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A IMPLANTAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE RONDÔNIA | Anais da Semana Acadêmica de Direito da FCR - ISSN 2526-8767

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Anais da V Semana Acadêmica de Direito da

Faculdade Católica de Rondônia Porto Velho

11, 12 e 13 de

maio de 2016 P. 3 a 25 DEPLOYMENT OF CUSTODY HEARING IN RONDÔNIA COURT

Aline Felipe Nogueira1 Pedro Abib Hecktheuer2

RESUMO

O presente artigo analisará a eficácia dos Tratados Internacionais no regramento jurídico brasileiro, bem como a previsão normativa da Audiência de Custódia, concluindo que o Brasil, por aderir a diplomas internacionais que trazem essa previsão, tem o dever de cumpri-lo, sob pena de ser responsabilizado pelo descumprimento dos compromissos firmados. Após, serão abordados o conceito e as finalidades da Audiência de Custódia, instrumento de humanização do processo penal, pela qual o preso deve ser apresentado pessoalmente e no prazo de 24 horas ao juiz competente para que seja analisada a necessidade e legalidade da prisão. Dedica-se um ponto à instituição da Audiência de Custódia no Estado de Rondônia e outro para demonstrar a sua viabilidade econômica, demonstrando, em números, como o projeto pode trazer economia aos cofres públicos. Por fim, fazendo um comparativo com outros Estados do Brasil, o artigo comprovará os resultados positivos alcançados. Conclui-se que, por maior que sejam as dificuldades, é incontroversa a eficácia da audiência de custódia ao menos no sentido de preservar a integridade e a dignidade do preso, razão pela qual merece incentivo.

Palavras-chaves: Tratados Internacionais. Audiência de Custódia. Direitos

Humanos. Prisões. Tortura. Dignidade da Pessoa Humana.

ABSTRACT

This article will examine the effectiveness of international treaties in the Brazilian legal regramento as well as the normative forecast of Custody Hearing, concluding that Brazil, for adhering to international instruments that bring this prediction is obliged to stick to it, otherwise be held responsible for the breach of signed commitments. After, will address the concept and purpose of Custody Hearing, humanizing instrument of criminal procedure, in which the prisoner should be submitted in person and within 24 hours the competent judge for the necessity and legality of detention is analyzed. Is dedicated to a point to the institution of Custody Hearing in the State of Rondônia and another to demonstrate their economic viability, demonstrating in numbers, as the project could bring savings to the public coffers.

1 Acadêmica de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: alinefelipe5@outlook.com 2

Docente da disciplina de Direito Constitucional do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. Orientador do trabalho. E-mail: pedro_abib@hotmail.com

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Finally, making a comparison with other states of Brazil, the article will confirm the positive results. In conclusion, however great may be the difficulties, it is undisputed effectiveness of the custody hearing at least to preserve the integrity and dignity of the prisoner, which is why deserves encouragement.

Key-word: International Treaties. Custody hearing. Human rights. Prisons. Torture.

Dignity of human person.

INTRODUÇÃO

Segundo dados disponibilizados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil possui 711.463 presos, ocupando, assim, o terceiro lugar no ranking dos 10 países com maior população prisional, perdendo apenas para os Estados Unidos da América e China (CNJ, 2014). Causa disto, é que a prisão ainda é utilizada como regra no sistema processual brasileiro.

Para amenizar tal situação, em 2011, aprovou-se a Lei 12.403, que altera dispositivos do Código de Processo Penal (CPP), relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória e demais medidas cautelares, colocando a prisão como

ultima ratio das medidas cautelares. Entre outros artigos alterados por referida lei, o

319 prevê vários tipos de medidas cautelares que podem substituir a prisão, podendo, ainda, serem combinadas entre elas

Contudo, não se notou nenhuma mudança efetiva após a edição da Lei 12.403/2011, permanecendo, a prisão, como protagonista no processo penal, não respeitando os direitos dados aos possíveis infratores. Diante de tamanho desrespeito com os direitos fundamentais, podemos identificar que o processo penal é o ramo do Direito que mais se beneficia (ou sofre) com o disposto nos Tratados Internacionais de Direitos Humanos, assim por óbvio, o devido processo, deve ser não apenas legal e constitucional, mas também convencional.

Nereu Giacomolli afirma que:

Uma leitura convencional e constitucional do processo penal, a partir da constitucionalização dos direitos humanos, é um dos pilares a sustentar o processo penal humanitário. A partir daí, faz-se mister uma nova metodologia hermenêutica (também analítica e linguística), valorativa, comprometida de forma ético-política, dos sujeitos do processo e voltada ao plano internacional de proteção dos direitos humanos. Por isso, há que se falar em processo penal constitucional,

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convencional e humanitário, ou seja, o do devido processo.(GIACOMOLLI, 2014)

A fim de se obter uma progressão no ordenamento jurídico, principalmente na área penal, devemos superar a rigidez normativa e permitir o surgimento de uma nova política-criminal, que reduza os danos provocados pelo poder punitivo estatal a partir de diálogo com os direitos humanos. É necessário que exista uma mudança cultural, não só para que a Constituição efetivamente constitua a ação, mas também para que se organize o controle judicial de convencionalidade.

Hoje, incumbe aos juízes, ao aplicar o CPP, mais do que buscar a conformidade constitucional, observar também a convencionalidade da lei a ser aplicada, ou seja, verificar se ela está em conformidade com as Convenções e Tratados Internacionais de Direitos Humanos, sendo que, a Constituição Federal (CF), não é mais o único referencial de controle das leis ordinárias.

