CENTRO
DE
CIÊNCIAS
DA
EDUCAÇÃO
›--_.
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM
EDUCAÇÃO
CURSO DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
_LINHA
DE
INVESTIGAÇÃO;
EDUCAÇÃO
E
CIENCIA
---._' -
DO
ENSINO
DE
CIÊNCIAS
COMO
MUDANÇA
CONCEITUAL
'207-5 258
O
D 'P D U) LL DÀ
FRONTEIRA DE
UMA
'ABORDAGEM
AFETIVA
iz Dissertação apresentada
ao Curso
deMestrado
do
A
Programa de Pós-Graduação
em
Educação da
[I
Universidade Federal
de
Santa Catarina,como
requisitoÍ
Ã
parcial para a obtenção
do
títulode
Mestre.; Orientador: Prof. Dr.
Maurício
Pietrocola Í' .
¡
~
FLÁVIA
MARIA
TEIXEIRA
Dos
SANTOS
I
O
-FLORIANÓPOLIS-
I
A .,¿. .z *~'.'?'5{~" ‹ _ f.':"l'-; . - .¬.». ~_, `.
UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
SANTA
cATAR|NA
CENTRD DE
c1ÊNc1As
DA EDUCAÇÃD
PROGRAMA
DE
Pos-GRADUAÇÃO
cURso DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“DO
ENSINO
DE
CIÊNCIAS
COMO MUDANÇA
CONCEITUAL
À
OFRONTEIRA
DE
UIMA
ABORDAGEM
AFET
IVA”.
EDissertação
submetida
ao
Colegiado
do
Curso de
Mestrado
em
Educação
do
Centro
de
Ciencias
da
Educação
em
cumprimento
parcialpara
a obtenção
do
titulo
de
Mestre
em
Educação.
APROVADO
PELA
CO1\/IISSÃO
EXA1\/[INADORA
em
13/08/96Prof. Dr.
Mauricio
Pietrocol Pintode
Oliveira - (Orientador)áízzf
A
Prof. Dr.
Eduar
Í' ry er -UFMG
(Examinador)
Prof. Dr.
en
Zylbersztajn(Ex
nador)
Prof. Dr.
Demétrio
Delizoicov (Suplente)FLÁVIA
MARIA
TEIXEIRA
Dos
sANTos
Florianópolis,
Santa
Catarina, agostode
1996.tú
¢2\os
meus
ímiszIV
:cal
criatividade
e
flnciêncin
no
Tmlmllpo
z4»z㢿¢¢‹2zúz¢¢›zúu:¢øz¢¿¢øí¢›×«‹r¢¢w;¢¢¢¢«¢¢zzâ:àz¢4à¢mzçømamyàâúzmømwuuãafiúzewúmzmmz
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a6'4øw¢eae/nqea.m,áaa¢¢øí¢a¢de;a¢‹zde¢ea¢§é¢¡=¿a49a€áe4. ,6aaca4ø¢a¢'¢d¢‹{(4¿ea¿'e¢/za/:an:a¢¿a«¢oøle4¢¿ø¢ø,Jri
aâurobíndo
r
SUMARIO
APRESENTAÇÃO
... ... ... .. 1CAPÍTULO
1CONsTRUTIvIsMOz PERSPECTIVA
CONTEMPORÂNEA
DE
PESQUISA
EM
EDUCAÇÃO
... ..s 1.1-AAERANOENCIACONSTRUTIVISTA ... ... ... ..81.2 - CONSTRUIIVISMO
NA EDUCAÇÃO
: ARQUEOLOGIA ... l1 1.3 - CARACTERISTICASDO
CONSTRUTIVISMO NAPESQUISAEM EDUCAÇÃOE
CIÊNCIA 15 1.4 - CONSTRUIIVISMONA
SALA DEAULA
... .. 191.4.1 - Estratégias de ensino baseadas no estabelecimento de conflitos cognitivos
X
estratégias baseadasem
analogias e metáforas ... ..201.4.2 -
O
psicologismo cognitivista das abordagens construtivistasem
ensino de ciências. ... ..251.5 - PESQUISAS CONsTRUTIvIsTA
No
ENSINO DE CIÊNCIAS:UM
CAMPO
AOONIZANTE? ... ..3lCAPITULO
2O MOVIMENTO
DAS
CONCEPÇOES
ALTERNATIVAS
ENFOQUE
CONSTRUTIVISTA
NA
PESQUISA
EM
EDUCACAO
E
CIENCIA.. ... ... 2.1 - DELIMITANDOO
CAMPO
... ..362.2 - SURGIMENTO
DO
MCA
-UM
ROMPIMENTOCOM
IDÉIAS PIAGETIANAS ... .392.3 - CARACTERÍSTICAS DAS CONCEPÇÕES Dos ESTUDANTES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..42
2.3.1 -
Uma
aproximação comaanálisepiagetiana ... 2.3.1.1 - Egocentrismo e Realismo da Criança ... .. 2.3.1.2-Animismo Infantil ... .. 2.3.1.3- Causalidade na 2.3.2 - Os Resultados de Pesquisa ... ..492.3.3 -
À
Procura das Concepções Alternativas - Questões Metodológicas ... ..542.4 - OUTRAS CONTRIBUIÇÕES
DO
MCA
A DIDÁTICA DAS CIÊNCIAS: PARA ALEM DAS INVESTIGAÇÕES SOBRE As CONCEPÇÕES DOS ESTUDANTES. ... ..572.4.1- Questões Curriculares ... 2.4.2- História da Ciência ... 2.4.3- Concepções dos Professores ... ..59 2.5 - AEORDAGENS PARA
O TRATAMENTO
DAS CONCEPÇOES INVESTIOADAS: LINHAS EVOLUCIONÁRIAS (EVOLUÇÃO CONCEITUAL) E LINHAS REVOLUCIONÁRIAS(MUDANÇA
CONCEITUAL) ... ..60CAPÍTULO
3 _ 'MUDANÇA
CONCEITUAL
DE
POSNER,
STRIKE,
HEWSON
E
GERTzOGz “AÇCOMMODA
T1o1vOFA
sc1E1vT1F1C co1vcEPT1o1v.-To
WARD
A
THEORY
OF
CONCEPTUAL
CHANGE"
... ..643.1 -
MUDANÇA
CONCEITUAL: SDJÓNIMO DE APRENDER CIÊNCIAS. ... ..643.2
-OMODELO
... .. 3.3-CRÍTICASAOMODEDODEMUDANÇACONCEITUAL
... 3.4 - ASPECTOS EPISTEMODÓOICOSDA
MUDANÇA
CONCEITUAL ... _. . ... .,.723.4.1 - Ecologia Conceitual:
uma
aproximação às teses de Stephen Toulmin .... ... ._ 73 3.4.2 -O
processo “revolucionário ” da Mudança Conceitual . . . . . . . . . . . . . . . . .. 763.4.2.1- Kuhn : ciência normal e ciência revolucionária ... ... .. 77
3.4.2.2- Lakatos :programas depesquisa .... ... .. 78
3.4.3- Algumas impressões ... 79
3.5 - ASPECTOS PSICODÓGICOS
DA
MUDANÇA
CONCEITUAL... ..8 1
*
“ACOMODAÇÃO
DEUM
CONCEITOvi
3. 5. 1-
A
proximações a 1)avidA
usubel e .1ean"Piaget ... ..813.5.2-
A
orientação psicológica . . . . . . . . . ...843.6 -
A
REPORMULAÇÃO DA
TEORIADA
MUDANÇA
CONCEITUAL ... ..85CAPÍTULO
4PESQUISA
EM
ENSINO
DE
CIÊNCIAS:
OUTRAS
4.1 - DEMARCAÇÕES INICIAIS ... ..884.2. -
“MUDANÇA
CONCEPTUALNA
SALA DEAULA
-UM
DESAPIO PEDAGÓGICO” DEMARIA EDUARDA VAZ
