2220 v-‹ 042 ê 2! 4
LAZER NA
EMPRESA:
UM
FENÔMENO
DE
MÚLTIPLAS
POSSIBILIDADES
José Arnóbio de Araújo Filho
Dissertação apresentada ao
Programa
de Pós-Graduaçãoem
Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina
Como
requisito parcial para obtençãoFlorianópolis
2001
Do
título de Mestreem
LAZER
NA
EMPRESA:
um
|=ENoMENo DE
MúLT|Pi.As
Poss|B||.|oAoEs
Esta dissertação foi julgada
e
aprovada' para aObtenção do
títulode
Mestreem
Engenharia
de
Produção no Programa
de
Pós-Graduação
em
Engenharia
de Produção
daUniversidade Federal
de
Santa Catarina,/ /'
Natal,
30
gdeMar
de
2001.Prof. Ri Mirand arcia, Ph. D.
oor
enadord
cursoNc
M|NAoo
Pro Giayzon Micheli Dr. **
Orientador ~
L'P.r/of* .
Ana
Maria Franzoni, Dra.,z
E ',
/
‹
49"
far'/
_
/'
`,z.I.‹J/Â_.;'¿á 1
Dedico este trabalho:
A
DEUS
que
atravésda
sua luzIlumina
meus
caminhos.i
A
minha esposa,Jeane
pelacompreensão nesse
momento
tão importante para omeu
desenvolvimento pessoal e profissional.Ao
meu
filho Gabriel,minha
fontede
Inspiração.
Aos
Meus
irmãos e sobrinhose aos
meus
pais Sr.Dedé
e D. AlzenirAgradecimentos
Ao
CEF
ET-RN,
por ter apostado nessa idéia inovadora,que
é aeducação
à distância,o que
sinaliza parauma
perspectivade
uma
instituição conectadacom
o futuro.Aos
professores eao
pessoalde
apoio,do
Laboratóriode
Ensino à Distância,da
Universidade Federalde
Santa Catarina, pelas valiosas contribuições prestadas no processode
ensino- aprendizagem.Ao
professor Dr. Glaycon Michells, pelas contribuiçõesdadas
ao
trabalho final para a obtençãodo
título de mestre.Ao
SESI, unidade Natal, pela receptividade dadana
realizaçãodo
estudo,em
especial aos professores ÍtaloAnderson
e Marta Régia.As
indústrias Vicunha S/A, Capricórnio S/A eao
Café Santa Clara pela a acolhida durantea
realizaçãoda
pesquisa.Ao
Professor Ms. LersonFemando,
pelo incentivo eorientações
de
cunho
científico prestadasao
longodo
processode
Eu às
vezes fico a pensarEm
outra vidaou
lugar Estoucansado demais
Eu
não
tenhotempo de
terO
tempo
livrede
serDe
nada
terque
fazerÉ
quando eu
me
encontro perdidoNas
coisasque eu
crieiE
eu
não
seiEu
vejo alémda fumaça
O
amor
as coisas livres, coloridasNada
poluidasEu
acordo p'rá trabalharEu
durmo
p'rá trabalharEu
corro p'rá trabalharEu não
tenhotempo de
terO
tempo
livrede
serDe
nada
terque
fazerEu
não vejo alémda fumaça que
Passa
E
poluio
arEu nada
seiEu não
vejoalém
disso tudoO
amor
e as coisas livres, coloridasNada
poluidas.Sumário
Lista
de
reduções
... ..viiiLista
de
tabelas ... .. ixResumo
... _. x Abstract ... .. xi Capitulo I - Introdução 1.1-Apresentaçãoda
problemática ... ..1 1.2-Objetivos ... _. 7 1.2.1- Objetivos geral ... ..7 1.2.2- Objetivo específico ... ..71.3-
Questões
e Hipóteses investigadas ... ..81.4- Delimitação
do
estudo
... .. 81.5- Limitações
do
estudo
... ..91.6- Justificativa e importância
do
estudo
... ..91.7-
Organização
do
estudo
... _. 11 Capítulo Il- Lazerum
fenômeno
de
muitas possibilidades 2.1-O
lazer frenteas
múltiplas possibilidadesde
interpretação ... .. 132.2- Lazer,
um
fenômeno
historicamente construído ... ..25
2.3- Mas, afinal
o
que
vem
a ser lazer? ... ..352.4- Lazer:
que
futuronos aguarda?
... ..432.5- Lazer, trabalho
e
indústriacomo
conciliá-los ... ..452.6-
O
que
buscar? Qualidade de
vidaao
aumento
de
produtividade .... ..482.7-
A
industrializaçãono
RioGrande
do
Norte ... ..512.8- Natal
e
o processo de
industrialização ... ..542.9-
A
indústriabuscando
qualidadede
vidasem
perdera
produtividade ... ..60Capítulo IV-
A
pesquisa
4.1-
O
fenômeno do
lazer,na
visãodo grupo
gestor ... ..4.2- Lazer
na
indústria,uma
nova
perspectiva parao
empresário
4.3-
O
trabalhadorda
indústria ea
sua
visãodo
lazer ... ._4.4- Trabalhador, dirigente
e
gestor qual perspectivapropor?
.... ..Capítulo V-
Conclusões e
recomendações
5.1-
Considerações finais
... ..5.2-
Recomendações
visando
a
melhoriado
projeto ... ..5.3-
Sugestões
para futuros trabalhos ... ._6-Referências bibliográficas ... ..
