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ISSN do Livro de Resumos: 2448-0010
A BAIXA TRANSPARENCIA DOS PROJETOS PÚBLICOS LIMITA O CONTROLE SOCIAL
Rafael Rudolfo Kreutz1; Mauro Mastella2.
1. Pós-Graduando, Curso de Especialização em Gestão Pública. Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS); 2. Professor Orientador
Mauro Mastella. Unidade de Porto Alegre. UERGS. E-mails: rafael.kreutz@gmail.com, mmastella@gmail.com
KREUTZ, R.; MASTELLA, M.. A BAIXA TRANSPARENCIA DOS PROJETOS PÚBLICOS LIMITA O CONTROLE SOCIAL. VI Salão Integrado Ensino, Pesquisa e Extensão, II Jornada de Pós-Graduação, I Seminário Estadual sobre Territorialidade, Brasil, jul. 2016. Disponível em: <http://conferencia.uergs.edu.br/index.php/SIEPEX/visiepex/paper/view/979>. Data de acesso: 23 Nov. 2016.
Resumo
De natureza quantitativa o estudo fundamentou-se com base em dois blocos. No primeiro, a partir da literatura recente, buscou-se apresentar uma fundamentação teórica dos temas abordados na pesquisa, sua importância para os projetos públicos e a relação entre a transparência e o controle social. O segundo, que consiste em uma etapa empírica, buscou-se identificar a influência da transparência dos projetos públicos no controle social. O objetivo foi verificar a existência de relação entre a transparência e a participação social. O método utilizado foi uma pesquisa quantitativa onde se aplicou um instrumento de coleta de dados para os estudantes, técnicos administrativos e professores da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. As evidências empíricas apontam para elevada importância da transparência, baixa transparência dos projetos públicos e baixa participação no controle social. Pode-se evidenciar ainda que o baixo nível da transparência nos projetos públicos influencia a baixa participação do controle social.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos pode-se perceber um grande aumento na cobrança da sociedade pelo fim da corrupção, mais investigação e consequentemente uma necessidade de maior divulgação das informações referentes aos atos praticados pelos agentes da administração pública. Isso se deve, em parte, à crise moral e ética que a sociedade tem vivido na atualidade. Fato esse, que pode ser evidenciado pela falta de credibilidade que a sociedade tem nas instituições públicas do país nos últimos anos. Como consequência cabe à sociedade se questionar frente a atual situação para saber até por quanto tempo os erros e os problemas vão continuar a acontecer de forma pouco transparente e que transpareçam despreocupação e irresponsabilidade dos detentores dos cargos públicos. Diante dessa situação, pode-se apontar que o setor público precisa aprimorar sua transparência e buscar mecanismos mais eficientes a fim de evitar práticas impróprias.
Na gestão de projetos públicos isso não é diferente. Uma maior transparência proporciona aos cidadãos meios para que os mesmos possam exercer seus direitos e consequentemente pode colaborar com o controle social. Cabe destacar aqui que a transparência efetiva e adequada possibilita o estímulo da participação social e fortalece a própria democracia (Lopes 2007).
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Entretanto, segundo Braga (2000), não basta o simples fato de tornar dados disponíveis para a sociedade para que uma organização seja transparente. Nesta pesquisa realizou-se uma análise sobre a influência da transparência nos projetos públicos e a propensão para a participação no controle social. O estudo levou em consideração que a busca da transparência no setor público administração pública é condição fundamental para que o cidadão possa ter acesso às informações e consequentemente possa contribuir para o avanço no processo de consolidação da democracia cidadã (Johnston 2002).
MATERIAIS E MÉTODOS
Quanto à forma de abordagem do problema, segundo Sampieri et al. (2006), o enfoque quantitativo utiliza a coleta e análise de dados para responder às questões de pesquisa estabelecidas previamente, e confia na medição numérica, na contagem e frequentemente no uso de estatísticas para estabelecer com exatidão padrões de comportamento de uma população. A opção por um enfoque quantitativo sustenta-se no fato de que o presente estudo busca analisar a influência da transparência dos projetos públicos na participação e no controle social.
