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O nascimento do rádio na Espanha através das revistas especializadas.

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Associação Nacional dos Programas de P

ós-Graduação em Comunicação | E-compós,

Brasília, v .18, n.1, jan./abr . 2015. 1/19

O nascimento do rádio na Espanha

através das revistas especializadas

1

Manuel Fernández Sande e Antonio Adami

1 Introdução: a importância

das publicações pioneiras

Este artigo faz parte de projeto de pesquisa desenvolvido por pesquisadores brasileiros e espanhóis, de instituições dos dois países, vinculados a grupos de pesquisa que têm o rádio como objeto. Esses pesquisadores publicaram artigos em periódicos e congressos científicos entre 2012 e 2014 e também publicaram um livro, intitulado “Panorama da comunicação

e dos meios no Brasil e Espanha”. Além

disso, proferiram palestras e ministraram cursos também nos dois países. O projeto trata da história das rádios e das publicações especializadas sobre o meio, nos anos 1920-1930. Graças às páginas destas publicações, podemos reconstruir em detalhes e com grande precisão como transcorreram os primeiros anos de radiodifusão e acompanhar as incontáveis agruras que enfrentaram os pioneiros, até conseguirem que o rádio ocupasse seu lugar importantíssimo como um meio de comunicação de massa, objeto das teorias de comunicação no século XX até hoje, e capaz de conglomerar multidões.

Manuel Fernández Sande

| manuel.fernandez@ucm.es Doutor em Jornalismo pela Universidad Complutense de Madrid – UCM. Professor no Doutorado e Coordenador da Graduação em Jornalismo da Universidad Complutense de Madrid – UCM.

Antonio Adami

| antonioadami@uol.com.br

Doutor em Semiótica pela Universidade de São Paulo – USP. Professor do curso de Midialogia do Instituto de Artes da Universidade de Campinas - UNICAMP e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista - UNIP.

Resumo

As publicações especializadas sobre rádio se constituem em uma fonte de informação de máximo valor para os pesquisadores do campo. Paralelamente à iniciação das primeiras emissões radiofônicas na Espanha, surge um conjunto de publicações periódicas especializadas que satisfazem o interesse informativo dos primeiros aficionados do rádio, sobre as novidades tecnológicas e as atividades das emissoras pioneiras. A maioria tem periodicidade mensal e uma boa parte delas com uma vida curta; outras, conseguem consolidar-se e são publicadas durante vários anos. Algumas publicações nascem vinculadas às Associações de radioaficionados ou emissoras; outras, surgem como projetos editoriais independentes. Este artigo, portanto, apresenta os resultados desta pesquisa, que descreve em profundidade a história de revistas que surgiram na década de 1920, pesquisa esta realizada nas principais hemerotecas espanholas, onde obtivemos informações aprofundadas sobre: Radio Sport, Radio Sola, Radio

Barcelona, Tele-Radio, Radio Ciencia Popular, TSH, Radio e Ondas, todas essenciais para se conhecer as

origens da radiodifusão na Espanha. Palavras-Chave

História do rádio. Publicações pioneiras no rádio. Origem do rádio na Espanha.

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Neste trabalho, vamos tratar especificamente da Espanha e pretendemos reivindicar a importância que têm as publicações pioneiras nesse país e, no interior das revistas, o grande valor das seções informativas sobre a evolução do rádio, que começam a aparecer nas principais publicações. Sobretudo, queremos destacar o caráter essencial que estas informações têm na divulgação do nascimento da radiodifusão e os envolvidos em árduas batalhas mediáticas, com grandes interesses empresariais nos primeiros anos do rádio na península. Neste artigo, demonstramos ainda o posicionamento das principais

publicações frente à dura pendenga, estado de guerra mesmo, mantida entre a Radio Ibérica e Unión Radio, no período entre 1924 e 1927. A incorporação de uma seção diária dedicada às notícias de radiotelefonia nas principais publicações é significativa e denota a importância crescente que o rádio começa a alcançar em determinados círculos sociais. Até março de 1924, apenas algumas poucas revistas especializadas se encarregam de informar habitualmente sobre as novidades radiofônicas. As publicações mais antigas são a revista Radio

Sport, que tem a primeira edição em julho de 1923; Tele-Radio, que tem seu primeiro número em 30

de julho de 1923, e é o órgão oficial do Radio Club España; também a revista Radiosola, a qual tem a primeira edição em setembro de 1923. Essa revista, aliás, se converte, em poucos meses, em porta-voz

da importante Asociación Nacional de Radiodifusión – ANR e, em novembro de 1924, muda o título para

Radio Barcelona.

2 Metodologia utilizada

Primeiramente, gostaríamos de ressaltar e esclarecer que, quando utilizamos os verbos no presente, é para que o texto tenha um caráter de atualidade. Trata-se de um recurso discursivo e estilístico para dar uma dimensão que se perpetua. Uma outra demanda, que creio ser importante aqui, é que, quando trabalhamos com a história dos meios, estamos, muitas vezes, “revisitando” elementos de determinada cultura, os quais tendem a desaparecer todos os dias em função de padrões de consumo impostos pela mídia em escala planetária, daí acreditarmos na relevância científica e social que adquire um projeto desta natureza. Uma outra questão é que o campo de História dos meios, não raras vezes, se utiliza de entrevista depoimental como método de pesquisa, e esta, com frequência, é fundamental, além das pesquisas em documentos, livros, etc. Dessa forma, queremos esclarecer que o que caracteriza a pesquisa científica é o entendimento de que esta vise à produção de conhecimento relevante teórica e socialmente e que preencha uma lacuna importante do saber, neste caso com as publicações radiofônicas pioneiras da Espanha. Nesta nossa pesquisa, o método de trabalho

1 Parte desta pesquisa foi apresentada com o título “Revistas Pioneiras Sobre Rádio na Espanha - Anos 1920” no GP Radio e Midia Sonora do XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - Intercom 2014, realizado em Foz do Iguaçu – PR de 2 a 5 de setembro de 2014.

