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Níveis de ansiedade e depressão em graduandos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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Academic year: 2021

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(1)Encontro. Revista de Psicologia Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013. Mara Sizino da Victoria Universidade Veiga de Almeida marasizino@yahoo.com.br. NÍVEIS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO EM GRADUANDOS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UERJ). RESUMO. Ludmila Marotta. O ingresso à universidade pode se apresentar como uma situação ameaçadora, pois é uma fase adaptativa onde o jovem terá mais responsabilidades, podendo desencadear ansiedade e depressão. Embora no Brasil haja escassez de estudos epidemiológicos sobre a morbidade psiquiátrica, estima-se que entre 15% a 25% de estudantes sofrem algum transtorno. Neste sentido, este estudo buscou identificar a sintomatologia de ansiedade e depressão numa amostra de universitários na cidade do Rio de Janeiro. Participaram da pesquisa 637 alunos de graduação, pertencentes a diversos cursos. Os alunos responderam aos Inventários de Ansiedade e Depressão de Beck. Foram feitas comparações entre os tipos de curso, gênero e área de conhecimento. Todos os resultados apresentaram diferença estatística significativa (p<0,05). Apesar de nenhum curso sugerir níveis graves de ansiedade e depressão, a Odontologia obteve escores mais elevados na ansiedade, e Letras na depressão. Os cursos com escores mais baixos nas duas variáveis foram História e Oceanografia.. Marceli de Souza Rosa. Palavras-Chave: ansiedade; depressão; cursos de graduação; BDI; BAI.. Aline Bravo Anne Katherine Felix Bruna Gomes Neves Caroline Basile Rodrigues Celerina Cristina Pereira Ribeiro Dayanne Canejo Débora Coelho Débora Sampaio Ildiana Martins Esteves Juliane Alves da Silva. Mayra Yumi Ribeiro Natasha da Silva Santos. ABSTRACT. Taís de Brito Barbosa Thamiris Marques da Silva Thatiana Moreira de Brito Vanessa da Cunha Santos Vanessa Lima Wanessa Porto Saltoris Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@anhanguera.com. The access to the university can be turned into a threatening situation. Because it is an adaptive stage, in which young student will face more responsibilities, there is the possibility of anxiety and depression initiation. Although there is a lack of epidemiological studies about psychiatric morbidity, it is estimated that 15% to 25% had some kind of disorder. In that sense, this study sought to identify the symptomatology of anxiety and depression in a university students sample at Rio de Janeiro. About 637 undergraduate students of diverse courses participated in the research. The Beck’s Anxiety and Depression Inventories were answered by the students. There were made comparisons among course types, gender and knowledge areas. All results showed significant statistical differences (p<0,05). Despite any course suggest serious levels of anxiety and depression, Dentistry showed higher anxiety scores and Letters higher in depression. The courses with the lower scores were History and Oceanography. Keywords: anxiety; depression; undergraduate courses; BDI; BAI.. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 16/07/2012 Avaliado em: 23/08/2012 Publicação: 18 de dezembro de 2013. 163.

(2) 164. Níveis de ansiedade e depressão em graduandos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 1.. INTRODUÇÃO Muitos universitários desenvolvem transtornos psiquiátricos durante a vida acadêmica, desde o momento em que ingressam na graduação até finalizá-la. Embora no Brasil haja escassez de estudos epidemiológicos sobre a morbidade psiquiátrica, o número estimado de estudantes que sofrem algum transtorno é de 15% a 25%. Dentre esses, os mais comuns são os transtornos de ansiedade e de depressão. Fatores presentes na vida acadêmica, como a intensa carga horária de estudo exigida por certos cursos e a forte cobrança dos professores nas disciplinas contribuem para tais transtornos. Além disso, a mudança brusca de realidade que os estudantes sofrem ao iniciarem a faculdade, a insegurança que muitos enfrentam quanto as suas qualificações no momento em que concluem seu curso, a exigência cada vez maior do mercado de trabalho e as inúmeras situações de conflitos sociais