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Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica. Joana Filipa Mendes Rações

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Academic year: 2021

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I

Análise de fatores ambientais e dietas utilizadas na reabilitação de animais

marinhos – Golfinho-comum (Delphinus delphis)

e Tartaruga-boba (Caretta caretta)

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Joana Filipa Mendes Rações

Orientadores:

Prof. José Júlio Gonçalves Barros Martins

Prof. Ana Luísa Guimarães Dias Lourenço

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III

As doutrinas apresentadas são da exclusiva responsabilidade do autor

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V

Em memória da minha Avó Alice, que sempre acreditou no meu sucesso

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VII

Agradecimentos

No final desta fase importante da minha vida, gostaria de agradecer a todos aqueles que acreditaram em mim e que me apoiaram nesta aventura, tornando possível a realização desta dissertação.

Agradeço aos meus orientadores, Professora Ana Luísa Lourenço e Professor José Júlio Martins por terem aceitado orientar-me e por todo o auxílio que me facultaram.

A toda a equipa do Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios um grande obrigado por mais uma vez me “abrirem as portas” e me acolherem tão bem. Sem eles nada teria sido possível, oferecerem-me um diamante em bruto e eu só tive de o trabalhar.

Quero agradecer em especial à minha grande amiga Dra. Sara Mendes, por todos os conselhos, críticas, sugestões e principalmente, preocupação. Obrigada pela oportunidade, pelas boleias, pela amizade.

A todos os meus amigos de Setúbal, de Évora, colegas do Badoca, agradeço pela paciência, por me ouvirem dias e dias seguidos a falar sobre a tese, a todos aqueles que aturaram as minhas frustrações, as minhas melancolias, um grande obrigado. Especialmente, à minha amiga Andreia “Serpa” que foi quem mais me ouviu nestes últimos meses; e à minha “Caroline” detetora de erros, que foi a primeira pessoa a ler este trabalho duma ponta à outra.

Ao meu namorado Sérgio, que sempre me apoiou e que soube como me acalmar nos momentos em que mais precisei.

Aos meus pais, a quem devo tudo o que tenho alcançado, um muito obrigado por serem os melhores. O vosso apoio nos momentos mais difíceis foi fundamental. Obrigado por acreditarem em mim.

Por último, agradeço a todos os animais que têm feito parte da minha vida, aos que são amigos, aos que são família, aos que são o meu trabalho, até aos que são apenas meus conhecidos, um muito obrigado por darem sentido à minha vida.

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IX

"Os delfins namorados, entretanto Lá nas covas marítimas entraram Fugindo à tempestade e ventos duros Quem nem no fundo os deixa estar seguros" Luís de Camões - “Os Lusíadas”, Canto VI, estância 77

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XI

Resumo

Neste trabalho foram abordadas duas espécies de animais marinhos comuns na costa portuguesa, o golfinho-comum e a tartaruga-boba. Estas duas espécies ocorrem em centros de reabilitação em Portugal dada a sua passagem frequente pela costa portuguesa, sendo bastante suscetíveis de serem afetadas pelas atividades antropogénicas. Existem, por vezes, dificuldades na reabilitação de animais marinhos, especialmente devido à exigência de água salgada, instalações apropriadas e controlo de fatores ambientais, como a temperatura da água.

A parte prática deste trabalho teve como objetivo o acompanhamento e caracterização das condições de reabilitação de animais marinhos no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios (CRAM-Q), na Figueira da Foz, tendo sido realizados dois estudos distintos para duas espécies diferentes.

Num dos estudos estiveram envolvidas duas fêmeas de golfinho-comum (Delphinus delphis). A recolha de dados teve uma duração de 12 meses, onde foram analisados os efeitos das estações e dos meses do ano em três variáveis: peso vivo (PV) do animal, inestão média diária de alimento (IMD) e ganho médio diário de peso (GMD). Analisou-se também a quantidade e tipos de alimento ingerido ingeridos, assim como, os consumos de nutrientes. Verificaram-se diferenças significativas no efeito das estações no PV dos dois animais, no entanto para IMD apenas se verificou para um dos animais; menor IMD de alimentos nas estações mais quentes.

Realizou-se um estudo semelhante com 13 tartarugas-bobas (Caretta caretta), que incluiu todo o período em que cada uma delas permaneceu no CRAM-Q, sendo se registou a quantidade e tipo de alimento oferecido e foi analisado o seu efeito no peso vivo (PV) ao longo do período de recuperação. Analisou-se quais os motivos de entrada destes animais, situações clínicas, período de reabilitação, meses e anos em que deram entrada no centro e regiões de onde foram recolhidos os animais. Verificou-se uma taxa de sucesso de reabilitação de 71%; traumatismos são as situações mais comuns e com maior período de reabilitação; diferenças significativas para o efeito do mês e ano nas entradas de tartarugas no centro; todos os animais com sucesso de reabilitação apresentaram aumento de PV;

Com este trabalho tentou-se aprofundar o conhecimento relativamente à reabilitação destas duas espécies de animais marinhos em reabilitação.

Palavras chave: golfinho-comum; Delphinus delphis; tartaruga-boba; Caretta caretta;

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XIII

Abstract

Two species of marine animals from the Portuguese coast were studied, the common dolphin (Delphinus delphis) and the loggerhead turtle (Caretta caretta). These two species are common in Portuguese rehabilitation centers as they frequently pass by the Portuguese coast line and therefore are quite likely to be affected by anthropogenic activities. The rehabilitation of marine animals can be complicated, especially due to the requirement of salt water, appropriate facilities, and control of environmental factors, such as water temperature.

For the practical part of this article, the rehabilitation conditions of marine animals under treatment in Marine Animal Rehabilitation Center of Quiaios (CRAM-Q), in Figueira da Foz, were monitorized and characterized performing two separate studies for the two different species.

In the first study two common dolphin (Delphinus delphis) females were observed. The data was compiled during 12 months period, where the effects of seasons and months of the year on three variables were analyzed: body weight (BW) of the animal, average daily intake of food and average daily gain of BW. Also analyzed were the amount and types of food consumed, as well as the nutrients consumed. There were significat diferences in the effect of the seasons on the BW of the animals; and less ingestion in the warm seasons.

A similar study was performed on 13 loggerhead turtles (Caretta caretta), which during the period in which each one of them remained in CRAM-Q, for all of them were recorded the amount and type of food offered with its effect on body weight (BW) during the recovery period were recorded and analyzed. The reasons for entry of these animals, their respective clinical situations, rehabilitation period depending on the clinical condition of the animal, months and years received at the center and the collection area where the animals were all analized respectively. There was a rehabilitation success rate of 71%; inh«juries were the most common situation and with a longer period of rehabilitation; the month and year had a significant effectd on the entries of animals on the center; all the animals rehabilitated whit success showed an increase of BW.

This study has attempted to deepened the knowledge about the rehabilitation of these two species of marine animals undergoing rehabilitation treatments.

Keywords: common dolphin; Delphinus delphis; loggerhead turtle; Caretta caretta;

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XV

Índice Geral

Resumo ... XI Abstract ... XIII Índice de Quadros ... XVII Índice de Figuras ... XIX Índice de Gráficos ... XIX Lista de Siglas e Abreviaturas ... XXI

Introdução Geral ... - 1 -

I) Revisão Bibliográfica ... 3

-1. Delphinus delphis ... - 3 -

1.1. Anatomia, Fisiologia e principais caraterísticas do Golfinho-comum ... - 3 -

1.1.1. Caracterização e Classificação Taxonómica ... - 3 -

1.1.2. Caraterísticas do golfinho-comum ... - 7 -

1.2. Distribuição do Golfinho-comum ... - 9 -

1.3. Alimentação e Nutrição do Golfinho-comum ... - 11 -

2. Caretta caretta ... - 15 -

2.1. Anatomia, Fisiologia e principais caraterísticas da Tartaruga-boba ... - 15 -

2.1.1. Caracterização e Classificação Taxonómica ... - 15 -

2.1.2 Caraterísticas da tartaruga-boba ... - 15 -

2.2. Distribuição da Tartaruga-boba ... - 17 -

2.3. Principais ameaças à Tartaruga-boba... - 18 -

2.4. Alimentação e Nutrição da Tartaruga-boba ... - 19 -

3. Os arrojamentos em Portugal ... - 19 -

4. A importância da conservação de espécies marinhas ... - 22 -

5. Resgate de animais marinhos ... - 22 -

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XVI

II) Componente experimental ... 29

1. Introdução... - 29 -

2. Estudo 1 - Delphinus delphis ... - 31 -

2.1. Materiais e Métodos ... - 31 - 2.1.1. Animais ... - 31 - 2.1.2. Instalações ... - 34 - 2.1.3. Maneio alimentar... - 34 - 2.1.4. Análise estatística ... - 35 - 2.1.5. Resultados ... - 36 -

