• Nenhum resultado encontrado

Trajetória do processo de Ensino do Parkour na cidade de Natal/RN

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Trajetória do processo de Ensino do Parkour na cidade de Natal/RN"

Copied!
112
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DIRETORIA DE PÓS GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA (PPGEF) DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

EDNA NASCIMENTO DE JESUS

TRAJETÓRIA DO PROCESSO DE ENSINO DO PARKOUR NA CIDADE DE NATAL/RN

NATAL/RN 2020

(2)

2 EDNA NASCIMENTO DE JESUS

TRAJETÓRIA DO PROCESSO DE ENSINO DO PARKOUR NA CIDADE DE NATAL/RN

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de mestra em Educação Física na área de concentração: Movimento Humano, Cultura e Educação, na linha de pesquisa: Estudos Pedagógicos do Corpo e do Movimento Humano, sob a orientação do Professor Dr. Allyson Carvalho de Araújo e a coorientação do Professor Dr. Marcio Romeu Ribas de Oliveira.

NATAL/RN 2020

(3)

3 EDNA NASCIMENTO DE JESUS

TRAJETÓRIA DO PROCESSO DE ENSINO DO PARKOUR NA CIDADE DE NATAL/RN

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de mestra em Educação Física na área de concentração: Movimento Humano, Cultura e Educação, na linha de pesquisa: Estudos Pedagógicos do Corpo e do Movimento Humano, sob a orientação do Professor Dr. Allyson Carvalho de Araújo e a coorientação do Professor Dr. Marcio Romeu Ribas de Oliveira.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________ Profº. Dr. Allyson Carvalho de Araújo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________________________ Profº. Dr. Márcio Romeu Ribas de Oliveira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________________________ Profª. Drª. Priscila Pinto Costa da Silva

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________________________ Profº Dr. Giuliano Gomes de Assis Pimentel

Universidade Estadual de Maringá

APROVADO EM ___/________/______

NATAL/RN 2020

(4)

4 Dedico este trabalho à todos os Traceurs e Traceuses que ajudam a permanecer a prática do Parkour na cidade de Natal/RN.

(5)

5 AGRADECIMENTOS

(6)

6 RESUMO

Este trabalho dissertativo desenvolve-se em meio às reflexões sobre a Prática Corporal de Aventura Urbana, denominada Le Parkour, comorigem nos subúrbios da França vem ganhando adeptos no mundo inteiro tendo como principal meio de propagação filmes, documentários e vídeos na internet, que chegouno Brasil por volta de 2004, e 2005 em Natal/RN, que com uma maneira distinta da educação formal. Sendo assim, tivemos como problemática: como é realizado o processo de ensino e aprendizagem do Parkour em um grupo de praticantes na cidade de Natal/RN? Tendo como Objetivo Geral: Compreender como se dá o processo de ensino e aprendizagem do Parkour em um grupo de praticantes da cidade do Natal/RN, e como Objetivos Específicos: Identificar de que forma o ensino do Parkour é apresentado nos referenciais teóricos; Identificar e descrever de que forma é realizado o ensino e aprendizagem do Parkour em um grupo da cidade de Natal/RN e sobre quais os elementos são considerados mais importantes a ser aprendidos segundo os praticantes. Para alcançar nossos objetivos, utilizamos pesquisa qualitativa de natureza descritiva, com viés etnográfico, sendo desenvolvida em dois momentos: primeiramente, investigamos através de um levantamento bibliográfico sobre o que a literatura propõe sobre o ensino do Parkour. No segundo momento foi dividido em três etapas: a primeira realizamos uma observação participante em treinos de um grupo de praticantes de Parkour em Natal/RN, ocorreram no período entre junho de 2019 à dezembro de 2019, com registro em vídeo; segunda, entrevistamos 5 praticantes de Parkourque treinam na cidade por pelo menos um ano, realizada e gravada entre o dia 30 de novembro e 04 de dezembro de 2019; na terceira, dialogamos sobre a maneira que se aprende e como se ensina Parkour no ponto de vista dos praticantes com as propostas disponíveis pelas literaturas. Percebemos que há divergências entre o que é proposto pelo o que a literatura propõe sobre o ensino e como o grupo treina, estão relacionados: ao tempo de duração, a idade dos participantes, os equipamentos e espaços utilizados, a gestão de riscos, o objetivo da prática e a existência de um mediador. O ensino do Parkour em Natal/RN é realizado de maneira informal, em grupo, porém em alguns momentos, é predominante o ensino em pares, acontecendo com mais frequência aos finais de semana pela tarde, sem tempo determinado para término, com ou sem uso de música. A maneira como aprendem é distinta da maneira que ensinam, dependendo das capacidades de aprendizagem de cada indivíduo, tendem a fragmentar o movimento, analisando os erros e ajustes pela percepção dos colegas ou por meio de vídeos, que em seguida são editados, adicionam música e compartilham nas redes sociais.

(7)

7 ABSTRACT

This dissertative work is developed amid the reflections on the Urban Adventure Body Practice, called Le Parkour, originating in the suburbs of France has been gaining adherents worldwide having as main means of spreading films, documentaries and videos on the Internet, which arrived in Brazil around 2004, and 2005 in Natal / RN, which with a distinct way of formal education. Thus, we had as a problem: how is the process of teaching and learning Parkour performed in a group of practitioners in the city of Natal / RN? Having as General Objective: Understand how the process of teaching and learning of Parkour takes place in a group of practitioners of the city of Natal / RN, and as Specific Objectives: Identify how the teaching of Parkour is presented in the theoretical frameworks; Identify and describe how the teaching and learning of Parkour is done in a group in Natal / RN and which elements are considered most important to be learned according to practitioners. To achieve our objectives, we used qualitative research of descriptive nature, with ethnographic bias, being developed in two moments: first, we investigated through a bibliographic survey about what the literature proposes about the teaching of Parkour. In the second moment it was divided in three stages: the first one we made a participant observation in training of a group of Parkour practitioners in Natal / RN, occurred between June 2019 to December 2019, with video recording; Second, we interviewed 5 Parkour practitioners who have been training in the city for at least one year, performed and recorded between November 30 and December 4, 2019; In the third, we talk about how we learn and how to teach Parkour from the practitioners' point of view with the proposals available from the literature. We realize that there are divergences between what is proposed by what the literature proposes about teaching and how the group trains are related to: duration, age of participants, equipment and spaces used, risk management, purpose of practice and the existence of a mediator. The teaching of Parkour in Natal / RN is done informally, in groups, but sometimes, is predominant teaching in pairs, most often on weekends in the afternoon, with no time to finish, with or without use. Music The way they learn differs from the way they teach, depending on each individual's learning abilities, they tend to fragment the movement, analyzing errors and adjustments by peer perception or through videos, which are then edited, add music and share on social networks.

(8)

8 LISTA DE IMAGENS

IMAGEM 1 - PARKOUR SEM COMPETIÇÃO ...15 IMAGEM 2 - MAPA DOS LOCAIS MAIS COMUNS PARA TREINOS DE PARKOUR EM NATAL/RN ...53 IMAGEM 3 - QUALIDADE DAS EXPERIÊNCIAS COMO FUNÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE DESAFIOS E CAPACIDADES. O ESTADO DE FLUIDEZ OU A

EXPERIÊNCIA ÓTIMA SE PRODUZ QUANDO AMBAS SÃO

(9)

9 LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO DOS ESPORTES RADICAIS QUANTO AO LOCAL DE PRÁTICA ...21 QUADRO 2 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS ESPORTES RADICAIS, DIVIDIDOS EM ESPORTE DE AVENTURA E ESPORTE RADICAL ...22 QUADRO 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS CORPORAIS DE AVENTURA ……….23 QUADRO 4 – RECORTE DA CLASSIFICAÇÃO DO PARKOUR SEGUNDO AUTORES ...24 QUADRO 5 – LINHA DO TEMPO DAS TERMINOLOGIAS ...25 QUADRO 6 - LISTA DE PRODUÇÕES SOBRE O PARKOUR EM AMBIENTES ESCOLARES E NÃO ESCOLARES ...45

(10)

10 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO AO PERCURSO ...11

1 - PRÁTICAS CORPORAIS DE AVENTURA URBANA: reconhecendo o percurso do corpo no ambiente urbano ...19

2.1. Um breve percurso da relação das Práticas Corporais de Aventura no Brasil ...26

2.2. Percurso do corpo pela cidade ...29

2 - CAMINHOS UTILIZADOS PARA O ENSINO DO PARKOUR SEGUNDO A LITERATURA ...42

3 - TRAJETÓRIA DO ENSINO DO PARKOUR EM NATAL/RN: relato de uma aprendizagem ...51

CONSIDERAÇÕES FINAIS: finalizando o percurso...93

REFERÊNCIAS ...99

(11)
(12)

12 As Práticas Corporais de Aventura têm ganhado atenção da área da Educação Física nos últimos anos devido a abrangência e amplitude que proporciona aos seus praticantes, mesmo sem nenhum tipo de segurança ou procedimentos técnicos necessários para a sua prática. Os primeiros diálogos sobre, tiveram início com a nomenclatura “Esportes Radicais”, por apresentar como a principal característica o envolvimento com o risco, e por, aos poucos, cada vez mais pessoas aderirem essa prática como atividades de lazer (TAHARA; DARIDO, 2015).

