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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL. Disciplina SEMINÁRIOS APLICADOS

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Academic year: 2021

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Disciplina SEMINÁRIOS APLICADOS

ANATOMIA, BIOMECÂNICA E PRINCIPAIS PATOLOGIAS DO MEMBRO DISTAL DE EQUINOS: QUARTELA E CASCO

Gustavo Henrique Coutinho Ribeiro Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva

GOIÂNIA 2013

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GUSTAVO HENRIQUE COUTINHO RIBEIRO

ANATOMIA, BIOMECÂNICA E PRINCIPAIS PATOLOGIAS DO MEMBRO DISTAL DE EQUINOS: QUARTELA E CASCO

Seminário apresentado junto à disciplina Seminários Aplicados do Programa de Pós Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás.

Área de Concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Linha de pesquisa: Alterações clínicas, metabólicas e toxêmicas dos animais e meios auxiliares de diagnóstico

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva- EVZ/UFG

Comitê de orientação: Prof.ª Dr.ª Luciana Ramos Gaston Brandstetter- EVZ/UFG Prof. Dr. Rafael Resende Faleiros- EV/UFMG

GOIÂNIA 2013

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 1

2 REVISÃO DE LITERATURA ... 3

2.1ANATOMIADOMEMBRODISTALDOEQUINO ... 3

2.1.1ANEXOS CUTÂNEOS ... 3

2.1.2OSTEOLOGIA ... 8

2.1.3ARTROLOGIA ... 10

2.1.4TENDÕES E LIGAMENTOS ... 11

2.1.5 IRRIGAÇÃO SANGUÍNEA E INERVAÇÃO ... 13

2.2BIOMECÂNICA ... 17

2.2.1 Anatomia funcional do membro cavalo ... 19

2.3PATOLOGIAS ... 22

2.3.1 Doença ou síndrome do osso navicular... 22

2.3.2 Fraturas do osso navicular (sesamóide distal) ... 24

2.3.3 Lesões dos tecidos moles ... 25

2.3.4 Osteoartrite da articulação inter falangeana distal (AID) ... 26

2.3.5 Fraturas da falange distal ... 27

2.3.6 Ossificação das cartilagens colaterais da falange distal ... 28

2.3.7 Contusão de sola, hematomas, e abscessos ... 29

2.3.8 Rachaduras na pinça, muralha, e talões (rachaduras de areia) ... 30

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2.3.10 Luxação ou subluxação da articulação interfalangeana proximal ... 32 2.3.11 Fraturas da falange média ... 32 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 34

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LISTA DE ABREVIATURAS

Articulação inter falangena distal AID Articulação inter falangena proximal AIP

Palmar Digital PD

Tendão flexor digital profundo TFDP Tendão flexor digital superficial TFDS

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Corte transversal do casco do equino, em que foi deixada a superfície interna da sola. ... 4 FIGURA 2: Casco do equino em vista palmar. ... 6 FIGURA 3 Casco do equino, em que foi retirado o tecido córneo queratinizado (casco) e estão evidenciados os córios. ... 8 FIGURA 4: Ossos e cartilagens da porção distal do membro do equino. Vista dorsal à esquerda e palmar à direita. FP: Falange proximal; FM: Falange média; FD: Falange distal; SD: Sesamóide distal e CC: Cartilagem colateral. ... 9 FIGURA 5: Articulações da porção distal do membro do equino. 1: Articulação inter falangeana proximal da quartela ou (AIP) e 2:Articulação inter falangeana distal (AID). ... 10 FIGURA 6: Ligamentos do dígito do equino. 1: ligamentos colaterais das articulações inter falangeanas, 2: ligamentos sesamóideos distais, 3, ligamento anular palmar, 4 ligamentos sesamoideos colaterais e 5: ligamentos anexando a cartilagem colateral à terceira falange. ... 12 FIGURA 7: Irrigação do dígito equino: artéria digital palmar (1); ramo palmar/plantar a falange proximal (2); ramo ao coxim digital (3); ramo dorsal a falange média (4); ramo dorsal a falange distal (5); artéria circunflexa (6). ... 14 FIGURA 8: Irrigação do dígito equino: artéria digital palmar (1); ramo palmar/plantar a falange proximal (2); ramo ao coxim digital (3); ramo dorsal a falange média (4); ramo dorsal a falange distal (5); artéria circunflexa (6). ... 16 FIGURA 9: A. Diagrama das forças que agem sobre falange distal. (1) Forças das lâminas da parede, (2) força de tração do tendão flexor digital profundo, (3) força de compressão da falange média, (4) força de compressão da sola, e (5) as forças de

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tração de ramos extensores do ligamento suspensor e tendão extensor digital comum (longo, no membro pélvico). B. Posição mudanças na falange média (FM), falange distal (FD), sesamóide distal (SD) e parede do casco resultante de levantamento de peso . X = eixo em torno do qual gira a falange distal; seta indica a rotação de carga (linha pontilhada) a linha contínua) estado carregado. ... 21 FIGURA 10: Classificação das fraturas de terceira falange em cavalos. Vista dorsal. Fraturas tipo I: não articulares, oblíquas, do processo palmar; II: articulares, oblíquas, do processo palmar; III: sagitais e articulares e dividem a falange distal ao meio; IV: articulares e envolvem o processo extensor; V: cominutas e podem ser articulares ou não articulares; VI: na margem solear, não articulares e VII: não articulares do processo palmar. ... 28

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1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui o maior rebanho de equinos na América Latina e o terceiro mundial. Somados aos muares e asininos, são oito milhões de cabeças, e movimenta R$ 7,3 bilhões ao ano. O Complexo do Agronegócio Cavalo é responsável pela geração de 3,2 milhões de empregos, entre eles, 641 mil diretos; seis vezes mais do que a indústria automotiva e vinte vezes mais do que a aviação civil (GUERRA, 2008). Usado como meio de transporte durante muitos anos, os equídeos têm conquistado outras áreas de atuação, com forte tendência para lazer, esportes e até terapia. Uma de suas principais funções, contudo, continua sendo o trabalho diário nas atividades agropecuárias, onde aproximadamente cinco milhões de animais são utilizados, principalmente, para o manejo do gado bovino (MAPA, 2013).

Durante milhares de anos, as espécies que deram origem ao cavalo moderno (Equus cabalus), sofreram inúmeras mudanças, dentre elas a adaptação para corrida, a partir da simplificação da porção distal dos membros a um só dígito. O cavalo se tornou capaz de percorrer curtas distâncias, em alta velocidade ou longas distâncias, em baixa velocidade, sempre com baixo custo energético. Isso se tornou uma vantagem evolutiva, pois, por causa disso, ele foi capaz de fugir dos predadores e migrar em busca de forragem, quando essa se tornava escassa. Para alcançar essas exigências de locomoção, o equino desenvolveu particularidades anatômicas que promovem uma maior eficiência energética (WILSON & WELLER, 2011).

As injúrias musculoesqueléticas constituem a principal causa de perdas econômicas na equideocultura. Mais de 50% dos equinos apresentam pelo menos um episódio de claudicação durante a vida (BAILEY et al., 1999) necessitando, portanto, de cuidados clínicos como repouso e administração de analgésicos e/ou anti-inflamatórios. Dentre as diversas enfermidades locomotoras dos equídeos, observa-se que grande parte ocorre nos membros torácicos, mais precisamente em regiões distais à articulação cárpica (STASHAK, 2006), o que torna o estudo dessas regiões muito importante. Diante do exposto, a revisão a seguir abordará anatomia,

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biomecânica e principais patologias ligadas à porção distal dos membros locomotores dos equinos.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1. ANATOMIA DO MEMBRO DISTAL DO EQUINO

Os membros locomotores de um equino, quando comparados aos de outras espécies, possuem estruturas anatômicas especializadas para propiciar a locomoção de forma eficiente e com baixo custo energético. O cavalo é uma verdadeira máquina locomotiva e os milhões de anos de evolução proporcionaram a ele inúmeras particularidades que o tornaram um grande corredor (BOWKER, 2011). O membro distal é constituído pela região distal ao carpo ou ao tarso e está envolvido na maioria dos casos de claudicação nos equinos (BAXTER et al., 2011a). A anatomia dessa região é bem conhecida e vem sendo muito estudada (DENOIX, 2000; WHITCOMB, 2009) visando uma melhor compreensão, da biomecânica da locomoção, de como cada patologia interage com cada estrutura, além bem como do desenvolvimento de novas formas de diagnóstico.