A Audiência de Custódia, resumidamente, consiste em apresentar o preso em flagrante ao Juiz para que sejam analisadas as razões da prisão, se ele apresenta sinais de tortura e se a prisão deve ser mantida. Junto ao Juiz, estará um Promotor de Justiça que opinará pela manutenção ou não da prisão, sugerindo medidas cautelares e um Defensor Público ou advogado particular, caso o preso possua, que fará a defesa prévia do flagranteado.

A problemática a ser abordada é se, a audiência de custódia, apresenta-se como uma condição juridicamente viável para o Estado de Rondônia sem a qual não seria possível a efetivação dos direitos fundamentais, pois, apesar de estar prevista em Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário, será observado se trará, também, economia aos Estados brasileiros, analisando se é viável ou não sua implantação.

Como hipóteses, intuía-se que a lei brasileira apenas prevê o encaminhamento do auto de prisão em flagrante para que o juiz competente analise a legalidade e a necessidade da manutenção da prisão cautelar. Por essa razão, não há contato entre o juiz e a pessoa presa ocorrendo apenas no dia da sua audiência de instrução e julgamento.

Entende-se, ainda, que atualmente, Rondônia possui uma das menores quantidades de presos provisórios do Brasil – 20% (Conselho Nacional de Justiça, 2014), pelo fato de realizar, anualmente, o Projeto Mutirão Carcerário, obtendo

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resultados satisfatórios. Contudo, a implantação da Audiência de Custódia, fará com que os presos não esperem o Mutirão acontecer, devendo ser apresentados ao juiz até 24h após sua prisão, garantindo, assim, imediata discussão acerca da legalidade e necessidade da prisão.

Com a introdução da Audiência de Custódia no ordenamento jurídico brasileiro, o controle de convencionalidade será mais efetivo, fazendo com que o sistema jurídico se adeque e cumpra as garantias definidas nas Convenções e Tratados Internacionais.

Através de levantamento de dados de outros Estados brasileiros em que a audiência de custódia já está implantada, será observado se os resultados são benéficos e, em entrevistas com os elos envolvidos na audiência de custódia, será abordada a posição de cada um, além de pesquisas bibliográficas de legislação sobre o tema.

1. A IMPORTÂNCIA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO CUMPRIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

Na promulgação da Constituição Federal de 1988, o Brasil se encontrava em sintonia a uma óptica internacional marcadamente humanizante e protetiva, de modo a incluir e dar destaque aos Direitos Humanos no corpo textual da Carta Política. Nesse contexto, a Constituição Federal consolidou a dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e a prevalência dos direitos humanos (artigo 4º, inciso II) em Princípios fundamentais da República Federativa do Brasil. Este último Princípio é pelo qual o Brasil se engaja na regência em suas relações internacionais (BRASIL, 1988).

Desse modo, ao dizer “prevalência dos direitos humanos”, a Constituição está a ordenar à jurisdição brasileira que se respeite as decisões ou recomendações (quando favoráveis à pessoa humana) provindas da ordem internacional, em especial das instâncias judiciais de proteção, como a Corte Internacional de Justiça junto a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Corte Interamericana de Justiça junto a Organização dos Estados da América (OEA).

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Esta postura brasileira aduz que, quando Tratados de Direitos Humanos contenham disposições mais benéficas e favoráveis à pessoa humana, as mesmas deverão ser aplicadas de modo a suspender a aplicação das disposições em contrário.

Assim, instituíram-se ao Direito Pátrio, novos Princípios Jurídicos que instauram um novo ponto de valor a todo o sistema normativo brasileiro, cujo campo magnético deve ser observado na exegese Constitucional e infraconstitucional. Nesse sentido, aliado aos primeiros artigos da Constituição Federal (artigos 1º ao 4º), o artigo 5º, §2º, assim refere “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte” (BRASIL, 1988).

Nesse contexto, em matéria de Princípios e garantias individuais da pessoa humana, a referida disposição reconhece uma dupla fonte normativa, a saber: aquela advinda expressa e implicitamente do próprio artigo 5º, e demais princípios esparsos as longo do corpo textual da Carta Política e, outra, advinda do Direito Internacional, a saber, dos Tratados e Convenções de Direitos Humanos ratificados pelo Estado brasileiro.

Portanto, a Constituição Federal, em matéria de direitos humanos, declara que os Tratados Internacionais ratificados pelo Brasil tem status automático de fonte e Norma Constitucional, e os faz residir no mesmo plano de eficácia e igualdade daqueles direitos, expressa ou implicitamente, consagrados pelo texto Constitucional, possuindo aplicação imediata em consonância com a disposição do §1º do artigo 5º da Constituição Federal. Valério Mazzuoli assevera:

E esta dualidade de fontes que alimenta a completude do sistema significa que, em caso de conflito, deve o intérprete optar preferencialmente pela fonte que proporciona a norma mais favorável à pessoa protegida (princípio internacional pro homine), pois o que se visa é a otimização e a maximização. (MAZZUOLI, 2013)

Conclui-se que os Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos, após sua ratificação pelo Brasil, têm, automaticamente, status de Norma Constitucional, devendo ser colocada em prática sob pena de ferir o regramento jurídico.

