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São Paulo, setembro de 2018.

À

Associação Nacional de Hospitais Privados - ANAHP

Ref.: Competência dos Conselhos de Enfermagem para Determinar e Fiscalizar o Dimensionamento de Profissionais de Enfermagem

Muitos dos Associados da Associação Nacional de Hospitais Privados (“ANAHP”) têm sofrido fiscalizações dos Conselhos Regionais de Enfermagem (“COREN”), por meio das quais tem sido exigido o cumprimento do dimensionamento mínimo de profissionais de enfermagem definido pelo Conselho Federal de Enfermagem (“COFEN”). Diante desse cenário, V.Sas. solicitam a nosso escritório a elaboração de estudo com a análise dos aspectos jurídicos atinentes.

O presente estudo está estruturado em 03 tópicos: (i) no primeiro, analisamos a competência do COFEN para regulamentar unidades de saúde e, dos COREN, para fiscalizar os hospitais regularmente inscritos nos Conselhos Regionais de Medicina (“CRM”); (ii) no segundo, abordamos a regulamentação do dimensionamento de profissionais de enfermagem pelo COFEN; e, por fim, (iii) apresentamos as conclusões da nossa análise.

I. DA COMPETÊNCIA DO COFEN E COREN PARA REGULAMENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DE UNIDADES DE SAÚDE

Os COREN e o COFEN são autarquias vinculadas ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, responsáveis pela disciplina do exercício da profissão de enfermeiro e das demais profissões compreendidas nos serviços de enfermagem.

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Dentre as competências que lhe são expressamente atribuídas, nos termos dos artigos 8º e 15 da Lei Federal nº 5.905/19731, tem-se a competência do COFEN para baixar provimentos e expedir instruções, e, do COREN, para executar as instruções e provimentos do COFEN e disciplinar e fiscalizar o exercício profissional de enfermeiros, técnicos e auxiliares, observadas as diretrizes gerais da autarquia federal.

Tais autarquias não podem ultrapassar a competência prevista em lei, especialmente considerando que integram a Administração Pública Federal Indireta, no âmbito da qual o princípio da legalidade determina rígidos limites para atuação e expedição de normativos2.

Ademais, a Lei Federal nº 7.498/1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem, e o Decreto nº 94.406/1987, que regulamenta esta lei, em nada preceituam quanto à definição de requisitos para funcionamento de unidades de saúde, tampouco quanto ao número mínimo de enfermeiros em unidades de saúde.

Diante disso, os tribunais têm declarado a atuação em extrapolação à lei promovida pelo COFEN ao regulamentar temas tais como o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem de unidades de saúde.

Isso decorre do fato de a legislação não conferir ao COFEN poderes para regular a atuação de unidades de saúde, mas para disciplinar o exercício da enfermagem e das profissões nele compreendidas.

Ademais, a Lei nº 6.839/1980 determina que as pessoas jurídicas de direito público ou privado devem promover seu registro no Conselho Profissional responsável pela fiscalização da sua atividade básica.

1 Lei nº 5.905/1973:

Art. 8º – Compete ao Conselho Federal: (...) IV – baixar provimentos e expedir instruções, para uniformidade de procedimento e bom funcionamento dos Conselhos Regionais.

Art. 15 – Compete aos Conselhos Regionais: (...) II – disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observadas as diretrizes gerais do Conselho Federal; III – fazer executar as instruções e provimentos do Conselho Federal.

2 Conforme jurisprudência dos Tribunais Superiores, dentre as quais cita-se: ARE 986628 AgR, Relator Min.

RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 09/12/2016, DJe-267 DIVULG 15-12-2016 PUBLIC 16-12-2016; e ADI 4954, Relator Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 20/08/2014, DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014.

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Os hospitais mantêm, como atividade básica e preponderante, a assistência médica hospitalar, e estão sujeitos à registro no CRM de sua jurisdição, estando os médicos habilitados a responder como responsáveis técnicos dessas unidades de saúde3. Evidente que as atividades desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem são essenciais para os serviços de assistência médica prestados pelos hospitais, porém não são a atividade básica desses estabelecimentos.