MONIzDOs
SANTOS ... ... ..904.2.1 - Tempos de Psicanálise e de Psicossíntese ... .. ...92
4. 2. 2 - Avanços proporcionados por Santos, M. (1991): algumas considerações ... ..94
4.3 -
O
MODELO
DIDÁTICO DE APRENDIZAGEM ALosTERICA DEANDRE
GIORDAN ... ..954.3.1-Omodelo ... ... ..96
A 4.3.2- Alguns comentários ... .; ... .. ... _. I 01 4.4 -
DA
MUDANÇA
CONCEITUALÀ
COMPLEXIFICAÇÃO CONCEITUAL DE MARIE LAROCHELLE E JACQUES DESAUTELS ... .. 1024.4.1 -
Da
Mudança
Conceitual à Complexificação Conceitual ... ... ..102_ 4.4.2 -A
noção de perfll epistemológico:uma
aproximação necessária à Bachelard .... 1 03 4.4.3-As
estratégias propostas para a promoção deuma
complexificação conceitual 1 05 4. 4. 4- Conexões e avançosem
ralação à proposta da mudança conceitual ... .. 1074.5 -
“A NOÇÃO
DE PERFIL CONCEITUALCOMO
ALTERNATIVA PARAA
CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO E DE ANÁLISEDA
EVOLUÇÃO CONCEITUAL”:EDUARDO
FLEURY MORTIMER. ... .. 1084. 5. I-A noção de perfil conceitual: abordagem e tratamento ... ..1 10 4.5. 2 - Discutindo as contribuições da abordagem de perfis conceituais para a pesquisa
em
ensino de ciências ... .. 1124.6 -
ALGUMAS
OUTRAS POSSIBILIDADES ... .. 1 13CAPÍTULO
5AFETIVIDADE
NO
ENSINO
DE
CIÊNCIAS:
UMA
QUESTÃO
INEVITÁVEL E DESAFIADORAI
17 5. 1- DESMISTIFICANDO A RELAÇÃO ENTRERAZÃO
E AEETIVIDADE ... .. 1 18 5.1.1- Utilizandouma
ilustração ... ...1185.1.2 -
O
reducionismo da análise racionalista ... ..1215.1.3 -
A
emoção e O sentimento como mecanismos de regulação biológica ... ._ 122 5.2 -A
APETIVIDADENA
PEsQUIsA ENO
ENSINO DE CIENCIAS ... 1255.2.1
-A
questão da racionalidade científica ... ... .. 1255. 2. 2 -
A
abordagem afetiva nas discussões psico-educativas... ... .. 1265.2.2.1-Piageteojuízo moralna criança ... ... ...127
5.2.2 - Vygotsky e a construção da consciência ... 128 5.2.2.3 - Wallon: o desenvolvimento a partir das construções afetivas .... 129
5.2.3 -
UMA
ORIENTAÇÃO PSICOLÓGICA ... 1305.3 - PEsQUIsAs
EM
ENSINO DE CIENCIAS ENVOLVENDOA
QUESTÃODA
APETIVIDADE .... 1315.3.1 -
A
mudança conceitual e a questão da motivação... ... .. 1325.3.2 - Outros ingredientes do domínio afetivo ... .. 135
5.4 -
A
AFETIVIDADE NAs RELAÇÕES QUE PERPAssAMO
ENSINO DE CIÊNCIAS. 137A
relação afetiva estabelecida entre o indivíduo e o conhecimento ... .. 138A
sala de aula como espaço coletivo de aprendizagem ... .. 139As
relações afetivas do indivíduo com a comunidade escolar... 140As
relações afetivas entre professor e estudante ... .. 141CONSIDERAÇÕES
P¶NA1s ....Índice
de Figuras
-FIG. N° 01 - EsTRUTURA GERAL
DO MODELO
DE APRENDIZAGEM PORMUDANÇA
CONCEITUAL (SANTOS, M.,l99l,I>.207) ...
FIG. N° 02 - PROcEsso DE TRANSFORMAÇÃO RADICAL
DA
ESTRUTURA CONCEITUALDO
ALUNO...98FIG. N° 03 -
A
INFORMAÇÃO OCUPAO
LUGAR EsI>ECIEIcONA
REDE CONCEITUALDO
ALUNO ... ..99FIG. N° 04 -
A
INFORMAÇÃONÃO
PODE sE INSCREVER DIRETAMENTENA
LINHA DE CONHECIMENTODO
ALUNO.99FIG. N° 05 -
A
RESTRUTURAÇÃODO
I>ENsAMENTOD0
ALUNO ... .. 100FIG. N° 06 -
O
PERFIL EPISTEMOLÓGICO DE BACHELARDEM
RELAÇÃOAO
CONCEITO DE MAssA (BACHELARD,viii
. _
RESUMO
A
visão Construtivistano
Ensinode
Ciências transformou-sena
força motriz daspesquisas envolvendo as concepções
dos
alunos e professores, relacionando-as aos conteúdos cientificos estudados duranteo
processode
escolarização.O
Construtivismoinstalou
na
pesquisaem
ensinode
ciênciasuma
nova
visão parao
processo ensino-aprendizagem,
tomando-se
a ideologiadominante na
pesquisaem
educação matemática eem
ensinode
ciência.E
Essas pesquisas construtivistas
envolveram
um
amplo
espectrode
visões,metodologias, referenciais e
promoveram,
conseqüentemente, diferentes abordagens parao
tratamento das concepções;
ou
seja, diferentesmodelos de
ensino-aprendizagemde
ciências.Dentre essas abordagens,
o modelo de
Mudança
Conceitual de Posner et al. (1982) foi,sem
dúvida,
o
mais utilizado nas últimas décadas;de forma que
aprender ciências tornou-sesinônimo de
mudança
conceitual.`
A Este trabalho discute criticamente a pesquisa construtivista
em
ensino de ciências eo
modelo
de
Posner et al.(l982), apontando as deficiências epistemológicas e psicológicasdesse modelo. u
A
partir das cn'ticas apontadas, são discutidas outras abordagensde
pesquisaque
promoveram
avançosna
análisedo
processo educacional. Assim,no
Capítulo 4,discutiremos a
noção de
“Perfil Conceitual” formulada porMortimer
(l994a),o
“Modelo
Alostéricode Aprendizagem”
proposto porGiordan
(1989), a idéiade “Complexificação
Conceitual”de
Désautels e Larochelle (1992), euma
nova abordagem
para as estratégiasde
“Mudança
Conceitual” propostas por Santos,M.