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utilizado está dentro de um quadro teórico condicionado por pressupostos epistemológicos, com o entendimento do papel dos pesquisadores como “intérpretes da realidade pesquisada”, segundo os instrumentos teórico-epistemológicos adotados. Em pesquisa de caráter documental e biográfico, nos cabe, com o maior rigor possível, entrevistar, pesquisar, checar as informações e escrever. Sérgio Vilas Boas (2002, p. 15-23) propõe quatro elementos da pesquisa biográfica que se referem diretamente à maneira de pesquisar e compreender o biografado: descendência, fatalismo, extraordinariedade e verdade. Um outro autor que escreve com bastante

segurança sobre a pesquisa documental é Creswell (2010, p. 214-216). Para ele, a composição dos significados subjetivos poderá ser atribuída à pesquisa documental, a partir da metodologia oral, sendo negociada social e historicamente para produção de relatório conclusivo. São muitas as dificuldades para se realizar um trabalho dessa natureza, pois, além da raridade de material e da dificuldade em encontrar entrevistados, este método pressupõe a aproximação com estes entrevistados, criando uma relação de confiança mútua, o que nem sempre é possível. Assim, para dar conta desta pesquisa, além da análise de livros, artigos em periódicos científicos, jornais e revistas especializadas, são extremamente ricas e importantes as entrevistas realizadas com radialistas e jornalistas que tiveram de alguma forma contato com as publicações e a realidade das rádios dos anos 1920 e 1930.

3 As revistas pioneiras

A revista mensal Radio Sport tem o primeiro número publicado em julho de 1923, dura até agosto de 1936 e é a primeira revista sobre rádio que se publica na Espanha. Seu diretor-proprietário é Emilio Cañete, um dos primeiros entusiastas e divulgadores do rádio na Espanha. Autor de inúmeros artigos técnicos sobre o novo meio, profere várias conferências sobre o tema na EAJ-6 Radio Ibérica, a primeira rádio a funcionar na Espanha, mas não a primeira oficial, esta foi, realmente, a EAJ-1 Radio Barcelona, na capital catalã. Uma outra publicação não menos importante é a revista independente Tele-Radio, vinculada à Radio Club España, que tem seu primeiro número publicado em julho de 1923, apenas alguns dias depois da Radio Sport, e tem periodicidade bastante irregular, em função das dificuldades econômicas vividas pela Radio Club, principalmente a partir de 1925. Deixa de ser publicada como revista independente em janeiro de 1926 e, a partir desta data, é adquirida pela Unión Radio, passando por uma fusão com a revista Radio Ciencia Popular e Tele-Radio. Luis María de Palácio é membro da diretoria da Radio Club, inclusive chegando a ser presidente, e se torna o primeiro diretor desta publicação.

4 Pioneirismo em Barcelona

Uma outra revista pioneira é a Radiosola. O primeiro número começa a circular em

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Figura 1: Capa da revista Radio Sport

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setembro de 1923, momento político em que Primo de Rivera, imbuído de ideais militaristas, de cunho nacionalista e autoritário,

encabeça, em 13 de setembro de 1923, um Golpe de Estado, suspendendo a Constituição, dissolvendo o Parlamento e implantando uma ditadura militar. A revista Radiosola nasce em Barcelona nesse clima, de controle da sociedade pelo Estado e total poder

concentrado nos militares, nas elites e no clero conservador, que apoiam o Golpe. É nesse ambiente que, no ano 1, o número 1 da revista é publicado, com os seguintes propósitos descritos em sua página 1:

O editorial deixa claro que a revista, instalada a “redacción, administración e imprensa”, na Calle Valencia, nº 200 – Barcelona, seguirá uma linha científica e cultural. Privilegiará os acontecimentos e as descobertas científicas relacionadas à radiocomunicação e irá noticiar informações de especialistas e aficionados no assunto. Quem incentiva e promove a Asociación Nacional de Radiodifusión – ANR são o engenheiro José Maria Guillén-Garcia Gómez, primeiro diretor da rádio, e também o jornalista Eduardo Solá Guardiola. Mais do que fundadores, esses dois nomes foram importantíssimos para o desenvolvimento da comunicação na Espanha: o primeiro para a radiodifusão e o segundo para o desenvolvimento do cinema. Guillén-Garcia é quem traz os primeiros aparelhos para que, a partir do Hotel Colón, ocorra a primeira transmissão radiofônica em Barcelona. Solá é jornalista aos 22 anos no diário El Liberal e, além de fundador da Radiosolar, se torna gerente comercial da revista. Mas apaixonado que era pelo cinema, em 10 de junho de 1912 funda a primeira revista mensal de cinematografia, intitulada

El Mundo Cinematográfico, que, em 1917, se

torna semanal. Praticamente desaparece da EAJ-1 Radio Barcelona a partir de 1925, para se dedicar à produção e divulgação do cinema. Fica claro, quando analisamos as capas das revistas Radiosola e Radio Barcelona, a forte influência de Guardiola, pois estas trazem em destaque nas capas fotos com páginas inteiras das mais importantes e belas atrizes do cinema norte-americano da época.

Figura 2: Capa da revista Tele-Radio

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Figura 3: Contracapa e página 1 da revista Radiosola

Figura 4: Capa e última página, ano 1 , nº1, Revista Radiosola

Fonte: Arxiu Històric de La Ciutat de Barcelona.

