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ANÁLISE LITERÁRIA: OS ESTEREÓTIPOS DE BELEZA EM SHREK 1. O conto narra a estória de Shrek, um ogro que vive sozinho em um pântano, mas que

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Academic year: 2021

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ANÁLISE LITERÁRIA: OS ESTEREÓTIPOS DE BELEZA EM SHREK 1

Luciara dos Santos (UFS)

I. ENREDO

O conto narra a estória de Shrek, um ogro que vive sozinho em um pântano, mas que logo tem sua “tranqüilidade” perturbada quando seu lar é invadido por personagens de conto de fadas clássicos, os quais haviam sido expulsos dos seus lares pelo terrível Lorde Farquaad. Para recuperar sua “solidão”, o herói da estória firma acordo com o Lorde, e compromete-se em resgatar a Princesa Fiona, a noiva dos sonhos do nobre.

Durante o resgate o dragão fêmea que protegia o castelo apaixona-se pelo o Burro, fiel escudeiro de Shrek. Nesse mesmo instante o herói chega ao quarto mais alto, da torre mais alta e pega Fiona pelo braço e sai correndo, deixando-a decepcionada, pois ela esperava um nobre príncipe que a acordasse com um beijo, declamasse um poema épico e saíssem cavalgando em um belo alazão.

Após o resgate, o burro descobre que a princesa havia sido enfeitiçada quando criança, enquanto dia era uma linda princesa e a noite transformava-se em uma ogra verde, feia e gorda. O feitiço só seria quebrado quando ela recebesse o beijo do seu verdadeiro amor. Nas cenas seguintes Shrek e Fiona descobrem-se apaixonados, após um beijo o feitiço é quebrado, e a princesa assume sua verdadeira face.

O filme termina com o casamento do casal de ogros (Shrek e Fiona), com todos os personagens clássicos cantando e dançando na animada festa, e com o autor parafraseando a

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frase “e eles foram feios para sempre”.

II. INTRODUÇÃO

Com o crescimento da Literatura Infanto-Juvenil a partir dos anos 70 houve também um crescimento no mercado de livros infanto-juvenis e adaptações dos mesmos para o cinema. Tanto os livros quanto os filmes trazem questionamentos sobre as diferenças entre os seres humanos. E a Literatura Infanto-Juvenil, segundo Silva é também:

(...) exaltada como objeto de linguagem polissêmica, rica em conteúdos que aguçam a criatividade, passou a ser vista como objeto de redenção, capaz de levar os sujeitos ao mundo da imaginação e de questionamentos duplicadores e de uma visão de mundo crítica (...) (SILVA, 2002, p.12).

Observando essa importância da literatura infanto-juvenil na formação da criticidade de crianças e adolescentes, este trabalho pretende analisar como o estereótipo de beleza está exposto no filme Shrek 1, filme atual da Dream Works(2001), que traz em seu conteúdo indagações sobre o comportamento humano e fornece material que pode contribuir na formação da identidade de crianças e adolescentes.

O presente trabalho será de cunho bibliográfico, sendo utilizados livros de teoria, textos publicados na internet, leituras sobre psicologia e a produção fílmica.

III. SHREK – O FEIO BELO

A literatura, com toda sua importância, permite-se ser classificada como arte, ficção, capaz de criar uma supra-realidade. Por seu intermédio pode-se representar o mundo, o

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homem e a vida. Nelly Novaes Coelho, na obra o conto de fadas ressalta que:

A literatura é, sem dúvida, uma das expressões mais significativas dessa ânsia permanente de saber e de domínio sobre a vida, que caracteriza o homem de todas as épocas. (COELHO, 1987, p.10 e 11).

A literatura infanto-juvenil, por sua vez, em sua origem já mostrava-se como uma forte ferramenta no sentido de transmitir valores, construir comportamentos e de atuar sobre as mentes. E ainda hoje permanece com essa funcionalidade, contribuindo na formação de crianças e adolescentes, pondo-lhes em contato com a realidade, e também contribuindo no desenvolvimento crítico e criativo.

Assim, a escolha pelo filme Shrek 1 como produto de estudo, deve-se ao fato de o filme ter atraído a atenção de milhares de crianças, por apresentar a estória de um ogro e de uma princesa de forma bem-humorada.

Nele, William Steig, autor do livro, que foi adaptado para o cinema, apresenta um conto de fadas moderno (arquitetura, linguagens dos personagens...), e tem como um dos seus objetivos questionar pontos existentes em contos de fadas clássicos, como a questão da beleza, na qual o presente estudo irá se fixar.

O estereótipo de beleza vem provocando discussão entre os especialistas na tentativa de identificar até que ponto a busca desenfreada por uma estética perfeita está afetando as crianças e os adolescentes.

Essa valorização da estética pode ser presenciada abertamente nos contos de fadas clássicos, pois neles as personagens são estereotipadas, como por exemplo: as bruxas que são sempre feias, as princesas que são sempre belas, os príncipes e heróis das narrativas são sempre altos, fortes e de bela aparência...

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feio e sem modos, o que contraria a linha dos heróis convencionais encontrados nos contos clássicos e o enquadra na linha do maravilhoso satírico, pois durante toda sua narrativa, o autor utiliza de maneira clara situações familiares e elementos literários clássicos para denunciar comportamentos tidos como errados e até mesmo ridiculariza determinadas situações.

Maravilhoso satírico – narrativas que utilizam elementos literários do passado ou situações familiares, facilmente reconhecíveis, para denunciá-las como erradas, superadas... E transformá-las em algo ridículo. O humor é o fator básico dessa diretriz. (COELHO, 1997, p.142).

