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A Mortalidade por Causas Externas e os Aspectos Socioeconômicos nos Bairros de Natal

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Academic year: 2021

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A Mortalidade por Causas Externas e

os Aspectos Socioeconômicos nos Bairros de Natal

*

Elizangela de Assis UFRN

Lára de Melo Barbosa UFRN

Palavras-chave: mortalidade, causas externas, transição epidemiológica.

1 Introdução

Nas últimas décadas, o Brasil tem experimentado declínio dos níveis da mortalidade e conseqüente aumento da esperança de vida. Esse processo foi acompanhado por modificações nas causas básicas de morte, que são resultado do processo de transição demográfica e da transição epidemiológica em curso.

Dentro do contexto da transição epidemiológica, os óbitos atribuídos às doenças infecciosas e parasitárias vêm perdendo a representatividade ao longo dos anos e, paralelamente, observa-se uma crescente importância do aumento da mortalidade por causas crônico-degenerativas e também da mortalidade atribuída às causas externas. Estas últimas representavam, no início da década de 80, no Brasil, cerca de 9,4% do total de mortes, percentual esse que ascende a 12,3%, em 1990 - em termos absolutos o crescimento foi da ordem de 43%. A taxa de mortalidade por causas externas elevou-se de 59,0 para 70,0 óbitos por 100 mil habitantes entre 1980 e 1990, passando a representar o segundo maior grupo de causas de morte, apenas abaixo daquele constituído pelas doenças do aparelho circulatório (Mello Jorge et al., 1997).

No município de Natal, a exemplo do que vem acontecendo no Brasil, progressivamente tem-se observado um acentuado declínio dos níveis da mortalidade, particularmente nos últimos anos. Além disso, também é possível identificar um processo semelhante ao da transição epidemiológica no município. De um lado, ao

*Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado

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longo dos anos, verifica-se uma redução da importância relativa das mortes atribuídas às doenças infecto-parasitárias; de outro, as mortes por causas crônico-degenerativas assumem uma importância cada vez maior. Nesse processo, também se constata que as mortes por causas externas passam a ocupar paulatinamente um papel de destaque (Formiga et al., 1994, Formiga, Pessoa & Ramos 1999, Formiga, 2000). Dados recentes revelam que, atualmente, as causas externas são o terceiro grupo de causas de morte mais freqüente.

Diante do crescimento da violência no município de Natal, busca-se nesse trabalho analisar esse fenômeno em seu aspecto mais extremo: o óbito. A violência aqui abordada faz referência à mortalidade por causas externas. As violências, denominadas por “causas externas” pela Organização Mundial de Saúde, englobam todos os tipos de acidentes, os suicídios e os homicídios.

Cruz (1996) argumenta que a violência, que atualmente ocorre nos centros urbanos, é um fenômeno de múltipla determinação. Nessa perspectiva, novos paradigmas estão sendo desenvolvidos no sentido de incorporar nas abordagens tanto os aspectos individuais como os fatores que envolvem o grupo. Diversos outros autores defendem que a abordagem da violência deve ser vista como sendo uma gama de fatores socioeconômicos, políticos e culturais que interagem numa sociedade (Da Mata, 1982; Minayo, 1994). Nesse sentido, optou-se, nesse trabalho, por enfocar o tema da violência baseando-se na caracterização socioeconômica dos distintos bairros do Município de Natal. Diversas variáveis foram selecionadas de forma a fornecer um diagnóstico das características socioeconômicas da população residente nos bairros de Natal. A investigação da relação entre os patamares da violência e a caracterização socioeconômica dos bairros de Natal visa contribuir para a compreensão da “mais nova

doença endêmica da sociedade” (Cruz, 1996) - a violência.

O principal objetivo desse trabalho é relacionar a mortalidade por causas externas no município de Natal e sua distribuição por bairros, no triênio 1998-1999-20001, com o perfil socioeconômico e demográfico desse município.

São objetivos intermediários:

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Analisar a evolução da mortalidade no município de Natal, focalizando os grupos específicos de causas externas, idade e sexo da população, nos triênios 1990-1991-1992, 1998-1999-2000;

Investigar a magnitude e a tendência da mortalidade por causas externas nos bairros de Natal nos triênios 1993-1994-1995, 1998-1999-2000, segundo sua distribuição espacial;

Identificar a ocorrência de agrupamentos de bairros em Natal com perfis socioeconômicos similares.

2 Natal: caracterização e algumas tendências demográficas

Fundada em 25 de dezembro de 1599, fato que originou o nome da cidade, somente a partir de 1922, Natal, capital do Rio Grande do Norte, passou a se desenvolver em ritmo mais acelerado. As primeiras atividades urbanas tiveram início no bairro da Ribeira, próximo a foz do Rio Potengi, expandindo-se, logo após, em direção ao atual centro da cidade. Devido à sua posição geográfica privilegiada, durante a Segunda Grande Guerra Mundial, com a construção da base aérea de onde partiram os aviões das forças aliadas, ficou conhecida como "Trampolim da Vitória". Cidade litorânea, contemplada com diversos fatores naturais e culturais, o Trampolim da Vitória hoje tem vocação genuína para o turismo, o qual atualmente é uma de suas principais atividades econômicas.

Conta atualmente com uma área de 169,9 km2 e população de 712.317

habitantes, sendo 334.355 homens (47%) e 377.962 mulheres (53%), de acordo com o Censo Demográfico de 2000. A expansão urbana vem ocorrendo em direção aos municípios de Parnamirim (ao sul), de Extremoz (ao norte), de São Gonçalo do Amarante (a leste), de Ceara-Mirim e de Macaíba, formando a Grande Natal.

Sendo a maior cidade do estado do Rio Grande do Norte, Natal possui atualmente 37 bairros, distribuídos nas quatro zonas sanitárias: 1) Zona Sul ( 22% da população do município, de acordo com o Censo 2000) – composta por Nova Descoberta, Pitimbu, Candelária, Neópolis, Capim Macio, Ponta Negra, Parque das Dunas, Lagoa Nova, com população de 155.884 habitantes; 2) Zona Oeste (27% da