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A Radiosola é publicada com este nome desde a sua fundação até a última publicação em julho-agosto de 1924, continua a partir de 1924 com o nome de revista Radio Barcelona. Em seu primeiro número, os fundadores da Radiosola escrevem um editorial reconhecendo o papel precursor da revista e enaltecendo sua função como importante meio de comunicação e divulgação. Ressaltam algumas iniciativas da publicação, entre elas a de ser a responsável pelo nascimento do rádio na Espanha e o incentivo à criação da Asociación Nacional de Radiodifusión – ANR, que é o núcleo para a criação da primeira estação oficial de rádio, instalada no Gran Hotel Colón.

Com a chegada da EAJ-1 Radio Barcelona (1924), a revista Radio Barcelona é um órgão próprio de propaganda, desvinculado da ANR. A publicação, segundo o editorial, continuará com os princípios da Radiosola, mas com mais obrigações, inclusive noticiando a programação das principais rádios da Espanha e fazendo maior cobertura em cultura, política, ciência, etc.

5 Retornando a Madrid

Os grandes jornais, a partir das primeiras experiências de publicação vinculadas ao rádio, começam a prestar atenção nas novidades radiofônicas, o que é decisivo para difundir o interesse para amplos setores da população. Entre estes jornais, La Libertad, publicado em 22 de março de 1924, é o primeiro diário que introduz uma seção para a radiotelefonia. Arturo

Pérez Camarero, utilizando o pseudônimo de “Micrófono”, é o responsável por oferecer aos leitores as notícias radiofônicas, portanto, é ele quem inaugura uma seção sobre o rádio em um grande jornal na Espanha. A partir do dia 24 (no dia 23, não sai o jornal por ser segunda-feira), já se firma na seção como “Micrófono”, pseudônimo que também utiliza a partir de maio do mesmo ano na revista TSH, da qual é diretor. Em poucos dias, os jornais de maior circulação, tais como

La Libertad, El Sol, La Voz, El Liberal, El Debate

e El Imparcial, incorporam seções similares. Das páginas impressas dos jornais é que se anunciam os testes da radiodifusão espanhola e as emissões das estações estrangeiras. Essas notícias proporcionam um debate sobre o rádio, o que aumenta a expectativa sobre os regulamentos do meio, contribuindo para que cresça a demanda social e comece a atividade radiodifusora na Espanha. A partir do verão de 1924, são inúmeros os jornais diários que contam com uma seção de notícias sobre a radiotelefonia, entre eles o importante jornal que circula entre 1890 e março de 1939, Heraldo de

Madrid, além de Correspondencia de España, La Prensa, El Diario Universal, entre outros.

Coincidindo com o início das transmissões organizadas, realizadas pela Radio Madrid, surgem duas novas revistas especializadas, as primeiras com periodicidade semanal. A primeira é a Radio Ciencia Popular, a qual começa a ser vendida em 17 de maio de 1924, que tem como diretor, em uma primeira fase da publicação,

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Figura 5: Capa da revista Radio Barcelona (Espanha), nº 13, de setembro de 1924 (primeiro número da publicação que continua a edição da Radiosola)

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Mariano Potó. Em uma segunda fase, após ser comprada no mês de dezembro do mesmo ano pela Unión Radio, é dirigida por Ricardo Urgoiti. O editorial do primeiro número explica quais são os objetivos e os conteúdos que os eleitores encontrarão (tradução nossa):

Lançamos hoje a primeira revista espanhola semanal consagrada à defesa dos direitos de gostos, ao fomento, à divulgação desta complexa ciência e a cumprir os desejos que todos sentimos por uma renovação espiritual de nosso povo pela cultura. (...) De forma amena, solta, o público verá desfilar em suas páginas o melhor da radio literatura, da rádio técnica e da radiodifusão. Criará um ambiente que dignificará e elevará o nível dos programas de rádio (Radio Ciencia Popular, año I, número 1, p.1).2

Uma semana depois, exatamente em 25 de maio, é lançada a revista TSH, dirigida por Arturo Pérez Camarero. Em uma primeira etapa,

Luis de Oteyza, também diretor do jornal La

Libertad, é o diretor, e, em maio de 1926, Pérez Camarero faz sociedade com o jornalista Rafael Estéves. A revista para de ser publicada em outubro de 1926, poucas semanas antes que a Radio Ciencia Popular. Em seu primeiro número, a TSH se anuncia como “Revista semanal, órgão da Radio Madrid e porta-voz da Federação Nacional de Aficionados”. Em 1925, deixa o slogan e se apresenta como “Revista semanal: Órgão dos radiouvintes, independente de qualquer empresa emissora” (TSH, año II, número LVIII, p.1.).

Esta independência é muito questionada pelas demais publicações, dada a vinculação que “Micrófono” e Oteyza têm com a Radio Ibérica, a grande rádio de Madrid. A TSH atua em todos os momentos como firme defensora e porta-voz

2 A seguir, o texto original com o editorial do primeiro número, explicando quais eram os objetivos e os conteúdos que seriam encontrados na revista:

Lanzamos hoy la primera revista española semanal consagrada a la defensa de los derechos de la afición, a su fomento, a la divulgación de los principios de esta compleja ciencia y a cuanto pueda cumplir los anhelos que todos sentimos por una renovación espiritual de nuestro pueblo por la cultura. (…) En forma amena, suelta, verá el público desfilar por sus páginas lo más selecto de la radio literatura, de la radio técnica y de la radiodifusión. Creará ambiente que dignifique y eleve el nivel de los programas. (Radio Ciencia Popular, año I, número 1, p.1).