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2. A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA COMO MEIO JURIDICAMENTE VIÁVEL PARA A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Segundo Caio Paiva na Série “Audiência de Custódia: conceito, previsão normativa e finalidade”, o conceito de custódia relaciona-se com o ato de guardar, de proteger, consiste, portanto, na condução do preso, sem demora, à presença de uma autoridade judicial, que deverá, a partir de prévio contraditório estabelecido entre o Ministério Público e a Defesa (Advogado Particular ou Defensor Público), exercer um controle imediato da legalidade e da necessidade da prisão, assim como apreciar questões relativas à pessoa do cidadão conduzido, notadamente a presença de maus tratos ou tortura. Assim, a audiência de custódia pode ser considerada como uma relevante hipótese de acesso à jurisdição penal, tratando-se, então, de uma “das garantias da liberdade pessoal que se traduz em obrigações positivas a cargo do Estado” (CASAL, 2014, p. 195).

A previsão normativa da referida garantia é encontrada em diversos Tratados Internacionais de Direitos Humanos. Vejamos o que prevê a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), ratificada por meio de decreto no ordenamento pátrio:

Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. (SAN JOSÉ DA COSTA RICA, 1969)

No mesmo sentido, assegura no art. 9.3 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que:

Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a execução da sentença. (NOVA IORQUE, 1966)

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O Brasil aderiu à Convenção Americana em 1992, tendo-a promulgada, pelo Dec. 678, em 6 de novembro daquele ano. Igualmente, nosso país, após ter aderido aos termos do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) naquele mesmo ano, o promulgou pelo Dec. 592.

2.1 FINALIDADES DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA: COMBATE ÀS PRISÕES ILEGAIS E DESNECESSÁRIAS

A principal finalidade da implementação da audiência de custódia é fazer o processo penal brasileiro respeitar os direitos e garantias assumidos nos Tratados a que o Brasil aderiu, como ficou demonstrado nas seções anteriormente abordadas.

A segunda finalidade da audiência de custódia está relacionada com a prevenção da tortura policial, assegurando a efetivação do direito à integridade pessoal dos presos. Assim prevê o art. 5.2 da CADH “Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano” (NOVA IORQUE, 1966).

Em entrevista realizada nesta pesquisa, Dr. Dalmo Antônio, Juiz Auxiliar da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Rondônia, com relação às finalidades e a importância da audiência de custódia, assevera:

Com certeza, esse (a prevenção de torturas) é um dos objetivos da audiência de custódia. Na realidade ela se presta a três coisas: a primeira questão é o juiz analisar a legalidade da prisão; a segunda questão é analisar a necessidade ou não da continuidade da prisão e, o aspecto talvez mais importante, seria a questão da análise dos maus tratos ou tortura. É diferente do que vinha acontecendo antes, na sistemática do 306 do CPP, onde o juiz só analisava o papel, não tinha contato direto com o preso. Depois do contato direto com o preso, pode-se aprofundar nessa questão de como foi a abordagem policial. E eu acredito que, talvez, sirva como um ponto de referencial de uma melhor conduta policial nas prisões. Então se no primeiro momento vai haver mais denúncias de torturas ou maus tratos, com o tempo isso deve diminuir sensivelmente.

Segundo Carlos Weis, a audiência de custódia “aumenta o poder e a responsabilidade dos juízes, promotores e defensores de exigir que os demais elos

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do sistema de justiça criminal passem a trabalhar em padrões de legalidade e eficiência” (WEIS, 2013).

Esta finalidade da audiência de custódia, também foi ressaltada, recentemente, pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), cujo relatório final veiculou, entre as recomendações, a:

Criação da audiência de custódia no ordenamento jurídico brasileiro para garantia da apresentação pessoal do preso à autoridade judiciária em até 24 horas após o ato da prisão em flagrante, em consonância com o artigo 7º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), à qual o Brasil se vinculou em 1992. (CNV, pg. 972. 2014)

Weis e Junqueira ainda afirmam que, se a oitiva do preso pelo juiz, sem demora, pode significar a redução dos casos de tortura, ao legislador cabe inequivocamente implementar tal regra, sem o que, por sua omissão, estará violando a norma da Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. (WEIS e JUNQUEIRA. p. 331-355).

A previsão da ordem dos atos nesta audiência (Ministério Público requer a medida cautelar que entenda ser adequada e necessária, a Defesa contra-argumenta e o Juiz decide) é a expressão do Princípio Constitucional do Contraditório, com a garantia inerente de que a defesa deve sempre manifestar-se depois da acusação, veja-se:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (BRASIL, 1988)

Para entender o Princípio do contraditório e, portanto, compreender as motivações pela ordem dos atos da audiência de custódia, importante se faz, analisar seu conceito e, para isso, analisaremos o que Tourinho Filho tem a nos dizer:

Tal princípio consubstancia-se na velha parêmia audiatur et altera pars – a parte contrária deve ser ouvida. Traduz a idéia que a defesa

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tem o direito de se pronunciar sobre tudo quanto for produzido em juízo pela parte contrária. Já disse: a todo ato produzido por uma das partes caberá igual direito da outra parte de opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão que lhe convenha, ou, ainda, de dar uma interpretação jurídica diversa daquela apresentada pela parte ex adversa.” (TOURINHO FILHO, 2007)

Weis e Junqueira defendem como uma “finalidade direta” da audiência de custódia a: proteção da integridade física e psíquica da pessoa, tendo em conta que “Um dos momentos cruciais, senão o de maior importância, para a prevenção da tortura corresponde às primeiras horas em que a pessoa é privada de sua liberdade de locomoção, ficando à mercê dos agentes estatais responsáveis pela segurança pública” (WEIS e JUNQUEIRA. 2012, p. 331-355).

