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MANEJO DA DOR NA ANESTESIA MODERNA.

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MANEJO DA DOR

NA ANESTESIA MODERNA.

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DOR - UM FENÔMENO DINÂMICO E COMPLEXO.

O processo da dor abrange dezenas de diferentes neurotransmissores e substratos químicos.1 De

modo geral, a dor se inicia com a ativação dos receptores sensoriais (nociceptores), que transmitem a informação da dor desde o sistema nervoso periférico até o sistema nervoso central (SNC) (Figura 1).2

Sinais nociceptivos, que podem decorrer

de procedimentos médicos ou de traumas cirúrgicos, podem iniciar alterações prolongadas nos sistemas nervoso periférico e central (Figura

2)1,3 A inflamação no local do trauma cirúrgico

induz sensibilização periférica, enquanto que

a exposição persistente ao estímulo nociceptivo aferente dos neurônios periféricos desencadeia a sensibilização central (Figura 1).1

O QUE É SENSIBILIZAÇÃO?

2

A sensibilização é definida como uma diminuição do limiar de dor, e um aumento na magnitude da resposta a estímulos nocivos. Ela se desenvolve como consequência de lesão e inflamação tissular. Receptores sensoriais, chamados nociceptores, transmitem a informação para o sistema nervoso central. Em resposta a estímulos nocivos, sua excitabilidade aumenta. Esta propriedade é chamada de sensibilização nociceptiva.

A dor nociceptiva é o resultado da ativação dos neurônios sensoriais periféricos de alto limiar, causada por intenso estímulo nocivo mecânico, químico ou térmico (ex.: a dor que resulta de uma lâmina de bisturi cortando a pele).

A dor inflamatória ocorre em resposta à inflamação do tecido. É o resultado da liberação de mediadores inflamatórios sensibilizantes que levam a uma redução do limiar dos

nociceptores presentes no tecido inflamado (sensibilização periférica).4

A dor neuropática é proveniente da lesão a nervos ou aos sistemas de transmissão

sensorial na medula espinhal e no cérebro.4

Figura 1. Trauma cirúrgico e sinais de dor.1

Tabela 1. Diferentes tipos de dor. A dor, que atua como um sinal de alerta, é classificada em nociceptiva, inflamatória e neuropática.4,5

(3)

A sensibilização periférica e a sensibilização central contribuem para um estado de hipersensibilização pós-operatória, conhecida como wind-up que é responsável pelo

desenvolvimento de hiperalgesia.1

O QUE É HIPERALGESIA?

Hiperalgesia é “uma resposta acentuada a um estímulo normalmente doloroso”.6 Pode ser

“primária” (redução do limiar da dor no local da lesão), ou “secundária” (redução do limiar da dor

nas áreas adjacentes ao tecido lesionado).1

A sensibilização central é dependente da ativação dos receptores de N-metil D-aspartato (NMDA).7

Além disso, foi demonstrado que o estímulo dos receptores de NMDA tem implicação no

desenvolvimento de dor crônica e de hiperalgesia induzida por opioides (HIO).8-11 A HIO é uma

condição observada em pacientes que se tornaram paradoxalmente mais sensíveis à dor quando

submetidos à terapia com opioides. A terapia pode potencialmente agravar a dor pré-existente.12

(4)

4

A eliminação (ou redução) da dor representa uma preocupação para inúmeras áreas, tais como

Odontologia, Obstetrícia, Procedimentos Ambulatoriais, Cirurgia, e Diagnóstico.13-18 Algumas

vezes pode parecer algo complexo.14,16,18

O manejo da dor pós-operatória com um único analgésico (abordagem unimodal) tem se

demonstrado inviável, provavelmente devido aos múltiplos mecanismos que envolvem a dor.19,20

No manejo da dor, recomenda-se a administração de duas ou mais drogas que promovam

analgesia através de mecanismos diferentes, pela mesma via ou por vias diferentes22.

Este conceito é, no entanto, pouco popularizado, o que pode explicar, pelo menos em parte, os

fracassos terapêuticos que resultam na conversão da dor aguda para dor crônica.23

O tempo de intervenção analgésica após o estímulo cirúrgico tem sido investigado. Embora a administração de analgesia tenha reduzido a dor em um certo grau, o seu benefício a

longo prazo foi insuficiente: não há redução da

hipersensibilização (Figura 2).21

Figura 2. Representação esquemática da analgesia pós-cirúrgica.21

A abordagem unimodal para alívio da dor não é eficaz.

Múltiplos mecanismos da dor: abordagem multimodal é necessária.

A analgesia administrada após a cirurgia é falha.

MANEJO DA DOR EM PROCEDIMENTOS

E CIRURGIAS: UM DESAFIO.