3.Estudo 2 - Caretta caretta ... - 43 -

3.1. Material e Métodos ... - 43 - 3.1.1. Animais ... - 43 - 3.1.2. Instalações ... - 44 - 3.1.3. Maneio alimentar... - 44 - 3.1.4. Análise estatística ... - 46 - 3.1.5. Resultados ... - 46 -

III) Considerações Finais... 63

1. Conclusões dos resultados do estudo 1 ... - 63 -

2. Conclusões dos resultados do estudo 2 ... - 64 -

IV) Bibliografia... 65

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-XVII

Índice de Quadros

.….página:

Quadro 1 – Principais diferenças entre as subordens de cetáceos Odontoceti e Mysticeti………3

Quadro 2 – Necessidades energéticas de algumas espécies de odontocetes (Kcal/Kg/dia)……… 13

Quadro 3 – Efeitos da estação (média  erro padrão da média) no Peso Vivo (PV), Ingestão Média Diária (IMD) e Ganho Médio Diário (GMD)………...………..35

Quadro 4 – Quantidade de alimento ingerido (g) em natureza (N) e em matéria seca (MS), para os dois animais Barra (B) e Martinha (M), e respetivos valores para o tipo de alimento e principais nutrientes………36

Quadro 5 – Datas de entradas e saídas (libertação, morte ou transferência) das tartarugas……….41

Quadro 6 – Composição da papa de peixe………...…43

Quadro 7 – Principal motivo de entrada no centro……….……….44

Quadro 8 – Situação clínica………...……..…45

Quadro 9 – Motivo de saída do centro/situação em que se encontra………..46

Quadro 10 – Período de permanência no centro – média de dias em função da situação clínica………...47

Quadro 11 – Efeito da situação clínica do animal no período de peabilitação (dias)………..49

Quadro 12 – Ano e meses de entradas dos animais no centro………...………50

Quadro 13 – Local de recolha dos animais………...………51

Quadro 14 – Animais com sucesso de reabilitação: pesos (Kg) de entrada e de saída do centro de reabilitação e respetivo período de reabilitação (dias) e idade………...……….52

Quadro 15 – Animais sem sucesso de reabilitação: pesos (Kg) de entrada e de saída do centro de reabilitação e respetivo período de reabilitação (dias) e idade………53

Quadro 16 - Ingestão média de alimento (g) por meses………..53

Quadro 17 – Efeito do mês na ingestão média de alimento (MS) g/Kg PV/dia……….…………..54

Quadro 18 – Ingestão média de cada tipo de alimento (g) em natureza durante a reabilitação……….…..54

Quadro 19 – Ingestão média de alimento (MS) g/Kg PV/dia por estações, por animal…………...55

Quadro 20 – Efeito da estação do ano na ingestão média de alimento (MS) g/Kg PV/dia……….…….56

Quadro 21 – Animais com sucesso de reabilitação: alimento total ingerido por animal por dia durante a reabilitação e respetiva ingestão total de energia e principais nutrientes……….57

Quadro 22 – Animais com sucesso de reabilitação: alimento total ingerido por animal por dia durante os últimos 2 meses de reabilitação (até à libertação) e respetiva ingestão total de energia e principais nutrientes…………....57

Quadro 23 – Animais sem sucesso de reabilitação: alimento total ingerido por animal por dia durante a reabilitação e respetiva ingestão total de energia e principais nutrientes……….……...58

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XIX

Índice de Figuras

.….página:

Figura 1 - Representação da morfologia externa de Misticetes………...……4

Figura 2 - Representação da morfologia externa de Odontocetes………...…………...…………4

Figura 3 - Diferenciação sexual de cetáceos………..………5

Figura 4 - Imagem representativa de um golfinho-comum (Delphinus delphis) e suas caraterísticas………...7

Figura 5 - Localização de golfinho-comum, golfinho roaz e “outras espécies” de cetáceos registados entre 1997 e 1999………..…...10

Figura 6 – Ilustração de uma tartaruga-boba (Caretta caretta)………...……….14

Figura 7 – Primeiras medidas de assistência a um cetáceo arrojado na praia………...…23

Figura 8 - Sequência de medidas de resgaste de um cetáceo em arrojamento, desde as primeiras medidas de assistência na praia, até à sua devolução ao mar……….………..24

Figura 9 - Equipamentos e métodos de transporte de cetáceos………...……….………25

Figuras 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16 – Exemplos de várias espécies de animais marinhos reabilitados no CRAM-Q (1-foca-cinzenta; 2-golfinho-comum; 3-gaivotas; 4-libertação de um ganso-patola; 5-tordas-mergulhadeiras; 6-tartaruga-de-couro; 7-papagaio-do-mar)……….27

Figura 17 – Os dois golfinhos juntos………...30

Figura 18 – Golfinho M - Martinha……….……31

Figura 19 – Golfinho B - Barra……….…...31

Figura 20 - Imagem representativa do tanque, com respetivas dimensões………...32

Figura 21 - Imagem representativa dos tanques, com respetivas dimensões………....42

Figura 22 e 23 – A tartaruga Alana, com a barbatana direita dianteira amputada……….………45

Figura 24, 25 e 26 – Libertação de Alana, Storm e Pseudo………..46

Figura 27 – Percurso realizado por Julieta desde a sua libertação………..…..47

Figura 28 – Tartaruga Julieta após ser libertada, com a antena que emite o sinal da sua localização por satélite...48

Figura 29 – Percurso realizado por Pseudo desde a sua libertação………...48

Índice de Gráficos .….página: Gráfico 1 – Quantidade de alimento ingerido (g) em natureza, por estações, para os dois animais (B - Barra; M - Martinha)……….37

Gráfico 2 – Quantidade de alimento ingerido (g) em matéria seca, por estações, para os dois animais (B - Barra; M - Martinha)………...38

Gráfico 3 – Quantidade de Energia ingerida (Kcal), por estações, para os dois animais (B - Barra; M - Martinha)………...38

Gráfico 4 – Quantidade de Lípidos ingeridos (g), por estações, para os dois animais (B - Barra; M – Martinha)……….…39

Gráfico 5 – Quantidade de Proteína Bruta ingerida (g), por estações, para os dois animais (B - Barra; M – Martinha)……….39

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XXI

Lista de Siglas e Abreviaturas

CRAM-Q – Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios PV – Peso vivo

IMD – Ingestão média diária GMD – Ganho médio diário EM – Energia Metabolizável Aq – Aquavit

Maq – MiniAquavit

Are – Arenque (Clupea harengus)

Cam – Camarão (Farfantepenaeus subtilis) Cap – Capelim (M. villosus)

Caran – Caranguejo (Ucides cordatus) Carap – Carapau (Trachurus trachurus) Cav – Cavala (Scomber japonicus) Cho – Choco (Sepia officinalis) Lu – Lula (Loligo vulgaris)

Sard – Sardinha (Sardina pilchardus) Pp – Papa de peixe

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As atividades humanas têm levado a cada vez mais e maiores impactos ambientais que colocam os animais marinhos em perigo, frequentemente exigindo ações necessárias para a sua conservação. Estas atividades vão desde a sobre-exploração de recursos, como por exemplo a pesca, ao turismo e à poluição. Estas, de forma direta ou indireta, têm afetado os ecossistemas marinhos sendo, por isso, cada vez maior a necessidade de sensibilizar as populações para questões como estas e de fazer algo positivo para equilibrar a balança e ajudar na preservação e conservação destas espécies. É neste enquadramento que surgem os centros de recuperação e reabilitação de animais selvagens.