A respeito do prazo, o Defensor Público-Geral do Estado de Rondônia, opina que o prazo de 24 horas é o essencial, vejamos:

24 horas é o prazo para se comunicar o flagrante, por exemplo, à Defensoria Pública. Existe uma previsão legal de comunicação da prisão em flagrante de 24 ao Defensor Público para se tome uma providência. O prazo de 24 horas é o essencial, é o ideal; dá para se lavrar o auto de prisão em flagrante, dá para se organizar a audiência de custódia e realizá-la. É o prazo essencial para que se evite, ao máximo, uma arbitrariedade ou a manutenção da prisão ilegal. (MARCUS EDSON, 2015)

A terceira finalidade da audiência de custódia é a de evitar prisões arbitrárias, ilegais ou desnecessárias, agindo, o processo penal brasileiro, na contenção do poder punitivo. Da mesma forma, adverte Casara:

Não se pode esquecer que, ao menos no Estado Democrático de Direito, a função das ciências penais, e do processo penal em particular, é a de contenção do poder. O processo penal só se justifica como óbice e à opressão. O desafio é fazer com que sempre, e sempre, as ciências penais atuem como instrumento de democratização do sistema de justiça criminal. (CASARA, p. 9-10, 2014).

Esta terceira finalidade da audiência de custódia, mostra-se, também, útil para a identificação dos casos mais graves, os quais podem ser substituídos por prisão domiciliar, como prescreve o artigo 318 do Código de Processo Penal:

Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:

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12 I - maior de 80 (oitenta) anos;

II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;

III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência;

IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.

Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo. (BRASIL, 1941)

E, apesar do art. 318 do CPP exigir “prova idônea dos requisitos”, existirão casos em que o estado da pessoa poderá ser constatado visualmente, podendo ser substituída, a prisão preventiva por domiciliar.

Conforme destaca o Informativo Rede de Justiça Criminal (2013), o depoimento prestado nessa audiência deve ser autuado em apartado para que não seja manuseado no curso da instrução criminal e com isso não contamine a prova a ser produzida e discutida no futuro, garantindo, portanto, que seu conteúdo não seja utilizado em prejuízo do acusado em futura ação penal.

A autuação em apartado do depoimento e a proibição de que se inquira o preso sobre pontos atinentes ao mérito da imputação evitam que os avanços da Lei nº 11.719/2008 (BRASIL, 2008) - que alterou a ordem dos atos no processo penal, garantindo que o interrogatório do acusado seja o último ato da instrução criminal, em conformidade com o princípio do contraditório (art. 5º, LV, CF) (BRASIL, 1988.

Por fim, aliando essas três finalidades, a audiência de custódia visa, também, combater a superlotação carcerária, pois, atualmente, o Brasil ocupa o 3º lugar no ranking dos países com maior população carcerária, segundo o Conselho Nacional de justiça (CNJ, 2014). Vide tabela abaixo:

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Fonte: Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 2014).

3. ANÁLISE DA INSTITUIÇÃO DAS AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA NO ESTADO DE RONDÔNIA

Por meio da assinatura do Termo de Adesão nº 19 ao Termo de Cooperação Técnica nº 007/2015, firmado entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Ministério da Justiça e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) – firmado em 09 de abril de 2015, Rondônia foi o décimo nono estado brasileiro a aderir às Audiências de Custódia, a qual foi inaugurada pelo Ministro Ricardo Lewandowski, no dia 14 de setembro de 2015, no auditório do Tribunal de Justiça. Em entrevista, o Ministro destacou:

Essa é uma medida de natureza civilizatória, humanitária e que cumpre o compromisso internacional do Brasil, quando assinou o pacto de San José da Costa Rica, e ajuda a resolver o problema da superlotação nos presídios, porque se formos prendendo sem cessar aqueles que não precisam estar presos, evidentemente não haverá vagas para prender os realmente perigosos. (Lewandowski, 2015)

No Estado, a audiência de custódia é regulamentada pelo Provimento Conjunto nº 011/2015/PR-CG, o qual regulamenta, no âmbito da justiça comum de primeira instância do Estado de Rondônia, o Projeto Audiência de Custódia, sendo que, nas comarcas do interior do Estado de Rondônia, a implantação será gradativa, conforme aduz o artigo 1º, inciso I:

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Art. 1º Este Provimento Conjunto regulamenta, no âmbito da justiça comum de primeira instância do Estado de Rondônia, o Projeto Audiência de Custódia, do Conselho Nacional de Justiça - CNJ, que determina a apresentação da pessoa detida em flagrante delito ao juiz competente, até 24 horas após a sua prisão, para participar de audiência de custódia.

Parágrafo único. A implantação do Projeto Audiência de Custódia, a que se refere o “caput” deste artigo:

I - nas comarcas do interior do Estado de Rondônia, será gradativa, conforme cronograma a ser expedido oportunamente;

A primeira Audiência de Custódia ocorreu, também, no dia 14/09, na qual foi julgado o servente de pedreiro Paulino Andrade, preso pelo porte de duas munições de calibre 32. Por não ter antecedentes, ter cometido um delito cuja pena é menor que quatro anos e possuir residência fixa há mais de 15 anos, o Juiz de Direito Glodner Luiz Pauletto, decidiu pela liberdade do réu, aplicando-lhe como medidas cautelares a obrigação de comparecer em juízo a cada 30 dias e a proibição de mudar de endereço sem dar informações à Justiça. Apesar de o crime cometido pelo acusado ser afiançável, ele alegou não possuir os R$ 1.182,00 necessários para o pagamento da fiança. Todo esse procedimento, ou seja, a conversa entre o preso, juiz, promotor e defensor público durou apenas 7 minutos (gravação em anexo). Quanto aos resultados imediatos da audiência de custódia, o Ministro presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal defendeu ainda que:

A prisão será reservada apenas àqueles que apresentam um perigo para a sociedade. É claro que quem é colocado em liberdade fica sob a supervisão da Justiça. Mas se eles fossem para os presídios, apresentariam um risco maior, porque poderiam ser cooptados para o crime organizado, ter suas famílias ameaçadas e, evidentemente, engrossariam o exército da criminalidade.

