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PRÁTICAS HOLÍSTICAS NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE CAMPO EM JOÃO PESSOA-PB

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Academic year: 2020

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DANIELLE VENTURA DE LIMA PINHEIRO**

DANIELLE CRISTINE ARAÚJO DE ANDRADE***

Resumo: o presente trabalho visa analisar como as práticas holísticas podem ser realizadas no espaço escolar, a fim de melhorar o cotidiano de adolescentes que sofrem com ansiedade. Para tanto, inicialmente, buscou-se mostrar o significado do holismo na área de saúde, considerando-o como capaz de gerar uma mudança paradigmática, dada a sua visão sistêmica do ser humano. Também se refletiu aqui como as práticas holísticas na escola rompem com um olhar conteudista presente nas instituições escolares, possibilitando pensá-la como lugar de promoção de cultura de paz e de saúde mental, a partir da sua inserção no seu cotidiano. Por fim, buscou-se mostrar os impactos dessas práticas holísticas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Zulmira de Novais, considerando-a como experiência piloto, que gerou impacto na vida dos discentes que dela participaram. Metodologicamente, dialogou-se com autores da área de saúde e da educação, realizando uma análise descritivo-analítica dessa experiência de campo. Como resultados, percebe-se a importância de se estudar as práticas holísticas, de se pensar como elas podem ser inseridas no cotidiano escolar e os impactos positivos na vida de adolescentes da instituição escolar analisada.

Palavras-chave: Práticas holísticas. Cotidiano escolar. Saúde mental.

* Recebido em: 15.10.2019. Aprovado em: 05.12.2019.

** Doutora em Educação- UFPB, Doutora em Ciências da Religião - PUC Goiás. E-mail: daniellyventura@ hotmail.com

*** Bacharel em Psicologia - UFRN. Especialista em Psicologia Escolar. Psicóloga Escolar da Escola Municipal de Ensino Fundamental Zulmira de Novais. E-mail: dannycristine@hotmail.com

PRÁTICAS HOLÍSTICAS NA ESCOLA:

UMA EXPERIÊNCIA DE CAMPO

EM JOÃO PESSOA-PB*

DOI 10.18224/frag.v29i4.7769

DOSSIÊ

A

s práticas holísticas no espaço educacional trazem impacto no cotidiano escolar, pois pensam de forma integral o ser humano, buscando contribuir com a sua saúde mental. Por serem aprovadas pela Organização Mundial de Saúde, a instituição (direção escolar e psicóloga) que fazemos parte resolveu incorporá-las, tendo em vista a necessidade de quinze

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ado-lescentes com transtorno de ansiedade. Concomitantemente, a Base Nacional Comum Curricular (2017) traz consigo uma reflexão sobre a saúde emocional dos discentes, fomentando ainda mais essa discussão, que ao nosso ver é necessária no espaço escolar.

Contudo, para além de um estudo descritivo dessas práticas holísticas no interior da Escola Zulmira de Novais, ampliou-se a discussão pensando no que de fato elas significam para área de saúde e o seu caráter impactante no contexto escolar.

As mudanças observadas nas áreas de saúde e educação foram aqui observadas por permi-tirem pensar os motivos pelos quais elas precisam ser inseridas no espaço escolar, melhorando a vida dos adolescentes e contribuindo para uma propagação de uma cultura de paz.

Sendo assim, dividiu-se o artigo em três momentos, o primeiro deles permite uma reflexão sobre a visão holística como reveladora de uma mudança paradigmática, o segundo momento mostra a escola como espaço de formação cidadã crítica, pensando nos impactos da inserção dessas práticas no cotidiano escolar e, por fim, descreve-se a experiência da Escola Municipal Zulmira de Novais, avaliando suas dificuldades e impactos positivos ao se incor-porar as práticas holísticas.

A VISÃO HOLÍSTICA DA SAÚDE: MUDANÇAS PARADIGMÁTICA

A visão positivista na área de saúde faz com que os estudos na área de medicina estejam restritos as especialidades. Assim, cada médico se especializa em uma área e perde a noção do ser humano como um todo. Essa situação ocasiona o fato de muitos pacientes, ao saírem de um tratamento sobre uma determinada parte do seu corpo, adquirirem problemas de saúde em uma outra área, precisando recorrer a diversos médicos em busca de soluções para seus problemas (CAPRA, 1986).