Durante a evolução da espécie equina, seus membros sofreram adaptações especiais para locomoção em altas velocidades, entre elas, a simplificação da região distal a apenas um dígito, a redução dos componentes musculares ditais e o desenvolvimento de estruturas tendíneas fortes e ligamentos para assegurar o comportamento autônomo e passivo dos mesmos (DENOIX, 1994).

2.1.1. Anexos cutâneos

O casco é uma estrutura especializada, projetada para resistir ao desgaste, suportar o peso do animal e absorver o impacto, reduzindo assim, o surgimento de injúrias no aparelho locomotor (PARKS, 2003). Ele está dividido em três partes: parede, sola e ranilha.

A parede, ou muralha, divide-se em regiões distintas, porém contíguas. São elas pinça, quartos e talões. Os talões são as continuações das chamadas barras do casco (Figura 1) (BUDRAS et al., 2009).

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A face externa do casco é convexa de um lado ao outro e se inclina obliquamente de borda a borda. Na frente, o ângulo de inclinação da muralha em relação ao solo é de 50º para o membro torácico e de 55º para o membro pélvico; nos lados o ângulo aumenta gradativamente até chegar em 100º nos talões. A curva da parede é mais larga do lado lateral do que do medial, e a inclinação do quarto medial é mais profunda que a do quarto lateral. Existem cristas na superfície lisa da parede do casco, paralelas à borda coronária, que indicam variações no crescimento do casco. Ela também é marcada por finas estrias paralelas, que se estendem de borda a borda, de um modo quase reto, e indicam a direção dos tubos córneos (PARKS, 2003; KAINER & DEE FAILS, 2011).

A face interna do casco, por sua vez, é côncava transversalmente e sustenta cerca de 600 lamelas epidérmicas primárias finas, que se estendem do sulco coronário até a borda basal da parede. Cada lamela sustenta 100 ou mais lamelas secundárias, dispostas em seção transversal, mantendo o casco e o cório unidos. As FIGURA 1: Corte transversal do casco do equino, em que foi deixada a superfície interna da

sola.

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lamelas secundárias são contínuas na face interna das barras e se encaixam com as lamelas correspondentes do cório lamelar (KAINER, 2011).

A muralha também apresenta duas bordas: coronário e basal. A porção proximal da borda coronário é delgada. Sua superfície externa está coberta por uma camada córnea macia e de cor clara, o períoplo. Ele é uma camada delgada que reveste a parede a uma distância variável, distalmente da banda coronária (POLLITT, 2004).

Já a borda basal do casco é o que deve entrar em contato com o solo. Sua espessura é maior na frente e decresce consideravelmente de trás para os lados, mas há um ligeiro aumento nos talões. Sua face interna está unida à lateral da sola pela linha branca (POLLITT, 2004).

Além disso, a parede do casco está disposta em camadas: externa, média e laminar. A camada externa compreende o períoplo e o estrato tectório. O períoplo é composto de cornos tubulares, macios e não pigmentados, está acima da epiderme e se estende até o tecido subcutâneo. O estrato tectório é uma fina camada de escamas córneas, abaixo do períoplo. A camada média é a mais densa e forma a maior parte da parede. Possui túbulos córneos paralelos, desde a borda coronário até a borda basal. A camada laminar é interna e consiste nas lamelas córneas, as quais são compostas de substâncias córneas não tubulares (DIESEM, 1986). Somente as lâminas epidérmicas secundárias e o cório lamelar recebem terminações nervosas sensitivas, ou seja, são regiões sensíveis do casco. Além disso, ainda há terminações nervosas motoras simpáticas responsáveis pela inervação dos vasos sanguíneos presentes na derme (PARKS, 2003).

A sola é a maior parte da superfície plantar do casco (Figura 2). Ela deve ser côncava, tendo em vista que sua função não é suportar peso. A maior parte da superfície palmar da terceira falange está fixa nela. Ela cobre toda a face palmar ou plantar do membro entre a pinça e a ranilha, contemplando as barras. Onde a margem externa da sola encontra a margem interna da muralha, aparece uma estreita marca branca, denominada ‘linha branca’, importante para o ferrageamento (PARKS, 2003), pois serve de referência para o ferrador. A sola contém aproximadamente 33% a mais de água que a muralha do casco e é, portanto, menos densa e resistente que a parede. Ela é composta por duas bordas, uma

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côncava e uma convexa. A borda convexa se une à parede por meio da linha branca. Uma crista está localizada no meio correspondente aos sulcos laterais da ranilha, na borda côncava da sola (BAXTER et al., 2011a).

A ranilha é uma cunha elástica macia e espessa, com o vértice voltado cranialmente e base localizada entre os talões Ela está no meio das barras do casco, que contém aproximadamente 45% de umidade. Ela é produzida pelas papilas de outra ranilha mais interna, a ranilha sensitiva. A última está separada da terceira falange, do osso navicular e da inserção do tendão flexor digital profundo (TFDP) pelo coxim digital. A ranilha tem como funções: atuar como um elemento amortecedor do impacto nos cascos e auxiliar na irrigação sanguínea para o interior dos cascos (KAINER, 2011). Em cada lado da ranilha existe um sulco profundo, denominado sulco colateral, que separa cada lado da ranilha da sua respectiva barra. Ao centro da ranilha existe um sulco sagital, localizado no meio da face plantar da base da ranilha. (PARKS, 2003).

FIGURA 2: Casco do equino em vista palmar. Modificado de BUDRAS et al. (2009).

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O tegumento do casco é composto por três camadas: epiderme, derme e hipoderme. A epiderme é dividida em estrato germinativo e estrato córneo. O estrato córneo é insensitivo e avascular, e consiste de três partes: parede ou muralha do casco, sola e ranilha. A parede apresenta espessura entre 0,2 a 0,5 cm e cresce, no sentido distal, aproximadamente um centímetro por mês, a partir do estrato germinativo (faixa coronária). Nesse estrato, as células germinativas produzem populações de células filhas (queratinócitos), as quais maturam-se e queratinizam-se, adicionando-se continuamente ao aspecto proximal da parede do casco (POLLITT, 1992).

Cada estrutura do casco (perióplo, parede, barras, lâminas, sola e ranilha) é produzida por uma estrutura sensitiva correspondente, na camada germinativa do cório. São elas: cório perióplico, cório coronário, cório laminar, cório da sola e o cório da ranilha, respectivamente (Figura 3). A superfície da sola do membro torácico é maior do que a do membro pélvico, o que reflete na forma da superfície da falange distal (DENOIX, 2000; BAXTER, 2011b).

O cório adere ao periósteo acima da superfície convexa da 3ª falange. O peso ou a força, aplicados à 3ª falange, são transmitidos à parede do casco, o que significa que o peso do cavalo é sustentado pela parede do casco pela combinação de lâminas sensitivas e insensitivas. Esta formação também permite que o casco apenas cresça distalmente (não em direção à articulação), isso porque as lâminas insensitivas crescem com a parede e as sensitivas permanecem fixas ao periósteo da 3ª falange (MELO et al., 2006).

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2.1.2. Osteologia

A quartela e o casco possuem quatro ossos em sua formação: falanges proximal, média e distal e o osso sesamóide distal ou osso navicular (Figura 4).

A falange proximal, também chamada de primeira falange é um osso longo, situada entre o terceiro metacarpiano ou metatarsiano e a falange média (POLLITT, 1992). Ela está orientada em sentido oblíquo (cerca de 50-55º) distal e dorsalmente em relação ao plano horizontal. A falange média ou segunda falange é um osso curto e achatado dorsopalmarmente, situado entre as falanges distal e proximal. Sua direção corresponde à da primeira falange e sua largura é maior do que sua altura. O osso navicular ou sesamóide distal se encontra palmar à junção das falanges

FIGURA 3 Casco do equino, em que foi retirado o tecido córneo queratinizado (casco) e estão evidenciados os córios. Modificado de BUDRAS et al. (2009).