(1991), à luzda
epistemologiabachelardiana.
Em
uma
última análise,o
papelda
afetividadeno
ensino-aprendizagemde
ciências é recuperado naabordagem
educacionalcomo
um
dos
principais fatoresda
relação escolar.Um
aspectohumano,
determinantede
suas relações sociais e escolares,que
parece desconsideradoou
minimizado nas abordagensde
pesquisasem
Educação
e Ciência,mas
ABSTRACT
Construtivism
became
themost
important reference for researches in Science anMathematics
Education, relating students' and teachers' conceptions to school contentsand
installing a
new
visionon
teachingand
learning process.These
construtivists researches coveredmany
pointsof
view, methodologies,references,
and
promotedidifferent approaches to conceptions' dealing, it means, differentscience teaching
and
learning models.Among
them, theConceptual
Change
Model
from
Posner et al. (1982) surely
was
themost
used in the last decades: learning sciencebecame
synonym
of
conceptual change.This
work
critically discuss construtivist researchon
science learning and thePosner
et al's
Model,
pointing to it's_ epistemologicaland
psychological lacks.From
the pointedcritics, another important research approaches to educational process are discussed:
Mo1timer's (1994a)
Conceptual
Profile, Giordan°s (1989) AlostericLeaming
Model,
Désautels and Larochelle's (1992)
Conceptual Complexification and
Santos' (1991)Conceptual
Change
Approach,
inspired in the Bachelardian epistemology.At
last, the importanceof
affectivity in the science teachingand
learning process isrecovered as
one of
themost
important factorsof
the school relationships. Affectivity isrninimized or even not considered
on
Educationand
Science research's approaches, but it°sa important
human
aspect, fundamental in a school worried about the integral formationof
l
APRESENTAÇÃO
Trabalho
no
ensino de Ciências Naturaisna
Escola Públicado
Estadode
Minas
Gerais desde 1983, tendo
uma
formação
política e profissional construídano
seiodo
movimento
de
resgate e melhoriado
Ensino Público-
bandeirade
lutado
SindicatoÚnico
dos
Trabalhadoresem
Educação de Minas
Gerais(SIND-UTE).
Assim, as preocupaçõesque
nortearam a elaboração desta Dissertação
de Mestrado foram
geradasno
bojode minha
vivência
na
luta pela construçãode
uma
Escola Pública digna,competentemente
instrumentalizada e capazde
ensinar a todas as crianças e adolescentes, contribuindona
fonnação de
cidadãos conscientes e socialmente atuantes.A
escola públicavem
em
nossa sociedade,cumprindo
o
papelque aburguesia
nacional e
o
capitalismo intemacionalprocuram
lhe impor: a exclusão sistemáticada
classe trabalhadorado
processode
apropriaçãodo
conhecimento sistematizado e apromoção
de
modos
de analfabetismo histórico, político e conceitual (Giroux, 1986). Assim,o
discursode
"democratização
da
escola" veiculado pelos órgãosgovemamentais
é desmentido pelosdados
oficiais(MEC,
1993):0
Apenas
um
terço das crianças entre quatro e seis anosde
idaderecebem
atenção educativa de
boa
qualidade;0
Na
faixa etária de sete a 14 anos, cercade
3,5 milhões de crianças aindapermanecem sem
oportunidadesde
acessoao
ensino fundamental;0
Apenas
dois quartos daquelesque
ingressamna
escolaconcluem
as quatroséries iniciais, e
menos
de
um
quarto asconcluem
sem
repetência;0 Asestatísticas
mostram
aindaque
existem 17,5 milhõesde
analfabetos formaiscom
idade superior a 15 anos e cercade
18,8 milhõesnão
chegam
a completarquatro anos de escola.
O
processo seletivo na educaçãoque
até apromulgação da
Lei 5.692 / 71 excluía osfilhos
da
classe trabalhadora, principalmente, pelo reduzidonúmero
de
escolas públicas;utiliza
também,
práticas pedagógicasque forçam
as crianças a sairemou
sequer entraremna
Vários aspectos
do
currículo oculto escolarl e aforma
como
o
conhecimento é "recitado" na escola torna-o ainda mais distanteda
criança edo
adolescente,que
não
sabem
e
nem
entendem: a lógica, a finalidade eo que
fazercom
o
“saber”que “aprendem
É
o
desejo
de
adquirir esse “saber”que
levao
indivíduo à escola e, contraditoriamente, é esse“saber”
que
o
exclui.No
entanto, a culpa por este quadro educacional desalentador, pelo conseqüente e inevitável fracasso escolar é atiradaao
alunoH
e à sua familia, “às condições sócio-
econômicas”, “às características
de
raça”, etc.: os alunos“não aprendem porque
sãoimaturos, carentes e
sem
base” (Santos, O.,l985).A
estratificação ocupacional e educacional, seja baseadaem
gênero, classeou
raça, é bastante visível por trásdo
discurso otimista dominantede
igualdadede
oportunidades ede
sucesso individual; entretanto,
segundo
Giroux,“embora
as escolas sin/am aos interessesdo
capitalismo, elas servem a outros' interesses, alguns dos quais são opostos àordem
econômica
e às necessidadesda
sociedade dominante” (1986, p.83).Acredito
que
uma
das formasde
resistência a essa “sociedade dominante” ede
instalação de
uma
nova
ordem
escolar é a preocupaçãocom
o
conhecimentoque
o
alunotrás para a escola; conhecimento construído a partir
de
sua interaçãocom
o
mundo
eque
seG- me à
medida que
ele participada
sociedade, procurando
compreender
e intervirnos
fenômenos que
observa.Entretanto, nas nossas escolas,
ao
invésdo
professor consideraro
conhecimentoque
o
aluno possui~
sua maneira de pensar,de
se expressar-
eleaumenta
a dificuldade forçandoo
aluno a "memorizar" e "repetir" conteúdossem nenhuma
compreensão,bem
como,
executar, "receitas"sem
relaçãocom
suas experiências. Fatores esses que, certamente,contribuem para
o
elevado índicede
reprovação e evasão nas escolas públicas.Embora
o
discursodo
poder sejade
democratização e qualidade de ensino,não há
medida
concretaalguma
paraque o quadro
se altere: a precária infra-estrutura escolar se1Segundo Henry Giroux (1986, p.71) o currlculo oculto escolar é o conjunto de normas, valores e crenças
transmitidas aos alunos “através de regras subjacentes que estruturam as rotinas e as relações sociais na escola e na vida
em
sala de aula”.Os
vários aspectos desse currículo oculto são discutidostambém
por MichaelW.