Apesar de indícios que estas práticas eram vivenciadas a muitos anos atrás, foi a partir na década de 1990 que houve uma ampla divulgação através da mídia, apresentando-as como possibilidades de lazer, de turismo na natureza e pelo advento da globalização, aumentava o interesse em torno do comércio nas Práticas Corporais de Aventura (PEREIRA; ARMBRUST, 2010) para a população em geral.

Dentro dessas práticas, está o Parkour que se propagou por vários lugares do mundo por intermédio de vídeos da internet, e foi por este meio que muitos praticantes têm aprendido boa parte das movimentações, que em seguida, é compartilhado entre os praticantes algumas dessas técnicas aprendidas. Dessa forma, o processo de ensino/aprendizagem é distinto do que estamos habituados, iniciando pelo local onde é realizado, o ambiente urbano, e pela forma como é realizado, ele não é centrado em somente um personagem que transmite o saber, e sim, configurado por cada um deles, em que todos fazem parte do processo de ensinar e aprender, que neste caso, é o de realizar ultrapassagens, saltos e aterrissagens ao transpor os obstáculos.

Derivado do treinamento militar composto por técnicas de salvamento do Corpo de Bombeiros da França, o Parcours du combattant ou percurso militar de obstáculos, desenvolvido por Raymond Belle, com o objetivo de “alcançar um ao outro, para o socorro, para escapar quando surgisse a necessidade e para sobreviver” (STRAMANDINOLI; REMONTE; MARCHETTI, 2012, p. 19) se tornou um método de salvamento, tendo como inspiração o Método Natural1 de George Herbert, que foi um oficial da Marinha Francesa, que deixou documentos que possibilitaram “elaborar saberes

1 O Método Natural é, por conseguinte, a codificação, a adaptação e a gradação dos procedimentos e meios

empregados pelos seres vivos em estado de natureza para adquirir seu desenvolvimento integral. [...] nenhuma cultura física dita científica, fisiológica ou outra, jamais produziu seres fisicamente superiores em beleza, saúde e força a certos habitantes naturais de todas as regiões do mundo: indígenas de todos os climas, negros da África, indígenas da Oceania etc. (HÉBERT, 1941 a, p. 6, t. I apud SOARES 2003, p. 25).

(13)

13 e práticas voltados a um projeto de educação do corpo que teve, como princípio norteador, a indicação de um retorno racional à natureza” (SOARES, 2003, p. 23).

O Parkour apresenta como sua principal característica, a ultrapassagem de obstáculos através de movimentos não codificados, possibilitando ao seu praticante a autonomia de criar a melhor maneira de transpor de forma mais rápida, bem como realizar as mais diversas variações de adaptações, desenvolvendo habilidades motoras, cognitivas, de interação interpessoal, além da troca de conhecimentos de movimentos entre os seus praticantes (já que não há hierarquia) e um pensamento de valorização dos locais de treinos. (ALVES; CORSINO, 2013; FERNANDES, 2018; STRAMANDINOLI; REMONTE; MARCHETTI, 2012; FRANÇA, 2016).

Tentando ser praticante a pouco mais de três anos, percebi que essas características são presentes na prática do Parkour, porque, ao tentar ultrapassar um obstáculo, o movimento será desenvolvido através de uma série de fatores: capacidade física, conhecimento corporal e percepção do espaço utilizado, não só na distância entre eles, mas também, se é seguro (se os obstáculos estão com boa estrutura, para evitar possíveis acidentes), reconhecimento das capacidades, das limitações e das habilidades, bem como superação de medos e do aperfeiçoamento das técnicas (o que é necessário para fazer a ultrapassagem do seu jeito próprio, mesmo com as dicas dos mais experientes).

No que se refere a sistematização do ensino do Parkour, segundo Fernandes (2018) inicialmente, houve uma preocupação com relação a denominação dessa prática, primeiro foi chamado de “L’Art du Déplacement”, e depois para Parcour, devido às influências do “Parcours du combattant”, sendo mudado o “c” pelo “k” por questões

estéticas (PEREIRA; ARMBRUST, 2010).

As nomenclaturas dos praticantes também tiveramatenção, sendo Traceur, para identificação dos homens e Traceuse para as mulheres, logo depois, organizaram a nomeação dos movimentos, queapresentam como característica principal, a transposição de obstáculos de forma “fluída”, chamados de Vaults em forma de percurso comumente conhecido como “Flow” (FERNANDES, 2018). Com o passar do tempo, os praticantes fizeram participações em vídeos, comerciais e viajaram por vários países difundindo o Parkour, neste processo ocorreu o desenvolvimento paralelo do movimento e da filosofia do Freerunning.

(14)

14 Em decorrência desse processo de expansão, ambas configurações foram se aderindo aos esportes tradicionais, sendo praticados em academias, “as instituições de regulamentação da prática, supervisão e profissionalização de instrutores e eventos de competição” (FERNANDES, 2018, p. 27). A primeira organização profissional a Parkour

Generations, “organização [que] propõe mediar ensino, consultoria, demonstrações

públicas, representações artísticas, trabalho de mídia e pesquisas acadêmicas” (idem, p. 28), bem como a pioneira em promover cursos de formação de instrutores, devido uma determinação do governo Britânico.

Logo depois surgiu a American Parkour, que também oferecendo formação de instrutores em clubes e universidades Americanas e Canadenses, para que pudessem passar uma boa impressão do Parkour, atendendo público, considerando que por ter responsável, poderiam dar mais credibilidade na comunidade. (FERNANDES, 2018). Já em 2007, foi a vez do surgimento da World Freerunning and Parkour Federation (WFPF), 2013 em criaram a Organização Internacional de Parkour – OIP -, promovendo formação de instrutores.

A prática do Parkour em sua essência inicial não estimula a competição, porém algunseventos nesse viés ganharam espaço, como por exemplo, o Art of Motion – AOM

-, promovida pela Red Bull desde20112 a nível mundial, com a participação do Brasil, representando pela primeira vez na América Latina, realizanda a terceira etapa da competição em São Paulo em 2011, sendo disputado no Poço das Artes, na Universidade de São Paulo. Em nível nacional,foi realizada pela Rede Globo, com o título de “Desafio Urbano de Parkour” no ano de 2015, se repetindo em 20163.

Em 2011, a Associação Brasileira de Parkour (ABPK), se posicionou contra a competição do Parkour através de manifestações para que houvesse uma resistência ao processo de esportivização da prática. Como está apresentado na imagem abaixo.

IMAGEM 1 – PARKOUR SEM COMPETIÇÃO

2Disponível em: <https://www.redbull.com/int-en/red-bull-art-of-motion-best-moments-video>. Acesso

em 17 out 18.

3Disponível em: <

(15)

15

Fonte: Associação Brasileira de Parkour. Disponível em: <http://www.abpk.org.br/tag/pro-parkour-against-competition/>. Acesso em 17 out.2018.

Porém, no ano de 2018 a Federação Internacional de Ginástica (FIB) anuncia o Parkour como uma “nova” modalidade, para as Olimpíadas, agregando às outras com características de um estilo para os jovens, como o BMX, Skate, Surf e a Escalada, como esportes competitivos. O Parkour apresentaria uma junção das variações da Ginástica (Rítmica, Trampolim, Artística e Aeróbica).