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média e distal e está em contato com ambas. Ele possui a forma de barco e o seu eixo longitudinal está no sentido transversal em relação ao membro (GETTY, 1986).

Dentro do casco e quase que totalmente envolvida por ele, se encontra a falange distal ou terceira falange. Ela consiste em um osso esponjoso, que apresenta canais, por onde passam vasos sanguíneos. Como a escápula, e ao contrário dos ossos longos do membro, essa falange se articula com outro osso em apenas uma das extremidades. Esse osso não possui córtex ou cavidade medular e é curvada, acompanhando o formato do casco (PARKS, 2003; BUDRAS et al., 2009).

Anexadas à falange distal estão as cartilagens colaterais, em forma de placas romboides irregulares. Elas são curvas em ambos os planos: transversal e frontal, com a superfície abaxial convexa e a axial côncava. Aproximadamente metade da margem distal das cartilagens está ligada ao processo palmar ou plantar FIGURA 4: Ossos e cartilagens da porção distal do membro do equino. Vista dorsal à

esquerda e palmar à direita. FP: Falange proximal; FM: Falange média; FD: Falange distal; SD: Sesamóide distal e CC: Cartilagem colateral.

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da falange distal e o que resta prolonga-se palmarmente. Além disso, aproximadamente 50% da cartilagem está dentro da cápsula do casco, e a outra parte se estende proximal à cápsula do casco (GETTY, 1986; PARKS, 2003).

2.1.3. Artrologia

As articulações inter falangeanas são consideradas gínglimos (Figura 5). Entretanto, elas também são classificadas como articulações selares, onde as superfícies são reciprocamente côncavo-convexa, porque além da flexão e extensão elas permitem algum movimento lateral, bem como ligeira rotação. A amplitude de movimento na AIP é limitada a poucos graus; no entanto, ela é considerável se comparada à amplitude da articulação inter falangeana distal (AID). Articulação inter

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FIGURA 5: Articulações da porção distal do membro do equino. 1: Articulação inter falangeana proximal da quartela ou (AIP) e 2:Articulação inter falangeana distal (AID).

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falangeana proximal (AIP) é uma articulação simples, onde a falange média articula-se com a falange proximal. Em contraste, a articulação interfalangeana distal é uma articulação complexa que envolve o osso sesamóide distal, a falange distal e a falange média. Cada osso articula-se com os outros dois; porém, há pouco movimento na articulação entre a falange distal e o osso navicular (PARKS, 2003).

A articulação inter falangeana proximal, é uma articulação diartrodial, formada pela parte proximal da segunda falange e a parte distal da primeira falange. Na região dorsal da mesma passam o tendão digital extensor longo, juntamente com os ramos dorsais do ligamento suspensório. Existem, ainda, os ligamentos colaterais da AIP, que dão estabilidade à mesma em sentido sagital (BAXTER et al., 2011b).

2.1.4. Tendões e ligamentos

Existe um grande número de ligamentos no membro distal, que servem para manter as articulações em posição e guiar seus movimentos, especialmente porque não há nenhum outro tecido volumoso, como músculos, na extremidade distal para fornecer estabilidade. PARKS (2003), os classifica da seguinte forma (Figura 6):

 Ligamentos colaterais das articulações inter falangeanas proximal e distal.  Dois ligamentos colaterais e dois pares de ligamentos palmares do sesamóide distal que abrangem o aspecto palmar da articulação interfalangeana proximal e que, juntamente com o ligamento sesamóideo reto distal, restringem a dorsoflexão da AID.

 Três ligamentos que mantêm a posição do sesamóide distal em relação à AID: o par de ligamentos sesamóideos colaterais e o ligamento ímpar do sesamóide distal.

 Pelo menos seis ligamentos anexos em cada cartilagem ungueal para as estruturas adjacentes: um que liga à falange proximal, outro que liga à falange distal, outro que prende a cartilagem ao processo palmar ipsilateral, outro que anexa ao processo palmar contralateral, outro que prende ao osso navicular e outro que infiltra o coxim digital.

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FIGURA 6: Ligamentos do dígito do equino. 1: ligamentos colaterais das articulações inter falangeanas, 2: ligamentos sesamóideos distais, 3, ligamento anular palmar, 4 ligamentos sesamoideos colaterais e 5: ligamentos anexando a cartilagem colateral à terceira falange.

Modificado de PARKS (2003).

Na extremidade distal do membro do equino existem tendões de inserção de dois músculos flexores e dois extensores. Os flexores são o tendão flexor digital superficial e o TFDP, enquanto os extensores são o tendão extensor digital comum e o tendão extensor digital lateral (GETTY, 1986; PARKS, 2003). O tendão extensor digital lateral insere-se no aspecto proximolateral da falange proximal. O tendão extensor digital comum se insere principalmente no processo extensor da falange distal, mas também na superfície dorsal da falange média. Na extremidade distal da falange proximal o TFDS se bifurca em duas partes que se inserem na parte proximopalmar da falange média, com uma inserção secundária menor no aspecto distopalmar da falange proximal (DENOIX, 1994).

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Ambos os tendões flexores compartilham a bainha tendínea digital comum que se estende desde o metacarpo distal proximal até quase a bursa do osso navicular distalmente. O movimento dos tendões flexores digitais, fora de sua linha de ação, é limitado pelos ligamentos anulares palmares e digitais. Ambos os tendões flexores estão associados a ligamentos acessórios, que restringem o movimento e armazenam energia para aumentar a eficiência da locomoção (DENOIX, 1994).

É importante ressaltar que no interior do casco se encontram diversas estruturas: coxim digital, falange distal e a maior parte das duas cartilagens colaterais, AID, extremidade distal da falange média, veias, artérias e nervos digitais palmares/plantares e suas ramificações, além do aparato podotroclear (APT) (KAINER & DEE FAILS, 2011). O APT, por sua vez, é composto pelo osso sesamóide distal (navicular), ligamentos colaterais e ímpar do sesamóide, tendão flexor digital profundo (TFDP), ligamento anular digital distal (LADD) e a bursa podotroclear ou do navicular (BPT). Além das estruturas mencionadas, o tendão extensor digital comum (TEDC) se insere na crista da terceira falange e o TFDP na face palmar/plantar da terceira falange (DENOIX et al., 2002; BAXTER et al., 2011a; SEIGNOUR et al., 2011).

2.1.5. Irrigação sanguínea e inervação

O suprimento arterial para o dígito origina-se das artérias digitais palmares. Dentro do casco, as artérias passam através dos canais soleares da falange distal, através do forâmen solear, para transpor o canal solear, e fazem uma anastomose com o vaso contralateral para formar o arco terminal. Cada artéria digital palmar possui vários ramos. São eles (Figura 7):

 Ramo para a falange proximal, o qual se divide imediatamente em ramos dorsal e palmar;

 Ramo para os coxins digitais, que se ramifica em ramos para o coxim digital, derme dos talões e ranilha;

 Outro ramo, o qual se estende dorsalmente e faz uma anastomose com seu par contralateral, para formar a artéria coronária;

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 Ramo dorsal da falange média que faz anastomose com seu par contralateral formando o círculo arterial coronário;

 Ramo palmar a falange média que faz anastomose com seu par contralateral, proximalmente ao osso navicular, promovendo o suprimento sanguíneo à porção proximal dessa estrutura;

 Ramo dorsal a falange distal, que primeiramente localiza-se abaxial as extremidades do osso navicular, e atravessam o forâmen do processo palmar da terceira falange, seguindo dorsalmente a sua parede dorsal até ramificar-se na derme parietal dos quartos e talões.

 Existem ainda, vasos menores, que se irradiam, formando plexos, tais como os plexos naviculares proximal e distal, plexo solear, além da artéria circunflexa, da qual emergem as artérias lamelares responsáveis pelo suprimento sanguíneo da derme dorsal. O casco é divido em três distintas regiões, considerando a irrigação sanguínea: (I) irrigação dérmica palmar coronária e

FIGURA 7: Irrigação do dígito equino: artéria digital palmar (1); ramo palmar/plantar a falange proximal (2); ramo ao coxim digital (3); ramo dorsal a falange média (4); ramo dorsal a falange distal (5); artéria circunflexa (6).

