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PARECER TÉCNICO 1 INTRODUÇÃO

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_____________________________________________________________________________ Setor de Meio Ambiente

Av. Álvares Cabral, n.º 1690, bairro Santo Agostinho CEP: 30170-001 - Belo Horizonte – MG (31) 3330-8283 – E-mail: ceat@mp.mg.gov.br

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PARECER TÉCNICO

SGDP: 2721131 IDCEAT: 28114944

Município: Governador Valadares – MG

Solicitante: Dr. Leonardo Diniz Faria – 10a Promotoria de Justiça da Comarca de Governador Valadares

Referência: E-mail, datado de 29/07/2016 – Acompanhamento das coletas

de água pela empresa SAMARCO MINERAÇÃO S/A

1 INTRODUÇÃO

Este parecer tem como objetivo analisar os resultados do trabalho realizado no dia 05/07/2016, pela SAMARCO MINERAÇÃO S/A – Unidade Ubu - ES, bem como compará-los com os resultados das coletas realizadas pela CEAT-MA na mesma data (Ver Laudo Técnico IDCEAT No 26935311, datado de 26/07/2016), para avaliar a potabilidade da água distribuída no município de Governador Valadares.

Conforme já relatado no Relatório de Vistoria No IDCEAT 27885570, datado de 08/07/2016, a equipe contratada pela SAMARCO (Laboratório Tommasi Analítica – ES) coletou amostras de água na saída das Estações de Tratamento de Água – ETAs do município de Governador Valadares (ETA – Central, ETA – Vila Isa, ETA – Santa Rita, ETA – Recanto dos Sonhos e ETA – São Vitor) para a análise dos parâmetros pH, turbidez e metais.

Já no trabalho realizado pela CEAT-MA foram analisados, além dos parâmetros mencionados anteriormente, a cor aparente e concentração de coliformes totais, Escherichia coli, sólidos totais dissolvidos e cloro residual livre, tendo em vista que a água captada no Rio Doce apresenta características químicas, físicas e biológicas que traduzem uma série de processos que ocorrem na bacia hidrográfica e no corpo hídrico, sendo, portanto, essencial o monitoramento também desses parâmetros para garantir a potabilidade da água distribuída aos moradores.

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2/11 Nesse sentido, tendo em vista o Ofício /SAAE – 146/2015 e diante do grande número de reclamações e desconfiança da população acerca da qualidade da água consumida no município, após o rompimento da barragem (Ver Laudo Técnico IDCEAT No 26935311, datado de 26/07/2016) é importante mencionar que também foram realizadas coletas na rede de distribuição das ETAs avaliadas pela CEAT – MA (ETA – Central, ETA – Vila Isa e ETA – Santa Rita). Na Tabela 1, estão resumidas as principais diferenças entre o escopo dos trabalhos da SAMARCO e da CEAT-MA.

Tabela 1: Comparação entre os serviços realizados pela SAMARCO e CEAT-MA

ITEM SAMARCO CEAT – MA

1- ETAs monitoradas (Saída – Água Tratada)

Central, Vila Isa, Santa Rita, Recanto dos Sonhos e São Vítor

Central, Vila Isa e Santa Rita

2- Parâmetros Monitorados nas ETAS

Turbidez, pH e Metais Turbidez, pH, Metais, Cor Aparente, Sólidos Totais Dissolvidos, Cloro Residual Livre, Coliformes Totais e E-Coli

3- Laboratório Contratado para a análise dos parâmetros

Tommasi Analítica – ES e Bioagri Ambiental – Unidade Piracicaba – SP

Visão Ambiental Ltda – BH

4- Monitoramento na Rede de Distribuição

NÃO SIM, em 10 pontos da rede de

distribuição das ETAs-Central, Vila Isa e Santa Rita

5- Parâmetros Monitorados na Rede de Distribuição

NÃO Metais (Fe, Al e Mn),

Turbidez, pH, Cor Aparente, Sólidos Totais Dissolvidos, Cloro Residual Livre, Coliformes Totais e E-Coli.