Figura 6: Expediente da revista Radio Ciencia Popular

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oficiosa desta emissora. O preço do exemplar custa 25 centésimos e a assinatura anual, nove pesetas. No auge, a revista chega a uma tiragem de 35 mil exemplares. Pérez Camarero escreve isso no jornal La Libertad, de 28 de outubro de 1924. Os números parecem um tanto exagerados, se levarmos em conta que a tiragem de um jornal de certo êxito, por exemplo, o próprio La Libertad, é de 45 mil exemplares em 1926, conforme dados do arquivo de Ricardo María Urgoiti, segundo Seoane e Sáiz (1998, p. 348). Sobre preços, no ano de 1925, as assinaturas anuais para revistas de rádio na Espanha oscilam entre 9 e 20 pesetas. A TSH custa 9 pesetas; Ondas, 20 pesetas; Radio

Barcelona, 20 pesetas.

Em seus primeiros tempos, a redação e

administração da Radio TSH está localizada no mesmo endereço e sede do jornal La Libertad, na rua Madera, 8. Quando Luis de Oteyza sai do jornal, em março de 1925, a revista muda para a rua Mayor, 4, e quando Pérez Camarero adquire a revista, muda novamente de endereço para a rua Hermosilla, 10. Essas mudanças de proprietários são anunciadas aos leitores no editorial do número CIV, de 16 de maio de 1926 (tradução nossa)3 .

O aniversário da TSH coincide com mudan-ças. Nosso diretor e outros jovens e entusias-tas adquiriram há alguns dias esta revista para desenvolver o vivo reflexo de seu es-panholismo e intenso trabalho cultural e de divulgação científica da radiotelefonia. A TSH vai entrar em um novo ano de sua vida em uma nova época, introduzindo tanto em seu formato como em seu texto notabilíssimas melhoras (...). Como garantia de qual vai ser o espírito da revista TSH, basta dizer que con-tinua em sua direção Arturo Pérez Camarero (TSH, año III, número CIV, p.1).

Os novos proprietários da TSH são Pérez

Camarero e o jornalista Rafael Estévez. Camarero escreve na revista: “Informo que a TSH é

propriedade de D. Rafael Estévez e deste modesto jornalista, que aportam reciprocamente seu dinheiro, sua caneta e ambos, seu entusiasmo” (TSH, año III, número CXXI, p.1.) (Tradução nossa)4. A última edição da TSH que localizamos em nossa pesquisa na Hemeroteca Municipal de Madrid é a CXXIV, correspondente a 3 de outubro de 1926. É bem possível que tenha desaparecido nesta data, sendo esta a última publicação. Paralelamente ao transcurso das primeiras transmissões da Radio Ibérica, em Madrid, começava-se a organizar as bases do que seria o projeto empresarial radiofônico, que dominaria a radiodifusão na Espanha nas décadas seguintes.

3 A seguir, a transcrição do texto original da revista:

“Con el II aniversario de TSH coincide el cambio de empresa. Nuestro director y otros elementos jóvenes y entusiastas del sinhilismo notamente nacional han adquirido hace pocos días la propiedad de esta revista para llevar a ella el vivo reflejo de su españolismo y una intensa labor de cultura y divulgación científica de la radiotelefonía. TSH va a entrar con el nuevo año de su vida en una nueva época, introduciendo tanto en su formato como en su texto notabilísimas mejoras. (…) Como garantía de cuál ha de ser el espírito de TSH baste advertir que continúa en su dirección Arturo Pérez Camarero” (TSH, año III, número CIV, p.1).

4 A seguir, a transcrição do texto original da revista:

“Le diré que TSH es propiedad de D. Rafael Estévez y de este modesto periodista (el artículo lo escribe Pérez Camarero), que aportan recíprocamente, su dinero y su pluma, y ambos su entusiasmo” (TSH, año III, número CXXI, p.1.).

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6 A organização das

empresas radiofônicas

As principais companhias internacionais radioelétricas constituíam a empresa Unión Radio, com o objetivo de explorar as emissões radiofônicas na Espanha mediante um modelo mais profissional. Como diretor-geral da empresa, está o jovem engenheiro Ricardo Urgoiti, filho de Nicolas María Urgoiti, um dos homens mais poderosos da imprensa na Espanha. O jovem Ricardo acaba de regressar dos Estados Unidos, onde passa a conhecer o funcionamento das principais emissoras daquele país.

Urgoiti e a Unión Radio sabem a importância que a imprensa e as revistas especializadas possuem.

Assim, com o regresso dos Estados Unidos, antes de começar sua etapa à frente da Unión Radio, assume uma seção da TSH chamada de “Coisas do rádio”, com o pseudônimo de Dick. Isso é publicado no diário El Sol, em 17 de setembro de 1924. Ricardo Urgoiti dirige a revista Radio Ciencia Popular e assina alguns editoriais com o mesmo pseudônimo. No periódico El Sol, também utiliza esse pseudônimo. A constatação mais contundente de que Urgoiti assina como Dick, encontramos no anúncio que se publica na imprensa quando da celebração da segunda exposição da TSH. Na composição do comitê organizador aparece como vocal “D. Ricardo M. de Urgoiti”, diretor geral da Unión Radio e das revistas Ondas, Radio Ciencia Popular(Ondas, año I, número 9, anuncio em última pág.). Na

Radio Ciencia Popular, número 33, publicado em 27 de dezembro de 1924 – uma vez materializada a troca de propriedade da revista – aparece como diretor o nome Dick (Radio Ciencia Popular, año I, número 33, p.1). A apresentação para a sociedade do jovem Urgoiti ocorre um mês depois de sua primeira crônica no jornal El Sol. Urgoiti profere em 20 de outubro de 1924, na sede da casa EASO, de Madrid, conferência com o título “Generalidades e comparação da radiotelefonia entre os diversos países” (El Sol, 20-10-1924.).

