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A QUESTÃO AGRÁRIA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL E O TRABALHO DESENVOLVIDO PELOS ASSISTENTES SOCIAIS NOS ASSENTAMENTOS RURAIS

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Academic year: 2021

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¹ Discente do Curso de Serviço Social, UERN – E-mail: sonalymelo@hotmail.com ² Discente do Curso de Serviço Social, UERN – E-mail: jamyllier_nathafia@hotmail.com

3Discente do Curso de Serviço Social, UERN – E-mail: anapaula-cardial@hotmail.com 4 Docente do Curso de Serviço social, UERN e Doutora em Ciencias Sociais, UFRN- Email:

gilceliagois@gmail.com

1 Rua Venceslau Braz, no 143 – Paredões- Mossoró - RN - CEP 59618-140- Brasil - Tel: +55 (84) 9654 0384 - e-mail: sonalymelo@hotmail.com ASSENTAMENTOS RURAIS

Claudina Sonaly Melo Rodrigues1

Jamyllier Nathafia Araújo Gurgel2

Ana Paula Rodrigues da Silva3

Gilcélia Batista de Góis4 RESUMO

Com a reconceituação da profissão do Serviço Social, o trabalho dos Assistentes Sociais abandonou suas raízes conservadoras e se tornou cada vez mais necessário em espaços sociais distintos que necessitassem da garantia e efetivação dos direitos dos trabalhadores. Os profissionais passaram a participar ativamente junto com a classe trabalhadora em lutas e conquistas ganhando cada vez mais espaço, inclusive em assentamentos rurais, trabalhando com a chamada Questão Agrária. A contribuição teórica e técnica do Serviço Social tem sido um importante instrumento de intervenção para enfrentamento da Questão Social, sendo também indispensável a articulação entre outras profissões para que se faça ainda mais viável a elaboração de programas, projetos e ações que realmente contemplem a necessidades presentes nos assentamentos rurais. Palavras-chave: Questão agrária, questão social, trabalho do assistente social.

INTRODUÇÃO

O processo de concentração de terras brasileiras perpassa desde a época da Colonização, quando as terras pertenciam aos colonos Portugueses e a população ficava a mercê destes para garantir sua moradia e sobrevivência, o que deixa seus vestígios até os dias atuais, onde a população ainda sofre com a falta de teto, de terras, com o desemprego e sem condições de subsistência.

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O Brasil se mostra um país agrário, que passou pelo processo de urbanização, graças ao movimento de industrialização existente no Mundo e mesmo assim não perdeu sua riqueza natural e a capacidade do povo em criar alternativas de resistências frente às políticas neoliberais, mesmo diante do sistema capitalista em vigor, que ao mesmo tempo em que avança no desenvolvimento de novas forças e modos de produção, capaz de construir novas riquezas, favorece um processo de subordinação das necessidades humanas a condições de vida precárias, submetendo o trabalhador a um processo de empobrecimento.

É nesse contexto que temos as expressões da questão social bem presentes e que se apresentam por meio da concentração de terras, da questão fundiária, das desigualdades e da pauperização cada vez mais visíveis no meio rural.

A Questão Agrária perpassa nesse contexto, através das relações de poder econômico, político, cultural e social, entre sujeitos antagônicos que visam interesses diversificados em torno da propriedade de terras no sistema capitalista. Trata da concentração de terras produtivas em posse dos que as utilizam em períodos sazonais, não conferindo a elas uma função social e ao mesmo tempo as mantém como um elemento que os caracteriza como detentores de poder, dominação, submissão sobre os que não têm terras para garantir a sua sobrevivência através da agricultura familiar ou sua subsistência.

Com a decorrência desses fatos, surgem diversos Movimentos Sociais Organizativos, que inicialmente lutavam e ainda hoje permanecem na luta pelo acesso a terra, enquanto direito social, bem como por programas e projetos para o Espaço Rural, que batalham de forma organizada pelo acesso a esses elementos e por melhores condições de vida e de salários, pela distribuição de terras, dentre outros.

Junto aos Movimentos Sociais em vigor e a realidade de desigualdades presentes nos assentamentos rurais, é que se faz fundamental a presença de profissionais como assistentes sociais, atuando junto a essa população que se mostra vulnerável ao sistema capitalista, na busca pelo enfrentamento das disparidades e pela garantia da efetivação dos direitos do homem do campo.

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Para compreender o significado da questão social partimos dos pressupostos da expansão da produção e reprodução das relações capitalistas, impulsionadoras da industrialização e urbanização, as quais trazem em seu bojo as raízes da referida questão. Contudo, foi somente em meio a luta dos trabalhadores por direitos sociais que a questão da exploração humana passou a fazer parte da cena política, imprimindo ao Estado a necessidade reconhecê-la enquanto uma questão pública.