que antes não conheciam são fatores que levam a um sentimento de incapacidade neste grupo (CAVESTRO; ROCHA, 2006; CATUNDA; RUIZ, 2008). Uma pesquisa realizada por Cerchiari, Caetano e Faccenda (2005) constatou a prevalência de 29% de distúrbios psicossomáticos como principal problema de saúde mental dos estudantes universitários, seguido por tensão ou estresse psíquico, com 28% e falta de confiança em seu próprio desempenho e eficácia, como 26%. Este último seria o propulsor dos demais, visto que a falta de confiança desencadearia o estresse que se representaria no corpo através dos sintomas psicossomáticos, demonstrando a dificuldade dos estudantes em externar suas emoções. Alterações no sono-vigília são também frequentes em universitários. É comum os estudantes apresentarem características de um sono irregular, normalmente caracterizado pela longa duração de sono durante o final de semana e a curta duração do mesmo nos demais dias. O equilíbrio do ciclo sono-vigília pode ser abalado por mudanças na jornada de trabalho, em fusos horários ou atividade noturna. Evidências comprovam a relação entre este padrão de sono com os níveis de ansiedade na vida do graduando. Este sinal de alerta é acionado quando o corpo toma conhecimento de algum conflito interno, e passa a então adotar medidas para prevenir esta ameaça (ALMONDES; ARAÚJO, 2003). A ansiedade na expectativa de provas é também uma vilã comprovada que leva ao baixo desempenho acadêmico nas universidades. O estudo de Hernandez-Pozo, Álvarez, Contreras e Reséndiz (2008) comprova que esta ansiedade é gerada pela preocupação de fracasso nas avaliações. Neste sentido, muitos autores defendem que os universitários apresentam fatores que causam estresse mais que outros grupos populacionais. No início do curso, por. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(3) Mara Sizino da Victoria et al.. 165. exemplo, o aluno enfrenta a transição para uma nova forma de vida estudantil, com um grande volume de informações adquiridas rapidamente, uma carga horária mais rígida e uma maior responsabilidade, pois o estudo destina-se a formação de sua carreira. Baseando-se nessa idéia, também se notam fatores de estresse no fim do curso, onde o aluno começa a pensar sobre sua competência e preocupa-se com sua colocação no mercado de trabalho, seu possível sucesso ou fracasso. Sendo assim, o nível de ansiedade e depressão varia conforme a época do curso em que o aluno se encontra – início, meio ou fim (CAVESTRO; ROCHA, 2006). Portanto, o presente estudo investiga o grupo de estudantes do meio do curso, i.e., estudantes não iniciantes e nem formandos. Dessa maneira, os universitários são um grupo de indivíduos de grande relevância para se estudar esses transtornos. As diferentes áreas dos cursos universitários podem apresentar níveis distintos de ansiedade e depressão, sendo que pesquisas sugerem que os estudantes da área de exatas apresentam menor nível de ansiedade do que os de ciências humanas (BANDEIRA et al., 2005). O objetivo deste artigo é avaliar os graduandos da UERJ, verificando se existem diferenças nos escores de ansiedade e depressão segundo o tipo de curso, gênero e por área de conhecimento, a saber: Biomédicas, Ciências Sociais, Educação e Humanidades, Tecnologia e Ciência. Além disso, este artigo analisa a relação entre as variáveis ansiedade e depressão através do índice de correlação.. 2.. MÉTODO Participantes Participaram da pesquisa 637 alunos de graduação da UERJ, de ambos os gêneros, selecionados aleatoriamente, idade média de 22,04 (DP= 2,92), pertencentes aos cursos de Medicina, Odontologia, Nutrição, Serviço Social, História, Direito, Pedagogia, Letras (Português/Literaturas), Educação Física, Engenharias (Civil, Elétrica e Mecânica), Física e Oceanografia. Para análise, os cursos foram agrupados segundo a classificação da UERJ, a saber: (1) Medicina, Odontologia e Nutrição são cursos da “Biomédicas”; (2) Serviço Social, História, Direito são das “Ciências Sociais”; (3) Pedagogia, Letras e Educação Física são da “Educação e Humanidades”; (4) Engenharias, Física e Oceanografia são da “Tecnologia e Ciência”.. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(4) 166. Níveis de ansiedade e depressão em graduandos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O tamanho da amostra por curso foi calculado baseado na proporção de entrada dos alunos no vestibular 2009, seguindo a Tabela da UERJ1. Foram excluídos graduandos que estavam cursando o 1º período e o último período.. Instrumento e Procedimentos Foram utilizados dois Inventários – o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e o Inventário de Depressão de Beck (BDI) – e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O BAI é um instrumento de autoavaliação desenvolvido por Beck et al. (1988) para avaliar ansiedade. O BAI é um conjunto de 21 afirmativas sobre sintomas comuns de ansiedade, no qual o participante deve identificar o quanto tem sido incomodado por cada sintoma durante a última semana, incluindo o dia da aplicação. O participante deve, então, marcar com um “X” a opção que mais se adequa ao que sente numa escala de intensidade com 4 opções: absolutamente não, levemente (não me incomodou muito), moderadamente (foi muito desagradável, mas pude suportar), gravemente (dificilmente pude suportar). A avaliação do BAI é somatória, sendo a sintomatologia mais forte quanto maior o escore obtido. A soma dos escores individuais fica entre 0-63, sendo que cada afirmativa pode obter um resultado de 0-3. A classificação dos escores é feita segunda a escala de 010, Mínimo; 11-19, Leve; 20-30, Moderado; e 31-63, Grave. O BDI é um instrumento de autoavaliação desenvolvido por Beck et al. (1961) para avaliar a depressão. O BDI é um conjunto de 21 grupos de afirmativas sobre sintomas comuns de depressão, no qual o participante deve identificar o quanto tem sido incomodado por cada sintoma durante a última semana, incluindo o dia da aplicação. Os sintomas variam numa intensidade de 0 a 3. Os itens da escala referem-se a: humor, pessimismo, sensação de fracasso, falta de satisfação, sentimentos de culpa, punição, descontentamento pessoal, auto-acusação, tendências suicidas, choro, irritabilidade, afastamento social, indecisão, distúrbios do sono, cansaço, perda do apetite, perda de peso, preocupações somáticas e perda da libido. A avaliação do BDI é feita somando os escores, e os classificando em 0-11, Mínimo; 12-19, Leve; 20-35, Moderado; e de 36-63, Grave. O BDI pode ser usado para triagem em população geral, utilizando-se um escore de 18 a 19 pontos como indicativo de possível depressão.. 1. Disponível em: <http://www2.datauerj.uerj.br/tabela.php?nometabela=QUADRO_014&bd=datauerj>.. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(5) Mara Sizino da Victoria et al.. 167. Os dois Inventários foram validados para a língua portuguesa, tendo demonstrado características psicométricas satisfatórias (CUNHA, 2001). Todos os participantes leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e responderam individualmente os Inventários na UERJ. Cada participante recebeu o material na seguinte ordem: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, BAI e BDI.. 3.. RESULTADOS Os resultados foram analisados através do pacote SPSS 13.0 para Windows. Nos testes estatísticos foi utilizado nível de significância de 0,05.. 3.1. Estatística descritiva por curso de graduação De acordo com os dados, o curso com maior nível de ansiedade é o de Odontologia com média de 14,74 (DP=10,85), seguido de Serviço Social com média de 13,10 (DP=10,46) e o de menor nível de ansiedade é o curso de Oceanografia com média de 7,11 (DP=6,04), próximo do curso de História com média de 7,83 (DP=6,23). O curso com maiores escores no BDI é o de Letras com média de 11,59 (DP=9,10), seguido de Pedagogia, com média de 11,13 (DP=7,19). Os cursos com menores escores no BDI são o de História, com média de 4,92 (DP=3,26), próximo do curso de Oceanografia, com média de 5,46 (DP=4,02). Os resultados da estatística descritiva dos doze cursos de graduação encontramse na Tabela 1, com média e desvio padrão (DP).. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(6) 168. Níveis de ansiedade e depressão em graduandos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Tabela 1. Estatística descritiva por curso de graduação.. 3.2. Estatística descritiva por gênero O número de participantes do gênero feminino é maior que o de homens (N feminino = 344; N masculino = 293) e nota-se que elas apresentam escores mais elevados que os homens. A média do gênero feminino no BAI foi de 11,85 (DP=8,81) e no BDI = 9,53 (DP=6,65). No gênero masculino a média do BAI foi de 8,12 (DP=6,93) e no BDI foi de 7,24 (DP=6,21). A Tabela 2 mostra os resultados por gênero. Tabela 2. Estatística descritiva por gênero.. 