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população) – englobando Bom Pastor, Cidade Nova, Guararapes, Dix-Sept-Rosado, Planalto, Nossa Senhora de Nazaré, Quintas, Cidade da Esperança, Nordeste, Felipe Camarão, totalizando 195.584 habitantes; 3) Zona Leste (16% da população) – abarcando os bairros de Lagoa Seca, Barro Vermelho, Praia do Meio, Areia Preta, Santos Reis, Rocas, Petrópolis, Ribeira, Alecrim, Cidade Alta, Tirol, Mãe Luiza, com população total de 116.106 habitantes; 4) Zona Norte (correspondendo a 34% da população em 2000) - composta por Igapó, Nossa Senhora da Apresentação, Lagoa Azul, Pajuçara, Redinha, Potengi, Salinas. A população, nessa zona, totalizava 244.743 habitantes. Desses bairros, apenas um não é habitado (Parque das Dunas – Zona Sul), e três foram criados após 1991. A partir do plano diretor de 7 de setembro de 1994 foram criados os bairros Barro Vermelho, na Zona Leste, originado dos bairros Alecrim e Lagoa Seca, e Nossa Senhora de Nazaré, Zona Oeste, formado a partir do bairro Dix-Sept Rosado. O bairro Planalto (Zona Oeste) foi originado do bairro Guarapes em 1998. Mapa 1. Município de Natal, segundo zonas e bairros.2

Lagoa Azul Na Sa da Apresentação Pajuçara Potengi Igapó Redinha Salinas R I O P O T Nordeste Quintas Alecrim Cid. Alta Ribeira Rocas Santos Reis Praia do Meio Tirol Areia Preta Mãe Luiza Barro Vermelho Lagoa Seca

Parque das Dunas Nova Descoberta Lagoa Nova Dix-Sept-Rosado Candelária Capim Macio Cidade Nova Bom Pastor Felipe Camarão Guarapes Pitimbu Neópolis Ponta Negra Cidade da Esperança Norte População: 244.743 34% Leste População: 116.106 16% Sul População: 155.884 22% Oeste População: 195.584 27% N E G I Parnamirim Oceano Extremo z Macaíb a São Gonçalo do Amarant e Atlânt ico Extremo z Petrópolis

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Segundo os dados do IBGE, na década 90 o Rio Grande do Norte apresentou acentuado declínio em sua taxa de crescimento. Nos anos 80, o Estado crescia a uma taxa média de ordem 2,2% ao ano, e entre 1991 e 1996 esta caiu para 1,2% ao ano. A capital norte-rio-grandense, Natal, refletiu intensamente esta tendência, visto que a taxa de crescimento na década de 80 era de 3,5% ao ano, passando para 1,6% no período 1991/1996. Alguns autores argumentam que o declínio da taxa de crescimento deve-se, principalmente, à queda nas taxas de fecundidade que, em meados dos anos 90, em Natal, era de 3,3 filhos por mulher, enquanto que em 1980 chegava a 5,7 filhos por mulher.

França (2001) analisando a fecundidade nos bairros de Natal, estima que as mulheres residentes nas Zonas Oeste e Norte, áreas cuja população é reconhecidamente carente de recursos, apresentaram as mais elevadas taxas de fecundidade, respectivamente, 3,5 e 3,6 filhos por mulher. Por outro lado, as Zonas Sul e Leste, as mais privilegiadas social e economicamente, revelaram as mais baixas taxas de fecundidade, 1,5 e 2,2 filhos, respectivamente. Os bairros de Felipe Camarão e Guarapes, reconhecidamente os bairros com os piores indicadores sociais, França (2001) eram os que detinham as maiores taxas de fecundidade com 4,8 e 6,0 filhos por mulher, respectivamente, enquanto Candelária e Lagoa Nova apresentaram taxas respectivas em torno de 1,0 e 1,3 filhos por mulher. Por outro lado, Petrópolis, um tradicional bairro da Zona Leste e reconhecido por apresentar bons indicadores sociais, apresentou a menor taxa, 0,8 filhos por mulher. Assim, o autor conclui que nascem mais crianças naqueles bairros que têm pior condição de vida - menor instrução, menor renda, entre outros fatores.

As alterações do padrão demográfico refletem-se na estrutura etária da população. Em 1980, aproximadamente metade da população residente em Natal tinha menos do que 20 anos de idade. Os dados do Censo Demográfico de 1991 revelou que esse segmento populacional passou a contribuir com 44% dos efetivos municipais. Ressalta-se que a participação daqueles com idade inferior a 20 anos no ano de 2000 (39%) é inferior àquela verificada nos dois censos anteriores.

A análise das pirâmides etárias dos bairros de Natal remete à teoria de que regiões pobres apresentam pirâmides de bases alargadas e ápice estreito, provenientes da alta fecundidade e alta mortalidade. O bairro de Guarapes, reconhecidamente pobre,

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apresenta uma pirâmide característica de uma população que ainda não iniciou seu processo de transição demográfica. Em contrapartida, Petrópolis, bairro mais abastado economicamente, apresenta uma pirâmide semelhante a países altamente desenvolvidos, e com processo de transição já consolidado (Assis, 2002).

3 Procedimentos metodológicos e fontes de dados

A metodologia utilizada nesse trabalho é desenvolvida em três etapas: a primeira visa analisar a tendência da mortalidade por causas externas no município de Natal e seus bairros. Nesse procedimento, pretende-se elaborar uma análise descritiva das informações provenientes da Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS), através de tabelas extraídas do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). No âmbito dos bairros de Natal, foram levantadas as informações dos óbitos atribuídos às causas externas, segundo o local de residência, para dois triênios definidos (1993-1994-1995, 1998-1999-2000), nos quais foi tomada uma média trienal dos óbitos. No primeiro triênio, as mortes por causas externas na 9º Revisão (CID-9), correspondiam ao XVII capítulo. No segundo, as mortes por causas externas são aquelas referentes ao XX capítulo da Décima Revisão (CID-10), que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1993.3

As informações populacionais utilizadas neste trabalho são aquelas oriundas do Censo Demográfico de 1991 e 2000.

Tais informações possibilitaram o cálculo das taxas de mortalidade por causas externas para cada um dos bairros de Natal. A taxa bruta de mortalidade (TBM) consiste na relação entre o total de óbitos ocorridos durante um período e a população total no meio desse mesmo período4. A TBM representa o risco que tem uma pessoa dessa população de morrer no decorrer desse período. Como Natal apresenta acentuado

3 Percebe-se que de uma Revisão a outra não mudou apenas o número do capítulo, mas também a nomenclatura de

alguns subgrupos, como é o caso de Homicídios e lesões provocadas intencionalmente por outras pessoas (CID-9) e Agressões (CID-10) que discrimina vinte e cinco tipos de agressões, dentre os quais Agressão por meio de disparo de outra arma de fogo ou de arama não especificada e Agressão por meio de objeto cortante ou penetrante são sempre as mais incidentes, o que conduziu à consideração de que as mortes registradas nesses sub-itens seriam referentes aos óbitos por homicídios (agressões).

4 Nesse trabalho, achou-se por bem utilizar as populações registradas nos censos demográficos de 1990 e 2000 como

sendo aquelas obtidas para o meio de cada período (média da população estimada para os dois triênios em estudo), partindo do pressuposto de que não ocorreram significativas mudanças no tamanho da população, não sendo necessário portanto, recorrer à métodos de estimativas populacionais para os períodos que antecedem e sucedem os anos censitarios.