7-Anexos
...Lista
de
Reduções
Abreviaturas
SESI
Serviço
Socialda
IndústriaPAER
Pesquisa
da
Atividade
econômica
Regional
PO
pessoal
ocupado
SEADE
Sistema
Estadual
de
Análise
de
Dados
DR
Departamentos
Regionais
SUDENE
Superintendência
do
desenvolvimento
do
Nordeste
Tabela
Tabe
a Tabeia TabelaTabe
Tabe
Tabela 7:1: Duração dos diferentes tempos sociais ... .. 2:Unidades locais e pessoal ocupado,
segundo
divisão da indústria3:Unidades locais e pessoal ocupado,
segundo segmentos
... _.4: Caracterização dos trabalhadores,
segundo
a idade ... .. a 5: Caracterização dos trabalhadores, quanto ao sexo ... ._a 6: Caracterização dos trabalhadores, quanto a escolaridade ... ._
Resumo
O
presente trabalho temcomo
objetode
estudo, as questões pertinentesao
lazer e as suas múltiplas possibilidades de inserção
no
ambientede
trabalho,evidenciando assim, as contribuições
que
estefenômeno
socialpode
trazer atodos os trabalhadores envolvidos no processo produtivo
da
sociedade contemporânea. Fato este,de
significativa relevância, haja visto, as inúmeraspublicações que discutem o
tema
nas últimas décadas.A
partirda
ênfasedada
ao
tema, sentiu-se a necessidadede
averiguarcomo
estavasendo
tratada a questãodo
lazer dentroda
indústria na cidadede
Natal/RN.À
partir daí realizou-se o estudo sistematizado atravésda
revisão bibliográficaque
discute a problemática do lazer e a sua possível inclusão no processo produtivo, finalizandocom
a coletade
dados atravésde
entrevista, juntoaos
gestoresdo
programa
de
lazer, os dirigentes das indústrias e os trabalhadores atendidos pelo projeto.Após
análise dosdados
coletados, evidenciou-seque
a inclusãode
uma
políticade
lazer, dentrodo
setor industrial,pode
trazer, tanto para osegmento
dos trabalhadores, quanto para os detentoresdos
modos
de
produção,
mudanças
de
paradigmas dentrodo
modo
de
produção industrial,o
que pode
possibilitarum
significativoaumento
da produtividade ocasionadopela
adoção de
políticasde
lazer. Portanto, diante de tais evidências, confirma- sea
hipótese formuladade
queo
lazer vivenciado dentrodas empresas
apresentam evidências
de
funcionalidade.Palavras chaves: Lazer, Trabalho, Sociedade Industrial, Qualidade
de
vida,Abstract
This
work
has like of study, questions related to Ieisureand
multiplespossibilities of insertion
on
environments of work, so showing the contributionsthat this social
phenomenon
can bring for all workers involved in the productiveprocess of the present society. This fact is so important, as a result, numberless
publications discuss this subject in the last decades. With the emphasis, given
to this theme, everybody felt necessity to find out
how was
being treated theIeisure question at industry in Natal- RN.
Then
, itwas
made
a systematized study through the bibliographical review that discusses the problem of Ieisureand
your possible inclusion on productive process, ending with the interviews,close to the conductors of the Ieisure program, the
managers
of industriesand
workers attended by the project, Ieisure in the business, after analyses of result that
was
collected,became
evident that the inclusion of a Ieisure political, in thisindustrial area can bring for workers and undertakers, changings of paradigms
in the
way
of industrial production, it can anable a significative increase ofproductivity occasioned by the adoption of Ieisure policy. So, in front of such
evidencies, affirm the hypothesis that the Ieisure in the business
show
evidencies of functionality.
Key
word: Ieisure, work, industrial society, life of the quality, productivity,Capítulo
I1-INTRODUÇAO
1.1
Apresentação da
problemática
A
sociedade pós-modernaou
pós-industrial apresenta diferençassignificativas
no
que
diz respeito à estrutura sÓcio-política-econômica
mundial.Essas mudanças, segundo
Schaff(1995),vêm
sendo
obtidasem
virtudedos
avanços da
microeletrônica, engenharia genética eda
engenharia nuclear.Com
base na
análise desses estudos,algumas
evidênciaspassam
a ganhar“corpo” nos estudos
da
futurologia, dentre tantas perspectivas - aclonagem
humana,
os transgênicos e a diminuição dos postosde
trabalho-que
suscitamgrandes discussões.
Como
se haveráde
convivercom
o
fantasmado
desemprego
numa
sociedadeque
aprendeua
vivercom
a figurado
funcionáriopadrão
no
seu frenesi nas indústrias, escritórios, comércioou no
setorde
serviços?No
entanto, muito antes de se vislumbrar essa perspectivada
diminuiçãodos
postosde
trabalhoem
decorrência dos processosde
robotização eda
automação, tanto os operários - ligados sobretudo aos
movimentos
sindicais -quanto os empresários - preocupados
em
quem
iria consumir os seusprodutos-
da
sociedade industrial, apesar dos interesses antagônicos,passaram a
sinalizar para a necessidadede
um
tempo
disponível. -neste
novo modelo de
sociedade, pois,segundo
Requixa (1976), antesda
sociedade industrial
não
existia essa divisão tão perceptível entre ostempos
de
trabalho e lazer, pois os doistempos
sociais muitas vezes se confundiam.Para tanto, basta
que
seobservem
os modelos das sociedades indígenas e rurais.Logo,
com
a incrementação desse lazer institucionalizado na atual realidade social, observa-seque
este,em
funçãoda
suanova
característica,passa
a ganhar contornos dos mais variados.Sendo
assim, ele passaa
atender às mais diversas correntes ideológicas, pois, assim
como
o
trabalho fragmentado, o lazer realizadode
uma
forma descontextualizadatambém
pode
se transformar
em
objetode
alienação.Logo
, é dentro dessa Óticaque
Marcellino (1995)chama
a atenção para as abordagens funcionalistasdo
lazer,
que são
divididasem
quatro vertentes assim distribuidas: a utilitarista,marcada
pela caracterização do lazercomo
um
processode
recuperaçãoda
força
de
trabalhoou
como
um
meio de desenvolvimentode empresas ou
produtos;
o
lazercomo
função compensatória, no sentidode compensar
asmazelas
provocadas pelotempo
socialdo
trabalho e dos outrostempos
sociaisque
possuem
um
caráterde
obrigatoriedade, a função moralista,como
sendo
um
fator responsável pela prevençãode
problemas sociaiscomo
drogas,violência, equilíbrio emocional; o lazer na sua perspectiva romântica,
marcado
pelo saudosismo das atividades vivenciadasnum
passado
distante,em
que
é
perceptível a exaltaçãode
valores das sociedades tradicionais.Portanto, através
de
cadauma
dessas observações realizadas pelo autor supracitado ,podem
ser observadas as várias nuancesque
estenovo tempo
social
pode
vir adesempenhar
em
nossa vida.Ao
longodo
processo histórico da sociedade industrial, e hojecom
osurgimento desta nova sociedade
que
algunsdenominam
de
sociedade pós-moderna(Negroponte,1995), pós-industrial(
De
Mais,2000)ou
sociedadeinformática( Schaff,1995), alguns fatores nos
parecem
evidentes,como
a
contínua diminuição dos postos
de
trabalho no cenário mundial. Neste, o automatismo - produtoda
revolução tecnológica- esta presenteem
todos ossetores
da nossa
economia, fazendocom
que
profissionaisque
atépouco
tempo
faziam partedo
nosso cotidiano deixemde
existir.Esse
fato levoupesquisadores
das
mais variadas esferasdo
conhecimento a desenvolverem pesquisasque apontam
para a diminuição da jornadade
trabalhocomo
uma
das alternativas para amenizar a crise instaurada. Logo, será
mesmo
que
talmedida
poderá ampliar otempo
disponíveldo
trabalhador, criando assimum
panorama que
propicie o incrementode
vivênciasde
lazer para essescidadãos, diminuindo assim as seqüelas produzidas por este impacto
de
ordem
social?