Os estudos especializados são importantes para as nossas vidas, pois garantem que seja-mos tratados por médicos que tenham conhecimento aprofundado na área que recorreseja-mos para tratamento, saindo da superficialidade. Nenhum médico ginecologista vai poder intervir na área de ortopedia, por exemplo, e isso evita uma série da problemas, pois buscamos especialidades de acordo com os problemas que apresentamos. Logo, não estamos fazendo uma crítica a medicina na atualidade, mas apontando como as práticas holísticas podem ajudar nos tratamentos de saúde por terem uma visão sistêmica e transdisciplinar do indivíduo e pensá-lo em sua totalidade (TEI-XEIRA, 1996; CREMA, 1989).

Buscando o equilíbrio das pessoas como um todo, a partir de tradições orientais milenares, as práticas holísticas podem ser compreendidas como formas integrativas de saúde que levam em consideração aspectos físicos, psicológicos, sociais e culturais (SHABBEL, 1994).

Aceitas pela Organização Mundial de Saúde, as práticas holísticas ou Práticas Integrativas Complementares (PICs) são cada vez mais introduzidas no Programa de Saúde da Família (PSF) porque:

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares enfatiza a inserção das PIC na Atenção Básica, condizente com dados da literatura internacional, que reconhece a vo-cação natural das PIC neste âmbito de atenção. A prioridade para as PIC na Atenção Básica se deve há vários motivos, além do fato delas já estarem e continuarem crescendo ali: os tipos de problemas presentes são favoráveis a sua ação; são cada vez mais reconhecidas no sentido de estimular os mecanismos de auto cura das pessoas; várias delas proporcionam abordagens culturalmente aceitáveis; há uma boa relação terapeuta-usuário e estímulo à

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participação do usuário no seu processo de cuidado ; além de maior holismo a elas atribu-ído, com melhor observação e manejo de dimensões psicossociais, espirituais e subjetivas (TESSER, 2016, p. 25).

A partir da abordagem de Tesser (2016), observa-se o caráter complementar dessas práticas holísticas. Assim, apesar da inegável contribuição nos tratamentos de saúde, ela não substitui o tratamento médico e psicológico. Concomitantemente, ao se inserir as PICs nas escolas, também não se pode deixar de lado o trabalho do psicólogo e também deixar de fazer os devidos encami-nhamentos para que o estudante que precise seja acompanhado pelo psicólogo clínico.

A reconhecida capacidade de auto cura das pessoas e o manejo com as dimensões psicosso-ciais das praticas holísticas demonstram como o paciente passa se responsabilizar com sua saúde, buscando se cuidar e refletir sobre a solução de seus problemas.

Assim, espera-se que o paciente saiba que é preciso se cuidar de forma integral, não se limi-tando ao uso de medicamentos direcionados a uma doença específica. Nessas práticas pensa-se o paciente como um todo e não há uma restrição a se direcionar apenas a doença que o atinge, como acontece comumente na medicina ocidental. Sobre as PICs, constata-se:

[...] uma forte influência do pensamento oriental sobre as terapias alternativas. Os trata-mentos caracterizam-se pelo uso de meditação e de relaxamento, e por apresentarem pres-supostos holísticos, entendidos como unidade entre corpo e alma, sendo que o termo alma inclui tanto os aspectos mentais como espirituais (GAUER et al., 1997, p. 22).

Essa busca do equilíbrio a partir da meditação e das técnicas de relaxamento podem ser con-sideradas como aliadas no contexto escolar, uma vez que se constatam as dificuldades enfrentadas pelos alunos para além do ambiente escolar, interferindo diretamente no seu desempenho e na sua participação em sala de aula. Contudo, a concepção de educação de forma ampliada ainda está em construção, já que a compreensão da escola para além de transmissora dos conteúdos ainda é recente, como veremos adiante.

O ESPAÇO EDUCACIONAL PARA ALÉM DO CONTEUDISMO: PROMOVENDO UMA CULTURA DE PAZ

A visão positivista, presente na área de saúde, também atinge diretamente a área de educação e sua concepção fica restrita à memorização de conteúdo sem conexão com a realidade do discente e sem proporcioná-los uma visão crítica e reflexiva daquilo que é estudado em sala de aula.

Essa visão, apesar de ainda estar presente em algumas escolas, não condiz com aquilo que se espera das instituições escolares de acordo com a CF/88, uma vez que em seu artigo 205, já se previa que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incen-tivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Concomitantemente, o artigo 3 da LDBEN/1996 afirma que o ensino será ministrado se-guindo os seguintes princípios:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III –

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pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI – gratuida-de do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII – valorização do profissional da educação escolar; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX – garantia de padrão de qualidade; X – valorização da experiência extraescolar; XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais; XII – consideração com a diversidade étnico-racial;

Os princípios enumerados mostram a valorização do pluralismo de ideias, da liberdade e da diversidade. A educação é pensada de forma integral, já que se vincula com o trabalho e as prá-ticas sociais, garantindo a gratuidade e a possibilidade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura. Ao pensar nos direitos dos estudantes de acesso à educação, à liberdade e ao respeito a diversidade, abre-se espaço para um ensino humanizado que se volta para as práticas holísticas, a fim de contribuir com as dificuldades por eles enfrentadas.