Na capital, a audiência de custódia está sendo realizada em dias úteis, das 07h – 12h e das 13h – 16h, conforme rotina de trabalho estabelecida pelo juízo competente. Já a realização de audiência de custódia durante os fins de semana, feriados ou em qualquer outro dia em que não houver expediente forense, será feita pelo juiz plantonista e pela equipe cartorária da vara que responde. No projeto de Rondônia, o artigo 2º determina:

Art. 2º A autoridade policial providenciará a apresentação da pessoa detida até 24 horas após a sua prisão ao juiz competente, para participar da audiência de custódia.

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§ 1º O auto de prisão em flagrante será encaminhado na forma do art. 306, § 1º, do Código de Processo Penal - CPP.

Uma vez apresentado o preso ao juiz, ele será informado do direito de silêncio e assegurada a entrevista prévia com defensor (particular ou público). Nesta „entrevista‟ (não é um interrogatório, portanto), o artigo 6º, §1º determina expressamente que “não serão feitas ou admitidas perguntas que antecipem instrução própria de eventual processo de conhecimento”.

3.1 DA VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA NO ESTADO DE RONDÔNIA

A apresentação da pessoa presa em JUIZO no prazo de 24 horas é a maneira mais célere de garantir que a prisão ilegal seja imediatamente relaxada e que ninguém será levado à prisão ou nela mantido se a lei admitir a liberdade, garantias constitucionais previstas no artigo 5°, da Constituição Federal, resultando, não apenas em diminuição de prisões ilegais, mas também, gastos com presos provisórios.

Conforme noticiou o Site do CNJ um preso custa, em média, R$ 3.000,00 (três mil reais) por mês ao Estado, e, considerando que, com a implantação das audiências de custódia em todo o país até 2016, cerca de 120 pessoas deixarão de ingressar no sistema prisional, isso resultará em economia de (mais ou menos) R$ 43.000.000,00 (quarenta e três bilhões de reais) que poderão ser aplicados para efetivar outros direito, conforme explica o Ministro Ricardo Lewandowski:

Se o projeto se desenvolver – e certamente se desenvolverá –, ao cabo de um ano, levando em conta que temos uma média de 50% de liberdades condicionais, nós vamos deixar de prender 120 mil pessoas que não oferecem perigo à sociedade e economizaremos quase R$ 43 bilhões para os cofres públicos, que poderão ser investidos em saúde, educação, transportes e outros benefícios para a coletividade. Pelos nossos cálculos, também deixaremos de construir 240 presídios em um ano. Ao custo de R$ 40 milhões por presídio, significa que economizaremos R$ 9,6 bilhões. (CNJ, 2015)

Neste sentido, Dr. Dalmo Antônio, Juiz Auxiliar da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Rondônia, afirma que:

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Agora imagine que, em média no país, 50% de cada pessoa apresentada na audiência de custódia responderá ao Inquérito Policial em liberdade. Esses 50%, deixam de ingressar no sistema prisional – são pessoas que não vão precisar receber alimentação, kit higiene, colchão, vestuário, isso tudo implica numa economia para o Estado e numa melhor utilização, por exemplo, dos agentes penitenciários, custo de viaturas. Economiza muito. São Paulo, no primeiro mês, economizou em torno de 1 milhão de reais com as audiências de custódia.

Num contexto mais amplo, os gastos com os presos provisórios vão além da manutenção diária, adentrando no mérito de indenizações futuras por prisões ilegais e arbitrárias, chegando, o Brasil, a gastar cerca de 3,2 (três milhões e duzentos mil reais) com indenizações no ano de 2011, por conta de prisões ilegais, conforme noticiou o site O Estadão (2011). Nesse contexto, Dr. Marcus Edson:

Também acho que é economicamente viável (a Audiência de Custódia). Temos que designar um defensor público, mas em compensação, um preso, uma pessoa mantida em cárcere no estabelecimento prisional provisoriamente, pro Estado o custo é muito maior. Além das indenizações posteriores por prisões ilegais, mantidas por longo espaço de tempo, dentre outras implicações. Sem contar o dano psicológico, o dano de saúde, que uma pessoa mantida sob a custódia do Estado provisoriamente pode sofrer. Incomparavelmente mais econômico.

Desse modo, entende-se que a implantação da Audiência de Custódia, além de colocar em prática o que dispõe os Tratados Internacionais, é uma forma de reduzir os gastos com presos provisórios, resultando em economia aos cofres públicos, sendo que, apresenta-se como uma condição economicamente viável para reduzir a população carcerária provisória em Rondônia.

3.2 COMPARATIVO COM OUTROS ESTADOS

O projeto Audiência de Custódia no Estado de São Paulo, iniciado em 24 de fevereiro, até o dia 23 de março de 2015, atendeu 256 casos. Em 60% do total, a prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva. Em 167 decisões houve a concessão de liberdade provisória e, em outros cinco casos, o relaxamento de prisão. Dentre os atendidos, 47 pessoas receberam encaminhamento assistencial.