Apple (1982).3
deteriora a cada dia;
o
professor, cujaformação
é deficitária e cujos salários são aviltantes,continua
um
"dadorde
aulas", retiradasde
livros didáticos obsoletos; e os alunos,pauperisados por sucessivos planos econômicos, são sutilmente afastados
da
escola.São
essas complexas questões relativasao
cenário educacional, fundamentalmente importantesna compreensão
global dos problemasda
educação,que
seimpõem como
norteadoras
de minha
postura e ação educacionais.Uma
décadade
trabalhona
escola públicame
habilitam a retrataro
ensinode
ciências
como
fundamentalmente tradicional, caracterizado por aulas expositivas; práticasde
laboratório fundadas
em
roteirosde
atividades;um
alunonão
estimuladoem
suacuriosidade,
em
seu desejo de conhecer eaprender
eum
professorhumano.
eprofissionalmente insatisfeito.
São
as dificuldadescom
ensino-aprendizagemde
ciências que,segundo
Matthews
(1994, p. 256), teriam instaladouma
“crisecontemporânea do
ensinode
ciências - refletidana evasão das aulas de ciências, tanto
por
partede
professorescomo
dos estudantes, ena
larga cifra
de
analfabetismo científico”.Assim,
o
quadro geralde
dificuldades educacionais traçado, até aqui,com
o
tom
de
um
desabafo necessário, se manifestade forma
marcanteno
ensinode
ciências.É
contra esta realidade e as dificuldades inerentes a esta práticaque
tenhome
debatidoem
diferentestrincheiras:
na
salade
aula,no
trabalho sindical eno
curso de mestrado.Essas experiências
impuseram-me algumas
questões,que não
são novasnem
simples,mas
que
tocam o
ceme
das dificuldades vividas (Santos, F., 1995):0
Como
tomar
as aulasde
ciênciasuma
oportunidade de real aprendizagem? 0Qual
é a estrutura básicado
conhecimentoque
se ensina-
a sua organização,as relações mais adequadas
que favoreçam
a apropriação desseconhecimento
pelo aluno,
de
acordocom
o
seu desenvolvirnento cognitivo e experiênciasde
vida?
0
Como
conhecero
tipode
saberque
o
alunotem?
Como
foi produzido?Qual
éa sua lógica e formas
de
raciocínio? Quais as suas formas de ver e estruturaro
Foi
na
procurade
respostas para essas questões e partindode
diferentes vivências (escolar, sindical e acadêmica),que pude
ter acesso (e tentei compreender) a riqueza e variedade das interpretações dos alunos para os fenômenos.Um
conhecimento puro, ingênuo, simples,não
cientifico,que
é desconsideradona
práxis pedagógica,mas
emerge
atodo
momento
em
salade
aula.Os
chamados
“erros” dos alunos,que
muitas vezesprovocam
risadas por parecerem anedotasou
grandes absurdos, refletemuma
forma
diferente de ver
o
mundo
e se analisadoscom
respeito e competência poderiampromover
transformações nas relações escolares.
Nessa
busca, depareicom
propostas educacionais preocupadascom
o
desenvolvimento
de
metodologiasde
ensinocomprometidas
com
o conteúdo dasrepresentações e idéias dos estudantes
em
relação a diversos conceitos científicosabordados
durante a escolarização. ~
Grande
parte dessas propostas metodológicas e suas preocupações subjacentes seenquadram no que
secostumou chamar de
visão Construtivistada
pesquisaem
educação.Uma
abordagem que compreende
a aprendizagemcomo
um
processoonde
o
aprendiztem
um
papel ativo na construçãodo
seu conhecimento eque
suas idéias anteriores são fundamentais nesse processo.A
perspectiva construtivista,que
será analisadano
Capítulo 1 desta dissertação,rompe
com
as visões empiristas e behavioristasque
conduzem
auma
concepçãona
qualo
conhecimento indutivamente
acumulado
garanteum
saber correto; rompe, ainda,com
a visão preconceituosa deque
as “concepções incorretas”dos
estudantes detectadasem
salade aula são basicamente “misconceptions”
que poderiam
ser superadas atravésde
tratamentos
puramente
lógicos(Nussbaum,
1989).É
a partir dessa perspectiva construtivista ede
seus pressupostos,que
surgenos
anos70
um
movimento
dedicadoao
levantamento e análisede
descrições deconcepções
altemativas dos alunos para os diferentes domínios
do
conhecimento científico.Esse
campo
de pesquisa conhecido
como Movimento
das
Concepções
Altemativas, eque
seráestudado no_ Capítulo 2, propiciou a elaboração
de amplo
inventáriode
concepçõesdos
estudantes, levantando sua natureza, características e
comportamento
durante o processode
5
Mas
as pesquisas não se dedicaram apenas a sumarizaçãode concepções
epromoveram também
a elaboração de váriosmodelos
de ensino, objetivando transformarou
substituir as concepções
dos
estudantes por conceitos científicos. Dentre esses trabalhos,o
modelo da
Mudança
Conceitual foio
mais utilizado nas pesquisasem
educaçãonos
últimosquatorze anos, é aquele sobre
o
qual pretendome
debruçarno
Capítulo 3 deste texto.O
modelo
deMudança
Conceitual proposto por Posner et al. (1982),promoveu
um
número
incontávelde
pesquisas empíricas voltadas para a substituiçãode concepções
espontâneas
por
conceitos científicos.Esse
modelo
elegealgumas
estratégias paraa
substituição de concepções,
que
são compiladas a seguir:0 Detectar a existência
de
idéias intuitivas, suas características, variedade, persistência e efeito sobre a aprendizagem.0 Propiciar
um
número
suficientede
anomalias (experimentos, demonstrações,problemas,
exemplos
contra-intuitivos sobre as situações) criandoum
conflitocognitivo entre suas idéias e essas anomalias,
que
produziriam a faltade
confiança no esquema
anterior, enfraquecimentoda
resistência àmudança
econseqüente possibilidade
de mudança.