O diretor de La Libertad, Luis de Oteyza, se en-carrega da apresentação do jovem engenheiro, elogiando seus grandes conhecimentos sobre rádio. La Libertad informa no dia seguinte da conferência: “É inútil pretender refletir em uma breve matéria sobre a doutrina exposta pelo jo-vem engenheiro, que demonstrou em sua

disser-Figura 7: Capa da Revista TSH

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tação, além de sua reconhecida competência, o fruto obtido nas experiências realizadas durante sua recente viagem de estudos através dos paí-ses americanos”(La Libertad, 21-10-1924).

Oteyza e Urgoiti tornam a se encontrar na ocasião da inauguração da Radio Espanha. A inauguração das emissões da rádio tem lugar em 10 de novembro de 1924, quando Ricardo Urgoiti profere conferência sobre “Técnica radiofônica”, e Oteyza dirige algumas palavras aos presentes como presidente honorário da Asociación Radio Espanhola – ARE (EZCURRA, 1974,pp.101-103).

Urgoiti mantém até o verão de 1925, quando a Unión Radio inicia suas emissões, uma boa relação com Oteyza e também com Pérez Camarero, até aparecerem as disputas de interesses entre a Unión Radio e a Radio Ibérica. Urgoiti, conhecedor do poder que Oteyza tem (no período do outono de 1924, Oteyza, além de dirigir um dos mais importantes jornais da Espanha, é também editor da revista TSH, conselheiro da empresa proprietária da Radio Ibérica e presidente honorário da ARE), busca então o apoio deste para iniciar sua atividade profissional em Madrid.

7 Pelo domínio das Ondas

Essa proteção que Oteyza e seus colaboradores ofereceram a Urgoiti cai por terra, pois, no verão de 1925, a Radio Ibérica e a Unión Radio já estão envolvidas em polêmicas:

Quando chegou dos Estados Unidos seu diretor, senhor Urgoiti, acreditando em sua palavra que sabia de radiotelefonia e havia de trabalhar pela radiodifusão, consegui que fosse convidado a proferir conferências e organizei que fizesse sua apresentação o prestigiado Luis de Oteyza; publiquei seu retrato e um artigo muito elogioso nestas páginas; o coloquei no júri do Certamem, patrocinado por minha revista e, finalmente, no banquete de aniversário desta publicação o con-videi a sentar junto à presidência e lhe passei o microfone para que anunciasse a inauguração de sua emissora (TSH, año II, número LX, p.2.). Prevendo a luta de interesses e as rusgas que, com certeza, iriam aparecer, Ricardo Urgoiti, tão logo nomeado diretor da Unión Radio, consegue também o controle da revista Radio Ciencia Popular, em meados de dezembro de 1924, pois não quer depender somente de La Voz e El Sol (os jornais de seu pai) e, além disso, considera necessário o apoio decisivo de uma revista radiofônica. O diretor da Unión Radio atua, então, como porta-voz da empresa, reagindo com rapidez diante das acusações que se repetem nos jornais e nas revistas. Radio Ciencia Popular é o veículo mais utilizado para responder aos ataques. A revista, em seu editorial de 13 de dezembro de 1924, uma vez que Urgoiti consegue o controle da publicação, anuncia as trocas que iam se introduzir (tradução nossa) 5:

Consideramos um dever elementar de nossa parte dar conta de todas as iniciativas desta revista, que é uma revista de vocês. A revista

Radio Ciencia Popular cresce, Radio Ciencia Popular se estende em propriedades que nós,

seus fundadores, apenas podíamos vislumbrar, quando empreendemos a tarefa de publicá-la, tarefa esta que tão fecundos e consoladores

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frutos tem produzido. Desde os tempos em que a Radio Ciencia publicou seus primeiros núme-ros, os radioaficionados na Espanha cresceram de forma colossal. Começavam na ocasião as emissões da estação Radio Ibérica e já naquela época havia um avanço considerável. Hoje em dia, surgem rapidamente novas estações, no-vas empresas, não somente em Madrid, mas em toda a Espanha (...) Por isso acreditamos imprescindível o concurso de novos e valiosos elementos que nos ajudem em nossa tarefa de proporcionar notícias, os últimos circuitos, a descrição dos últimos inventos, tudo aquilo que o verdadeiro amante do rádio e da ciência em geral necessita como o pão de cada dia. Muito em breve trabalharão em íntima colaboração conosco os engenheiros Don Félix Cifuentes e Don Ricardo M. de Urgoiti (...). Em resumo a

Ra-dio Ciencia Popular se dispõe a entrar em uma

nova fase de sua vida (Radio Ciencia Popular, año I, número 31, p.1.).

Urgoiti contava com o apoio incondicional dos grandes jornais, como dissemos anteriormente,

El Sol e La Voz, ambos propriedade de seu

pai, Nicolás María Urgoiti, e utilizaria a Radio

Ciência Popular para lançar seus editoriais

mais diretamente contra a Radio Ibérica e seus profissionais, na tentativa de desacreditá-la ante seus ouvintes e em favor da Unión Radio. Em junho de 1925, coincidindo com o início das emissões da Unión Radio, é lançada a revista Ondas, que atuaria como órgão oficial da emissora.