A Lei nº 5.905/1973, conforme mencionado, outorgou ao COREN competência para disciplinar e fiscalizar o exercício profissional da enfermagem, mas não para fiscalizar unidades de saúde como um todo e, tampouco, para averiguar a atuação de outros profissionais alocados no estabelecimento.

A Lei nº 8.080/1990 conferiu à União, aos Estados e aos Municípios competência para controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde4. Com a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (“ANVISA”), o legislador conferiu à agência reguladora a competência para “normatizar, controlar e fiscalizar produtos, substâncias e serviços de interesse para a saúde”.

No exercício de competência atribuída por lei, a ANVISA editou resoluções que versam, justamente, sobre as atividades desenvolvidas por hospitais, como a Resolução de Diretoria Colegiada (“RDC”) nº 63/2011, que dispõe sobre os requisitos de boas práticas de funcionamento para os serviços de saúde, e a RDC nº 07/2010, que estabelece os requisitos mínimos para funcionamento de Unidades de Terapia Intensiva, inclusive definindo quantitativo mínimo de profissionais.

Assim, às Vigilâncias Sanitárias Estaduais e Locais compete promover as medidas fiscalizatórias de unidades de saúde para verificar sua adequação às normas expedidas pela ANVISA. Contudo, não compete às autarquias profissionais, às quais

3 Decreto nº 20.931, de 11 de janeiro de 1.932

(...)

Art. 28 Nenhum estabelecimento de hospitalização ou de assistência médica pública ou privada poderá funcionar, em qualquer ponto do território nacional, sem ter um diretor técnico e principal responsável, habilitado para o exercício da medicina nos termos do regulamento sanitário federal.

4 Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990

Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições:

I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das ações e serviços de saúde;

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foram conferidas atribuições relacionadas especificamente a determinadas profissões, criar obrigações às unidades de saúde e, tampouco, promover fiscalizações nesse sentido.

Apesar dos argumentos jurídicos acima indicados, os COREN têm exigido de hospitais quantidade mínima de enfermeiros, impondo multas de forma ilegal.

Como demonstraremos adiante, a jurisprudência já declarou que o COREN não tem competência para obrigar instituições de saúde a contratar enfermeiros em quantidade que a autarquia considere ideal, definida por ato normativo interno.

II. REGULAMENTAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

O COFEN, com suposto fundamento na Lei Federal nº 5.905/1973, editou recentemente a Resolução COFEN nº 543/2017, estabelecendo “parâmetros mínimos para dimensionar o quantitativo de profissionais das diferentes categorias de enfermagem para os serviços e locais em que são realizadas quaisquer atividades de enfermagem”.

A norma em questão substitui e revoga expressamente a Resolução COFEN nº 527/2016, para fins de estabelecer tabelas orientativas para o cálculo do dimensionamento, sem alterar tal cálculo.

A resolução define critérios específicos de dimensionamento para cada tipo de serviço envolvido na prestação da assistência à saúde, dentre os quais destacamos as unidades de internação, unidades de assistência à pacientes de saúde mental, centros de diagnóstico por imagem e centros cirúrgicos.

O COFEN normatiza o tema do dimensionamento de profissional há tempos, desde a Resolução COFEN nº 189/1996, substituída pela Resolução COFEN nº 293/2004, que se seguiu da Resolução COFEN 527/2016 e, finalmente, da Resolução COFEN 543/2017.

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Entende-se, porém, que a lei que constituiu o COFEN não outorgou à referida autarquia competência para editar normativo que trate do dimensionamento de profissionais de enfermagem, motivo pelo qual a norma seria ilegal. A ilegalidade do dimensionamento de profissionais de enfermagem pelo COFEN já foi reconhecida por nossas cortes, vide julgados abaixo colacionados.

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO MATO GROSSO. REGISTRO DE SOCIEDADE EMPRESÁRIA PRESTADORA DE SERVIÇO MÉDICO-HOSPITALAR. ATIVIDADE BÁSICA DE MEDICINA. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA. COBRANÇA INDEVIDA DE CONTRIBUIÇÕES.