Estes centros permitem que animais doentes ou debilitados sejam tratados e devolvidos à natureza. Os animais em reabilitação, são tratados com os maiores cuidados, por pessoal devidamente formado, sendo a alimentação e o controlo das caraterísticas ambientais do meio essenciais para o sucesso da sua reabilitação.

Neste trabalho abordamos duas espécies de animais marinhos comuns em centros de reabilitação, o golfinho-comum e a tartaruga-boba, que devido ao facto de passarem frequentemente na costa portuguesa, são mais suscetíveis de serem afetadas por atividades antropogénicas. Com este trabalho pretendeu-se acompanhar a reabilitação destas duas espécies de animais marinhos no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios (CRAM-Q), na Figueira da Foz, a fim de se analisarem os fatores ambientais a que estão sujeitos, assim como as dietas que lhes são fornecidas e seus efeitos na reabilitação destes animais.

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I) Revisão Bibliográfica

1. Golfinho-comum - Delphinus delphis

1.1. Anatomia, Fisiologia e principais caraterísticas do Golfinho-comum

1.1.1. Caracterização e Classificação Taxonómica

O golfinho-comum (Delphinus delphis) é um mamífero marinho que pertence à ordem dos Cetáceos (Cetartiodactyla) e à família Delphinidae. (www.iucnredlist.org)

Os cetáceos são mamíferos marinhos (animais homeotérmicos endotérmicos; respiram por pulmões; dão à luz crias que são amamentadas por glândulas mamárias) e completam todo o ciclo de vida em meio aquático. (Ferreira et al., 1998) Os cetáceos são o mais diverso e mais antigo grupo de animais marinhos, podendo dividir-se em duas subordens: Odontoceti (cetáceos com dentes) e Mysticeti. (cetáceos com barbas) (Barnes et al., 1985) A nível mundial conhecem-se 90 espécies de cetáceos, das quais 25 já foram identificadas em Portugal Continental – 18 pertencentes à subordem dos odontocetes e 7 à subordem dos misticetes. (MarPro, 2013) No Quadro 1, são apresentadas as principais diferenças entre estas duas subordens.

Quadro 1 – Principais diferenças entre as subordens de cetáceos Odontoceti e Mysticeti (adaptado de Hooker, 2009 e Bannister, 2009)

ODONTOCETI MYSTICETI

Dentes Barbas

Um espiráculo Duplo espiráculo

Pequeno a médio porte (cachalote - Physeter macrocephalus)

Grande porte ( > 3 toneladas)

Assimetria dorsal do crânio e tecido facial Crânio e tecido facial simétrico Com sínfise mandibular Sem sínfise mandibular

Nos Misticetes, as barbas localizam-se no maxilar superior, e nalgumas espécies podem atingir os 4 metros de comprimento. Servem para filtrar pequenos crustáceos e peixes. Os dentes dos Odontocetes vão de 2 a 250, consoante as espécies. (Sequeira et al., 1998)

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Apesar de grandes diferenças entre espécies, os cetáceos têm uma morfologia externa muito semelhante: corpo de forma arredondada e fusiforme; mais largo na região anterior; revestido de epiderme lisa e macia; espiráculo (narinas externas) no cimo da cabeça (ver diferenças da morfologia externa na Figura 1 e 2). Nos Misticetes o espiráculo tem 2 orifícios simétricos e nos Odontocetes apenas 1 orifício. (Sequeira et al., 1998)

Figura 1 - Representação da morfologia externa de Misticetes. Adaptado de Sequeira et al., (1998)

Figura 2 - Representação da morfologia externa de Odontocetes. Adaptado de Sequeira et al., (1998)

Exceto a orca e o narval, os cetáceos não apresentam dimorfismo sexual, pelo que apenas se conseguem distinguir pela observação da região genital. De forma a reduzir o atrito provocado pela deslocação da água, alguns órgãos passaram a localizar-se no interior do corpo, como acontece com os órgãos sexuais, pelo que são identificados pela presença de pequenas

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fendas localizadas na região ventral, à frente do ânus. (Sequeira et al., 1998) Nos cetáceos machos a distância entre a fenda genital e o ânus é bastante maior que na fêmea; as fêmeas têm uma fenda mais longa e saliente, que engloba um espaço mais curto entre os orifícios genital e anal (podem estar quase juntos), e é acompanhada por duas fendas mais pequenas, de cada lado da fenda genital, onde estão os mamilos (ver Figura 3). (Geraci et al., 2005; Sequeira et al., 1998)

Figura 3 - Diferenciação sexual de cetáceos. Adaptado de Sequeira et al., (1998)

Os Odontocetes, subordem a que pertence o golfinho-comum, são cetáceos que apresentam uma dentição estreitamente espaçada, uniforme em forma e tamanho. A dentição permite estimar a idade do animal, devido ao aparecimento de anéis de crescimento (Perrin et al., 1980), provocados pelo desgaste e quebra dos dentes. Além disso, a sua dentição também é uma evidência dos hábitos alimentares do animal. (Pivorunas, 1979) O golfinho-comum tem entre 40-50 dentes, com 2,5 mm de diâmetro (MarPro, 2013)

O trato gastrointestinal dos cetáceos apresenta algumas caraterísticas incomuns. O esófago é penetrado dorso-ventralmente pela laringe e possuem um estômago com três câmaras

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diferentes. A digestão começa na primeira câmara (um alargamento do esófago distal), com o auxílio de enzimas e ácido clorídrico, provenientes da segunda câmara; na terceira câmara, dá-se a dá-secreção de um muco e a preparação do alimento para a digestão intestinal. Nos odontocetes o intestino não é visivelmente dividido em intestino grosso e delgado, podendo, em animais mais pequenos, atingir entre 20-30 metros de comprimento. Mais caraterísticas incomuns são a ausência de vesícula biliar e um baço muito pequeno e firme. Os rins são bastante alongados e lobulados e a bexiga é muito pequena. (Geraci et al., 2005)

Sendo os cetáceos animais homeotérmicos (mantêm ativamente a temperatura corporal constante, entre 36-38ºC), tiveram de desenvolver mecanismos de adaptação ao meio aquático, sendo que a perda de calor neste meio é 20 a 25 vezes superior à que ocorre no ar. Assim, os cetáceos desenvolveram uma camada de gordura espessa que lhes asseguram um eficaz isolamento térmico, o armazenamento de energia e uma maior capacidade de flutuação. Possuem também um mecanismo de regulação das perdas de calor para o ambiente mediante a existência de um sistema complexo de vasos sanguíneos organizados em contracorrente e bastante desenvolvido nas barbatanas. Este sistema vascular é também importante durante a “resposta de mergulho” que consiste num conjunto de alterações fisiológicas – redução dos batimentos cardíacos, redistribuição rápida do fluxo sanguíneo para o cérebro, pulmões e coração, em detrimento de zonas periféricas – que permite economizar oxigénio e suportar longos períodos de mergulho sem respirar. (MarPro, 2013)

A concentração osmótica da água do mar (1000 mOsm/L) é cerca de 4 vezes superior à dos fluídos corporais dos mamíferos (com uma osmolaridade de cerca de 290 mOsm/L; Ganong, 1985), sendo que tal como outros seres marinhos osmorreguladores, os mamíferos marinhos também desenvolveram estratégias para impedir a perda de fluídos: superfícies externas impermeáveis à água do mar (Geraci et al. - 1986); perdas de água pela respiração, sob forma de vapor de água; conservação da água pela concentração da urina e do leite que são produzidos. A água provém do alimento ingerido. Através da beta-oxidação dos lípidos, dá-se a produção de moléculas de água (água metabólica) que são aproveitadas pelo animal. Por exemplo, o ganho de água pelo consumo de um Arenque (C. harengus) gordo é de aproximadamente 900 ml/Kg. (Fay, 2000)

Um cetáceo saudável deve ser capaz de realizar os mecanismos de regulação da temperatura corporal, mergulho, controlar o balanço de sais e água, enfrentar situações de stress e ter sucesso na reprodução. Todos os sistemas corporais trabalham em conjunto para o sucesso, complementando-se uns aos outros. (Fay, 2000)

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1.1.2. Caraterísticas do golfinho-comum