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diferencial na distribuição etária da população por bairro, razão pela qual fez-se uso da padronização direta das taxas de mortalidade por causas externas por grupos de idade5 (TBMp.d), viabilizando a correta comparação das taxas entre os distintos bairros do município. Destaca-se que na padronização direta selecionou-se como padrão a estrutura etária da população de Natal como um todo.

A segunda etapa consiste na decomposição do perfil socioeconômico dos bairros de Natal, nos anos de 1991 e 2000. Para tanto, foram utilizadas algumas variáveis dos Censos demográficos de 1991 e 2000. As variáveis socioeconômicas consideradas nesse trabalho foram escolhidas a partir de trabalho realizado por Cruz (1996), tendo sido utilizadas: 1) Proporção de domicílios com canalização interna de água - obtido a partir da divisão do total de domicílios com água encanada pelo total de domicílios particulares permanentes6. Esse indicador permite mostrar a condição do abastecimento

de água em cada bairro; 2) Proporção de domicílios alugados - corresponde ao número de domicílios alugados pelo total de domicílios particulares permanentes. Com esse indicador é possível verificar em que bairros é mais freqüente a presença desta forma particular de propriedade da moradia, aspecto relacionado à renda; 3) Proporção de população alfabetizada - calculado dividindo-se o número total de alfabetizados acima de cinco anos pela população total acima de 5 anos. A faixa etária foi definida considerando a divisão de cinco em cinco anos da população. Segundo Cruz (1996), a proporção de alfabetizados na população acima de dez anos introduziria subestimação do indicador; 4) Proporção com renda até 2 salários mínimos - número de chefes de família que ganhavam até 2 salários mínimos dividido pelo número total de chefes de família; 6) Proporção com renda superior a 10 salários mínimos - análogo ao anterior, reflete a proporção de chefes de família com renda acima de 10 salários mínimos.

Tendo em consideração que a unidade de análise desse trabalho são os bairros de Natal, e que várias dessas áreas podem possuir pequenos números tanto no numerador quanto no denominador, gerando indicadores com muita instabilidade, devido aos problemas relacionados às flutuações aleatórias de pequenos números, faz-se necessário uma avaliação de todas as variáveis selecionadas. A metodologia empregada na

5 Para maiores detalhes a respeito do procedimento da padronização, consultar Carvalho, Sawyer & Rodrigues

(1994).

6 Segundo a FIBGE, os domicílios podem ser particulares ou coletivos. Os particulares, por sua vez, são divididos em

permanentes e improvisados. Somente sobre os domicílios particulares permanentes são levantadas as informações sobre água, esgoto, destino de lixo, número de cômodos, entre outras.

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avaliação da qualidade das informações foi o Box-plot. Cabe destacar que a representação gráfica por meio do Box-plot sumariza medidas de variabilidade e simetria dos dados em análise, sendo bastante útil para detectar, descritivamente, diferenças nos comportamentos de grupos de variáveis. Fez-se uso do software Statistica, versão 5.1, para elaboração dos Box-plots dos indicadores socioeconômicos e demográficos obtidos através dos censos demográficos de 1991 e 2000. Os gráficos referentes ao resultado da avaliação encontram-se no anexo. Em linhas gerais, para ambos os censos, as informações relativas ao município de Natal foram consideradas de boa qualidade. Somente as informações referentes às variáveis "água canalizada" e "população alfabetizada" no censo de 1991 apresentaram alguma dispersão, mas com ausência de discrepância. Em 2000, as variáveis que apresentaram maior dispersão foram, respectivamente, "até dois salários mínimos” e "mais de dez salários mínimos". O resultado relativo à variável "água canalizada" apresentou uma melhoria nas condições de abastecimento de água.

De posse das informações socioeconômicas dos bairros de Natal, os mesmos foram submetidos à análise de cluster, mediante a qual podem-se grupar bairros semelhantes segundo algumas variáveis selecionadas para cada um dos anos considerados.

A análise de cluster consiste em um conjunto de procedimentos que objetiva encontrar e separar objetos em grupos similares, constituindo agrupamentos a partir da definição de critérios baseados em distâncias/similaridades. Nesse trabalho utilizou-se a técnica de agrupamento hierárquico aglomerativo. Essa técnica realiza sucessivos agrupamentos, de acordo com as similaridades, até se obter um agrupamento final. Os resultados dos sucessivos agrupamentos são apresentados em um diagrama denominado dendograma.

No procedimento da técnica de agrupamento hierárquico aglomerativo, os métodos de ligação simples, completa e média, considerando a distância euclidiana7

foram testados e os resultados indicaram que o método da ligação completa foi o que mais se adequou aos dados.

7

Distância euclidiana é um exemplo de dissimilaridade – quanto maior o valor observado na distância menos parecidos são os objetos/bairros.

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A terceira etapa do trabalho visa relacionar a mortalidade por causas externas, segundo sua distribuição por bairros, no triênio 1998-1999-2000, com o seu perfil socioeconômico e demográfico. A metodologia utilizada nesta etapa foi a matriz de correlação. Também foi procedida uma comparação entre os mapas temáticos referentes aos clusters socioeconômicos e as TBMpd

Deve-se ressaltar que o coeficiente de correlação, em um conjunto de dados com n pares de valores para as variáveis X e Y, mede a dependência linear entre elas e é calculado da seguinte forma:

( )( )

( )

( )

        −         −         − = =

n y y n x x n y x xy y x corr 2 2 2 2 ) , ( ρ onde, −1≤corr(x,y)≤1

O coeficiente de correlação linear foi calculado para mensurar a dependência linear entre as variáveis socioeconômicas dos censos demográficos de 1991 e 2000 e as TBMpd nos triênios de 1993-1994-1995 e 1998-1999-2000 para os 32 bairros considerados na análise. O resultado desse procedimento é apresentado através da matriz de correlação.

4 Resultados

4.1 A mortalidade por causas externas em Natal

A taxa de mortalidade por causas externas em Natal passou de 6,0 por 10.000 habitantes no triênio de 1990-1992, 6,4 em 1993-1995 e, em seguida, a 5,0 no triênio 1998-2000, o que significa um aumento de 6% do primeiro período para o segundo momento e, em seguida, um decrescimento de 16%. Essa redução é refletida ao se investigar a proporção de óbitos por grupos de causas de morte em Natal: em que pese o aumento absoluto no registro das mortes por causas externas, a proporção de óbitos por essas causas relativamente ao total de óbitos do município passou de 12,7%, no primeiro triênio para 10,8%, no segundo, fato que se deve ao sensível aumento da contribuição de outros grupos de causas de morte, como, por exemplo, as doenças do aparelho circulatório.