Esse
éo
lazer na perspectiva funcionalista.Na
verdade, tal afirmação nos suscita muitos questionamentos.Como
vislumbrar dentroda
perspectiva deuma
formade
apropriaçãodo
capitalcada
vez mais “selvagem” a possibilidade
do
trabalhador,ao
ter a sua jornadade
trabalho diminuída, continuar a ter o
mesmo
poderde
subsistir,ou
seja, seráque
elenão
acabará fazendodo
seutempo
disponível maisum
momento
para
complementar
o seu orçamento familiar?Mesmo
que
sejade
uma
maneira informal, sobretudo nos países subdesenvolvidos,
onde
se percebenecessidades básicas?
É
evidenteque não
setem
a pretensãode
classificar as vivênciasdo
lazercomo
mola propulsorano
equacionamento dos problemas oriundosda
evolução tecnológica, pois para
que
haja a solução destes transtomosprovenientes
da nova
realidade mundial é necessáriauma
políticade
reestruturação mundial
que
propicieaos
habitantes da Terra condições dignasde
sobrevivência,em
que
otempo
disponívelde
cada cidadão possa ser vivenciadocom
atividades impregnadasde
prazer.Além
desse fator,um
outroque tem
adquiridoao
longodos
anosuma
importância
cada
vez mais acentuada na sociedade atual é a propagaçãodas
práticas
de
lazer ligadas aos interesses físico - desportivoscom
finalidadede
aliviar tensões, angústias, estresse e lesões
do
esforço repetitivo, geradosem
decorrência
das
atividades profissionais. Enfim, o lazercom
finscompensatórios.
Então, percebe-se claramente que, apesar
de
todos os estudos realizados, alguns autores ainda caracterizamo
lazercomo
algoque
se contrapõeou
funciona
como
auxílioàs demais
esferas sociais,ao
contráriodo
que
preconiza Marcellino (1995, p.16),que
dizque
devemos
nos pautar: “na consideraçãodo
lazer
como
cultura vivenciadano
'tempo disponível'não
em
contraposição,mas
em
estreita ligaçãocom
o
trabalhoe as
demais esferasda
obrigaçãoda
vida social”.Para tanto,
é
necessárioque o
conceitode
lazer e›‹trapo|e o sensocomum
e
seja disseminadode
uma
forma mais abrangente,não
limitado aum
quais todos os "rastros"
do
turistaem
potencial são pré-definidos (onde comer,onde
dançar,onde
comprar), o excesso de álcool aosdomingos ou
feriados,sinônimo muitas vezes
de
fugada
realidade ou aos irresistiveis programas televisivosdo
domingo. Portanto,que
o lazer seja incorporado definitivamentecomo
parte integranteda
cultura da humanidade,que não
deva ser entendidounicamente
como
objetode
consumo
passivo a serviço das indústriasdo
lazer.Para melhor exemplificar o
que
se pretende entender por lazer, recorre-se aMarcellino(1995, p.31),
que
define lazer, como:(...) a cultura- compreendida
no
seu sentido mais amplo- vivenciada(praticada
ou
fruída) notempo
disponivel.O
importantecomo
traço definidor,é o
seu caráter “desinteressado" dessa vivência.Não
sebusca, pelo
menos
fundamentalmente, outrarecompensa além da
satisfação provocada pela situação.A
“disponibilidadede tempo"
significa possibilidade
de opção
pela atividade práticaou
contemplativa.É
evidenteque apenas
com
uma
definição isoladanão
sepode
caracterizar estecomplexo fenômeno
socialdenominado
lazer, no entanto essa definiçãoserá
de
suma
importância paraque
se possa suscitar,desde
já, a discussãoque
será travadaao
longodo
estudo.Logo, lazer, esse
fenômeno que desde
os povos primitivos se faz presentena
históriada
humanidade,com
o adventoda
revolução industrial,ganha
uma
nova
feição,em
virtudedo
surgimento detempos
sociais padronizados, surgidos a partirdo
processode
institucionalização dostempos
sociais.Nessa
lacuna criada, surge
a
necessidadehumana
da ocupação do tempo
disponívelcom
vivênciasque
propiciemo
desenvolvimento pessoal e socialdo
individuo.É
nessa perspectiva que,ao
longo das últimas décadas, o lazervem
despertando nos meios acadêmicos
uma
atenção cada vez maior,em
decorrênciadas
mudanças
estruturais da sociedade, proporcionadas pelas revoluçõesda
microeletrônica, engenharia genética e engenharia nuclear,como
enfatiza Schaff (1995), que, junto ao sociólogo italianoDe
Masi(2000),vem
apontando
o lazercomo
um
dos instrumentosque
podem
contribuir nadiminuição
da
lacuna criada a partir das grandes transformaçõesda
sociedade.
Um
outro pontoque merece
ser destacado nessa perspectiva éque
oempresariado,
ao
se preocuparcom
o ritmo da produção, passa a vislumbrarno
lazerum
aliado importantíssimono
processo produtivode
sua empresa,que, aliada
ao
ideal ergonômico -de
oferecer melhores condições laboraisao
trabalhador - aponta para o lazer
como
uma
ferramentade
fundamentalimportância
no
processo produtivo.Em
facede
tais evidências, éque
se questiona: Quais os lazeres difundidos pelosprogramas
de
lazer nasempresas?
Seráque
verdadeiramente ostrabalhadores estão vivenciando o lazer no seu
tempo
disponível,ou
uma
simples prática alienante
que
visaapenas ao aumento da
produção? Logo,em
virtude
de
tais características, buscar-se-á diagnosticar quais as vivênciasde
lazer aplicadas nas
empresas da
cidadede
Natalem
parceriacom
o Sen/iço Socialda
Indústria.1 .2-Objetivos
1.2.1- Objetivo geral
Identificar qual a
concepção de
lazerque
fundamenta o programa "Lazerna
Empresa"
difundido peloSESI
junto aos trabalhadoresda
indústria nacidade
de
Natal-RN.1.2.2- Objetivos específicos
o Diagnosticar os tipos
de
vivênciasde
lazerque
são difundidoscom
ostrabalhadores
do
setor industrialda
cidadede
Natal;ø Identificar qual a perspectiva
de
lazer que é perseguida pelosprofissionais responsáveis pela idealização
do
programade
lazerna
indústria;o Identificar quais as literaturas
que fundamentam
a proposição dasvivências
de
lazer desenvolvidas nos programasde
lazer oferecidosao
trabalhador
da
indústriada
cidadede
Natal;o Obter a caracterização
do
profissionalque
elabora os programasde
lazer para os trabalhadoresdo
setor industrialda
cidade de Natal;o Verificar se os profissionais
que desenvolvem
os programasde
lazerna
empresa
possuem
conhecimentodo
que
vem
a ser ergonomia,e
as relações estabelecidas entre esta eo
lazer;oDiagnosticar
como
os trabalhadores e classe dirigentedas
indústriasentendem
o lazer.1.3.
