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Comércio e Fluxo de Capital, seus Efeitos nas Contas Nacionais

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Academic year: 2021

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Comércio e Fluxo de Capital, seus Efeitos nas Contas Nacionais

Silvia Ferreira Marques Salustiano∗

Tito Belchior Silva Moreira**

O presente trabalho faz uma análise voltada para o Brasil e para os países em desenvolvimento, aborda os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), o padrão de especialização dos produtos exportados (capital ou mão de obra), analisa os movimentos da conta corrente e também aponta os desafios a serem enfrentados para que o Brasil possa melhorar sua posição no mercado global.

Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) são dinheiro geralmente investido a longo prazo no país, pois referem-se a aportes de capital vindos do exterior aplicados na produção, na criação de empresas, em fusões e aquisições ou empréstimos entre matrizes e filiais, diferentemente dos recursos destinados aos mercados financeiros.

A figura 1, a seguir, mostra que pela primeira vez os emergentes receberam maior fluxo de IED do que as economias desenvolvidas. No cenário global, os fluxos de investimentos estrangeiros diretos caíram aproximadamente 18% no ano passado, devido às incertezas no cenário econômico, principalmente nos países ricos, onde a queda no volume de IED foi bem mais significativa e atingiu aproximadamente 32%, conforme estatísticas divulgadas pela Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, 2013).

Aluna de doutorado do curso de Economia da Universidade Católica de Brasília.

**

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17 Figura 1 – Fluxos Mundiais de Investimento Direto Estrangeiro por Grupos de Países, 1990 até 2012 (US$ Bilhões).

Fonte: Unctad

(a) Países da Europa Oriental e Comunidades de Estados Independentes.

Conforme tabela 1 a seguir, o Brasil está entre os países que mais receberam fluxo de investimento estrangeiro em 2012. Nosso país foi superado apenas por Estados Unidos, China e Hong Kong. A riqueza de petróleo, minerais e gás, além de uma classe média em rápida expansão, são fatores que atraem esses investimentos, segundo a Unctad.

Tabela 1 – Evolução dos Fluxos de IED no Mundo - US$ bilhões e variação %. Países 2011 2012 Var. % 1º Estados Unidos 227 168 -26 2º China 124 121 -2 3º Hong Kong 96 75 -22 4º Brasil 67 65 -2 5º Ilhas Virgens 63 65 3 6º Reino Unido 51 62 22 7º Austrália 65 57 -13 8º Cingapura 56 57 1 9º Rússia 55 51 -7 10º Canadá 41 45 10 500 000,0 1 000 000,0 1 500 000,0 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2

Fluxos Mundiais de Investimento Direto Estrangeiro por Grupos de Países, 1990 - 2012 (US$ Bilhões)

Economias desenvolvidas Economias em desenvolvimento Economias em transição (a)

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Fonte: Unctad

Quanto às transações correntes, o saldo tem apresentado déficits desde 2007 e o Banco Central fez projeções de US$75 bilhões de déficit para 2013. No acumulado do ano de 2012 o investimento estrangeiro direto (IED) não foi suficiente para financiar o déficit em conta corrente. No acumulado do ano, enquanto o IED totaliza US$65 bilhões, o déficit em conta corrente soma US$75 bilhões.

Apesar dos déficits, conforme apresentado na figura 2 abaixo, a situação atual do Brasil é confortável porque já não há questionamentos em torno da solvência do país. As reservas estão no patamar de US$376 bilhões e são suficientes para cobrir mais de 120% da dívida externa total brasileira, que alcançou US$309,9 bilhões, em setembro do corrente ano, conforme divulgado pelo Banco Central brasileiro. É uma situação muito diferente daquela que tínhamos nos anos de 1990, quando qualquer susto gerava pânico e fuga de capitais.

Figura 2 – Superávit e Déficit na conta de transações correntes de 1990 até 2013.

Fonte: ipeadata

* Projeções do Banco Central para 2013.

Nosso país ganhou espaço e respeito no mercado mundial na última década, mas ainda tem muito para melhorar e conquistar. As exportações brasileiras apresentaram mudanças quanto ao fator agregado, houve a perda da participação das exportações de manufaturados e o aumento das exportações de produtos básicos, que se referem às commodities. A explicação para

-80 -60 -40 -20 0 20 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 *

Superávit e déficit na conta de transações correntes -Brasil - 1990 a 2013

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19 esse fato, conforme MDIC (2012) está em fatores externos de natureza estrutural, tais como concorrência desleal em mercados onde o câmbio é desvalorizado, sobretudo a China, além de fatores externos de natureza conjuntural, tais como problemas de liquidez internacional com restrição do crédito externo, crise de confiança nos mercados compradores como efeito da crise financeira. E também cabe ressaltar que a queda na demanda externa por manufaturados foi mais forte que a queda na demanda por commodities, por isso a exportação de produtos básicos ultrapassou a de manufaturados.

