Registro: 2014.0000082973 ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0000374-52.2012.8.26.0048, da Comarca de Atibaia, em que é apelante DARCY GOUVEIA GOMES, é apelado AUTOPISTA FERNAO DIAS S/A.
ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça
de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO CARLOS MALHEIROS (Presidente) e CAMARGO PEREIRA.
São Paulo, 11 de fevereiro de 2014.
Marrey Uint RELATOR
Voto nº 22.531
Apelação Cível nº 0000374-52.2012.8.26.0048 Comarca: ATIBAIA
Apelante(s): DARCY GOUVEIA GOMES Apelado(s): AUTOPISTA FERNÃO DIAS S/A
Obrigação de fazer Águas pluviais vindas de rodovia Drenagem é feita utilizando o leito natural do rio Perícia judicial constatando a inexistência de prejuízos ao imóvel do Autor Sentença de improcedência mantida Recurso não provido.
Cuida-se de ação de obrigação de fazer proposta por Darcy Gouveia Gomes, em face de Concessionária Auto Pista Fernão Dias objetivando a canalização de águas pluviais que escorrem da rodovia.
Alega que seu imóvel fica abaixo da pista e deve permitir a passagem das águas pluviais, mas de forma a não causar prejuízos ao seu imóvel. Requer a canalização das águas.
A sentença de fls. 218, prolatada pelo Juiz Rafael Pavan de Moraes Filgueira, julgou improcedente a ação, arcando o Autor com as custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da causa.
Apela o vencido (fls. 224/228)
situação de prejuízo, deve a Concessionária manter as águas pluviais de sua responsabilidade, longe de sua propriedade. Requer alternativamente a nulidade da decisão, pois houve cerceamento de defesa pela não produção da prova oral requerida.
É o relatório.
Versando a causa sobre questões apenas de direito (inciso I do artigo 330 do CPC), ou de direito e de fato, mas não havendo mais necessidade de produção de provas (inciso II, segunda parte), ou, na hipótese de revelia (inciso II), o magistrado deve proceder ao julgamento antecipado da lide.
Valendo ressaltar que o destinatário da prova é o Juiz, pois a ele compete formar o livre convencimento motivado a fim de dar a prestação jurisdicional.
Daí que o artigo 130 do Código de Processo Civil dispõe:
"Caberá ao JUIZ, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias".
Tendo o Juiz concluído que os
documentos juntados aos autos, bem como a perícia realizada eram suficientes para o deslinde da causa, as
outras eventuais provas requeridas mostraram-se
No mérito, o artigo 333 do Código de Processo Civil determina que incumbe a prova, à parte que fizer as alegações:
“Art. 333. O ônus da prova incumbe:
“I ao autor, quando for fato constitutivo do seu direito;
“II ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor;
“Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando:
“I recair sobre direito indisponível da parte;
“II tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
A sentença guerreada levou em consideração o laudo do perito judicial, de grande importância como auxiliar da justiça (artigo 139 do CPC), pois se os demais participantes da lide não possuem conhecimento técnico suficiente para aferir determinado direito, o laudo pericial se torna a principal prova que fundamenta a decisão judicial.
O perito judicial constatou às fls. 148/176 que a drenagem da rodovia no imóvel do Autor “é
feita utilizando o leito natural do córrego na faixa de domínio, não adentrando a propriedade” (fls. 168),
ilustrando a assertiva com fotos comprovando que não houve alteração do curso d'água.
O expert constatou que a erosão existente no fundo da propriedade relaciona-se com “a
não relacionadas com a drenagem” (fls. 170).
Conclui a perícia que as águas direcionadas para a propriedade do Autor caem diretamente no córrego existente em sua propriedade, não causando prejuízos ao imóvel.
Segundo ensinamento de Washington Monteiro de Barros (“Curso de Direito Civil”, 3º. vol., Direito das Coisas, 34ª. ed.): "Como lembra Sá Pereira, com esse
dispositivo, limita-se o legislador a sancionar uma lei da natureza; como as águas correm naturalmente de cima para baixo, de acordo com a lei da gravidade, o proprietário do prédio inferior é obrigado a recebê-las, quando advindas do prédio superior". "Mas referido ônus só atende, obviamente, com águas que corram por obra da natureza, como as pluviais e as nascentes, por outras palavras, as águas que brotem do solo e as que provenham das chuvas. De modo idêntico, incluem-se também o ônus as águas que derivam do derretimento da neve ou do gelo, bem como as que resultem de infiltrações". "Não se incluem no 'incommodum' do prédio inferior as águas extraídas de
poços, cisternas, piscinas e reservatórios, nem as
provenientes das fábricas e usinas, nem as elevadas artificialmente, nem as que escorrem dos tetos das casas". "Numa palavra, o proprietário do prédio inferior só é obrigado a suportar as águas que defluam naturalmente, em virtude da inclinação do terreno. Sendo disposição da
natureza, ninguém pode proibir o curso delas de cima para baixo". "Todavia, não se deve ser ele coagido a suportar o ônus se existe trabalho humano a modificar o curso das águas".
Assim, vê-se que o reclamo do Autor não procede, pois o perito judicial procedeu com a perícia no local por 3 vezes, não constatando qualquer dano causado pelas águas pluviais, como alega.
O Autor não conseguiu comprovar os prejuízos alegados, ônus que lhe cabia, nos termos do artigo 333, I, do CPC.
No mesmo sentido:
DIREITO DE VIZINHANÇA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INOCORRÊNCIA. DANOS PROVOCADOS POR ÁGUAS
PLUVIAIS ADVINDAS DE IMÓVEL SITUADO
TOPOGRAFICAMENTE EM NÍVEL SUPERIOR. OBRIGAÇÃO DO POSSUIDOR DE IMÓVEL INFERIOR DE RECEBER AS ÁGUAS QUE CORREM NATURALMENTE DO IMÓVEL SUPERIOR. ART. 1.288 DO CC/02. NÃO COMPROVAÇÃO DE OBRA QUE TENHA PIORADO A SITUAÇÃO DO REQUERENTE. ÔNUS QUE LHE IMPUNHA. ART. 333, INC. I, DO CPC. Cabe o julgamento da lide quando as questões suscitadas são resolúveis por meio de prova documental produzida nos autos. (...) Recurso desprovido.
Apelação n.º 0005265-67.2010.8.26.0281, Comarca de Itatiba, 27ª Câmara de Direito Privado, Relator Gilberto Leme, julgado em 26 de novembro de 2013.
Correta, pois, a sentença de
improcedência.
Em face do exposto, nega-se
MARREY UINT Relator