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No primeiro mês, foram encaminhados os autos de prisão em flagrante delito lavrados pelas 1ª e 2ª seccionais – regiões Centro e Sul. Gradativamente, o projeto abrangerá todos os distritos policiais de São Paulo.

Vale ressaltar que, desde a implantação da audiência de custódia no Estado de São Paulo, 40% dos presos em flagrantes tiveram sua prisão relaxada ou obtiveram a liberdade condicional, conforme noticiado à época:

Um mês depois de implantadas em São Paulo, as audiências de custódia atenderam ao menos 428 presos em flagrante no período e soltaram 40% desse total. O projeto começou no dia 24 de fevereiro no Fórum Ministro Mário Guimarães, obrigando que juízes tenham contato pessoal com detidos em até 24 horas, na presença de um defensor e de um membro do Ministério Público (Revista Consultor Jurídico, em 24 de Março de 2015, 17h02).

Tabela 1 – Audiências de custódia do Estado de São Paulo de 24/02 a 23/03 de 2015 Mês Pessoas atendidas Conversão em preventiva Relaxamento De prisão Liberdade provisória plena Fevereiro /março 428 256 5 167

Fonte: Site do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Já na capital Goiânia, Estado de Goiás (GO), conforme noticiou a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Goiás, de 11 de agosto até 30 de setembro, passaram pela unidade judiciária 626 presos. Do total, cerca de 58% teve a imediata soltura, com imposição de medidas restritivas de direito, como comparecimento esporádico em juízo ou uso de tornozeleira eletrônica. Ou seja, significativa diminuição do número de presos provisórios que, muitas vezes, precisavam aguardar em cárcere até 40 dias para a soltura, a fim de esperar o julgamento em liberdade (Tabela 2).

Segundo o Presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, as audiências de custódia possibilitam como vantagens celeridade e eficiência, assim, relata que “não há mácula do dispositivo legal. O temor da sociedade, de que são soltos presos perigosos, é equivocado. O resultado é exatamente o contrário: dessa forma, é possível ter um maior controle e, assim, realizar um combate à criminalidade” (Assessoria de Imprensa do TJ/GO, 2015).

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Tabela 2 – Audiência de Custódia do Estado de Goiás de 11/08 a 30/09 de 2015 Pessoas atendidas Conversão em preventiva Relaxamento De prisão Liberdade provisória plena Tornozeleira eletrônica Agosto / setembro 626 266 14 173 173

Fonte: Assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça de Goiás

Em Porto Velho, após 1 mês de implantação do projeto, os resultados foram significativos, sendo que, somente permaneceram em custódia, os presos que realmente apresentavam algum risco à sociedade, resultando em uma forma eficiente de combater a superlotação carcerária como podem ser observados na pesquisa realizada junto ao Tribunal de Justiça de Rondônia nesse ínterim (Tabela 3 e 4).

Tabela 3 – Audiências de custódia no Estado de Rondônia no primeiro mês de funcionamento

Item Qtd.

Pessoas atendidas 95

Conversão em preventiva 52

Relaxamento de prisão 1 (furto) Liberdade provisória plena 0 Liberdade provisória c/ medida cautelar 38

Apenas fiança 16

Monitoração e medida cautelar sem fiança 4 Fiança e medida cautelar sem monitoração 1 Outras combinações de cautelares 17 Fonte: Corregedoria Geral do TJ/RO

Em relação às medidas cautelares, tem-se que a fiança e o comparecimento periódico e foram os mais determinados pelo juízo, enquanto que, por sua vez, a monitoração eletrônica e a proibição de manter contato com determinadas pessoas figuram como medidas menos utilizadas.

Tabela 4 – Medidas cautelares determinadas nas audiências de custódia no Estado de Rondônia no primeiro mês de funcionamento

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Comparecimento periódico em juízo 15

Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares 7 Proibição de manter contato com determinadas pessoas 4

Proibição de ausentar-se da comarca 11

Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga 12

Fiança 19

Monitoração eletrônica 5

Fonte: Corregedoria Geral do TJ/RO

Com a Audiência de Custódia, o juiz, observando requisitos como tipo de delito, grau de periculosidade, se há trabalho e endereço fixo, a prisão passa a ser uma medida utilizada apenas para os casos necessários, sendo que a apresentação imediata da pessoa presa ao juiz é o meio de garantir que um cidadão passe o menor tempo possível preso desnecessariamente, ainda que não possua advogado constituído, circunstância que caracteriza a maior parcela da população prisional.

Por fim, resta demonstrado, através destas coletas de dados, que a execução da Audiência de Custódia trouxe resultados satisfatórios, apresentando-se como uma condição economicamente viável para reduzir a população carcerária provisória de Rondônia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na análise do presente artigo, abordou-se a eficácia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro, concluindo que, após a ratificação pelo Brasil, as normas descritas em tais tratados passam a ter, automaticamente, status de norma Constitucional, devendo ser colocadas em prática. Desse modo, comprovou-se no capítulo 2, que a implantação da audiência de custódia é um meio juridicamente viável para a efetivação dos Direitos Humanos da pessoa presa em flagrante delito, pois, em meio às suas finalidades, tem-se que ela prevenirá a tortura policial, as prisões desnecessárias e ilegais.

