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8º Congresso de Pós-Graduação A AFETIVIDADE NA MEDIAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO MÉDIO: REFLEXÕES A PARTIR DO DISCURSO DO ALUNO

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8º Congresso de Pós-Graduação

A AFETIVIDADE NA MEDIAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO MÉDIO: REFLEXÕES A PARTIR

DO DISCURSO DO ALUNO

Autor(es)

CAROLINA JOSE MARIA

Co-Autor(es)

RENATO DE QUEIROZ MACHADO VANESSA MINUZZI BIDINOTO

Orientador(es)

MARIA GUIOMAR CARNEIRO TOMAZELLO

1. Introdução

Dentre os inúmeros fatores que envolvem o processo de ensino-aprendizagem, a afetividade tem se mostrado um aspecto fundamental na mediação professor-aluno, mas nem sempre foi uma questão considerada no processo de ensino. Henri Wallon (1879-1962), um psicólogo francês, foi o primeiro a trabalhar as emoções dos alunos em sala de aula.

Ferrari (2008) afirma que Wallon fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Para este estudioso as emoções têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa, é por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino.

De acordo com Wallon, a afetividade tem uma ampla concepção que envolve as dimensões psicológicas e biológicas, ou seja, os sentimentos e as emoções (WALLON, apud TASSONI, 2000). A construção do eu para Wallon depende do outro, assim como para Vigotsky, o desenvolvimento humano se dá a partir das constantes interações com o meio social em que vive, já que as formas psicológicas emergem da vida social. Pino (2005) refere-se que a criança só se tornará um ser cultural em mediação com o outro. Esta idéia é reforçada por Leite e Colombo (2008) quando afirmam que:

Identificam-se pontos convergentes entre a teoria de Wallon e a de Vygotsky. Tal convergência se dá na medida em que ambos admitem que é através da interação social que o ser humano se desenvolve, especialmente nas interações em sala de aula, repletas de afetividade, constituindo-se manifestações de emoção, as quais exercem grande influência no desenvolvimento cognitivo. (LEITE e COLOMBO, 2008).

Considerando as interações em sala de aula e o papel fundamental da afetividade no desenvolvimento cognitivo do aluno, o professor precisa ser visto não somente como alguém que vai lhe transmitir conhecimentos e preocupado com as explicações sobre determinado conteúdo, mas como alguém que, comprometido com a ação que realiza, percebe o aluno como um ser importante, com idéias e sentimentos que podem ser partilhados com ele. Nesse processo de interação humana, de intercâmbio, o conhecimento estruturado do professor, sua forma de expressão mais formal, seus valores e concepções se misturam aos saberes não sistematizados e empíricos dos alunos, aos seus valores e linguagens próprios de seu ambiente cultural (PANIZZI, 2004, p.11). O desenvolvimento deste estudo

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justifica-se pela importância da afetividade no processo de ensino-aprendizagem dos alunos em sala de aula, sendo que quando o educador estabelece uma relação de amizade, carinho, respeito às individualidades e multiculturalidades de seus alunos, estes apresentam mais disposição a aprender, se tornam mais participativos nas aulas, têm maior liberdade para pedirem opiniões e ajuda a seus professores, opiniões estas, não apenas sobre os conteúdos da aula, mas sobre diversos assuntos, pois despertando o interesse de seus alunos o professor conquista a sua confiança.

2. Objetivos

Esta pesquisa tem por objetivo descrever e analisar as dimensões afetivas na mediação do professor do ensino médio, na visão dos alunos desse nível de ensino, a partir de seus discursos.

3. Desenvolvimento

Alunos do ensino médio, com faixa etária entre 14 e 18 anos, de duas escolas da rede particular de ensino e uma escola pública de uma cidade do interior de São Paulo foram convidados a responder por escrito uma pergunta sobre o tema afetividade. A questão proposta foi: “Um aluno pode gostar mais de um professor (a) do que de outro (a) não só por causa da matéria, mas pelo jeito que ele (ela) é como pessoa. E com isso, o aluno pode aprender mais, ter mais prazer em estudar e assistir às aulas. Pense em um (a) professor (a) (ou em mais de um) que você tem (ou teve), que você gosta do jeito como ele trata os alunos. Em sua opinião, o que ele (a) faz e/ou fala de forma diferente dos outros professores? Escreva o que você pensa a respeito, por favor”.