3.3. Estatística descritiva por área de conhecimento Segundo a classificação por área de conhecimento, o nível de ansiedade é maior em Educação e Humanidades, com média de 11,99 (DP=9,38), seguido de Biomédicas com Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(7) Mara Sizino da Victoria et al.. 169. 11,83 (DP=8,53), Ciências Sociais com 9,77 (DP=7,33) e Tecnologia e Ciência com média de 7,97 (DP=6,67). Em relação ao nível de depressão, a ordem segue a mesma para a ansiedade: Educação e Humanidades com média de 10,50 (DP=7,96), Biomédicas com 8,26 (DP=5,51), Ciências Sociais com média de 7,99 (DP=5,24) e, por último, Tecnologia e Ciência com 6,68 (DP=5,17). A Tabela 3 mostra os resultados da estatística descritiva por área de conhecimento. Tabela 3. Estatística descritiva por área de conhecimento.. 3.4. Correlação de Pearson por curso As correlações entre BAI e BDI foram significativas em quase todos os cursos, com exceção dos cursos de Medicina (r=0,26) e Serviço Social (r=0,37). Entre as correlações significativas, todas são positivas, a saber: Odontologia (r=0,70; p<0,05); Nutrição (r=0,64; p<0,01); Educação Física (r=0,58; p<0,05); Engenharias (r=0,55; p<0,05); Pedagogia (r=0,54; p<0,05); Direito (r=0,49; p<0,05); História (r=0,48; p<0,01); Letras (r=0,41; p<0,05); Oceanografia (r=0,38; p<0,05); Física (r=0,25; p<0,01). A seguir a Tabela 4 de correlações por tipo de curso de graduação. Tabela 4. Correlação de Person por curso de graduação.. * Correlação é significativa ao nível de 0,01 (bicaudal). ** Correlação é significativa ao nível de 0,05 (bicaudal).. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(8) 170. Níveis de ansiedade e depressão em graduandos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 3.5. Correlação de Pearson por gênero De acordo com os resultados, o índice de correlação foi significativo, positivo e maior no gênero feminino (r=0,49; p<0,01) que no gênero masculino (r=0,45; p<0,01), como mostra a Tabela 5. Tabela 5. Correlação de Pearson por gênero.. ** Correlação é significativa ao nível de 0,01 (bicaudal).. 3.6. Correlação de Pearson por área de conhecimento A análise de correlação demonstra que nas quatro áreas foram significativas e positivas, a saber: Biomédica (r=0,57; p<0,01); Educação e Humanidades (r=0,49; p<0,01); Ciências Sociais (r=0,46; p<0,01); Tecnologia e Ciência (r=0,40; p<0,01). A Tabela 6 mostra as correlações por área de conhecimento. Tabela 6. Correlação de Pearson por área de conhecimento.. ** Correlação é significativa ao nível de 0,01 (bicaudal).. 3.7. Análise da Variância (ANOVA) A ANOVA revela que existe diferença significativa entre os doze cursos de graduação e nas quatro áreas de conhecimento da UERJ, tanto no BAI como no BDI, pois o p-valor <0,01, como consta na Tabela 7. Tabela 7. ANOVA - Cursos de graduação e áreas de conhecimento.. 3.8. Teste t de Student para amostras independentes (teste t) A comparação por gênero através do teste t sugere diferença estatisticamente significativa no BAI e no BDI, pois o p-valor <0,05, mostrada na Tabela 8. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(9) Mara Sizino da Victoria et al.. 171. Tabela 8. Teste-t – gênero.. 4.. DISCUSSÃO O estudante universitário está suscetível a diferentes situações de ansiedade e depressão em seu cotidiano acadêmico, tanto com a exigência da própria instituição de graduação devido à quantidade de disciplinas a serem cursadas e a concorrência pelo mercado de trabalho, como também familiar, que acrescenta o temor do fracasso profissional e prestígio. Em nossa pesquisa, realizamos três divisões de análise – por tipo de curso, por gênero e por área de conhecimento. Apesar de todos os cursos apresentarem escores médios abaixo do nível moderado e grave na ansiedade e na depressão, o curso de maior índice de ansiedade foi o de Odontologia com média de 14,74 e maior de depressão foi o de Letras com 11,59. O dado de Odontologia sugere que a exposição direta a um ambiente com forte tensão emocional e longas jornadas de trabalho, o período de transição do treinamento préclínico para o clínico, e a saída do ambiente de estudo para o de trabalho são os principais fatores que constituem os momentos mais significativos de estresse nos estudantes de saúde. Aguiar (2007) alerta para a saúde mental dos profissionais de saúde como um grande motivo de preocupação