6- Ocorrências - Sonda de medição de pH

utilizada pelo laboratório Tommasi, responsável pela coleta das amostras da SAMARCO, não possuía certificado de calibração ou qualquer informação acerca da data da última calibração. - Dispositivo de medição de turbidez utilizado pelo laboratório Tommasi estava com a calibração vencida e foi substituído pelo equipamento do SAAE.

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2 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nas Tabelas 2 a 4, estão apresentados os resultados dos parâmetros monitorados, tanto pela SAMARCO quanto pela CEAT-MA, na saída da ETA – Central, ETA – Vila Isa e ETA – Santa Rita, respectivamente.

Ressalta-se que os metais tóxicos e prejudiciais à saúde humana (arsênio, bário, cádmio, chumbo, cobre, cromo, mercúrio, níquel e selênio) não constam nestas tabelas, pois não foram detectados em concentrações superiores ao padrão de potabilidade em nenhum dos pontos monitorados pela SAMARCO e pela CEAT – MA.

Tabela 2: Resultados dos parâmetros monitorados pela SAMARCO e CEAT-MA na saída da ETA – Central (Segunda Coleta)**

RESULTADOS

PADRÃO DE POTABILIDADE*

SAMARCO CEAT-MA

Lab. Bioagri Lab.Tommasi Lab. Visão Ambiental

Turbidez 5 UNT 1,27 UNT 1,24 UNT 1,50 UNT

Alumínio 0,2 mg/L 0,0563 mg/L 0,059 mg/L 0,37 mg/L Ferro 0,3 mg/L 0,008 mg/L 0,047 mg/L 0,07 mg/L Manganês 0,1 mg/L 0,004 mg/L < 0,010 mg/L < 0,05 mg/L

pH 6,0 – 9,5 - 7,08 6,93

* Portaria do Ministério da Saúde No 2914, de 12/12/2011 (Portaria MS No 2914/2011)

** A coleta na saída da ETA – Central foi realizada, inicialmente, no período da manhã, antes

das 8 horas. Entretanto, foi informado pelos técnicos do SAAE que, no momento das coletas, estava sendo realizada a limpeza (retrolavagem) dos filtros da estação de tratamento, o que poderia alterar alguns parâmetros a serem analisados. Dessa forma, no final do período da manhã, foi realizada uma segunda coleta na saída da ETA – Central.

Tabela 3: Resultados dos parâmetros monitorados pela SAMARCO e CEAT-MA na saída da ETA – Vila Isa

RESULTADOS

PADRÃO DE POTABILIDADE*

SAMARCO CEAT-MA

Lab. Bioagri Lab.Tommasi Lab. Visão Ambiental

Turbidez 5 UNT 1,11 UNT 0,91 UNT 1,02 UNT

Alumínio 0,2 mg/L 0,0645 mg/L 0,087 mg/L 0,42 mg/L Ferro 0,3 mg/L < 0,001 mg/L 0,026 mg/L 0,07 mg/L Manganês 0,1 mg/L 0,003 mg/L < 0,010 mg/L < 0,05 mg/L

pH 6,0 – 9,5 - 6,64 6,63

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Tabela 4: Resultados dos parâmetros monitorados pela SAMARCO e CEAT-MA na saída da ETA – Santa Rita

RESULTADOS

PADRÃO DE POTABILIDADE*

SAMARCO CEAT-MA

Lab. Bioagri Lab.Tommasi Lab. Visão Ambiental Turbidez 5 UNT 0,1 UNT 0,29 UNT < 0,50 UNT Alumínio 0,2 mg/L 0,0214 mg/L 0,046 mg/L 0,41 mg/L Ferro 0,3 mg/L <0,001 mg/L < 0,010 mg/L 0,05 mg/L Manganês 0,1 mg/L 0,002 mg/L <0,010 mg/L < 0,05 mg/L

pH 6,0 – 9,5 - 6,79 6,88

* Portaria do Ministério da Saúde No 2914, de 12/12/2011 (Portaria MS No 2914/2011)

Conforme pode ser observado nas Tabelas 2 a 4, nenhum dos laboratórios contratados pela SAMARCO detectou parâmetros em desconformidade com o padrão de potabilidade na saída das ETAs – Central, Vila Isa e Santa Rita, sendo que nas ETAs – São Vitor e Recanto dos Sonhos, este resultado também se confirmou.