PREMISSAS PARA O DIMENSIONAMENTO DO QUADRO DE

PROFISSIONAIS FIXADAS SOMENTE EM RESOLUÇÃO. 1. Nos termos do art. 1º da Lei 6.839/1980, o registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente habilitados delas encarregados serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros. 2. O hospital ou clínica que tenha por atividade básica a prestação de serviços médico-hospitalares, embora possa se utilizar de serviços de enfermagem para auxílio no desempenho de alguns de seus objetivos sociais, não está sujeito a registro no Conselho Regional de Enfermagem, e sim no Conselho Regional de Medicina. 3. Indevida a cobrança da taxa pela emissão e renovação da anotação de responsabilidade técnica dos estabelecimentos de serviços de saúde, pois não há tal previsão nas Leis 5.905/1973 e 7.498/1986. 4. As Leis 5.905/1973 e

7.498/1986, assim como o Decreto 94.406/1987, não estabelecem um número mínimo de enfermeiros em um hospital, o que retira a legitimidade

da previsão contida exclusivamente na Resolução COFEN 189/1996 quanto às premissas básicas para o dimensionamento do quadro de profissionais. 5. Remessa oficial a que se nega provimento. (TRF 1ª Região, 8ª Turma, Reexame Necessário nº 2004.36.00.007843-6/MT, Rel. Des. Maria do Carmo Cardoso, DJe 25/01/2013.)

ADMINISTRATIVO. CONSELHO PROFISSIONAL. EXIGÊNCIA DE CONTRATAÇÃO DE MAIOR NÚMERO DE ENFERMEIROS. RESOLUÇÃO 146 DO CONSELHO DE ENFERMAGEM. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.

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IMPOSSIBILIDADE. 1. A Lei 7.498/86 não confere atribuição ao Conselho

Regional de Enfermagem para determinar às instituições de saúde a contratar profissional de enfermagem, pois inexiste previsão legal que o autorize a fazer tal exigência. 2. A Resolução do COREN 146/92, como ato

hierarquicamente inferior à lei, não tem o condão de criar obrigações. 3. Se o estabelecimento já se apresenta devidamente registrado no órgão fiscalizador competente, de acordo com a atividade básica que desenvolve, e se a duplicidade de registro é vedada pela Lei 6.839/80, não cabe ao Conselho Regional de Enfermagem fiscalizá-lo. 4. Apelação a que se nega provimento. (TRF 1ª Região, AC nº 200341000061066/RO, 8ª Turma, Rel. Des. Fed. Maria do Carmo Cardoso, j. 31.10.2006, DJ 11.12.2006, pág. 132)

PROCESSO CIVIL. AGRAVO. ARTIGO 557 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM COREN. LEI N. 7.498/86. EXIGÊNCIA DE CONTRATAÇÃO DE ENFERMEIROS. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Para a aplicação do disposto no artigo 557 do CPC, não há necessidade de o entendimento ser unânime ou de existir Súmula a respeito, bastando a existência de jurisprudência dominante no Tribunal ou nos Tribunais Superiores. 2. A jurisprudência é pacífica no sentido de que a Lei nº 7.498/86

e o Decreto nº 94.406/87 em nada preceituam quanto ao número mínimo de enfermeiros em um hospital, não podendo tal regra ser veiculada por meio de ato infralegal, sob pena de afronta ao princípio da reserva legal e aos limites

do poder regulamentar. 3. A exigência de contratar profissionais de enfermagem foge à competência do Conselho, uma vez que não há no artigo 15 da Lei nº 5.905/73 tal competência. (...) 5. Não há no agravo elementos novos capazes de alterar o entendimento externado na decisão monocrática. 6. Agravo desprovido. (TRF3, AMS n.º 0007633-85.2014.4.03.6100, Rel. Des. Fed. NELTON DOS SANTOS, TERCEIRA TURMA, j. 03/12/2015, e-DJF3 11/12/2015)

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM - COREN/SP - Lei nº 7.498/86 - PRESENÇA DE ENFERMEIRO DURANTE TODO O PERÍODO DE FUNCIONAMENTO DO ESTABELECIMENTO Resolução COFEN nº 293/04 - DIMENSIONAMENTO DOS QUADROS DE PROFISSIONAIS DAS