desde o inicio do século. Segundo ele, há evidências que estudantes de Medicina e Odontologia têm risco maior que a população em geral de apresentarem sofrimento psíquico e/ou transtornos mentais, além de serem mais vulneráveis aos efeitos do estresse. Para Cavestro e Rocha (2006), essa população de estudantes apresenta um número de depressivos correspondente entre 8% e 17%. Os dados encontrados em nossa pesquisa confirmam os níveis de ansiedade para Odontologia, mas não encontram paralelo para o curso de Medicina, que obteve média de 9,19 para o BAI e 7,95 para o BDI. Em relação ao curso de Letras, o índice mais elevado de depressão pode ser justificado por se tratar geralmente de alunos que exercem a docência, preocupam-se mais com relações interpessoais, podendo favorecer uma maior sensibilidade e vulnerabilidade às questões emocionais. Numa pesquisa feita com 200 estudantes de uma Universidade privada do Rio Grande do Sul, realizada por Brandtner e Bardagi (2009), alunos dos cursos de Letras e Psicologia também apresentaram níveis maiores de depressão se. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(10) 172. Níveis de ansiedade e depressão em graduandos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). comparados aos de Educação Física, Engenharia de Alimentos e Administração, utilizando o mesmo Inventário. Os menores valores médios de ansiedade e depressão são encontrados nos cursos de História e Oceanografia, com médias, de 7,83 e 7,11 no BAI e 4,92 e 5,46 no BDI, respectivamente. Isso pode ser causado pelo fato destes cursos apresentarem demandas acadêmicas menos intensas, em comparação ao curso de Odontologia, por exemplo. No que se refere ao gênero, nosso estudo sugere uma diferença estatística, e os maiores índices no BAI e BDI são encontrados em mulheres, com média, respectivamente, de 11,85 e 9,53. Nos homens, a média do BAI foi de 8,12 e no BDI de 7,24. Muitas pesquisas confirmam estes resultados; por exemplo, Fonseca, Coutinho e Azevedo (2008), num estudo com universitários no ano de 2003, apontaram um índice superior nas mulheres com idade média de 20 anos e predominância de 97% de depressão, utilizando o BDI. Tendo uma amostra de 99 estudantes, 41% das mulheres tiveram variação de leve até grave no grau de depressão, com sintomas constantes de fadiga, irritabilidade e autoacusação. A sobrecarga emocional, a intensa rotina da mulher que se inseriu no mercado de trabalho, mas ainda continua sendo a principal responsável por cuidar da casa, da família e de si mesma, somado a sensação de não dar conta de todas as tarefas são os principais fatores da diferença de gênero. Bangasser et al. (2010) afirmam que os motivos não são só históricos e culturais. Segundo os autores, as mulheres são duas vezes mais vulneráveis que os homens aos transtornos relacionados ao estresse em função de razões biológicas. Ao estudar a sinalização do estresse em cérebro de animais, os pesquisadores descobriram que as fêmeas são mais sensíveis a níveis baixos de um importante hormônio do estresse – a corticotropina – e menos capazes de lidar com altos níveis que os machos. A liberação deste hormônio é o responsável por organizar as respostas ao estresse em mamíferos. Para Andrade, Viana e Silveira (2006), a diferença de gênero começa a sobressairse no início da adolescência entre os 11 e 14 anos, devido às diferenciações hormonais. São evidenciadas diversas explicações para essa diferença nos resultados relacionados ao gênero, entre elas as argumentações biológicas e culturais: nas primeiras, o estrogênio age na oscilação do humor, tendo diferenciações desde a menarca até a menopausa. As segundas seriam o assentimento cultural do medo e comportamento de fuga em mulheres, tendo diferença nos padrões adaptativos. De acordo com Fonseca, Coutinho e Azevedo (2008), indivíduos do gênero feminino associam a depressão à carência afetiva e às questões subjetivas; já os pertencentes ao gênero masculino associam sintomas depressivos aos aspectos físicos e com questões objetivas.. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(11) Mara Sizino da Victoria et al.. 173. A comparação por áreas de conhecimento revela que os escores médios no BAI e BDI têm a mesma ordem no ranking – a área de Educação e Humanidades (BAI=11,99; BDI=10,50), seguida de Biomédicas (BAI=11,83; BDI=8,26), Ciências Sociais (BAI= 9,77; BDI= 7,99) e Tecnologia e Ciência (BAI= 7,97; BDI= 6,68). As áreas de Educação e Humanidades e Biomédicas mostram valores próximos e os cursos investigados nesta pesquisa foram: Pedagogia, Letras e Educação Física; Medicina, Odontologia e Nutrição. Mesmo os escores estando dentro da média considerada normal na pontuação dos Inventários, pode-se perceber que os estudantes destas áreas têm um estado de ansiedade e depressão mais elevado que as outras. A responsabilidade de formação de alunos, a rotina do ensino muitas vezes estressante e cansativa, a falta de infraestrutura nas condições de trabalho, a extensa jornada de trabalho e a falta de perspectiva financeira podem ser fatores que elevam os índices de ansiedade e depressão das categorias profissionais de Educação e Humanidades. Em Biomédicas, o contato com pacientes debilitados, o treinamento clínico e a grade curricular com altas demandas podem ser estímulos para distúrbios emocionais. Segundo Abrão, Coelho e Passos (2008), os profissionais de Biomédicas são os mais propensos a desenvolver transtornos emocionais e estes são a principal causa de colapsos suicidas. Ferreira et al. (2009), confirmam os resultados encontrados em nossa pesquisa, pois as áreas de Humanística e Biomédica também se destacaram com níveis mais altos de ansiedade em graduandos, se comparado à área Tecnológica. As correlações significativas entre ansiedade e depressão variaram de 0,25 a 0,70. A ansiedade costuma estar estreitamente associada aos sintomas de depressão e os valores das correlações positivas revelam que o aumento de uma variável leva ao aumento da outra. Estes construtos são considerados independentes, contendo propriedades particulares, mas é reconhecida a sobreposição entre a ansiedade e depressão tanto do ponto de vista da saúde mental como do ponto de vista estatístico, indicando certa tendência de causalidade entre os mesmos. O valor médio de correlação indica intensidade moderada para sintomas ansiosos e depressivos, semelhante ao estudo realizado por Montiel et al. (2005), que encontrou, numa amostra clínica, escore de 0,57. O resultado indica que, embora seja possível verificar sintomas comuns entre a ansiedade e a depressão, estas permanecem guardando aspectos específicos, próprios de cada uma.. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(12) 174. Níveis de ansiedade e depressão em graduandos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 5.. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ingresso à universidade pode apresentar como uma situação ameaçadora, pois é uma fase adaptativa em que o jovem adulto terá mais responsabilidades, podendo ficar mais ansioso e depressivo. Este estudo buscou identificar a sintomatologia de ansiedade e depressão em uma ampla amostra de universitários no Rio de Janeiro. Segundo Cavestro e Rocha (2006), a maioria dos estudos relacionando os transtornos psiquiátricos com alunos universitários foi realizada com estudantes de Medicina; portanto, este estudo expande os dados até então existentes sobre o tema. A ansiedade e depressão são patologias psíquicas que afetam as diversas áreas da vida do indivíduo, não havendo restrição de gênero e idade para a obtenção da mesma. Estes transtornos têm atingido grandes proporções e mostram-se cada vez mais presente na vida dos sujeitos, o que traz preocupações e tem exigido por parte dos atuantes da área de saúde e adjacentes um estudo mais preciso acerca do tema. Na fase em que os universitários se encontram podem surgir ideias de desânimo e angústia, marcada pela sobrecarga de responsabilidade com o meio acadêmico, além de ser um momento em que os estudantes criam grandes expectativas acerca do que se espera do mundo profissional. A preocupação e insegurança com a nova fase que se inicia e que traz uma realidade diferente do habitual, cheio de novidades e que exige destes uma postura madura podem desencadear graves transtornos. A ansiedade e depressão têm sido foco de interesse de muitos estudiosos e ultimamente tem se destacado como questão de saúde pública. Segundo a OMS (2003), até 2020 a depressão será a segunda moléstia que mais afetará populações de países desenvolvidos e em desenvolvimento, e é a quarta doença que mais exige tempo de internação em leitos de hospitais. Neste sentido, compreender os níveis de ansiedade e depressão é um passo necessário para auxiliar medidas alternativas de saúde. Através da presente pesquisa foi possível verificar que, dos cursos pesquisados, nenhum apresentou pontuação suficiente para diagnóstico de ansiedade, moderada ou grave, e depressão; mas em futuras pesquisas é necessário investigar outros cursos de graduação e incluir novos instrumentos ou técnicas de avaliação para que se possa traçar melhor a influência de outros fatores, tais como: fatores socioeconômicos, estado civil, interações familiares etc. objetivando maior compreensão do contexto pesquisado.. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