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lamelar, (II) irrigação dérmica coronária dorsal e (III) irrigação dérmica dorsal solear e lamelar (Figura 7).

Estudos angiográficos indicaram que a derme lamelar dorsal é a última a ser perfundida e, portanto, está mais predisposta a lesões por isquemia e reperfusão (PARKS, 2003). O sistema de drenagem do dígito é semelhante ao de irrigação. A diferença mais marcante é a presença de três plexos venosos avalvulares interligados no casco: plexo coronário, plexo venoso dorsal na derme lamelar, e o plexo venoso palmar no cório solear e na face axial das cartilagens ungulares. O plexo venoso dorsal fica na parte profunda da derme lamelar. O plexo venoso palmar ou plantar fica na parte profunda da cório da sola e nas superfícies axiais interiores das cartilagens da falange distal. O plexo venoso coronário reside no coxim coronário, cobrindo o tendão extensor digital e as superfícies exteriores das cartilagens abaxiais da falange distal. Os três plexos são drenados através das veias digitais medial e lateral. A maioria das veias profundas dentro do casco é avalvular, embora ocorram válvulas nas veias superficiais coronárias, subcoronarianas e dos talões (POLLITT, 1992).

A distribuição nervosa do dígito provém do nervo digital palmar e seu ramo dorsal correspondente (Figura 8). Esses nervos são as continuações distais dos nervos palmares, a partir da sua divisão na altura da articulação metacarpo/tarso falangeana em nervos digitais palmares e ramos dorsais. Os ramos dorsais são primeiramente nervos cutâneos que inervam a porção dorsal e abaxial da quartela e da banda coronária. Os nervos digitais palmares prosseguem abaxialmente ao tendão flexor digital profundo, transpondo posteriormente o canal parietal e ramificando-se sobre a superfície parietal da terceira falange. Vários ramos se originam do plexo principal para inervar a derme lamelar dos talões, quartos do casco e a derme da sola e ranilha. Distalmente surgem outros ramos para inervar o ligamento sesamóideo ímpar, a bursa do osso navicular, a AID, a falange distal e os coxins digitais (POLLITT, 1992; PARKS, 2003).

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FIGURA 8: Irrigação do dígito equino: artéria digital palmar (1); ramo palmar/plantar a falange proximal (2); ramo ao coxim digital (3); ramo dorsal a falange média (4); ramo dorsal a falange distal (5); artéria circunflexa (6).

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2.2. BIOMECÂNICA

A biomecânica estuda e analisa as forças e acelerações que atuam sobre os organismos vivos, valendo-se, tanto quanto possível, de uma variedade de técnicas especializadas e avançadas. Os animais estão sujeitos às mesmas leis e regras físicas que os corpos inanimados; logo, a subdivisão da biomecânica é análoga à da mecânica física em duas sub-disciplinas: biodinâmica e biostática (WILSON & WELLER, 2011).

A biomecânica do casco dos equídeos ainda não é bem compreendida. O casco do cavalo é uma estrutura biomecânica altamente otimizada e funciona como estrutura de suporte de peso, tração, proteção contra danos do meio ambiente, assistência circulatória e termo regulatório e propriocepção (STRASSER & KELLS, 2000).

Estruturas biológicas (e às vezes também aquelas projetadas pelo homem) quebram, como resultado de qualquer acontecimento em que a carga que exceda a sua capacidade mecânica ou, mais comumente, a sobrecarga de fadiga crônica, na qual microquebras e a repetição ao longo do tempo levam ao comprometimento de toda a estrutura. O tecido biológico tem a capacidade única de se adaptar às exigências mecânicas e de reparar-se diante de um estímulo mecânico apropriado e tempo suficiente. O completo fracasso de uma estrutura só acontece se o dano, ao longo do tempo, excede a capacidade de adaptação e reparação desse tecido. Como estruturas feitas pelo homem (por exemplo, elevadores, pontes), modelos biológicos têm um fator de segurança inerente, definida como a razão entre o stress máximo que a estrutura pode suportar até a ruptura e a tensão que é mais provável de sofrer durante a sua vida. A maioria dos dispositivos de engenharia tem um fator de segurança de até dez vezes. Infelizmente, os fatores de segurança dos ossos e tendões dos equinos são aproximadamente de 1,5 a 2 vezes (WILSON & WELLER, 2011).

Em essência, o casco é uma estrutura flexível que, sob a pressão do impacto com o solo, dissipa o choque, por meio da compressão e expansão lateral, dos diversos componentes. A compressão aumenta a pressão nos plexos venosos, que agem como amortecedores hidráulicos, e força o sangue proximal dentro das

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veias digitais. Válvulas estratégicas impedem o retorno do sangue ao casco, quando esse está fora do chão (POLLITT, 1992).

Os parâmetros que influenciam a falha de um elemento musculoesquelético são: a força (amplitude, frequência e número de ciclos, velocidade e duração de carregamento) e a sua capacidade de resistir. A força de uma parte individual está relacionada com a força que o conjunto de estruturas dos membros exerce. A força é determinada pela massa corporal, a velocidade de locomoção, e o efeito de alavanca que tem força sobre a parte específica. A capacidade da estrutura para resistir à força é determinada pelas suas propriedades estruturais, o que por sua vez dependem das suas propriedades materiais e as suas dimensões. Estas refletem a magnitude e a direção das forças que agem sobre ele. Forças que causam deformação incluem tensão, compressão, flexão e cisalhamento. A maioria das estruturas está submetida e é otimizada para uma força predominante, mas também tem que ser capaz de resistir a outras forças, em condições normais de uso e ainda mais em circunstâncias excepcionais. Os tendões experimentam forças predominantemente de tração, enquanto que as articulações são sujeitas à compressão e, principalmente, a algumas forças de cisalhamento. Ossos sofrem experiências de flexão, com forças de compressão sobre o lado côncavo e as forças de tração sobre o lado convexo. Os ossos têm de suportar, não só as forças de compressão de peso do cavalo, mas também as forças exercidas pelos músculos, ligamentos e tendões que ligam a eles. Uma falha em um cavalo ao vivo é muito mais complexa do que a mecânica pura e simplesmente, porque os mecanismos de adaptação, reparação e compensação devem ser considerados. A claudicação pode ser, não só uma resposta de dor, mas também um mecanismo de compensação, uma vez que em muitos casos resulta em sobrecarga de um membro ou estrutura afetada (MOORE, 2010; WILSON & WELLER, 2011; ELIASHAR, 2012). Os elementos do sistema musculoesquelético tem que cumprir quatro requisitos principais:

 Transmissão de força sem deformação excessiva e fratura;

 Uso de menor quantidade de energia para manter os custos metabólicos de manutenção;

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 Reserva suficiente de força para lidar com a sobrecarga, no caso de um acidente (MOORE, 2010).

Assim, existe uma troca entre fatores de segurança e os custos energéticos. Em equinos, o equilíbrio é deslocado em favor de manter os custos energéticos baixos e aceitar um risco relativamente elevado de lesão musculoesquelética. Tendões (como os tendões flexores digitais equinos ou o tendão de Aquiles humano) precisam se esticar para armazenar energia na locomoção. Para desempenhar esse papel, precisam atingir altas tensões, o que os coloca em um risco elevado para a sobrecarga e danos mecânicos (MOORE, 2010).

2.2.1 Anatomia funcional do membro cavalo

Os cavalos têm a capacidade de se locomover rápido em distâncias curtas (velocidades de corrida podem chegar a 75 km/h) e também de percorrer longas distâncias a velocidades mais lentas, com um baixo custo energético. Essa foi uma vantagem evolutiva, que lhes permitiu, não só fugir de predadores, mas também migrar grandes distâncias em busca de alimentos. Para atingir esses dois requisitos, o cavalo desenvolveu características anatômicas que promovem eficiência energética. Embora a maioria dos veterinários esteja familiarizada com alguns mecanismos para poupar energia, como a presença dos cascos, o mecanismo de bloqueio da patela e o aparelho recíproco, existem muitas outras funcionalidades que desempenham um papel importante, no sentido de garantir locomoção com eficiência energética (WILSON & WELLER, 2011).