Concomitantemente, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), há uma busca pela formação cidadão crítica e o respeito à diversidade é perceptível ao se expor sobre o tema transversal Pluralidade Cultural:

Para os alunos, o tema da Pluralidade Cultural oferece oportunidades de conhecimento de suas origens como brasileiro e como participante de grupos culturais específicos. Ao valo-rizar as diversas culturas que estão presentes no Brasil, propicia ao aluno a compreensão de seu próprio valor, promovendo sua auto-estima como ser humano pleno de dignidade, cooperando na formação de autodefesas a expectativas indevidas que lhe poderiam ser pre-judiciais. Por meio do convívio escolar possibilita conhecimentos e vivências que cooperam para que se apure sua percepção de injustiças e manifestações de preconceito e discrimi-nação que recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemunhar — e para que desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas (PCN, 1997, p. 39).

A abordagem pautada na promoção da autoestima dos discentes como pleno de dignidade, a partir do tema transversal Pluralidade Cultural, contribui com a garantia de uma valorização dos discentes enquanto seres humanos e, assim, viabiliza a reflexão das PICs em sala de aula, pois são capazes de fortalecer a autoestima dos estudantes, a partir da regulação das emoções, autoconhe-cimento e uma promoção de uma cultura de paz.

A Base Nacional Comum Curricular - BNCC (2017) - amplia essa perspectiva ao expor sobre a necessidade de se enfatizar as habilidades socioemocionais na escola de maneira transdisciplinar, abrindo espaço para a introdução de práticas holísticas e valorizando, indiretamente, o papel dos psicólogos escolares nas instituições escolares.

Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BNCC, 2017, p. 8).

Essa situação requer que a Escola como um todo se una para ter condições de desenvolver essas habilidades dos alunos. Assim, amplia o seu papel no momento em que sai do conteudismo e

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percebe-se a dimensão socioemocional como relevante e necessária para ser desenvolvida na escola. Na área de Linguagens, por exemplo, está previsto que:

[...] os estudantes desenvolvam competências e habilidades que lhes possibilitem mobilizar e articular conhecimentos desses componentes simultaneamente a dimensões socioemo-cionais, em situações de aprendizagem que lhes sejam significativas e relevantes para sua formação integral.

A inclusão das dimensões socioemocionais na Escola, articulada com outros conhecimen-tos, permite que as instituições educacionais sejam desafiadas diariamente a serem um local que promova a cultura de paz e que a empatia e o respeito estejam presentes no seu cotidiano, pois se trata de uma competência geral:

Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e poten-cialidades, sem preconceitos de qualquer natureza (BNCC, 2017, p. 9).

A BNCC amplia ainda mais as possiblidades da escola se voltar para as práticas holísticas, pois se direciona para as habilidades socioemocionais. Contudo, é importante destacar que a reflexão se dá pensando em todo contexto escolar, de forma que professores sejam também responsáveis nesta formação dos discentes.

Para além do diálogo sobre o respeito à diversidade e a empatia, as práticas holísticas pos-sibilitam a oportunidade de se realizar vivências que promovam efetivamente o relaxamento e o autoconhecimento. Assim, elas contribuem no amadurecimento das crianças e adolescentes.

Essas práticas de relaxamento viabilizadas pelas PICs devem incluir também os docentes, já que são eles as pessoas mais próximas dos discentes e terão a oportunidade de dialogar sobre essas vivências. A rede municipal de João Pessoa conta com a presença de psicólogos nas instituições escolares e isso colabora ainda mais para que se reflita sobre ações eficazes neste sentido. A Escola Municipal Zulmira de Novais, durante o ano de 2019, tem realizado ações pontuais sobre as práticas holísticas tanto para professores como para os discentes.

A ESCOLA ZULMIRA DE NOVAIS: UMA EXPERIÊNCIA PILOTO

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Zulmira de Novais está localizada no bairro de Cruz das Armas, na cidade de João Pessoa. Essa instituição atende a aproximadamente 776 discen-tes, distribuídos no ensino fundamental 1, ensino fundamental 2 e Educação de Jovens e Adultos.

No turno da manhã e da tarde foi observado pela direção escolar e psicóloga da instituição a presença de quinze adolescentes, entre treze a catorze anos, com transtorno de ansiedade. Eles saíam da sala com dificuldade de respirar e, após técnicas de respiração ensinadas, principalmente, pela psicóloga, conseguiam melhorar e voltar as atividades normais.