(13) Mara Sizino da Victoria et al.. 175. REFERÊNCIAS ABRÃO, C.B.; COELHO, E.P.; PASSOS, L.B.S. Prevalência de sintomas depressivos entre estudantes de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro v.32, n.3, p. 315-323, 2008. AGUIAR, S.M. Prevalência de sintomas de estresse e de depressão nos estudantes de Medicina e Odontologia. 2007. 89 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade de Fortaleza – UNIFOR, Fortaleza, 2007. ALMONDES, K.M.; ARAUJO, J.F. Padrão do ciclo sono-vigília e sua relação com a ansiedade em estudantes universitários. Estudos de Psicologia, Natal, v. 8, n. 1, p. 37-43, 2003. ANDRADE, L.H.S.G.; VIANA, M.C.; SILVEIRA, C.M. Epidemiologia dos transtornos psiquiátricos na mulher. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v.33, n.2 p. 43-54, 2006. BANDEIRA, M.; QUAGLIA, M.A.C.; BACHETTI, L.S.; FERREIRA, T.L.; SOUZA, G.G. Comportamento assertivo e sua relação com ansiedade, locus de controle e auto-estima em estudantes universitários. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 22, n. 2, p. 111-121, 2005. BANGASSER, D.A.; A CURTIS, A.; REYES, B.A.S.; BETHEA, T.T.; PARASTATIDIS, I.; ISCHIROPOULOS, H.; VAN BOCKSTAELE, E.J.; VALENTINO, R.J. Sex differences in corticotropin-releasing factor receptor signaling and trafficking: potential role in female vulnerability to stress-related psychopathology, Molecular Psychiatry, New York, v.15, n.9, p.896– 904, 2010. BECK, A.T.; EPSTEIN, N.; BROWN, G.; STEER, R.A. An inventory for measuring clinical anxiety: psychometric properties. Journal of Consulting and Clinical Psychology, Washington, v. 56, n. 6, p. 893-897, 1988. BECK, A.T.; WARD, C.H.; MENDELSON, M.; MOCK, J.; ERBAUGH, J. An inventory for measuring depression. Archives of General Psychiatry, Chicago, v. 4, n. 6, p. 561-571, 1961. BRANDTNER, M.; BARDAGI, M. Sintomatologia de depressão e ansiedade em estudantes de uma Universidade privada do Rio Grande do Sul. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, São João Del Rei, v. 2 n. 2, p. 81-91, 2009. CATUNDA, P.A.M.; RUIZ, M.V. Qualidade de vida de universitários. Revista Científica do UNIFAE, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 22-31, 2008. CAVESTRO, J.M.; ROCHA, F.L. Prevalência de depressão entre estudantes universitários. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 55, n. 4, p. 264-267, 2006. CERCHIARI, E.N.; CAETANO, D.; FACCENDA, O. Prevalência de transtornos mentais menores em estudantes universitários. Estudos de Psicologia, Natal, v. 10, n. 3, p. 413-420, 2005. CUNHA, J.A. Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. HERNANDEZ-POZO, M.R.; ÁLVAREZ, O.C.; CONTRERAS, V.R.; RESÉNDIZ, S.C. Desempeño académico de universitarios en relación con ansiedad escolar y auto-evaluación. Revista Acta Colombiana de Psicologia, Bogotá, v. 11, n. 1, p. 13-23, 2008. FERREIRA, C.L.; ALMONDES, K.M.; BRAGA, L.P.; MATA, A.N.S.; LEMOS, C.A.; MAIA, E.M.C. Universidade, contexto ansiogênico? Avaliação de traço e estado de ansiedade em estudantes do ciclo básico. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3 , p. 973-981, 2009. FONSECA, A.A.; COUTINHO, M.P.L.; AZEVEDO, R.L.W. Representações sociais da depressão em jovens universitários com e sem sintomas para desenvolver a depressão. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 21, n. 3, p. 492-498, 2008. MONTIEL, J.M.; CAPOVILLA, A.G.S.; BERBERIAN, A.A.; CAPOVILLA, F.C. Incidência de sintomas depressivos em pacientes com transtorno de pânico. Psic – Revista de Psicologia da Vetor Editora, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 33-42, 2005. OMS. CID-10, tradução do Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em Português. São Paulo: EDUSP, 2003. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 163-175.

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