Entretanto, de acordo com as análises realizadas pelo Laboratório Visão Ambiental Ltda, contratado pela CEAT-MA, o alumínio apresentou, na saída das ETAs e em quase todos os pontos de amostragem na rede de distribuição (8 dos 10 pontos monitorados), concentrações acima dos limites estabelecidos na Portaria MS No 2914/2011, conforme apresentado na Tabela 5.

Ressalta-se que, mesmo após o procedimento de retrolavagem dos filtros, a concentração deste parâmetro permaneceu, na saída da ETA – Central, superior ao padrão de potabilidade (ver resultado do Ponto 7, apresentado na Tabela 5).

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Tabela 5: Concentração de Alumínio na saída das ETAs e nos Pontos do Sistema de Distribuição, determinada pelo Laboratório Visão Ambiental Ltda

Ponto Concentração de Alumínio (mg/L)

Padrão de Potabilidade (mg/L) – Portaria 2914/11

Ponto 1 – Saída da ETA – Central 0,64 0,20

Ponto 2 – Saída da ETA – Santa Rita 0,41 0,20

Ponto 3 – Saída da ETA – Vila Isa 0,42 0,20

Ponto 4 – Policlínica Central 0,54 0,20

Ponto 5 – Edifício Pioneiro 0,51 0,20

Ponto 6 – Escola Pref. Ronaldo Perim 0,50 0,20

Ponto 7 – Saída da ETA – Central, após a retrolavagem dos filtros

0,37 0,20

Ponto 8 – Mercado Municipal 0,42 0,20

Ponto 9 – Escola Helvécio Dame 0,51 0,20

Ponto 10 – Res.de Julieta Botelho 0,20 0,20

Ponto 11 – Hospital N.S. Graças 0,17 0,20

Ponto 12 – Igreja N.S. Fátima 0,34 0,20

Ponto 13 – Hospital Bom Samaritano 0,49 0,20

Cabe salientar que em 20 de novembro de 2015, durante as coletas realizadas pelo laboratório Visão Ambiental Ltda, sob a supervisão da CEAT-MA (Ver Laudo IDCEAT No 25985024, datado de 02/12/2015), a concentração de alumínio também não estava atendendo, na saída da ETA – Central, o padrão de potabilidade. Este fato foi corroborado pela Fundação Ezequiel Dias – FUNED, que realizou, a pedido da Superintendência Regional de Saúde – SRS/Vigilância Ambiental do município de Governador Valadares, a coleta de amostras nos dias 19/11/2015 (um dia antes da coleta da CEAT-MA) e 25/11/2015 (cinco dias após a coleta da CEAT-MA), tendo detectado na rede de distribuição da ETA – Central concentrações de alumínio em desacordo como o limite estabelecido pela Portaria MS No 2914/2011 (ver Parecer Técnico IDCEAT No 26345475, datado de 11/12/2015).

Ressalta-se que a presença de concentrações residuais de alumínio, acima do padrão de potabilidade, detectadas na água tratada, destinada ao abastecimento de Governador Valadares, pode ter como origem não somente a existência deste elemento na captação, como também a utilização de coagulantes, à base de sais de alumínio, no processo de tratamento (Ver Laudo Técnico IDCEAT No 26935311, datado de 26/07/2016).

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6/11 Nesse sentido, é conveniente destacar que, após o rompimento das barragens da SAMARCO MINERAÇÃO S/A, foi verificado que os níveis de alumínio estavam muito elevados na captação do Rio Doce, embora a sua concentração em águas naturais seja normalmente pequena (Laudo IDCEAT No 25985024, datado de 02/12/2015). Considerando que os rejeitos das barragens apresentam em sua composição elevadas concentrações deste metal, é bem possível que o alumínio tenha sido transportado ao longo do Rio Doce, ocasionando alterações na composição química em diversos trechos deste curso d’água, conforme a direção dos ventos, os índices pluviométricos e a vazão do rio.