Como essa situação foi se repetindo diariamente, por meses a direção, junto com a equipe técnica, resolveu recorrer a profissionais de diversas áreas, como fisioterapia, auriculoterapia, biodanza, yoga e Meditação, para dialogar com as adolescentes e trazer técnicas que as levassem a diminuir o estado de ansiedade e, assim, conseguirem regular melhor as suas emoções. Antes disso, no mês de abril, durante

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o planejamento pedagógico, oportunizamos aos docentes uma vivência de meditação com o mestre Zen Budista Ivonaldo Dantas e um diálogo sobre a importância de se fazer técnicas de relaxamento.

No mês de maio, a fisioterapeuta Natasha Seleidy expôs às adolescentes brevemente sobre o que é transtorno de ansiedade, quais os efeitos no corpo e, em seguida, fez um momento de medi-tação leve para que elas não tivessem nenhuma demonstração de transtorno de ansiedade. Todas estavam sentadas confortavelmente em colchonetes e mantiveram um olhar atento a profissional. Como foi a primeira experiência, após essa vivência, duas meninas demonstraram transtorno de ansiedade e foram ajudadas pelos professores e psicóloga.

No mês de junho, a terapeuta holística Helena Medeiros preparou o ambiente com música e aromas naturais, conversou com as adolescentes, fez algumas técnicas de relaxamento, explicou o que era auriculoterapia e como ela contribui com a saúde mental das pessoas. Em seguida, fez uma experiência prática com as adolescentes fazendo auriculoterapia em cada uma delas. Escolhemos essa vivência por considerarmos que: “Os benefícios de tais práticas, inclusive da auriculoterapia, para a manutenção da qualidade de vida na redução das tensões do dia a dia, têm sido relatados em pesquisas nos últimos 10, anos em diferentes países” (PRADO et al., 2012, p. 3).

No mês de julho, alunos do doutorado e mestrado em educação, participantes do Projeto Sala de Aula Itinerante do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB, também fizeram vivências holísticas com as adolescentes, que tiveram a oportunidade de escrever sobre suas vidas e dialogar com os estudantes de pós-graduação. Percebemos a receptividade das jovens e a abertura para compartilhar sobre suas experiências de vida.

No mês de agosto a terapeuta holística e facilitadora de Biodanza, Maria Aparecida Porte, após diálogo com as adolescentes, expôs brevemente sobre a importância da biodanza e fez uma vivência com as adolescentes. Elas participaram ativamente e demonstraram receptividade para esta prática.

As experiências de introdução da Biodanza nos contextos escolares traduzem mudanças signi-ficativas que permitem defender este sistema como uma possibilidade de fazer parte do curri-culum. A sua ação permite que as crianças entrem em contacto com os seus potenciais e en-contrem um espaço onde expressá-los. Por outro lado, à medida que a identidade vai estando mais integrada, a criança pode expressar-se com segurança fora da sessão de Biodanza. Neste sentido, acredito que o processo vivido pela criança não é diferente do dos adultos. Parece-me apenas que ele é mais rápido, o que configura uma situação bastante credível, afinal, numa identidade ainda em formação, os “danos” são efetivamente menores (PINTO, 2014, p. 43). A eficácia da biodanza no ambiente escolar pode ser evidenciada pela sensação de bem-estar proporcionada às alunas. Como se trata de um plano piloto, pulverizamos as ações para oportunizar que os alunos desfrutem de cada uma delas e busquem demonstrar aquelas que eles mais se iden-tificam. Além disso, o caráter espontâneo e gratuito de cada ação fez com que a escola priorizasse a vivência de diversas experiências que não sobrecarregassem nenhum facilitador.

No mês de setembro, o diretor do Espaço Arte e Yoga, Mestre Ravi Miranda, teve a oportu-nidade de dialogar com as adolescentes sobre técnicas de respiração, meditação, yoga e ainda fazer uma vivência para que elas aprendessem alguns movimentos da Yoga. De antemão, ele demonstrou grande interesse em dar continuidade ao seu trabalho na Escola, tendo em vista que ele é responsá-vel pelo Curso de Formação de Professores de Yoga. Miranda viu nesta instituição a possibilidade de encaminhar os alunos do curso e futuros professores de Yoga para cumprir o seu estágio neste espaço e, assim, contribuir cada vez mais com maior número de alunos. Essa ação será iniciada

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no ano posterior e a escola demonstrou grande interesse em participar. Essa prática holística foi escolhida por consideramos que a Yoga contribui para se:

[...] buscar a integração corpo-mente como forma de harmonizar seus sentimentos buscan-do uma transformação em seu comportamento, a fim de ser menos agressivo, ansioso, mais consciente de si, de sua importância no mundo, aumentando sua auto-estima e tornando o indivíduo um ser mais sereno e estruturado (MORAES; BALGA, 2007, p. 60).