Segundo a organização, eles não iriam ir contra a filosofia do Parkour, mas que seria uma modalidadeparecida, não tento definido um nome ainda, mas uma corrida de obstáculos realizada contra o relógio. E pela FIB fazer parte do Comitê Olímpico Internacional (COI), seria mais fácil ser a mais nova modalidade de uma das edições das Olimpíadas. (VECCHIOLI, 2017)

Sendo assim, foram realizados vários manifestos utilizando a Hashtag4

#WeAreNotGymnastcs, e várias organizações se posicionaram a respeito do tema. No

Brasil, a Parkour Generations Brasil também se posicionou. Mas o plano é que em 2020, seja realizado o Campeonato Mundial de Parkour na cidade de Hiroshima, e em 2024, esteja presente no Jogos Olímpicos de Verão de Paris, tendo em vista que neste país que fora desenvolvido. (FERA, 2019).

Outra competição que teve uma competição a nível mundial no ano de 2018, que tem ganhado adeptos em alguns lugares do mundo é o promovido pela World Chase Tag - WCT, que consiste em uma arena quadrada de 12m² com vários obstáculos. A competição consiste em cada equipe composta por 4 participantes, enfrentam 4 da outra. Dividida de dois em dois, os participantes ficam um de frente para o outro, com rounds de no máximo 20 segundos, o objetivo é para que quem está fugindo não seja pego,

4 Hashtag é uma expressão bastante comum entre os usuários das redes sociais, na internet. Consiste de

uma palavra-chave antecedida pelo símbolo #, conhecido popularmente no Brasil por "jogo da velha" ou "quadrado". As hashtags são utilizadas para categorizar os conteúdos publicados nas redes sociais, ou seja, cria uma interação dinâmica do conteúdo com os outros integrantes da rede social, que estão ou são interessados no respectivo assunto publicado. Disponível em :< https://www.significados.com.br/hashtag/>

(16)

16 vencendo assim a rodada e ganhando um ponto. No total são 16 partidas, e quem tiver a maior pontuação ganha. (HYPENESS, 2018; TAG, 2019).

Uma das maiores questões é que o Parkour seria “controlado” e seus praticantes iam forçar seu corpo além dos seus limites, que consequentemente, com o tempo, a frequência da prática poderia diminuir. A Parkour Earth, responsável por organizar o Parkour em seis países (até o momento desta pesquisa) também se posicionou contra a esportivização.

Esse tema ainda é um algo que gera discussões entre os praticantes de Parkour, e acreditamos serem necessárias posicionamentos acadêmicos em relação ao assunto, com uma visão mais ampliada, levando em consideração às opiniões dos praticantes, que estão ligados diretamente à prática. Muitos acreditam que é uma forma de ser mais valorizado e visto com bons olhos por parte da sociedade. Uma academia de Parkour no Brasil já iniciaram as preparações pensando nas Olimpíadas (FURTADO, 2018).

Depois dessa breve reflexão, acreditamos que seja qual for a perspectiva, o Parkour exige uma dedicação permanente por parte dos seus praticantes, estando preparado tanto fisicamente quanto mentalmente, estando presente a solidariedade, a disciplina, a cooperação e a partilha, são reconhecidas por parte do “coletivo juvenil de praticantes de Parkour” extrapolando “os exercícios físicos desenvolvidos” (SILVA, 2012, p. 93).

Ainda segundo Silva (2012), além do fomento da aptidão física, da criação, da prática libertadora e solidária, da convivência com o espaço e com os outros, e da aceitação de si, o Parkour contribui para a adoção de “fazeres interculturais”, potencializando/afirmando identidades, reconhecimentos e tolerância por parte dos jovens (p. 96).

Dessa forma, pretendemos desmistificar possíveis preconceitos que permeiam a prática do Parkour apresentando os seus benefícios, bem como, questões pedagógicas, conceitos, caracterizações e apresentar possíveis subsídios para que outras pesquisas futuras sejam realizadas. O ensino do Parkour teve seu processo inicialmente através da internet, e em seguida, os seus elementos foram sendo transferidos entre aqueles que se aventuravam em realizar os movimentos distintos dos que estavam habituados no seu cotidiano, se deslocando pela cidade.

(17)

17 Percebemos assim, que ainda há lacunas no que se refere às pesquisas relacionadas em compreender essa maneira tão peculiar de se aprender presente no Parkour, um ensino distinto do que estamos habituados em vivenciar, sendo um indivíduo detentor do saber, e que os demais apenas reproduzem. Dessa forma, a nossa inquietação para realizar esta pesquisa é a seguinte: como se dá o processo de ensino e aprendizagem do Parkour em um grupo de praticantes na cidade de Natal/RN?

Objetivo Geral: Compreender como se dá o processo de ensino eaprendizagem do Parkour em um grupo de praticantes da cidade do Natal/RN.

Objetivos Específicos são os seguintes: Identificar de que forma éo ensino do Parkour é apresentado nos referenciais teóricos; identificar e descrever de que forma é realizado o ensino e aprendizagem do Parkour em um grupo da cidade de Natal/RN e sobre quais os elementos são considerados mais importantes a serem aprendidos segundo os praticantes.

Para alcançarmos os Objetivos desta pesquisa e responder às inquietações, escolhemos uma Metodologia Qualitativa, de natureza descritiva como método para que possamos expor os achados desta investigação, que tem como “objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações” (GIL, 2002, p. 42), com viés etnográfico.

A pesquisa será desenvolvida em dois momentos: primeiramente, foi realizado um levantamento bibliográfico com o objetivo de identificar como a literatura propõe o ensino do Parkour; O segundo momento foi dividido em três etapas: a primeira realizamos uma observação participante em treinos de um grupo5 de praticantes de Parkour em Natal/RN, ocorreramno período entre junho de 2019 à dezembrode 2019, com registro em vídeo; segunda, entrevistamos 5 praticantes de Parkourque treinam na cidade por pelo menos um ano, realizada e gravada entre os dias 30 de novembro e 04 de dezembro de 2019; na terceira, dialogamos sobre a maneira que se aprende e como se ensina Parkour no ponto de vista dos praticantes com as propostas disponíveis pelas literaturas.

Os participantes da pesquisa foram informados dos objetivos e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, Permissão de Gravação de Voz e Autorização de uso de imagens e vídeos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP - da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Sendo

(18)

18 assim, as entrevistas e gravações só se deu depois do parecer com a liberação para tal com o parecer de número 3.476.860.

Normalmente o grupo combina entre si por meio das redes sociais durante a semana, que variam entre o Half, Praça da Paz, Área de Lazer, na Zona Norte, Anfiteatro da UFRN e redondezas, um morro em Nova Descoberta e nas praias da cidade. Os treinos acontecem comumente com mais frequência nos finais de semana, no período da tarde.

Este escrito está organizado da seguinte maneira: o primeiro capítulo, expomos um brevecontexto histórico sobre como surgiram e se disseminaram as Práticas Corporais de Aventura no Brasil e suas influências principalmente para o público jovem, seguindo uma reflexão sobre o corpo referente à educação e a sua relação com a cidade.

No segundo capítulo, apresentamos uma reflexão sobre as comparações e divergências entre o que propõe a literatura em relação ao ensino do Parkour, juntamente com os elementos considerados importantes nesse aprendizado, seja em ambientes escolar e não escolar.

No terceiro capítulo, descrevemos o processo de ensino e aprendizagem do Parkour na cidade de Natal/RN na perspectiva das observações do participante nos treinos do grupo, algumas mudanças significativas que ocorreram desde o início da prática, bem como um diálogo entre a fala dos praticantes e dos autores sobre o ensino e a aprendizagem do Parkour em Natal/RN. Seguido pelas considerações finais da pesquisa.

Dessa maneira, pretendemos também com esse escrito, oferecer um registro de como surgiu o Parkour em Natal/RN para os novos praticantes ou para àqueles que tenham o desejo de conhecer mais sobre. Considerando isso, tentamos apresentar este escrito em uma linguagem de fácil compreensão para que todos os leitores que tenham acesso ao texto, entendam o processo de maneira clara e objetiva.