Ademais, foi constatado que o uso do polímero de acácia negra foi interrompido e, portanto, apenas o sulfato de alumínio tem sido utilizado pelo SAAE como coagulante. Salienta-se que estudos realizados na China, Estados Unidos e Europa demonstraram que a utilização de sais de alumínio no processo de coagulação pode aumentar, significativamente, a concentração do metal nas águas tratadas (WANG et al., 2010).

Ressalta-se que o sulfato de alumínio tem sido o mais utilizado entre os coagulantes, especialmente devido ao seu baixo custo. Entretanto, a possível formação de um residual de alumínio tem sido considerado, nos últimos anos, um aspecto indesejado na prática do tratamento de água para o abastecimento.

O padrão de potabilidade do alumínio é 0,2 mg/L, o qual foi proposto não por critérios relacionados à saúde, mas, principalmente, por que o alumínio altera o aspecto e o gosto da água. No entanto, atualmente, não há dúvida acerca de que este elemento é extremamente neurotóxico, conforme constatado em inúmeros experimentos realizados em animais e humanos, sendo que o primeiro estudo científico, que demonstrou a neurotoxicidade do alumínio, foi realizado há mais de 100 anos por Siem e Döllken (FLATEN, T. P., 2001). Além disso, diversos efeitos resultantes da exposição crônica ao alumínio foram verificados em estudos realizados no Canadá (Health Canadá, 1998), tais como a encefalopatia, distúrbios psicomotores, danos no tecido ósseo sob a forma de osteomalácia e danos ao sistema hematopoiético sob a forma de anemia hipocrônica. Em um dos trabalhos científicos mais completos sobre este tema (RONDEAU et al., 2008), foi constatado que, a partir de valores superiores ou iguais a 0,1 mg/L de alumínio na água produzida para abastecimento público, o risco de demência e declínio cognitivo aumenta. Ademais, a encefalopatia é uma das principais manifestações observadas que indicam a neurotoxicidade do alumínio uma vez que prova que este elemento é capaz de se acumular no cérebro e induzir degeneração neurofibrilar e morte neuronal (RONDEAU et al., 2000).

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7/11 Há também outros estudos que indicam os efeitos deletérios da presença de alumínio no cérebro e que o consumo de alimentos e água contendo elevados teores de alumínio pode desencadear doenças neurodegenerativas (BAKAR et al., 2010). Em 1965, Klatzo e a sua equipe demonstraram que a injeção de sais de alumínio no cérebro de coelhos ocasionava a formação de nódulos neurofibrilares semelhantes àqueles encontrados em pacientes com a Doença de Alzheimer (Mal de Alzheimer). Outro estudo pioneiro foi dirigido por Crapper e publicado em 1973. Neste estudo foi demonstrado que os doentes com Mal de Alzheimer apresentavam concentrações de alumínio no cérebro 2 a 3 vezes maiores do que em indivíduos saudáveis (GUPTA, et al., 2005).

Cabe salientar que a grande preocupação despertada pela presença do alumínio nas águas destinadas ao abastecimento público reside no fato de que ele se encontra, predominantemente, sob a forma dissolvida, conforme demonstrado em diversos estudos e, portanto, sob a forma biodisponível e potencialmente mais tóxica, devido a facilidade de ser absorvido pelo organismo (National Environmental Health Forum, 1995).

Em face do exposto, é necessário esclarecer que a determinação do alumínio na água tratada pode ser feita por diferentes técnicas analíticas, tais como a espectrometria de absorção atômica com forno de grafite (método utilizado pelo laboratório Visão Ambiental, contratado pela CEAT-MA) e a espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (método utilizado pelo laboratório Bioagri, contratado pela SAMARCO). A escolha da técnica analítica adequada depende de vários fatores: preparo da amostra, limite de detecção das técnicas disponíveis, precisão, exatidão, faixa de concentração, interferências e tempo de análise.