O golfinho-comum atinge, em adulto, cerca de 2,2 (fêmea) – 2,3 (macho) metros de comprimento, pesando em média cerca de 100 Kg. Apresenta uma coloração negra no dorso, uma mancha amarela ou castanho-clara nos flancos e o ventre tem uma coloração branca. A barbatana dorsal é alta e falciforme e o bico desta espécie é distinto, sendo bastante saliente (Fay, 2000; MarPro, 2013; Sequeira et al., 1998) São identificados pela mancha triangular negra que apresentam ao nível da barbatana dorsal e pelo crânio que tem uma goteira palatina longitudinal. Possuem mais de 40 dentes em cada metade da maxila. (Sequeira et al., 1998)

Os golfinhos desta espécie juntam-se em grupos, que podem ir de algumas centenas até vários milhares de animais. (Fay, 2000; Sequeira et al., 1998) Dão grandes saltos fora de água, e emitem sons (vocalizações). (Sequeira et al., 1998)

Figura 4 - Imagem representativa de um golfinho-comum (D. delphis). Adaptado de http://www.icnf.pt

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Esta espécie é protegida por várias convenções internacionais, nomeadamente:

Anexo II, da Convenção de Berna (Convenção Relativa à Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats da Europa

Anexo II, da Convenção CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção)

Categoria (LR) (lc), pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza)

Categoria (NT), pelo L.V.V.P (Livro Vemelho dos Vertebrados e Portugal)

(Sequeira et al., 1998)

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- 9 - 1.2. Distribuição geográfica do Golfinho-comum

A nível mundial, o golfinho-comum apresenta uma distribuição oceânica, incluindo regiões tropicais a subtropicais, podendo também ser encontrado em águas costeiras. (Fay, 2000) Segundo vários autores, o golfinho-comum é o cetáceo mais frequente nas águas continentais portuguesas (Brito et al., 2012; MarPro, 2013; Sequeira et al., 1997; Sequeira et al., 1998; Silva et al., 2003; Sousa, 2010; Teixeira, 1979; Wise, 2005), sendo que, provavelmente, seja a espécie que apresenta maior número de interações com a pesca de cerco. (Wise, 2005) Esta é também a espécie de cetáceos com um maior número de arrojamentos em Portugal. Distribui-se na costa portuguesa de Norte a Sul, sendo frequente a sua proximidade da costa e também em zonas mais oceânicas. (MarPro, 2013) No entanto, não se sabe ao certo a densidade ou abundância populacional de golfinho-comum na costa portuguesa, visto que é uma espécie muito móvel e os métodos utilizados consistirem sobretudo em avistamentos. Existem outros métodos, como dados acústicos recolhidos por hidrofones que, devido à especificidade de sons produzidos e característicos de cada espécie de cetáceos, permite fazer a sua identificação, sem grandes condicionantes, além dos equipamentos tecnológicos necessários. Já os avistamentos são o método mais utilizado, dado ser o método mais fácil de realizar e por não exigirem grandes requisitos tecnológicos. No entanto, este método depende de fatores como as condições meteorológicas, a restrição à luz natural, e à especificidade de algumas espécies de cetáceos que passam muito tempo submersos. O método da recolha de dados acústicos é mais completo, sendo um método a apostar nos próximos anos. (Brito et al., 2012)

Segundo Wise et al.(2005) foram detetadas diferenças na abundância de golfinho-comum nalgumas áreas da costa portuguesa. A frequência de avistamentos e o número de indivídois é maior na zona norte da costa portuguesa, o que poderá estar relacionado com a abundância ou diversidade de recursos alimentares nesta zona. Ver figura 5:

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Figura 5 - Localização de golfinho-comum, golfinho roaz e “outras espécies” de cetáceos registados entre 1997 e 1999 (Wise et al., 2005)

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- 11 - 1.3. Alimentação e Nutrição do Golfinho-comum

Em condições naturais, o golfinho-comum alimenta-se de diversas espécies de peixes (Sequeira et al., 1998), dependendo de fatores como a estação do ano, localização geográfica, idade, sexo e, no caso das fêmeas, altura do ciclo reprodutivo. É provável que existam diferenças entre sexos no consumo de alimentos, uma vez que machos e fêmeas vivem em grupos separados e podem habitar em diferentes partes da área em que esta espécie se distribui. (Kastelein et al., 2002) Os Cetáceos não bebem água do mar, pelo que todas as necessidades que têm de água são retiradas do alimento consumido – desenvolveram rins lobulados altamente eficientes para responder ao ambiente salgado. (MarPro, 2013)

A medição da ingestão de alimento, tamanho e massa corporal em odontocetes podem ser importantes para uso zoológico de parques que mantêm estas espécies em cativeiro. Estes dados providenciam referências importantes para fins veterinários e de administração. Para o maneio de odontocetes em meio selvagem, a informação relativa ao consumo de alimento é essencial para avaliar a sua relação com as populações de presas. (Kastelein et al., 2002) Por exemplo, nas águas portuguesas, a sardinha (Sardina pilchardus), sendo tambem uma das principais espécies-alvo da pesca de cerco, e é também uma das principais presas do golfinho-comum (Silva, 1999). Num estudo realizado por Silva (1999) mostrou-se que havia conteúdos de Sardinha (S. pilchardus)nos estômagos de 63% (n=19) dos animais arrojados, assim como em 96% (n=23) dos animais capturados acidentalmente. (Townsend et al., 2001).

- Necessidades energéticas

Os animais requerem quantidades muito específicas de energia para manter um determinado peso corporal pois qualquer ligeiro desvio das suas necessidades energéticas por levar a perda ou ganho de peso. Assim, é muito importante determinar a quantidade de alimento necessário a fornecer a um animal, sabendo as suas necessidades energéticas e o teor energético dos alimentos oferecidos ao animal. Existem várias equações para prever necessidades energéticas ou a quantidade de energia dos alimentos, no entanto, vários pressupostos devem ser considerados quando se utilizam estas equações. (Ramsey, 2012) É importante ter em atenção que as recomendações de necessidades energéticas são aproximações das verdadeiras necessidades energéticas do animal. No entanto, as recomendações são uma importante ferramenta a utilizar como ponto de partida para selecionar a quantidade de alimentos a fornecer, sendo depois necessário realizar adaptações em função de alterações observadas no peso corporal do animal. (Ramsey, 2012; Townsend et al., 2001)

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- 12 -

Na manutenção de animais é importante satisfazer as suas necessidades energéticas diárias, em função do tamanho corporal, nível de atividade, estado reprodutivo, gastos em termorregulação e necessidades para um crescimento ativo, no caso de animais ainda não adultos. Todos os gastos energéticos são considerados, em conjunto, e referem-se como taxa metabólica diária. A taxa metabólica pode dividir-se em duas componentes: energia de manutenção (engloba: metabolismo basal, termorregulação e gastos de locomoção) e energia de produção. (Worthy, 2001) As necessidades energéticas de manutenção para animais em cativeiro, normalmente são mais baixas do que as apresnetadas em meio selvagem, pois apresentam menores gastos em atividade física e para a termorregulação, visto que em cativeiro estes animais não precisam fugir de predadores, não precisam procurar alimento (exceto se for realizado enriquecimento ambiental) e não têm de se deslocar para outros esconderijos. Assim, a energia de manutenção para estes animais corresponde a gastos relacionados com o metabolismo basal, atividade física e termorregulação. (Robbins, 2001)

A taxa metabólica basal é a energia necessária para sustentar os processos de vida de um animal num estado de repouso, ou seja, é a energia utilizada para manter a atividade celular, a respiração e a circulação sanguínea. (Worthy, 2001) O metabolismo basal é medido com o animal em repouso (deitado, mas acordado, com os músculos relaxados), num estado pós-absortivo, em condições termoneutras (sem gastos energeticos para regular a temperatura corporal) e livre de stress. (Ramsey, 2012) Nos anos de 1930-1940 foram desenvolvidas fórmulas que relacionam o metabolismo basal com a massa corporal do animal, sendo a mais conhecida, a equação de Kleiber (1932;1975), em que TMB=3,4M0,75, sendo TMB a taxa metabólica basal (em Watts ou Joules/segundo) e M a massa corporal do animal (em quilogramas). (Worthy, 2001; Robins, 1992) Para euterianos ou mamíferos placentários, Kleiber (1947) desenvolveu uma equação mais específica: TMB=70M0,75, em que TMB é a taxa metabólica basal (em Kcal/dia) e M é a massa corporal (em quilogramas). (Robins, 1992) Estas equações apenas são indicadas para animais que cumpram quatros critérios: se forem adultos, dentro da sua zona de termoneutralidade, que não se encontrem em digestão e que estejam e em repouso, mas não a dormir. (Worthy, 2001)

