola seu principal ambiente, mas outros espaços sociais também são privilegiados para que este processo ocorra. O ambiente habitado é importante fonte de conhecimento, de ensino e aprendizagem, e nele devem estar presentes oportunidades para todos, acessíveis a todos, valorizando o espaço como um direito de todos. A educação deve estar conectada à vivência cotidiana no ambiente, no espaço do indivíduo, pois nele se faz a relevância para compreensão da realidade.

A educação precisa informar e formar o indivíduo como cidadão, para que ele possa viver atendendo às demandas e necessidades de sua existência sem ter que agredir ou destruir o ambiente que habita e as espécies com quem convive. É preciso integrar-se ao meio ambiente e percebê-lo como composto por mais seres do que nós mesmos e como um cenário dinâmico, rico e exaurível, quando não é preservado.

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999) Educação ambiental é estabelecer o ambiente como matéria-prima do processo de ensino aprendizagem, é partir dele e nele educar, particularmente educar para o direito de viver em um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Os direitos humanos e o meio ambiente são interdependentes, um ambiente saudável é necessário para o usufruto de uma vasta gama de direitos humanos e o exercício dos direitos humanos é vital para a proteção do meio ambiente; você não pode ter um sem o outro – resumiu John Knox, relator especial das Nações Unidas sobre direitos humanos e meio ambiente.

Knox explicou a relação dos direitos humanos com o meio ambiente e frisou a tendência – que precisa ser ampliada, segundo ele – de se aplicar a legislação para demonstrar que o dano ambiental interfere na capacidade de usufruir direitos humanos básicos: a poluição prejudica o acesso à água; o aumento do nível do mar expulsa pessoas de suas casas, como nas Ilhas Maldivas; ou a diminuição da biodiversidade, como a morte das abelhas, reduz a oferta de serviços ecossistêmicos que afetam a população mundial inteira. Todos se prejudicam, e a interpretação da lei deve atender ao interesse coletivo, salientou. (AGÊNCIA

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Senado, 2017)

O ensino de seus conteúdos na educação formal aparece em diferentes documentos, destacamos aqui um trecho das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental:

A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental. (BRASIL, 2018)

Para ilustrar esta perspectiva educativa resolvemos trazer experiências realizadas no âmbito da sociedade, na iniciativa privada e institucional. São diversos projetos que demonstram a importância da educação e a valorização dos princípios dos direitos humanos, através do respeito e da preservação do meio ambiente. Demonstrando como nós, como sociedade, devemos assumir tal compromisso e como é possível colocar em pauta os direitos humanos e a cidadania através da preservação do meio ambiente e da educação pelo ambiente, praticando a responsabilidade socioambiental.

Não só a escola é cenário para educação ambiental, o universo da empresa e do trabalho também é um espaço importante para sua disseminação e para construção de relações baseadas na prática dos direitos humanos e no desenvolvimento dos projetos de responsabilidade socioambiental. Por ser eminentemente prático, este lugar cotidiano colabora constantemente para a reflexão sobre nossa relação com o ambiente e com os valores que norteiam nossa ação e participação. Aqui podemos ter a busca de soluções concretas para a melhoria da qualidade do ambiente, porque permite nos percebermos como agentes, diretamente envolvidos na resolução de questões.

1- O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e a desfrutar de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita ter uma vida digna e gozar de bem estar, e tem a solene. obrigação de proteger e melhorar o meio para as presentes e futuras gerações (...).

19 - É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, visando tanto às gerações jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opinião pública, bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana. (ORGANIZAÇÃO, 1972)

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O recorte da educação ambiental no cenário da empresa e do trabalho está embasado na perspectiva presente na Declaração de Estocolmo, nos Princípios 1 e 19 destacados anteriormente. Mas também se embasa na iniciativa denominada Pacto Global.

3.4 Pacto Global

O Pacto Global, iniciativa privada associada à ONU e lançada no ano de 2000, surgiu da necessidade de se sensibilizar o empresariado global sobre a importância da adoção de valores fundamentais e internacionalmente aceitos em suas práticas de negócios. Ele é uma iniciativa que busca informar sobre a relevância de se promover um crescimento sustentável, e nos leva a pensar sobre o que sustentável significa, principalmente em termos de negócios, e qual sua relação com os direitos humanos.

