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Aula 06. Na aula anterior falamos das razões de ser do Tribunal Marítimo. Vamos dar sequência falando o que é o Tribunal Marítimo.

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Academic year: 2021

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Resumo elaborado pela equipe de monitores. Todos os direitos reservados ao Master Juris. São proibidas a reprodução e quaisquer outras formas de compartilhamento.

Turma e Ano: Direito Marítimo / 2016

Matéria / Aula: Natureza. Jurisdição. Competência do Tribunal Marítimo / 06 Professor: Marcelo David

Monitor: Lívia Dias Bria

Aula 06

Na aula anterior falamos das razões de ser do Tribunal Marítimo. Vamos dar sequência falando o que é o Tribunal Marítimo.

O que temos que saber sobre a sua natureza, sobre a sua essência é que o Tribunal Marítimo não integra o poder Judiciário, ao mesmo tempo ele é um órgão judicante. Ele tem que ser isento, imparcial, não pode estar preso a nenhum tipo de interesse para que possa efetivamente apontar as causas, as consequências, os responsáveis de um acidente marítimo. O Tribunal Marítimo utiliza seu conhecimento técnico para ajudar o Poder Judiciário, remetendo ao Poder Judiciário seu Acórdão, para que seja usado como uma prova no âmbito dos interesses específicos julgados pelo Poder Judiciário.

2- Natureza

Órgão da Administração Direta da União, auxiliar do Poder Judiciário e autônomo.

Podemos resumir assim a natureza jurídica do Tribunal Marítimo, que está na lei orgânica do Tribunal, no Art. 1º da Lei nº 2.180/54.

“Art. 1º O Tribunal Marítimo, com jurisdição em todo o território nacional, órgão, autônomo, auxiliar do Poder Judiciário, vinculado ao Ministério da Marinha no que se refere ao provimento de pessoal militar e de recursos orçamentários para pessoal e material destinados ao seu funcionamento, tem como atribuições julgar os acidentes e fatos da navegação marítima, fluvial e lacustre e as questões relacionadas com tal atividade, especificadas nesta Lei.”

O Tribunal não pode estar preso a nenhum tipo de interesse para que julgue de maneira correta e imparcial os incidentes. O Art. 1º diz que o Tribunal é um órgão autônomo.

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As decisões do Tribunal Marítimo vão ao Poder Judiciário para auxiliá-lo. O Art. 1º diz que o Tribunal Marítimo é um órgão auxiliar do Poder Judiciário.

O Tribunal Marítimo está para o Poder Executivo como o TCU está para o Poder Legislativo, então, o Tribunal Marítimo se vincula ao Ministério da Defesa no que diz respeito a provimento de recursos orçamentários de pessoal e material para o seu funcionamento. Não há nenhum tipo de subordinação, há apenas uma vinculação orçamentária, e essa vinculação vem do Ministério da Defesa para seu provimento de pessoal e material.

Essa é a natureza do Tribunal Marítimo. Várias coisas importantes fluem daí. Não é órgão do Poder Judiciário, não integra a estrutura do poder Judiciário, portanto, suas decisões não fazem coisa julgada judiciária, só repercutem como coisa julgada “administrativa”. Isso gera várias consequências importantes.

3) Competências

Competência principal e Competência acessória

3.1 - Competência principal: julgar os acidentes e fatos da navegação

Tudo que acontecer com uma embarcação (conceito amplo, abarcando desde banana boat e botes, até transatlânticos e petroleiros) é sujeito a julgamento do Tribunal Marítimo, que é órgão que gerencia, monitora, julga, a marinha mercante. Acidentes da navegação são coisas que aconteceram com uma embarcação que geram consequências graves, por exemplo, naufrágio, colisão (navio quando bate em qualquer coisa que não seja outro navio), incêndio, abalroação (navio batendo com navio) etc.

Além de o Tribunal Marítimo julgar os acidentes, ou seja, coisas graves que aconteceram com embarcações, o Tribunal Marítimo também julga fatos da navegação. Fatos da navegação seria no Direito Penal o crime de perigo, a exposição a risco. O Tribunal Marítimo julga a possibilidade de o acidente acontecer, ele julga o risco, o perigo, a exposição a risco das vidas. Ele não julga apenas quando algo deu errado, ele julga também a possibilidade de alguma coisa dar errado. O Tribunal Marítimo cuida de segurança da navegação, ele tem uma função profilática de evitar acidentes, evitar consequências que interrompam o comércio marítimo, a segurança da navegação. Muitas vezes antes de ocorrer é preciso mostrar o erro para que os acidentes não ocorram.

