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RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS DAS PROFESSORAS ALFABETIZADORAS: POSSIBILIDADES PARA A REFLEXÃO NO PROCESSO FORMATIVO Mariane Bolzan 1 Ana Paula de Oliveira 2

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Academic year: 2021

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RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS DAS PROFESSORAS ALFABETIZADORAS: POSSIBILIDADES PARA A REFLEXÃO NO PROCESSO FORMATIVO

Mariane Bolzan1 Ana Paula de Oliveira2

Resumo

Esse artigo descreve o trajeto percorrido e os resultados alcançados durante a realização de uma pesquisa intitulada “Narrativas e memórias de alfabetizadoras: um estudo de cartilhas utilizadas para alfabetização nas escolas municipais do campo (rurais) da região de Santa Maria-RS”, a qual está sendo financiada até o corrente ano, e se encontra na fase de análise dos dados e elaboração do relatório final.

O artigo abordará quais foram os objetivos iniciais da investigação; de que maneira foi pensada metodologicamente a pesquisa e quais foram os instrumentos utilizados para responder o questionamento inicial da pesquisa; por fim discutiremos qual/is a/s contribuições desse estudo para o âmbito educacional brasileiro.

Palavras-Chave: Educação Rural; Formação de Professores; Cartilhas de

Alfabetização.

INICIANDO A DISCUSSÃO

Inicialmente no ano de 2007, decidimos pesquisar sobre como se dá o processo de alfabetização nas escolas rurais municipais de Santa Maria-RS, deparamo-nos com uma realidade um tanto quanto esquecida pela sociedade e governo. Pensamos que a pesquisa no ensino rural pode ser uma forma de manter vivo esse espaço educacional; registrar os aspectos mais marcantes relacionados à formação das professoras que atuam nessas escolas; estudar, registrar, analisar os métodos utilizados para alfabetizar nas escolas rurais; e dar visibilidade ao contexto educacional do meio rural através das narrativas orais das professoras alfabetizadoras participantes da pesquisa.

Temos percebido o ensino rural um pouco distante e desarticulado tanto das políticas públicas educacionais, quanto dos cursos de formação inicial, dos cursos de licenciatura. Primeiro, por que não se respeita e nem se assegura o direito a uma educação básica através da legislação brasileira, e a construção de uma pedagogia que respeite a diversidade do meio rural. Segundo, por que os cursos de formação inicial não

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Acadêmica do Curso de Pedagogia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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articulam o conhecimento com uma metodologia e práticas educativas adequadas à realidade do meio rural.

Muito se fala em êxodo rural, mas pouco se pensa o porquê desse processo. Para as famílias que vivem em meio rural e se sustentam daquilo que cultivam nesse meio, deve ser de fundamental importância que seus filhos permaneçam em suas cidades de origem. Neste contexto, entra o papel da escola rural e conseqüentemente o papel do professor. A escola deve estar estruturada com uma proposta curricular adequada visando que os alunos não desistam de estudar ou migrem para escolas urbanas. Os professores devem estar preparados para lidar com a linguagem, hábitos e rotina do meio rural. Porém, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 2,6 milhões de professores na Educação Básica e Superior, responsáveis pela educação de aproximadamente 57,7 milhões de brasileiros, evidenciando a impossibilidade de atender a todas as necessidades da escola, quem dirá as especificidades das escolas rurais. No âmbito das escolas do campo, podemos perceber diferenças gritantes quanto às condições de trabalho e de políticas educacionais que asseguram o professor do ensino rural.

Os estudos sobre as memórias das professoras alfabetizadoras é bastante importante uma vez que, remete ao compromisso destas para com seus alunos do campo, compromisso este firmado e elucidado, na maioria das vezes, pelo cenário de pobreza, descaso e falta de compromisso para com as escolas do campo (rurais) e a formação permanente e continuada destas professoras.