0
Tomar
anova concepção
inteligível, plausível e fiutífera,mesmo
que
esta inicialmente, contradiga às idéias prévias dos alunos, paraque
possa ser aceita e assimilada por estes.Inicialmente, considerei
que
essemodelo
e as estratégias propostas _responderiam àsquestões problemáticas
de
minha
prática educativa, fazendo inúmeras restrições a essaabordagem.
Assim,
o
objetivo central deste trabalho é a realizaçãode
uma
análise críticaem
tomo
da
Mudança
Conceitual edo
Modelo
proposto por Posner et al. (1982),aprofundando
a discussão dos aspectos filosóficos e psicológicos
da
proposta, esclarecendo os possíveisequívocos teóricos cometidos e procurando apontar
novos
rumos
para a pesquisaem
educação e ciência.
Minhas
críticas se baseiam na hipótesede que
aMudança
Conceitual, entendidacomo
substituição - obliteraçãode
conhecimentos, éuma
perspectiva de modelizaçãodo
privilegia os resultados (as trocas conceituais)
em
detrimentodo
processo (as formas sociais e cognitivasde
construçãodo
conhecimento).A
idéia deque
a tarefado
ensino épromover
substituições estruturaisno
conhecimento
do
aluno,ou de que
a aprendizagem é sinônimode
substituição conceitualme
parecem
desconsideraro
desenvolvimentoda
pesquisaem
educação dos
últimos anos.Um
tal desenvolvimentoque
permitiu a elaboraçãode
estratégias educacionaiscom
vinculações e abordagens diversificadas; é a essas abordagensque
dedico a discussãodo
Capítulo 4, objetivando a análise daqueles
modelos de
ensinoaprendizagem que assumiram
uma
postura críticaem
relação à perspectivade Posner
et al. ede
outrosmodelos que
seutilizam
da
propostade
mudança
conceitualcomo
fundamento
para suaabordagem,
compartilhando
da
visão educacional dos autores.Assim,
no
Capitulo 4, discutiremos anoção de
“Perfil Conceitual” formuladapor
Mortimer
(l994a),o “Modelo
Alostéricode Aprendizagem”
proposto porGiordan
(1989),a idéia
de “Complexificação
Conceitual”de
Désautels e Larochelle (1992), euma
nova
abordagem
para as estratégiasde
“Mudança
Conceitual” propostas por Santos,M.
(1991), àluz da epistemologia bachelardiana.
A
perspectivade
análise neste texto,compreende que somente
uma
metodologiaque
se fundamente e se preocupe,não
apenascom
o produto
do
conhecimento,mas
com
processo
de
elaboração desse conhecimento,poderá
darnovo
rumo
às pesquisasem
ensinode ciências.
Um
processo considerado integralmente eque
focaliza todos os aspectospresentes na relação
que
se estabelece entreo
sujeito eo
objetono
ato de conhecer.Um
conhecer
nunca meramente
conceitualmas
que
contemple a diversidade de formasque
usamos
em
nossa interaçãocom
o
mundo
eque processamos ao
tentar apreendê-lo.É
a partir dessa visão,que
discutiremosno
Capítulo 5,o
papelda
afetividadeno
processo
de
construçãodo
conhecimentono
ambiente socialda
salade
aula, aspecto desconsiderado nas pesquisas implementadas até agora,mas
que não
deve continuarobscurecido na análise
do
processo educacional.Evidentemente, a complexidade
do
processo ensino-aprendizagem, é obstáculoao
7
"processo e produto"
do
conhecimento, se constituindoum
desafio
para os educadores e pesquisadoresem
ensino de ciências.Possivelmente, essa complexidade refletida através
do
grandenúmero
de
variáveis envolvidasno
ato educacional,promoveu
uma
tendênciade
pesquisa excessivamente focada sob os aspectos cognitivos e racionaisdo
processo, obscurecendo aspectos sociais, culturaise afetivos. Assim, grande parte das abordagens correntes analisam
o
aprendizcomo
um
ser racional, despido de emoções, sensações e sentimentos.Uma
abordagem
fragmentáriado
SER,
que não
contempla os interessesde
uma
educação
integral e eficaz.Assim, neste texto, pretendo
não
apenas realizaruma
revisão críticaem
tomo
do
modelo
de
Mudança
Conceitual,mas
levantar e discutir alguns aspectospouco
consideradosna
pesquisaem
educação e ciência,implementando
a busca poruma
educação
integral,que
exerça
eficazmente o
seu papelna
transformaçãodo
homem
eda
sociedade,em
direção aCAPÍTULO
1coNsTRuT|v|s|v|o:
PERsPEcT|vA
coNTEMPoRÃNEA
DE
PESQUISA
EM EDUCAÇÃO
sa
epistemologiacontemporânea
constituicada
vez,
mais
um
campo
de
pesquisasao
mesmo
tempo
científicas e autônomas,
que
constituiriamuma
disciplina separada, reconhecida edevidamente
etiquetada se
não
fossepela
sua
própria natureza essencialmente interdisciplinar.JEAN PIAGET
1.1 -
A
Abrangência
Construtivista
A
preocupação
com
a naturezado
conhecimentohumano
remonta, na históriada
cultura ocidental, aos gregos. Questões epistemológicas2 antigas, principalmente aquelas
relativas à natureza
do
conhecimento, seus componentes, sua origem, seu desenvolvimento e emprego,foram
e continuam sendoamplamente
exploradas.Na
concepção
dos nossos antepassados gregos, refletida principalmente atravésdo
pensamento
de Platão,o
conhecimento genuíno já está implantado na almahumana
ao
nascimento,
cabendo
à instruçãoo
papelde
trazer esse conhecimento inato à consciência.2 Nesta
passagem
do textoa palavra epistemologia é aplicada
em
seu sentido amplo,como
ateoria geral do conhecimento -
também
denominada
gnoseologia.Em
outras passagens,entretanto, o termo epistemologia
assume
um
sentido restrito, referente à filosofla da ciência - aoestudo crítico dos princípios, hipótese e resultados das ciências já constituídas e que visa a determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance objetivo dessas ciências. Existe pois
em
epistemologia,uma
tendência separatista paracom
a filosofia; não pretendemos empreender essa análise, já realizada por Piaget (1980), etampouco
nos abstennosdo
usodo
termo. Entretanto, procuraremos na utilização do termo,em
seu sentido restrito, vincula-Io aum
epistemólogo da9
Na
análise grega,o
conhecimentoíé concebidocomo
“verdadeiro” -na forma de
uma
teoria completa
da
Natureza - e é conhecido porum
“sujeito passivo”que não
intervémno
ato
de
conhecer, éum
simples espectador -conhecer
resume-seem
apreender ecompreender
formas acabadasda
Natureza.Em
contrapartida, a esta visão grega,hegemônica no pensamento
ocidentalpor
vários séculos, é consensual atualmente
que o
conhecimento éuma
construção laboiiosamente executada pelo individuomunido
dasmensagens
culturais de seugrupo
social e
que o
papelda educação
é serum
espaço problematizador,fomentador de novas
construções.. j
No
caminho
histórico traçado entre a visão inatísta grega e a perspectivaconstrutivista
modema,
várioshomens
e mulheres trabalharamna
buscade
uma
concepção
unificada
do
conhecimento edo
conhecerhumanos.