Cada convidado teve a oportunidade de dialogar com a psicóloga Danielle Andrade antes de iniciar suas atividades. A psicóloga demonstrou como a sua área contribuiria para o relaxamento das adolescentes, buscando ensinar como agir diante de um momento de ansiedade. As adolescentes foram receptivas a tudo que aprenderam e pudemos observar que se diminuiu consideravelmente os episódios de transtorno de ansiedade na escola. Paralelo às práticas holísticas, a psicóloga resolveu criar um grupo terapêutico com as adolescentes, que se reúne semanalmente, e isso oportunizou a troca de experiências entre elas e o diálogo com a profissional.

Enfim, as práticas holísticas na Escola Zulmira de Novais surtiram efeitos positivos na vida das adolescentes. Apesar do pouco tempo, percebe-se que os ensinamentos trazidos pelos facilitadores foram eficazes e permitiram abrir espaço para que as discentes buscassem o autoconhecimento. O grupo terapêutico semanal ajudou bastante no compartilhamento de experiências e no acompanha-mento por parte da psicóloga escolar. Assim, a associação dessas práticas nos faz refletir como ações semelhantes são eficientes e que seu aprofundamento a posteriori surtirá efeitos ainda mais benéficos à medida que for contemplando mais alunos que também precisam desse acompanhamento, já que aqui ficou restrito a um grupo emergencial que, de fato, precisava vivenciar essas práticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas holísticas no espaço escolar contribuem para que haja um ensino humanizado, que valoriza o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, a empatia e o autoconhecimento.

Conhecidas pela inserção no Sistema Único de Saúde e pela aceitação da Organização Mun-dial de Saúde, as PICs podem e devem ser incluídas de forma ampla nos espaços sociais. São elas que viabilizam uma reflexão do indivíduo sobre suas vidas e como eles precisam investir na sua saúde mental e pensar sobre as possibilidades de incluir técnicas de relaxamento no seu cotidiano. Na Escola Zulmira de Novais o compartilhamento de experiências de meninas com transtorno de ansiedade gerou empatia não só entre aquelas que enfrentam as mesmas dificuldades, mas dos próprios colegas, professores e funcionários desta instituição escolar.

Enfim, de forma inovadora e impactante, quando se insere as PICs no cotidiano escolar percebe-se resultados positivos em um curto espaço de tempo. É certo que se pensasse em se realizar apenas uma modalidade de prática holística em um ano ampliando para maior número de alunos se conseguiria melhores resultados, mas em se tratando de um plano piloto pode-se perceber a sua eficácia e as diversas possibilidades de ampliação em anos posteriores.

HOLISTIC PRACTICES IN SCHOOL: A FIELD EXPERIENCE

Abstract: this paper aims to analyze how holistic practices can be performed in the school space in order

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meaning of holism in the health area, considering it as capable of generating a paradigmatic change, given its systemic view of the human being. It was also reflected here how the holistic practices in school break with a contentist look present in school institutions, making it possible to think of it as a place of promotion of culture of peace and mental health, from its insertion in their daily lives. Finally, we sought to show the impacts of these holistic practices at the Zulmira de Novais Elementary School, con-sidering it as a pilot experience, which had an impact on the lives of the students who participated in it. Methodologically, it dialogued with health and education authors, performing a descriptive-analytical analysis of this field experience. As a result, we realize the importance of studying holistic practices, thinking about how they can be inserted into school daily life and the positive impacts on the lives of adolescents in the school institution analyzed.

Keywords: Holistic Practices. School daily life. Mental health. Notas

1 Sobre a auriculoterapia enquanto prática holística chinesa aprovada pela Organização Mundial de Saúde, veja Prado (2012).

2 Sobre a Biodanza, recomenda-se o livro de Rolando Toro (2002).

3 Os benefícios do Yoga nos transtornos de ansiedade são discutidos no artigo de Vorkapic (2011). 4 Sobre a regulação das emoções, veja Gonsalves e Souza (2015).

5 O planejamento pedagógico é dividido em duas partes. Na primeira delas, há uma vivência ou palestra com profissional da educação convidado e a outra é utilizada para informes e planejamento de ações mensais. 6 Para um maior aprofundamento sobre Ansiedade, veja Castillo (2000).

Referências

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