O Pacto Global, segundo o que se encontra descrito em seu site, advoga dez Princípios universais, princípios esses que são derivados da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. Estes dez princípios, apresentados na figura abaixo, se organizam a partir de quatro eixos: Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção.

Figura 1

Fonte: www.unglobalcompact.org

3.5 A Prática da Educação Ambiental no Cenário das Empresas

A seguir, serão relacionados projetos desenvolvidos em empresas localizadas no território nacional e que são voltados para educação ambiental. Estes projetos foram

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selecionados após uma busca na internet que teve como palavra chave “empresas que trabalham com educação ambiental”. Foram recuperados aproximadamente 30.100.000 resultados.

A seleção das empresas que são objeto deste trabalho se deu a partir de um artigo publicado em uma revista de grande circulação da área de negócios no qual são listadas 20 empresas consideradas como modelo em responsabilidade socioambiental. Desta lista, o critério para se chegar ao número de projetos apresentados no trabalho foi que estivesse explícito que ele se incluía na perspectiva da Educação Ambiental. As descrições que são feitas dos projetos foram copiadas ou dos seus respectivos sítios eletrônicos ou do próprio artigo.

EDUCA BONDINHO http://educa.bondinho.com.br/

O Educa Bondinho é destinado às escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro e conta com a participação dos educadores do Instituto Moleque Mateiro, instituição engajada na área de educação ambiental.

Visa contribuir social e culturalmente. Durante as visitas os alunos são estimulados a sensibilização ambiental através de informações sobre a flor e a fauna, poluição da águas, urbanização, históricos da fundação da cidade do Rio de Janeiro, preservação de áreas verdes e das paisagens cariocas.

Com uma abordagem transdisciplinar e divertida, o Educa Bondinho estimula a sensibilização ambiental dos alunos com informações sobre ciências, biologia, história e geografia. Diariamente, recebem duas escolas públicas e uma particular. Desde 2015 o Educa Bondinho já recebeu mais de 30 mil alunos e professores.

NATURA

A Natura educa trabalhadores para extração de óleos vegetais. O óleo de murumuru, usado em cosméticos, é extraído de uma planta amazônica de difícil manejo, e que muitas vezes leva à prática de queimadas.

A Natura promoveu uma ação educativa com 400 famílias que fornecem a matéria-prima à empresa orientado-as a não empregarem mais esta técnica. A ação resultou na

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preservação de mais de três mil palmeiras das quais o óleo é extraído.

Desde o lançamento da sua linha de produtos Ekos, há dez anos, a Natura mantém uma rede de fornecedores formada por 26 comunidades em todo o Brasil. Só em 2009, os negócios com o grupo - que incluem o pagamento pela matéria-prima e uma espécie de royalty pelo conhecimento local sobre plantas - atingiram 5,5 milhões de reais.

PROMON

Especializada em projetos de infraestrutura, desenvolveu um indicador para medir o impacto socioambiental de seus projetos: o "sustentômetro". Com o sistema, é possível identificar e melhorar iniciativas que não atendem aos critérios estabelecidos.

Mesmo antes de desenvolver o "sustentômetro", a empresa manifestava preocupação em mitigar seu impacto sobre o meio ambiente. Ao todo, já investiu 2,7 milhões de reais em tecnologias para reduzir o impacto ambiental das obras, de onde 75% dos resíduos seguem para a reciclagem.

SANTANDER

Estimular o pensamento "verde" entre seus clientes e pequenos empresários é a proposta de sustentabilidade do Santander. O Banco criou até um curso para ensinar empresas a usar critérios ambientais na hora de escolher fornecedores. Até agora, 3.108 pessoas e 1.792 organizações já participaram do programa. Através de um dos projetos pioneiros de reciclagem de baterias (o Papa-Pilhas), o Santander já reciclou 155,5 milhões de toneladas de pilhas, baterias e celulares. Além disso, o banco possui uma linha de crédito especial para empreendimentos de baixo impacto ambiental.