(19)
(20)

20 O Parkour é uma Prática Corporal de Aventura Urbana, que têm como princípio realizar ultrapassagens de obstáculos na medida em que o indivíduo se desloca, e essa interação do corpo do Traceur e da Traceuse, nome dado ao praticante homem e a praticante mulher no Parkour, que significa “traçador”, com a cidade se torna em alguns momentos de forma harmoniosa, ao ponto de parecer que ambos são um elemento só.

Para quem está visualizando, essas maneiras de deslocamentos podem parecer muito complexas, porém para eles, pode ser tanto assim, claro que se deve levar em consideração o tempo de prática, a familiaridade com o ambiente, bem como as habilidades já desenvolvidas pelo indivíduo, que influenciam muito nessa perspectiva de harmonização de movimentos.

No Parkour percebemos que há diversas possibilidades para o sujeito realizar os movimentos comuns da prática, seja nos ambientes mais naturais (como florestas), ou em ambientes urbanos, sendo neste último o mais comum, já que se distingue daquele, pois “[...] produzem estruturas complexas, com diversas formas de relação humana, proporcionando uma grande modificação da sua forma natural” (PEREIRA et al, 2007, p. 84).

Dentro dessa perspectiva, o Traceur e a Traceuse se relacionam com o ambiente urbano de maneira diferente, dando-lhe um novo significado, que assim como a ressignificação dada pelos skatistas tendo em vista que o espaço urbano, não fora projetado para tal prática (PEREIRA et al, 2017; COSTA et al, 2007; STRAMANDINOLI, REMONTE, MARCHETTI, 2012), no Parkour também se percebe a incorporação desse tipo de linguagem, tendo, porém, o corpo como principal meio de comunicação e expressão.

Essas práticas corporais tendem a ir por um caminho inverso das que são mais comumente praticadas pelos indivíduos ou pelo menos mais vistas nos canais esportivos televisivos, vinculadas a um ambiente específico, a uma forma mais técnica e fixa de ser praticada, com suas regras, valorizando, em alguns casos, as perdas e as vitórias entre os participantes. É pela característica inversa que as Práticas Corporais de Aventura vêm ganhando mais praticantes, pela diversidade dos locais relacionadas aos ambientes abertos em que o contato com a natureza.

Com seu crescimento, foi necessário entenderas suas manifestações. Pereira et al (2008) apresentou uma classificação dos Esportes Radicais, apontando o meio em que

(21)

21 são praticados, (aquático, aéreo, terrestre, misto e urbano), dividindo em dois grupos Ação e Aventura, descrevendo as práticas que estariam mais relacionadas com essas características distribuídas da seguinte forma:

QUADRO 1: CLASSIFICAÇÃO DOS ESPORTES RADICAIS QUANTO AO LOCAL DE PRÁTICA

Esportes Radicais

Meio Ação Aventura

Aquático Surf, Windsurf, kitesurf Mergulho (livre e autônomo), canoagem (rafting, caiaque, aqua ride, canoyoning)

Aéreo Base jump, sky surf Paraquedismo, balonismo, vôo livre

Terrestre Bungee Jump, sandboarding

Montanhismo (escalada em rocha, escalada em gelo, técnicas, verticais, tirolesa, rapel,

arvorismo); mountain bike (down hill, crosscountry), trekking

Misto Kite surf Corrida de Aventura

Urbano Escalada indoor, skate, patins in

line, bike (trial, bmx) Parkour

Fonte: Pereira et al (2008) adaptado.

Segundo o autor, os esportes de ação estão mais ligados ao movimento, a ação, a força e a energia, já os esportes de aventura estão mais atrelados às incertezas, ao desconhecido e ao imprevisível. Ele aponta também uma caracterização desses esportes, objetivando trazerreconhecimento quanto às habilidades, o surgimento, às capacidades físicas, à etimologia, o objetivo, o local, o público mais comum, o perigo que está relacionado, como ocorre a organização e como é a relação da prática com a mídia, criando o quadro a seguir:

(22)

22 QUADRO 2 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS ESPORTES RADICAIS,

DIVIDIDOS EM ESPORTE DE AVENTURA E ESPORTE RADICAL Esportes Radicais

Característica Ação Aventura

Habilidade Predomina a estabilização Predomina a locomoção

Surgimento Como atividade de lazer e uso do

tempo livre

Como expedição ou exploração (militar, econômica ou científica)

Capacidade Física

Predomina a força potente A velocidade das manobras exige

força e velocidade

Predomina a resistência A estratégia e a escolha ganham

importância

Etimologia

Manifestação de força e energia, movimento, comportamento e

atitude

Experiências arriscadas, incomuns, perigosos e imprevisíveis

Objetivo

O lazer é o principal motivo As competições geram eventos de

grande importância

Forte relação entre lazer e turismo

Local

Urbano e natureza Espaços construídos e eventos da

natureza (onda, vento)

Natureza e urbano

Espaços naturais (a meta é sair de um ponto e chegar a outro)

Público Média entre 15 e 25 anos Média entre 25 e 35 anos

Perigo Socorro mais próximo

Menor ação do clima

Socorro mais distante Maior ação do clima

Organização Existem regras, associações e

formação de tribos

Existem regras, associações e formação de equipes

Mídia

Relaciona-se com público alvo na: atitude, vestimenta, comportamento

e linguagem

Busca captar uma história Relaciona-se com o público alvo na

ecologia, qualidade de vida e meio ambiente

Fonte: Pereira et al (2008) adaptado.

Podemos observar que nos dois quadros, que os autores nos ajudam a perceber algumas diferenças entre essas Práticas Corporais, para que se pudesse classificar e reconhece-las, porém, não as separando. Ainda sobre as classificações e reconhecimentos dessas práticas, Franco; Pereira; Darido (2014) esclarecemque desde séculos anteriores, a humanidade cria equipamentos e técnicas, que influenciaram no desenvolvimento das bases para a prática de aventura na atualidade, refletindo um retorno do ser humano para o meio ambiente.

Geograficamente, o Brasil é composto por um extenso litoral, cavernas, rochas e morros, além das características climáticas que favorecem e contribuem para popularidade, crescimento e expansão de algumas práticas corporais nesses locais.

Considerando esses apontamentos, Franco; Pereira; Darido (2014), construíram uma classificação das Práticas Corporais de Aventura, descrevendo as modalidades em três grupos, as que são praticadas em Terra, Mar e Ar, seguidas por uma breve descrição

(23)

23 de como sãorealizadas, os materiais utilizados e os locais em que são praticadas, descritos no quadro a seguir.

QUADRO 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS CORPORAIS DE AVENTURA Modalidades

praticadas em Terra Breve descrição

Caving Exploração de diferentes tipos de cavernas que se empregam técnicas variadas.

Corrida de aventura Prática competitiva que objetiva o deslocamento entre pontos em locais naturais, contendo diversas modalidades de aventura encadeadas. Corrida de orientação Prática competitiva que emprega mapa específico e bússola para navegar

entre pontos determinados.

Arvorismo Prática focada na superação de desafios e obstáculos, geralmente construídos entre plataformas suspensas nas árvores.

Escalada Prática cujo objetivo é, normalmente, ascender em estruturas com diferentes graus de dificuldade, como rochas e muros de escalada. Mountain bike Prática de ciclismo realizada em espaços naturais como trilhas.

Parkour Deslocamento de um ponto para outro, usando habilidades corporais para a superação de obstáculos.

Skate Prática que emprega equipamento, normalmente composto por prancha e eixos com rodas, para a realização de diferentes movimentos e manobras. Slackline Deslocamento realizado sobre uma fita tubular presa entre pontos que estão

acima do solo.

Trekking Prática centrada na caminhada, normalmente, em trilhas e espaços naturais, podendo ser competitiva ou não.

Modalidades praticadas na água

Canoagem Prática realizada em mares, lagos, rios, piscinas ou outros espaços e que emprega caiaques, canoas ou botes.

Kitesurfe Prática que emprega uma espécie de pipa e uma pequena prancha com uma estrutura de suporte para os pés.

Mergulho Prática subaquática que é realizada com ou sem equipamentos específicos. Rafting Modalidade da canoagem que, normalmente, emprega botes infláveis para a

descida de corredeiras. Stand up paddle ou

SUP

Prática realizada com uma prancha, similar à usada no surfe, que também emprega um remo.