Para mamíferos marinhos, aceitou-se durante décadas que as suas necessidades energéticas diárias fossem consideravelmente mais elevadas do que as dos mamíferos terrestes de tamanho semelhante, devido ao facto dos animais marinhos lidarem com ambientes aquáticos frios e por isso, com um maior stress térmico (Hart et al., 1959; Irving et al., 1957; Kanwisher et al., 1965; 1966; Ridgway, 1972; Schmidt-Nielsen, 1997; Snyder, 1983). Contudo,

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estudos mais recentes, sugerem que os mamíferos marinhos podem ter taxas metabólicas semelhantes às dos mamíferos terrestres previstas por Kleiber, devido às adaptações ao meio que desenvolveram, o que lhes garante estar dentro da zona de neutralidade térmica. (Gallivan et al., 1979; Gaskin, 1982; Lavigne et al., 1982; Øritsland et al., 1975; Parsons, 1977; Worthy, 1987; Worthy, 2001)

Segundo Townsend et al. (2001), num estudo realizado com crias de golfinhos-roaz (Tursiops truncatus) em cativeiro, verificou-se que a frequência da ingestão de alimento dependia da densidade calórica da dieta, das necessidades calóricas diárias e do volume máximo de alimento oferecido por refeição. Assim, é importante saber a densidade energética da dieta fornecida, para se saber ao certo o volume que deve ser oferecido em cada refeição. No entanto, estes cálculos servem apenas como recomendações pois, em última análise, o ganho ou perda de peso é que vai ser fulcral para acertar a dieta fornecida. No Quadro 2, podem verificar-se os valores de necessidades energéticas que podem ser utilizados como recomendações no fornecimento de dietas a algumas espécies de odontocetes, incluído o golfinho-comum (D. delphis), tendo em conta as necessidades energéticas (Kcal/Kg/dia) de cada espécie. (Townsend et al., 2001)

Quadro 2 – Necessidades energéticas de algumas espécies de odontocetes (Kcal/Kg/dia). Adaptado de Townsend et al.. (2001)

ESPÉCIE

NECESSIDADES ENERGÉTICAS (kcal/kg/dia

de EM)

Golfinho-comum (Delphinus delphis) 150

Golfinho-roaz (Tursiops truncatus) 150

Golfinho pintado (Stenella attenuata) 200

Boto (Phocoena phocoena) 200

Orca (Orcinus orca) 125

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- 15 - 2. Tartaruga-boba - Caretta caretta

2.1. Anatomia, Fisiologia e principais caraterísticas da Tartaruga-boba

2.1.1. Caracterização e Classificação Taxonómica

A tartaruga-boba (Caretta caretta) é um réptil marinho, que pertence à ordem dos Testudines e à família Cheloniidae. (www.iucnredlist.org)

Atualmente, todas as espécies de tartarugas marinhas, exceto a tartaruga-australiana (Natator depressus), encontram-se na Lista Vermelha da IUCN para espécies ameaçadas. As Tartaruga de Kemp (Lepidochelys kempii), a Tartaruga-imbricada (Eretmochelys imbricata) e a Tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) possuem um estatuto de conservação de “criticamente ameaçada”. Já as tartaruga-comum ou tartaruga-boba (Caretta caretta) e a tartaruga-verde (Chelonia mydas) estão catalogadas como “ameaçada” e a tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) é considerada “vulnerável”. (IUCN, 2003; MarPro, 2013)

2.1.2. Caraterísticas da tartaruga-boba

Figura 6 – Ilustração de uma tartaruga-boba (Caretta caretta). Adaptado de Oliveira et al., (2005)

Na figura anterior (Figura 6) pode-se verificar a morfologia de uma tartauga-boba. A C. caretta, tal como as outras restantes tartarugas marinhas, é uma espécie de vida longa e de crescimento lento. Quando nascem apresentam uma coloração castanho claro, têm cerca de 45 mm de comprimento e uma média de 20 gramas de peso vivo. Os juvenis

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apresentam 3 quilhas dorsais nas placas córneas, que vão desaparecendo com o seu crescimento. Em animais adultos e sub-adultos verifica-se um tom castanho avermelhado na carapaça, escamas laterais e no topo da cabeça e das barbatanas. As barbatanas dianteiras apresentam uma coloração amarelada; o pescoço, ombros e quadril são castanhos-claros e amarelos de lado e por baixo. A cabeça é grande e robusta e o corpo é protegido por placas córneas. Os adultos têm em média 90-100 cm de comprimento de carapaça e um peso médio de 90-100 Kg. A carapaça apresenta uma forma oval, mais longa que larga, com margens mais ou menos serradas. Entre os 16 e os 40 anos de idade (entre os 15-20 anos, em média) atingem a maturidade sexual, após a qual ocorre o acasalamento (finais de Março, início de Junho), sendo que a postura tem lugar no Verão. (Ferreira, 2005; MarPro, 2013) Apresentam um dimorfismo sexual pouco acentuado. Nos machos verifica-se que a carapaça é mais estreita na zona posterior, apresentando ainda uma cauda mais longa que as fêmeas. (MarPro, 2013)

Segundo Oliveira et al., (1994) e Oliveira et al., (2005), a tartaruga-boba é protegida por várias convenções, nomeadamente:

Anexo II, da Convenção de Berna (Convenção Relativa à Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats da Europa

Anexo I, da Convenção CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção)

Categoria (VU), pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza)

Categoria (V), pelo L.V.V.P (Livro Vermelho dos Vertebrados e Portugal)

Anexo I e II, da Convenção de Bona (Convenção sobre a Conservação de Espécies Migradoras Pertencentes à Fauna Selvagem)

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Nos Açores e Madeira é considerada (EN) – em perigo – (pela IUCN), devido a ter tido uma redução de pelo menos 50% da sua população nas últimas 3 gerações. (Oliveira et al., 2005)

2.2. Distribuição geográfica da Tartaruga-boba

De todas as espécies de tartarugas marinhas, esta espécie é a que apresenta uma maior distribuição geográfica: habita a plataforma continental, baías, estuários e lagoas em águas temperadas, subtropicais e tropicais do Mediterrâneo, Atlântico, Índico e Pacífico. També m existem registos desta espécie em países do nordeste da Europa, como a Noruega e as Ilhas Britânicas. (Ferreira, 2005; MarPro, 2013) A tartaruga-boba aproxima-se bastante da costa, podendo entrar em rias, zonas de estuário e de foz. (MarPro, 2013) Em Portugal, ocorre em números mais apreciáveis nos Açores e Madeira, fazendo parte de uma população mais ampla que habita o Atlântico Norte Central e Ocidental. Em Portugal Continental tem lugar a passagem de animais de origem principalmente norte-atlântica, mediterrânica e, possivelmente, marroquina ou cabo-verdiana. (Oliveira et al., 2005)

Indivíduos adultos apresentam hábitos costeiros enquanto os juvenis e sub-adultos ocorrem predominantemente em alto mar (Oliveira et al., 2005), navegando a uma profundidade média de 10 m.