UNILEVER

Ao alterar a composição de um de seus principais produtos, o sabão em pó Omo, a Unilever conseguiu reduzir em 35% a sua emissão de gases causadores do efeito-estufa. Recentemente, a fabricante de produtos de higiene pessoal também lançou uma versão líquida do Omo, que, por ser mais concentrada que a tradicional, reduz o uso de embalagens (ela equivale a duas caixas do sabão em pó) e o número de transportes para distribuição.

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Um passo à frente da concorrência no mercado de papel e celulose, a Suzano criou um inventário de emissões de gases efeito estufa para calcular sua pegada de carbono. São contabilizadas as emissões de uma ponta a outra da cadeia produtiva - dos fornecedores até a porta do cliente. A expectativa da empresa é de mapear todos os seus produtos até 2011. Dessa forma, a Suzano deve conseguir atuar com mais precisão na redução de emissões, o que pode garantir um renda extra ao negócio por meio da comercialização de créditos no mercado de carbono.

BUNGE

Foram dois anos de intensas pesquisas na subsidiária brasileira da Bunge, uma das maiores empresas de alimentos e de fertilizantes do mundo, para desenvolver uma embalagem feita de material orgânico e biodegradável. O intento, bem sucedido, deu origem a uma embalagem de menor impacto ambiental usada por um dos produtos da empresa, a margarina Cyclus. A empresa também tem atuado na redução de resíduos. No ano passado, diminuiu em 14% o volume de PET usado nas embalagens de óleo vegetal. Outra frente de atuação é no incentivo à reciclagem. A Bunge mantém 60 postos de coleta de óleo em padarias de toda a região metropolitana de São Paulo.

MASISA

A fabricante de painéis de madeira Masisa procura em seus funcionários soluções criativas para um grande desafio: produzir mais com menor quantidade de insumos. Desde a implantação de grupos de melhorias, em 2009, o uso de resina por metro cúbico de painéis produzidos caiu 10,5%. A empresa também conseguiu reduzir em 16% o consumo de água na produção. Toda a economia obtida pelas sugestões "verdes", que são introduzidas no processo produtiva da empresa, volta aos funcionários na forma de participação nos lucros.

INSTITUTO SÍTIO DO LOBATO http://www.institutositiodolobato.org/

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promoção de atividades de relevância pública voltadas para:

a) defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável.

b) o fortalecimento institucional e o desenvolvimento das comunidades.

c) a capacitação nas áreas da educação, cultura, saúde e esportes, assim como a qualificação e requalificação profissional, visando desenvolvimento econômico e humano das comunidades.

d) o estímulo e a promoção de ações voltadas para eliminar as desigualdades de gênero, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, desenvolvendo ações de apoio às crianças, adolescentes, adultos e idosos.

e) incentivar padrões de consumo responsáveis e comprometidos com a sustentabilidade socioambiental.

f) promover o desenvolvimento econômico e social e o combate à pobreza.

g) atuar nas lutas e movimentos sociais que possuam objetivos de pacificação social. h) promoção da assistência social.

i) promoção do voluntariado.

j) estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimento técnicos e científicos.

l) Promover a inclusão socioprodutiva por meio de tecnologias sociais, criando inovações que beneficiem crianças, adolescentes, adultos e idosos, através da influência em políticas públicas e atividades privadas, mobilização da sociedade, alianças e parcerias.

INSTITUTO RÃ-BUGIO (http://www.ra-bugio.org.br/)

O Instituto Rã-bugio atua em rede com escolas do ensino fundamental e médio para promover a Educação Ambiental focada na conscientização das crianças e adolescentes sobre a importância dos serviços ambientais das áreas remanescentes de Mata Atlântica, sobretudo na proteção dos mananciais e da rica biodiversidade.

Projeto em andamento Água e Biodiversidade da Serra do Mar – Crianças e Adolescentes em Contato com a Natureza, cujo objetivo é promover o contato com natureza e aprendizado sobre a biodiversidade e serviços ambientais da Mata Atlântica através de

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atividades interativas em trilhas interpretativas, atendendo 3 mil estudantes e 150 professores da rede pública de ensino básico de Jaraguá do Sul (SC).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Educar em direitos humanos é estabelecer uma vida de qualidade, preservando e estimulando o uso consciente de nossas riquezas naturais e uma convivência integrada, produtiva e racional de nossas necessidades e demandas com as possibilidades do planeta. É conviver harmoniosamente com as diferenças e diversidades, valorizando as contribuições que elas podem nos trazer. É ser consciente da relevância da natureza, das outras espécies para o funcionamento do nosso mundo, pautando-se por uma perspectiva sustentável.