Questões
eHipóteses
investigadasExiste
um
predomínio das práticas fisico-desportivasem
detrimento dosoutros interesses
do
lazer no setor industrial da cidadede
Natal;A
compreensão
limitada do lazer provoca equívocosno
entendimentodo
que
vem
a ser caracterizadocomo
lazer;`
A
ergonomia
se utilizado
lazernuma
perspectiva funcionalista;A
pouca
diversificação das vivênciasdo
lazer leva os trabalhadores acriarem verdadeiras monoculturas
do
lazer;Apesar da fundamentação
teórica, osu
profissionais
que desenvolvem
oprograma de
lazer naempresa
acabam
não
ampliando a visãode
lazer aos trabalhadoresque
usufruem do projeto;Os
profissionaisque
elaboram e executam os programasde
lazer sãobasicamente professores de
Educação
Física;Apesar da
implementaçãode
uma
política de lazerna
empresa, osfuncionários atendidos pelo programa
acabam
não
ampliando a suacompreensão de
lazer.1.4. Delimitação
do
Estudo
Profissionais responsáveis pela elaboração do
programa
de
lazerna
empresa do
SESI-RN, dirigentes e trabalhadores dasempresas
receptorasdo
1.5. Limitações
do
Estudo
Inicialmente, pretendia-se desenvolver
um
estudode
caso, junto aum
programa específico
de
uma
indústria,porém
descobriu-seque
nenhuma
indústriada
cidade possuiuma
políticade
lazerque
lhe seja própria,ou
seja,todas as indústrias
da
cidadede
Natalque
desenvolvemprogramas de
lazercom
seus funcionários estão vinculadasao
programa “Lazer naEmpresa”
do
SESlINatal.
O
tempo
destinadoao
contatocom
asempresas
foi restrito, pois apesarda
disposição demonstrada
em
colaborarcom
o estudo, sabe-seque
elaspossuem
um
cronograma internoque não pode
ser modificado,em
virtudede
prejudicaro
bom
andamento do
processo produtivo.Houve
recusade
alguns trabalhadoresem
responder às entrevistas, poisalém destas terem sido realizadas
sempre
nos intervalosde almoço desses
operários, trata-se
o
entrevistadorde
uma
pessoa estranhaao
processoprodutivo
da
empresa, provocandouma
determinadadesconfiança nos
trabalhadores.
` '
1.6. Justificativa e Importância
do
estudo
Como
já foi enfocado anteriormente, o lazer, nos últimos anos,vem
sendo
objeto
de
discussãoem
todas as instâncias da sociedade,desde
omeio
acadêmico
até a populaçãode
um modo
geral.oportunizado
o
lazerno
localde
origemda
sociedade industrial, a indústria.Ou
seja,como
estásendo
desenvolvida a vivencia das “práticas”de
lazernesse
segmento
social. Questiona-se ainda,em
qual perspectivafundamentam-se
os profissionaisque
elaboram tais programas.A
Educação
Física possui laços muito estreitos na produçãodo
conhecimento científico
do
lazer. Basta observar as inúmeras publicaçõesproduzidas pelos profissionais da área nos últimos
anos
como
Mirtes (1998),Stoppa (1999),
Werneck
(2000), entre outros.Foi a partir dessa perspectiva
que
se vislumbrou a oportunidadede
seencaminhar
um
estudoque
pudesse contribuir na discussãodo
tema
"lazer" eo seu potencial propagador
de
qualidadede
vida.Sendo
assim,ao
partirda
identificação dasconcepções
pedagógicasque
fundamentam
a prática dos profissionaisque
elaboram osprogramas de
lazer para os trabalhadoresda
indústria da cidadede
Natal, será obtida aestratificação
do que
vem
sendo
realizado e, através desses dados, serãoidentificados os principais problemas encontrados na formulação
dos
programas
de
lazer, obtendo, assim, a caracterizaçãodos
profissionaisresponsáveis pela elaboração desses programas. E,
após
esse diagnóstico,poderão ser oferecidos cursos
de
qualificação, requalificaçãoe
especialização,
no
sentido de ampliar o entendimentode
lazerdesses
profissionais e,em
conseqüência,do
trabalhador assistido por tais programas,1.7.0rganização
do
Estudo
O
1° capítulo,que
é introdutório, alémde
apresentar os objetivos,a
delimitação
do
estudo e as hipóteses levantadas, visa a situar a problemáticado
lazer na sociedadeem
que
se está inserido, discutindo sucintamentesituações reais
do
nosso cotidiano- desemprego, problemas ergonõmicosno
trabalho- e, a partirde
tais constatações, buscar entendercomo
a
indústria seapropria deste
fenômeno denominado
lazer.Ou
seja, qual a perspectivaque
se pretende alcançar
com
o desenvolvimentode
vivênciasdo
lazerna
indústria.
No
2° capítulo, buscar-se-á definir oque
vem
a ser lazer a partirde
uma
evolução histórica dos estudos propostos por Lafargue (1890),
Dumazedier
(1970), Schaff (1995) eDe
Masi (2000),numa
perspectivade
se estabelecer quais asconcepções
de lazerque fundamentam
essas correntesde
pensamento, identificando as interações estabelecidas entre os binômios
lazer/trabalho e lazer/sociedade
de
consumo.A
partirde
tais perspectivas, procurar-se-á vislumbrar as possibilidadesde
vivênciade
lazernão
com
um
caráter puramente mercadológico,mas
como
uma
manifestaçãohumana
e,a
partir daí, estabelecer
algumas
reflexões a respeitoda
conceituaçãode
lazer,além
de
identificar a transição da sociedade pré-industrial para a industriale a
evolução histórica
desse
fenômeno
no âmbitodo
RioGrande do
Norte ede
Natal, estabelecendo as características assumidas por esse processo.