A opção por realizar a pesquisa nestas escolas deve-se aos contatos informais feitos previamente com as coordenadoras, que demonstraram grande interesse em colaborar com o trabalho, bem como conhecer os resultados obtidos. Posturas estas que nos dão indícios do quão importante é a relação professor-aluno para a escola como um todo. Para a análise dos dados empregou-se a metodologia do discurso do sujeito coletivo (DSC) que é um procedimento metodológico, próprio de pesquisas sociais empíricas de corte qualitativo, que consiste numa forma quantitativa/qualitativa de representar o pensamento de uma coletividade, o que se faz agregando, num só discurso-síntese, conteúdos discursivos de sentido semelhante emitidos por pessoas distintas, como respostas a perguntas abertas de questionário, de forma a tornar mais clara uma dada representação social. (LEFÈVRE E LEFÈVRE, 2003). Consiste em apresentar os resultados sob a forma de um ou vários discursos-síntese, escritos na primeira pessoa do singular, expediente que visa expressar o pensamento de uma coletividade, como se esta coletividade fosse o emissor de um discurso.(LEFRÈVE et al, 2002, p.68).

As respostas foram lidas, transcritas e as ideias centrais foram sendo destacadas de forma que pudéssemos analisar os seus discursos. Em seguida, elaboramos um discurso síntese, de todos os indivíduos, com várias ideias centrais numa só, como se houvesse apenas um indivíduo escrevendo. (SOUZA et al, 2007).

4. Resultado e Discussão

Ao todo, foram 90 questionários respondidos por alunos de idades variando entre 14 a 18 anos. Foi possível caracterizar sete ancoragens, resultantes das ideias centrais. São elas: a) Professor incentivador e motivador; b) Professor Amigo dos alunos; c) Professor Compreensivo e paciente; d) Professor que fala a linguagem do aluno; e) Professor que se aproxima dos alunos e mostra interesse; f) Professor Atencioso e educado; g) Professor Carismático e simpático, h) outros. Os resultados quantitativos estão listados na tabela 1 (anexa).

Agrupadas as idéias-chave, foi elaborado o seguinte Discurso do Sujeito Coletivo (DSC):

O professor que eu mais considero é aquele que apóia meus pensamentos e que me ensina como lidar com o mundo lá fora, também aquele que me ensina a melhorar meu caráter e faz com que eu cresça na vida (moralmente falando). Que fala palavras de força, para que a gente nunca desista dos nossos sonhos, nunca perca a esperança e não pare de lutar por aquilo que sonhamos. Gosto daqueles

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professores que, além de terem uma aula com conteúdo e coerência, também se tornam nossos amigos dentro e fora da escola. Eu gosto de um professor quando ele tem mais paciência e carinho com o aluno. E os alunos percebem quando um professor ensina por gostar e ensina com amor ou apenas por obrigação. Em toda e qualquer matéria, o professor influencia muito, se ele é compreensivo, simpático, paciente, ou o oposto de tudo isso. Também, de nada adianta se o aluno não estiver nem aí com nada. Às vezes o aluno não quer aprender, não quer fazer, mas faz por consideração ao professor e acaba aprendendo. O professor tem que falar a “língua” dos alunos, ele fala na nossa linguagem, e quando não entendemos ele tenta explicar de uma outra forma e com muita paciência. Alguns professores falam como nós adolescentes, entendem nosso lado, conversam. Outros são mais fechados, vem, dão a aula deles e vão embora, a única coisa boa que dizem é “bom dia”. O professor que explica na mesa do aluno. E além de tudo o professor que se interessa pela vida do aluno. Um professor que me atrai mais são aqueles que estão dispostos a me ajudar não só na matéria, mas também em decisões profissionais, que são até mais do que professores são amigos, pessoas que podemos contar, se importa comigo, me ajuda com todas as minhas dúvidas, se interessa pela vida do aluno. Essa “amizade” faz com que muitas vezes ate a aula do professor se torne mais interessante. Gosto de professores que nos tratam com educação, sempre nas dificuldades dos alunos e sempre bem atenciosos e se preocupam não só com os alunos, mas com toda escola. O jeito de agir e a forma com que ele trata o aluno faz toda diferença, faz a aula tornar-se interessante independente da matéria, pois o carisma e a simpatia do professor são fundamentais. O professor também tem que respeitar todos os alunos da mesma forma. A fórmula de uma boa relação é respeito mútuo e a consciência de que o professor esta ali para ensinar e o aluno para aprender.