Apesar de o número de professores com ensino superior ter aumentado, ainda não é o suficiente para atender a diversidade cultural que encontramos nas escolas brasileiras. Aumentou, também, o número de pesquisadores em educação após a consolidação dos cursos de pós-graduação no país e do incentivo para a formação de mestres e doutores. Entretanto, somente um número pouco significativo, após concluir o doutorado irá para a escola lecionar em turmas de alfabetização, por exemplo. Certamente, irá fazer pesquisa em Universidades, coordenar projetos de pesquisa, ensino ou extensão e publicar os resultados em Congressos e Eventos científicos.

Nesse sentido, os professores de educação básica, e principalmente os professores do ensino rural clamam por uma formação continuada, apesar dos investimentos feitos na formação dos professores, pelo Ministério da Educação, que vem ocorrendo nos últimos anos, porque muitas dessas políticas ainda não chegam até elas.

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METODOLOGIA

É nesse contexto de disparidades no ensino rural que realizamos essa pesquisa a qual nos propomos a discutir. Utilizamos uma metodologia quali-quantitativa e através de entrevistas semi-estruturadas e de relatos autobiográficos conseguimos reunir informações sobre os processos formativos, práticas educativas, e lembranças de escola de 13 professoras alfabetizadoras que atuam nas escolas municipais rurais da cidade de Santa Maria - RS.

As 9 escolas que participaram da pesquisa pertencem aos distritos localizados geograficamente no entorno da cidade.

Figura 1- Mapa Ilustrativo

Fonte: www.ufsm.br/gepfica

Participaram da pesquisa professoras alfabetizadoras com experiência profissional no magistério de 10 a 39 anos. Para selecionarmos essas alfabetizadoras rurais da pesquisa, fizemos contato com a Secretaria Municipal de Educação de Santa Maria (SMED), a fim de que ela pudesse nos informar a relação das escolas municipais

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rurais da cidade. Em seguida, entramos em contato com a direção dessas escolas apresentando o projeto e proposta de pesquisa. Sendo assim, fomos, nós pesquisadoras, muito bem recebidas pelos professores e gestores das escolas. Logo, percebemos nas visitas às escolas que esses professores estavam dispostos a participarem do projeto e que em contrapartida déssemos uma formação continuada.

Posterior a isto, fizemos a análise das informações coletadas e buscamos fundamentação teórica para justificar os nossos objetivos. O texto que aqui apresentamos se propõe a discutir sobre o contexto da educação rural e os processos envolvidos na alfabetização dessas escolas. Sendo assim, quando entrevistamos as professoras alfabetizadoras estavam incluídas no questionário perguntas do tipo: “Você lembra como foi alfabetizada?”;“Quais os métodos que você utiliza para alfabetizar?”.

Decorrente dessas perguntas surgiu respostas que deram forma a nossa pesquisa. Fomos surpreendidas pelo fato de algumas professoras lembrarem detalhadamente de seus processos formativos, e de se utilizarem até hoje de metodologias nas quais foram alfabetizadas para alfabetizar atualmente os seus alunos.

Todas as professoras entrevistadas foram alfabetizadas com cartilhas, e 4 professoras alfabetizadoras concordam com os métodos utilizados para alfabetizar com cartilhas, e as utilizam como apoio didático em suas aulas. Ressaltamos que nossa meta, não é dizer se o uso de cartilhas foi/é bom, adequado, ou correto. A nossa intenção é simplesmente de registrar como se constitui o processo de alfabetização nas escolas rurais de Santa Maria-RS.

O fato de termos encontrados professoras que possuem uma relação com o uso de cartilhas seja ele quando foram alfabetizadas, ou quando utilizaram para ensinar aos seus alunos, nos levou a pensar sobre a história de alfabetização. Sendo assim, utilizamo-nos de um estudo qualitativo, com método de análise baseado na nas narrativas e história de vida das entrevistadas.