Nos primeiros 6-12 anos de vida, fase denominada de estado oceânico ou pelágico, encontram-se em águas portuguesas, portanto são animais juvenis, não maduros, que exploram as frentes oceânicas à procura de alimento. (Oliveira et al., 2005)

As principais áreas de nidificação, no Atlântico, localizam-se ao longo das costas sudeste dos EUA e do Brasil. (Ferreira, 2005; Dodd, 1988) Nidificam em intervalos de 2-4 anos, e constroem cerca de 3 a 6 ninhos por temporada (intervalos de 12-14 dias), com uma média de 100-126 ovos por ninho, que demoram cerca de 60 dias para serem incubados. A temperatura de incubação varia entre os 25 e 32ºC. A determinação do sexo depende da temperatura de incubação: temperaturas mais próximas dos 32ºC produzem fêmeas, temperaturas mais próximas dos 25ºC produzem machos e numa temperatura intermédia e constante produz cerca de 50% de cada género. (Ferreira, 2005; Schroeder, 2003; Limpus et al., 1983)

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- 18 - 2.3.Principais ameaças à Tartaruga-boba

Devido à sua natureza amplamente migratória, tornam-se numa espécie de difícil conservação, requerendo uma grande cooperação internacional. A ameaça às tartarugas marinhas é bastante variável de região para região, contudo, os principais fatores de risco são a degradação e sobre-exploração do meio marinho e habitats costeiros e as elevadas taxas de captura acidental pelas frotas pesqueiras em todo o mundo. (MarPro, 2013) No entanto, a principal ameaça é a destruição das praias onde nidificam (desde capturas de ovos e fêmeas nidificantes ao uso intensivo de praias para fins de lazer. (Oliveira et al., 2005) Estas ameaças, ao longo do tempo, têm vindo a contribuir para um declínio acentuado das populações de tartarugas marinhas, o que tem vindo a aumentar o seu risco de extinção. (MarPro, 2013) Em Portugal Continental, as diferentes artes de pesca têm vindo a afetar as tartarugas marinhas, especialmente os juvenis e os sub-adultos. Por exemplo, estes animais, por vezes, ficam acidentalmente presos nos anzóis ao tentarem alimentar-se do isco ou das próprias capturas. A arte mais problemática na costa portuguesa são as redes de emalhar e tresmalho, que podem provocar a morte por afogamento dos animais. (MarPro, 2013; Oliveira et al., 2005) Contudo, com a adoção de medidas de proteção rígidas em locais que ainda não estão fortemente sujeitos à pressão humana, tem-se verificado uma ligeira recuperação da espécie, a nível mundial. Assim, as subpopulações da tartaruga-boba estão a recuperar lentamente no Atlântico Oeste. Através da análise de dados recolhidos da nidificação de subpopulações e praias dos EUA, nota-se uma tendência para aumentar. A subpopulação principal, no Sul da Flórida, tem aumentado a uma taxa anual média de 4%. (Oliveira et al., 2005)

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- 19 - 2.4. Alimentação e Nutrição da Tartaruga-boba

As C. caretta são tartarugas omnívoras oportunistas, apresentam uma dieta bastante variada, no entanto, altera-se em função das diferentes fases de vida do animal. (Lutz et al., 2003; Bjorndal, 1997) Em estado selvagem alimentam-se de medusas, esponjas, moluscos, cefalópodes, equinodermes e peixes, podendo, nalgumas circunstâncias, alimentar-se de animais marinhos mortos. (MarPro, 2013) Já em cativeiro, se lhes for fornecida uma sobre-alimentação ou um regime de sobre-alimentação“ad libitum” existe uma tendência para que apresentem problemas de obesidade. (Lutz et al., 2003; Bjorndal, 1997) Assim, em cativeiro, a dieta de uma tartaruga varia essencialmente entre alimentos naturais (peixe, camarão, lula, caranguejo, etc.) até preparados comerciais de alimento granulado especificamente concebidos para tartarugas. Estes granulados apresentam valores entre 25-45% de proteína bruta, 3,9-12% de gordura, 3,22-8,58% de fibra. Em zoos e aquários, o mais comum é o fornecimento de alimentos naturais com suplementos vitamínicos. A quantidade de alimento recomendada é de cerca de 1% do peso corporal do animal por semana, para animais em manutenção, e entre 12 a 15% do peso corporal do animal por dia para animais em estado de produção ou crescimento. (Lutz et al., 2003; Lopez, 1980)

Dietas ricas em proteína apresentam maiores taxas de crescimento. A proteína vai influenciar o preço da dieta, especialmente a origem da proteína fornecida, sendo a proteína de origem vegetal mais barata que a de origem animal. Animais alimentados com proteína de origem animal tendem a ser mais robustos. É necessário ter em atenção dietas que utilizem como principal fonte de proteína a soja, uma vez que dietas ricas em subprodutos de soja vão aumentar os níveis de estrogénios no sangue, levando a problemas de fígado e problemas reprodutivos. Dietas ricas em Lula (Loligo vulgaris) fornecem uma quantidade elevada de fósforo podendo não conter cálcio suficiente para satisfazer as necessidades dos animais. Dietas à base de granulados podem trazer problemas de flutuabilidade em tartarugas quando se fornece excesso de alimento. (Lutz et al., 2003)

3. Os arrojamentos em Portugal

Em 1977 foi implementada em Portugal uma rede nacional de arrojamentos, o que permitiu um registo sistemático destes acontecimentos. Estes registos são dados importantes para o conhecimento de processos ecológicos que ocorrem em grande escala e que possam estar a afetar as populações. (Sousa, 2010)

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O golfinho-comum é considerada a espécie de cetáceos mais comum em Portugal continental, sendo a espécie com maior número de avistamentos. Segue-se o golfinho roaz (Tursiops truncatus), o golfinho riscado (Stenella coeruleoalba) e o boto (Phocoena phocoena). Esporadicamente são avistados outros cetáceos da família Delphinidae, como o grampo (Grampus griséus) e a baleia-piloto (Globicephala sp.). Segundo Sousa (2010), com base em dados recolhidos entre 1979 e 2009, foram registados em Portugal 3522 arrojamentos de cetáceos de 21 espécies diferentes, sendo o golfinho-comum (D. delphis) a espécie mais frequente (46,51% dos registos). Da análise dos registos verificou-se ainda que 3,5% das causas foram resultado de capturas.

Dentro das capturas, 19,3% apresentavam indícios de terem sido acidentais. Segundo Brito et al. (2012), com dados recolhidos entre 2007 e 2010 em três zonas (Peniche, Sesimbra e Sines), o golfinho-comum também foi a espécie com maior número de registos (76% dos registos), o golfinho roaz em segundo lugar (19% dos registos), depois o golfinho riscado (5,4%) seguido da baleia anã (3,1%). As áreas estudadas são utilizadas pelo golfinho-comum em atividades diárias, como deslocações, alimentação, socialização e repouso. Segundo Wise (2005), pescarias em Portugal e na Galiza têm como principal vítima de capturas e mortes acidentais o golfinho-comum.

O maior número de arrojamentos regista-se na região Norte, Centro-norte e Centro do país. Verificou-se que, em função da variação sazonal da temperatura, os arrojamentos ocorrem com maior frequência quando as temperaturas da superfície da água são mais baixas. Sousa (2010) defende a ideia de que estes arrojamentos podem resultar de alterações na disponibilidade de alimento e na produtividade primária, sendo que estes são afetados por variações climáticas. Por exemplo, no Inverno, com condições meteorológicas mais severas, o estado do mar é pior, o que pode levar à morte de animais enfraquecidos ou transportar carcaças de animais para perto da costa. No Verão, com os ventos do norte dá-se o afastamento das águas superficiais que pode contribuir para o transporte de carcaças para a costa. No entanto, os dados de arrojamentos podem ser influenciados pelo maior número de reportes no Verão devido à maior intensidade de atividades humanas junto à costa. (Sousa, 2010)

Quando é detetado um arrojamento, mesmo quando o animal se encontra já em decomposição, pode ser possível identificar a espécie, no caso dos Cetáceos através de “Chaves de Identificação de Cetáceos”. (Anexo A; Sequeira et al., 1998)

Quanto às tartarugas, as condições climatológicas extremas registadas no Inverno podem influenciar o maior número de arrojamentos. A predominância de ventos de Sul e

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Sudeste podem arrastar as tartarugas juvenis para as praias portuguesas, pelo que podem ser registadas algumas mortes ou traumatismos graves devido a, por exemplo, a ingestão de areia, entrada de água nos pulmões ou embate contra rochas. No entanto, o resultado dos arrojamentos também pode dever-se a interações com as artes de pesca: alguns animais apresentam restos da arte de pesca, como anzóis; outros têm problemas pulmonares devido a terem ficado presos em redes e submersos durante muito tempo. Os animais vivos que aparecem nestas circunstâncias são transportados para centros de reabilitação onde são realizadas análises de diagnóstico de possíveis patologias de forma a ser realizado um tratamento adequado. No entanto, a recuperação de tartarugas marinhas é muito lenta. Quando se encontram recuperadas são libertadas novamente nos oceanos com muitas vezes, ajuda das Autoridades Marítimas. (MarPro, 2013)