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Tabela 1. Mortalidade no município de Natal - Média dos anos de 1990 a 1992

Causa (Cap CID9) Média %

I. Doenças infecciosas e parasitárias 154 5,4

II. Neoplasmas 403 14,1

III. Doenças endóc nutric metab e transt imunitár 215 7,5

IV. Doenças do sangue e órgãos hematopoéticos 9 0,3

V. Transtornos mentais 19 0,7

VI. Doenças do sist nervoso e dos órg sentidos 38 1,3

VII. Doenças do aparelho circulatório 830 29,1

VIII.Doenças do aparelho respiratório 260 9,1

IX. Doenças do aparelho digestivo 121 4,2

X. Doenças do aparelho geniturinário 49 1,7

XI. Complicações da gravidez parto e puerpério 8 0,3

XII. Doenças da pele e tecido celular subcutâneo 3 0,1

XIII.Doenças sist osteomuscular e tec conjuntivo 9 0,3

XIV. Anomalias congênitas 36 1,2

XV. Algumas afecções origin no período perinatal 207 7,2

XVI. Sintomas sinais e afecções mal definidas 130 4,6

XVII.Causas externas 364 12,7

Total 2855

-Fonte dos dados básicos: SIM.

Tabela 2. Mortalidade no município de Natal - Média dos anos de 1998 a 2000

Causa (Cap CID10) Média %

I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 171 4,9

II. Neoplasias (tumores) 510 14,6

III. Doenças sangue órgãos hemat e transt imunitár 16 0,5

IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 245 7,0

V. Transtornos mentais e comportamentais 20 0,6

VI. Doenças do sistema nervoso 51 1,5

VII. Doenças do olho e anexos 0 0,0

VIII.Doenças do ouvido e da apófise mastóide 1 0,0

IX. Doenças do aparelho circulatório 1133 32,4

X. Doenças do aparelho respiratório 327 9,4

XI. Doenças do aparelho digestivo 187 5,4

XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 23 0,7

XIII.Doenças sist osteomuscular e tec conjuntivo 10 0,3

XIV. Doenças do aparelho geniturinário 76 2,2

XV. Gravidez parto e puerpério 5 0,1

XVI. Algumas afec originadas no período perinatal 198 5,7

XVII.Malf cong deformid e anomalias cromossômicas 60 1,7

XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat 80 2,3

XIX. Lesões enven e alg out conseq causas externas 0 0,0

XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 378 10,8

XXI. Contatos com serviços de saúde 0 0,0

Total 3493

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Com relação à mortalidade proporcional por subgrupos entre as causas externas no município de Natal, conforme mostra a Tabela 5, o principal subgrupo de causas identificado foi o de “acidente de transporte”, com 43,2% do total de óbitos, seguido pelas "homicídios", com 23,1% das mortes por causas externas no triênio 1990-1992. Merece destaque a participação percentual do subgrupo referente a "todas as outras causas externas" (7,7%).

No segundo momento considerado (triênio 1998-2000), a participação dos "acidentes de transporte" e “homicídios” decresceram, respectivamente, de 54,3% e 24,6% em relação ao triênio anterior, passando a ser responsáveis por 19,8% e 17,4%, respectivamente, dos óbitos por causas violentas, sem deixar, no entanto, de ocupar, nessa ordem, o primeiro e segundo lugares de mortes por causas externas (Tabela 5). Tabela 3. Mortalidade proporcional por subgrupo específicos de causas externas, Natal, nos triênios de 1990-1992 e 1998-2000.

Causa 1990-92 % 1998-00 % Variação

103 Acidentes de transporte 157 43,2 75 19,8 -54,3

104 Quedas 27 7,4 9 2,3 -69,4

105 Afogamento e submersaos acidentais 20 5,5 17 4,5 -18,9

106 Exposicao ao fumo, ao fogo e as chamas 5 1,3 2 0,5 -59,1

108 Lesoes autoprovocadas voluntariamente 16 4,5 10 2,6 -41,6

109 Agressoes 84 23,1 66 17,4 -24,6

112 Todas as outras causas externas 28 7,7 47 12,2 59,1

Total 364 - 381

-Fonte dos dados básicos: SIM.

4.2 A mortalidade por causas externas nos bairros de Natal

A Tabela 6 apresenta os resultados referentes às taxas brutas de mortalidade padronizadas (TBMpd.) segundo os bairros do município de Natal nos dois triênios considerados. No triênio 1993-1995, os bairros nos quais a TBMpd. tem maior importância foram: Redinha (7,5 por 10 mil habitantes), Igapó (5,3 por 10 mil habitantes), Rocas (5,0 por 10 mil habitantes), Quintas (4,8 por 10 mil habitantes), Felipe Camarão (4,5 por 10 mil habitantes), Pitimbu (3,9 por 10 mil habitantes), Dix-Sept Rosado (3,8 por 10 mil habitantes) e Bairro Ignorado (6,7 por 10 mil habitantes). Sendo os bairros de N. Sª. da Apresentação (0,8 por 10 mil habitantes), Candelária (1,2

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por 10 mil habitantes), Lagoa Nova (1,9 por 10 mil habitantes), Nordeste (2,2 por 10 mil habitantes), Lagoa Azul (2,3 por 10 mil habitantes), Santos Reis (2,4 por 10 mil habitantes) e Cidade da Esperança (2,4 por 10 mil habitantes). È interessante destacar que o maior volume de óbitos observados nesse período refere-se a vítimas cuja residência é ignorada (49,7% dos óbitos). Diante desse resultado, tornou-se inviável proceder a comparação entre os resultados das TBM pd. e as variáveis socioeconômicas nesse triênio.

No triênio de 1998-2000, os bairros nos quais a TBMpd. atingiu maior importância foram: Petrópolis (16,5 por 10 mil habitantes), Rocas (9,2 por 10 mil habitantes), Quintas (8,8 por 10 mil habitantes), Cidade Alta (8,5 por 10 mil habitantes), Mãe Luíza (8,0 por 10 mil habitantes), Bom Pastor (7,8 por 10 mil habitantes), Guarapes (7,5 por 10 mil habitantes) e Igapó (6,8 por 10 mil habitantes). Os bairros de menores TBMpd. foram Areia Preta (1,3 por 10 mil habitantes), Ribeira (1,8 por 10 mil habitantes), Praia do Meio (2,2 por 10 mil habitantes), N. Sª. de Nazaré (2,6 por 10 mil habitantes), Lagoa Nova (2,7 por 10 mil habitantes), Ponta Negra (2,9 por 10 mil habitantes), Candelária (3,3 por 10 mil habitantes) e Pajuçara (3,4 por 10 mil habitantes).