A partir do reconhecimento da questão social pelo Estado, este ampliou suas funções e passou a administrar e gerir os conflitos de classes não apenas via coerção, mas também através do consenso, considerando-o como favorável ao funcionamento da sociedade de modo a evitar tensões contra hegemônicas. O Estado, no processo de mediações das tensões apresentadas no cotidiano das relações capital e trabalho, toma como centralidade a política sócio-assistencial e efetiva-se através de prestação de serviços sociais.

Segundo Iamamoto, o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista tem uma raiz comum: “a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade” (IAMAMOTO, 2001, p. 27). O que nos faz perceber a existente desigualdade de apropriação de bens e também de terras no cenário nacional.

A questão agrária, enquanto expressão da questão social traz as disparidades e impactos do sistema capitalista no meio rural, as relações de produção no campo são bastante complexas, pois abarca a intensificação da concentração fundiária e, concomitantemente, a resistência dos trabalhadores na luta pela terra e a implantação dos assentamentos rurais. A questão agrária compreende ainda as relações de poder no bojo da correlação de forças entre sujeitos antagônicos com interesses e perspectivas diferenciadas em torno da propriedade da terra, inclusive na realidade brasileira. No caso da situação rural brasileira, são predominantes as relações de dominação e subordinação por meio do capitalismo tardio, que se estrutura em grandes latifúndios concentradores de capital e desempenham a função de reproduzir a questão social do campo, marcada de forma mais específica pelo acesso desigual a terra. Dessa forma, a luta pela terra se torna um dos elementos essenciais para compreendermos a questão agrária no Brasil como expressão da questão social.

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O meio rural tornou-se palco de lutas entre atores sociais taticamente engajados, que expandem os conflitos em torno da posse da terra e se organizam de acordo com seus interesses de classe específicos, estando em um lado, uma elite latifundiária e, de outro, a grande parcela da população dos trabalhadores rurais, secularmente desapropriada pelos donos de terras..

Com base nas raízes históricas do serviço social, é recorrente na literatura, que os Assistentes Sociais passaram a atuar no enfrentamento das mais variadas expressões quotidianas da questão social em diversos setores, o que envolve também a sua presença na questão da propriedade da terra, mais especificamente na questão agrária. No serviço social brasileiro, as discussões pautam-se na compreensão crítica acerca das novidades sobre a questão social, muitas vezes renomeando a expressão e adotando o termo problemas sociais, que se mostra como uma reposição de análise equivocada, que tende a despolitizar o real sentido do termo.

Neste contexto a reforma agrária constitui-se uma questão polêmica no Brasil, já que pôs em jogo interesses de classes antagônicas, bem como as divergências que esses interesses acarretam, favorecendo ora uma e por vezes a outra classe social. Por isso a importância do trabalho dos assistentes sociais junto a essa realidade, lidando com as múltiplas expressões da questão social e procurando meios viáveis a igualdade entre as classes.

O trabalho dos/as Assistentes Sociais nos Assentamentos Rurais de questão agrária

Com o movimento de reconceituação, a profissão iniciou o processo de repensar o seu fazer profissional, de maneira a fugir da neutralidade e do conservadorismo e voltar-se ao compromisso com as classes subalternas. O Assistente Social vem se mostrando cada vez mais como um agente profissional capaz de intervir na realidade dos sujeitos, proporcionando a garantia e efetivação de seus direitos, bem como na implementação das políticas públicas ou sociais, visto que o Serviço Social historicamente participa do processo de produção e reprodução das relações sociais,

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onde seu trabalho se volta à relação estabelecida entre os sujeitos e pelos interesses que envolvem as classes sociais distintas.

O Assistente Social possui a capacidade técnica e teórica de elaborar estratégias de intervenção, de leitura crítica e de transformação da realidade social, possui a habilidade com o trato a pessoa humana e enfrentamento da questão social, o que são questões próprias do Serviço Social. No exercício de suas funções e mediante às demandas inscritas no contexto atual, este profissional necessita desenvolver capacidades técnico-operativas, teóricas e reflexivas para direcionar sua própria ação rumo ao horizonte da cidadania, da democracia, da igualdade e justiça social, visando alcançar uma nova ordem societária.

Os assistentes sociais são desafiados neste tempo de divisas, de gente cortada em suas possibilidades de trabalho e de obter meios de sobrevivência, ameaçada na própria vida. Tempos de crise, em que cresce o desemprego, o sub-emprego, a luta por meios para sobreviver no campo e na cidade. Tempos extremamente difíceis para todos aqueles que vivem do trabalho: para a defesa do trabalho e para a organização dos trabalhadores.<grifos da autora> (IAMAMOTO, 2006, p. 18).