De acordo com Cadore et. al (2008), a espectrometria de absorção atômica com forno de grafite, método utilizado pelo laboratório Visão Ambiental, consiste em uma técnica bem estabelecida e bastante utilizada em laboratórios de pesquisa, desenvolvimento e prestação de serviços e apresenta um limite de quantificação adequado para a determinação do alumínio em água potável. Já a espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS), método utilizado pelo laboratório Bioagri, é uma técnica utilizada em menor escala, em virtude de sua complexidade e elevado custo operacional. Embora, em relação a outras técnicas, seja mais sensível e apresente limites de detecção mais baixos, um dos aspectos críticos do método é a ocorrência de severos processos de interferências matriciais, que exige criteriosa seleção das condições de calibração. Por esse motivo, é mais aconselhável a utilização do ICP-MS quando a concentração do analito é baixa (Cadore et. al, 2008).

De qualquer forma, a aplicação efetiva de um determinado método também depende da habilidade do analista e das regras (protocolos) estabelecidas pelo laboratório, tanto para a coleta quanto para a análise das amostras.

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8/11 Cabe ressaltar que a CEAT-MA não acompanhou os procedimentos de análise das amostras realizados no Espírito Santo e em São Paulo pelos laboratórios contratados pela SAMARCO, Tommasi Analítica – ES e Bioagri Ambiental – Unidade Piracicaba – SP.

4 CONCLUSÃO/RECOMENDAÇÕES

A CEAT–MA ratifica o conteúdo do Laudo Técnico IDCEAT No 26935311, datado de 26/07/2016, pois com base nos resultados do monitoramento realizado pelo laboratório Visão Ambiental Ltda, verificou-se que a água distribuída pelo SAAE em Governador Valadares não atende os padrões de potabilidade, tendo em vista que o parâmetro organoléptico, alumínio, apresentou concentrações superiores aos limites estabelecidos na Portaria MS No 2914/2011 na saída das ETAs (Central, Vila Isa e Santa Rita) e em quase todos os pontos de amostragem (8 dos 10 pontos monitorados) na rede de distribuição.

Embora o padrão de potabilidade do alumínio (0,2 mg/L) tenha sido proposto não por critérios relacionados à saúde, mas, principalmente, por que este metal altera o aspecto e o gosto da água, atualmente, não há dúvida acerca dos seus efeitos crônicos à saúde humana. Em um dos trabalhos científicos mais completos sobre este tema (RONDEAU et al., 2008), foi constatado que, a partir de valores superiores ou iguais a 0,1 mg/L de alumínio na água produzida para abastecimento público, o risco de demência e declínio cognitivo aumenta. Ademais, conforme apresentado no item 3.1 do Laudo Técnico IDCEAT No 26935311, datado de 26/07/2016, inúmeros estudos demonstram que a presença do alumínio na água, em concentrações superiores ao padrão de potabilidade, pode contribuir para o aparecimento de algumas doenças no organismo humano, tais como a osteoporose e doenças neurológicas e alterações neurocomportamentais, incluindo a encefalopatia, esclerose lateral amiotrófica, doença de Parkinson, demência dialítica e Mal de Alzheimer.

Dessa forma, a possível presença de concentrações residuais de alumínio na água destinada ao abastecimento tem sido considerada, nos últimos anos, um aspecto indesejado da utilização de coagulantes, à base de sais de alumínio, no processo de tratamento. Este problema está relacionado não somente com o tipo de coagulante, mas também com a composição da água bruta e condições de funcionamento da estação de tratamento de água.

Nesse sentido, é conveniente destacar que, após o rompimento das barragens da SAMARCO MINERAÇÃO S/A, foi verificado que os níveis de alumínio estavam muito elevados na captação do Rio Doce, embora a sua concentração em águas naturais seja normalmente pequena.

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9/11 Considerando que os rejeitos das barragens apresentam em sua composição elevadas concentrações deste metal, é bem possível que o alumínio tenha sido transportado ao longo do Rio Doce, ocasionando alterações na composição química em diversos trechos deste curso d’água, conforme a direção dos ventos, os índices pluviométricos e a vazão do rio.