Na
Europa do
séculoXVII,
uma
concepção de
construçãode conhecimento
foiincorporada
ao pensamento
ocidental atravésdo
trabalhode
René
Descartes. Descartes,ao
eleger
como
principios últimos de sua fisica certas figuras geométricas diminutas desprovidas de densidade, cor e outras propriedades essencialmentenão
geométricas, e defenderum
idealfilosófico
do
“verdadeiro conhecimento”,que
também
derivavada
geometria, tornou explícitoque
os ideais para se julgar os produtosda
indagação intelectualhumana
estão associados á maneira pela qual se obtinham esses produtos. Atravésdo
enunciado
Eu
Penso, demonstraque o
sujeitodo
atode
pensarnão
éuma
mera
funçãodo
pensamento,
mas
éuma
entidade reahnente existente. -Dessa
forma, Descartes organizouuma
argumentação
capazde
seopor ao
legadogrego e fiindou a epistemologia
modema
(Piaget, 1980),uma
epistemologiacomprometida
com
a existênciado
sujeitodo
conhecimento,não
maisde
um
sujeito contemplativo(passivo),
mas
um
sujeito fonte de construçõesque ao
mesmo
tempo
inventa (nasmatemáticas) e estrutura
o
conhecimento (nomundo
fisico).Assim, tanto os filósofos-cientistas
da
Grécia Clássica quantoda
Europa
do
séculoXVII
procuraram enfrentar os problemas epistemológicos centraisde
sua cultura,procurando formular questões, doutrinas e idéias sobre
o dominio do pensamento humano.
aspectos fundamentais, ainda são atuais
quando
se pretende definir “oproblema da
compreensão humana”.
,As
respostas contemporâneas, entretanto,não pertencem
aum
campo
único,mas
possuem
elementosde
diversos saberes: filosófico, lingüístico, psicológico, etc.;tampouco
representam literahnente a
concepção de
construçãodo
conhecimento proposta atravésdo
racionalismo cartesiano.A
alusão feitaa
Descartes, neste texto,tem
0
objetivode
caracteriza-lo
como
um
contraponto à tradição vinculadaao pensamento
grego, enão
como
um
precursor das idéias construtivistas atuais.A
A
visão construtivista contemporânea,que
será caracterizada mais à frente, sobo
aspecto
da
pesquisaem
educação, é frutode
uma
plêiade de trabalhosimplementados
principalmente neste século.
Uma
revisãoda
literatura construtivista declara as contribuiçõesde
diferentescampos
do pensamento humano.
Normalmente
são citados, a EpistemologiaGenética
de
Piaget; amudançade
idéias sobre a filosofiada
ciênciapromovida por
Popper,Kuhn,
Feyerabend, Toulmin, Lakatos e Bachelard; a redescobertado pragmatismo na
filosofia (através de Richard Rorty); a
nova
sociologiada
ciência; as visões pós-modernistasde
mundo
ede
ciência; a teoriade George
Kelly sobre“Os
Construtos Pessoaís”;o
construtivismo social, sobretudo a teoria de aquisição e desenvolvimento
da
linguagemde
Lev
Vygotsky
(Duit, 1993).Em
geral, a visão construtivista parece ser influenciada pelos principais pensadores contemporâneos,não somente
na filosofiada
ciênciaou
na psicologia cognitiva mas,também,
pelosnovos
desenvolvimentosna
matemática, acentuando a indeterminação (ateoria
da
catástrofe edo
caos, a geometria dos fractais) ena
inteligência artificial.Resumidamente,
a visão construtivista éum
espectroamplo
de idéiasque
compartilham
um
tratamentocomum
(Matthews, 1993);que
instalouuma
nova
tendênciada
moda
na pesquisaem
educação (Duit, 1993;Solomon,
1994), e que, sobretudo, representauma mudança
de mentalidade que não
se manifesta apenas nas discussões educacionais.A
interdisciplinaridadepromovida
poruma
concepção
construtivado conhecimento
humano
possibilitouo
estabelecimentode conexões
inesperadas e frutíferas,que
podem
ser11
Na
literatura a partir dos anos 60,, operam-semudanças
paradigmáticas.De
um
climaestruturalista,
onde o
texto é analisado pelos seus caracteres estéticos, semânticos e pela suaobjetividade
de
objeto lingüístico, atravésde
um
formalismo maisou menos
rigoroso, adiscussão literária passa a ser orientada pela pragmática
da
leitura efomenta o
surgimentode
diferentes teorias sobreo
par Leitor - Autor.A
nova
visão, nas palavrasde
Umberto
Eco
(1995), admite: “o funcionamento
de
um
texto(mesmo
não
verbal) explica-se levandoem
consideração,
além
ou
em
lugardo
momento
gerativo,o
papeldesempenhado
pelodestinatário na- sua compreensão, atualização, interpretação
bem
como
o
modo
com
que
o
próprio texto prevê essa participação” (Eco, 1995, p.2).
Na
Sociologia, asmudanças
em
direção amodelos de
análisepreocupados
com
anoção do
“outro”na
cultura eno
discurso e, principalmente, as críticas à “ciência socialburocrática” (Mills, 1980), reinstalam
na
análise sociológicao
cultivoda
sensibilidade eda
imaginação. `
O
construtivismo é, portanto,um
paradigmade
pesquisaque
exerce sua influência e,ao
mesmo
tempo, é influenciado por diversoscampos do
saberhumano.