Comprovou-se que, apenas o encaminhamento do auto de prisão em flagrante ao juiz competente, para que ele analise a legalidade e a necessidade da manutenção da prisão cautelar, não satisfaz as regras insertas no Pacto São José

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da Costa Rica e Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, os quais o Brasil é signatário há 23 anos.

Da análise da instituição das audiências em Rondônia, comprovou-se que a audiência de custódia é um meio economicamente viável, pois os gastos com a implantação nem se comparam com a economia que o Estado terá em reduzir a população carcerária provisória. Através de comparativo com outros Estados onde a audiência já está em funcionamento, nota-se que somente as pessoas que apresentam risco à população têm sua prisão em flagrante convertida em preventiva e, aos outros, estão sendo aplicadas medidas cautelares.

Por fim, conclui-se que a audiência de custódia, apresenta-se como uma condição econômica e juridicamente viável para o Estado de Rondônia sem a qual não seria possível a efetivação dos direitos fundamentais, pois, além de estar prevista em Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário, trará, também, economia aos Estados brasileiros, sendo viável sua implantação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição Da Republica Federativa Do Brasil De 5 De Outubro De 1988.

BRASIL. Código de Processo Penal de 3 de outubro de 1941. BRASIL. Decreto nº 678, de 6 de novembro 1992.

BRASIL. Decreto no 592, de 6 de Julho de 1992.

BRASIL. Decreto no 040, de 15 de fevereiro de 1991.

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COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Conclusões e Recomendações – Parte V,

item 25, p. 972. 2014. Disponível em:

http://www.cnv.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_1_pagina_959_a_976.pdf (Acessado no dia 05/10/2015)

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ. Novo diagnóstico de pessoas

presas no Brasil. Brasília. 2014. Disponível em:

http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/pessoas_presas_no_brasil_final.pdf (Acessado em 25/09/2015, as 12h00min)

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ. Notícias. Brasília. 2015. Disponível

em:

http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/80816-audiencia-de-custodia-alia-mudanca-cultural-e-economia-diz-presidente-do-cnj (Acessado em 22/10/2015)

GARCIA, Basileu. Comentários ao Código de Processo Penal – vol. III. Rio de Janeiro: Forense, 1945, p. 36.

GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal – Abordagem conforme a

Constituição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. São Paulo: Atlas,

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21

INFORMATIVO REDE JUSTIÇA CRIMINAL. Audiência de Custódia: o que é e

porque é necessária, Ed. 05, ano 03, 2013. Disponível em:

https://redejusticacriminal.files.wordpress.com/2013/07/rjc-boletim05-aud-custodia-2013.pdf (Acessado em 05/08/2015, às 19h50min)

JORNAL ONLINE O ESTADÃO. Em 25 de novembro de 2011. Disponível em:

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,peluso-critica-prisoes-ilegais-no-pais,802996 (Acessado em 27/10/2015, às 16h41min).

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. – 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.

NOVA IORQUE. PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS. 1966.

PAIVA, Caio. Série Audiência de Custódia: conceito, previsão normativa e

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http://justificando.com/2015/03/03/na-serie-audiencia-de-custodia-conceito-previsao-normativa-e-finalidades/ (Acessado em

03/10/2015, às 08h22min)

RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 2ª edição, São Paulo, Ed. Saraiva, 2015.

REVISTA CONSULTOR JURÍDICO, em 24 de Março de 2015. Disponível em:

http://www.conjur.com.br/2015-mar-24/audiencias-custodia-libertam-40-presos-flagrante-mes (Acessado em 11/06/2015, às 20h30min)

SAN JOSÉ DA COSTA RICA. PACTO SAN JOSÉ DA COSTA RICA. 1969.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS – TJ/GO. Balanço das

audiências de custódia. 2015. Disponível em:

http://www.tjgo.jus.br/index.php/home/imprensa/noticias/162-destaque2/11080-balanco-das-audiencias-de-custodia-e-positivo-segundo-o-presidente-do-tjgo (Acessado em 26/10/2015, às 13h35min)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO – TJ/SP. Notícias. 2015.

Disponível em:

http://www.tjsp.jus.br/Institucional/CanaisComunicacao/Noticias/Noticia.aspx?Id=260 26 (Acessado em 25/10/2015, às 08h22min)

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

WEIS, Carlos. Trazendo a realidade para o mundo do direito. Informativo Rede Justiça Criminal, Edição 05, ano 03/2013. Disponível em:

https://redejusticacriminal.files.wordpress.com/2013/07/rjc-boletim05-aud-custodia-2013.pdf (Acessado no dia 05/10/2015)

WEIS, Carlos; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. A obrigatoriedade da

apresentação imediata da pessoa presa ao juiz. In: Revista dos Tribunais, vol.

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ANEXO I - ENTREVISTAS

1º ENTREVISTADO - Dr. Marcus Edson de Lima – Defensor Público-Geral de Rondônia

1 - A apresentação do preso ao juiz, imediatamente após o flagrante, pode reduzir a tortura?

Sem dúvida alguma, a audiência de custódia é um dos maiores avanços em matéria criminal no Brasil. Ela tanto evita males como a tortura, como a arbitrariedade do poder público, através de policiais e outros agentes de segurança pública, como também diminui as injustiças por prisões ilegais, que se perduram no tempo, devido a demora em análises de prisões processuais (prisão preventiva, prisão temporária) e suas revogações evitam que esse prazo de justiça se prolongue por mais de 24 horas.

2 - É economicamente viável?