MEMÓRIA, HISTÓRIA DE VIDA E FORMAÇÃO DOCENTE

Os relatos autobiográficos escritos pelas alfabetizadoras proporcionaram a reflexão sobre a contribuição das histórias de vida no processo de formação docente. Para Nóvoa (1988, p. 116), “[...] as histórias de vida e o método (auto) biográfico integram-se no movimento actual que procura repensar as questões da formação, acentuando a idéia que „ninguém forma ninguém‟ e que „a formação é inevitavelmente um trabalho de reflexão sobre os percursos da vida‟ [...]”.

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Nesse sentido, as alfabetizadoras entrevistadas nesse processo de pesquisa puderam recordar fatos ocorridos tornando essa prática reflexiva em um ato de formação continuada. Além disso, investigar como se deu a alfabetização dessas professoras, qual a formação docente de cada uma delas e descobrir quais os métodos que utilizam para alfabetizar nas escolas municipais rurais da região de Santa Maria-RS nos proporcionou construir uma memória individual. Pois, à medida que cada entrevistada ia rememorando os fatos, íamos imprimindo significação singular às suas lembranças narradas, visto que a narrativa se baseia na memória.

Para Antunes (2007, p. 162) “a memória docente constitui-se numa forma de conhecer e auxiliar no processo de formação inicial e continuada dos professores” entendemos, assim, que a memória da escola, dos nossos professores, e colegas é de fundamental influência no processo contínuo de ser ou tornar-se professor.

O que deve ser destacado como fator determinante para o sucesso desta investigação são as memórias das alfabetizadoras. Os relatos dessas 13 professoras entrevistadas durante a realização do projeto puderam ser rememoradas a partir de intervenções que fizemos nesse estudo.

Abaixo algumas capas de cartilhas pertencentes ao “Memorial de Cartilhas” organizado pelo GEPFICA (Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação Inicial, Continuada e Alfabetização).

Fonte: Centro de Referência Mário Covas, disponível em

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/obj_a.php?t=cartilhas02, esquematizado pela Profa. Ms. Graziela Franceschet Farias (2010)

Conforme Guedes Pinto (2008, p. 18),

A memória está longe de ser vista como algo pronto, estático, acabado. Muito pelo contrário, ela é constituída na relação com o outro, que motiva a rememorar e, por isso, é

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tomada por nós como uma forma de os sujeitos poderem mudar, nas suas lembranças, aquilo que os incomoda e que talvez gostassem que tivesse sido diferente.

E, justamente, pelo fato das memórias serem trazidas à tona pelo contato com o outro é que para além desse contato com as alfabetizadoras utilizamos um “Memorial de Cartilhas”, onde este material serviu como um instrumento de auxílio para rememoração dos fatos que interessam para a história da alfabetização.

As memórias do tempo de alfabetizanda e alfabetizadora das nossas colaboradoras da pesquisa, que talvez tivesse caído no esquecimento, foram possíveis de recordação através do esforço feito pela memória através das lembranças. Riccoeur (2007, p.45) dedicou-se a estudar a fenomenologia da memória, e hoje, contribui significativamente junto a este estudo de maneira que podemos distinguir “memória” de “lembranças”, sendo que a primeira “está no singular, como capacidade e como efetuação”, e a segunda “estão no plural: temos umas lembranças” (grifo do autor). Portanto, em síntese, a memória trabalha a lembrança e a lembrança aguça a memória.

Lembranças da escola encontram-se vivas nas histórias de vida de muitas alfabetizadoras. E são justamente essas lembranças que fazem com que as alfabetizadoras utilizem-se de suas antigas recordações do tempo em que foram alfabetizadas para alfabetizar atualmente. Sabemos que a escolha profissional pela docência está muito relacionada com as lembranças que o profissional possui sobre o tempo de escola.