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INSTITUIÇÕES DE SAÚDE O Conselho Regional de Enfermagem tem como meta zelar pela saúde pública, fiscalizando os profissionais inscritos em seu quadro, bem como os estabelecimentos de saúde. (...) A Lei nº 7.498/86 e o Decreto nº 94.406/87 em nada preceituam quanto ao número mínimo desses profissionais em um hospital. As premissas básicas para o dimensionamento do quadro de profissionais são fixadas pela Resolução nº 189/96 do COFEN. Todavia, cabe ressaltar que a proposta de contratar profissionais de

enfermagem foge à competência do Conselho; uma vez que não há nos dispositivos do artigo 15 da Lei nº 5.905/73, que dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem, essa atribuição. Apelação

não provida. (TRF3, AC n.º 0008853-50.2007.4.03.6105, Rel. Des. Fed. NERY JUNIOR, TERCEIRA TURMA, j. 10/09/2009, e-DJF3 27/10/2009 – destacou-se)

A despeito de a ilegalidade por vício de competência ser reconhecida pelas cortes brasileiras, a norma tem sido utilizada como fundamento para fiscalizações e autuações de unidades de saúde, podendo resultar em sanções fundamentadas no descumprimento da referida norma.

III. DOS RISCOS DO DESCUMPRIMENTO DA REGULAMENTAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO DE

PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM PELOS HOSPITAIS

Considerando o entendimento de que o legislador não outorgou ao COFEN poderes para definir o dimensionamento dos profissionais de enfermagem, conforme entendimento majoritário da jurisprudência, conclui-se que os principais riscos oriundos do descumprimento da regulamentação do dimensionamento são:

1. Para os hospitais, risco de autuação pelo COREN, com consequente aplicação de multa que poderá ser objeto de recurso ao Judiciário, sustentando a ilegalidade da exigência, com boas chances de êxito.

2. Para os hospitais, risco de encaminhamento de denúncia, pelo COREN, ao Ministério Público do Trabalho e outros órgãos fiscalizadores, que acabam por também exigir a observância do quantitativo de profissionais estabelecido pelo COFEN em Resolução, resultando em investigações da regularidade da atividade desenvolvida pela instituição de saúde.

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3. Para o Responsável Técnico de Enfermagem (“RTE”) dos hospitais, risco de sofrer processo ético disciplinar por parte do COREN, por não observância do dimensionamento, podendo resultar na caracterização da infração prevista no artigo 104 do Código de ética dos Profissionais de Enfermagem5 e na consequente aplicação das penalidades de (i) advertência, (ii) multa, (iii) suspensão ou (iv) cassação do exercício profissional.

Neste cenário, se assumidos os riscos do descumprimento da regulamentação do dimensionamento pelos hospitais, é importante considerar os meios de proteção dos RTE atualmente designados, que poderão ser questionados pelo COREN. Cabe abordarmos a ilegalidade da exigência do artigo 3º da Resolução COFEN nº 509/2016, que trata da Anotação de Responsabilidade Técnica.

III.1. DA ILEGALIDADE DA EXIGÊNCIA DO ARTIGO 3º DA RESOLUÇÃO COFEN509/2016

Conforme já exposto, hospitais mantêm, como atividade básica e preponderante, a prestação de serviços médicos e hospitalares, possuindo, em sua estrutura, uma série de profissionais da saúde, dentre eles médicos, farmacêuticos e enfermeiros, todos devidamente inscritos nos respectivos conselhos profissionais.

Sobre o registro de empresas e anotação dos profissionais legalmente habilitados, a já mencionada Lei Federal nº 6.839/1980 assim prevê:

Art. 1º O registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros.

5 ANEXO DA RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017

Art. 104 Considera-se infração ética e disciplinar a ação, omissão ou conivência que implique em desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, bem como a inobservância das normas do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem.

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Referido dispositivo legal obriga as pessoas jurídicas de direito público ou privado a promoverem seu registro e a anotação dos seus profissionais no Conselho competente para a fiscalização de sua atividade básica, sendo pacífico o entendimento de que não pode haver sobreposição de registros. Os hospitais estão sujeitos, portanto, apenas ao registro e anotação de responsabilidade técnica (“ART”) junto ao CRM.