Nas primeiras cenas, Shrek mostra-se às margens da sociedade, pois ele mora sozinho num pântano e não permite que ninguém se aproxime dali. Essa aparente escolha pela solidão não é uma escolha livre da personagem, essa vida “a margem” foi imposta a ele pelas pessoas do seu cotidiano, devido ao preconceito e o modo como se comportavam quando o via (gritos e correria). Elas não conseguiam perceber que apesar da aparência grotesca, ele era doce e sensível. Essa rejeição o aprisionou naquele pântano sem que ele mesmo percebesse.

Trecho como esse levanta questões acerca das diferenças humanas, que se dá principalmente através da desigualdade física entre os seres, o que já foi citado por (ROUSSEAU, 1985, p 48) quando ele diz: “Concebo na espécie humana dois tipos de desigualdade: uma a que chama de natural ou física, por ser estabelecida pela natureza (...) a outra a que pode se chamar de desigualdade moral ou política”.

Outro ponto importante no enredo, no tocante a valorização a beleza em detrimento do ser, é quando o ogro salva Fiona e se apaixona, mas ele não acredita ser o seu príncipe encantado, pois é feio, não tem bons modos, é grosseiro e mora num pântano.

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inconsciente coletivo e obedecendo a uma identidade fixada, impediria que o ogro assumisse o título de esposo e príncipe da princesa. Mas, como se trata de um conto de fadas as avessas, ele vai de encontro ao convencional, pois o casal de ogros casa-se, e o valor antes dado a aparência, está agora voltado à essência do ser.

Estas histórias nos mostram exemplos muito claros na utilização do estereótipo entendido como uma forma arbitrária de fixar característica, o que acaba formando identidades e rotulando o sujeito, situando nele algo que o diferencia dos demais e que não permite avistar as suas características restantes... (BHABHA, 2001).

Pode-se ver também a supervalorização da beleza através da personagem do rei, o pai da princesa Fiona, quando ele a princípio não aceita o ogro como genro por causa justamente da aparência física. O rei se mostra tão influenciado pelo estereótipo de beleza criado pela sociedade, que ele mesmo esquece-se da sua verdadeira aparência, o rei era um sapo feio e verruguento. Quando sua natureza é revelada, é que ele aceita Shrek, rompendo assim com os preconceitos antes internalizados.

Os livros e os filmes usados como materiais didáticos no ensino da Literatura Infanto-Juvenil pelos professores devem ser bem trabalhados, para que as crianças consigam estabelecer uma boa relação entre o universo literário, o real e o universo interior. Durante esse período de aprendizagem, para que essa relação aconteça, torna-se necessário o uso de imagens, seja por ilustração nos livros ou nos filmes.

Através das estórias lidas ou assistidas, a criança passa a fazer uma ponte entre as ações praticadas pelos heróis e heroínas com a sua própria vida, e isso ajuda na resolução dos seus próprios problemas, seus próprios medos.

E isso pode ser confirmado por Nelly quando ela afirma que: “Intuitivamente, a criança compreenderá que tais estórias, embora irreais ou inventadas, não são falsas, pois

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ocorrem de maneira semelhante no plano de suas próprias experiências pessoais”. (COELHO, 1997, p. 52).

A partir das análises feitas pode-se observar que a questão de ordem estética é um dos principais motivos que levam a exclusão, neste sentido, cabe ao professor e a todo o profissional de educação observarem e analisarem a forma como as crianças e os adolescentes estão lidando com as temáticas apresentadas no livros e nos filmes infanto-juvenis.

Em seguida tais educadores devem também orientá-los nas discussões acerca dessas temáticas, pois estas trazem verdades que acabam formando estereótipos, os quais na maioria das vezes são negativos.

IV. CONCLUSÃO

A partir das análises da problemática do estereótipo de beleza no filme Shrek 1, pode-se identificar que na ficção assim como na realidade personagens e pessoas devido as suas diferenças físicas são julgadas e condenadas a exclusão social.

Diante da observação destes problemas, autores literários vêm preocupando-se em produzir obras que abordem essas diferenças, de modo que possibilite aos leitores, principalmente crianças e adolescente, uma reflexão capaz de ajudá-los na não utilização destes preconceitos.

A temática que este artigo se propôs trabalhar reforça o papel da Literatura Infanto-Juvenil na formação de identidade de crianças e adolescentes, através do ensino de valores humanos e sócio-culturais. Para que assim, as diferenças sejam entendidas e respeitadas.

Por perceber a importância da Literatura Infanto-Juvenil, este trabalho tem por objetivo principal facilitar o ensino/aprendizagem desta disciplina no universo acadêmico, no

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tocante a discussão aqui abordada.

E também contribuir para que os futuros professores discutam e orientem seus alunos acerca da problemática exposta, ajudando-lhes na observação e reflexão, tornando-os conscientes da complexa realidade em transformação do mundo atual. Deste modo, este trabalho poderá ser usado como fonte de pesquisa para futuras produções literárias.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BHABHA. H. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998. COELHO, Nelly Novaes. O conto de Fadas. São Paulo: Editora Ática, 1987.

________. Literatura Infantil: Teoria, Análise e Didática. São Paulo: Editora Ática, 1997. SILVA, José Ricardo Carvalho da. Leitura e Produção textual. Niterói – Muiraquitã, 2002. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Trad. por Iracema Gomes Soares e Maria Cristina Roveri Nagle. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.

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