Também acho que é economicamente viável. Temos que designar um defensor público, mas em compensação, um preso, uma pessoa mantida em cárcere no estabelecimento prisional provisoriamente, pro Estado o custo é muito maior. Além das indenizações posteriores por prisões ilegais, mantidas por longo espaço de tempo, dentre outras implicações. Sem contar o dano psicológico, o dano de saúde, que uma pessoa mantida sob a custódia do Estado provisoriamente pode sofrer. Incomparavelmente mais econômico.

3 - Aumento de trabalho / modificação do trabalho:

Houve, tivemos que criar uma defensoria atuante, exclusivamente na área da audiência de custódia, que demanda um defensor público na comarca de Porto Velho - Capital, nas outras o defensor acumula o trabalho. Aumentou, sim, significativamente o trabalho, mas é por uma causa de justiça.

4 - Projeto de Lei, que uniformizará o projeto em todos os Estados, é viável?

Sempre fui a favor de atuação conjunta idêntica em todo território nacional, até pelo princípio da unidade de todas as instituições, como Tribunal de Justiça, Ministério

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Público e Defensoria Pública. Sempre é uma questão ideológica que eu tenho e sempre defenderia, que é de uma atuação igualitária em todo território nacional, que é regido pelo mesmo Código de Processo Penal, por cidadãos da mesma nacionalidade ou que vivem sobre as mesmas leis.

5 - O prazo de 24 horas é viável?

24 horas é o prazo para se comunicar o flagrante, por exemplo, à Defensoria Pública. Existe uma previsão legal de comunicação da prisão em flagrante de 24 ao Defensor Público para se tome uma providência. O prazo de 24 horas é o essencial, é o ideal; dá para se lavrar o auto de prisão em flagrante, dá para se organizar a audiência de custódia e realizá-la. É o prazo essencial para que se evite, ao máximo, uma arbitrariedade ou a manutenção da prisão ilegal.

2º ENTREVISTADO - Dr. Dalmo Antonio de Castro Bezerra - Juiz Auxiliar da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Rondônia

1 - A apresentação do preso ao juiz, imediatamente após o flagrante, pode reduzir a tortura?

Com certeza, esse é um dos objetivos da audiência de custódia. Na realidade ela se presta a três coisas: a primeira questão é o juiz analisar a legalidade da prisão; a segunda questão é analisar a necessidade ou não da continuidade da prisão e, o aspecto talvez mais importante, seria a questão da análise dos maus tratos ou tortura. É diferente do que vinha acontecendo antes, na sistemática do 306 do CPP, onde o juiz só analisava o papel, não tinha contato direto com o preso. Depois do contato direto com o preso, pode-se aprofundar nessa questão de como foi a abordagem policial. E eu acredito que, talvez, sirva como um ponto de referencial de uma melhor conduta policiais nas prisões. Então se no primeiro momento vai haver mais denúncias de torturas ou maus tratos, com o tempo isso deve diminuir sensivelmente.

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Muito viável, pois independente da audiência de custódia, nós temos que manter juízes de plantão 24 horas por dia, então isso já tava dentro do planejamento orçamentário. Agora imagine que, em média no país, 50% de cada pessoa apresentada na audiência de custódia responderá ao Inquérito Policial em liberdade. Esses 50%, deixam de ingressar no sistema prisional – são pessoas que não vão precisar receber alimentação, kit higiene, colchão, vestuário, isso tudo implica numa economia para o Estado e numa melhor utilização, por exemplo, dos agentes penitenciários, custo de viaturas. Economiza muito. São Paulo, no primeiro mês, economizou em torno de 1 milhão de reais com as audiências de custódia.

3 - Modificação da estrutura do Poder Judiciário:

Foi criado um núcleo, com servidores e magistrados, que trabalha recepcionando os autos de prisão em flagrante e analisando, juntamente com o MP e a DP, as prisões efetivadas.

4 – Dificuldades:

A maior dificuldade que nós temos é, primeiramente, a questão de concatenar todas as secretarias e o Poder Executivo com o Judiciário. Qual o sentido disso: é porque a Secretaria de Segurança Pública é responsável pela Polícia Militar e Civil e é ela que prende. A apresentação do preso é feita junto ao judiciário, mas se, eventualmente, esse flagranteado continua preso, a entrega dele já feita aqui em Rondônia, por exemplo, à Secretaria de Justiça, que é a secretaria responsável pelos assuntos penitenciários. Então colocar isso tudo numa engrenagem de funcionamento é um tanto complexo. É um tanto difícil, pois você tem que concatenar e equalizar todos esses interesses, horários de trabalho, enfim, tudo para que funcione redondinho. Essa é a questão mais complicada.

5 - Sobre a posição dos Delegados, que afirmam que a audiência de custódia é ilegal?

Em qualquer âmbito, seja no Executivo, no Judiciário, vai ter aqueles contrários à audiência de custódia. Mas é uma tradição nossa, de não compreender que um Tratado internacional, ratificado pelo país, tenha uma supra legalidade. Ou seja, tem força legal vigente no país. Era para isso estar funcionando, pelo Tratado, desde

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1992, nós demoramos muito anos. E, é lógico, toda situação de mudança, gera um descontentamento, gera insegurança, gera questionamentos e sai da zona de conforto.

*Ambas as entrevistas foram realizadas no dia 21/10/2015, no prédio sede da Defensoria Pública e no prédio sede do Tribunal de Justiça, respectivamente.

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Tabela 3 – Audiências de custódia no Estado de Rondônia no primeiro mês de  funcionamento

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