Dessa
de
um
melhor desenvolvimento próprio. Dentre esses conjuntosde
métodos, destaca-se a ergonomia, que,em
face dasua
característica, pretendeestabelecer relações
com
ofenômeno do
lazer.No
3° capítulo, será descrita a metodologiaempregada
na pesquisa,que
terá
como
objetosde
investigação a realizaçãode
uma
entrevista semi- estruturadacom
o grupo gestordo
programa,com
a classe dirigenteda
empresa
ecom
os trabalhadores envolvidosno programa
“Lazerna
Empresa”do
SESI/ Natal.O
4° capítulo serácomposto
pelas transcrições das entrevistas,em
que
serão identificadas, através das respostas
dos
entrevistados, quais asperspectivas
de
lazer pretendidas pelos profissionaisque
desenvolvemo
programa “Lazer na Empresa”
do
SESI/Natale
como
dirigentes etrabalhadores vislumbram o lazer dentro
da
empresa.No
5° capítulo, serão apresentadas as conclusõesda
pesquisa para amelhoria
do
programa "Lazer na Empresa", objetivando, assim, incrementar asCapítulo
ll2 -
LAZER,
UM FENÔMENO
DE
MUITAS
POSSIBILIDADES.
2.1
O
lazer frenteàs suas
múltiplas possibilidadesde
interpretaçãoAtualmente,
em
todos ossegmentos
sociais eem
especialno meio
acadêmico, muito se tem escrito a respeito
de
dois problemasque
vèm
desequilibrando as estruturas da sociedade
em
vigor. Dentre os inúmerosproblemas apontados, resolveu-se iniciar estudo a partir
de
dois deles.O
primeiroé
relativo à reivindicaçãoda
populaçãoem
geral pela melhoriada
qualidade
de
vida, e osegundo
écom
relaçãoao desemprego
estrutural-o
que
geraum
maiortempo desocupado
- provocado sobretudo pelo processode
automação
nas indústrias, nos escritórios, etc.Com
isso,ao
adentrar no século XXI, observa-seque
alguns paradigmasda
sociedade contemporâneacomeçam
a ter as suas estruturascomprometidas e, nesta lacuna gerada,
surgem
novas característicasque
passam
a assumir formas mais consistentes, dentrealgumas
características destanova
sociedadedenominada de
pós-industrial.É
percebidauma
fortetendência
de
valorizaçãodo
"tempo disponível”do
trabalhador,no
entanto,nunca é demais
salientarque
essenão
éum
fenômeno
tão recente, pois, jáem
1880, Paul Lafargue lançava
uma
sériede
panfletos revolucionários, publicados no jornal L'ÉgaIité,denominados
O
Direito à preguiça,em
que
qual homens, mulheres
e
criançaseram
submetidos a longas jornadasde
trabalho diário e a condições
subumanas
de
sobrevivência.O
autor supracitado entendiaque
atravésde
uma
maior organizaçãodo
proletariado poderia-se,
ao
invésde
reivindicar o direito a esse trabalho,quase
sinônimo
de
tortura, requerer maistempo
livre, pois Lafargue compreendiaque
o
trabalho realizado porum
operário deveria ser realizado porum
grupo maiorde
operários. Portanto, otempo
socialdo
trabalho poderia ser melhordistribuído ,
o que
proporcionaria maistempo
disponível,como
enfocaLafargue(1999, p.84),
ao
afirmar que:Essas
misérias individuaise
sociais, por maiorese
maisnumerosas
que
sejam, por mais eternasque
possam
parecer, desapareceräocomo
as hienase
os chacaisquando o
leão aparecerno
diaem
que
o
proletariado disser: “ queroque
assim seja”.Mas
paraque
tenhaconsciência
de
sua força,é
precisoque o
proletariado písoteie ospreconceitos
da
mora/ cristã,económica e
livre -pensadora
;épreciso
que
volte a seus instintos naturais,que
proclameos
direitos àpreguiça, mil vezes mais nobres
e
mais sagradosque os
tísicos direitosdo
homem,
arquitetados pelosadvogados
metafisicosda
revolução burguesa.É
precisoque
ele se obrigue anão
trabalhar maisde
trêshoras por dia,
não
fazendo mais nada, só festejando, pelo restodo
diae
da
noite.preguiça", conclui que: “O direito à preguiça proposto por Lafargue
não
é
uma
irreverência 'materialista'
de
um
ateu empedernido,e
sim a crítica materialistado
trabalho assalariadoou do
trabalho alienado, poisé
esteo
objetodo
direitoà
preguiça ”.Logo, pode-se observar nesses textos, escritos
no
finaldo
século XIX, anecessidade
do
operário possuirum
tempo
disponível,não de
uma
formaalienada, semelhante
ao que
acontececom
o trabalho e o seu ideal ético -cristão- burguês,
em
que
era no e pelo trabalhoque
o serhumano
alcançavao
status
máximo de
cidadão livre ede
escolhidodo
Senhor, conseqüentemente,o único ideal da vida
do
proletário.Na
década de
60, na França,o
sociólogodo
lazer, Joffre Dumazedier,através
de
pesquisas,começa
a vislumbrar o surgimentode
uma
civilizaçãodo
lazer,
em
facedo
conjuntode
mudanças
estruturais provenientes, dentreoutras características, dos processos
de automação
das indústrias dos paísesdo
PrimeiroMundo.
Lá o lazer é apontadocomo
um
possível agentede
transformação social das outras instituições sociais,
como
osmovimentos
sindicais, família, trabalho e escola.O
que
Dumazedier(1994, p.21)denomina de
revolução culturaldo tempo
livre
pode
ser classificadocomo
uma
revolução atípica,em
facedo novo
paradigma
proposto pelo autor,ao
afirmar que:No
passado,uma
revoluçãosempre
era associada aum
tempo
de
luta feroz, barulhenta, espetacular,
e
igualmente sanguinária, ilusória.evidentemente outra,
não é
produtode
uma
luta política.É
silenciosa, oculta.
É
pacíficae
profunda.Avança no nosso
cotidianode
geração a geração,mesmo
senäo
for reconhecida. Progride subterraneamente,como
uma
toupeira.Camargo
apud
Dumazed¡er(1994, p.16),ao
prefaciar o livro "A revoluçãocultural
do tempo
livre",também comunga
da
idéiade Dumazedier de que
oaumento do tempo
livreem
nossa sociedade éum
fatorque
altera de forma significativa a estruturada
sociedadecontemporânea
eafirma
que:Não
há
como
negar a forçado
fio condutorde
sua análise, a hipótesede que o tempo
livre criadona
sociedadeé
uma
fontede
revisão ético-estética
das
relaçõesdos
individuos consigomesmos,
com
os outrose
com
o
ambiente fisico, vale dizer, fontede
uma
autêntica revoluçãocultural
que
afetanão apenas
essemesmo
tempo
livre,como
ostempos que
elechama
de
obrigados( trabalho profissional , escolare
familiar)e
de compromissados
(vida socioespiritual e sociopolitica).Isso faz crer que, para Dumazedier, o
tempo
social destinado ao lazer éapenas
um
apêndiceda
organização políticada
sociedade,como
analisaBruhns(2000, p.13):
integrante
de
uma
situação sociale
culturalde
caráter global (issorequerena
um
estudodas
necessidadesda
sociedade,de
suas classese
grupos),não
captando a dinâmica social permissivadessas
manifestações.