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Exemplo: Titanic. O navio saiu, houve um erro de vigilância e o Titanic colidiu com o iceberg. Ao colidir, gerou água aberta, que provocou o naufrágio, a perda total da embarcação e de vidas. Um típico acidente da navegação. Imaginemos que naquela viagem inaugural do Titanic ele não colidiu com o iceberg. Mesmo assim ele seria julgado pelo Tribunal Marítimo e o armador seria condenado pelo Tribunal Marítimo por um fato da navegação.

O Titanic esteve envolvido em uma grande jogada de marketing, tudo foi feito para promoção. Ele foi muito fotografado, filmado, foram convidadas as maiores celebridades da época para fazer a viagem, era tudo uma grande jogada de publicidade. O Titanic foi atracado no porto, houve champanhe, festa, inauguração, banda de música, etc. Nos bordos do Titanic tinham botes vidas e os botes salva-vidas, obrigatoriamente, tem que ser suficientes para todas as pessoas que estejam a bordo. Se o navio sai para navegar com 5 mil pessoas, ele tem que ter coletes e botes salva-vidas para 5 mil pessoas. Como o Titanic estava muito voltado para a parte estética, mandaram tirar os botes salva-vidas do bordo que ficou encostado no cais. Só deixaram os botes que ficavam virados para o mar. Antes de o Titanic sair, ao invés de colocarem os botes novamente, ele saiu para navegar sem os mesmos. Ou seja, saiu para navegar com metade dos botes que ele precisava ter. Quando houve a colisão com iceberg o navio balançou e a maioria não sofreu um arranhão. O problema é que a colisão furou o casco, entrou água e a água, gradativamente, levou ao naufrágio da embarcação. As pessoas morreram porque não tinha botes salva-vidas para todos.

Ou seja, houve um fato da navegação, que é o Titanic sair para navegar sem equipamento de salvatagem para todos. Quando um navio sai sem o equipamento de salvatagem necessário, ele está gerando um risco, como se fosse um crime de perigo. Portanto, ainda que o Titanic chegasse ao seu destino sem sofrer nenhum acidente, ele seria julgado pelo Tribunal Marítimo e seria punido por um fato da navegação, que é expor a risco pelo fato de sair para navegar sem o necessário equipamento. Não interessa que não aconteceu nada, a possibilidade já é punida pelo Tribunal Marítimo. Isso se dá, pois uma das principais coisas é a profilaxia, evitar o problema. Se o Tribunal Marítimo pune porque o navio está sem coletes salva-vidas suficientes, na próxima viagem o armador colocará os coletes salva-vidas e se houver algum acidente todos estão seguros.

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3.2 – Competência acessória: registro da propriedade marítima dos armadores e ônus reais sobre embarcações

O Tribunal Marítimo também é um cartório, que promove o registro da propriedade marítima no Brasil. Todos aqueles que possuem embarcação e essa embarcação é considerada de grande porte, para isso tem definição em lei que é para embarcação que possui mais de 100 toneladas de arqueação bruta (> 100 TAB), obrigatoriamente tem que ser registradas no Tribunal Marítimo. Isso se dá, pois o navio é um bem

sui generis, pois ele é um móvel, mas é tratado pelo Direito como um bem imóvel. A motivação é simples:

se você negocia um apartamento, que é um bem imóvel, e ele custa 300 mil reais, e você, por uma questão de segurança jurídica, deve fazer o registro da propriedade deste bem imóvel num cartório de registro de imóveis, imagina você comprar uma embarcação que custa 30 milhões de dólares, aí é mais necessário ainda, por uma questão de segurança jurídica, que você registre essa propriedade. O único cartório que faz o registro da propriedade no Brasil é o Tribunal Marítimo.

Todos que são proprietários de uma embarcação de grande porte têm que vir ao Rio de Janeiro, no Tribunal Marítimo e fazer o registro da propriedade. Não interessa se a embarcação tem inscrição em Manaus ou Rio Grande, aonde quer que ela esteja a pessoa tem que vir ao Tribunal Marítimo, porque ele é o único cartório do país que faz o registro da propriedade marítima. A diferença é que o registro de um apartamento é possível fazer em centenas de cartórios de registro de imóvel no Brasil, na propriedade naval, não, só é possível fazer no Tribunal Marítimo. Ele também registra e dá uma certidão dos armadores brasileiros e também cabe ao Tribunal Marítimo, por esta função cartorial, fazer o registro dos ônus reais sobre embarcações. São extremamente comuns, porque você vai construir com o financiamento do BNDES um navio de 70 milhões de reais, é preciso fazer um registro de ônus reais.

4 - Jurisdição

A jurisdição do Tribunal Marítimo é a maior que podemos imaginar, às vezes maior até que a do STF, pois julga casos, inclusive, fora do país. Então, tem uma jurisdição em todo o país e tem uma jurisdição que pode ultrapassar o país.

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4.1 – Em todo território nacional: para todas as embarcações nacionais ou estrangeiras.