Por meio do surgimento de novas demandas profissionais, o Serviço Social se incorpora às equipes multiprofissionais com a finalidade de realizar ações em assentamentos rurais, acampamentos, comunidades rurais, nas equipes técnicas de organizações não-governamentais, cooperativas de prestação de serviços, assim como, nas instituições governamentais como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), por exemplo, dentre outros espaços.

O agir profissional do assistente social nos assentamentos rurais, possibilita um fortalecimento do saber popular que é delimitado por uma ação essencialmente socioeducativa, no qual o fortalecimento da classe popular implica na adoção de novos meios de construção e utilização do conhecimento, onde a população possa ter acesso não somente a informações institucionais, mas também aos processos de construção dessas informações, bem como aos de tomada de decisões. As suas atividades envolvem a cooperação, a solidariedade, a busca de direitos, a ação conjunta, reinvindicações, o incentivo aos assentados a participar de fóruns de discussões, participação em conselhos, que envolvem, portanto atividades de mobilização, orientação, formação, organização e elaboração, que afirmam a necessidade histórica de direcionamento ao

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projeto ético-político da profissão e que se mostram como enfrentamento às disparidades vigentes, produzidas pela presença do sistema capitalista, que é possível também por meio da organização e da coletividade dos trabalhadores e moradores do campo, através de sua participação social, de sua integração no controle social, avaliando, monitorando e propondo melhorias aos programas, projetos e ações.

Dentre as tarefas mais frequentes realizadas pelos profissionais nos assentamentos rurais, se destacam a formação e organização de grupos (de mulheres, trabalhadores, jovens, idosos, etc.), o acompanhamento da população do campo (no caso dos assentados, por exemplo) às assembleias mensais e reuniões das associações, o acompanhamento dos trabalhos realizados pelos moradores do campo, assessoria na gestão e organização das associações (elaborando atas e ofícios), a organização e fortalecimento das famílias, voltadas ao associativismo e o cooperativismo, o planejamento, a elaboração de projetos, o apoio a comercialização de produtos (de maneira a garantir a subsistência e fonte de renda dos sujeitos), a participação em movimentos sociais e a articulação de parcerias.

Resultados e Discussões:

A busca por parcerias e alianças com outros setores que visem o progresso e bem-estar social, que tendem a um novo tipo de sociedade, é fundamental para recriar novas formas de enfrentamento aos problemas da realidade habitual dos sujeitos envolvidos.

Como desafios enfrentados por estes profissionais aparecem a desmotivação por parte de algumas pessoas, os resultados de suas ações que muitas vezes são obtidos em longo prazo, o comodismo e falta de apoio a determinadas atividades, dificuldades quanto a finalização de projetos e aquisição de recursos, dentre outros que possam existir e que são relativos a realidade de cada assentamento.

Dentre os resultados do trabalho dos assistentes sociais no campo, percebemos a organização dos grupos, a melhoria das famílias assentadas, a ampliação do acesso ao conhecimento e dos seus direitos, a possível visibilidade do trabalho e produção desenvolvidas em muitos assentamentos rurais.

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No decorrer do presente artigo foi possível se compreender uma, dentre muitas das faces da Questão Social: a então chamada Questão Agrária. Esta se torna mais um espaço onde o Serviço Social encontra relações de dependência e dominação, como de desigualdades, onde de um lado, uma minoria possui grandes concentrações de terras e, do outro, muitos lutam por moradia. Diante dessa situação se formam movimentos sociais como o Movimento dos Sem Terra (MST) que realizam ocupações e constroem assentamentos na busca por terras para quem não as possui. O Serviço Social, a partir de sua nova formação, se insere nessa realidade tanto na luta contra a desigualdade social, como na participação nos próprios assentamentos, acompanhando a população, orientando-a e realizando programas e projetos que visem uma melhor participação e bem-estar social de todos através da garantia de seus direitos.

REFERÊNCIAS

IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

MELO, E. [et al] Serviço Social e Questão Agrária, entre as marcas da exclusão, a apreensão de demandas socioprofissionais e o caminhar de ações socioeducativas, sob a perspectiva do desenvolvimento como liberdade: um estudo de caso no projeto de assentamento porto velho. 2007. 102 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social). Faculdade de Serviço Social de Presidente Prudente. São Paulo. 2007.

MOTA, Claudia. O trabalho do/a Assistente Social na Agricultura Familiar – desafios e resultados. Mossoró. 2013. 22 slides. Color.

SILVA, Nelmires Ferreira da. Serviço Social e Questão Social: as particularidades de uma profissão no enfrentamento a questão agrária brasileira. Universidade Federal do Pernambuco, UFBE. 2010.

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