Por outro lado, também a revista Radio Barcelona, que no passado havia iniciado a primeira

campanha contra a Unión Radio, começa a manifestar uma grande “simpatia” para os projetos da empresa de Urgoiti, dados os laços de união entre a empresa madrilenha e a Asociación Nacional de Radiodifusión – ANR. Meses mais tarde, a Unión Radio adquire a Rádio Barcelona e a revista de mesmo nome, ampliando seu poder. A revista Radio, órgão oficial da Asociación Radio Española – ARE, que havia sido muito crítica com a empresa dirigida por Urgoiti, em 24 de janeiro de 1926 passa também a pertencer à Unión Radio, a qual compra a licença da estação da ARE. A operação supõe o fim da Asociación e também de sua revista. Em um primeiro momento, a revista Tele-Radio, órgão oficial do Radio Club España, se mantém em uma posição bastante neutra entre ambas as empresas, mas, no ano de 1926, torna-se propriedade do grupo Unión Radio. Conseguem chegar a um acordo, e ambos, Radio Club e Urgoiti, decidem fazer uma fusão com a Radio Ciencia Popular. A Radio

Sport, revista decana, se limita, geralmente, a tratar

de temas mais técnicos sobre o rádio, em algumas ocasiões seus editoriais coincidem com as opiniões da Unión Radio, como, por exemplo, tudo o que é

5 Abaixo, texto original:

“Consideramos un deber elemental por nuestra parte el de dar rendida cuenta de todas las incidencias de esta revista, que es la revista vuestra. Radio Ciencia Popular crece, Radio Ciencia Popular se extiende en proporciones que nosotros, sus fundadores, apenas podíamos vislumbrar cuando emprendimos la tarea de publicarla, tarea que tan fecundos y consoladores frutos ha producido. Desde los tiempos en que Radio Ciencia publicó sus primeros números, la radioafición en España ha dado un paso de coloso. Empezaban entonces las emisiones de la estación Radio Ibérica, y ya aquello suponía un avance considerable; hoy día surgen a cada paso nuevas estaciones, nuevas empresas, no sólo en Madrid, sino en España entera.(…)Por esto creemos imprescindible aportar el concurso de nuevos y valiosos elementos que nos ayuden en nuestra tarea de proporcionaros las noticias, los últimos circuitos, la descripción de los últimos inventos, todo aquello que el verdadero amante de la radio y de la ciencia en general necesita como el pan de cada día. Muy en breve trabajarán en íntima colaboración con nosotros los ingenieros don Félix Cifuentes y don Ricardo M. de Urgoiti(…) En resumen Radio Ciencia Popular se dispone a entrar en una nueva fase de su vida.” (Radio Ciencia Popular, año I, número 31, p.1.).

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Figura 8: Página da revista Ondas

Figura 9: Capa da revista Radio Figura 10: Capa da revista Radio Sport

Fonte: Biblioteca Nacional de Espanha. Madrid.

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relacionado com horários de emissões, já que a

Radio Sport faz emissões simultâneas.

A Radio Ciencia Popular publica seu último número em 30 de outubro e abre com editorial que informa sobre a aquisição da revista por outra empresa. Mas ali está realmente a última edição (Radio Ciencia Popular y Tele-Radio, año III, número 129, p.1). Na realidade, a Unión Radio, que já conta com a revista Ondas como órgão de expressão, uma vez que já havia desaparecido o semanário TSH, decide racionalizar sua rede de publicações e resolve fechar a Radio Ciencia Popular e potencializar o esforço empresarial para concentrar leitores na revista Ondas. Algo bem parecido ocorre meses depois com a revista

Radio Barcelona, que também é fechada. Quanto

à Radio Ibérica, esta vai se isolando, apesar de, desde o seu nascimento, ter contado com o apoio do

importantejornal La Libertad, além da revista TSH. O fato é que, em 12 de março de 1925, após a saída de Oteyza, assume como diretor Joaquín Aznar. Antonio de Lezama passa de redator-chefe para subdiretor. Após Aznar assumir o diário, rompe com rapidez todos os vínculos com a emissora. Pérez Camarero “Micrófono” continua à frente da seção de radiotelefonia até outubro de 1925, data em que é afastado. A direção do jornal não permite críticas à Unión Radio, pois não quer polemizar. Em 1926, o jornal La Libertad se limita apenas a oferecer a programação e informações sobre rádio.

A revista TSH, dirigida também por Pérez

Camarero, se defende da Radio Ibérica com paixão

até o momento em que igualmente desaparece em finais de 1926. Em julho de 1925, “Micrófono” passa a ser diretor da Radio Ibérica e se converte no mais feroz inimigo da emissora de Urgoiti, mas, apesar de ter a emissora a seu favor, a Ibérica também cai, derrotada pelo poder da Unión Rádio. Uma vez que desaparecem a revista TSH e as demais publicações especializadas que acompanharam o nascimento da radiodifusão na Espanha, a Ondas se converte na revista mais lida durante décadas, refletindo no setor editorial uma hegemonia similar à sua proprietária, a cadeia radiofônica Unión Radio, que se mantém na Espanha até estourar a Guerra Civil.

8 Conclusão

Primeiramente, concluímos que há grande relação entre os jornais da época e seus vínculos com as rádios e as revistas pioneiras, isto porque se trata de um todo interdependente entre si, com o rádio sendo o centro das atenções dos interesses comerciais e da curiosidade popular. As revistas ressaltam isso, seja com as capas científicas, principalmente de Madrid, ou as capas com fotos de grandes e belas atrizes norte-americanas, mais sensacionalistas, de Barcelona.