Além disso, foi constatado que o uso do polímero de acácia negra foi interrompido e, portanto, apenas o sulfato de alumínio tem sido utilizado pelo SAAE como coagulante.

Em face das evidências científicas acerca dos efeitos crônicos à saúde humana associados à exposição proveniente da ingestão de água, contendo o alumínio em concentrações superiores ao padrão de potabilidade, é imprescindível que o SAAE adote as medidas necessárias para a adequação deste parâmetro, tanto na saída das ETAs quanto na rede de distribuição.

Ressalta-se que a presença de alumínio na água tratada, em concentrações superiores aos limites estabelecidos na legislação vigente, é frequentemente atribuída a problemas na ETA, tais como deficiências existentes nos processos e operações e/ou na manutenção, bem como procedimentos de controle e gestão desajustados (NIQUETTE et al., 2004).

Entretanto, existem diversas opções para a redução das concentrações residuais de alumínio, após o tratamento convencional. Entre elas recomenda-se: utilizar o pH ótimo no processo de coagulação, evitar a superdosagem do coagulante, otimizar a velocidade das pás na floculação, aumentar a eficiência da etapa de filtração. Também pode ser avaliada a possibilidade da utilização de coagulantes alternativos, desde que esta decisão esteja embasada em estudos rigorosos de segurança e eficácia.

Sugere-se também que sejam monitorados, semanalmente, os parâmetros alumínio, manganês, ferro, cor aparente, turbidez, pH, sólidos dissolvidos totais, Escherichia coli, coliformes totais e cloro residual livre, na saída das ETAs de Governador Valadares (ETA – Central, ETA – Vila Isa, ETA – Santa Rita, ETA – Recanto dos Sonhos e ETA – São Vitor), bem como em pontos estratégicos de toda a rede de distribuição do município. Cabe salientar que o monitoramento deverá ser realizado por laboratório acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO ou homologado pela Rede Metrológica de Minas Gerais.

Finalmente, é necessário destacar que o presente trabalho foi realizado para atender um pedido emergencial da Promotoria de Justiça da Comarca de Governador Valadares, tendo em vista as variações de turbidez na água bruta (Rio Doce) nos últimos meses, a possibilidade de ocorrência de fortes chuvas e a notícia de continuidade da disposição de sedimentos oriundos da SAMARCO na calha do Rio Doce.

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10/11 No entanto, a vigilância da qualidade da água requer monitoramento constante, conforme previsto na Portaria No 2914/2011 do Ministério da Saúde.

Portanto, sugere-se também que seja solicitado à Secretaria Estadual de Saúde – SES uma inspeção sanitária em todas as ETAs do município de Governador Valadares, uma vez que, conforme consta no item 3.2 do Laudo Técnico IDCEAT No 26935311, datado de 26/07/2016, foi detectada a presença de coliformes totais na saída da ETA – Vila Isa.

Ademais, cabe às gerências regionais de saúde e secretaria estadual de saúde fiscalizar o atendimento à Portaria de todos os procedimentos adotados pelo SAAE, realizando, inclusive, em laboratórios de referência, amostragens e análises adicionais, para posterior comparação.

Colocamo-nos à disposição para eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários.

Belo Horizonte, 04 de agosto de 2016.

Paula Santana Diniz

Analista do Ministério Público – MAMP 2657

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REFERÊNCIAS

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CADORE, S.; MATOSO; E., SANTOS, M. C.; Química Nova 2008, Vol. 31, No.6, 1533-1542, 2008.

FLATEN, T. P. (2001). Aluminium as a risk factor in Alzheimer's disease, with emphasis on drinking water. Brain Research Bulletin, Vol. 55, No. 2, 187-196. Gupta, V. B., Anitha, S., Hegde, M. L., Zecca, L., Garruto, R. M., Ravid, R., et al. (2005). Aluminium in Alzheimer's disease: are we still at a crossroad? CMLS, Cellular and Molecular Life Sciences, 62, 143-158.

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