Embora a função, tanto dos membros torácicos, quanto pélvicos, seja sustentar o corpo do equino em repouso ou deslocá-lo para frente, quando em movimento, observa-se uma nítida distribuição do peso entre eles. Os membros torácicos sustentam cerca de 55% a 60% de todo o peso do equino, enquanto os pélvicos sustentam somente cerca de 40% a 45% do peso (GETTY, 1986).

O peso é distribuído ao longo da muralha do casco e imediatamente adjacente à sola e ranilha. Nos equinos ferrados, o peso encontra-se distribuído na muralha e sola, quando em posição quadrupedal. No entanto, se o equino

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permanece numa superfície que se adapta à forma do casco, a distribuição do peso ocorre ao longo da sola e ranilha (PARKS, 2003).

Em posição quadrupedal, o boleto e o dígito estão impedidos de hiperextensão não-fisiológica pelo aparato suspensor do boleto, que é constituído pelos ossos sesamóides proximais, ligamentos: suspensório, sesamóides distais reto, oblíquos e cruzados, inter sesamóideos, frenadores supra e infracarpal; e os tendões flexores superficial e profundo (KAINER & DEE FAILS, 2011).

Durante a flexão do boleto e dígitos, a maior parte do movimento é no boleto, o que resta de movimentação é na quartela, e o movimento na AID é intermediário. Embora as articulações inter falangeanas sejam gínglimos, a manipulação pode causar flexão transversal e alguma rotação axial quando flexionadas. A contração dos músculos extensores digitais comuns e lateral, faz com que os ossos e articulações do dígito se alinhem pouco antes do casco atingir o chão (JOHNSTON & BACK, 2006).

Quando o cavalo toca o chão com os cascos, os talões são os primeiros a bater no solo, seguido em ordem, pelos quartos e a pinça. A expansão dos talões é facilitada pela elasticidade da parede do casco, que é mais espessa na pinça e se torna mais fina, conforme se aproxima dos talões. A maior parte do impacto é sustentada pela parede do casco e essa compressão da parede cria uma tensão nas inter digitações das lâminas epidérmicas e dérmicas e, por conseguinte, ao periósteo da falange distal. A força de compressão axial é transmitida através das falanges. A sola côncava, não suporta muita força e está ligeiramente pressionada pela pressão da falange distal, fazendo com que ocorra a expansão dos quartos. A posição das barras minimiza a expansão da sola. A inclinação da AID ocorre quando o osso navicular empurra, em direção distopalmar, a articulação, através das forças exercidas pelos ligamentos sesamóideos colateral, ímpar distal e o tendão do músculo flexor digital profundo, que força o osso através da bursa do navicular (MOORE, 2010).

As forças que atuam sobre a falange distal estão indicadas na Figura 9. A magnitude e a direção das forças podem mudar de acordo com a posição dos membros e a energia armazenada. A concussão é dissipada pela pressão na

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ranilha, sendo transmitida para o coxim digital e cartilagens colaterais (KAINER & DEE FAILS, 2011).

A expansão lateral do casco e das cartilagens da falange distal comprime os plexos venosos do casco, forçando proximalmente o sangue nas veias digitais. A absorção de choque hidráulico, pelo sangue dentro dos vasos, aumenta o amortecimento, que também ocorre diretamente pelo coxim digital, pela ranilha e pela elasticidade da parede do casco (PARKS, 2003).

Durante o choque com o solo, os ligamentos palmares da articulação inter falangeana proximal, o ligamento sesamóideo reto, e o tendão flexor digital profundo fornecem a tensão necessária para evitar a super extensão da AIP(PARKS, 2003).

A AID é sustentada pelo tendão flexor digital profundo durante a descida do boleto do cavalo em galope. O aparelho suspensório do boleto e os tendões flexores digitais garantem que não ocorra super extensão do boleto. No entanto, quando todo o peso do cavalo, é suportado momentaneamente por um único membro torácico, durante o galope, o aspecto palmar do boleto chega perto do chão (KAINER & DEE FAILS, 2011).

FIGURA 9: A. Diagrama das forças que agem sobre falange distal. (1) Forças das lâminas da parede, (2) força de tração do tendão flexor digital profundo, (3) força de compressão da falange média, (4) força de compressão da sola, e (5) as forças de tração de ramos extensores do ligamento suspensor e tendão extensor digital comum (longo, no membro pélvico). B. Posição mudanças na falange média (FM), falange distal (FD), sesamóide distal (SD) e parede do casco resultante de levantamento de peso . X = eixo em torno do qual gira a falange distal; seta indica a rotação de carga (linha pontilhada) a linha contínua) estado carregado.

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2.3. PATOLOGIAS

As patologias da porção distal do aparelho locomotor são a causa mais frequente de atendimento médico em equinos (BAXTER, 2011). Devido ao alto grau de especialização, seu aparelho locomotor passou a ser sensível a diversas alterações patológicas, o que fazem com que esse animal seja frequentemente acometido de patologias do aparelho locomotor (BAXTER, 2011).

2.3.1. Doença ou síndrome do osso navicular

A doença do navicular ou síndrome navicular continua sendo uma das causas mais polêmicas e comuns de claudicação intermitente dos membros torácicos em cavalos entre quatro e 15 anos de idade (DYSON, 2003; TURNER, 1989). Estima-se que a síndrome seja responsável por um terço de toda a claudicação crônica dos membros torácicos em cavalos quarto de milha e puro-sangue inglês (RIJKENHUIZEN, 2006). Particularmente, animais castrados parecem ter um maior risco e a síndrome raramente é diagnosticada em pôneis ou árabes (DYSON, 2003). A doença tem demonstrado que tem uma predisposição hereditária, possivelmente devido à conformação do membro do cavalo ou com a forma específica do osso navicular. Acredita-se que outros fatores, tais como a conformação defeituosa, desequilíbrios do casco, ferrageamento inadequado ou irregular e exercícios em superfícies duras, também são fatores que predispõem e agravam essa condição. Embora os membros pélvicos possam ser acometidos, isso raramente acontece. A doença do navicular é considerada um problema principalmente dos membros torácicos (BAXTER et al., 2011b).

A definição de doença do navicular é controversa e parece diferir entre os médicos veterinários. O termo "doença" implica numa causa conhecida e um tratamento específico, os quais não são conhecidos para a doença do navicular e, portanto, alguns preferem o termo "síndrome do navicular" como o mais correto (BAXTER et al., 2011b). Além disso, muitos cavalos com dor bilateral nos cascos apresentam danos aos tecidos moles concorrente às anormalidades ósseas do osso navicular, sugerindo que, na maioria dos cavalos, o termo síndrome pode ser mais

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apropriado. O termo "Síndrome podotroclear" tem sido utilizado para descrever esses cavalos, pois engloba uma grande variedade de patologias. No entanto, o termo "doença navicular" é frequentemente utilizado quando alterações radiográficas óbvias estão presentes no osso navicular e os termos "síndrome navicular" ou "dor palmar no casco" são usados para descrever cavalos que respondem a um bloqueio do nervo palmar digital, com o mínimo de alterações radiográficas (BARBER et al., 2006; SAMPSON et al., 2008). Isto é um tanto arbitrário, mas evita rotular cavalos como portadores de doença do navicular, quando a claudicação pode ser devido a muitas outras fontes, também localizados no casco.

A doença/síndrome do navicular tem sido definida como uma claudicação dos membros torácicos, crônica, associada à dor decorrente de alterações do osso navicular e estruturas afins, incluindo os ligamentos colaterais do osso navicular, ligamento ímpar do sesamóide distal, bursa do navicular, e o tendão flexor digital profundo. A doença é caracterizada por alterações degenerativas na estrutura, composição e a função mecânica da cartilagem, osso subcondral e tecidos moles do aparato podotroclear. No entanto, documentar muitas destas anormalidades em cavalos que não têm anormalidades radiográficas requer meios especializados de diagnóstico por imagem, como a tomografia computadorizada, ultrassonografia ou a ressonância magnética. Além disso, os desequilíbrios do casco, talões contraídos, entre outros, podem ser as únicas causas da claudicação, sem anormalidades nas estruturas mais profundas do casco (DABAREINER & CARTER, 2003).