A causa da mudança de composição da pauta de exportação brasileira está também no fortalecimento do mercado interno, devido ao aumento dos níveis de emprego e renda da população, inclusive com expansão da classe média e redução da desigualdade, o que amplia a demanda doméstica. A figura 3 abaixo mostra as mudanças ocorridas na exportação brasileira por fator agregado em percentual, em que se verifica que desde 1980 é a primeira vez que a exportação de produtos básicos supera a de produtos manufaturados. Complementando as explicações para a mudança de composição da pauta de exportação brasileira, podemos acrescentar o sistema tributário, com elevada carga tributária sobre as atividades produtivas e, além disso, há também os procedimentos administrativos complexos e burocratizados nas operações de comércio exterior.

Figura 3 – Exportação Brasileira, por Fator Agregado – 1964 a 2012 – US$ Milhões.

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 1 9 6 4 1 9 6 6 1 9 6 8 1 9 7 0 1 9 7 2 1 9 7 4 1 9 7 6 1 9 7 8 1 9 8 0 1 9 8 2 1 9 8 4 1 9 8 6 1 9 8 8 1 9 9 0 1 9 9 2 1 9 9 4 1 9 9 6 1 9 9 8 2 0 0 0 2 0 0 2 2 0 0 4 2 0 0 6 2 0 0 8 2 0 1 0 2 0 1 2 J a n -A b r

Exportação Brasileira por Fator Agregado 1964 a 2012 - Participação %

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Fonte e elaboração: SECEX/MDIC

Quanto ao saldo da balança comercial, o último déficit ocorreu no ano 2000, em 2001 começou o ciclo de elevação das cotações das commodities e atualmente 70% das exportações são commodities. Economicamente, os resultados do comércio exterior são bons, porém, os dados do comércio exterior têm sustentabilidade apenas com cenário econômico internacional favorável, e, dessa forma, o Brasil tem atuação passiva na exportação de commodities, sem exercer controle sobre seus preços ou resultados. Portanto, a expansão das exportações e superávit comercial dos últimos anos resulta do crescimento mundial e não de iniciativas do Brasil. Por conseguinte, o crescimento dos investimentos estrangeiros diretos e o saldo positivo da balança comercial e das reservas internacionais demonstram a maior integração do Brasil ao mercado internacional e isso tem sido muito positivo para nosso país. No entanto, de acordo com Sanchez e Donatelli (2011), existem alguns importantes desafios a serem enfrentados por nosso país para que haja avanços no comércio internacional: investir na educação e em novos talentos; melhorar a eficiência do Estado; criar regras claras e garantir a estabilidade das regulamentações; garantir que as regras sejam cumpridas; renovar a infraestrutura de transporte interna e para exportação; perseguir a competitividade e reduzir custos; reformar a estrutura fiscal e trabalhista e também superar barreiras culturais. Essas questões já foram resolvidas por países mais desenvolvidos e, em alguns desses pontos, já é possível identificar avanços no Brasil.

Referências

Banco Central do Brasil. Disponível em<http://www.bcb.gov.br/?ECOIMPEXT>. acesso em: 06 nov. 2013.

Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento. Disponível em <www.unctad.org/fdistatistics>. Acesso em: 2 nov. 2013.

FISCHER, S. Globalization and its challenges. American Economic Review, v. 93, n. 2, p.1-30. 2003.

ROMALIS, J. Factor Proportions and the Structure of Commodity trade, The American Economic Review, 94(1): 67-97.2004.

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21 RODRIK, D.; SUBRAMANIAN, A. (2009).Why did financial globalization disappoint? IMF Staff Papers.Vol. 56, n.1, p.112-138.

ROSSI Jr., J. L.& FERREIRA, P. C. Evolução da produtividade industrial brasileira e abertura comercial. IPEA, texto n° 651, 1998.

SANCHEZ, I. & DONATELLI, L. 8 Passos para ganhar o mundo; Anuário Análise: Brasil Global, São Paulo, Vol. 6, p.25 - 28, 2011.

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Tabela 1 – Evolução dos Fluxos de IED no Mundo - US$ bilhões e variação %.
Figura 2 – Superávit e Déficit na conta de transações correntes de 1990 até 2013.
Figura 3 – Exportação Brasileira, por Fator Agregado – 1964 a 2012 – US$ Milhões.

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