Educação ambiental é uma prática inerente aos princípios dos direitos humanos, pois visa gerar uma consciência crítica acerca de nosso lugar no mundo, gerando uma transformação no modo de agir dos indivíduos e da sociedade, incentivando mudanças de postura frente às questões da preservação e do uso do meio ambiente. É necessário repensar e ressignificar como compreendemos o meio ambiente e sua importância para nossa existência.

Torna-se fundamental pensar a inter-relação entre direitos humanos e meio ambiente de forma a tornar nosso processo de desenvolvimento, individual e coletivo, um processo sustentável e que produza qualidade e dignidade à vida humana. Não podemos mais compactuar com a destruição da natureza e da vida como um todo mediante a prática contínua de um projeto de desenvolvimento exploratório, excludente e desigual, que não preserva, mas extermina o futuro. O direito à vida não se pode realizar sem que o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e sustentável se estabeleça como fundamental. Mas para realizar esta premissa é necessário que a educação baseada em direitos humanos e meio ambiente seja permanente, que valorize o respeito a todas as formas de vida e que forme cidadãos participativos.

Os exemplos dados pelos projetos que listamos e pela seleção dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos demonstram que ainda temos muito que avançar, mas que é possível observar uma crescente mobilização dos indivíduos e da

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sociedade para reflexão acerca das questões que envolvem o respeito aos direitos humanos e a preservação do meio ambiente. Fortalecer estes conteúdos no ensino escolar e universitário são ações fundamentais para ampliar este novo horizonte, contribuindo para o exercício da solidariedade e respeito às diversidades.

Temos que continuar a trabalhar na construção de uma vida social pautada no exercício dos Direitos Humanos como uma forma de organização social, política e cultural, como preconiza a ONU.

REFERÊNCIAS

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AGÊNCIA SENADO. Para especialistas, direitos humanos e proteção ao meio ambiente estão ligados. Brasília. 22 maio 2017. Disponível em:

< https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/05/22/para-especialistas-direitos-humanos-e-protecao-ao-meio-ambiente-estao-ligados>. Acesso em: 28 out. 2018. ANDRADE, V. F. DO DIREITO FUNDAMENTAL À SEGURANÇA PÚBLICA: análise crítica do sistema constitucional de segurança pública brasileiro. Orientador: Lafayette Pozzoli. Tese (Direito). São Paulo, PPGD/PUC, 2010.

BARBOSA, V. 20 empresas-modelo em responsabilidade socioambiental. Exame, São Paulo, 13 set 2016. Negócios. Disponível em:

<https://exame.abril.com.br/negocios/as-20-empresas-modelo-em-responsabilidade-socioambiental/>. Acesso em: 28 out. 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 21 set 2018.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de educação ambiental e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm.> Acesso em: 21 set 2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Disponível em: <

http://conferenciainfanto.mec.gov.br/images/conteudo/iv-cnijma/diretrizes.pdf>. Acesso em: 28 out. 2018.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris. 10 dez. 1948. Disponível em:

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DURKHEIM, E. Sociologia. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1978. HAMMARSTRÖN & CENCI, v(5), n°5, p. 825 - 834, 2012. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental REGET/UFSM (e-ISSN: 2236-1170).

ORGANIZAÇÃO das Nações Unidas. Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano (Declaração de Estocolmo), adotada de 5 a 16 de junho de 1972. Disponível em:

<http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=243>. Acesso em: 28 out. 2018. ORGANIZAÇÃO das Nações Unidas. Pacto Global. Disponível em:

<https://www.unglobalcompact.org/>. Acesso em: 28 out. 2018.

PREFEITURA Municipal de Vitória. Estado do Espírito Santo. Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos. Gerência de Políticas de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos. PROJETO ESCOLA PROMOTORA DE DIREITOS HUMANOS. Espirito Santo: Vitória, 2014. Disponível em: <https://docplayer.com.br/7605189-Projeto-escola-promotora-de-direitos-humanos.html>. Acesso em: 28 out. 2018.

SANTOS, B. S. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003: 56).

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