Nem todas as claudicações associadas à dor palmar do casco devem ser rotuladas como doença ou síndrome navicular. Alguns clínicos acham que a doença do navicular/síndrome deve ser reservada para os cavalos com claudicação bilateral crônica dos membros torácicos, que atende a um conjunto muito específico de critérios diagnósticos (BAXTER, 2011). A maioria dos cavalos com doença navicular tem uma claudicação bilateral dos membros torácicos, apresenta dor no teste com a pinça de casco, em todo o aspecto central ou cranial da ranilha, e apresenta alguma evidência de alterações radiográficas dentro do osso navicular. No entanto, a sensibilidade do operador da pinça de casco pode ser variável e baseada em estudos recentes de ressonância magnética, a falta de alterações radiográficas não descarta uma patologia no osso navicular (BARBER et al., 2006).

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2.3.2. Fraturas do osso navicular (sesamóide distal)

As fraturas do osso navicular constituem causas incomuns de claudicação em cavalos. Esse tipo de fratura tem sido relatado em muitas raças e em cavalos com uso variado (LILLICH et al., 1995). A fratura completa pode ocorrer após um trauma agudo ou secundário à desmineralização óssea grave devido à doença do navicular ou osteomielite secundária à sepse (FÜRST & LISCHER, 2012). Fraturas com avulsão são frequentemente associadas à doença do navicular e ocorrem ao longo da borda distal do osso (VAN DE WATERING & MORGAN, 1975; DYSON, 2011a). Os membros torácicos parecem estar em maior risco de fratura (LILLICH et al., 1995; FÜRST & LISCHER, 2012). Em um relato, 22 de 25 fraturas do osso navicular estavam nesses membros e em outro estudo, 15 de 17 estavam nos membros torácicos (LILLICH et al., 1995).

As fraturas do osso navicular foram classificadas como fraturas por avulsão/fragmentos, fraturas completas simples (transversal ou oblíqua), fraturas completas cominutivas e ossos naviculares bipartidos congênitas. Este último não é considerado uma fratura verdadeira, mas pode ser confundida com uma fratura crônica com base em sua aparência radiográfica. As fraturas por avulsão geralmente envolvem a borda distal do osso navicular e são frequentemente associadas a outros sinais radiográficos de síndrome do navicular (VAN DE WATERING & MORGAN, 1975; DYSON, 2011a). Os fragmentos da fratura variam na forma e são geralmente pequenos (0,2-1,2 cm de tamanho), e ocorrem mais comumente em cavalos que apresentam claudicação. As fraturas completas simples podem ser verticais, ligeiramente oblíquas, ou transversais. As fraturas verticais e ligeiramente oblíquas geralmente podem ocorrer na parte medial ou lateral, mas bastante próximo à eminência central (crista sagital) do osso navicular. Geralmente, essas fraturas não são deslocadas, mas são geralmente ligeiramente separadas, de forma que uma linha de fratura óbvia é observada na radiografia. Fraturas completas cominutivas são mais raras do que as fraturas completas simples (DYSON, 2011b).

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2.3.3. Lesões dos tecidos moles

Algumas estruturas dentro do casco são insensíveis ao bloqueio do nervo palmar digital (PD) (SCHUMACHER et al., 2013). Historicamente, os cavalos que respondem ao bloqueio do nervo PD foram diagnosticados como portadores de doença do navicular, síndrome do navicular, ou dor palmar do casco. O diagnóstico de doença do navicular geralmente é reservado para os cavalos com anormalidades nas radiografias do osso navicular e síndrome do navicular e dor palmar do casco para os cavalos sem anormalidades nas radiografias do osso navicular. DENOIX et al. (2002) chamaram a doença de Síndrome Podotroclear, quando esta tem estruturas de tecido mole envolvidas.

Diferentes patologias podem causar dor na parte palmar do casco e reagir de forma não esperada ao tratamento e podem ser relacionadas a prognósticos diferentes. Na verdade, a doença do navicular é um termo para os sinais clínicos e a diferenciação do problema subjacente é essencial se quisermos compreender melhor a etiopatogenia, tratamento e prognóstico adaptando à patologia real e talvez até mesmo estratégias para evitar problemas no futuro (RIJKENHUIZEN, 2006). Os sinais clínicos clássicos de dor palmar do casco podem ser o resultado de:

• Doença do navicular: alterações no osso navicular, tais como: edema, estase vascular, alargamento do foramen nutricium nas bordas proximal e distal, cisto em áreas medulares, alterações do osso subcondral, alterações na face flexora do osso e fragmentação da borda distal;

• Desmite dos ligamentos colaterais;

• Tendinite do TFDP em três localizações possíveis: inserção do tendão, palmar ao osso navicular e proximal ao osso navicular;

• Desmite do ligamento ímpar;

• Desmite do ligamento anular distal;

• Sinovite na articulação interfaleangeana distal; • Sinovite na bursa navicular;

• Lesão cística na segunda falange.

Lesões dos tecidos moles do casco sempre foram uma das suspeitas em cavalos com dor palmar, que não apresentam alterações radiográficas, mas estas

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alterações eram difíceis de delinear. Com recentes avanços em ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, o reconhecimento desses problemas potenciais se torna melhor a cada dia (BUSONI & DENOIX, 2001; BUSONI et al., 2006; DENOIX et al., 2011; SEIGNOUR et al., 2011; DUPAYS et al., 2012; JACQUET & DENOIX, 2012). Por exemplo, um estudo recente de ressonância magnética revelou uma associação positiva entre lesões do TFDP e patologia do osso navicular, envolvendo todos os aspectos do osso (DYSON & MURRAY, 2007). No entanto, a tendinite primária do TFDP foi encontrada com mais frequência do que a patologia do osso navicular e tendinite concomitante (43% contra 19%) em outro estudo utilizando também a ressonância magnética (DYSON et al., 2003).

Outros ligamentos localizados na quartela também podem desenvolver desmites, devido às constantes forças multidirecionais aplicadas sobre o membro. Essas patologias também devem entrar no diagnóstico diferencial da dor palmar no casco, que é um sinal clínico frequente. A investigação ultrassonográfica desses ligamentos deve ser feita com muito critério e conhecimento anatômico. Os ligamentos colaterais da AID são um bom exemplo de estruturas que sofrem com desmites, que vem sendo relatadas por vários autores, e precisam ser considerados no diagnóstico diferencial (DYSON et al., 2004; DENOIX et al., 2011).

2.3.4. Osteoartrite da articulação inter falangeana distal (AID)

Osteoartrite, sinovite, ou ainda, capsulite da AID, ou "baixo ringbone", é uma causa comum de claudicação dos membros torácicos em cavalos. Ela pode ser a principal causa de claudicação ou pode ocorrer simultaneamente com outras patologias do casco, tal como a doença do navicular. Historicamente, casos avançados de ringbone têm sido associados com exostose do processo extensor da terceira falange, contribuindo para um aumento na banda coronária e distorção do casco (BAXTER et al., 2011b).

DECHANT et al. (2000) e BAXTER et al. (2011b) acreditavam que a distorção do casco é secundária e ocorre raramente, e a maioria dos casos onde o casco se deforma está associada com fraturas no processo extensor da falange distal.

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2.3.5. Fraturas da falange distal

Fraturas da falange distal constituem uma causa incomum de claudicação, em comparação com as inúmeras outras condições que afetam o casco do cavalo. Essas fraturas podem ocorrer em qualquer membro, mas mais comumente afeta a face lateral do membro torácico esquerdo e a face medial do membro torácico direito em cavalos de corrida. Embora as fraturas de terceira falange possam assumir uma variedade de configurações, essas podem ser classificadas em sete tipos. (Figura 10). Apesar de todas as raças e classes de cavalos possam ser acometidas, parece haver uma maior incidência em raças de corrida (RABUFFO & ROSS, 2002; BAXTER et al., 2011b).

As fraturas tipo I e II são os tipos mais comuns e a maioria dessas fraturas podem abranger a AID (BAXTER et al., 2011b). Fraturas do tipo I são fraturas não articulares, oblíquas, do processo palmar (asa da terceira falange). As fraturas do tipo II são articulares, oblíquas, do processo palmar (asa da terceira falange) e são consideradas os tipos mais comuns. (SCOTT et al., 1979; RABUFFO & ROSS, 2002).