Tal
pensamento
pode
ser evidenciadoquando
Dumazedier(1979, p.59) afirma que: "Tudo
ocorrecomo
sea
éticado
lazer tivesse relaçõescom
as
outras éticas, as
do
trabalho,do
dever familiar,do
serviço social, etc. Estas limitam, condicionam aquela, mas, porsua
vez,são
influenciadas por ela(p. 59).Essa
afirmação parece confusa, poisem
dado
momento
Dumazedier(1979)apresenta o lazer
como
um
componente
apolítico, independente,como
se osvalores emergldos deste
tempo
por si sósfossem
suficientes para se realizaressa revolução
que
ele afirmaque
está prestes a acontecer. E, mais ainda,é
como
se as características pessoaisde cada
um
pudessem
ser absolutamenteindependentes,
onde
nosmomentos
de
trabalho fosse possível assumirum
determinadopersonagem e
nosmomentos
dedicadosao
lazer sepudesse
interpretar
um
novo
papel, ou seja, 'assumiruma
dupla ou atémesmo
triplapersonalidade
de
acordocom
as características dostempos
propostos.No
entanto,em
seguida, o autor afirmaque
essetempo
socialassume
uma
postura dialética,
ao
ser influenciado e influenciar osdemais
tempos
sociais.Independentemente
do
caráter aparentemente apolíticoda
sua obra, osseus estudos empíricos são
de
suma
importância na sistematizaçãoda
sociologia
do
lazer , poisservem
de
suporte para explicar algunsDumazedier
(1994) desenvolveuma
sériede
pesquisasde
característicaquantitativa,
que
visa comprovar as evidênciasdo
surgimentodessa
sociedadedo
lazer, respaldada a partir dosdados
apresentados nos seus estudosempiristas,
como
oque
será apresentado na tabela abaixo,que
demonstra o crescimentodo tempo
livreem
comparação ao tempo do
trabalho.Tabela
1:Duração comparada
dos diferentestempos
sociaisde 1975
a 1985,na
populaçãoacima de
18 anos( média semanal,incluindosábado
e domingo),
'l
'1975 -
~ '
'1985,
Tempo
livre24h16min
28h28min
Tempo
de
trabalho familiar, incluindo bricolagens utilitárias oudesinteressadas
de
lazer ede
semi- 31hO2min
31hO3min
lazerde
todosos tipos
Tempo
de
trabalho profissional ePara-profissional, incluindo a formação,
mesmo
voluntária, sobre diversos28h07min
24h44min
assuntos
Fonte: Dumazedier(1994, p. 34)
É
aindaDumazedier
(1979) que, a partirdo
estudode
várias conceituaçõesde
lazer, estabelece a classificação dos interesses culturaisdo
lazer, e osdivide
em
cinco categorias: os interesses fisico - desportivos, os artísticos, os
manuais,
os
sociaise
os intelectuais.E
Camargo
(1999) acrescenta maisum
interesse:o
turístico.Dumazedier
(1979,p.235) explicita, ainda,que
a efetivaçãode
uma
verdadeira civilização
do
lazer deve passar pela " regressão progressivada
assim
como
de
uma
nova
aspiração históricada pessoa à
expressãode
simesma".
Portanto, apesar
de
o autor vislumbrarem
sua obra o surgimentode
uma
sociedade fundada
no
lazer, na qual é evidenciada a existênciade
fatores concretos para a efetivação desta,Dumazedier
(1979) explicitaque
isso sóserá possível
de
acontecerem
razão da diminuição dos controles impostospelas instituições
como
o trabalho, a família etc. e pela buscada
expressãodo
seu eu.
Seguindo essa perspectiva sugerida por Dumazedier, e
em
decorrênciade
algumas
tendênciasque
caracterizam a sociedade pós-industrial, constata-seo aparecimento
de
inúmeros pesquisasque
visam diagnosticar a problemáticado
mundo
no
qualestamos
inseridos e, através destes, apontarum
norteque
possibilite o solucionamento
de
tais questões.É
nesse sentidoque o
Clubede
Roma,
entidade científicaque
congrega cientistas, humanistas, industriaisdo
Ocidente e eruditos
do
TerceiroMundo,
concentra seu focode
atenção.Porém, o
que
se pretende neste estudo é discutir, entre os inúmeros estudosrealizados por este grupo, o trabalho produzido por Schaff (1995), "A
Sociedade lnformática",
no
qual o autor aponta paraum
conjuntode
transformações mundiais geradas pelas revoluções
da
engenharia nuclear,engenharia genética
e da
microeletrõnica, evidenciando, assim, as preocupaçõesque
se manifestam sobretudoem
funçãoda
sensível diminuiçãodos postos
de
trabalho e das possíveis implicações geradas por esses fatosna
sociedade contemporânea.
suposta diminuição
do tempo de
trabalhoe do tempo desocupado
gerado pelodesemprego
estrutural,que
Schaff (1995) discute a possibilidadede
que, sea
população,
de
um
modo
geral,não
possuir formação sólida para a vida,nem
possibilidades
de
usufruir dessa conquistade
uma
forma salutar, essetempo
que
tanto foi reivindicado poderá se transformarnuma
“bomba” prestes aexplodir,
em
virtudedo
mau
aproveitamentodo tempo
disponívelde cada
cidadão.