Este estudo tem como população a comunidade universitária da Uergs, que é composta de 270 professores, 190 técnicos administrativos e 3800 estudantes. A seleção da amostra em uma pesquisa exploratória, que é o caso desta, tem por objetivo compreender as relações entre os participantes e suas diferentes proposições. Dessa forma, tem-se que a amostra deve ser escolhida com a intenção de proporcionar a melhor oportunidade na observação da situação ou objeto estudado (Selltiz et al., 1972).
A amostra do presente estudo se caracteriza como não probabilística por conveniência e intencional. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de formulário a comunidade acadêmica da Uergs. De acordo com Selltiz et al. (1972) e Sampieri et al. (2006), o pesquisador tem a liberdade de definir a maneira e a estrutura dos tópicos a serem abrangidos no projeto de pesquisa. No presente estudo, como se optou pelo enfoque quantitativo, o instrumento de coleta de dados foi feito através de formulário padronizado ou estruturado com roteiro previamente definido.
O roteiro do formulário foi composto dezoito afirmações divididas em três blocos. O primeiro apresentou seis afirmações sobre a importância da transparência. O segundo, seis afirmações sobre a transparência da administração pública nos projetos públicos. Por fim, o terceiro bloco apresentou seis afirmações sobre a influência da transparência e a propensão a participação do controle social.
Blocos de afirmações do formulário de coleta de dados
Bloco B - Importância da transparência nos projetos públicos
Bloco C – Visão sobre a atual transparência dos projetos públicos
Bloco D – A transparência e a propensão ao controle social.
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B1 - Uma maior
transparência do setor
público colabora na redução da corrupção em projetos.
C1 - É fácil encontrar
informações detalhadas dos projetos públicos tais como:
recursos financeiros
aplicados, critérios de seleção,
situação de andamento,
problemas e dificuldades e previsão de conclusão.
D1 - Participo do controle
social de projetos públicos, exercendo minha cidadania.
B2 - Maior transparência melhora a alocação de recursos em projetos públicos. C2 - A administração pública é transparente na elaboração e
execução dos projetos
públicos.
D2 - Acompanho como
cidadão o andamento dos projetos públicos da minha cidade e/ou estado e/ou país.
B3 - A transparência deveria
ser condição mínima na gestão de projetos públicos.
C3 - É fácil encontrar
informações detalhadas e
atualizadas sobre projetos
futuros a serem realizados pela administração pública.
D3 - Tenho conhecimento
dos problemas e atrasos que acontecem nos projetos a
partir de informações
públicas.
B4 - É necessário que a
administração pública seja transparente em todas as
fases da execução dos
projetos públicos.
C4 - As informações dos
projetos públicos são
amplamente divulgadas pela administração pública.
D4 - Se houvesse maior
transparência, me envolveria mais no controle social.
B5 - A divulgação de
informações consolidadas
em relação às etapas já
realizadas em projetos
públicos é suficiente para que haja transparência.
C5 - A administração pública
se preocupa em realizar uma
transparência efetiva dos
projetos públicos.
D5 - O controle social é
importante na gestão dos projetos públicos.
B6 - A transparência é
necessária para maior
participação social.
C6 – Considero suficiente a
transparência dos projetos
públicos realizada pelo setor público.
D6 - Sinto que, ao controlar
os projetos públicos, estou sendo útil para a sociedade.
Para responder as afirmações foi apresentada uma escala de concordância sendo: discordo totalmente (1); discordo parcialmente (2); não discordo nem concordo (3); concordo parcialmente (4); concordo totalmente (5). Ao participante foi permitida uma única marcação para cada afirmação, sendo obrigatória a resposta a todas as afirmações. O formulário para coleta de dados foi
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disponibilizado impresso e online para a comunidade acadêmica da Uergs durante os dias oito a dezoito de abril de 2016.