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Fatores biológicos, psicológicos e socioambientais ao longo das três fases do período perioperatório (pré, intra e pós-operatório) influenciam na evolução da dor

aguda para dor crônica.26 São vários os

fatores de risco específicos para a dor crônica (Tabela 2), por exemplo, tratamento clínico inadequado ou parcialmente eficaz no manejo da dor.5,19,27

Apesar de serem elementos distintos, a dor aguda e a dor crônica podem representar uma

continuidade.24A dor pode causar efeitos deletérios, tanto imediatos quanto de longo prazo.3

As condições de dor aguda que podem evoluir para dor crônica abrangem a dor pós-traumática e

pós-operatória.24 Para muitos pacientes, a dor continua a produzir sofrimento intenso, dominando

e desequilibrando sua qualidade de vida.5

Inúmeros fatores de risco associados ao desenvolvimento

da dor crônica.

DOR: IMPACTO NEGATIVO NA QUALIDADE DE VIDA.

A CRONIFICAÇÃO DA DOR.

A dor aguda evolui para dor crônica em 10 a 50% dos indivíduos após pequenas e grandes cirurgias,

tais como de hérnia, de tórax, amputação de membros inferiores e cirurgias de revascularização do

miocárdio.4 Alterações tanto no sistema nervoso central quanto no periférico podem resultar em

maior intensidade e duração da dor pós-operatória.1 A dor crônica pós-cirúrgica pode persistir por

mais de 1 ano (ex.: por até 10 anos após uma vasectomia).25

Tabela 2. Fatores de risco para dor crônica pós-operatória.27

Fatores pré-operatórios

Dor, moderada a severa, com mais de 1 mês de duração

Repetição de cirurgia

Vulnerabilidade psicológica (ex.: catastrofização) Ansiedade pré-operatória

Sexo feminino

Idade mais jovem (adultos) Predisposição genética

Fatores intraoperatórios

Abordagem cirúrgica com risco de dano neural

Fatores pós-operatórios

Dor (aguda, moderada a severa) Terapia com radiação no local Quimioterapia neurotóxica Depressão

Vulnerabilidade psicológica Neuroticismo

(6)

6

As manobras para prevenção da dor cirúrgica evoluíram desde a década de 80, a partir do conceito “preemptivo” (tratamento antinociceptivo administrado antes do estímulo doloroso ser gerado)

para um conceito mais abrangente e mais adequado, de analgesia “preventiva”.28,29

O objetivo da analgesia multimodal é melhorar o manejo analgésico, reduzir a administração de

opioides e minimizar seus efeitos colaterais (tais como náusea, vômito, constipação e retenção urinária), abreviar o período de internação, e reduzir os custos de tratamento.20,23,31

ESTRATÉGIA PREVENTIVA: O MELHOR CAMINHO

PARA O MANEJO DA DOR NA ANESTESIA GERAL.

ANALGESIA PREVENTIVA EM DETALHE.

A analgesia preventiva, que inclui o conceito de “preemptiva”, abrange as intervenções realizadas antes

ou após a incisão ou cirurgia (Figura 3), e compreende todos os esforços perioperatórios para diminuir a dor

pós-operatória e/ou o consumo de analgésicos.29 O objetivo

da analgesia preventiva é bloquear a transmissão do impulso nos aferentes primários antes, durante e após

a cirurgia, e interromper a cascata neuroquímica que leva à dor crônica por bloqueio do receptor

pós-sináptico e por neuroproteção dos interneurônios

antinociceptivos do corno dorsal.30

O conceito de analgesia preventiva vai além da analgesia preemptiva por considerar que a

sensibilização é induzida por outros fatores além dos impulsos nociceptivos periféricos.30

A prevenção da sensibilização central através de tratamento analgésico adequado pode

resultar em benefícios na fase de recuperação a curto prazo (diminuição da dor pós-operatória

e aceleração da recuperação) e a longo prazo (redução no desenvolvimento de dor crônica

pós-cirúrgica).19

A analgesia preventiva multimodal apresenta benefícios a curto

e longo prazo.

O FUTURO DA ANALGESIA PREVENTIVA.

Recentemente, inúmeros estudos promissores sustentam a estratégia preventiva pode reduzir a

incidência de dor crônica.32-34 Publicações recentes demonstram que o uso do óxido nitroso na fase

intraoperatória pode reduzir a incidência de dor crônica pós-cirúrgica.35-37

Figura 3. Representação esquemática da analgesia preventiva. (Adaptada da referência 21)

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MANEJO DA DOR NA

ANESTESIA MODERNA.

Multiplicidade dos mecanismos da dor

Receptor de NMDA possui papel principal no fenômeno da dor

Continuidade da dor (cronificação)

Benefícios da analgesia multimodal preventiva

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