Ocorre que os COREN costumam exigir que quaisquer unidades de saúde tenham, em seus quadros, responsável técnico enfermeiro registrado perante a referida autarquia, sob o argumento de que o profissional é necessário à supervisão das atividades privativas de enfermagem.

A Resolução COFEN 509/2016 prevê, em seu artigo 3º, que

“Toda empresa/instituição onde houver serviços/ensino de Enfermagem, deve apresentar CRT6, devendo a mesma ser afixada em suas dependências, em local visível ao público.”

Tal previsão normativa conflita fundamentalmente com o artigo 1º da Lei Federal nº 6.839/1980, acima transcrito, que determina o registro e anotação dos seus profissionais exclusivamente no Conselho competente para a fiscalização de sua atividade básica ou daquelas pelas quais prestem serviços a terceiros.

Neste ponto, destacamos fragmento do voto do Ministro José Delgado, Relator do Recurso Especial nº 446.244/PE, que transcrevemos com grifos:

“O art. 1º, da Lei 6.839/80, preconiza que é obrigatório o registro das empresas e profissionais da área que executem as tarefas, sejam tais atividades básicas ou aquelas pelas quais prestem serviços a terceiros. (...) Com enfoque dado à parte final do dispositivo, pode-se concluir que a tese jurídica defendida pelo recorrente é a seguinte: se uma empresa exclusivamente prestar serviços de

6 CRT é a chamada Certidão de Responsabilidade Técnica, ou documento emitido pelos COREN

para a concessão de Anotação de Responsabilidade Técnica pelo Serviço de Enfermagem (“ART”).

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enfermagem, deve ter seu registro no Conselho pertinente, e mesmo se a atividade de enfermagem não for básica, mas secundária, ainda assim o registro continua sendo obrigatório. A interpretação almejada pelo recorrente à lei em

comento não se coaduna com o nosso ordenamento jurídico, apresentando-se equivocada em seus termos. Não se trata, no presente

caso, de uma empresa que presta serviços exclusivos na área de enfermagem, mas sim um hospital, que possui como atividade finalística a prática da medicina, cujos profissionais são médicos. É realidade o fato de que estes não podem executar todas as tarefas sozinhos, razão pela qual necessária se torna a contratação de profissionais de diversas áreas, como enfermeiros, cozinheiros, faxineiros, motoristas, telefonistas, etc. Mas isso não quer dizer que haja obrigatoriedade de registro do hospital em todos os diferentes Conselhos de exercício profissional. Conclui-se, portanto, que embora haja prestação dos

serviços de enfermagem num hospital, esta não é, sem sombra de dúvidas, sua principal atividade, o que conduz acertadamente à dispensa de seu registro no Conselho de Enfermagem, como, aliás, bem ficou salientado na

sentença.”

(Resp 446.244/PE, Relator Ministro José Delgado, Primeira Turma, DJe 01.10.2002)

A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de afastar a obrigatoriedade de registro de instituições médicas no COREN, quando devidamente registradas junto ao CRM e, da mesma forma, afastar a obrigatoriedade de anotação de seus profissionais enfermeiros junto à esta autarquia, conforme julgados abaixo.

ADMINISTRATIVO. INSTITUIÇÃO HOSPITALAR. REGISTRO EM CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM. DESNECESSIDADE. ART. 1º DA LEI 6.839/80. VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC. NÃO CONFIGURADA.

1. As instituições hospitalares, mercê de prestarem in itinere, serviços de enfermagem, têm como atividade básica a prestação de serviços médicos, que lhes aloca junto ao Conselho de Medicina e as exclui da obrigatória inscrição ao Conselho de Enfermagem. Precedentes do STJ: REsp 404.664/PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 31.08.06; REsp 494.497/CE, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJe 12.12.05; RESP 667.173/PE, Relator Ministro Luiz Fux,