Não podemos nos esquecer que o meio rádio é o que existe de mais inovador nos anos 1920 e 1930, em termos de comunicação e de tecnologia. Considerando isso, constatamos que é através do rádio, apoiado pelos jornais e pelas revistas

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radiofônicas, que se constrói o poder na Espanha daquele período. Os meios deixam claríssimo o seu potencial para o entretenimento, particularmente o rádio, caminho quase irreversível hoje, como muito bem escreve Vargas Llosa (2013, pp. 29-30), quando trata da cultura de massa e a civilização do espetáculo, mas tudo começa, realmente, com o rádio nos anos 1920. Na Espanha, não é diferente.

Em total oposição às vanguardas herméticas e elitistas, a cultura de massas quer oferecer ao público mais amplo possível novidades aces-síveis que sirvam de entretenimento à maior quantidade possível de consumidores. Sua in-tenção é divertir e dar prazer, possibilitar evasão fácil e acessível para todos, sem necessidade de formação alguma, sem referentes culturais concretos e eruditos. O que as indústrias cul-turais inventam nada mais é que uma cultura transformada em artigos de consumo de mas-sas. Particularmente penso que, considerando Lipovetsky, hoje não existe alta ou baixa cultura mas o entretenimento, o que nivela todos. Tam-bém existem as opções, que são muitas, mas é necessário sim uma orientação que tanto faz da escola, igreja ou família. Particularmente a famí-lia. A civilização do espetáculo é aquela de um mundo onde o mais importante da vida é o en-tretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal. Ninguém em sã consciên-cia desaprovaria o relaxamento, humor, diversão

as vidas geralmente enquadradas em rotinas às

vezes deprimentes e até imbecilizantes. Mas transformar em valor supremo essa propensão natural a divertir-se tem consequências: bana-lização da cultura, generabana-lização da frivolidade e, no campo da informação, a proliferação do jornalismo irresponsável da bisbilhotice e do es-cândalo. (VARGAS LLOSA, 2013, pp. 29-30).

Não há dúvida que é por causa do rádio e sua capacidade de projeção junto aos ouvintes e seu potencial para a propaganda, seja política ou comercial, que os estudos em comunicação avançaram, as pesquisas avançaram em busca de novas tecnologias, pois as demandas, o aumento populacional, a necessidade de se fazer comunicar rapidamente e cada vez com mais qualidade levam ao avanço do meio e ao avanço das tecnologias de comunicação e informação. As tecnologias se tornaram necessárias e, devagar, se tornaram também determinantes, a ponto de pensarmos hoje em uma nova indústria cultural, pensarmos em uma “Civilização do espetáculo”, como escreve Vargas Llosa (2013), espetáculo este iniciado com o rádio a partir dos anos 1920 e 1930. Em nossa pesquisa, detectamos uma luta muito grande para o controle da comunicação na Espanha, particularmente encabeçado por Ricardo Urgoiti e pela Unión Radio. Claramente, o que está em jogo é o poder e encantamento do rádio para a propaganda e o consumo. Por isso que, naqueles anos de início do rádio, a Unión Radio compra a poderosa e “primeira”6 estação da Espanha, a EAJ-1 Radio Barcelona, compra também a poderosa Radio Ibérica, de Madrid, além de jornais e revistas pioneiras, assegurando o poder político e econômico.

6 Como escrevemos anteriormente, a primeira estação da Espanha é a EAJ-6 Radio Ibérica, mas a EAJ-1 Radio Barcelona é a que legalmente fica com o primeiro prefixo, pois solicitou a legalização primeiro que a Ibérica.

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Fonte: Hemeroteca Municipal de Madrid. Pesquisa realizada em setembro de 2006.

TSH. Ano III, nº CVIII (capa). Madrid: Junho de 1926.

Fonte: Hemeroteca Municipal de Madrid. Pesquisa realizada em setembro de 2006.

Jornal

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Recebido em:

08 de dezembro de 2014

Aceito em:

19 de fevereiro de 2015

The birth of radio in Spain through

specialized magazines

Abstract

The specialized publications on radio represent a source of information of maximum value for researchers in the field of Communication Studies and Media History. Along with the first radio broadcasts in Spain, a set of specialized publications start selling, satisfying the need of radio aficionados for information, including technological developments and activities of the pioneer stations. Most of them have monthly editions and some run for a short period of time. Others manage to live longer and are published for several years. Some publications are born linked to radio broadcasters or associations of radio aficionados, others as independent editorial projects. This paper presents the results of this research, which describes in depth the history of magazines that emerged in the 1920s. This research was carried out in the main Spanish newspaper libraries, where we obtained detailed information about the following broadcasters: Radio Sport,

Radio Sola, Radio Barcelona, Tele Radio, Radio Ciencia Popular, TSH, Radio and Ondas, all

essential in order to understand the origins of radio broadcasting in Spain.

Keywords

History of radio. Radio pioneer publications. Origins of spanish radio.

El nacimiento de la radio en España a

través de las revistas especializadas

Resumen

Las publicaciones especializadas sobre radio constituyen una fuente de información de máximo valor para los investigadores del área. En paralelo al comiento de las primeras emisiones radiofónicas en España, surge un conjunto de publicaciones periódicas especializadas que buscan satisfacer el interés informativo de los primeros radioaficionados, sobre las novedades tecnológicas y las actividades de las emisoras pioneras. La mayoría de ellas tenían periodicidad mensual, buena parte tuvieron una vida corta, otras se consiguieron consolidar y se publicaron durante varios años. Algunas de aquellas publicaciones nacieron vinculadas a las Asociaciones de Radioaficionados o a las propias emisoras, otras surgieron como proyectos editoriales independientes. Este artículo presenta los resultados de una investigación que describe en profundidad la historia de las revistas de radio que surgieron en España durante la década de los años veinte del siglo pasado. Esta investigación ha sido realizada en las principales hemerotecas españolas, donde se ha obtenido información detallada sobre Radio

Sport, Radio Sola, Radio Barcelona, Tele Radio, Radio Ciencia Popular, TSH, Radio y Ondas, todas

ellas esenciales para conocer los orígenes de la radiodifusión en España.