Para um melhor entendimento da construção do DSC, são apresentadas na tabela 2 (anexa) as idéias-centrais, com as respectivas expressões-chave e ancoragem.

5. Considerações Finais

Em muitas falas é possível verificar a necessidade que os alunos sentem em ter um “amigo” em sala de aula, nesse sentido, a afetividade deve ter espaço garantido na relação professor-aluno. Atitudes como se deslocar até o aluno para lhe ensinar, para tirar dúvidas, mostra que de fato o professor está preocupado com o seu aprendizado e isto é percebido e reconhecido como fundamental pelos alunos. Tendo adolescentes como sujeitos deste estudo é preciso considerar que apenas o afeto epidérmico, como destaca Leite e Colombo (2008), já não é suficiente para garantir uma boa relação professor-aluno.

De acordo com Wallon (1968), assim como o desenvolvimento cognitivo, a afetividade também evolui. Nesse sentido, cabe ao professor que atua neste nível de ensino ouvir, conversar, tentar conhecer o aluno, para que assim possa compreender melhor as atitudes e posturas dos discentes em sala de aula. Demonstrar interesse pela vida do adolescente, pelo seu “mundo”, se faz fundamental para garantir a aproximação necessária que contribui para o processo de ensino-aprendizagem. Assim, o adolescente satisfeito com o afeto proporcionado por meio do incentivo, da atenção do professor, pode vir a ter melhores resultados na aprendizagem. Muitos são os que dizem que prestam mais atenção às aulas em consideração ao professor, que aprendem mais quando são mais respeitados, quando percebem que os professores realmente se interessam por eles. Os resultados vão ao encontro do que Wallon e vários outros autores estudiosos de sua psicogênese afirmam que é possível atuar sobre o cognitivo via afetivo e vice-versa. (TASSONI, 2000).

Ao destacar a importância da afetividade na aprendizagem, esperamos que esse trabalho possa contribuir para melhorar a mediação entre professor- aluno.

Referências Bibliográficas

FERRARI, M. Henri Wallon: O educador integral. Revista Nova Escola, Edição Especial. 2008.

LEFÈVRE, A. M. C.; CRESTANA, M. F.; CORNETTA, V. K. A utilização da metodologia do discurso do sujeito coletivo na avaliação qualitativa dos cursos de especialização "Capacitação e Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde - CADHRU". Revista Saúde e Sociedade, v. 12, n 2, p. 1-9, 2002.

LEFRÈVE, F., LEFÈVRE, A.M.C. O Pensamento Coletivo Como Soma Qualitativa. Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. 2003. Disponível em: http://www.fsp.usp.br/~flefevre/soma%20qualitativa%209%20de%20fevereiro%20de%202004.htm. Acesso em: 24 de agosto de 2010.

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LEITE, S. A. S.; COLOMBO, F. A. A afetividade na mediação do professor da pré-escola. Revista de Psicologia da UNESP, v. 7, n 1, 2008. Disponível em: http://www.assis.unesp.br/revpsico/index.php/revista/article/viewFile/93/96. Acesso em 25 de agosto de 2010.

PANIZZI, C. A. F. L. As relações afetividade-aprendizagem no cotidiano da sala de aula: enfocando situações de conflito. In: Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação, 27. Caxambu. Anais... Caxambu: ANPEd, 2004. Disponível em: . Acesso em: 28 de agosto de 2010.

PINO, A. As marcas do humano: às origens da constituição cultural da criança na perspectiva de Lev. S. Vigotski. São Paulo: Cortez, 2005.

SOUZA, R. M.; ALVES, A. G. C.; ALVES, M. S. Conhecimento sobre o molusco gigante africano Achatina fulica entre estudantes de uma escola pública na Região Metropolitana do Recife. Revista Biotemas, (UFSC), v.20, n 1, p. 81-89, 2007.

TASSONI, E. C. M. Afetividade e aprendizagem: a relação professor-aluno. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd, 23., 2000,Caxambu. Anais... Caxambu: ANPEd, 2000. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/2019t.PDF. Acesso em 20 de agosto de 2010.

WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1968.

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