Sendo
assim, ele questiona esse conjuntode
efeitos criado por essasmudanças
estruturais da sociedade.É
utilizando-se dessa lógicaque
Schaff (1995, p. 118) afirma:Na
medida
em
que
este sentidonao é
substituído por outro, surgea perigosa possibilidade
de
a juventude ficar àmercê da
patologiaque
se
manifesta hojeem
diferentes paises soba
formada
toxicomania,do
alcoolismo,da
de/inqüência juvenil etc.É pensando
nessa possibilidadede
criaçãode
um
enorme
vazioexistencial, provocado pela perda
do
trabalho,que
Schaff (1995, p.133)continua:
Este o motivo pelo qual se deve ensinar as
pessoas(
especialmenteos
jovensdevem
ser estimulados peloexemplo e
incentivo à competição) a usaro
própriotempo
livreem
atividades esportivas,no
turismoe nos
diferentes hobbys.O
ensinodo método de
coercitiva,
mas
através da propaganda,no
melhor sentidodo
termo.Logo, apesar
de
o autornão
fazer usodo
termo lazerde
uma
forma tãoexplícita, percebe-se claramente
que
otema
é sugeridocomo
uma
das
inúmeras possibilidades
de
amenizar os problemas gerados pelasmudanças
vislumbradasno
cenário mundial. Porém, é conveniente ressaltar que, apesarda
importânciaque
ele atribui ao lazerem
sua obra,não o
apontacomo
único pontode equacionamento
- aeducação
continuada, a desmitificaçâodo
trabalho e a redistribuição
da
riqueza mundial são outros pontos discutidos nesta obra - das mazelas provocadas porque
este conjuntode
transformações por
que
passa a sociedade contemporânea. Schaff (1995)entende
que
para o solucionamentode
tais problemas se faz necessáriauma
reorganização social
que
se inicia pela reformulação pessoalde cada
indivíduo,
ou
seja,que
passe poruma
mudança
de
atitude,como
bem
observaao
concluir que:Pode-se
prever,com
boa
probabilidadede
acerto,que a
riqueza material perderáseu
caráterde
valorque
determina-como
acontecehoje-
o
objetivoda
atividadeem
massa.Quando
setem
tudoo
que
se necessita para levaruma
vidahumana
de
alto nivel,a
acumulação de
riquezae
a conversão deste objetivoda
vidatornam-se desnecessárias
e
atémesmo
ridículas. Isto significaque
a
alternativada
posiçãohumana
que
se expressana
formulação ter'favorável
ao
'ser'. (...)uma
situaçãocomo
esta significauma
mudança
fundamentalno
sistemade
valores,o
que
seriacompreensível
no
casode
homens
tipohomo
universalise
homo
Iudens (p. 144).
Portanto, é possível perceber
que
Schaff (1995) atribuiao
lazeruma
perspectiva funcionalista,ao
concebè-locomo uma
oportunidadeque o
serhumano
possuide
preencher os possiveis vazios existenciais produzidos pelas lacunas geradas pela perdado
trabalho.Um
outro autorque
atualmentetem
provocadouma
inquietação tantono
meio empresarial quanto
em
alguns setoresde
trabalhadoresé
o sociólogodo
trabalho o italiano,
Domenico
de Masi, autordos
livrosO
Futurodo
Trabalhoe
O
Ócio Criativo, entre outros,que
discutema
possibilidadede
uma
transformação substancial na organizaçãodo
trabalho, apresentando atravésde
uma
retrospectiva histórica a problemática gerada pelotempo
socialdo
trabalho.
De
Masi(2000, p.11),com
seus escritos,tem
sucitado inúmerosquestionamentos,
ao
preconizarque
em
todaação
estejam presentes trabalho,jogo
e
aprendizado.Como
aceitarque
uma
sociedadeque
ainda possuio
trabalhocomo
mola
propulsora, admita a sua “contaminação”
com
o jogoe
aaprendizagem?
De
Masi(2000, p.176) exemplifica melhor essa questão
ao
afirmar que:Os
trabalhosque
permanecem
como
monopóliodos
sereshumanos,
circunscntos a
um
lugarou
intervalode tempo
específico. Portanto,invadem o tempo
livree de
estudo, confundindo-see
misturando-secom
o
jogoe
com
o
aprendizado. Trabalho, estudoe
diversãoconfundem-se cada
vez mais.Na
verdade, oque o
autor propõenão
éuma
sociedadedo
ócioou do
lazer,
e
simuma
sociedadeque
se apropriade algumas
características destes,com
o
propósitode
oferecerao
trabalhadorum
ambientede
trabalho maisagradável.
Dessa
forma, ele sugere a flexibilização dostempos
sociais,que
surgem
a partirdo
processode
transiçãoda
sociedade rural para a sociedadeurbano- industrial.
Com
o advento dessa nova formade
organização social, otrabalhador passa a ter
o
processo produtivo atrelado aum
tempo
artificial -o
tempo
cronometrado -e
não
mais aum
tempo
natural -o
ritmoda
natureza _Uma
outra caracteristica citada pelo autor supracitado éa
valorizaçãodo
trabalho intelectual,ou
seja,com
o processode
automação,a
mão
-de- obrado
trabalhadoré
substituída pela “mente -de- obra”. Issopode
ser evidenciadoquando
De
Masi (2000,p.188) conclui que: "Com
respeito à sociedadeindustrial, a pós-industrial privilegia a produção
das
idéias,o
que
porsua
vez exige
um
corpo quietoe mente
irrequieta. Exige aquiloque
chamo
de
óciocriativo”.
Portanto, a partir
de
tais evidências, ede
outras tantasassumidas
nas obras aludidas,compreende-se
que, apesarde
De
Masi(2000) fazer citaçõesque
podem
ser caracterizadascomo
vivênciasde
lazer,o
autor propõeuma
produtivo,
o
que
se contrapõeao
lazer,que na
sua essêncianão
possuia
característica
de aumento da
produtividade,nem
tampouco deve
assumirum
caráter
de
fator compensatório das mazelasque
são ocasionadasno
tempo
socialdo
trabalho.No
entanto, na citação abaixo,algumas
"atividades" propostas ,quando
situadasnum
contexto mais amplo,podem
ser definidascomo
vivênciasde
lazer.Observem
as sugestões propostas porDe
Masi(2000, p.299-300):
Tempo
livre significa viagem, cultura , erotismo, estética, repouso,esporte, ginástica, meditação
e
reflexão. Significa, antesde
tudo,nos
exercitarmos para descobrir,desde
hoje,o que
podemos
fazerno
nossotempo
disponivel,sem
gastarum
tostão:passear
sozinhosou
com
amigos, ir à praia, fazeramor
com
apessoa
amada,›advinharos
pensamentos, os problemase as
paixõesque
estãopor
trásdos
dos
passageirosdo
metrô(...)balançar-senuma
rede,que
é o
símbolopor excelência
do
ócio criativo, perfeita antíteseda
cadeiade
montagem
foi símbolodo
trabalho alienado.ø
Logo,
ao
assumir característicade
“ocio produtivo" (grifo meu), eao
mencionar
um
conjuntode
atividadesque
podem
ser usufruídas duranteo
inten/alo
do
trabalho,De
Masinão
discute a problemáticado
lazer,mas
visaestabelecer caracteristicas
que
devem
ser incorporadasna nova
organizaçãodo
trabalho a nível mundial. Dentre esse conjuntode
características, o autorlazer,
ou
seja, estabeleceque o
mundo
do
trabalhodeve
se apropriardo
óciocriativo,
com
o
intuitode compensar
asmazelas
produzidasno
trabalho e, apartir daí, ter
um
ambientede
trabalho mais prazerosoe
produtivo,em
que o
tempo
socialdo
trabalho possa ser vivenciadocomo
um
conjuntode
situações prazerosas,como
acontece nosmomentos
de tempo
disponível vivenciadoscom
“práticas”de
lazer.A
partirde
tais constatações, percebe-seque
as questões relativasao
lazer
não
são tão atuais, apesarde
terem adquiridouma
conotação maisacentuada nas últimas décadas.