Em Portugal, o primeiro registo de arrojamento de tartaruga-boba ocorreu em 1982. Até 2012, registaram-se 391 arrojamentos de Caretta caretta, sendo que 27,6% foram arrojamentos vivos, em maior número na Primavera e Verão. A C. caretta é a tartaruga marinha mais comum nas águas da costa continental portuguesa. A costa Sul é a zona em que ocorrem mais arrojamentos, especialmente no Algarve – provavelmente devido à proximidade com a entrada do mar Mediterrâneo. Cerca de 62% das causas de arrojamento têm origem antropogénica, das quais 68,6% são capturas acidentais e 25,2% são identificados como possível captura acidental. Outras atividades antropogénicas podem influenciar o arrojamento das tartarugas-bobas, sendo que 3,5% dos casos estão relacionados com derramamento de petróleo, 1,7% resultam da colisão com embarcações e 0,9% da ingestão de lixo. Os animais registados apresentam comprimento médio de 55cm, o que correspondente, maioritariamente, a juvenis e sub-adultos. (MarPro, 2013) Uma vez que a maior parte da vida de uma tartaruga marinha é passada no mar, os indivídois adultos têm como causas naturais de morte a predação, a doença e o clima, embora em níveis muito baixos. (Bjorndal, 1999) Já a interferência humana, como causa de morte das tartarugas marinhas interfere em todas as fases do ciclo de vida destes animais, começando pela destruição das praias de nidificação e das zonas de alimentação, até às pescarias e capturas ou descargas de poluentes e resídois não biodegradáveis nos oceanos e zonas costeiras. (Lutcavage et al., 1997) No caso da tartaruga-boba, em Portugal Continental, o mais frequente é a captura acidental por redes de emalhar. (MarPro, 2013)

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4. A importância da conservação de espécies marinhas

A pressão humana sobre os ecossistemas marinhos tem vindo a aumentar pelo que tem surgido a necessidade de se desenvolverem medidas de conservação ambiental. Animais marinhos que utilizem regiões costeiras com influência da atividade humana são mais vulneráveis. (MarPro, 2013)

Como tem ocorrido uma evolução das tecnologias e da exploração dos recursos, também as medidas de conservação têm de ser geridas e alteradas em função das novas ameaças que surgem. Assim, a conservação destas espécies está dependente do conhecimento da ecologia das espécies e do impacto das atividades antropogénicas sobre estas. Assim, para implementar medidas de conservação, é essencial o conhecimento de vários aspetos, como o tamanho, estrutura e distribuição das populações, taxa de mortalidade, reprodução, migração das populações, composição da dieta e interação das espécies com o habitat. (MarPro, 2013)

Nos cetáceos, sendo que apresentam um ciclo de vida exclusivamente marinho, só surgem na costa em situações de arrojamento. Durante a sua vida passam por várias regiões, muito amplas, com grande diversidade de zonas de alimentação, sendo impossível fazer uma monitorização completa. Assim, grande parte da informação que se conhece sobre estas espécies é resultado do estudo de animais que são encontrados mortos nas praias. (MarPro, 2013)

Em Portugal existem várias identidades oficiais e particulares que realizam a recolha de informação sobre arrojamentos. Esta informação é posteriormente canalizada para o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas). A deteção e registo de arrojamentos é essencial para estudar os cetáceos, uma vez que permite avaliar padrões de distribuição espacial e temporal, assim como recolher amostras para diversos estudos de índole biológica. A realização de necropsias é um método essencial para estudar cetáceos, sendo que permite a obtenção de informação acerca do estado de saúde do animal e permite determinar a causa de morte deste, pelo que pode ser evidenciada a interação negativa com artes de pesca ou captura acidental. (MarPro, 2013)

5. Resgate de animais marinhos

Antes do processo de reabilitação, existe um processo muito importante, o resgate do animal. O resgate nem sempre termina em reabilitação pois, por vezes, o animal é libertado de imediato ou acaba por não resistir. O animal vivo que arroja deve ser tratado com cuidados específicos. A resposta da equipa de resgate vai depender de fatores como o tamanho do animal,

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idade e estado de saúde, equipamentos disponíveis e condições ambientais e tempos de arrojamento. É nesse momento que se faz uma avaliação ao estado do animal e se toma uma opção: libertar o animal se estiver saudável; transportá-lo para um centro de reabilitação onde se pode dar atenção médica; eutanasiar o animal. O equipamento utilizado no resgate deve ser especializado, assim como a equipa de resgate. Quanto maior o animal, maiores as dificuldades neste processo e maiores são os potenciais perigos. Aquando da aproximação ao animal é importante observar o comportamento deste e planear o processo: com calma e cuidadosamente, de frente ou de lado, evitar sons altos, movimentos abruptos ou luzes fortes; deixar o animal habituar-se à presença da equipa de resgate; deve-se ter cuidado também porque o animal, devido ao stress, pode apresentar alguma agressividade. A boca e, no caso dos cetáceos, a barbatana caudal são regiões a ter em atenção. Neste momento, já deve ser possível observar se o animal tem danos provocados por atividades humanas (por exemplo, as capturas e emaranhamentos em redes podem ser identificados por estrias e marcas no corpo ou até mesmo amputações de barbatanas). (Geraci et al., 2005)

Ter atenção que quando arrojados, os cetáceos tendem a apresentar fadiga e aflição, a taxa respiratória pode ser irregular, baixa ou elevada; deve-se também controlar a frequência cardíaca, assim como a temperatura corporal: em animais de pequeno a médio tamanho esta deve estar entre 36,5-37ºC. (Geraci et al., 2005)

Até à chegada da equipa de resgate, o que pode demorar algum tempo, deve-se acalmar o animal e mantê-lo confortável, com o menor maneio e distúrbio possíveis. (Geraci et al., 2005) As condições ambientais são determinantes nas medidas de assistência ao animal arrojado. No Verão (ver A, da Figura 7) é importante fornecer sombreamento (para evitar situações de hipertermia), tapar o animal com uma toalha húmida, deixando a barbatana dorsal de fora; escavar buracos para as barbatanas e enchê-los com água. No Inverno (ver B, da Figura 7) deve-se proteger o animal do vento e tapar a barbatana dorsal e caudal (para evitar situações de hipotermia), cavar também buracos para as barbatanas laterais. Em quaisquer circunstâncias (ver C, Figura 7) devem ter-se particulares cuidados com o espiráculo, o qual deve estar sempre desobstruído, os olhos, que devem estar limpos e sem areia, permitir que as barbatanas tenham uma postura natural e reduzir ao mínimo possível o barulho e distúrbio dos animais. (Geraci et al., 2005)

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Figura 7 – Primeiras medidas de assistência a um cetáceo arrojado na praia. Adaptado de Geraci et al., (2005). Legenda: A – proteção de hipertermia; B – proteção de hipotermia; C – zonas a ter em atenção

Deve evitar-se ao máximo o stress provocado nos animais arrojados porque se forem posteriormente libertados, independentemente da causa de arrojamento, a probabilidade de sobreviver depois de serem devolvidos ao mar é bastante reduzida. Nunca devem ser usados sedativos ou tranquilizantes em animais que vão ser imediatamente libertados. Existem vários métodos utilizados para devolver um cetáceo ao mar, um dos mais adequados é o exemplificado na Figura 8. (Geraci et al., 2005)

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Figura 8 - Sequência de medidas de resgaste de um cetáceo em arrojamento, desde as primeiras medidas de assistência na praia, até à sua devolução ao mar. Adaptado de Geraci et al., (2005)

Os animais que necessitem de cuidados médicos devem ser transportados para um centro de reabilitação, sendo que o transporte também deve ser feito com o maior cuidado possível. O transporte pode realizar-se de várias formas: macas apropriadas, com buracos para as barbatanas (ver A, da Figura 9); caixas especialmente construídas para o efeito, almofadadas com forro resistente à água (ver B, da Figura 9). Os animais mais pesados necessitam de mais pessoal para o transporte até ao veículo (ver C, da Figura 9) sendo por vezes utilizados equipamentos apropriados. (ver D, da Figura 9; Geraci et al.,2005)

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Figura 9 - Equipamentos e métodos de transporte de cetáceos. Adaptado de Geraci et al., (2005) Legenda: A - macas; B – caixas; C – transporte por pessoas; D – transporte por equipamentos apropriados

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- 27 - 6. O CRAM-Q

O Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios (CRAM-Q) faz parte da Sociedade Portuguesa da Vida Selvagem (SPVS) - uma ONG científica com o principal objetivo de dinamizar e incentivar a investigação da vida selvagem. O CRAM-Q é um dos dois únicos centros de animais marinhos existentes em Portugal, sendo reconhecido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). O principal objetivo do centro centra-se no resgate, reabilitação e devolução à natureza de animais marinhos, desde aves, répteis e mamíferos. É a estrutura responsável pelo resgate e salvamento de animais marinhos na região centro e norte de Portugal – mais de 500 Km da costa do país – com uma média anual de intervenções superior a meio milhar.