Surfe Prática realizada com diferentes tipos de pranchas que objetiva deslizar sobre ondas e realizar manobras.

Acqua ride ou bóia cross

Consiste em descer corredeiras deitado ou sentado sobre uma câmara de ar em formato ovalado.

Windsurfe Prática realizada com uma prancha, similar à usada no surfe, que possui mastro e vela.

Modalidades praticadas no ar

Asa delta Prática de voo livre que emprega um tipo de asa feita de materiais rígidos, como tubos de alumínio, e flexíveis, como tecidos.

Balonismo Deslocamento realizado com balões.

Bungee jump Salto de estruturas elevadas, como plataformas e pontes, por meio de cordas elásticas.

Paragliding Prática de voo livre que emprega equipamento similar a um paraquedas. Paraquedismo Saltar de aeronaves empregando paraquedas. Há o B.A.S.E. Jump, cujo salto

com paraquedas é realizado em pontes, prédios e penhascos. Tirolesa Deslizamento realizado com equipamentos individuais, em um cabo de aço

fixado entre pontos de diferentes alturas. Fonte: FRANCO; PEREIRA; DARIDO (2014) adaptado.

(24)

24 Conforme essas classificações utilizamos a nomenclatura “Práticas Corporais de Aventura – PCA”, como terminologia para nos referir neste escrito, e agregando o termo “Urbano”, por do nosso objeto de estudo, ser praticado em Terra, e em ambientes urbanos. Assim, recortamos e apresentamos o Parkour de maneira mais detalhada dentre as classificações encontradas no quadro a seguir.

QUADRO 4 – RECORTE DA CLASSIFICAÇÃO DO PARKOUR SEGUNDO AUTORES

Prática Corporal de Aventura

Parkour

Característica Aventura Urbana

Modalidade praticada em

Terra Habilidade Predomina a locomoção ultrapassando obstáculos

Deslocamento de um ponto para outro, usando habilidades corporais para a superação de obstáculos.

Surgimento Como expedição ou exploração (militar)

Capacidade Física

Predomina a resistência

A estratégia e a escolha ganham importância

Etimologia Experiências arriscadas, incomuns, perigosos e

imprevisíveis

Objetivo Forte relação entre lazer

Local

Natureza e urbano

Espaços naturais (a meta é sair de um ponto e chegar a outro)

Público Média entre 25 e 35 anos

Perigo Socorro mais distante

Maior ação do clima

Organização Associações e formação de grupos

Mídia

Busca captar uma história

Relaciona-se com o público alvo na ecologia, qualidade de vida e meio ambiente Fonte: criado pelo autor.

Porém, Angel (2011) em sua tese de doutorado, apresenta um quadro cronológico do processo de evolução do que o Parkour nos últimos anos, bem como as terminologias utilizadas, e as justificativas das suas mudanças. Ela sinaliza que o Parkour é um fenômeno multidimensional, que pode ser vivenciado com uma arte, uma disciplina de treinamento, um esporte, um conjunto de valores e uma prática de liberdade, que vai depender das motivações individuais, entendimento de cultura e a exposição da história da prática.

(25)

25 QUADRO 5 – LINHA DO TEMPO DAS TERMINOLOGIAS

CRONOLOGIA DA TERMINOLOGIA

1986/7 Parcours (Um curso ou uma rota) discurso de treino de Raymond Belle com seu

filho David 1997 L’art du deplacement (A Arte do deslocamento)

Sébastien Foucan deu esse nome para a prática para French television Stad 2 feature

1997 Parkour

Herbert Kounde sugeriu para David Belle que ele criasse uma palavra para que pudesse sentir a intensidade do treinamento que estava

fazendo.

2003 Freerunning Traduzido para o Inglês proposto por Guillame Pelletier durante a

produção do documentário British Channel 4 Jump London.

Grupos Yamakasi

Nome dado ao grupo na peça do Stad 2 TV e Fire fighter performance. O nome do grupo foi também era um tipo de ‘conceito’ por alguns do

grupo já que haviam mais do que os 9 no grupo

Traceurs

David Belle, Sebastien Foucan, Steve ‘Kazuma’ Rognoni, Stephane Vigroux, Johann Vigroux, Jerome Bem Aoues, Michael Ramdani,

Sebastien Goudot, Rudy Doung, Ramain Moutault.

Individuais Traceur/traceuse

(homem/mulher) Qualquer pessoa que pratique parkour, adequado do grupo ‘Tracers’

Freerunner Qualquer pessoa que pratique freerunning ou parkour Angel (2011, p. 222), adaptada pelo autor utilizando tradução livre.

As terminologias foram sendo modificadas e adaptadas conforme a aplicabilidade que ia ganhando com o passar do tempo, desde “Parcours” com Raymond e David Belle, seguindo para “L’art du deplacement” com Sébastien Foucan, “Parkour” pela sugestão de Herbert Kound para David Belle e “Freerunning” sugerido por Guillame Pelletier durante uma gravação de um documentário em Londres. Assim, a mídia influenciou nas mudanças das nomenclaturas dessa Prática Corporal. E iremos utilizar neste escrito a palavra “Parkour” por se tratar de uma palavra que é mais utilizada tanto pelo meio acadêmico quanto pelos praticantes.

Feito esses apontamentos, traremos uma breve reflexão sobre o crescimento das Práticas Corporais de Aventura no Brasil, bem como as influências que contribuíram para sua propagação no país. Comisso, alguns termos aparecerem como “Esportes Radicais”, “Esporte de Aventura” e/ou “Esporte na natureza”, respeitando os termos utilizados pelos autores consultados e referenciados.

(26)

26 2.1. Um breve percurso da relação das Práticas Corporais de Aventura no Brasil

As Práticas Corporais de Aventura no Brasil, ganharam um enfoque maior no país nos últimos anos, porém na época que iniciaram as primeiras tentativas de vivências, tiveram uma grande contribuição da mídia e os meios de comunicação da época. Ao abordar sobre a participação dos Esportes Radicais nos meios de comunicação, Fortes (2009) aponta que, deu espaço que outrora até então eles não tinham, que era a visibilidade, sempre atrelando ao público jovem.

A presença dos esportes radicais na mídia está ligada ao crescimento dos mesmos e à busca de audiência juvenil por parte dos meios de comunicação. Desta forma, não apenas televisão mais também no cinema, rádio e revistas abrem espaços inéditos para esportes que antes contavam com pouca visibilidade. (FORTES, 2009, p. 421).

Essa visibilidade no Brasil se deu por volta dos anos 80, iniciando com pequenas aparições em seriados, em aberturas de novelas, surgindo curiosidades da população e atraindo atenção, contribuindo para sua disseminação, em contrapartida, apresentando uma dissociação de “[...] estigmas como o de atividade de drogados” (idem, p. 422).

Fortes (2009) aponta grandes nomes de telenovelas, programas com personagem dedicados a algo tipo de esporte radicai, apresentando-o como estilo de vida desses indivíduos, sempre destacando as belezas das praias, dos prazeres em realizar viagens, da relação com a natureza e com a representatividade dos “corpos dourados”. Porém, o autor salienta que o que era retratado não era um reflexo da realidade da grande parte dos jovens brasileiros, todavia, o poder de influência que tinham era bastante significativo6.

E nessa perspectiva, Fortes (2009) ainda aborda que houve uma associação dos esportes radicais com a música, já que na época o rádio estava em grande propagação no Brasil, tendo programações específicas sobre campeonatos, entrevistas e informações relacionadas aos esportes e o crescimento do rock nacional estavam sempre associadas, já que estava sempre presente nas competições.

6[...] ajudou a disseminar uma série de preferências e gostos, materializados no consumo de atividades

(luaus, shows), hábitos (aloirar o cabelo, alimentação saudável), estilos musicais (rock, reggae, surf music), equipamentos e acessórios (cordinha para prancha, cotoveleiras, adaptadores para transportar pranchas em carros e bicicletas), roupas e muitos outros produtos fabricados pelas marcas associadas (FORTES, 2009, p. 425).

(27)

27 As revistas não ficaram de fora. Elas também apresentavam entrevistas, indicações de músicas, informações sobre esporte, com contribuições de produtos midiáticos originários de outros países, colaborando para produção de produtos semelhantes no Brasil, mesmo de forma muito amadora mais que foi ganhando forma com o passar do tempo. Os principais esportes que estavam em evidências nessa época foram o Skate e o Surf, pois grande parte dos centros televisivos estavam no Rio de Janeiro, o que facilitava o acesso a eles.

