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PEIXES AMEAÇADOS DO RIO DOCE: ESTUDO DE CASO PARA TRÊS ESPÉCIES CRITICAMENTE AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO.

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PEIXES AMEAÇADOS DO RIO DOCE: ESTUDO DE CASO PARA TRÊS

ESPÉCIES CRITICAMENTE AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO.

Minas Gerais é um dos estados brasileiros com maior riqueza de espécies nativos de peixes, estimando cerca de 380 espécies, perdendo possivelmente apenas para aqueles drenados pela bacia Amazônica, a mais rica do planeta. Cerca de dois terços das espécies de Minas Gerais são de distribuição restrita, ocorrendo em apenas uma bacia do Estado (Costa et al., 1998).

A bacia do rio Doce está situada na região Sudeste, entre os paralelos 18°45' e 21°15' de latitude sul e os meridianos 39°55' e 43°45' de longitude oeste, compreendendo uma área de drenagem de cerca de 83.400 km², dos quais 86% pertencem ao Estado de Minas Gerais e o restante ao Estado do Espírito Santo. Limita-se ao sul com a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, a oeste com a bacia do rio São Francisco, e, em pequena extensão, com a do rio Grande. Ao norte, limita-se com a bacia dos rios Jequitinhonha e Mucuri e a noroeste com a bacia do rio São Mateus. Ainda, apresenta riqueza de 77 espécies, sendo 48% delas restrita ou endêmica do Doce.

As atividades antrópicas, muitas vezes, acabam provocando danos às calhas dos rios que compõem a bacia. Assim, estudos em diversas áreas tentam compreender quais são as atividades que causam maior impacto na fauna e flora presente naquele ambiente. Dentre elas, estão relatadas: a destruição das matas ciliares e o cultivo de pastagens em encosta causando erosão e assoreamento ao longo de todo curso do rio, a contaminação por produtos químicos e dejetos domésticos causando a mortandade de espécimes em toda a cadeia trófica e a construção de barragens de pequeno e grande porte que alteram a paisagem do local, as características físico-químicas e a dinâmica hídrica dos rios.

Em 2008, o Conselho de Política Ambiental - COPAM aprovou a deliberação da Lista de Espécie Ameaçada de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais. Nela, além de conter a lista de vertebrados e invertebrados, ainda dispõem informações sobre a manipulação e o transporte desses animais que estão proibidos de serem capturados, exceto para fins científicos, mediante autorização específica dos órgãos ambientais. Na lista de peixes ameaçados de Minas Gerais encontramos 49 espécies distribuídas em 15 famílias e sete ordens (Tab. 1).

Tabela 1: Lista de peixes ameaçados de extinção para o Estado de Minas Gerais. CA – Categoria de ameaça; CR – Criticamente ameaçados; EN – Em Perigo; VU – Vulnerável. Fonte: COPAM, 2008; com modificações.

Ordem Família Espécie Autor Nome popular CA

Characiformes

Anostomidae Leporinus thayeri Borodin, 1929 Piau; timburé CR

Characidae

Brycon devillei (Castelnau, 1855) Piabanha CR

Brycon insignis Steindachner, 1877 Piabanha CR

Brycon nattereri Günther, 1864 Pirapitinga EM

Brycon opalinus (Cuvier, 1819) Pirapitinga-do-sul CR

Brycon orbignyanus (Valenciennes, 1850) Piracanjuva CR

Brycon vermelha Lima & Castro, 2000 Vermelha CR

Henochilus wheatlandii Garman, 1890 Andirá CR

Myleus tiete (Eigenmann & Norris, 1900) Pacu-prata EM Nematocharax venustus Weitzman, Menezes &

Britski, 1986 desconhecido EN

Oligosarcus solitarius Menezes, 1987 Lambari-bocarra EN

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Ordem Família Espécies Autor Nome comum CA