Na reabilitação dos animais marinhos é disponibilizada atenção médica e todos os cuidados possíveis, com atenção à redução do stress induzido aos animas, assegurando os comportamentos selvagens dos pacientes, para que possam ser libertados. O centro tem vários tanques de reabilitação, com filtração independente, quatro deles com aquecimento e sistema de refrigeração. Um dos fatores importantes na reabilitação é a alimentação e o maneio alimentar. É em função de fatores como a espécie, idade, condição corporal e problemas de saúde do animal que é determinado o tipo e a quantidade de alimento, assim como a frequência das refeições. Todo o peixe utilizado nas refeições diárias é mantido congelado, sendo transferido para o frigorífico no dia anterior à preparação destas. Todos os animais recebem suplementação vitamínica e, nalguns casos, suplementos de sal.

Para evitar a propagação de doenças, prevenir infeções e reduzir o desenvolvimento de bactérias são implementados no centro protocolos de biossegurança. Os tanques, tal como referido anteriormente, apresentam um sistema de filtração de água, mas além disso, os técnicos do centro fazem também uma recolha dos restos de peixe que sobram das refeições, para evitar a propagação de bactérias. Os filtros de areia são lavados e enxaguados para reduzir as impurezas e os tanques são aspirados, pelo menos, uma vez por dia. A análise da água (verificação de salinidade, pH e temperatura) é efetuada duas vezes por dia e uma vez por semana é feita uma recolha de água para análise num laboratório certificado. Existem pedilúvios à entrada e saída da zona do centro e das salas de tratamento. São utilizados todos os meios e técnicas possíveis para que seja reduzida a contaminação cruzada entre animais.

O sucesso da reabilitação resulta na libertação dos animais, que apresenta uma taxa de sucesso de 47%. Quando é realizada a devolução ao meio selvagem, a equipa do CRAM-Q

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procura um local que apresente as melhores condições para os animais em questão. (http://cramq.socpvs.org)

Figuras 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16 –

Exemplos de várias espécies de animais marinhos reabilitados no CRAM-Q (1-foca-cinzenta; 2-golfinho-comum; 3-gaivotas; 4-libertação de um ganso-patola; 5-tordas-mergulhadeiras; 6-tartaruga-de-couro; 7-papagaio-do-mar)

6 5 4 3 1 2 7

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II) Componente experimental

1. Introdução

Este estudo tem como objetivo a realização da análise de dados relativos ao maneio alimentar de animais marinhos no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios (CRAM-Q), na Figueira da Foz.

São várias as espécies que dão entrada no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios, pelo que este estudo não poderia incluir todas as espécies de animais marinhos do centro. Assim, em função de fatores como o número de indivídois, dados já existentes no centro e maior facilidade de recolha de dados, foram selecionadas duas espécies: o Golfinho-comum (D. delphis) e a Tartaruga-boba (C. caretta). O Golfinho-comum foi selecionado pelo facto de se encontrarem no Centro duas fêmeas, no mesmo tanque, embora em situações completamente distintas. Outro dos fatores que levou à escolha desta espécie foi a sua predominância na costa portuguesa, já que este é o cetáceo que mais ocorre em Portugal. Quanto às tartarugas-bobas, o número de indivídois foi um fator considerado, assim como o facto de poder acompanhar de perto a reabilitação de 3 delas que se encontravam no Centro na altura da recolha de dados (os dados das restantes 10 foram recolhidos anteriormente, já constando nos registos realizados durante a reabilitação desses animais). Para além de tudo isto, esta é a espécie de tartaruga marinha mais comum na costa portuguesa.

Assim, dividiu-se a análise em dois grupos: Estudo 1 – sobre os gofinhos-comum – e o Estudo 2 – acerca das tartarugas-bobas. No estudo 1, com a duração de 12 meses, pretendeu-se entender o efeito de diversos fatores (estações do ano, meses, temperatura ambiente, temperatura da água, salinidade, quantidade de alimento, tipo de alimento, número de refeições, quantidade de alimento por refeição, estado de saúde do animal) no crescimento/manutenção dos animais (peso vivo), no apetite e capacidade de ingestão (ingestão média diária) e o aproveitamento do alimento oferecido (ganho médio diário). No estudo 2, com as tartarugas-bobas (C. caretta), o estudo foi semelhante. Realizou-se com 13 tartarugas, englobando todo o período em que cada um delas permaneceu no CRAM-Q, e considerando as causas de entrada no Centro e o estado clínico de cada animal. Para todas elas foi recolhido o peso vivo (PV), a fim de se verificar o efeito da quantidade e tipo de alimento oferecido aos animais. Para 3 destas tartarugas, foram recolhidos também dados relativos à temperatura e salinidade da água, permitindo verificar o efeito destes fatores na reabilitação dos animais.

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- 31 - 2. Estudo 1 - Delphinus delphis

2.1. Materiais e Métodos

O Estudo decorreu no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios. Os dados utilizados no presente trabalho foram recolhidos num período de doze meses, entre 16 de Junho de 2013 e 16 de Junho de 2014. Foram recolhidos dados relativos à quantidade e tipo de alimento fornecido, número de refeições, estado de saúde dos animais, caraterísticas ambientais (temperatura ambiente, temperatura da água, salinidade da água), número de refeições e quantidade de alimento por refeição, assim como, foram realizadas medições (comprimento e perímetros) para verificar o desenvolvimento dos animais ao longo do estudo.

Não sendo prático e/ou possível, na maioria dos casos, pesar animais marinhos de grandes dimensões, a variável Peso Vivo foi estimada a partir de uma equação, em função de medições, de comprimento, e perímetros corporais. A equação utilizada foi proposta por Lockyer et al. - . (1987) para golfinhos-roazes (Tursiops truncatus), pois não foi possível encontrar bibliografia que indicasse uma equação para a espécie estudada, golfinhos-comum (D. delphis). O Peso Vivo exato também não é relevante para o estudo realizado, visto que apenas é necessário ser calculado para se verificar os aumentos/perdas de peso em função de determinados fatores em questão. A equação utilizada foi a seguinte:

W=34,67L1,23G11,36G20,39 (Lockyer et al., 1987)

Sendo: W – Weight/Peso Vivo; L – Lenght/Comprimento; G1 – perímetro medido anteriormente às barbatanas laterais; G2 – perímetro medido posteriormente à barbatana dorsal.

No Anexo C apresentamos uma imagem com as medições G1 e G2, representadas numa ficha de biometria de cetáceos.

2.1.1. Animais

O estudo envolveu os dados de 2 golfinhos-comum, do sexo feminino (ver figura 17). O golfinho M (Martinha, ver Figura 18) já se encontra nas instalações desde dia 6 de Setembro de 2007. Este animal encontrava-se com dificuldades em nadar na baía de São Martinho do Porto, no concelho de Alcobaça. Ainda juvenil, esta fêmea tinha sido capturada em redes de emalhar, pelo que estava bastante ferida e incapacitada de sobreviver por si só. O CRAM-Q recolheu-a e levou-a para as instalações do centro. Depressa recuperou as feridas e os problemas

Referências

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