Logo após, surgem as Federações ajudando a regulamentar e organizar os campeonatos, com a participação de brasileiros em competições internacionais obtendo resultados significativos, e com o envolvimento de patrocínio de grandes empresas para conquistar os jovens.A participação de empresas com o apoio financeiro estava vinculada à apresentação das roupas comuns aos praticantes desses esportes, para o crescimento do número de fãs, de consumidores e de admiradores. O que estava em jogo, não era só a venda do esporte, mais de “[...] uma imagem e um estilo de vida que atraiu crianças, adolescentes e jovens de todo o Brasil” (FONTES, 2009, p. 442 grifosdo autor) refletindo grande público que está mais interessado em acompanhar do que realizar efetivamente ao esporte.

Betti (1998) ratificaque com o surgimento da transmissão de eventos esportivos através das mídias, é apresentado um “esporte espetáculo”, muito explorado principalmente pelo meio televisivo, tornando-o assim, um produto de consumo. Porém, é necessário que o consumidor desse esporte, tenha uma visão crítica do sistema, seja na visão técnica e estética, seja em relação aos seus conceitos e as suas percepções, a fim de avaliar e identificar sua qualidade, e quais práticas estão mais associadas à sua saúde e seu bem-estar, se tornando assim, um praticante ativo e lúdico.

Diante desse ponto de vista, o autor sinaliza que não podemos falardo esporte sem relacioná-lo com “os meios de comunicação em massa”, poisinfluenciaram e ainda influenciam, a maneira como se pratica, bem como a percepção sobre o esporte, além de servir como modelador trazendo mais viabilidade para ser consumido pelos telespectadores. Segundo Uvinha (2001) e Fontes (2009) os Esportes Radicais estavam conectados à imagem do corpo jovem com a compra de equipamentos,influenciando, por vezes, o apoio dos pais para comprar seu primeiro skate ou outro material. Em contrapartida, no Parkour, o consumo ou utilização de materiais equipamentos de

(28)

28 segurança não são comuns à sua prática como em outras PCA’s, sendo necessário usar roupas leves e calçados (PEREIRA; ARMBRUST, 2010).

Dias (2009) ao relatar sobre as novas concepções do esporte no Brasil, especificamente os esportes na natureza, ele apresenta que diante dessas novas práticas, admitiu-se ou estimulou-se “[...] a formação de um repertório linguístico atrelado a essa ideia da novidade. ” (p. 383). Ele acrescenta ainda que

[...] a criação do imaginário entorno desses esportes se deu por intermédio da mobilização de um determinado arquivo discursivo que, entre outras coisas, vê e concebe a experiência na natureza como possibilidade de transgressão, de rebeldia, de ruptura com a ordem e, nesse sentido, como lugar potencial de criação e advento do novo. Daí porque os esportistas na natureza estarão de maneira tão frequente marcados pelos símbolos da inconformidade ou da inadaptação.

Ainda segundo Dias (2009), essas práticas corporais aparecem como uma forma de sair da agitação das cidades, e esse termo “novo” não está intrinsicamente ao tempo cronológico, mas sim, relacionado às configurações dos sentidos e significados apresentados naquele contexto histórico, expandindo os critérios utilizados para definir o que era “ser esportivo”. Aesportivização apresenta-se como uma solução, criando regras para as competições, e com a oficialização algumas práticas deixam de ser vistas com olhar marginalizados, ou sem nenhuma importância, sendo aceitas pela da sociedade.

Chagas; Rojo & Girardi (2015) apontam que a espetacularização do Parkour realizadas pelos meios de comunicação foi utilizada como uma forma de chamar a atenção da população, transformando a visão filosófica e romântica da prática, para uma perspectiva de consumismo e entretenimento, com a participação em documentários, filmes e seriados, transmitidos pela televisão, pelo cinema e pela internet.

As reportagens também tendem a tratar o Parkour com uma visão distorcida ao mesmo tempo que elas ajudam a divulgá-lo (FERNANDES; GALVÃO, 2016), deve-se ter cautela nos “discursos midiáticos enviesados”, não considerando somente as “mídias populares”, mais também, nos trabalhos acadêmicos, sendo uma mesma divulgação de “[...] um mesmo valor pode levar diferentes pessoas a desenvolver distintas atitudes, inclusive opostas” (p. 237).

(29)

29 A cidade e a relação entre os indivíduos são reflexos das ”relações entre os corpos humanos no espaço é que determinam suas reações mútuas, como se veem e se ouvem, como se tocam ou se distanciam” (SENNETT, 2003, p. 17), configurando a consequência da construção das cidades ao longo dos anos.

Diaz (2014) afirma que “ as construções urbanas estão destinadas a uma determinada funcionalidade que é distante de ser meramente decorativa cumpre uma função claramente das condutas humanas” (p. 90 traduzido pelo autor). E por essas estruturas sendo criados por muitas vezes as cidades não foram planejadas para as pessoas, que com um olhar panorâmico, é uma bela cidade, mas que ao chegar um pouco mais perto, olhando de dentro, percebe-se que foi planejada para que os veículos passassem, sem nenhum planejamento para que os indivíduos (GEHL, 2017).

Diaz (2014) afirma que essa característica se opõe ao aspecto lúdico-social em que o jogo, a imaginação e a participação comunitária em sua construção fossem produtoras de novas experiências de comportamento e sensibilidade. E a troca de conhecimentos entre os indivíduos na cidade reflete também formas educacionais podem ser constituídas como formal, informal e não formal, segundo Carrano (2003), ao relatar sobre as diversas formas de aprender, ele afirma que algumas delas por não apresentar uma organização pedagógica, ou por apresentar agentes desconhecidos e descontrolados desses sistemas pressupostos para a aprendizagem, são entendidas como um local em que não há educação.

Aprendizagem por vezes acontece quando não há uma intenção consciente ou uma pedagogia intencionada, são características de uma educação informal, que ”[...] é entendida não como algo que gera efeitos que não são formais, mas, sim, como um processo formativo que ocorre informalmente” (CARRANO, 2003, p. 17), sendo assim, ela não se ajusta às formas institucionalizadas de educação, bem como um lugar determinado para ocorrer.

As cidades têm um potencial educativo que vai além da institucionalização, já que “A valorização do potencial da educação praticada nos espaços que constituem as cidades tem contribuído para a diminuição da cegueira frente aos processos educativos que se fazem invisíveis à previsível intencionalidade pedagógica”. (idem, p. 19). Sendo assim, um espaço bem diferente do ambiente escolar.

(30)

30 Iremos abordar especificamente ao público jovem e a sua relação com o ambiente. Os lazeres são vividos por eles como uma oportunidade de afrouxamento ou suspensão das tensões impostas pelos processos de regulação moral e da denominada

educação civilizante. Na juventude, os momentos de lazer ser uma oportunidade de concentração sobre si próprios e de interação não obrigatória com o grupo de amigos. (CARRANO, 2003). Essa interação se dá por vários fatores de interação e interesses convergentes entre si (UVINHA, 2001; CARRANO, 2002), e estão atrelados à sensação de riscos, como uma forma de enfrentamento das novas fases da vida (LE BRETON, 2009).

A conversão ou o resgate da conduta social cotidiana na qual o indivíduo abre

mão da postura de espectador e assume um papel de praticante da cidade, é o caminho por alguns autores para tentar explicar a transformação que não ocorre apenas na cidade ou no corpo, mas em ambos. A cidade contemporânea, atravessada pela lógica do capital e pela crescente burocracia do Estado, caracteriza-se por uma configuração espacial na qual não lhe interessa impedir o movimento, mas controlá-lo, seja ele o movimento dos corpos, mercadorias ou capitais. Em oposição a esta ocupação, o Parkour, caracterizado pela ideia de fluxo, gera uma qualidade de deslocamento estimulada pela vivência de um corpo livre, liso e constante. (FREITAS, 2011)

Esse resgate ou conversão da conduta social normalmente é encontrado no lazer, pois é possível construir um momento de autonomia que dificilmente se encontra em outros contextos da vida social, tais como os escolares, os familiares e os do trabalho profissional. A experimentação de determinados comportamentos nas práticas de lazer, em outras situações, seria considerada como um desvio inaceitável de conduta. Para os jovens, principalmente, podem encontrar nessas práticas possibilidades de experimentação das múltiplas identidades necessárias ao convívio cidadão nas suas várias esferas na tentativa de inserção social. O lazer é momento que permite à realidade social cotidiana ser representada em condições de ludicidade e fantasia.