Fraturas do tipo III são sagitais e articulares e dividem a falange distal ao meio. Essas fraturas são incomuns e representam 3 a 4% das fraturas de falange distal e ocorrem mais comumente no membro pélvico. Em um relato em cavalos de corrida, 71 de 74 fraturas identificadas foram fraturas da asa da terceira falange (tipos I e II) a maioria dessas fraturas foi considerada fratura articular (RABUFFO & ROSS, 2002). Em um relatório de mais de 65 casos de fraturas de terceira falange, 57 de 65 (89,5%) casos acometeram a asa lateral do membro torácico esquerdo ou a asa medial do membro torácico direito; 53 de 65 (82%) casos envolveram a AID (SCOTT et al., 1979).

Fraturas do tipo IV são articulares e envolvem o processo extensor. Elas ocorrem mais frequentemente no membro torácico e podem ser bilaterais. As fraturas do tipo V são cominutas e podem ser articulares ou não articulares, pois podem apresentar diversas configurações (BAXTER et al., 2011b). As fraturas do tipo VI são fraturas na margem solear, não articulares. As fraturas do tipo VII são as

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fraturas não articulares do processo palmar da falange distal em potros. Essas fraturas são raras, começam e terminam na margem solear e geralmente são triangulares ou retangulares (BAXTER et al., 2011b).

2.3.6. Ossificação das cartilagens colaterais da falange distal

A ossificação das cartilagens colaterais da falange distal é relativamente comum em certas raças de cavalo, incluindo a maioria das raças grandes, dentre elas, o Brasileiro de hipismo. Os membros torácicos parecem ser os mais

FIGURA 10: Classificação das fraturas de terceira falange em cavalos. Vista dorsal. Fraturas tipo I: não articulares, oblíquas, do processo palmar; II: articulares, oblíquas, do processo palmar; III: sagitais e articulares e dividem a falange distal ao meio; IV: articulares e envolvem o processo extensor; V: cominutas e podem ser articulares ou não articulares; VI: na margem solear, não articulares e VII: não articulares do processo palmar.

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comumente envolvidos e o significado clínico da condição permanece questionável. Fêmeas parecem ser mais suscetíveis ao desenvolvimento dessa condição e a cartilagem lateral, muitas vezes, apresenta mais ossificação do que a medial. Ela pode começar na base da cartilagem ou se originar como uma área separada no centro da cartilagem (BAXTER et al., 2011b). Em um estudo com cavalos da raça Brasileiro de hipismo, 7% não tinham ossificação, 86% tinham ossificação começando pela base, e 7% tinham um centro separado de ossificação (MELO E SILVA & VULCANO, 2002). Em um estudo radiográfico com 462 cavalos Finlandeses (Finnhorse), 80% tinham evidência de ossificação das cartilagens colaterais (RUOHONIEMI et al., 1997). A condição foi observada em 93% dos cavalos da raça Brasileiro de hipismo (MELO E SILVA & VULCANO, 2002). Outro estudo mostrou que dez por cento dos cavalos mestiços e 80% dos cavalos de tração apresentaram ossificação das cartilagens e a essa foi mais extensa em cavalos de tração do que em mestiços. As cartilagens lateral e medial ossificaram de forma igual em cavalos de tração, mas a cartilagem lateral foi mais comumente envolvida em mestiços. Nesse mesmo estudo, concluiu-se que a ossificação da cartilagem não tinha significância clínica (VERSCHOOTEN et al., 1996).

2.3.7. Contusão de sola, hematomas, e abscessos

Um hematoma resulta da ruptura dos vasos sanguíneos do cório sob a sola, ranilha ou parede do casco. Com o tempo, a hemorragia se espalha para as camadas mais profundas da epiderme e torna-se visível, à medida que o casco cresce. Logicamente, contusões são mais visíveis quando a hemorragia é superficial e o casco é não pigmentado. É provável que a dor associada à lesão seja devida à resposta inflamatória, mas também pode estar associada ao aumento da pressão subsolear (BAXTER et al., 2011b).

As contusões de sola são classificadas em três tipos: secas, úmidas ou supurativas. Isso vai depender de como a lesão se apresenta clinicamente, sendo que contusões secas podem aparecer como manchas vermelhas na sola e podem não causar quaisquer sinais clínicos. Geralmente, são resultantes de hemorragias velhas. Contusões úmidas ocorrem quando o soro sanguíneo, proveniente do

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hematoma, se acumula abaixo da epiderme contundida e podem causar claudicação leve. Contusões supurativas são contusões que foram contaminadas e muitas vezes contribuem para um quadro de claudicação mais grave (BAXTER et al., 2011b).

2.3.8. Rachaduras na pinça, muralha, e talões (rachaduras de areia)

Fendas nas paredes do casco, causadas principalmente por traumatismos, representam uma falha focal de parede e, como tal, podem ocorrer em qualquer lugar na parede do casco. A maioria é orientada na direção dos túbulos do casco. Rachaduras da parede do casco geralmente são descritas de acordo com sua localização (pinça, quartos, talões, ou barras), comprimento (parcial ou completo), profundidade (superficial ou profunda), e pela presença ou ausência de hemorragia ou infecção. Na maioria dos casos, o dano da parede subjacente é consideravelmente mais amplo do que aquele observado a partir do exterior. Essas fissuras podem ocorrer em qualquer membro e podem ser superficiais, quando envolvem o tecido córneo, ou profundas, se a fissura é espessa e envolve a lâmina sensível abaixo. Rachaduras e fissuras nos quartos geralmente são mais graves, porque envolvem as lâminas sensíveis do casco. Os cavalos acometidos usualmente mancam e podem ter hemorragias pós-exercício. Infecções na fissura do casco são comuns (MOYER, 2003; BAXTER et al., 2011b).

2.3.9. Laminite

A laminite é a inflamação das lâminas do casco. A laminite equina é uma doença que cursa com a falha na sustentação, feita pelos tecidos moles do casco, da terceira falange. As lâminas dérmica e epidérmica dos dígitos sofrem necrose devido a diversos fatores, o que comumente resulta em claudicação incapacitante, que resulta do deslocamento da falange distal dentro da cápsula do casco. Esse deslocamento pode ser simétrico, em sentido distal, ou afundamento da falange, assimétrico da falange distal (medial ou lateral), ou ainda, pode ocorrer a rotação da falange, com deslocamento da ponta do osso em sentido distal. Tanto o

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deslocamento distal, como a rotação, podem ocorrer no mesmo cavalo (BAXTER et al., 2011b).

A laminite não é uma doença primária. Geralmente ocorre como sequela a quatro fatores clínicos distintos:

1. Doenças associadas à sepse ou endotoxemia;

2. Sobrecarga ou peso excessivo em um membro devido a uma lesão no membro contralateral;

3. Síndrome de Cushing em cavalos mais idosos;

4. Síndrome metabólica equina, incluindo laminite associada a pastagens ricas em carboidratos.

Laminite secundária ao consumo de Juglans nigra (nogueira preta ou nogueira negra, uma árvore existente nos Estados Unidos) poderia ser listada em quinto lugar como causa da doença. Porém, sua ocorrência é muito mais rara do que as outras quatro causas (BAXTER et al., 2011b).

A maior parte das pesquisas recentes em laminite tem-se centrado em modelos de sepse e endotoxemia. No entanto, alguns grupos tem feito progressos no estudo da laminite relacionada à síndrome metabólica. Existem poucos dados disponíveis sobre laminite secundária à síndrome de Cushing. Os dois principais modelos experimentais sobre a doença são a sobrecarga de carboidratos e a indução com extrato de nogueira preta. Esses parecem ser os modelos experimentais, que promovem inflamação sistêmica semelhante à sepse. A inflamação sistêmica e a endotoxemia têm sido documentadas na sobrecarga por carboidratos. A laminite associada a pastagens envolve a ingestão de alimentos com quantidade excessiva de carboidratos de cadeia longa, por um grande período de tempo (HOOD et al., 2001; BELKNAP et al., 2009; STEWART et al., 2009).