No que tange a análise dos dados coletados, a mesma foi feita por meio do procedimento de análise das informações resultantes das respostas dos participantes. A finalidade dessa etapa, no presente estudo, é identificar indícios e índices postos em evidência através das respostas coletadas. No presente trabalho, essa atividade consistiu em realizar os seguintes passos: coleta de dados, tabulação dos dados, elaboração da matriz de análise dos resultados, conforme demonstrado na figura 1.
Figura 1 - Três passos de análise
O segundo procedimento adotado nesta pesquisa foi a elaboração de uma planilha de tabulação das respostas dos participantes. Essa tabulação fez-se necessária para viabilizar o processo de análise dos resultados. As informações foram lançadas em uma planilha sendo dividida em linhas e colunas. Nas linhas foram lançadas as informações de cada um dos participantes. Sendo assim, a planilha final conteve 261 linhas, pois foram 261 os participantes da pesquisa. Nas respectivas colunas foram lançadas as repostas das afirmações do formulário. As afirmações foram substituídas por códigos de identificação. O bloco A de perguntas do formulário foi composto de perguntas gerais de identificação como sexo, nível de escolaridade, profissão e idade. As mesmas foram substituídas por códigos de identificação sendo elas: A1, A2, A3 e A4 respectivamente. Já o bloco B, C e D foram compostos de seis afirmações cada um, quando os participantes eram convidados a responder conforme sua convicção de concordância. Foram apresentadas cinco opções de respostas, sendo elas: discordo totalmente; discordo parcialmente; não concordo nem discordo; concordo parcialmente; concordo totalmente, cujos pesos corresponderam respectivamente a 1, 2, 3, 4 e 5. O resultado parcial da tabulação das respostas aos formulários pode ser visto na tabela 1.
Tabela 1 – Tabulação dos dados do formulário
A1 A2 A3 A 4 B 1 B 2 B 3 B 4 B 5 B 6 Femini no Superior Incompleto Estudante 2 2 4 5 5 5 2 3 Mascul ino Superior Incompleto Estudante 2 9 5 5 5 5 3 3 Femini no Superior Completo Técnico Administrativo 4 2 5 5 5 5 4 5 Coleta dos Dados
Tabulação dos dados Matriz de resultado
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Mascul ino Especializaçã o Técnico Administrativo 2 8 5 5 5 5 4 5 Femini no Mestrado Professor 3 8 4 5 5 5 2 5 Mascul
ino Doutorado Professor
3
4 4 4 5 5 3 4
O terceiro passo da análise apresenta os resultados das respostas dos participantes detalhando o número de respostas por afirmação e por blocos, bem como também um detalhamento das respostas em termos percentuais. A matriz foi elaborada com base nos resultados da tabulação de dados. Nas linhas foram tabuladas as respostas das afirmações, conforme dados da tabulação. Foi analisado o número de respostas por afirmação e a sua representação em termos percentuais.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao final da coleta de dados obteve-se o total de 290 participantes. Destes, 29 não puderam ser considerados por problemas de preenchimento do TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) ou de alguma das afirmações do formulário. Logo, a pesquisa obteve 261 questionários válidos. Desse total, 97 são (37%) do sexo masculino e 164 (63%) do sexo feminino. Entre as categorias, o resultado foi de 60 (23%) professores, 75 (29%) técnicos administrativos e 126 (48%) estudantes. Quanto ao grau de instrução temos: 37 doutores, 27 mestres, 33 especialistas, 38 com superior completo, 117 com superior incompleto e 9 com ensino médio apenas.
Os resultados parciais categorizados por professores, técnicos administrativos e estudantes estão ilustrados na tabela 2.