Por vezes essa ludicidade e fantasia apresentam uma visão de radicalidade, estando estritamente ligada à maneira como os primeiros indivíduos que agregaram esse movimento estavam se comportando ao movimento da cidade, contrariando a lógica da sociabilidade urbana que foi pensada por causa “[...] do medo atávico aos espaços públicos e da confirmação do sempre igual das culturas da cidade” (CARRANO, 2003, p. 151). E por se tratar de um comportamento que não foi pensado, foi organizada a

(31)

31 educação em instituições escolares para que alguns costumes que comprometiam a saúde da população fossem sanados.

As influências desse tipo de postura, teve início na Europa, século XIX, tendoa Ginástica como importante instrumento trazendo consigo ideais e ideias, relacionada a “[...] demonstrações atléticas e cívicas, em exercícios artísticos do mundo do teatro e da dança. ” (SOARES, 2012, p. 133). Esses elementos faziamparte do currículo escolar, já que na época, preocupou-se com a manutenção e preservação da saúde, tendo em vista que a Europa passava por um período dedoenças, misérias e fraquezas físicas, entendiam que esses fatores estavam relacionados com as ações, os cuidados e a insuficiência de saberes, e os exercícios ginásticos seriamum meio para solucionar, tendo como objetivo principal “[...] preservar forças físicas e psíquicas, o vigor do corpo e, sobretudo, prevenir os grandes e pequenos males” (idem, p. 134)sendo chamada de “educação no corpo”.

Esse sistema ganhou proporções de tal maneira que os países foram aderindo esses exercícios prescritos e foram levados pelos imigrantes para os países colonizados para contribuir para a manutenção e preservação da saúde, como nos salienta Soares, (2012, p. 134)

Uma prática corporal que encarna posturas normativas inspiradas na geometrização de gestos, em suas inúmeras combinações, e ainda, no registro das forças e seu desenvolvimento, nas justificações fisiológicas que permitem uma análise mais acuradas acerca das funções orgânicas, da ordem dos gestos, em suas eficácias.

A introdução de movimentos estava atrelada à maneira como as pessoas deveriam se comportar ou fazer, para melhorar a saúde, sendo mais comum em clubes, associações e federações, e presentes demonstrações em eventos cívicos, comexercícios de combinações, utilização de materiais e equipamentos, acompanhados de sons e cantos consolidando ainda mais a educação republicana.

Utilizada como “pedagogia” ela trouxe alinhamentos dos corpos e ensinos com técnicas de auto gerência tornando assim, o “corpo expressão de civilização” caracterizada por uma nação com consequências de guerras, estratégias e novas configurações de elementos já existentes na cultura, com a “laicalização” de inúmeras práticas, tornando-se uma “técnica de educação do corpo”, com ensinamentos de “[...]

(32)

32 comedimento, a contenção, o rigor consigo e com o outro, a igualdade de ritmos e gestos tão necessários à vida cívica e à vida urbana” (SOARES, 2012, p. 136).

Antes da esportivização, a ginástica tinha como seu público alvo, segundo Soares (2012), os jovens das camadas populares, regida por associações militares, em seguida surge a espetacularização do corpo para além da exibição de performances e entretenimento. Com inspirações dos saberes médicos, com o objetivo a cidade foi desenvolvida “[...] de cuidados e de controle em relação ao corpo dos indivíduos e das populações. ” (p. 144) como uma forma de “educação do corpo urbano” (p. 145). Ainda segundo Soares (2012), a urbanidade é algo característico na ginástica antiga, tendo o papel principal nesse processo civilizador ainda com mais intensidade quando o campo científico em que apoiava esse pensamento.

Ao chegar no Brasil através dos imigrantes, a Ginástica tem características dos modelos europeus, em especial o Francês, se tornaria um elemento para “[...] educar o corpo, preservar a saúde, as tradições e também de reunir as pessoas em torno de mais um elemento em comum” (idem, p. 155), tendo mais evidência na região Sul do país. Ela foi sendo introduzida nos clubes e associações, tem acesso à praticas corporais com ideologia da higienização trazendo consigo, de maneira bem incisiva, concepções de corpo belo e atlético dos atletas, e quem não tivessem esses estereótipos, eram rejeitadas (Soares, 2012).

A formação de professores, de médicos, de enfermeiros, e tantas outras profissões, tiveram esse ideário marcado como concepção cultural da civilidade do ambiente urbano e público para a civilização do novo país aliado aos “discursos

políticos-pedagógicos” nas demonstrações de festas com bandeiras e uniformes juntamente com as regras e o civilizado, introduzida no ambiente escolar, para garantir uma nação forte, moral e disciplinada, pois demonstrava desorganizada e desordenada, pensando projetos não apenas na parte intelectual, mas também, na moral, principalmente em relação aos cuidados com seu corpo, se adequando à preparação de um povo forte para o trabalho, e para a manutenção e regeneração da raça, ditadas pelos médicos maneiras higiênicas de viver que, passou a ser defendida pelos pedagogos, pelo que Soares (2012, p. 111) nos diz que

A Educação Física desenvolvida no âmbito escolar, ou fora dele, acentua as representações que a sociedade tem dos indivíduos, seja no seu corpo – entendido como corpo biológico, a-histórico -, seja de sua moral – entendida como amor ao trabalho, à ordem individual, da tenacidade, da vontade.

(33)

33 A educação estava comprometida com a formação de um tipo de povo, Lefebvre (2001) expõe que o processo de industrialização, construíram cidades com favelas em suas redondezas e sistemas de comercialização, com estrutura que facilitasse essa comunicação entre o povo e comercio, influenciando também no lazer, principalmente para os jovens já que é “contribui ativamente para essa rápida assimilação das coisas e representações oriundas da cidade” (LEFEBVRE, 2001, p. 12).

Para Lefebvre (2001) foram produzidos vários signos em relação à cidade, como um “sistema de significações” (p. 63), para serem produzidos e consumidos, sejam pela satisfação, seja pela felicidade, e dentre outros motivos, tendo em mente a compra e venda. Essas significações tem uma “linguagem urbana” expressada pelos seus habitantes, na maneira de se vestir, no conversar, nos escritos nos muros, nas formas das portas e nas janelas das casas, dando sentidos distintos para espaço, nas seguintes dimensões:

[...] simbólica; simbolizam os cosmos, o mundo, a sociedade ou simplesmente o Estado. Ela tem uma dimensão paradigmática; implica em e mostra oposições, a parte interna e externa, o centro e a periferia, o integrado à sociedade urbana e o não-integrado. Finalmente, ela possui também a dimensão sintagmática; ligação dos elementos, articulação das isotopias e das heterotopias. (p. 65)

Dimensões essas que faz com que a cidade tenha uma linguagem e se comunicando de diversas formas, e cada indivíduo com sua maneira de “linguagem

urbana”, expressando sua forma de se comunicar com a cidade, distinguindo das demais, apresentam suasrelaçõescom o ambiente urbano (CARRANO, 2002).

Essa relação que existente entre o corpo e a cidade, é chamada de corporicidade,

por Carrano (2002, p. 41) sendoum

[...] processo instituído pelo conjunto das práticas humanas que se evidenciam em relações políticas de influência recíproca, entre os corpos/sujeitos e os complexos sociais urbanos que chamamos de cidades. A análise dos processos culturais de relacionamentos entre corpos/sujeitos nas cidades ao longo da história indica como as práticas sociais são efetivamente educadoras.

Podemos inferir que toda relação entre os sujeitos e a cidade, é uma ação educativa, mesmo que não tenha essa finalidade expressada explicitamente, com a

(34)

34 interação entre os indivíduos e cidade, aprendem uns com os outros, sendo práticas sociais umaeducação que se dá pelo corpo.