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Dje 26.04.2005; e REsp 517.633/PE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Dje 07.06.04. 2. A atividade básica desempenhada pela empresa é que determina a sua vinculação ao conselho de fiscalização profissional, ratio essendi do art. 1º da Lei 6.839/80. 3. Os embargos de declaração que enfrentam explicitamente a questão embargada não ensejam recurso especial pela violação do artigo 535, II, do CPC. 4. Ademais, a análise da questão relativa à Certidão de

Responsabilidade Técnica do Enfermeiro, consoante pleiteado pelo COREN/PR, não altera a conclusão esboçada no decisum objurgado, no sentido de que as instituições hospitalares, mercê de prestarem in itinere serviços de enfermagem, ostentam como atividade básica a prestação de serviços médicos, fato que afasta a obrigatoriedade de registro dessas instituições e, conseqüentemente, a anotação de seus profissionais no Conselho de Enfermagem. Precedente do STJ: RESP 954.909/PR, Relator

Ministro Francisco Falcão, DJe 25.10.2007. 5. Agravo Regimental desprovido. (AgRg nos EDcl no REsp 1175022/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 17/08/2010)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO -

ADMINISTRATIVO - REGISTRO NO CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM - INSTITUIÇÃO HOSPITALAR - ART. 1º, LEI N. 6.839/80. Em instituição hospitalar, os serviços de enfermagem não constituem atividade fim, mas atividade meio. Dessa forma, fica submetida ao registro e fiscalização do Conselho Regional de Medicina, uma vez que a prática da medicina é o seu principal objetivo. Precedentes jurisprudenciais. Recurso não provido.

(AgRg no Ag 486.735/DF, Rel. Ministro Franciulli Netto, Segunda Turma, DJ 24/11/2003)

Pelo exposto, entende-se que a exigência de ART de enfermagem pelo COREN é ilegal, não havendo necessidade de manutenção do RTE no hospital. Vale mencionar que o profissional que exerce, atualmente, a importante função de supervisão da equipe de enfermagem, pode continuar o fazendo, sem que haja a necessidade de ART perante o COREN.

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Neste contexto, para a proteção do RTE atualmente designado pelo hospital, seria possível o pedido de baixa da ART pelo referido profissional junto ao Conselho.

Caso opte pela baixa da ART, o hospital poderá vir a ser questionado por parte do COREN por descumprimento do artigo 3º da Resolução COFEN 509/2016, o que, se levado ao Judiciário, representa boas chances de êxito para o hospital.

IV. CONCLUSÕES

Entende-se, por todo o exposto, que o legislador não outorgou ao COFEN poderes para definir, por ato normativo interno, como se dará o funcionamento de unidades de saúde, não estando autorizado a veicular regras desta natureza, tal como o dimensionamento de profissionais, sob pena de afronta ao princípio da legalidade estrita e aos limites do poder regulamentar.

Ademais, o estabelecimento de um parâmetro quantitativo único para a distribuição de profissionais da saúde é, além de arbitrário, ineficiente e alheio às peculiaridades de cada unidade de saúde, afrontando o fundamento republicano da livre iniciativa, previsto no inciso IV do artigo 1º e caput do artigo 170 da Constituição Federal.

Sabe-se, contudo, que fiscalizações do COREN são recorrentes e costumam determinar, ao hospital, a apresentação do cálculo do dimensionamento dos seus profissionais de enfermagem nos moldes indicados em resolução, sob pena de multa.

Além disso, há risco de encaminhamento de denúncia, pelo COREN, ao Ministério Público do Trabalho e outros órgãos fiscalizadores, que acabam por também exigir a observância do quantitativo de profissionais estabelecido pelo COFEN em resolução, resultando em investigações da regularidade da atividade desenvolvida pela instituição de saúde.

Na prática, muitas instituições de saúde têm sustentado a ilegalidade da exigência aos COREN, inclusive perante o Judiciário, com boas chances de êxito.

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Em relação à proteção do RTE, ressalta-se que a exigência de Anotação de Responsabilidade Técnica de Enfermagem também é entendida pelos Tribunais como ilegal, motivo pelo qual poderia ser solicitada a baixa da ART e consequente proteção do profissional anteriormente designado RTE, caso o hospital opte pela não observância do dimensionamento.

Sendo essas as considerações que tínhamos para o momento, colocamo-nos à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais.

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