Dentre os bairros analisados, os únicos que apresentaram redução na TBMpd. entre os triênios foram: Redinha (-20,7%), Praia do Meio (-26,2%) e Ribeira (48,5%). Os demais apresentaram incremento variando de 2,9% a 393% de um período a outro, como é caso de Petrópolis, que em 1993-1995 obteve uma TBMpd. equivalente a 3,3 óbitos por 10 mil habitantes, passando a apresentar, em 1998-2000, uma taxa 5 vezes superior, correspondente a 16,5 óbitos por 10 mil habitantes. O que se percebe é que enquanto o risco de morte por causas externas no município de Natal diminui, talvez como conseqüência da redução desse risco em alguns bairros, ocorre um considerável aumento da TBMpd. nos 29 dos 32 bairros considerados.

Ainda considerando o segundo triênio, os bairros que apresentaram maiores percentuais de vítimas femininas foram, respectivamente, Quintas (8,5%), Potengi (8,0%) e Felipe Camarão (6,0%). Nesses bairros, as três principais causas de óbito por causas externas são “acidentes de transporte”, “homicídios” e “eventos (fatos) cuja intenção é indeterminada”. São esses bairros que também respondem pelas maiores

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incidências de óbitos masculinos, apresentando percentuais equivalentes a 7,2%, 8,9% e 8,1%, respectivamente dos óbitos masculinos de Natal

Deve-se ressaltar que, no segundo triênio (1998-2000) o percentual de óbitos com causa registrada como "eventos (fatos) cuja intenção é indeterminada", atingiu proporção equivalente a 41,4% em Natal, sendo os bairros Felipe Camarão, Potengi, Lagoa Azul e Quintas os que apresentaram maiores percentuais, acumulando uma importância de 32,2% do total de óbitos registrados sem determinação no município, implicando a subestimação da importância dos óbitos ocorridos em diferentes bairros (Tabela A1, no Anexo).

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Tabela 4. Taxa Bruta de Mortalidade Padronizada, segundo os bairro de Natal, nos triênios de 1993-1995 e 1998-2000.

Área 1993-1995 1998-2000 Variação

Areia Preta 0,0 1,3 -

Petrópolis 3,3 16,5 393,0

Nossa Senhora da Apresentação 0,8 2,6 226,5

Guarapes 2,8 7,5 168,6 Candelária 1,2 3,3 160,6 Bom Pastor 3,1 7,8 153,6 Mãe Luíza 3,2 8,0 149,5 Cidade da Esperança 2,4 5,5 128,0 Neópolis 2,5 5,3 113,0 Alecrim 2,7 5,3 93,4 Lagoa Azul 2,3 4,4 91,9 Cidade Alta 4,5 8,5 91,3 Rocas 5,0 9,2 86,0 Quintas 4,8 8,8 83,5 Nordeste 2,2 4,0 78,0 Dix-Sept Rosado 3,8 6,7 75,4 Nova Descoberta 2,9 4,9 69,0 Santos Reis 2,4 4,0 67,8 Cidade Nova 3,8 6,0 60,3 Potengi 3,6 5,7 57,9 Filipe Camarão 4,0 6,4 57,6 Pitimbú 3,9 5,8 48,8 Lagoa Seca 3,8 5,5 47,3 Tirol 3,1 4,5 45,7 Lagoa Nova 1,9 2,7 37,2 Igapó 5,3 6,8 28,5 Pajuçara 3,0 3,4 13,0 Capim Macio 3,4 3,8 12,1 Ponta Negra 2,8 2,9 2,9 Redinha 7,5 5,9 -20,7 Praia do Meio 2,9 2,2 -26,2 Ribeira 3,4 1,8 -48,5 NATAL 6,4 5,0 -20,9

Fonte dos dados básicos: SIM e Censo Demográficos de 1991 e 2000.

O Mapa 2 mostra a distribuição espacial das TBMp.d. nos triênios 1993-1995 e 1998-2000 no âmbito dos bairros da cidade de Natal. A TBMp.d foi dividida em cinco classes gradativas, sendo as de cores mais escuras representando os bairros nos quais a taxa foi mais elevada.

(15)

Pode-se observar que no primeiro triênio (1993-1995), não havia um número elevado de bairros com altas taxas de mortalidade por causas externas. Entretanto, é possível verificar áreas na cidade de Natal com número maior de bairros onde a concentração de taxas é elevada, como é o caso, por exemplo, da zona Norte, onde os bairros que apresentaram as mais altas taxas foram Redinha (Zona Norte), Igapó (Zona Norte) e Rocas (Zona Leste).

De uma forma geral, no triênio 1998-2000, representado também no Mapa 2, identifica-se uma proliferação das morte por causas externas, que, praticamente, espalha-se por toda a área considerada. Comparando-se esse resultado ao mapa temático referente ao período anterior, observa-se que o espalhamento da violência tende a ocorrer com mais intensidade tanto em torno dos bairros que já apresentavam expressivas taxas de mortalidade no momento anterior, espalhando-se em seu entorno, como também se observa uma disseminação da mortalidade em bairros que antes apresentavam um nível mais reduzido na TBMpd., como é o caso do bairro de Petrópolis. Mapa 2. Distribuição espacial da taxa bruta de mortalidade padronizada por causas externas em Natal, nos triênios 1993-1995 e 1998-2000.

TBMp.d.

TBM 1998-2000

Lagoa A zul Na Sa da Apresenta ção Pajuçara Potengi Igapó Redinha Salinas R I O P O T EN G I Nordes te Quintas Alecrim Cid. AltaRib eira RocasSant os Reis Praia do Meio Tirol Areia P reta Mãe Luiza Lagoa Seca Parque das Dunas Nova Descober ta Lagoa No va Dix-Sept -Rosado Candelár ia Capim Macio Cidade Nova Bom Pastor Felipe Camarã o Guarapes Neópolis Ponta N egra Cidade d a Esperanç a Pitimbú Até 2,9 (6) 3 a 4,9 (8) 5 a 6,9 (11) 7 a 8,9 (5) 9 e mais (2) Sem dados (3) Ponta N egra Petrópolis

TBM 1993-1995

Lagoa A zul Na Sa da Apresenta ção Pajuçara Potengi Igapó Redinha Salinas R I O P O T E N G I Nordes te Quintas Alecrim Cid. Alta Ribeir a RocasSant os Reis Praia do Meio Tirol Areia P reta Mãe Luiza LagoaSeca Parque das Dunas Nova Descober ta Lagoa No va Dix-Sept -Rosado Candelár ia Capim Macio Cidade Nova Bom Pastor Felipe Camarã o Guarapes Neópolis Ponta N egra Cidade d a Esperanç a Pitimbú TBMp.d. Petrópolis Até 2,9 (15) 3 a 4,9 (14) 5 a 6,9 (2) 7 a 8,9 (1) 9 e mais (0) Sem dados (3)

(16)

É importante ressaltar apenas que o resultado do primeiro momento considerado no estudo está comprometido devido ao elevado percentual de óbitos com o registro em bairros ignorados.