Tabela 2 – Resultados parciais da tabulação dos dados
Resultados Gerais Res p. B1 B2 B3 B4 B5 B6 BL1 5 17 1 65,52 % 16 1 61,69 % 22 7 86,97 % 21 5 82,38 % 37 14,18 % 16 4 62,84 % 163 62 % 4 79 30,27 % 81 31,03 % 29 11,11 % 42 16,09 % 11 4 43,68 % 68 26,05 % 69 26 % 3 6 2,30 % 12 4,60% 1 0,38% 0 0,00% 27 10,34 % 19 7,28% 11 4% 2 4 1,53 % 5 1,92% 3 1,15% 4 1,53% 53 20,31 % 8 3,07% 13 5% 1 1 0,38 % 2 0,77% 1 0,38% 0 0,00% 30 11,49 % 2 0,77% 6 2%
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Tot al 26 1 100,0 0% 26 1 100,0 0% 26 1 100,0 0% 26 1 100,0 0% 26 1 100,0 0% 26 1 100,0 0% 2 61 100 %
Os resultados evidenciam que:
• Os participantes julgam importante a transparência dos projetos públicos;
• 88,89% dos participantes concordam parcial ou totalmente com a afirmação “A
transparência é necessária para maior participação social”.
• As respostas dos participantes das três categorias foram similares.
• A respeito da transparência na atualidade, não há uma convicção formada sobre o tema. • 70% concordam parcialmente ou totalmente que “se houvesse maior transparência, me
envolveria mais no controle social”, demonstrando propensão a maior a participação
no controle social, inclusive por se julgarem úteis à sociedade quando isso acontece. Logo, os participantes destacaram a relevância da transparência para a gestão de projetos, ao mesmo tempo em que julgam que está ainda é ineficiente na atualidade. Notável também a existência da relação entre o nível de transparência e a propensão participativa no controle social.
No entanto, somente 7,66% dos participantes concordaram que o controle social de projetos públicos legitima o exercício pessoal da cidadania. Logo, fica evidente que atualmente existe um baixo número de pessoas que tem tido interesse em participar do controle social.
Os principais resultados indicam que: a) maioria dos participantes identifica como importante a transparência nos projetos públicos; b) maioria dos participantes julga insuficiente a transparência realizada atualmente pela administração pública; c) apesar da maioria considerar importante o controle social, poucos realizam efetivamente o acompanhamento dos projetos nas suas cidades, estado ou país; d) não houve diferença significativa dos resultados entre as diferentes categorias pesquisadas, tampouco entre os diferentes níveis de instrução.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho não pretende exaurir o tema abordado. Contudo, permite identificar na percepção dos membros da comunidade universitária a influência da transparência no controle social. A efetiva transparência pode ser vista como ferramenta para reduzir abusos e corrupção em nosso país e oportuniza a participação social.
Em função do presente estudo ter sido desenvolvido com enfoque quantitativo e de caráter exploratório com os membros da comunidade universitária da Uergs, há dificuldade ou, até mesmo, impossibilidade de generalização dos resultados aqui apresentados. Embora em algumas categorias as respostas tenham sido estatisticamente diferentes não é possível afirmar que exista uma relevante e significativa diferença nas respostas. Porém, estes resultados parecem contribuir sendo mais uma referência para futuros estudos e para pesquisadores interessados na compreensão da percepção do cidadão quanto a influência da transparência no controle social de projetos públicos.
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Como análise complementar, sugere-se aplicar a mesma pesquisa em instituições privadas ou para indivíduos que não tenham vínculo com a área pública, a fim de verificar se os resultados serão similares.
REFERENCIAS
Braga, Ascenção. A Gestão da Informação. Millenium. N.º 19, junho de 2000. Disponível em: http://repositorio.ipv.pt/bitstream/10400.19/903/1/A%20GEST%C3%83O%20DA%20I NFORMA%C3%87%C3%83O.pdf. Acesso em 20 de abril de 2016.
Johnston, M.. Agentes públicos, interesses particulares e democracia sustentável: Quando política e corrupção se unem. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002.
Lopes, C. A. (2007). Acesso a informação pública para a melhoria da qualidade dos gastos públicos: literatura, evidências empíricas e o caso brasileiro. Cadernos Finanças Públicas, Brasília, n. 8, p. 5-40, dez.
Sampieri, R. H.; Collado, C. H.; Lucio, P. B.. Metodologia da pesquisa. Tradução de Fátima Conceição Murad; Melissa Kassner; Sheila Clara Dystyler Ladeira. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.
Selltiz, Claire et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Herder/ Editora da Universidade de São Paulo, 1972.