,Mas,
possivelmente,nenhum campo
foi tãoprofimdamente
afetado pelas idéiasconstrutivistas
como
a educação.Não
apenasuma
nova
linguagem (Solomon, 1994) éinstalada
na
educação,mas
métodos, abordagens e interesses são redefinidos a partirda
década de
70; será essencialmente sobre a leitura construtivista implementadana
pesquisaem
educaçãoque
procuraremos focar a discussão deste texto.1.2 -
Constmtivismo na
Educação
:Arqueologia
Para avaliar a importância e
o
significadodo
construtivismona
pesquisaem
educação, é necessário levarem
consideraçãoo
clima científicono
qualgerminaram
as primeiras idéias dessemovimento.
Durante várias décadas
do
nosso século, as pesquisas científicasem
educação
tiveram
como
eixos teóricos correntes psicológicas (behaviorismo) e filosóficas (positivismo, fisicalismo, verificacionismo) -o
legado aristotélicoà
epitemologiamoderna
O
behaviorismo, nascido nos EstadosUnidos na
décadade
20, estabeleceu-seapoiado e solidário às concepções positivistas e empiristas. Juntos
fundamentavam
uma
visão
de
pesquisa cujos eixos principaispodem
ser resumidos:0 os pesquisadores deveriam se limitar a
métodos
públicosde
observação,de forma
que
qualquer cientista pudesse aplicar e quantificar,nada de
reflexão subjetivaou
introspecção particular. .
` 0 crença absoluta
na
supremaciada
ciência eno poder
determinantedo meio
ambiente,i
onde
indivíduoseram
vistoscomo
refletidores passivosde
várias forças e fatoresde
seu meio.
Evidentemente, os interesses dos pesquisadores
não estavam
dirigidos para questõescomo
naturezada
linguagem,do
planejamento,da
soluçãode
problemas, da imaginaçãohumana;
e coisas semelhanteseram
tratadas às escondidas,com
grande dificuldade ou,simplesmente, rejeitadas (Gardner, 1995). `
Na
educação,o pensamento
behaviorista/empirista, estabeleceu-se atravésde
um
ensino tecnicista de fundamentação filosófica positivista, estruturalista e cientificista
que
visava atender as necessidades de desenvolvimento
com
basena
industrialização.O
cientificismo educacional, inspirado nos trabalhos vanguardistasdo
behaviorismo /empirismo, foi
fomentado
pelo contexto sócio-político mundial.O
lançamentodo
Sputinik (primeiro satélite artificial), realizada pelos soviéticosem
plena guerra fria, incentivouprojetos
que
suprissem as deficiênciasna formação
científicado
Ocidente.As
constantesconvulsões sociais, provocadas pela crise energética e pela liberdade
de
pensamento,demandaram
uma
escola mais positiva, formadorade
um
trabalhadorcomportamentalmente
modelado, capaz
de
responder àsdemandas
do
desenvolvimento industrialno
modelo
fordista3.
H
Assim, a educação, durante os anos 50,
60
e70
foi caracterizada: i) porum
ensinocentrado nos conteúdos e informações positivas, individualista, veiculador de
uma
ciência tradicional baseadano
método
científico; ii) poruma
escola orientada para aproveitamentoquantitativo,
modeladora do comportamento
humano
com
interessena produção
3 Para a compreensão dos princípios e das inovações tecnológicas e organizacionaispromovidas
13
competente e repasse
de
conhecimentos tecnológicos úteis; iii) porum
conhecimento
organizado (lógica e psicologicamente) e estruturadoem
manuais; e iv) poruma
metodologia
de
transmissão recepçãode
informações.Enquanto
isto,ou
seja,em
pleno reinado behaviorista / ernpirista, a invasãoconstrutivista mostra-se
como
um
incêndiode
isolados, diversificados e decisivos focos.Na
psicologia, antropologia, lingüística, sociologia, filosofia,há
uma
tendênciaem
abandonar
alimitada discussão
de
estírnulo-respostaem
favorde modelos
mais abertos, interativos epropositados,
que
mais tardepromoveram
transfomraçõesna
educação.Na
Lingüística, a partirde
1957, Saussure trabalha a línguacomo
uma
“totalidadeorganizada” (Gardner, 1995), cravando as primeiras estacas
de
uma
lingüísticanão
estruturalista.
Lévi-Strauss,
na
antropologia, é influenciado pela lingüística e inauguranos
anos60
uma
nova abordagem
antropológica,preocupada
com
as maneiras pelas quais amente
humana
(primitivaou
não) recebe, classifica e interpreta infonnações.Entretanto, é inegável
que
as transformações fundamentais parao
estabelecimentodo
construtivismona
educação ocorreramna
psicologia ena
filosofiada
ciência.Na
psicologiao caminho
decisivo parauma
visão mais construtivada
atividadehumana
é traçado, a partirde
1956, porGeorge
Miller eJerome Bruner
atravésde
uma
revolução cognitiva. Entretanto, focos construtivistas mais antigos, constituídos pelos psicólogos da Gestalt (desde 1900) e por Frederic Bartlett trabalham abordagens diferentes,
mas
não
menos
importantes.Enquanto
os gestaltistas estavam interessadosem
problemasde
grande escala,por
métodos
holísticosde
soluçãode
problemas e pelos aspectos construtivosdo
pensamento,Bartlett mantinha vivos os estudos molares
na
psicologia e seus resultadosde
pesquisa lhepermitiam fazer afirmações muito semelhantes às dos construtivistas contemporâneos. Para Bartlett :
“A
recordaçãonão
é a reestimulaçãode
inúmeros vestígios fixos,sem
vidae fragmentários. Ela é
uma
reconstrução, imaginativa, feita a partirda
. relaçãode
nossa atitude paracom
todauma
massa
ativa de experiências passadas...
A
atitude é literalmenteum
efeitode
capacidadedo organismo
de
se voltar para seus própriosesquemas
e éuma
função diretada
consciência.” (Bartlett, 1932, p.213, citadoem
Gardner, 1995, p. 130). 'Mas
sem
dúvida,o
programa
estabelecido pelo biólogo suíço Jean Piaget,na década
de
30, foio
núcleo mais resistenteem
pleno reinado behaviorista/empirista.De
forma que
vários autores vinculamo
surgimentodo
movimento
construtivista naeducação
aostrabalhos
de
Piaget. Vinculaçãonão
apenas à crença piagetiana deque
as criançasconstróem
o
seu conhecimento,mas
também, ao
própriomodelo
epistemológico elaboradopor Piaget para explicar
o
processode
construção /do conhecimento -a
epistemologiagenética. u
Com um
trabalho voltado, essencialmente, para a gênese e construçãodo
conhecimento, Piaget e seus colaboradores construíram
um
corpode
conhecimentos sobreepistemologia e sobre
o
desenvolvimentodo
conhecimentona
criança (número, velocidade, causalidade fisica, etc.)que
deslanchouum
campo
inteiroda
psicologia efomeceu
uma
agenda de
pesquisaque
mantém
ocupados
ilustre pesquisadores até os diasde
hoje(Gardner, 1995).