REPENSANDO SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA

Regina Leite Garcia (2003) contribui a guisa de uma percepção reflexiva frente aos depoimentos que encontramos em nossa pesquisa. Para esta autora, a professora em seu exercício profissional possui uma teoria construída durante sua formação inicial, mas que não necessariamente mantém essa mesma teoria durante toda a sua prática docente.

À medida que vão tornando possíveis experiências com ambientes educacionais diferentes, freqüentam reuniões pedagógicas e estabelecem relações com alunos dentro das salas de aula, atualizam essa teoria. E ainda podem se tornar pesquisadora, e

Ao se tornar pesquisadora vai se tornando capaz de encontrar/construir novas explicações para os problemas que enfrenta no cotidiano. Aprende a ver com outros olhos, a escutar o que antes não ouvia, a observar com atenção o que antes não percebia, a relacionar o que antes não parecia ter

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qualquer relação, a testar suas intuições através de experimentos, a registrar o que observa e experimenta, a ler teoricamente a sua própria prática [...] (LEITE, 2003, p. 21)

Voltando-nos para a realidade da educação nas escolas rurais municipais da região de Santa Maria, percebemos a necessidade de algumas professoras dedicarem um olhar mais atento às suas práticas educativas. Sabemos das dificuldades encontradas por muitas delas, como falta de formação continuada, falta de materiais e recursos didáticos, diferentes alunos, entre outros fatores. Mas, em contrapartida, essa pesquisa proporcionou uma reflexão sobre as suas práticas educativas, que no nosso ponto de vista se caracteriza como uma das várias possibilidades de formação continuada. Segundo Abrahão (2004, p.149), a narrativa autobiográfica proporciona “a reconstrução de sentido que o sujeito da prática docente estabelece ao rememorar e narrar sua formação e atuação no magistério”.

Diante disto, mencionamos Tardif (2002, p.11), estudioso na área dos saberes e formação profissional. Estudar as narrativas e as memórias destas professoras alfabetizadoras foi possível somente através da análise dos elementos constitutivos do trabalho docente, “pois o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com sua experiência de vida e com sua história profissional [...] (grifo do autor)”.

É na busca de valorizarmos os saberes destes professores que escolhemos o ensino rural, valorizando os atores desse meio, professores e alunos estaremos evidenciando as especificidades tornando-as de interesse comum, buscando, assim, conhecer com maior profundidade esta realidade e dando o aporte necessário tanto educacional quanto estrutural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos a importância de fazer a pesquisa não só para identificar os “problemas”, do contexto por onde pisamos, mas sim para tentar contribuir de forma significativa para que as eventuais melhorias possam acontecer com a mediação de nossas ações de pesquisa.

Agora, fizemos uma pausa para discutir e reorganizar tudo isso que a pesquisa nos causou. Se as alfabetizadoras do ensino rural precisam de formação continuada, buscaremos parceria com a instituição de ensino superior e outros órgãos que possam subsidiar o desejo por parte das alfabetizadoras.

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REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, M. H. M. B. (Org.). A Aventura (auto) biográfica – Teoria & Empiria. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

ANTUNES, Helenise Sangoi. As lembranças escolares de professores alfabetizadores e a relação com os processos formativos. Bolzan, Dóris Pires Vargas

(org.) Leitura e Escrita: ensaios sobre alfabetização. Santa Maria: ed. da UFSM, 2007. GUEDES, Pinto, Ana Lúcia. Memórias de leitura e formação de professores/ Ana Lúcia Guedes Pinto, Leila Cristina Borges da Silva, Geisa Genaro Gomes. – Campinas, SP: Mercado das Letras, 2008. – (Coleção Gêneros e Formação)

NÓVOA, Antônio; FINGER, Matthias (org.). O método (auto) biográfico e a

formação. Lisboa: Ministério da Saúde, 1988.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: UNICAMP, 2007.

SITE, Centro de Referência Mário Covas, disponível em

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/obj_a.php?t=cartilhas02 com acesso em 03/08/2009.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

Referências

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