Cyprinodontiformes Rivulidae

Simpsonichthys alternatus (Costa & Brasil, 1994) desconhecido CR Simpsonichthys auratus Costa & Nielsen, 2000 desconhecido CR Simpsonichthys hellneri (Berkenkamp, 1993) desconhecido CR Simpsonichthys

magnificus (Costa & Brasil, 1991) desconhecido CR

Simpsonichthys ocellatus Costa, Nielsen & de Luca 2001 desconhecido CR Simpsonichthys rufus Costa, Nielsen & de Luca, 2001 desconhecido CR Simpsonichthys similis Costa & Hellner, 1999 desconhecido CR Simpsonichthys stellatus (Costa & Brasil, 1994) desconhecido CR Simpsonichthys trilineatus (Costa & Brasil, 1994) desconhecido CR Simpsonichthys zonatus (Costa & Brasil, 1990) desconhecido CR Elopiformes Megalopidae Megalops atlanticus Valenciennes 1847 Tarpão CR Mugiliformes Mugilidae Mugil curema Valenciennes 1836 Tainha; pratibu CR

Perciformes

Carangidae Caranx latus Agassiz 1831 Xaréu CR Centropomidae Centropomus parallelus Poey 1860 Robalo CR

Centropomus undecimalis (Bloch 1792) Robalo CR

Cichlidae Crenicichla jupiaensis Britski & Luengo, 1968 Joaninha EN

Crenicichla mucuryna Ihering 1914 Jacundá EN

Perciformes Gerreidae Eugerres brasilianus (Cuvier 1830) Carapeba CR Gobiidae Awaous tajasica (Lichtenstein 1822) Peixe-flor CR

Siluriformes

Ariidae Genidens genidens (Cuvier 1829) Caçari CR Heptapteridae Rhamdiopsis

microcephala (Lütken, 1874) Bagrinho VU

Loricariidae

Delturus parahybae Eigenmann & Eigenmann, 1889 Cascudo-laje CR

Harttia leiopleura Oyakawa, 1993 desconhecido VU

Harttia novalimensis Oyakawa, 1993 desconhecido VU

Harttia torrenticola Oyakawa, 1993 Cascudinho VU

Neoplecostomus

franciscoensis Langeani, 1990 Cascudinho VU

Pareiorhaphis mutuca (Oliveira & Oyakawa, 1999) Cascudinho CR Pogonopoma parahybae (Steindachner, 1877) Cascudo-leiteiro CR

Pimelodidae

Conorhynchos conirostris (Valenciennes 1840) Pirá; pirá tamanduá VU

Megalonema platanum (Gunther, 1880) Patí, fidalgo CR

Steindachneridion amblyurum (Eigenmann & Eigenmann, 1888) Surubim CR Steindachneridion doceanum (Eigenmann & Eigenmann, 1889) Surubim-do-doce CR Steindachneridion

parahybae (Steindachner, 1877) Surubim-do-paraíba CR

Steindachneridion

punctatum (Miranda Ribeiro, 1918) Surubim CR

Steindachneridion

scriptum (Miranda Ribeiro, 1918) Surubim CR

Zungaro jahu (Ihering, 1898) Jaú CR

Trichomycterus

itacarambiensis Trajano & de Pinna, 1996 Cambeva CR

Dentre os peixes ameaçados da bacia do rio Doce, daremos destaque para três representantes que estão nas mesmas categorias de ameaça: o Surubim-do-doce (Steindachneridion doceanum), o Andirá (Henochilus wheatlandii) e a Pirapitinga (Brycon opalinus) considerados criticamente ameaçados.

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Os peixes de couro conhecidos como surubins são representantes da ordem Siluriformes pertencentes à família Pimelodidae do gênero Steindachneridion. É dentro desse que os taxonomistas colocam o doce ( doceanum) e outras cinco espécies: surubim-do-jequitinhonha (S. amblyurum), surubim-do-paraíba (S. parahybae), Bocudo (S. scriptum) e mais duas espécies conhecidas, apenas como surubim ou suruvi (S. punctatum e S. melanodermatum). Além das espécies vivas ainda podemos contar com dois fósseis, o S. inerenge datado do Oligoceno (33-34 MA) e o segundo fóssil é o S. silvasantosi descrito em 1999 (Garavello, 2005).