4.3 Análise das variáveis socioeconômicas

Neste item são apresentados os resultados relativos à aplicação da técnica de

cluster que objetiva construir agrupamentos de bairros homogêneos a partir das

variáveis selecionadas para os bairros de Natal.

Aplicando-se análise de cluster aos indicadores socioeconômicos dos Censos demográficos de 1991 e 2000, obteveram-se cinco agrupamentos. Nos Gráficos 1 e 2 são apresentados os dendogramas utilizado para definição dos agrupamentos no ano de 1991 e 2000.

Gráfico 1 – Análise de cluster das variáveis socioeconômicas nos bairros de Natal, 1991 – Método de Ligação Completa.

Tree Diagram for 32 Cases Complete Linkage Euclidean distances Linkage Distance 0 20 40 60 80 100 120 140

GUARAPES NSAPRESE REDINHA MÃE LUÍZ F CAMARÃ PAJUÇARA

L AZUL

SANTOS R ROCAS POTENGI C ESPERA DS ROSAD QUINTAS NORDESTE C NOVA IGAPÓ BOM PAST RIBEIRA

TIROL

PETRÓPOL C MACIO P NEGRA

L NOVA

NEÓPOLIS PITIMBU CANDELÁR P MEIO N DESCOB C ALTA L SECA A PRETA ALECRIM

A análise do dendograma acima permite identificar que, no ano de 1991, o

cluster A, composto por 7 bairros (Petrópolis, Tirol, Capim Macio, Neópolis, Lagoa

Nova, Pitimbú, Candelária), apresentava alta proporção de domicílios com canalização interna de água (98,3%), a maior taxa de alfabetização (91%), a mais baixa proporção

(17)

de domicílios alugados, a maior proporção de população alfabetizada, a maior proporção com renda acima de 10 salários mínimos e a menor proporção com renda até 2 salários mínimos. Pelas conformações estabelecidas, esse agrupamento de bairros apresenta um perfil de indicadores socioeconômicos que o caracteriza como sendo de “melhores” condições socioeconômicas.

No cluster B aglutinaram-se 9 bairros, com elevada taxa de domicílios com canalização interna de água (94,6%), alta taxa de alfabetização (85,5%), proporção de domicílios alugados um pouco maior ao anterior (25,9%). A proporção de chefes de família com renda acima de 10 salários mínimos declina substantivamente frente aos resultados provenientes do cluster A. Com relação à proporção daqueles com renda até 2 salários mínimos, observa-se que no cluster B o valor era de 42,5%.

No cluster C, composto por 6 bairros, a proporção de água canalizada é menor que as observadas anteriormente (87,3%). Também os resultados relativos à taxa de alfabetização e proporção de domicílios alugados são menores, se comparados aos anteriores. A proporção com renda até 2 salários mínimos neste grupo chega a 62,9% e a de renda acima de 10 salários mínimos 3,4%.

O cluster D, com 4 bairros, caracteriza-se por apresentar baixa taxa de água canalizada (64,8%), taxa de alfabetização de 68%, proporção com renda até 2 salários de 70,9% e renda acima de 10 salários equivalente a 1,5%.

O cluster E, com 5 bairros (Lagoa Azul, Mãe Luíza, Felipe Camarão, Cidade Nova, Bom Pastor, Guarapes), caracteriza-se por apresentar baixa taxa de alfabetização (60,2%), proporção com renda até 2 salários de 75,9% e renda acima de 10 salários equivalente a 0,7%. Pelas conformações estabelecidas, pode-se supor que esse cluster é aquele que detém as piores condições de vida.

(18)

Gráfico 2 - Análise de cluster das variáveis socioeconômicas nos bairros de Natal, 2000 – Método de Ligação Completa.

Tree Diagram for 32 Cases Complete Linkage Euclidean distances Linkage Distance 0 10 20 30 40 50 60 70 80 GUARAPES ROCAS P MEIO NORDESTE QUINTAS IGAPÓ

DS ROSAD SANTOS R PAJUÇARA REDINHA NSAPRESE L AZUL MÃE LUÍZ F CAMARÃ C NOVA BOM PAST PETRÓPOL

TIROL

C MACIO NEÓPOLIS L NOVA PITIMBU

CANDELÁR

C ALTA

POTENGI C ESPERA P NEGRA L SECA A PRETA RIBEIRA N DESCOB ALECRIM

No ano de 2000, o cluster A, passou a ser constituído por 9 bairros (Ribeira, Tirol, Petrópolis, Capim Macio, Ponta Negra, Lagoa Nova, Neópolis, Pitimbú, Candelária), apresentando alta proporção de domicílios com canalização interna de água (94,7%), a maior taxa de alfabetização (94,6%), a maior proporção de população alfabetizada (94,6%), a maior proporção com renda acima de 10 salários mínimos (41,6%) e a menor proporção com renda até 2 salários mínimos (16,3%), com esse perfil de indicadores socioeconômicos este grupo de bairros ficou caracterizando como o de “melhores” condições socioeconômicas.

No cluster B passou a aglutinar apenas 6 bairros, com elevada taxa de domicílios com canalização interna de água (92,5%), alta taxa de alfabetização (89,7%), proporção de domicílios alugados de (28,6%), a proporção de chefes de família com renda acima de 10 salários mínimos correspondente a 16,4%, caindo mais do que a metade das apresentadas no grupo A. A proporção com renda até 2 salários mínimos neste grupo chega a 37,3.

No cluster C, composto por 6 bairros, a proporção de água canalizada é um pouco maior que as observadas anteriormente (96,4%), a taxa de alfabetização e a proporção de domicílios alugados são menores se comparados aos anteriores. A

(19)

proporção com renda até 2 salários mínimos neste grupo chega a 48,6% e a de renda acima de 10 salários mínimos 3,7%.

O cluster D, agora com 6 bairros, caracteriza-se por apresentar proporção água canalizada inferior as anteriores (91,5%), taxa de alfabetização de 80,7%, proporção com renda até 2 salários de 55,2% e renda acima de 10 salários equivalente a 3,0%.

O cluster E, permaneceu com 5 bairros (Guarapes, Nossa Senhora da Apresentação, Redinha, Mãe Luiza, Felipe Camarão), caracterizando-se por apresentar baixa taxa de alfabetização (75,1%), proporção com renda até 2 salários de 61,0% e renda acima de 10 salários equivalente a 1,6%.