A literatura sobre a laminite normalmente se refere a três estágios da doença: fase de desenvolvimento, fase aguda e fase crônica. O estágio de desenvolvimento, também conhecida como fase prodômica, é o período que acomete todo cavalo que está com uma doença que oferece risco de laminite (enterocolite, metrite ou abdômen aguda cirúrgico, entre outros), antes do aparecimento dos sinais clínicos de laminite. Na fase aguda, o dígito do cavalo exibe sinais clínicos da doença, mas sem nenhuma evidência radiográfica de

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deslocamento da falange distal. Já na fase crônica, o deslocamento da falange distal ocorreu e pode continuar. Como o deslocamento da falange distal pode ocorrer durante dias após o início dos sinais clínicos de laminite, o curso crônico cobre uma ampla variedade de apresentações clínicas que vão, desde o cavalo com lâminas instáveis, até o deslocamento da falange distal. Mesmo que o início do processo da doença tenha sido vários anos antes e que animal tenha lâminas estáveis, esse animal pode apresentar uma claudicação crônica, devido ao deslocamento da falange distal, geralmente devido à constante pressão da falange distal deslocada sobre a sola, contusões soleares ou hematomas (PARKS & MAIR, 2009).

2.3.10. Luxação ou subluxação da articulação interfalangeana proximal

A luxação da AIP é incomum e pode ocorrer na direção medial, lateral, ou palmar. A luxação medial ou lateral é geralmente observada após lesão grave de um dos ligamentos colaterais da AIP, ocasionada por um trauma externo e pode ser aberta ou fechada. Quando esta ocorre em sentido palmar, geralmente é decorrente de uma lesão grave traumática dos tecidos moles, tais como ruptura completa do ligamento sesamóideo distal ou reto, ramos do TFDS, ou uma combinação destas lesões. Quando a luxação acontece nos dois sentidos, quase sempre envolve um único membro (BAXTER et al., 2011b).

Subluxações da AIP ocorrem com mais frequência em direção dorsal, são menos frequentes em sentido palmar e podem envolver um ou ambos os membros. Os termos dorsal ou palmar referem-se à subluxação da falange proximal em relação à posição da falange média. Subluxações dorsais da AIP são mais comuns em cavalos jovens e podem ser secundárias a deformidades flexurais e outras doenças ortopédicas do desenvolvimento (BAXTER et al., 2011b). Apesar de ser considerada incomum, a subluxação ou luxação da AIP representou 21% dos cavalos submetidos à artrodese da AIP (KNOX & WATKINS, 2006).

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Fraturas de segunda falange ocorrem mais comumente nos membros pélvicos, em cavalos de meia-idade, usados para provas como: apartação, laço, tambor, polo, e rédeas. Entretanto, ela também pode acometer os membros torácicos. Essas fraturas podem ocorrer em qualquer cavalo durante atividades no cabresto, após chutes ou quedas, ou qualquer forma de evento traumático e também podem ser vistas em potros. A condição geralmente envolve a fise proximal, resultando em subluxação da AIP. Com base em estudos retrospectivos, os cavalos Quarto de Milha representam cerca de 50% dos animais acometidos por essa patologia. Embora a fratura seja comum em cavalos Quarto de Milha, qualquer raça pode ser afetada (BUKOWIECKI & BRAMLAGE, 1989; CRABILL et al., 1995).

Existem relatos de diversos tipos de fratura, envolvendo a falange média. A fratura pode ser localizada dorsalmente (mais comum) ou no aspecto palmar, lateral ou medial à linha média. Fraturas palmares não costumam envolver os anexos do ligamento sesamóide distal ou os ramos de TFDP. Alguns fragmentos osteocondrais podem ser vistos em cavalos jovens, no aspecto palmar proximal da segunda falange e que parecem ser fraturas por avulsão. Apesar do tamanho dos fragmentos, o desenvolvimento de osteoartrite secundária aparece lentamente, mas a remoção é geralmente recomendada (SCHNEIDER et al., 1994; RADCLIFFE et al., 2008).

Fraturas cominutivas são as fraturas que mais ocorrem na segunda falange. Elas quase sempre envolvem a AIP, mas frequentemente se estendem distalmente na AID (biarticular). Uma variedade de configurações da fratura é possível, mas normalmente várias linhas de fraturas, orientadas em várias direções são visíveis na radiografia. Além disso, não é incomum que essas fraturas tenham múltiplos fragmentos. Embora tenham um aspecto “triturado”, e resultem em instabilidade da região da quartela, essas lesões raramente são abertas (BAXTER et al., 2011b).

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O membro distal do equino é um sítio frequente de lesões. Devido à sua importância na locomoção do cavalo, é importante aprofundar os conhecimentos sobre anatomia e biomecânica da região, pois com isso, torna-se possível um melhor entendimento de como cada patologia acontece.

As doenças do membro distal frequentemente são causas de incapacitação de animais para o esporte, além de piora na qualidade de vida desses e até necessidade de eutanásia. Desses fatores advêm muitas perdas econômicas. Ao compreender melhor cada patologia, o diagnóstico dos médicos veterinários será mais detalhado e específico.

Os meios de diagnóstico por imagem se tornam cada dia mais acessíveis e portáteis. Os aparelhos de raios-X hoje são menores, e o advento da radiologia digital facilita o diagnóstico a campo, pois extingue a necessidade de uma câmara escura para a revelação. A ultrassonografia também se beneficiou das novas tecnologias. Hoje existem baterias mais duráveis e telas mais finas, com resolução de imagem superior às de outrora. Isso fez com que os aparelhos diminuíssem de tamanho e ganhassem um maior poder diagnóstico, além de poderem ser levados e utilizados em qualquer situação.

Porém, ainda existe uma limitação técnica para o uso desses recursos, por muitos profissionais que trabalham com cavalos. O conhecimento profundo da anatomia é essencial para o diagnóstico preciso, já que existem diversas estruturas envolvidas e cada uma delas possui particularidades na causa e no tratamento.

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REFERÊNCIAS

1. BAILEY, C. J.; REID, S. W.; HODGSON, D. R.; ROSE, R. J. Impact of injuries and disease on a cohort of two- and three-year-old thoroughbreds in training. Veterinary Records, London, v. 145, n. 17, p. 487-493, 1999.

2. BARBER, M. J.; SAMPSON, S. N.; SCHNEIDER, R. K.; BASZLER, T.; TUCKER, R. L. Use of magnetic resonance imaging to diagnose distal sesamoid bone injury in a horse. Journal of American Veterinary Medical Association, Schaumburg, v. 229, n. 5, p. 717-720, 2006.

3. BAXTER, G. M. Adams and Stashak's Lameness in Horses. Wiley, 2011. p.

4. BAXTER, G. M.; STASHAK, T. S.; BELKNAP, J. K.; PARKS, A. Functional Anatomy of the Equine Musculoskeletal System. In: BAXTER, G. M. Adams and Stashak's Lameness in Horses. 6.ed. Wiley-Blackwell, 2011a. cap.1, p.1272.

5. BAXTER, G. M.; STASHAK, T. S.; BELKNAP, J. K.; PARKS, A. Lameness in the Extremities. In: BAXTER, G. M. Adam's and Stashak's Lameness in horses. 6.ed. Wiley-Blackwell, 2011b. cap.5, p.1272.

6. BELKNAP, J. K.; MOORE, J. N.; CROUSER, E. C. Sepsis-From human organ failure to laminar failure. Veterinary Immunology Immunopathology, London, v. 129, n. 3-4, p. 155-157, 2009.

7. BOWKER, R. M. Functional Anatomy of the Palmar Aspect of the Foot. In: Diagnosis and Management of Lameness in the Horse (Second Edition). Saint Louis: W.B. Saunders, 2011. p.320-323.

8. BUDRAS, K. D.; SACK, W. O.; ROCK, S. Anatomy of the Horse. Germany: Schluetersche, 2009. p.

9. BUKOWIECKI, C. F.; BRAMLAGE, L. R. Treatment of a comminuted middle phalangeal fracture in a horse by use of a broad dynamic compression plate. Journal of American Veterinary Medical Association, Schaumburg, v. 194, n. 12, p. 1731-1734, 1989.

10. BUSONI, V.; DENOIX, J.-M. Ultrasonography of the podotrochlear apparatus in the horse using a transcuneal approach: Technique and reference images. Veterinary Radiology and Ultrasound, Raleigh, v. 42, n. 6, p. 534-540, 2001.

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