Mesmo classificado como Criticamente ameaçado o Surubim-do-doce, um peixe endêmico da bacia do rio Doce (MG e ES), no passado era pescado com certa freqüência ao longo da calha do rio e existem registros históricos de espécimes que chegaram a pesar até 28 kg. Hoje, esta espécie está restrita apenas aos trechos de forte correnteza e de fundo rochoso. Os últimos registros apontam para existência do surubim-do-doce em apenas três localidades: no médio rio Santo Antônio, próximo à cidade de Ferros, baixo rio Manhuaçu e no rio Piranga, na cidade de Ponte Nova (Garavello, 2005; Rosa et al. 2008). Não existem registros recentes para o estado do Espírito Santo, sendo dado como extinto localmente (Vieira e Gasparini, 2008). Os últimos registros para o Surubim-do-doce do nosso grupo de pesquisa são de dois indivíduos para o rio Santo Antônio no período de 2007 e 2008; sete espécimes para o rio Piranga entre os anos de 2002 e 2008.

A Pirapitinga (Brycon opalinus) e o Andirá (Henochilus wheatlandii) são dois Characiformes da família Characidae e são importantes, principalmente, por estarem ameaçados de extinção conforme a lista da fauna brasileira (MMA, 2004) e na lista do COPAM de 2008. A pirapitinga (B. opalinus) é um peixe reofílico, ou seja, ocorrem preferencialmente em ambientes de águas correntes. Sua dieta é baseada em itens alóctones, como moráceas e outros itens vegetais e insetos, demonstrando uma relação trófica fortemente dependente de mata ciliar (Lima, et al. 2003). Nesse sentido, é provável que tenha existido um declínio histórico da espécie, acompanhando o histórico de desmatamento e posterior assoreamento na região. Sua ocorrência é indicada como restrita à bacia do Paraíba do Sul, mas em comunicação pessoal com especialista Flávio Bockmann (Muzeu Zoologia USP - SP), a população do rio Doce pode ser considerada como afim. No último levantamento realizado em 2008, cinco espécimes apareceram restritos ao Córrego Esmeralda, na comunidade Sete Cachoeiras, pertencente ao município de Ferros - MG. Contudo, Vieira (2006) indica uma distribuição mais ampla, incluindo o rio Preto do Itambé, do Peixe, baixo Guanhães e a calha do Santo Antonio, todos localizados no estado de Minas Gerais.

O Andirá, (Henochilus wheatlandii) é uma espécie endêmica do rio Santo Antônio, quase sempre limitada à montante da UHE de Salto Grande. Mas com uma distribuição um pouco mais ampla que a apresentada por Vieira (2006), incluindo o rio Tanque e trechos inferiores a Sete Cachoeiras (obs. pess.) onde foram coletados 14 indivíduos em 2008 em ambas localidades. Ao longo da vida apresentam mudanças de hábitos alimentares, consumindo invertebrados aquáticos na fase juvenil – até os 15 cm de comprimento – e alimentando-se de matéria vegetal (Ficus e podostomatáceas) e “lacrau”, a forma larval de uma espécie da família Corydalidae, Ordem Megaloptera e que vive sob as pedras em ambientes de água corrente. Se ocorrer mudança nos sedimentos, este item alimentar desaparecerá da região afetada. Quando adultos. Atinge 41.3 cm e apresenta similaridade morfológica apenas com a espécie Chilobrycon deuterodon que ocorre no Peru (Lima, et al. 2003). Todos os indivíduos ameaçados citados neste texto estão depositados no Museu de Zoologia João Moojem, Universidade Federal de Viçosa - MG.

Aparentemente as três espécies vêm sofrendo com a fragmentação do hábitat pelas construções de barragens e com as demais alterações do ambiente como vem ocorrendo historicamente: as devastações das matas ciliares, a substituição das matas de encosta por pastagens, o uso de agrotóxico e a introdução de espécies de peixes exóticos. Essas alterações são capazes de atingir espécies que são exigentes quanto à qualidade da água e a disponibilidade de recursos. As três espécies analisadas necessitam de áreas com correnteza forte e em algumas fases da vida dependem de regiões que possua assoalho rochoso para completar o seu ciclo ecológico.

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Portanto, mostram-se sensíveis as alterações que acontecem na bacia hidrográfica do rio Doce. Se não forem aplicados planos de manejo e estudos populacionais específicos para cada uma das populações esses peixes podem mudar para uma categoria mais perigosa que a atual, a de Extinta da natureza.

COSTA, M. R.C., HERRMANN, G., MARTINS, C. S., LINS, L.V. & LAMAS, I. R.

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