Se tratando de educação no corpo (SOARES, 2012) e da corporicidade

(CARRANO, 2002), existe forte influência do meio urbano no processo educativo de como os indivíduos deveriam se comportar na cidade, ambos autores fazem a relação partindo das lutas de classes. Paes (2005) atribui a rua como um espaço no qual jovens fazem reivindicações, tornando um “palco de cultura participativa”, reinventando-a, “dando novos sentidos e usos”, produzindo significado diferente do original, sendo os “’novos’ arquitetos urbanos [...]vão ressignificando o espaço público, criando lugares, revitalizando a modernidade reflexiva, desenvolvendo outros olhares, recriando a cidade na vivência dos deslizamentos de suas aventuras”. (COSTA; COSTA, 2007, p. 27).

Nota-se que as propostas de práticas corporais traziam elementos que regiam estereótipos de como os corpos deveriam ter ou ser, excluindo os que não se encaixavam dentro dos padrões de civilidade propostos pelos ideais da Ginástica europeia, para uma nação educada e adequada a esse modelo. E o jovem era um dos principais alvos desses programas educacionais.

Se referindo especificamente do homem na fase jovem, é comumente associado à determinada faixa etária, com atitudes que refletem irresponsabilidade, pela ausência de trabalho, idade escolar e falta de responsabilidade penal, compreendida como processo de passagem da infância para a vida adulta. Para Le Breton (2009), fase da juventude é um período de viver desafios e ser desafiado, se colocando em situações de riscos, como uma forma de se afirmar, provando suas capacidades, desvinculando das limitações e da superproteção familiar.

Para Uvinha (2001), os jovens normalmente procuram participam de grupos com ideais e ideias convergentes, gerando uma sensação de pertencimento, como uma maneira de encontrar explicação sobre si, e o que trazem julgamentos e desconfianças do racionalismo moderno para tentar compreender as suas escolhas, pois para Carrano (2002,

p. 135)

O racionalismo da modernidade parece não ter conseguido construir respostas convincentes de submissão dos meios tecnológicos às finalidades humanas. Essa, talvez, seja uma explicação para a busca de jovens em direção a outras formas de ser, sentir e pensar diferente daquelas propugnadas pela ideologia do progresso incessante. (p. 135)

(35)

35 Essa forma distinta de viver é refletida também no ambiente urbano, foi o que aconteceu com os jovens franceses, dando um outro significado ao ambiente urbano (MARQUES, 2010). Falar do homem na sua fase de juventude, não énecessariamente a idade biológica, pois existem pessoas com características prolongadas em idades posteriores, estando atreladas relações com o ambiente virtual. (CARRANO, 2002; UVINHA, 2001).

Pais (2005) afirma que os jovens investem na sua imagem como uma forma de afirmação de sua identidade, refletindo assim, na linguagem, no visual, na maneira dese comunicam e no seu consumo, forma de “[...] fazer falar o corpo, de multiplicar a sua capacidade linguareira. Elas reclamam formas de participação e disputa cívica baseadas na relevância do corpo e do controlo sobre o mesmo” (p. 55).

Porém, é no mesmo homem que na sua fase da juventude, costuma se aventurar, se colocando em riscos, como Le Breton (2009) aponta que essas práticas tendem a ser mais próximas aos indivíduos mais jovens, já que elas

[...] têm ganhado adeptos por trazer uma sensação de afastamento dos modelos esportivos relacionado às competições, e a adolescência é um período de multiplicação dos riscos, os inerentes às opções de estudo, às primeiras relações amorosas etc., mas é, sobretudo, uma época de enfrentamento do mundo com uma vontade de experimentar seu corpo, sentir limites, tocar o mais perto possível sua existência, enfim, de experimentar sua independência em relação aos pais. (p. 38).

Observar-se que o autor traz algumas questões bastantes pertinentes, sobre os praticantes de PCA serem jovens, por proporcionar sensação de independência, de enfrentamento, e pela vontade de experimentar o mundo através do seu corpo, como constatado por Uvinha (2001) ao relatar uma representatividade do público jovem associado aos esportes radicais, o que gera uma associação entre ambos.

Le Breton (2009) ao abordar sobreo risco, afirma que é algoinerente à condição humana, tanto a educação familiar e a sociedade formalizam formas de deve viver em comunidade, que a sociedade global sempre está preocupada em conter o risco, ao ponto de criar programas de prevenção de cuidados, de operações de controle, de medidas e precauções, sejam elas de maneira individuais ou coletivas, voltadas às diversas formas de exposições voluntárias dos indivíduos às atividades físicas e esportivas, e a relação com o risco ganha outros sentidos e significados.

(36)

36 Esses programas são produzidos pelas precauções às situações de vulnerabilidade do homem no que se refere aos acontecimentos em seu entorno, e essas medidas contribuem para que seja feita a prevenção moral e física, assegurando assim, “[...]uma existência estável e feliz protegida de ameaças” (Idem, p. 9) prevenindo qualquer perigo que possa interromper esse processo.

Quando se refere ao risco, Le Breton (2009) afirma que a perspectiva é diferente de cultura para cultura, pois ser construído socialmente, ou seja, apresenta distinção de lugar para lugar, bem como em épocas diferentes. Dentro dessa perspectiva, o risco se torna algo negativo, sendo assim, deve ser feito estudos meticulosos para que o perigo, como uma forma de prevenção de situações dessa natureza.

Ainda segundo Le Breton (2009) alguns indivíduos se colocam em situações de riscos com o objetivo de preencher o seu estado de incompletude, se tornando um jogo simbólico com a morte, se colocando em seus limites. Por outro lado, indivíduos que vivenciam situações traumáticas, tendem à se tornar, provavelmente, mais vulneráveis ao às adversidades, pelo aumento da percepção de possibilidade do risco, gerado através do medo.

Nas práticas de aventura, este autor afirma a presença risco controlado, nos quais quando estão em situações que não estão com o controle, a exposição é evitada. Ou seja, a exposição dos praticantes das Práticas Corporais de Aventura envolvendo riscos, estão relacionadas ao controle das situações expostas, podendo ser chamado também de “riscos assumidos ou escolhidos”, bem diferente dos “riscos inerentes”, que estão relacionados às consequências dos acontecimentos do quotidiano no mundo.

Para Olic (2012) práticas que o risco controlado pode ser manifestado nas em dois casos, ora “[...]como uma atitude de radicalizar, ora como modo de preservar” (p. 100, grifo do autor), sendo este último mais comum do público jovem, pois tendem a se arriscar mais nas manobras, prazer nas quedas das tentativas ousadas, não se preocupando com lesões, já os mais velhos, tendem a se preservar frente aos riscos, uma vez que, já criaram “[...] estratégias para lidar com os risco da quebra do corpo” (p. 101).

Segundo Olic (2012), essas estratégias de radicalizar no corpo dos skatistas, tende a se manifestar com movimentos mais estáveis, visualizadas também no percurso de Parkour, ao transpor os obstáculos com movimentos, porém, sem o auxílio do skate, mas, com seu próprio corpo, utiliza de força, de agilidade, e concomitantemente,

Referências

Documentos relacionados

Por fim, na terceira parte, o artigo se propõe a apresentar uma perspectiva para o ensino de agroecologia, com aporte no marco teórico e epistemológico da abordagem

É importante esclarecer que, com a divulgação dos resultados do desempenho educacional do estado do Rio de Janeiro em 2010, referente ao ano de 2009, no IDEB, no qual

da equipe gestora com os PDT e os professores dos cursos técnicos. Planejamento da área Linguagens e Códigos. Planejamento da área Ciências Humanas. Planejamento da área

Ao ampliarmos um pouco mais a reflexão, poderemos retomar novamen- te a importância do professor no desenvolvimento de relações mais próximas com as famílias, fato que nos remete a

A implantação do Projeto Laboratório de Aprendizagem pela Secretaria de Educação de Juiz de Fora, como mecanismo e estratégia para diminuir ou eliminar as desigualdades

O fortalecimento da escola pública requer a criação de uma cultura de participação para todos os seus segmentos, e a melhoria das condições efetivas para

Esta dissertação pretende explicar o processo de implementação da Diretoria de Pessoal (DIPE) na Superintendência Regional de Ensino de Ubá (SRE/Ubá) que

volver competências indispensáveis ao exercício profissional da Medicina, nomeadamente, colheita da história clínica e exame físico detalhado, identificação dos