Palabras clave

Historia de la Radio. Revistas pioneras de Radio. Origen de la Radio en España

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Brasília, v .18, n.1, jan./abr . 2015. 19/19 CONSELHO EDITORIAL

Alexandre Rocha da Silva, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Alexandre Farbiarz, Universidade Federal Fluminense, Brasil

Ana Carolina Damboriarena Escosteguy, Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul, Brasil

Ana Carolina Rocha Pessôa Temer, Universidade Federal de Goiás, Brasil Ana Regina Barros Rego Leal, Universidade Federal do Piauí, Brasil André Luiz Martins Lemos, Universidade Federal da Bahia, Brasil Andrea França, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Antonio Carlos Hohlfeldt, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande

do Sul, Brasil

Arthur Ituassu, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Álvaro Larangeira, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil

Ângela Freire Prysthon, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil César Geraldo Guimarães, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Cláudio Novaes Pinto Coelho, Faculdade Cásper Líbero, Brasil Daisi Irmgard Vogel, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Daniela Zanetti, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Denize Correa Araujo, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil Eduardo Antonio de Jesus, Pontifícia Universidade Católica

de Minas Gerais, Brasil

Eduardo Vicente, Universidade de São Paulo, Brasil

Elizabeth Moraes Gonçalves, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil Erick Felinto de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Francisco Elinaldo Teixeira, Universidade Estadual de Campinas, Brasil Francisco Paulo Jamil Almeida Marques, Universidade Federal do Ceará, Brasil Gabriela Reinaldo, Universidade Federal do Ceará, Brasil

Gisela Grangeiro da Silva Castro, Escola Superior de Propaganda

e Marketing, Brasil

Goiamérico Felício Carneiro Santos, Universidade Federal de Goiás, Brasil Gustavo Daudt Fischer, Unisinos, Brasil

Herom Vargas, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil

Expediente

A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, inseridos em instituições do Brasil e do exterior.

E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 Revista da Associação Nacional dos Programas

de Pós-Graduação em Comunicação. Brasília, v.18, n.1, jan./abri.. 2015.

A identificação das edições, a partir de 2008, passa a ser volume anual com três números.

COMISSÃO EDITORIAL Cristiane Freitas Gutfreind

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Irene Machado

Universidade de São Paulo, Brasil Jorge Cardoso Filho

Universidade Federal do Reconcavo da Bahia, Brasil Universidade Federal da Bahia, Brasil

REVISÃO DE TExTOS | Press Revisão SECRETÁRIA ExECUTIVA | Helena Stigger EDITORAÇÃO ELETRÔNICA | Roka Estúdio

COMPÓS| www.compos.org.br

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

Presidente Eduardo Morettin

Universidade de São Paulo, Brasil eduardomorettin@usp.br

Vice-presidente Inês Vitorino

Universidade Federal do Ceará, Brasil ines@ufc.br

Secretária-Geral Gislene da Silva

Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil gislenedasilva@gmail.com

Itania Maria Mota Gomes, Universidade Federal da Bahia, Brasil Janice Caiafa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Jiani Adriana Bonin, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil José Afonso da Silva Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil José Luiz Aidar Prado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil Kati Caetano, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil

Lilian Cristina Monteiro França, Universidade Federal de Sergipe, Brasil Liziane Soares Guazina, Universidade de Brasília, Brasil

Luíza Mônica Assis da Silva, Universidade de Caxias do Sul, Brasil Luciana Miranda Costa, Universidade Federal do Pará, Brasil Malena Segura Contrera, Universidade Paulista, Brasil

Marcel Vieira Barreto Silva, Universidade Federal da Paraíba, Brasil Maria Ogécia Drigo, Universidade de Sorocaba, Brasil

Maria Ataide Malcher, Universidade Federal do Pará, Brasil Maria Clotilde Perez Rodrigues, Universidade de São Paulo, Brasil Maria das Graças Pinto Coelho, Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, Brasil

Mauricio Ribeiro da Silva, Universidade Paulista, Brasil Mauro de Souza Ventura, Universidade Estadual Paulista, Brasil Márcio Souza Gonçalves, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Micael Maiolino Herschmann, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Mirna Feitoza Pereira, Universidade Federal do Amazonas, Brasil Nísia Martins Rosario, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Potiguara Mendes Silveira Jr, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil Regiane Ribeiro, Universidade Federal do Paraná, Brasil

Rogério Ferraraz, Universidade Anhembi Morumbi, Brasil Rose Melo Rocha, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Rozinaldo Antonio Miani, Universidade Estadual de Londrina, Brasil Sérgio Luiz Gadini, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil Simone Maria Andrade Pereira de Sá, Universidade Federal Fluminense, Brasil Veneza Mayora Ronsini, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Walmir Albuquerque Barbosa, Universidade Federal do Amazonas, Brasil

Imagem

Figura 2: Capa da revista Tele-Radio
Figura 4: Capa e última página, ano 1 , nº1, Revista RadiosolaFonte: Arxiu Històric de La Ciutat de Barcelona.
Figura 6: Expediente da revista Radio Ciencia Popular
Figura 9: Capa da revista Radio Figura 10: Capa da revista Radio SportFonte: Biblioteca Nacional de Espanha

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