Diante do aumento do número de bairros nos primeiros clusters, ou seja, aqueles com melhores indicadores socioeconômicos, pode-se supor que houve uma elevação do padrão socioeconômico em alguns bairros de Natal no período considerado. O resultado da aplicação da análise de cluster ainda permite inferir que o bairro de Guarapes (Zona Oeste da cidade de Natal) constitui aquele com as piores condições sociais, uma vez que o mesmo congrega um conjunto de características que o definem numa situação social bastante precária.

O Mapa 3 apresenta a distribuição espacial dos agrupamentos socioeconômicos no município de Natal em 1991 e 2000. Em linhas gerais, os resultados apontam por diferenciações regionais bastante claras, nas quais aqueles bairros com melhores condições de vida tendem a se concentrarem nas Zonas Sul e Leste da cidade de Natal, enquanto que as Zonas Oeste e Norte são aquelas que apresentam bairros com os mais baixos indicadores de condições de vida. Em relação aos bairros de Ponta Negra e Ribeira, somente no segundo momento considerado (2000), os mesmos passaram para o

cluster que apresenta os mais elevados níveis de condições de vida. Merecem destaque

os resultados relativos aos bairros de Felipe Camarão, Mãe Luiza, Nossa Senhora da Apresentação e Redinha que apresentaram indicadores razoavelmente melhores no primeiro momento (1990) frente ao segundo momento considerado (2000), ainda que nas Zonas Oeste e Leste se encontrem o maior número de bairros com as piores condições de vida, fica evidente a existência de bairros com melhores indicadores, constituído pela Cidade da Esperança e Potengi.

(20)

Mapa 3. Distribuição dos agrupamentos socioeconômicos nos bairros do município de Natal - 1991e 2000. Fatores Socioeconômicos

Censo 2000

Lagoa A zul Na Sa da Apresentação Pajuça ra Potengi Igapó Redinha Salinas R I O P O T EN G I Nordest e Quintas Alecrim Cid. AltaRibeiRocraasSantosReis

Praia do Meio Tirol Areia Pr eta Mãe Luiza Lagoa Seca Parque das Dunas Nova Descobert a Lagoa Nova Dix-Sept -Rosado Candel ária Capim Macio Cidade Nova Bom Pastor Felipe Camarã o Guarapes Neópolis Ponta Negra Cidade da Esperan ça Pitimbú Grupo A (9) Grupo B (6) Grupo C (6) Grupo D (6) Grupo E (5) Sem dados (3) Petrópol is Ponta Negra Sem dados (3)

Censo 1991

Lagoa A zul Na Sa da Apresentação Pajuça ra Potengi Igapó Redinha Salinas R I O P O T E N G I Nordest e Quintas Alecrim Cid. AltaRibei ra RocasSantosReis Praia do Meio Tirol Areia Pr eta Mãe Luiza Barro Vermel ho LagoaSeca Parque das Dunas Nova Descobert a Lagoa Nova Dix-Sept -Rosado Candelária Capim Macio Cidade Nova Bom Pastor Felipe Camarã o Guarapes Neópolis Ponta Negra Cidade da Esperan ça Pitimbú Grupo A (7) Grupo B (9) Grupo C (5) Grupo D (4) Grupo E (6) Fatores Socioeconômicos Petrópol is

Fonte dos dados básicos: Censos Demográficos de 1991 e 2000.

4.4 Análise da relação entre as variáveis socioeconômicas e as TBMpd.

O comparativo entre as TBMp.d., no triênio de 1998-2000, e os fatores socioeconômicos em 2000 é apresentado no Mapa 4. Nota-se que alguns bairros apresentaram graduações de cores correspondentes entre a TBMp.d. e os fatores socioeconômicos. Tal resultado permite concluir que na grande maioria dos bairros com indicadores sociais mais precários, a taxa de mortalidade por causas externas é elevada. A exceção fica por conta dos bairros N. Sª da Apresentação, Nordeste, Lagoa Azul e Pajuçara, que apesar de pobres, são observadas baixas TBMp.d

Em bairros reconhecidamente mais ricos, a taxa de mortalidade por causas externa é menor, como é o caso de Ponta Negra, Lagoa Nova e Ribeira, Nova Descoberta, Cidade da Esperança e Potengi, Quitas e Bom Pastor e Cidade Nova, Dix-Sept Rosado, Felipe Camarão e Igapó. Em contrapartida, os bairros Petrópolis, Pitimbu, Neópolis, Alecrim, Lagoa Seca e Cidade Alta, foram classificados como sendo de alto nível socioeconômico, mas apresentam também alta taxa de mortalidade por causas externas.

(21)

Em linhas gerais, a análise dos mapas temáticos permite inferir que o risco de morte não obedece a um padrão regular de causalidade entre as variáveis socioeconômicas e as TBMpd..

Mapa 4. Comparação entre a TBMp.d. de 1998-2000 e os "clusters" fatores socioeconômicos de 2000. TBMp.d.

TBM 1998-2000

Lagoa A zul Na Sa da Aprese ntação Pajuçara Potengi Igapó Redinha Salinas R I O P O T E N G I Nordeste Quintas Alecrim Cid. AltaRib eira RocasSan tos Reis Praia do Mei o Tirol Areia Pre ta Mãe Luiza Lagoa Seca Parque das Duna s Nova Descober ta Lagoa No va Dix-Sept -Rosado Candelár ia Capim Macio Cidade Nova Bom Pastor Felipe Camarã o Guarapes Neópolis Ponta N egra Cidade da Esperanç a Pitimbú Até 2,9 (6) 3 a 4,9 (8) 5 a 6,9 (11) 7 a 8,9 (5) 9 e mais (2) Sem dados (3) Ponta N egra Petróp olis Fatores Socioeconômicos

Censo 2000

Lagoa A zul Na Sa da Aprese ntação Pajuçara Potengi Igapó Redinha Salinas R I O P O TE N G I Nordes te Quintas Alecrim Cid. AltaRibeiraRocasSan

tos Reis Praia

do Meio Tirol Areia Pre ta Mãe Luiza Lagoa Seca Parque das Duna s Nova Descober ta Lagoa No va Dix-Sept -Rosado Candelár ia Capim Macio Cidade Nova Bom Pastor Felipe Camarã o Guarapes Neópolis Ponta N egra Cidade da Esperanç a Pitimbú Grupo A (9) Grupo B (6) Grupo C (6) Grupo D (6) Grupo E (5) Sem dados (3) Petrópolis Ponta N egra

Fonte dos dados básicos: SIM e Censo Demográficos de 1991 e 2000.