E
um
outro pontoque merece
ser destacado éque
os estudos anteriormente citados sãode
suma
importância,uma
vezque
possibilitamuma
discussão sobre estefenômeno
chamado
lazer.Portanto,
ao
longo deste capítulo, buscar-se-á discutir oque venha
a serverdadeiramente lazer
e
quais as suas implicações para a melhoriada
qualidadede
vidados
trabalhadores .2.2-Lazer,
um
fenômeno
historicamente construído.O
lazersempre
existiuou
éum
fenômeno
surgidoapós
a Revolução Industrial ?Ao
questionara
sua origem, constata-se inicialmente a ocorrênciade duas
linhasde pensamento que
visam determinaro
aparecimento cronológicodo
lazer.De
um
lado tem-seuma
correntede pensamento que
afirma
que o
lazersempre
existiu, oque na
verdadenão
existia eraa
separação
dos tempos
sociais,como
afirma Requixa(1976, p.9),ao
citar oentre a vida
e
o trabalho, entreo
tempo de
viver eo
tempo de
trabalhar ".Por outro lado, tem-se outra
que
se apóiana
tesede que o
lazer, tal qual éconcebido hoje,
tem
as suas raízescom
o
adventoda
revolução industrial,marcado
pelo processode
industrializaçãoque
suscitaum
novo modelo de
sociedade,com
características totalmente distintas das sociedades anteriores.Ou
seja, esse lazeremerge
a partirde
necessidades criadascom
o processode
industrialização,marcado
sobretudo pela longajomada
de
trabalho diário.lsso fez provocar, posteriormente, nos trabalhadores, a reivindicação
de
maistempo
livre e,do
lado oposto, fezcom
que
os grandes capitalistas, osdetentores
do
capital,mesmo
não
admitindouma
diminuição nos lucros,percebessem
a necessidadede
um
tempo
disponível paraque
os seusoperários
pudessem
consumir o produtodo
seu trabalho.Como
enfatizaGebara
(1997, p.65): "Temos
agorao tempo de
trabalhoe o tempo do não
trabalho,
ambos
articulados porum
universode
consumo,no
qualo
tempo
disponivel
e o tempo
livre se reinseremna
mesma
lógicaque
comandou
a
constituição
do tempo
útil".Nessa
perspectivade
tentar identificar a suposta datade
nascimentodo
lazer, percebe-se claramente que,
ao
aceitar a primeira tese,o
fenômeno do
lazer
é
identificadocomo
um
elementoda
culturahumana,
devidoa sua
característica lúdica, logo, incorporado
à
filogènese,como
preconiza Huizinga(1999). Ele mostra, através
de
evidências históricas,que o
elemento lúdico encontra-se inseridoem
todas as formasde
organização culturaldo
homem,
como
na
política, na guerra, no jogo, na religião, dentre outros, evidenciando assimque o
lúdicopode
estar presenteem
qualquer manifestaçãohumana, e
não apenas
nosmomentos
de
lazer.Ao
entender ocomponente
lúdicocomo
uma
manifestação inerenteao
serhumano,
Huizinga (1999) aponta parao
surgimentode
uma
nova
nomenclatura científica para o
homem,
denominada de
homo
/udens,em
função
da
importância atribuídaao
aspectodo
lúdicocomo
um
pólofomentador
de
cultura.É
nesta perspectivaque
Huizinga (1999, p.12)afirma
que
o jogo possui, na sua essência, caracteristicaseminentemente
lúdicas, pois:Ornamenta
a vida, ampliando-a,e
nessamedida
torna-seuma
necessidade tanto para
o
indivíduo,como
função vital, quanto paraa
sociedade, devido
ao
sentidoque
encerra,à
sua significação,a seu
valor expressivo, a suas associações espirituaise
sociais,em
resumo,como
função cultural.
Percebe-se, através das indagações realizadas pelo autor,
uma
ligação muito estreita entreo
elemento lúdico ea
cultura historicamente produzidapelo
homem.
Sendo
assim,ao
afirmarque
o lazeré
frutoda
sociedade industrial, seráque
a sua existênciaem
períodos anterioresé
negada?
Não
propriamente, poisao
vivenciar o elemento lúdico,não
necessariamente deve-se estar vivenciando
uma
experiênciade
lazer,como
afirma Huizinga (1999). Contudo,
ao
analisar o processo históricoda
lúdico
em
determinados povos,em
faceda
faltade
liberdade aque
esteseram
submetidos.
Porém
issonão
éuma
exclusividadede tempos
passados, poisna
sociedade contemporânea,
um
enorme
contigentede
excluídos encontra-seem
condiçõesde
vida tão desumanizantes quanto àsdos
escravos traficadosda
África parao
Brasil Colônia , ou aos escravosda
Civilização Grega.Ao
buscar entender o surgimentodo
lazer atravésdo
elemento lúdico,percebe-se
que
o lazer é intrínsecoao
serhumano,
apesarde
ter sido furtadode
alguns povosem
dado
momento
histórico - furto esteque
continuaacontecendo na atualidade.
No
entanto, a questão crucial deste trabalhonão
será a discussãodo
momento
históricodo
nascimentodo
lazer,mas
sim,ao
longo deste capítulo,suscitar a reflexão e, através
de
questionamentos posteriores, procurarrespostas para esse
fenômeno
chamado
lazer.Ao
entender o lazercomo
um
processo históricoque
começa
a ganhar“corpo” a partir
da
Revolução Industrial, pois,como
preconizaDumazedier(1979,p. 26), "o
tempo
forado
trabalho é, evidentemente, tãoantigo quanto
o
próprio trabalho,porém
o
lazer possui traços específioos, característicosda
civilização nascidada
revolução industrial".E
ao
relacioná-Ioà perspectiva