Paralelamente
ao
desenvolvimentoda
ciência cognitiva e aos avanços na psicologia, as análises sobre a naturezada
ciência sofriam profundas transformações, afastando-seda
tradição epistemológica “baconiana”, renovada pelo
Empirismo Lógico do
“Circulode
Viena”(e
de
Berlin), a partir dos anos 20.P
A
tradição empirista,que advoga
uma
observação objetiva dos fenômenos, isentade
fatores pessoais, preconceitos e predisposições e baseada
num
“método
científico” essencialmente indutivo,dá
lugar a novas abordagens epistemológicasque
convergem
para aidéia
de
que
o
conhecimento éuma
construçãohumana
e, portanto,defendem
uma
observação
que não
é objetivanem
neutra,mas
que
é preparada e orientada poruma
teoriacada vez mais
profimda
e sofisticada.Assim, as novas posições epistemológicas
convergem
para a idéiade
que o
conhecimento é
uma
construçãohumana.
Interessam-se pelo processo pormeio
do
qual se adquireo
conhecimento científico, rejeitamo
parecerde
que
a ciência progridepor
acumulação, enfatizando
o
processo revolucionário pelo qualuma
teoria mais antiga érejeitada e substituída
por
uma
nova
teoria, incompatívelcom
a anterior(Nussbaum,
1989); apesarde
divergirem sobre as características desse processo revolucionário (verLakatos
e15
A
epistemologia construtivista:(Nussbaum,
1989), estabelecida através das“revoluções e paradigmas” propostos por
Thomas
Kuhn
(1962);do
“falsificacionismo”de
Karl
Popper
(l972);da
“ecologia conceitual”de
Stephen Toulrnin (l972);da
“metodologiados
programas de
pesquisa” proposta porImre
Lakatos (1979) edo
“anarquismo
metodológico”
de
Paul Feyerabend (1970), instalaramnovos
aresno
debate epistemológicoao conceberem
um
sujeitoque não
se limita a acumular passivamente as informações eadmitindo
que
os indivíduostêm
um
papel ativono
processamentoda
experiência eda
informação,
ou
seja, a realidade é percebidade forma
pessoal e construtiva.Assim, principalmente graças a
novos
e revolucionáriosprogramas
de pesquisana
Psicologia e
na
Filosofiada
Ciência, estabelecidosem
oposição a vários aspectosda
abordagem
behaviorista / empirista (esem
rompimento
com
outros tantos aspectos), surgenos anos
70 o movimento
construtivistana
educação.Uma
nova
abordagem,comprometida
com
o
papel essencial daqueleque
aprende,que
constrói ativamente significados eque
encontra sentidoao
estabelecer novas relações(DRIVER,
1986), passa a guiar as pesquisasem
educação.1.3 -
Características
do
Construtivismo
na
Pesquisa
em
Educaçäo
e
Ciência
A
adoção do
modelo
construtivista, a partirdos
anos 70, constituiu-seum
caminho
natural
na
direçãode
uma
“abordagem
mais estimulante e reanimadora”, considerada superior auma
tática desgastadacom
o
tempo
e envolvidaem
questõespouco
interessantespara
o
clima emergente (Gardner, 1995).A
nova concepção
(mais aberta, criativa, interativa) foi incorporada ao trabalhode
pesquisadores nos vários
ramos da
pesquisa educacional: estudos curriculares,fonnação de
professores, metodologias de ensino e alfabetização, etc. Entretanto, realmente proeminente
foi a adesão dos pesquisadores
em
ensinode
ciênciasao
modelo
construtivista de pesquisa.A
análise dos pesquisadoresem
Educação
e Ciência trata das construções (concepções) dos estudantes; principalmente,o
conteúdo das idéiasque
as crianças eadolescentes constróem para dar sentido aos
fenômenos do
cotidiano eque
estão relacionadas às matérias cientificas estudadas durante a escolarização.Os
pesquisadorescostumam
vincularo
surgimentodo
construtivismo na pesquisaem
educação
e ciência ao trabalhode
Piaget.Segundo
Solomon
(1994)não
seria dificil obteracordo
em
tomo
da
proposição deque
um
dos primeiros textos construtivistas teria sido escritopor
Piaget -La
Représentationdu
Monde
Chez
L
'Enfante (1926), entretanto,dificilmente as contribuições
de
Piagetem
épocas anteriores seriam “causadorasdo
construtivismo
como
nóso
conhecemos
hoje”;o
construtivismo piagetiano, focado sobreos
processos gerais
de
construçãode
conhecimentos, éremodelado
pelos pesquisadoresem
educação
e ciência, atravésde
uma
nova
linguagem estabelecida por Driver e Easley (1978).Essa
remodelagem na
análise piagetiana estabeleceuuma
agenda de
pesquisaeducacional
preocupada
com
o
conteúdo das idéiasdos
estudantesem
relação a tópicos científicos, afastando-seda
análise piagetianaicentradano
desenvolvimentode
estruturas lógicas subjacentesao
processodo
conhecimento.Apesar
dessa polêmicaem
relação às origensdo
construtivismo naeducação
eciência, certamente, a abrangência construtivista discutida anteriormente, conferiu
ao
construtivismo educacional
uma
grande variedadede
diferentes abordagens e visões,que
aparecem na
literatura sobum
mesmo
rótulo (Mortimer, l994b).Driver et al. (l994b), discutem
algumas
das diferentes tradições para a análisedo
processo
de
construçãodo
conhecimento: tradições focadas sobre a “construção pessoalde
significados”; tradições
que
retratamo
processode
construçãodo
conhecimentocomo
uma
“enculturação dentro .
do
discurso científico”,que
vêem
o
processoenvolvendo
“aprendizagem
de
práticas científicas”;ou
ainda, focadasno
estudoda
“interação” entreo
conhecimento informal
do
estudante eo
conhecimento científico introduzidoem
salade
aula.
Entretanto, apesar
da
diversidadede
“leituras construtivistas”,há
algumas idéias básicas compartilhadas pela maioria dos pesquisadores e explicitadasem
trabalhosde
revisão (Driver, 1989):
0
A
idéia deque o
indivíduo é ativo na construçãodo
conhecimento;~