Por outro lado, com base nas informações fornecidas pelas matrizes de correlação, pode-se afirmar que em Natal não há correlação linear significativa ente as variáveis socioeconômicas consideradas e a TBMpd, no triênio analisado. Contudo, não podemos afirmas que essas variáveis são independentes.

(22)

Tabela 5. Matriz de correlação entre as variáveis socioeconômicas do censo demográfico de 2000 e a TBMpd do triênio de 1998-2000.

TBM AGUA ALFAB D_ALUG ATE_2_SM ACI_10_SM

1 -0,4522 -0,1045 -0,0044 0,0847 -0,0034 p= --- p=,009 p=,569 p=,981 p=,645 p=,985 -0,4522 1 0,6286 0,231 -0,3866 0,1922 p=,009 p= --- p=,000 p=,203 p=,029 p=,292 -0,1045 0,6286 1 0,276 -0,917 0,7551 p=,569 p=,000 p= --- p=,126 p=,000 p=,000 -0,0044 0,231 0,276 1 -0,1982 0,2026 p=,981 p=,203 p=,126 p= --- p=,277 p=,266 0,0847 -0,3866 -0,917 -0,1982 1 -0,9093 p=,645 p=,029 p=,000 p=,277 p= --- p=,000 -0,0034 0,1922 0,7551 0,2026 -0,9093 1 p=,985 p=,292 p=,000 p=,266 p=,000 p= ---ATE_2_SM ACI_10_SM TBM AGUA ALFAB D_ALUG

TBM = Taxa Bruta de Mortalidade Padronizada; AGUA = % de domicílios com canalização interna de água; ALFAB = % de população alfabetizada; D_ALUG = % de domicílios alugados; ATE_2_SM = % com renda até 2 salários mínimos; ACI_10_SM = % com renda superior a 10 salários mínimos.

5 Considerações finais

Este trabalho permitiu aprofundar o conhecimento sobre um dos principais grupos de causas de óbito em residentes do município de Natal: causas externas (violentas). Nesse sentido, ressalta-se que esse estudo descritivo explora uma temática pouco abordada no município de Natal: a análise da violência versus fatores socioeconômicos.

Os dados revelam que as causas externas em Natal apresentaram incremento relativo superior ao crescimento populacional de 1990-1992 a 1998-2000, mantendo o terceiro lugar entre as principais causas de morte no Município, ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório e das neoplasias.

A taxa bruta de mortalidade padronizada (TBMp.d.), que mediu o risco de morte por causas externas, apresentou um acréscimo de 6% do primeiro período (1990-1992) para o segundo momento (1993-1995). Já entre 1993-1995 e 1998-2000 os resultados apontaram um decrescimento das taxas de mortalidade na cidade de Natal, indicando uma possível melhora na qualidade de vida em termos segurança da população natalense.

(23)

No que tange à mortalidade por causas externas no bairros de Natal, no triênio 1993-1995, os bairros que apresentaram as mais altas TBMpd. foram: Redinha (7,5 por 10 mil habitantes), Igapó (5,3 por 10 mil habitantes), Rocas (5,0 por 10 mil habitantes), Quintas (4,8 por 10 mil habitantes), Felipe Camarão (4,5 por 10 mil habitantes).

Já no segundo triênio considerado (1998-2000), os bairros nos quais a TBMpd. têm elevadas cifras foram: Petrópolis (16,5 por 10 mil habitantes), Rocas (9,2 por 10 mil habitantes), Quintas (8,8 por 10 mil habitantes), Cidade Alta (8,5 por 10 mil habitantes), Mãe Luíza (8,0 por 10 mil habitantes), Bom Pastor (7,8 por 10 mil habitantes).

De uma forma geral, ao longo dos anos, evidencia-se um considerável aumento da violência na grande maioria dos bairros de Natal, atingindo praticamente toda a malha municipal, com exceção de Redinha, Praia do Meio e Ribeira, onde a TBMp.d decresceu, que pode ser fruto do aumento e/ou surgimento da violência em determinados locais que antes gozavam de maior tranqüilidade, como é o caso do bairro Petrópolis e Nossa Senhora da Apresentação. Contudo, diante do elevado percentual de subregistro observado no primeiro triênio (1993-1995) em relação ao bairro de residência da vítima, somente em análises futuras poderemos afirmar com mais veemência esse fato.

O comparativo da TBMp.d. no triênio de 1998-2000 com os fatores

socioeconômicos de 2000 revelou que o risco de morte não obedece a um padrão regular de causalidade entre as variáveis socioeconômicas e as TBMpd,assim como mostrou a análise da matriz de correlação linear, apesar de que em alguns bairros há uma simultaneidade na graduação do padrão de cores entre a TBMp.d. e os fatores socioeconômicos.

Natal, apesar de não ser uma cidade muito violenta comparativamente a outras cidades, como o Rio de Janeiro (Cruz, 1996), esconde sua face agressiva em alguns bairros cujo padrão social e econômico não lhe é muito favorável, como é caso de Redinha, Igapó, Rocas, Quintas, Felipe Camarão e Dix-Sept Rosado que nos dois triênios apresentaram os maiores riscos de mortalidade por essas causas, por outro lado, os bairros de Petrópolis, Cidade Alta e Pitimbú também apresentaram um risco elevado apesar de pertencerem à classe socioeconômica mais elevada.

(24)

Com isso, verificou-se que em Natal as mortes por violência não segue um padrão social anti-democrata, vitimando pessoas residentes tanto em bairros nobres como em bairros mais carentes, sendo esses últimos os mais preferidos por essa causa de morte.

Por fim, o que pode ser incluído em um estudo futuro é a análise de variáveis possivelmente relevantes dentro do contexto histórico e cultural dos bairros de Natal, a fim de determinar um padrão espacial que venha justificar o espalhamento da violência, bem como a análise da violência baseando-se em indicadores calculados também por local de ocorrência do óbito.

Reduzir a incidência da violência é desejável por muitas razões, entre as quais, pelo menos, pelas vidas que poupa. Por um futuro mais seguro devemos refletir com urgência sobre ações capazes de criar alternativas, no sentido de interromper a elevação da violência.

6 Referências bibliográficas

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bairros de Natal. 2002. Monografia (Curso de graduação em Estatística) –

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.

CRUZ, O.G. Homicídios no estado do Rio de Janeiro: análise da distribuição

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FORMIGA, M.C.A mortalidade no estado do Rio Grande do Norte numa

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FORMIGA, M.C. et al. Tendências recentes da mortalidade por causas e da esperança de vida ao nascer no município de Natal. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE

(25)

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FRANÇA, M.C. A cidade como palco da diversidade demográfica: o caso da cidade

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Referências

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