As nossas quatro primeiras aulas foram exatamente para aprender o que é o território nacional quando vimos Domínio Marítimo. Falou que está dentro de águas jurisdicionais brasileiras (mar, rio, lagoa, etc), ou seja, está dentro do território nacional, o Tribunal Marítimo tem jurisdição em relação a todas as embarcações nacionais ou estrangeiras.

Dentro do território, aconteceu um acidente ou um fato da navegação envolvendo qualquer tipo de embarcação nacional ou estrangeira, o Tribunal Marítimo vai julgar. Lembrando sempre da aula anterior que aprendemos que o Tribunal Marítimo foi criado para controlar, julgar, monitorar a navegação comercial brasileira, a marinha mercante. A marinha de guerra não tem nada a ver. Se acontecer algum acidente a bordo de um contratorpedeiro da marinha brasileira, quem vai julgar é a Justiça Militar. Nada a ver com a competência e jurisdição do Tribunal Marítimo. Então, o Tribunal Marítimo julga todas as embarcações nacionais e estrangeiras privadas, se for navio militar o Tribunal Marítimo não julga. O tribunal não é um tribunal militar, não julga militares, não julga a marinha de guerra, quem o faz é a Justiça Militar.

4.2 – Fora do território nacional: para navios de bandeira brasileira

A jurisdição do Tribunal Marítimo é muito grande, porque vale para o Brasil inteiro para embarcações nacionais ou estrangeiras e ela vai além do território brasileiro. Fora do território brasileiro ele também julga se for uma embarcação de bandeira brasileira.

Por exemplo: se um navio de bandeira brasileira explode no porto de Roterdã na Holanda, o Tribunal Marítimo do Brasil vai julgar esse caso, pois envolve um navio de bandeira brasileira, com marítimos, provavelmente, brasileiros, e o Tribunal Marítimo julga a conduta desses marítimos que lhe são jurisdicionados. Nesses casos, quem faz o inquérito são os consulados do Brasil no exterior. Eles que fazem o inquérito e depois remetem ao Tribunal Marítimo aqui no Brasil.

Devemos pensar sempre naquele conceito evoluído de jurisdição e não restrito que jurisdição só pode ser exercida pelo Poder Judiciário. Já evoluímos e o moderno Direito Processual espalha essa jurisdição por todos os poderes. Hoje os poderes não são independentes, mas sim interdependentes. Não existe mais poder que só faça isso ou só faça aquilo. Não há dúvida que a função precípua do Poder Judiciário é julgar, mas além da sua função principal, o Poder Judiciário também, acessoriamente, legisla e

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administra. Quando o Poder Judiciário faz a lei de organização judiciária e abre um concurso público ele realiza essas funções acessórias. Da mesma forma, o Poder Legislativo tem como função prioritária legislar, mas essa função não é única. O Poder Legislativo também administra e julga. O Presidente da Câmara administra um orçamento maior do que 70% dos municípios brasileiros. O Poder Legislativo tem um Tribunal (TCU). Da mesma forma, o Poder Executivo tem como função principal a função administrativa, mas ele também julga quando abre um processo administrativo para punir um servidor público, ele também legisla quando dita uma Medida Provisória.

A jurisdição hoje é vista de uma maneira muito mais ampla. Só o Poder Judiciário julga com a capacidade de fazer ato judicial, mas a jurisdição tem uma dimensão muito maior. No moderno Estado Democrático ela se espalha a tantos outros órgãos que têm uma especialidade que leva a uma função judicante. O Tribunal Marítimo está dentro dessa concepção moderna de Estado, tanto é que, recentemente, no Novo Código de Processo Civil, houve o expresso estabelecimento de que, quando a demanda estiver no âmbito do Poder Judiciário e envolver a competência do Tribunal Marítimo, obrigatoriamente, o juiz suspende o processo até a decisão final do Tribunal Marítimo.

5 – Acidentes e Fatos da Navegação

O acidente é quando alguma coisa de errado acontece com uma embarcação.

Exemplos de acidentes: naufrágio, encalhe, explosão, incêndio, colisão (bateu em outra coisa que não é uma embarcação), abalroação (uma embarcação bater com outra embarcação), varação (quando o comandante propositalmente encalha para evitar um naufrágio).

Os fatos da navegação estão vinculados a um risco.

Exemplos de fatos: toda embarcação tem um cartão de lotação, ou seja, tem a definição de quantos tripulantes (aqueles que trabalham a bordo) aquela embarcação precisa ter. Cada uma dessas pessoas deve ter uma especificação técnica. Se uma embarcação sai para navegar desrespeitando esse cartão de tripulação, isto é um fato da navegação. Sair para navegar sem equipamentos de salvatagem é um fato da navegação. A presença de clandestinos a bordo de uma embarcação é um fato da navegação, pois ele pode estar trazendo uma doença, colocar em risco a população.

Referências

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